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Arquitetura Penitenciária: Centro de Requalificação Social

Humanização do Centro Penitenciário:


Centro de Requalificação Social

Aldair Alves

Orientadora: Catherine D'Andrea

Ribeirão Preto - 2021


Agradecimento
Resumo

Imagem 01 - aprisionamento
Fonte: Pinterest. Acesso 13/05/2021
modificado pelo autor
Resumo Abstract

Por todo Brasil é possível reconhecer os problemas sociais que afetam muitas pessoas: educação Throughout Brazil, it is possible to recognize the social problems that affect many people:
insuficiente, desemprego, escassez de moradia, saúde precária, dentre outros. Esses são alguns dos insufficient education, unemployment, lack of housing, poor health, these are some of the problems
problemas que podem gerar e alimentar a violência e criminalidade nas cidades. Em consequência that continue and can generate and fuel violence and crime in cities. As a result, there is an increased
disso, aumenta-se a necessidade da criação e da existência das penitenciárias para tentar recolocar os need for the creation and existence of penitentiaries to try to put the offending individuals back into
indivíduos infratores na sociedade, de modo que não firam mais as regras sociais, porém, se durante o society so that they no longer break social rules, however, if during criminal time the individual does
tempo penal o indivíduo não tiver acesso à oportunidade de reconhecer os erros cometidos, not have access to the opportunity to recognize the mistakes made, and going back to the same
certamente o resultado esperado, não existirá. society that is facing equal problems, certainly the expected result, will never exist.
Por meio dos levantamentos e estudos bibliográficos, foi possível reconhecer que o sistema The prison system in Brazil has numerous flaws, among them, the most relevant for the
penitenciário do Brasil possui inúmeras falhas, dentre elas, a mais relevante para o desenvolvimento e development and understanding of this work is the lack of humanity and dignity offered to individuals
compreensão deste trabalho, é a falta de humanidade e dignidade oferecidos aos indivíduos na as offenders.
condição de infratores. First, it is necessary to recognize that every human being must have respect and dignity guarded
Como objetivo geral, a proposta é a criação de um Centro de Requalificação Social, que trate seus in all circumstances, then it is necessary that the individual as an infringer understands that his or
infratores com mais humanidade e respeito. Com o embasamento teórico, primeiro é preciso her infringing acts do not match the social environment to which he belongs. However, he needs
reconhecer que todo ser humano deve ter respeito e dignidade zelados em todas as circunstancias, means that allow his time in seclusion to be effective in this process of social requalification and
depois, é preciso que o indivíduo na condição de infrator entenda que seus atos não condizem com o return.
meio social ao qual ele pertence e cumpra sua penalidade. Porém, ele precisa de meios que permitam In this work, architecture should present and contribute to this aim of requalification. This
com que seu tempo em reclusão seja eficaz neste processo de requalificação social e retorno para a should happen through the sensations that the environments will offer to individuals as offenders,
sociedade. dignified environments that show how much they are respected and important.
A arquitetura deverá, neste trabalho, apresentar e contribuir com este intuito de requalificação e
reinserção social. Isso deverá acontecer por meio da proposta projetual, trazendo ao Centro de Keywords: Prison system, social problems, offender, prison architecture, penitentiary, dignity.
Requalificação Social, características de um edifico importante para a sociedade.

Palavras-chave: Sistema prisional, problemas sociais, infrator, arquitetura prisional, penitenciária,


dignidade.
Lista de abreviaturas e símbolos
APAC - Associação de Proteção e Assistência aos Condenados LEP - Lei de Execução Penal

CDP – Centro de Detenção Provisória M - Metros

CPP – Centro de Progressão Penitenciária M² - Metros quadrados

CREMESP - Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo PF – Penitenciária Feminina

DEPEN - Departamento Penitenciário PM – Penitenciária Masculina

ETEC - Escola Técnica Estadual TJM - Tribunal de Justiça de Minas Gerais

H - Horas
Sumário

RESUMO 3. TIPOLOGIAS DO SÉCULO XIX: EVOLUÇÃO DAS


1. INTRODUÇÃO TIPOLOGIAS
1.1. Justificativa 01 3.1. Evolução das tipologias prisionais 13
1.2. Objetivos 01 3.1.1. Modelo de Aurburn 13
1.2.1. Objetivos gerais 01 3.1.2. Irlandês 13
1.2.2. Objetivos Específicos 02 3.1.3. Panóptico 14
1.3. Metodologia de Trabalho 02 3.1.4. Poste telegráfico ou espinha de peixe 14
3.1.5. Moldular ou Pavilhonar 15
2. CONDIÇÕES DAS PENITENCIARIAS NO BRASIL 3.1.6. Brasil - Prisão de Mariana MG 15
E O SER HUMANO PERANTE O MEIO SOCIAL
2.1. Os princípios do funcionamento da prisão e os impactos sociais 03 4. ARQUITETONICO PENITENCIÁRIO E O ESPAÇO OFERECIDO
2.2. Breve análise da Situação dos presídios no Brasil 04 AO INDIVÍDUO NA CONDIÇÃO DE INFRATOR
2.2.1. Estrutura do Sistema Penitenciário Brasileiro 04 4.1. Estabelecimentos Penais Brasileiros 16
2.2.2. Aplicação da lei na pena 06 a) Colônia Agrícola, industrial ou similar 16
2.2.3. Sistema Penal 07 b) Centro de Observação 16
2.2.4. Perfil dos presos brasileiros 07 c) Casa do Albergado 17
2.3. Assistência à saúde no estabelecimento penal 10 d) Cadeia Pública 17
2.4. Realidade desumana das prisões 11 e) Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico 18
2.4.1. Direitos humanos na penitenciaria 12 4.2. Condicionantes do espaço arquitetônico penitenciário 19
Sumário
5. MODELO APAC
5.1. Conhecendo o Conceito APAC 20
5.2. Objetivos do método APAC 21
5.3. Eficácia do método APAC 21

6. LEITURA PROJETUAL
6.1. Justizzentrum Leoben 22
6.2. Holmsheidi Prison 26
6.3. APAC 32

7. DIAGNÓSTIICO DA ÁREA DE INTERVENÇÃO


7.1. Escolha da Área 38
7.2. Entorno 39
7.3. Hierarquia Viária 40
7.4. Mobiliário 41
7.5. Vegetação 42
7.6. Características Físicas 43

8. DIRETRIZES DE PROJETO
8.1.Programa de Necessidades 45
8.2. Organograma 48
8.3. Fluxograma 49
8.4. Plano de Massas 50
8.5. Conceito e Partido 51

9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 52
Introdução

Imagem 02 - penitenciária
Fonte: Pinterest. Acesso 14/05/2021
modificado pelo autor
1 INTRODUÇÃO

1.1. Justificativa
A psicóloga cognitiva Cordeiro (2009, p. 224) diz que: “Os Limites dizem respeito, Por meio de estudos, analises, comparações e fundamentações teóricas, este trabalho
principalmente, às múltiplas situações de uso de um espaço, mobilizando ilimitadas relações de busca analisar e demonstrar que a punição severa com castigos que levem ao interior do
significações na sua relação como usuário. ” Por este motivo, o intuito deste projeto é indivíduo na condição de infrator, a sensação de que ele não deve fazer parte da sociedade, ou
apresentar meios para que o infrator entenda que, durante seu período recluso, ele não terá que, sua existência não tem o mínimo valor social, são resquícios de uma sociedade antiga, que
seu direito à dignidade violado, porém, ele deve a partir de então, entender que o seu ato tratava seus infratores como monstros que mereciam ser banidos do meio social e terem o
criminoso não condiz com as práticas do convívio social e este ato necessita ser penalizado! respeito totalmente privados.
Entretanto, existe a chance e o caminho da remissão, existe ainda, a chance de mudar e fazer Por outro lado, todo ato criminoso, que vá contra as legislações ou que firam qualquer
diferente. Para isso, é preciso entender que, seja qual for o motivo que o levou à prática da regra civil e social, merece ser advertido, repreendido ou punido de acordo com as normativas
infração, violação ou crime, nada justificará o desrespeito para com a vida de qualquer outro públicas. Aqui entra novamente na questão do respeito mútuo. O indivíduo infrator deve se
ser humano ou com o bom convício social. responsabilizar totalmente pelo seu ato praticado, e julgado conforme as evidências,
A proposta do Centro de Requalificação Social, é basicamente, defender e lutar pelo total evidências essas, que serão buscadas e analisadas por profissionais qualificados e direcionadas
respeito do ser humano, pelo convívio pacífico, e pelo direito de indulto verdadeiro. Para que para o cumprimento da lei vigente de cada localidade. Porém, todo indivíduo que necessite ser
este indulto verdadeiro aconteça, é de suma importância que no tempo passado no Centro de retirado da sociedade, por meio das detenções prisionais, merece ser tratado com respeito e
Requalificação Social, o infrator entenda que errou, entenda os motivos aos quais o tornaram dignidade, ainda que o mesmo tenha ferido ou destruído a dignidade de outro.
infrator, entenda que ele faz parte de uma sociedade, e que seus atos infratores não podem o
Sob a sugestão de um ambiente que não dá o menor valor à vida humana ou a dignidade das
acompanhar nos meios sociais. pessoas, mas que faz de pessoas objetos destruídos de vontade, peças de uma política de
O presente trabalho, justifica-se nas falhas existentes no sistema prisional brasileiro e a exterminação que é adiada apenas para a exploração dos últimos restos da capacidade
falta de dignidade, respeito e oportunidade de regresso ao indivíduo na condição de infrator. física de trabalho - exposto a essa sugestão generalizada, o próprio eu só pode mesmo
(TOMAZ, 2017) acabar desvalorizado.
(FRANLK, 1984, p. 39.)

1.2. Objetivos
1.2.1. Objetivos Gerais
O respectivo trabalho apresentará, por meio da Arquitetura Prisional, meios e acessos ao
verdadeiro indulto. Oferecerá por meio dos espaços e ambientes, a oportunidade de reflexão
aos indivíduos na condição de infratores, de modo que percebam que no Centro de
Requalificação Social, terão a dignidade e respeito como bases fundamentais para ajudar no
tratamento. Por fim, perceber que ao voltar à sociedade, esses princípios deverão ser
mantidos como compromisso pessoal, ou seja, o respeito sempre deverá estar presente no
convívio social com todo e qualquer indivíduo.

Imagem 03 - mãos desespero


Fonte: Pinterest. Acesso 16/06/2021
modificado pelo autor
Imagem 05 - humano
Fonte: Pinterest. Acesso 16/06/2021
modificado pelo autor

1.2.2. Objetivos Específicos


AUXILIAR - É preciso ainda, que durante sua permanência, o infrator entenda que não
está banido de sua sociedade, cidade, estado ou país. Porém, não é possível viver ferindo as
regras que regem a boa convivência entre os seus semelhantes.
REQUALIFICAR - Ao final do período de reclusão, o interno terá oportunidade de ter
vivenciado um momento de reflexão e requalificação social, tomando conta de que ele faz
parte da sociedade e que ela não é a mesma sem ele. E que dessa forma, a sociedade seja
valorizada por ele e que também a sociedade o acolha como um membro que retorna.
HUMANIZAR - Levando em conta essas considerações, o projeto segue com objetivo de
propor ao indivíduo na condição de infrator, um ambiente que o leve a entender que o Centro
de Requalificação Social, será um período em que ele deve se permitir entender que seus atos
infratores precisam ser deixados de lado.
REDIMIR - Precisa ainda, entender que neste momento, ele tem a possibilidade de
encontrar o caminho da remissão, a chance de mudar e se requalificar para a boa vivencia no
meio social.
1.3. Metodologia de trabalho
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Por meio de pesquisas e análises sobre o tema, a revisão bibliográfica será desenvolvida a
partir de: livros, artigos, monografias, que darão embasamento e fundamento ao trabalho.
Para a compreensão e chegada ao resultado do projeto, é de suma importância as
referências bibliográficas que farão parte do escopo deste trabalho. Referências essas, que
abordarão temas relacionados ao sistema prisional brasileiro, comportamento do ser humano
perante o meio em que convive e desenvolve suas atividades comunitárias.
LEITURA PROJETUAL
Será realizada a leitura projetual de projetos que tenham o mesmo sentido, ou intuitos
parecidos, para que contribuam com o enriquecimento do projeto a ser proposto.
O estudo destes projetos nortearão as propostas projetuais de modo que o resultado final
alcance seus objetivos.
DIAGNÓSTICO DA ÁREA DE INTERVENÇÃO E LEVANTAMENTOS DO TERRENO
Esta etapa contribuirá com a melhor compreensão da área e de seu entorno, por meio dos
mapas elaborados, análises dos condicionantes legais e naturais que facilitarão o entendimento
do projeto e sua localidade.

ESTUDO PRELIMINAR
Definição do programa de necessidades, elaboração do organograma e fluxograma do
Centro de Requalificação Social, apresentação do conceito e partido, plano de massas.

Imagem 04 - por trás das grades


Fonte: Pinterest. Acesso 16/06/2021
modificado pelo autor
CONDIÇÕES DAS PENITENCIARIAS NO BRASIL E O SER
HUMANO PERANTE O MEIO SOCIAL

Imagem 06 - detentos
Fonte: Pinterest. Acesso 14/05/2021
modificado pelo autor
Para navegar contra a corrente são necessárias condições raras: espírito de aventura, coragem, perseverança e paixão. - Nise da Silveira

2 CONDIÇÕES DAS PENITENCIARIAS NO BRASIL E O SER HUMANO PERANTE O MEIO SOCIAL

2.1. Os princípios do funcionamento da prisão e os impactos sociais

O estabelecimento prisional, tem grande importância social, tanto para os indivíduos na A Arquitetura Penitenciária, é o que deve organizar o arquitetônico dos ambientes do
condição de infrator, quanto para os demais membros da sociedade. Antes de mais nada,
espaço penitenciário e o que acontece no plano de necessidades e funcionalidade do
sua função é desenvolver um papel importantíssimo para a sociedade como um todo no
tocante a ressocialização dos que por lá passarem. Para os indivíduos na condição de
estabelecimento prisional, como por exemplo: as celas, o muro, espaços de atividades, espaços
infrator, ela oferece diversas atividades comunitárias e socioeducativas, podendo ser de uso coletivo, posto de segurança, dentre outros. Esses são alguns dos elementos básicos
considerada assim, uma Instituição Total. (GOFFMAN, 2005)Uma instituição total pode para a funcionalidade da unidade prisional, para tanto, a Arquitetura Prisional tem seu sumo e
ser definida como um local de residência e trabalho, onde um grande número de indivíduos importantíssimo papel de acontecer de modo que o estabelecimento seja capaz de cumprir a
com situação semelhante, separados da sociedade mais ampla, por considerável período de
sua função social de modo correto e adequado. (PRATA, 2010)
tempo, leva uma vida fechada e formalmente administrada. (GOFFMAN, 2005. p. 11)
Para que o papel do Arquitetônico Prisional aconteça e cumpra sua função, é importante que
Para Goffmam (2005, p. 17) a prisão funciona como um mecanismo de defesa para a o arquiteto ou pesquisador, faça visitas em campo e observe o comportamento dos internos
sociedade geral. E a mesma funciona com algumas etapas e conceitos primordiais: o isolamento nos ambientes oferecidos pelo estabelecimento penal, e que também sinta e experimente o
– a separação temporária da sociedade de origem, passando a conviver com um grupo lugar. (TOMAZ, 2017)
segregado –; o integralismo – a vida e seus afazeres continuam acontecendo, porém, de
maneira privativa e sob a vigia de alguém –; o mecanismo – todos os afazeres são realizados de
modo comunitário, mas agora um depende do outro para que a boa convivência aconteça –; e o
controle despótico sobre o individual – a garantia de que a vigilância, e as regras institucionais
serão seguidas.
Analisando essas informações, fica claro que o processo de requalificação social, vai além
das grades da cela ou das grandes muralhas que cercam a vida do indivíduo na condição de
infrator dentro do estabelecimento penal. E que a Arquitetura tem muito a contribuir para
que o período de reclusão, possa oferecer a requalificação social e proporcionar um bom
retorno à sociedade.
Em nossa atual sociedade moderna, na qual o número de pessoas que convivem em
sociedade aumenta a cada dia, é imprescindível que o Estado mantenha normas de conduta
e comportamento para que se assegure a ordem social. Deste modo, aquele que infringi tais
normas e causa desequilíbrio em sua sociedade, deverá ser penalizado por sua conduta
inadequada. (ZANOTTO; RUSSOWSKY, 2020. p. 02)

Imagem 08 - desigualdade
Fonte: Pinterest. Acesso 20/05/2021
modificado pelo autor

Dessa forma, é possível observar que os ambientes prisionais precisam de tratamentos


mais humanos, para que a punição não seja vista como opressão, tortura ou humilhação para os
indivíduos na condição de infratores, pois, se o verdadeiro induto acontecer, ambos saem
ganhando a sociedade, e este membro que a ela pertence.

Imagem 07 - problemas sociais


Fonte: Pinterest. Acesso 18/05/2021
modificado pelo autor
2.2. Breve análise da Situação dos presídios no Brasil
O funcionamento das penitenciarias é regido por práticas e técnicas de punições internas Com esses fatos, é notório que essa realidade apontada pelo deputado (1976) estão
que saem fora de alguns aspectos legais, e também das pautas cientificas sobre as quais se presentes atualmente, e que o estado e seus legisladores muitas vezes não promovem a
pretende construir o caráter modelar do estabelecimento penal. (SALLA, 1999). fiscalização das leis, e sempre agem de forma negligente e passional, principalmente
Como forma de alcançar a reabilitação, é previsto pela LEP em seu Art. nº11 que os se por parte do Poder Legislativo.
encontrarem na condição de indivíduos infratores, e necessitar passar pelo tempo de reclusão Com isso, cada vez mais surgem leis penais, sem eficácia, que, apesar de muitas vezes
na unidade penitenciaria, deverá assistência à saúde, jurídica, educacional, social e religiosa. serem bem elaboradas, quase nunca apresentam interesse e benefícios para os indivíduos na
Prevê ainda em seu Art. nº 41 atividades que proporiam a ressocialização como: atividades condição de infratores, e muito menos para a sociedade geral. (BEDÊ, 2017)
profissionais, intelectuais, artísticas, desportivas compatíveis com a pena, tratamento iguais e
visitas, porém, sempre seguindo as restrições informadas no julgamento. (PRATA, 2010. p. 74)

A LEP determina que no Brasil, seja usado a técnica penitenciaria usado nos modelos das 2.2.1. Estrutura do Sistema Penitenciário Brasileiro
prisões norte-americanas de Auburn e Filadélfia: atividades de trabalhos realizados em grupo
durante o dia, e recolhimento em celas individuais durante a noite.
Nelson Mandela¹ dizia que: “comenta-se que ninguém de fato conhece uma nação até que se Imagem 11 - casa de câmara e cadeia
veja numa dessas prisões. Uma nação não deveria ser julgada pela forma que trata seus mais No Brasil encontramos penitenciárias nas mais Fonte: HPIP 18/05/2021
ilustres cidadãos, mas como trata os seus mais simplórios”. modificado pelo autor
variadas formas e condições, mas, na maioria das
vezes, a situação com as quais nos deparamos, é a
da penitenciária com celas lotadas, além da
Imagem 10 - trabalho manual interno
Fonte: Senado notícias. Acesso 21/05/2021 capacidade máxima, o que pode gerar má qualidade
modificado pelo autor na administração e gestão do funcionamento
interno, falta de saneamento básico, ambientes
insalubres, falta de alimentações, água, e até
mesmo acomodações. Essa questão não está ligada
ao tratamento exclusivo ou tratamento luxuoso,
mas sim às condições mínimas que qualquer ser
humano deveria ter acesso e direito. As primeiras
unidades prisionais do Brasil, sugiram entre os
séculos XVIII e XIX de forma improvisada,
aproveitando edifícios já existentes que pudessem Imagem 12 - casa de câmara e cadeia
acomodar a função prisional. (PRATA, 2010) Fonte: diário de São Carlos. Acesso:
18/05/2021
Imagem 09 - trabalho interno
modificado pelo autor
Fonte: Senado notícias. Acesso 21/05/2021
modificado pelo autor
Imagem 13 - casa de câmara e cadeia
Fonte: Caetité. Acesso 18/05/2021
modificado pelo autor
Para Bedê (2017) os problemas que cercam a funcionalidade dos centros penitenciários, já
Com o surgimento do Código Penal em 1830, os primeiros núcleos prisionais começaram a
existem a décadas.
ser construídos. Estes primeiros núcleos, foram chamados de Casas de Correção, sendo a
Em 1976, fora instituído uma Comissão Parlamentar de Inquérito no intuito de avaliar as primeira unidade construída no Rio de Janeiro (1950) e a segunda em São Paulo (1952).
condições dos presos brasileiros. O relator do caso, o então Deputado Federal Ibrahim
(PRATA, 2010 p. 45)
Abi-Ackel, descrevia a situação àquela época como caótica, com superlotação, violência e
inexistência de assistência ao preso em suas necessidades mais básicas. (BEDÊ, 2017)

[1] Nelson Rolihlahla Mandela. Formado em direito e conhecido líder político da África do Sul como presidente
entre os anos de 1994 a 1994. Citação disponível em:<https://manualdohomemmoderno.com.br/filmes-e-
series/ensinamentos-de-nelson-madiba-mandela>. Acesso em: 30 de abril de 2021.
Em 1890 a arquitetura penitenciária no Brasil “com celas individuais e oficinas de trabalho No estado de São Paulo, por conta do desenvolvimento econômico, crescimento
e uma arquitetura própria para a pena de prisão” (GARBELINI, 2005, p.150), passou a ser populacional, e consequentemente o crescimento da criminalidade, as unidades
elaborada com conhecimentos e técnicas usadas nas penitenciarias da Pensilvânia, pensando prisionais já não suportavam o número de indivíduos na condição de infratores.
agora com a ideologia positivista e na progressão humana. (PRATA, 2010). Este novo sistema Foi então em 1911, começou a construção da nova Penitenciária do Estado, o Carandiru.
foi considerado como a grande novidade do momento “A prisão celular, inspirada no modelo Seu estilo arquitetônico seguia o modelo francês “espinha de peixe”. (BRAZÃO, 2020 p.
pensilvânico e de Petit Roquete foi a grande novidade da revisão penal de 1890 e foi 22)
considerada punição moderna, base arquitetural de todas as penitenciárias” (GARBELINI, No estado de São Paulo, por conta do desenvolvimento econômico, crescimento populacional,
2005, p.151). e consequentemente o crescimento da criminalidade, as unidades prisionais já não suportavam
o número de indivíduos na condição de infratores. Foi aí que então em 1911, começou a
construção da nova Penitenciária do Estado, o Carandiru. Seu estilo arquitetônico seguia o
modelo pavilhonar. (BRAZÃO, 2020 p. 22)
Imagem 14 - Planta Petiti Roquette
Segundo Bruna Brazão, (2020, p. 22) nesta época foi considerado o maior presidio da
Fonte: Fernanda Amaral. Acesso 14/04/2021
América Latina, abrigando mail de 8 (oito) mil presos. Mas em 1992, por conta de uma
rebelião, houve um massacre que tirou a vida de mais de 111 (cento e onze) indivíduos na
condição de infratores. Esses, foram mortos pelas mãos da própria Policia Militar de São
Paulo, que tentava contem a rebelião, fruto da superlotação. Anos depois, esta unidade foi
desativada e por fim demolida (2002) e o espaço foi reaproveitado, para criar o Parque da
Juventude, sendo uma outra parte, destinada para a criação da ETEC-Escola Técnica Estadual.
Imagem 18 - Demolição Carandiru Imagem 17 - Antigo
Fonte: UOL. Acesso 17/05/2021 Carandiru
Fonte: UOL. Acesso
17/05/2021

Imagem 15 - Petiti Roquette


Fonte: Fernanda Amaral. Acesso 14/04/2021
modificado pelo autor

Imagem 19 - Parque da juventude


Imagem 16 - Petiti Roquette Fonte: baressp. Acesso 17/05/2021
Fonte: La Parisien. Acesso 17/05/2021 modificado pelo autor
Na década de 1970, a política penitenciária no Brasil começou a construir conjuntos Assistência Material:
de normas, leis e regras técnicas para a arquitetura prisional brasileira, definindo assim,
os principais pontos e embasamentos dos princípios do arquitetônico prisional. Em 1976,
alimentação, vestuário e
segundo as recomendações básicas para a programação penitenciária, foi possível instalações higiênicas.
perceber a preferência que se fez em favor do arquitetônico modular, ao invés do
Imagem 21 - Saúde
padrão de inspeção central. “... não só construções modulares e de execução progressiva, Fonte: Davi Pinheiro. Acesso 13/04/2021
como também a preservação da segurança sem confinamentos degradantes” modificado pelo autor
(RECOMENDAÇÕES, 1976, p. 199). Imagem 20 - Alimentação
Fonte: Clicrbsp. Acesso 13/04/2021

2.2.2. Aplicação da lei na penalidade


modificado pelo autor
Assistência Saúde:
Assistência Jurídica: atendimento médico,
A arquitetura penitenciária, está totalmente ligada ao conceito da penalidade. Nos tempos recursos farmacêutico e odontológico
exórdios, devido à baixa densidade populacional e o baixo desenvolvimento das cidades, os
centros penitenciários não eram necessários. Sendo assim, aqueles que cometiam seus delitos, financeiros para
eram sancionados e punidos segundo as normativas locais. O surgimento das primeiras prisões
aconteceu na Europa no século XVI, e se destinava a recolher pessoas que apresentassem
custear advogado
comportamentos imorais. No entanto, somente nos séculos XVI e XVIII que surgiram as
Imagem 23 - lazer
primeiras unidades como estabelecimentos de detenção. (FERNANDES, 2020, p. 17) Fonte: UOL. Acesso 13/04/2021
No Brasil, somente no ano de 1769 que surgiu a primeira Casa de Correção instalada no Rio modificado pelo autor
de Janeiro, posteriormente em São Paulo. No entanto, somente em 1984 foi instituída a lei Nº
7.210 como Execução da Lei penal.
Os principais objetivos desta lei, era organização a execução das penalidades,
Assistência Social:
penitenciarias e assegurar os direitos e deveres dos indivíduos na condição de infratores.
Os artigos de 1 a 4 da LEI Nº 7.210, DE 11 DE JULHO DE 1984, mostram resumidamente os prepará-los para
principais objetivos de sua destinação.
o retorno à liberdade
Art. 1º A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão
criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do
internado. Imagem 22 - jurídico
Art. 2º A jurisdição penal dos Juízes ou Tribunais da Justiça ordinária, em todo o Fonte: UOL. Acesso 13/04/2021
Território Nacional, será exercida, no processo de execução, na conformidade desta Lei e
modificado pelo autor Assistência Educacional:
do Código de Processo Penal.
Parágrafo único. Esta Lei aplicar-se-á igualmente ao preso provisório e ao condenado pela instrução escolar e
Justiça Eleitoral ou Militar, quando recolhido a estabelecimento sujeito à jurisdição
ordinária. a formação profissional
Art. 3º Ao condenado e ao internado serão assegurados todos os direitos não atingidos
pela sentença ou pela lei. do preso e do internado
Parágrafo único. Não haverá qualquer distinção de natureza racial, social, religiosa ou
política.
Imagem 25 - religião
Art. 4º O Estado deverá recorrer à cooperação da comunidade nas atividades de execução Imagem 24 - educação
Fonte: agepen. Acesso 13/04/2021
da pena e da medida de segurança. (BRASIL, Lei n° 7.210, de 11 de julho de 1984). Fonte: UOL. Acesso 13/04/2021
modificado pelo autor
modificado pelo autor
Tendo em vista seus objetivos gerais, vale ressaltar as principais disposições que o
estabelecimento penal deve oferecer ao indivíduo na condição de infrator.
Art. 10. A assistência ao preso e ao internado é dever do Estado, objetivando prevenir o
Assistência Religiosa:
crime e orientar o retorno à convivência em sociedade. Parágrafo único. A assistência
estende-se ao egresso.
local
Art. 11. A assistência será:
I - material; II - à saúde; III -jurídica; IV - educacional; V - social; VI - religiosa.
apropriado para os cultos
(BRASIL, Lei n° 7.210, de 11 de julho de 1984).
religiosos
REGIME FECHADO
Execução de pena em estabelecimento de segurança máxima ou média.
2.2.3. Sistema Penal brasileiro O condenado fica preso o dia inteiro, só sai para trabalhar fora da
prisão, em casos específicos.
O sistema penal, engloba a análise dos delitos cometidos, a pena que será cumprida, o
julgamento em tribunais e o tempo de prisão (LEAL, 2010). Já o sistema penitenciário é a
organização prática de como a pena será cumprida, as condições da penitenciaria e as REGIME SEMIABERTO
restrições que o indivíduo na condição de infrator terá, de acordo com as normativas Execução de pena em colônia agrícola, industrial ou
definidas em seu julgamento. No sistema penitenciário, o indivíduo considerado em condição estabelecimento similar. O condenado trabalha fora
de infrator, de modo apropriado, terá a privação de liberdade dentro do estabelecimento durante o dia, e dorme na penitenciária.
penal (MIOTTO, 1992, p. 35).

Classificação de Regimes REGIME ABERTO


O condenado trabalha fora durante o dia, e e passa a
noite em casa de albergado ou estabelecimento
adequado. (ou até mesmo a própria casa)
CUMPRINDO PENA

Imagem 27 - encarcerado
Regime Fechado Fonte: Pinterest. Acesso: 14/04/2021
modificado pelo autor

Prisão Provisória

3.2.4. Perfil dos presos brasileiros


Regime Semiaberto
Segundo uma pesquisa feita no ano de 2020 pelo CREMESP , 67% dos brasileiros
encarcerados são negros, 56% jovens entre 18 e 29 anos e 53% não completaram o ensino
Regime Aberto fundamental. Dados apontam que a maioria dessas pessoas foram presas por crimes não
violentos, sendo que 28% desses, foram presos por tráfico de drogas. Aproximadamente 250
mil do número total de indivíduos na condição de infratores, estão detidos em caráter
Outros provisório, esperando o julgamento e a decisão judicial.

0 mil 200 mil 400 mil 600 mil 800 mil


Imagem 26 - classificação de regime
Fonte: DEPEN - 2020. Elaborado pelo autor

No Brasil, existem variações no tipo de regime que será tratada a pena do indivíduo na 67% 56% 53%
condição de infrator, podendo ser regime: fechado, aberto ou semiaberto. No julgamento, o
indivíduo na condição de infrator, receberá sua pena e será direcionado ao estabelecimento
que tenha as características de acordo com regime que terá que cumprir sua pena. (PRATA,
2010, p. 40)
Negros Jovens de Ensino Fundamental
A prisão por sua vez, é o estabelecimento social, tanto no sentido amplo de sua função 18 a 29 anos Incompleto
social, quanto no sentido sociológico, ou seja, o lugar onde ocorrerá a requalificação social.
Imagem 28 - características dos presos
Como afirma Goffman (2005) a prisão é a favor, e existe em defesa da sociedade. Fonte: CREMESP - 2020. Elaborado pelo autor
Pensando na ressocialização, é importante que dentro do regime penal seja
Índice de crimes feito uma separação das comparações da vida livre com as da vida privada.
formação de
Para que o indivíduo na condição de infrator, possa se sentir confortável no
latrocínio quadrilha 2% violência ambiente em questão, e que todo processo de reconstrução social possa surtir
posse de arma 3.1% doméstica 1% bons efeitos.
7.2% tráfico Neste sentido, é de suma importância que durante este processo, por meio das
atividades realizadas, ambientes criados, que não seja enfatizado que os indivíduos na
27.8%
condição de infratores estão excluídos da sociedade, mas que ao contrário disso, fazem parte
outros
dela. Ainda pensando na ressocialização, é fundamental que na medida do possível, a sociedade
11.3% geral possa ter contato com os indivíduos na condição de infratores. E é por este motivo quea
lei de Execução Penal prevê em sua VI seção assistência social.
Art. 22. A assistência social tem por finalidade amparar o preso e o internado e prepará-
los para o retorno à liberdade.
furto Art. 23. Incumbe ao serviço de assistência social:
I - conhecer os resultados dos diagnósticos ou exames;
11.3% II - relatar, por escrito, ao Diretor do estabelecimento, os problemas e as dificuldades
enfrentadas pelo assistido;
III - acompanhar o resultado das permissões de saídas e das saídas temporárias;
roubo
IV - promover, no estabelecimento, pelos meios disponíveis, a recreação;
homicídio 21.6% V - promover a orientação do assistido, na fase final do cumprimento da pena, e do
14.4% liberando, de modo a facilitar o seu retorno à liberdade;
Imagem 29 - índice de crimes VI - providenciar a obtenção de documentos, dos benefícios da Previdência Social e do
Fonte: CREMESP - 2020. Elaborado pelo autor seguro por acidente no trabalho;
VII - orientar e amparar, quando necessário, a família do preso, do internado e da vítima.
(BRASIL, Lei n° 7.210, de 11 de julho de 1984).
Segundo Ivolethe Duarte (2017), deve portanto, cumprir com seu papel social construindo
Cordeiro (2009, p. 52) afirma a importância que existe na relação do indivíduo com o
uma relação interpessoal, possibilitando ao indivíduo na condição de infrator, sua
espaço arquitetônico, bem como sua relação com o outro no espaço arquitetônico. Esta
ressocialização através dos meios possíveis como motivações: educativas, morais, espirituais,
afirmação, tem relação com a reflexão de Ernani Maia (2021) que aponta a relação do sujeito
além das assistências mínimas como acesso à: saúde, lazer, esporte e socialização.
com o espaço, onde afirma que
Na seção V Da Assistência Educacional, a legislação prevê e a segura a formação
educacional e profissional do indivíduo na condição de infrator. Nós seres humanos somos adaptáveis e nos adequamos ao ambiente que ocupamos, dessa
forma as características e os elementos, até mesmo os materiais de construção do
Art. 17. A assistência educacional compreenderá a instrução escolar e a formação
ambiente podem afetar nossos sentidos e nossas reações, o que pode mudar nossa maneira
profissional do preso e do internado.
de se relacionar e induzir um comportamento. (MAIA, 2021)
Art. 18. O ensino de 1º grau será obrigatório, integrando-se no sistema escolar da Unidade
Federativa.
Art. 18-A. O ensino médio, regular ou supletivo, com formação geral ou educação
profissional de nível médio, será implantado nos presídios, em obediência ao preceito
constitucional de sua universalização. (Incluído pela Lei nº 13.163, de 2015)
§ 1o O ensino ministrado aos presos e presas integrar-se-á ao sistema estadual e municipal
de ensino e será mantido, administrativa e financeiramente, com o apoio da União, não só
com os recursos destinados à educação, mas pelo sistema estadual de justiça ou
administração penitenciária.
§ 2o Os sistemas de ensino oferecerão aos presos e às presas cursos supletivos de
educação de jovens e adultos. Imagem 30 - adquirir conhecimento
§ 3o A União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal incluirão em seus programas Fonte: Pinterest. Acesso: 14/04/2021
de educação à distância e de utilização de novas tecnologias de ensino, o atendimento aos modificado pelo autor
presos e às presas. 7.627
Art. 20. As atividades educacionais podem ser objeto de convênio com entidades públicas
ou particulares, que instalem escolas ou ofereçam cursos especializados.
Art. 21. Em atendimento às condições locais, dotar-se-á cada estabelecimento de uma
biblioteca, para uso de todas as categorias de reclusos, provida de livros instrutivos,
recreativos e didáticos. (BRASIL, Lei n° 7.210, de 11 de julho de 1984).
A relação do instrumento com o objeto, se faz fundamental dentro do estabelecimento
penal. “ O instrumento é um elemento interposto entre o trabalhador e o objeto de seu
trabalho, ampliando as possibilidades de transformações da natureza. ” (OLIVEIRA, 1993, p.
29)
Por ser um momento de liberdade privada, e de requalificação social, é de suma relevância
pensar o que será ofertado dentro da unidade prisional, tanto nas atividades, quanto nos O que intensifica ainda mais a relevância de se atentar às condições e os materiais de
ambientes onde serão realizados. Sobre o objeto, Oliveira (1993) diz que “ [...] é, pois, um construção no planejamento e gerenciamento dos projetos arquitetônicos. Podemos
enxergar a arquitetura como um fator influenciador no comportamento humano, criar
objeto social e mediador da relação entre o indivíduo e o mundo. ” O instrumento é, portanto,
através dos ambientes relações benéficas, fazendo com o que os indivíduos possam sentir e
o objeto de mediação do homem com o mundo do trabalho. Todo instrumento tem sua reagir ao local por meio de suas características e seus recursos, estimulando novas
finalidade, porém, estão no alcance externo do ser humano. (CORDEIRO, 2009 p. 53) maneiras de viver e de interpretar o espaço, sempre considerando as expectativas e as
O trabalho e as atividades comunitárias, são essências no processo de requalificação social. necessidades do cliente. (MAIA, 2021)
O exercício de partilha comunitária, e de autoconhecimento, vão interiorizando no indivíduo na Se tratando da existência, e necessidade do estabelecimento penal, imagine que você
condição de infrator, valores, conhecimentos, funções sociais, que permitem conscientização e tenha que passar 24h dentro de um espaço. E que este espaço te ofereça um ambiente com o
a construção dos conhecimentos da vida social. chão totalmente coberto por concreto, e o céu é visto por cima de uma grande tela. Responda-
se qual seria sua relação com este ambiente ofertado. Agora, imagine que você tenha que
passar 24h dentro de um espaço. Porém, este espaço oferece, um gramado, espécies
Imagem 32 - oportunidades
Fonte: Pinterest. Acesso: 13/05/2021 vegetativas, terra fértil, sementes frutíferas, água potável, uma rede e espaço aberto para
modificado pelo autor visualizar o céu. Responda-se, qual seria sua relação com este ambiente ofertado. Pois bem,
essas duas analogias perceptivas, se tratam da relação do indivíduo com o que é oferecido
para ele, ou seja, se atualmente há a necessidade da existência de um estabelecimento que
promova o cumprimento de pena, e se no final do cumprimento da pena o indivíduo retornará
para a sociedade, o estabelecimento deverá oferecer a ele atividades, espaços, ferramentas,
para que a pena seja cumprida e que este tempo em reclusão tenha sido proveitoso e alcance
seu objetivo final, a requalificação social .
Cada uma dessas duas realidades espaciais, oferecem de modo intuitivo, que haja uma
Imagem 31 - reflexão relação de acordo com o que é oferecido.
Fonte: Pinterest. Acesso: 13/05/2021 Refletindo ainda, sobre esta questão de espaço oferecido, um trecho de um depoimento
modificado pelo autor
do filosofo e logo terapeuta Viktor Frankl (1984), sobre o período em que esteve no campo de
concentração, mostra o quanto ás vítimas dos holocaustos almejavam estar em um ambiente
ruim, porém, menos ruim do que o ambiente em que elas estavam naquele momento, pois,
sabiam que já estavam prontas para serem mortas, ou seja, sem escapatória.
[...] como invejávamos até aqueles entre nós que tinham a grande chance de ir trabalhar
numa fábrica em ambiente fechado, protegidos do frio e do tempo! Com quanta ansiedade
cada um de nós esperava por essa chance de salvar a vida! (FRANKL, 1984 p. 37)
Assumimos, desde agora, que pensar a subjetividade em uma pesquisa de base histórico-
social requer, de nossa parte, um posicionamento sobre esse sujeito como sendo algo que
advém de um quadro muito mais amplo, histórico, social e cultural, e portanto em
construção contínua. Dessa forma, trata-se de um sujeito cujo contexto histórico-social
compartilhado está repleto de múltiplas vozes, no sentido bakhtiniano, e que se deixam
ouvir nas ferramentas culturais e todas as formas de manifestação humana; um sujeito que
é antes de tudo marcado por sua própria condição internacional com outros. (PERES, 2007)

Segundo Ivolethe Duarte (2017), deve portanto, cumprir com seu papel social construindo
uma relação interpessoal, possibilitando ao indivíduo na condição de infrator, sua
ressocialização através dos meios possíveis como motivações: educativas, morais, espirituais,
além das assistências mínimas como acesso à: saúde, lazer, esporte e socialização.
Imagem 33 - perspectiva de vida
Na seção V Da Assistência Educacional, a legislação prevê e a segura a formação Fonte: Pinterest. Acesso: 18/05/2021
educacional e profissional do indivíduo na condição de infrator. modificado pelo autor
2.3. Assistência à saúde no estabelecimento penal
Ainda que o indivíduo na condição de infrator esteja em um momento de reclusão da
sociedade geral, a LEI Nº 7.210, DE 11 DE JULHO DE 1984 de execução penal garante a ele
assistencialismo humano, inclusive à saúde, conforme prevê em sua seção III Da Assistência à
Saúde. A queda, segundo especialistas ouvidos pela Folha, pode ser atribuída a uma série de
fatores, entre eles os efeitos da pandemia do novo coronavírus. Decisões judiciais levaram
Art. 14. A assistência à saúde do preso e do internado de caráter preventivo e curativo, à soltura de presos em situação de risco; além disso, as atividades criminais tiveram forte
compreenderá atendimento médico, farmacêutico e odontológico. queda nos meses de isolamento social. (PAGNAN, 2019).
§ 1º (Vetado).
§ 2º Quando o estabelecimento penal não estiver aparelhado para prover a assistência
médica necessária, esta será prestada em outro local, mediante autorização da direção do
estabelecimento.
§ 3o Será assegurado acompanhamento médico à mulher, principalmente no pré-natal e no
pós-parto, extensivo ao recém-nascido. (BRASIL, Lei n° 7.210, de 11 de julho de 1984).

No entanto, a pandemia da COVID-19, iniciada no ano de 2019, mostrou que o não


cumprimento de inúmeras das leis de Execução Penal, provou que a maioria dos
estabelecimentos penais estão com grandes problemas relacionados aos direitos dos
indivíduos na condição de infrator. Principalmente na área da saúde, ficou evidente que o fato
da superlotação pode gerar problemas no tratamento que deve ser oferecido pelos
estabelecimentos penais, tratamentos dignos, humanos que levem à ressocialização.
Segundo Pagnan (2019), no ano de 2019, somando todos os 176 estabelecimentos penais
do estado de São Paulo, a população carcerária teve uma redução aproximada de quase 18 mil
indivíduos na condição de infratores. Pagnan afirma ainda, que somente com esses 18 mil, seria
possível ocupar 21 estabelecimentos penais com capacidade máxima para atender 847 Imagem 35 - corredor de presídio
indivíduos em cada penitenciaria. Fonte: vidamaislivre. Acesso: 18/05/2021
Porém, este significante número de redução, infelizmente não está ligado diretamente ao modificado pelo autor
induto, ou a questões que envolvam a requalificação social, e sim a pandemia da COVID-19. Estes fatos exaltam ainda mais, a deficiência que existe no conceito das penitenciárias,
não somente do edifício em si, mas também na sua funcionalidade e nos serviços oferecidos.
A Lei de Execução Penal (LEP) desde 1984, prevê que no Brasil os indivíduos na condição
de infratores, tenham acesso no atendimento para saúde. Assegura ainda, atendimento:
médico, farmacêutico e odontológico em todas as penitenciarias. Entretanto, por conta da
falta de investimentos na saúde da população carcerária, os resultados previstos pela Lei, não
são obtidos ou sequer são ofertados com os devidos cuidados integrais à saúde nos espaços
prisionais. (DOTTA; MODENA, 2016.)
Segundo a Secretaria da Administração Penitenciária, em São Paulo o número de agentes
penitenciários afetados pela covid-19, já somam 61 mortes entre os mais de 35 mil agentes.
Entre os mais de 200 mil presos do estado, os registros apontam apenas 40 óbitos até o
momento. Porém, ONGs e associações de Direitos Humanos, acreditam que houve
subnotificação do número de casos.
Para Maria Clara D'ávila (2021), advogada da Rede de Justiça Criminal, a testagem da
população prisional não é de interesse do estado.

O índice de testagem é muito baixo, a gente não tem como saber. Mesmo as pessoas que
têm se contaminado chegam a gerar doenças, ser internadas em hospitais, ou mesmo
[ocorrem] óbitos. A gente também tem dificuldade de constatar se foi por Covid ou não.
(D’ÁVILA, 2021).

Imagem 34 - covid-19 nos presídios


Fonte: UOL. Acesso: 18/05/2021
modificado pelo autor
A medida tomada no estado de São Paulo para impedir o contágio entre os indivíduos na
condição de infratores, foi separar os detentos infectados dos demais. No entanto, para o 2.4. Realidade desumanas das prisões
médico Dr. Dráuzio Varella (2017), que atua há mais de 30 anos na contenção de doenças no
sistema prisional, as medidas tomadas não apresentam nenhum tipo de resultado eficaz, e
afirma: "Como é que você faz isolamento social em cadeias? Você vai pro 'cadeião' de
Pinheiros, na cela cabem 15, tem 35. Como é que você isola essas pessoas, que dormem no chão O descompromisso do estado relacionado aos assuntos penais, é infelizmente uma forte
e coladas umas às outras? Impossível". Se no estabelecimento penal já existe a superlotação, característica da prisão no Brasil (PRATA, 2010 p. 91). Salla (1999, p. 311) afirma que “alguns
como seria possível fazer a tal separação entre detentos infectados dos demais? “A aspectos de nossa formação social, política e administrativa tornaram o cenário do
superlotação é um problema; em celas com 20 ou 30 pessoas aparecem várias doenças”, afirma encarceramento mais dramático”
Dr. Dráuzio (2017). O resultado deste descompromisso resulta nas condições desumanas que as unidades
O fato é que as unidades prisionais, antes da pandemia do covid-19, já apresentavam a prisionais apresentam durante toda sua história (PRATA, 2010).
falta de assistência médica e a propagação de vírus e doenças como: tuberculose, sarna, além Como conseguir alcançar a ressocialização ou requalificação social em ambientes que não
de doenças sexualmente transmissíveis como: Aids e a sífilis. Infelizmente a propagação e seguem o padrão de sua originalidade, ou não cumprem com seu dever social e pioram a
transmissão dessas doenças são frequentes nas prisões brasileiras. Outros fatos ligados a dignidade do ser humano. Carvalho (2002) afirma que “a situação do Sistema Penal, além de
saúde, apontam que o sedentarismo, a alimentação com poucos nutrientes, as péssimas ilegal é desumana”. Em um inquérito da Comissão Parlamentar do Sistema Carcerário em seu
condições sanitárias, estresse e ansiedade, aumentam e tornam a situação da saúde dentro relatório final foi escrito que: “os presos no Brasil, em sua esmagadora maioria, recebem
dos estabelecimentos penais ainda piores e desumanas, deixando os usuários mais suscetível a tratamento pior do que concedido aos animais: como lixo humano” (BRASIL, 2009, p. 175).
doenças. (DUARTE, 2017. p. 12).
Entrelaçado a este ponto, está de um lado o estado, que não vê os indivíduos na condição
de infratores como prioridade, e do outro lado, a própria sociedade que muitas vezes tem
preconceito contra os aprisionados, e o atual sistema prisional e agem como se os presidiários
não tivessem direito à saúde, e que a prisão é o melhor castigo para aquele que cometeu algum
crime, como diz o próprio Dr. Dráuzio: “A prisão não tem vocação para a saúde, toda sua
organização é voltada à segurança, para manter as pessoas presas”.
Estes são fatores muito preocupantes, que fazem com que aquele indivíduo na condição
infrator, acabe não tendo acesso aos seus direitos, e começa então, ter acesso cada vez mais
com o crime organizado, ou, ao contrário de chegar ao caminho da remissão e induto, acaba
chegando cada vez mais próximo aos incentivos e aprendizagem de como cometer o “crime
perfeito”. Ou seja, vai pelo caminho totalmente contrário ao que o ambiente penal deveria
Imagem 38 - falta de saneamento
oferecer, e age conforme as condições que lhes são apresentadas e ofertadas dentro deste Fonte: G1. Acesso: 15/05/2021
ambiente. Imagem 37 - modificado pelo autor
Segundo Ivolethe (2017) a educadora e autora Flávia Ribeiro, contribui dizendo em seu superlotação
Fonte: hardmob.
livro que: “O preconceito muitas vezes nos impede de olhar para presidiários como seres Acesso: 15/05/2021
humanos que merecem ajuda (apud RIBEIRO 2017, p. 12)”. Para algumas pessoas da sociedade, modificado pelo
do lado de fora do presídio, é fácil afirmar que: “Ainda bem que estes problemas estão lá autor
‘dentro’ ”. Porém, os do lado de “dentro” recebem visitas de pessoas do lado de “fora”,
inclusive visitas intimas, e o fato de todas essas negligencias relacionadas a saúde
acontecerem, possibilitam o risco de que tais problemas de contaminação viral, possam colocar
em risco a saúde de pessoas do lado de “fora”. Mas, se esses problemas fossem tratados de
maneira geral, se a temática da saúde fosse uma das prioridades nos presídios, e se se os
indivíduos na condição de infratores fossem vistos como membros da sociedade geral,
certamente esses riscos seriam bem menores. (DUARTE, 2017. p. 12).

Imagem 36 - sociedade Imagem 40 - falta de saneamento Imagem 39 - superlotação


Fonte: Pinterest. Acesso: 15/05/2021 Fonte: G1. Acesso: 15/05/2021 Fonte: conjur. Acesso: 15/05/2021
modificado pelo autor modificado pelo autor modificado pelo autor
Na prisão, dentro da realidade prisional, boa parte das recomendações previstas Alguns entendem e consideram os direitos humanos como uma utopia, porém ela se trata de
no Direito Penitenciário Nacional, principalmente no tocante ao assistencialismo aos “um programa de longo alcance de transformação da humanidade” (ZAFFARONI, 2001, p.
indivíduos na condição de infratores, descritos na LEP (1984), são totalmente 149). Neste sentido, percebe-se que, se tratando de preservação de direitos, respeito e
descumpridas. (PRATA, 2010) dignidade, não deve existir diferenças entre nenhum ser humano, e que os indivíduos na
A superlotação, bem como as más condições de habitação são grandes fatores que ajudam condição de infratores, apenas estão dentro de uma condição temporária.
na provocação das rebeliões carcerárias. “As reivindicações dos presos se resumem à
transferência para estabelecimentos com menos lotação” (JORGE, 2002 p. 105).
Junto com o problema da superlotação, aparecem os problemas da fata de confiança que os Neste mesmo sentido, Piovesan (2013) afirma que toda
indivíduos na condição de infratores desenvolvem uns com os outros, contra o estado e contra a sociedade, inclusive os que por alguma razão necessitar
a própria sociedade a qual ele faz parte e um dia retornará. Entre os agentes penitenciários, ser retirado de modo temporário da sociedade geral,
começa a se desenvolver a mesma desconfiança e o Dr. Dráuzio (1999) afirma que começam a precisa de ser seus direitos mantidos e assegurado pelo
desenvolver problemas com alcoolismo e obesidade. “O comportamento da gente muda. Fica Estado Democrático, não havendo nenhum tipo de
mais esperto. A gente perde a confiança nos outros. Começa desconfiar dos outros na rua” distinção entre pessoas.
(trecho de depoimento – agente penitenciário, SÁ, 1990, p. 256)

2.4.1. Direitos Humanos na Penitenciaria Imagem 42 - construir-se


Fonte: Pinterest. Acesso: 12/05/2021
modificado pelo autor

Embora no Brasil tenha se começado a admitir a humanização do tratamento a ser Desde o seu perambulo, a carta de 1988 projeta a construção de um Estado Democrático
de Direito, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais, individuais, a liberdade,
oferecido nas unidades penais, ainda não existe a garantia de direitos humanos básicos aos
a segurança, o bem-estar o desenvolvimento, a igualdade e a justiça, como valores supremo
presos. (TOMAZ, 2017, p. 81). de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos (PIOVESAN, 2013, p. 85)
Dentro do estabelecimento penal, os presos estão apenas privados de sua liberdade e sob
a vigilância de alguém, porém, merecem que seus direitos humanos sejam assegurados. “Ora,
essas pessoas mesmo presas ou internadas, são humanos normais, como as que estão em
liberdade, e, portanto, gozando dos mesmos direitos...” (SANTOS, 2013 p. 39). Santos (2013,
p. 40) prossegue afirmando de que nem seria necessário existir uma lei defendendo os
direitos humanos, que este, deveria existir primordialmente.

Imagem 43 - resiliência
Fonte: Pinterest. Acesso: 12/05/2021
modificado pelo autor

Se os estabelecimentos penais tomassem por base os direitos humanos, desde a criações


dos edifícios, aos simples projetos de ambientes o tratamento poderia já ser mais eficaz. Uma
Imagem 41a - liberdade vez que, enquanto não se encontrar uma forma eficaz para as punições e tratamento das
Fonte: Pinterest. Acesso: 13/05/2021 Sob a sugestão de um ambiente que não dá o menor valor à vida humana ou a dignidade das
modificado pelo autor pessoas, mas que faz das pessoas objetos destituídos de vontade, peças de uma política de infrações, teremos o velho sistema penal brasileiro, pautado na privatização de liberdade
exterminação que é adiada apenas para a exploração dos restos de capacidade física de como forma de castigo eu de reprimir os indivíduos na condição de infrator. (TOMAZ, 2017 p.
trabalho – exposto a essa sugestão generalizada, o próprio eu só pode mesmo acabar 82)
desvalorizado. (FRANKL, 1984 p. 39)
Embora as penas cruéis como tortura e morte, sejam proibidas no Brasil, o que mais se vê
Os direitos humanos não se limitam a determinados tipos de pessoas, portanto traz consigo é a crueldade dentro das penitenciárias, que submetem os indivíduos na condição de
algumas características como: universalidade em pertencer a TODOS da espécie humana, infratores, até mesmo a homicídios. E assim, por mera contradição, um centro de
inerência de pertencer aos seres humanos, transnacionalidade de não depender de nenhuma requalificação social, passa a ter dentro de si a própria infração, descumprimento da lei e o
nação, historicidade por ter evoluído historicamente (PORTELA, 2014 p. 819). próprio tratamento desumano. Ainda que na constituição Federal de 1988 o seu Art. nº 5,
inciso III, afirme que ninguém será submetido a tratamento desumano ou a tortura; e o inciso
XLIX, prevê que é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral. (TOMAZ,
2017 p. 83)
Imagem 41b - liberdade
Fonte: Pinterest. Acesso: 13/05/2021
modificado pelo autor
TIPOLOGIAS DO SÉCULO XIX: EVOLUÇÃO DAS
TIPOLOGIAS

Imagem 44 - estilo prisional


Fonte: Pinterest. Acesso 14/05/2021
modificado pelo autor
Quando não podemos mais mudar uma situação, somos desafiados a mudar a nós mesmos. - Viktor Frankl

3 TIPOLOGIAS DO SÉCULO XIX

3.1. Evolução das tipologias Prisionais 3.1.2. Modelo Irlandês


Após o considerado sucesso das prisões americanas, a maioria das prisões europeias
Com o passar dos tempos, diversas tipologias foram desenvolvidas como meio de punição, ou
começaram a adotar também, o modelo usado na Filadélfia. França, Holanda, Bélgica e
como forma de retirar o indivíduo na condição de infrator, dos meios sociais. Mas cada uma
Alemanha foram os pioneiros em colocar o sistema em funcionamento. Neste mesmo momento,
dessas tipologias, correspondem a cultura, tecnologia, localização geográfica e outros fatores
surgia na Irlanda um modelo ainda mais inovador, que continha em seu processo “quatro fases
relacionados a sua época. Porém, o intuito deste tópico é analisar alguns modelos de sistema
a serem percorridas pelo condenado, desde sua entrada na penitenciária até a liberdade total.
penitenciário em países Europeus e dos Estados Unidos, no século XIX, e questionar: o gral de
São passos progressivos de conquista cada vez mais ampla de liberdade. ” (SÁ, 1990)
eficácia de cada uma delas, qual a intenção ao manter o indivíduo no sistema prisional, e o que
A primeira fase é parecida com o modelo pensilvânico, onde o interno fica recluso em sua
se espera com o tipo de confinamento e tratamento oferecido.
cela, afim de refletir sobre seu delito cometido. Na segunda fase, o indivíduo na condição de
A seguir, as diferentes tipologias prisionais e suas evoluções, mostram, em alguns casos,
infrator passa a realizar trabalhos em grupo durante o dia, em silêncio sob vigilância, como no
possíveis respostas do ser humano, perante a cada um desses tratamentos oferecidos.
modelo de Aurburn. E na terceira, o indivíduo na condição de infrator é transferido para uma
penitenciaria, onde agora ele pode conversar, e a vigilância é menos rigorosa. Essas fases
foram elaboradas, pensando na progressão e preparo de retorno do indivíduo na condição de
3.1.1. Modelo de Aurburn infrator para sociedade geral. Na fase final, antes de seu retorno, é permitido ao indivíduo na
condição de infrator que ele conviva em uma comunidade, de maneira livre, até o final de sua
pena (AMARAL, 2007, p. 07).
Surgiu em Nova York em 1821, o maior diferencial adotado neste sistema pensilvânico,
Imagem 46 - corredor prisão de
foi a implantação da realização de trabalhos como forma de ajuda no tratamento do indivíduo Aurburn
na condição de infrator. Durante o tempo penal, todos deveriam prevalecer em silêncio, Fonte: coreacuk. Acesso:
12/05/2021
principalmente durante a noite, porém, este silêncio era imposto à base de chicotadas. Os modificado pelo autor
trabalhos e atividades eram realizados com supervisão dos guardas, e sob punição de chicotes.
(AMARAL, 2007, p. 05)
No decorrer deste trabalho, é defendido o fato de ter o trabalho como meio de
cooperação no processo de ressocialização, no entanto, práticas de castigos e maus tratos são
propostas totalmente contrarias à conclusão deste trabalho.

Imagem 45 - vista da prisão de


Aurburn
Fonte: core. Acesso:
12/05/2021
modificado pelo autor
3.1.3. Panóptico
Conhecido também como inspeção central, o sistema Pan-Óptico foi desenvolvido para
que, de um ângulo central, o vigilante pudesse ter visão total de todos os prisioneiros, de modo
que os internos não soubessem se estão sendo observados naquele momento ou não. O Imagem 49 - torre panóptico
Fonte: wikipédia. Acesso 10/04/2021
idealizador deste sistema foi o filosofo e jurista inglês Jeremy Bentham no ano de 1785. modificado pelo autor
O edifício era composto por seis andares circulares, as celas eram posicionadas nas
circunferências do edifício, e eram vazadas para permitir a passagem de luz. A torre de
vigilância era posicionada ao centro do edifício.
Talvez este sistema cause uma estranheza aos que estão sendo observados, uma relativa
frieza de pouco importar se estão bem ou o que estão sentindo, ao menos estão nas vistas do
vigilante. (PRATA, 2010, p. 54)

Imagem 48 - cela panóptico


Fonte: wikipédia. Acesso 10/04/2021 Imagem 47 - modelo panóptico
modificado pelo autor Fonte: wikipédia. Acesso 10/04/2021
modificado pelo autor

3.1.4. Poste telegráfico ou espinha de peixe


Pavilhões isolados, retangulares e paralelos. Um corredor central que conectava um
pavilhão ao outro, por este motivo também era conhecido como “poste telegráfico” e/ou
“espinha de peixe”. Até meados da década de 60 foi o padrão das prisões brasileiras. Foi
usado a primeira vez em 1898 em Paris, na prisão de Fresnes. De alguma forma, este sistema
causa a sensação de segregação, separação, espraiamento. Talvez causasse também a sensação
de castigo, e por isso não pode existir união ou encontro de uns e outros. (Ibdem, p. 55)

Imagem 50 - modelo espinha de peixe


Fonte: wikipédia. Acesso 10/04/2021
modificado pelo autor
3.1.5. Modular ou Pavilhonar
Surgido nos Estados Unidos no século XX, o padrão modular foi composto por blocos
separados fisicamente, que abrigavam as atividades da penitenciária. Construído em pavilhões
isolados, tinham a vantagem de isolar núcleos de rebeliões, mas sua desvantagem se dava pelo
fato de dificultar o acesso para manutenções e também para a segurança dos pavilhões. Mais
uma vez uma impressão de ter que separar, ou dissolver um problema ou algo indesejado, ou de
separar para evitar atos perigosos de pessoas violentas. Trata-se de uma técnica já praticada
nos padrões anteriores, porém, enfatizada fisicamente na arquitetura prisional.

Imagem 51 - modelo pavilhonar


Fonte: wikipédia. Acesso 10/04/2021
modificado pelo autor

3.1.6. Brasil - Prisão de Mariana MG


Até meados do século XIX os modelos de prisões brasileiras, dividia o mesmo prédio com a
Câmara Municipal. Contendo dois pavimentos, o primeiro era ocupado pela cadeia, e o segundo
pela câmara. O interior da prisão era composto por enxovias, salas e as celas onde ficavam os
presos. Nesta época, ainda exista a sala de segredo ou moxinga, nesta sala era realizado os
interrogatórios, até mesmo com aplicação de torturas em presos que tivessem cometido
crimes graves.
Uma das mais famosas Casa de Câmara e Cadeia no Brasil, é a da antiga cadeia de Mariana-
MG. Até a criação do Código Penal, (1831) o que basicamente acontecia era que os presos
simplesmente eram jogados nas celas, somente com a preocupação de tirá-los do meio social.
Esse era um dos motivos pelo qual não se tinha a preocupação arquitetônica com a construção
de estabelecimentos penais, e pelo fato de ser um prédio do poder público, o mesmo era
dividido com a câmara Municipal. (AMARAL, 2007, p. 14).

Imagem 52 - modelo pavilhonar


Fonte: wikipédia. Acesso 10/04/2021
modificado pelo autor
ARQUITETONICO PENITENCIÁRIO E O ESPAÇO OFERECIDO
AO INDIVÍDUO NA CONDIÇÃO DE INFRATOR

Imagem 53 - por entre as grades


Fonte: Canva. Acesso 14/05/2021
modificado pelo autor
Ninguém tem o direito de praticar injustiça, nem mesmo aquele que sofreu injustiça. Viktor Frankl

4 ARQUITETONICO PENITENCIÁRIO E O ESPAÇO OFERECIDO AO INDIVÍDUO NA CONDIÇÃO DE INFRATOR

4.1. Estabelecimentos Penais Brasileiros


a) Colônia Agrícola, industrial ou similar b) Centro de Observação
Este tipo de estabelecimento penal geralmente abriga indivíduos destinados ao regime O Centro de Observação, é o órgão que estabelece a classificação dos condenados e
semiaberto. Nesta modalidade, o indivíduo na condição de infrator poderá ser alojado nas destinam o cumprimento da pena em regime fechado, mediante a realização de exames e
celas em caráter coletivo. Os presos trabalham na própria colônia, podendo isso, diminuir o analises de personalidade, criminológico, visando à individualização na execução da pena. Os
tempo de pena a ser cumprido. No entanto, essas Colônias são quase inexistentes no Brasil. resultados são encaminhados à Comissão Técnica de Classificação, a qual formulará o
(BLUME, 2017) programa. (CAPEZ, 2011, p. 62)
Segundo as disposições da (LEP) Lei de Execuções Penais:

Art. 91. A Colônia Agrícola, Industrial ou Similar destina-se ao cumprimento da pena em


regime semiaberto. Art. 92. O condenado poderá ser alojado em compartimento coletivo,
observados os requisitos da letra a, do parágrafo único, do artigo 88, desta Lei. Parágrafo
único. São também requisitos básicos das dependências coletivas: a) a seleção adequada
dos presos; b) o limite de capacidade máxima que atenda os objetivos de individualização
da pena. (BRASIL, Lei n° 7.210, de 11 de julho de 1984).

Conforme a citação acima, a LEP prevê ainda, que alguns requisitos básicos sejam levados
em consideração na seleção adequada dos indevidos. Por exemplo: o tipo de pena a ser Imagem 56 - observação
cumprida, a infração cometida e o grau de periculosidade do indivíduo. Fonte: meditação online. Acesso
Por se tratar de um regime semiaberto a colônia propõe relativa “liberdade” aos alojados. 21/05/2021
modificado pelo autor
Vigilância moderada, muros mais baixos são algumas características que marcam esta
modalidade. A responsabilidade no cumprimento da pena fica por conta do condenado. Art. 96. No Centro de Observação realizar-se-ão os exames gerais e o criminológico, cujos
No nosso país, não existem muitas colônias agrícolas e industriais razoáveis. A maioria das resultados serão encaminhados à Comissão Técnica de Classificação. Parágrafo único. No
Centro poderão ser realizadas pesquisas criminológicas. Art. 97. O Centro de Observação
colônias agrícolas existentes são adaptações realizadas que não podem atender a um grande
será instalado em unidade autônoma ou em anexo a estabelecimento penal. Art. 98. Os
número de condenados. (MESQUITA JR, 1999, p. 175). exames poderão ser realizados pela Comissão Técnica de Classificação, na falta do Centro
de Observação. (BRASIL, Lei n° 7.210, de 11 de julho de 1984).
Imagem 54 - trabalho horta
Fonte: senado federal. Acesso
30/05/2021 Imagem 57 - personalidade
modificado pelo autor Fonte: Blog Supernteressante.
Acesso 21/05/2021
modificado pelo autor

Imagem 55 - trabalho horta


Fonte: senado federal. Acesso
30/05/2021
modificado pelo autor
c) Casa do Albergado d) Cadeia Pública
A Casa do Albergado, destina-se ao cumprimento de pena em regime aberto, e da pena de Acolhe o condenado em caráter provisório. Geralmente cada município terá, pelo menos
limitação de fim de semana. A lei ainda prevê que o prédio deste estabelecimento não tenha uma unidade de cadeia pública para atender as necessidades da justiça criminal.
obstruções contra a fuga, e que o mesmo esteja situado em centros urbanos. Este tipo de A cadeia pública também tem a função de acolher de modo provisório, os detentos que
estabelecimento, deve ter espaços para realização de aulas e palestras. aguardam a sentença judicial. Também são acolhidos indivíduos que tenham sido presos em
Com essas características, é possível perceber que maior liberdade é concedida ao infrator, flagrante, por prisão preventiva, prisão resultante de pronúncia, prisão decorrente de
sendo que ainda é previsto que o condenado desempenhará seus papeis e trabalhos na sentença penal condenatória recorrível ou a própria prisão temporária. Ainda que as leis
sociedade e retornar ao estabelecimento á noite e em seus dias de folga. tenham suas exigências claras, normalmente o que se encontra é a situação de cadeias
Este tipo de estabelecimento propõe uma estrutura simples e de baixo custo, pelo fato dos públicas lotadas com condenados em caráter definitivo, superlotação. (BLUME, 2017)
condenados não passarem grande parte do tempo no estabelecimento e apenas se recolherem Imagem 60 - aprisionamento
nos períodos noturnos e de folga. (BLUME, 2017) Fonte: Pinterest. Acesso 13/05/2021
modificado pelo autor

Imagem 58 - trabalho externo


Fonte: portal online Acesso 23/05/2021
modificado pelo autor

Art. 93. A Casa do Albergado destina-se ao cumprimento de pena privativa de liberdade,


em regime aberto, e da pena de limitação de fim de semana. Art. 94. O prédio deverá
situar-se em centro urbano, separado dos demais estabelecimentos, e caracterizar-se pela
ausência de obstáculos físicos contra a fuga. Art. 95. Em cada região haverá, pelo menos,
uma Casa do Albergado, a qual deverá conter, além dos aposentos para acomodar os presos,
local adequado para cursos e palestras. Parágrafo único. O estabelecimento terá
instalações para os serviços de fiscalização e orientação dos condenados. (BRASIL, Lei n°
7.210, de 11 de julho de 1984). Art. 102. A cadeia pública destina-se ao recolhimento de presos provisórios. Art. 103. Cada
comarca terá, pelo menos 1 (uma) cadeia pública a fim de resguardar o interesse da
Administração da Justiça Criminal e a permanência do preso em local próximo ao seu meio
social e familiar. Art. 104. O estabelecimento de que trata este Capítulo será instalado
próximo de centro urbano, observando-se na construção as exigências mínimas referidas
no artigo 88 e seu parágrafo único desta Lei. (BRASIL, Lei n° 7.210, de 11 de julho de
1984).

Imagem 59 - trabalho externo


Fonte: Sejusp. Acesso 23/05/2021
modificado pelo autor
e) Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico
São raros os hospitais psiquiátricos existentes no Brasil, e por isso, o tratamento
ambulatorial, previsto no artigo 97, deveria ser realizado no Hospital de Custódia e
Tratamento Psiquiátrico ou em algum local com instalações médicas adequadas para tais
atendimentos.
O exame psiquiátrico e os demais exames necessários ao tratamento são obrigatórios
para todos os internados, obedecendo aos requisitos básicos de salubridade do ambiente pela
concorrência dos fatores de aeração, insolação e condicionamento térmico adequado à
existência humana. (MESQUITA JR., 1999, p. 178).
“Conforme estabelecido na Exposição de Motivos, esse hospital-presídio, de caráter
oficial, não exige cela individual, uma vez que se submete aos padrões de uma unidade
hospitalar, atendendo às necessidades da moderna medicina psiquiátrica” afirma Capez (2011,
p.62). Imagem 62 - atendimento hospitalar
Fonte: Bahia Notícias. Acesso 23/05/2021
modificado pelo autor

Imagem 63 - más condições de atendimento


Fonte: Bahia Notícias. Acesso 23/05/2021
modificado pelo autor

Imagem 61 - más condições de


atendimento
Fonte: Bahia Notícias. Acesso 23/05/2021
modificado pelo autor
Art. 99. O Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico destina-se aos inimputáveis e
semi-imputáveis referidos no artigo 26 e seu parágrafo único do Código Penal. Parágrafo
único. Aplica-se ao hospital, no que couber, o disposto no parágrafo único, do artigo 88,
desta Lei. Art. 100. O exame psiquiátrico e os demais exames necessários ao tratamento
são obrigatórios para todos os internados. Art. 101. O tratamento ambulatorial, previsto no
artigo 97, segunda parte, do Código Penal, será realizado no Hospital de Custódia e
Tratamento Psiquiátrico ou em outro local com dependência médica adequada. (BRASIL, Lei
n° 7.210, de 11 de julho de 1984).

Imagem 64 - más condições de atendimento


Fonte: Bahia Notícias. Acesso 23/05/2021
modificado pelo autor
Imagem 65 - carrióla
Fonte: Canva. Acesso 15/05/2021
modificado pelo autor

4.2. Condicionantes do espaço arquitetônico penitenciário


O espaço arquitetônico prisional, vai muito além do que uma simples proteção contra as
intempéries ou uma barreira de separação social. (CORDEIRO, 2009, p. 36)
Imagem 66 - violão
O espaço arquitetônico penitenciário, é composto por três elementos: gerais, externos e Fonte: Canva. Acesso 15/05/2021
internos à prisão. a) os gerais são os que fazem acontecer na prática, a pena privativa de modificado pelo autor
liberdade respeitando e seguindo a política penitenciária. Ou seja, o espaço arquitetônico
caracteriza o presídio, de acordo com o sistema jurídico penal, visando a reinserção social. A
legislação, por sua vez, ressalta que haja proteção aos diretos humanos do indivíduo na
condição de infrator; b) os externos se referem diretamente à administração, organização e
funcionamento do presídio. Refere-se ainda, ao tipo de administração – pública, privada ou
semiprivada –, e também, na elaboração e aplicação das regras técnicas, elaboração dos
projetos arquitetônicos e também a construção do estabelecimento penal; c) e os internos,
Imagem 67 - cavalete
estão ligados ao modelo penitenciário a ser seguido. É o que fará acontecer na prática os Fonte: Canva. Acesso 15/05/2021
princípios da pena privativa de liberdade a fim de alcançar a reinserção e requalificação social. modificado pelo autor
(PRATA, 2010, p. 70)
Imagem 68 - livros
Neste sentido, o espaço se compõe por várias vertentenses fundamentais, para que sua Fonte: Canva. Acesso 15/05/2021
funcionalidade aconteça de maneira organizada e de forma que a legislação seja cumprida, modificado pelo autor
garantindo ao indivíduo na condição de infrator, seus direitos, ainda que neste período de
reclusão.

Sendo assim, consideramos que o espaço prisional é uma relação entre o homem e o objeto,
em contato com a natureza (por meio dos trabalhos e atividades) que são inseparáveis no
objeto processo de evolução em busca da ressocialização.
A evolução no processo de construção de uma obra arquitetônica, advém de uma política
que apresenta uma série de estudos, argumentos, sentido que serão responsáveis pela
interpretação, elaboração e criação do espaço. Esse processo da produção arquitetônica é
importante, pois, ela se articula para que funcione e aconteça, de certo modo, no cotidiano da
vida daqueles que ela abrigar ou que convivam com suas formas. (CORDEIRO, 2009, p. 37)

AÇÃO O sentido do espaço, está claramente interligado ao uso que se fará no espaço construído,

INTER e com a experiência da dinâmica humana. No entanto, é preciso atentar-se para o fato de que
o indivíduo abrigado pelo espaço, é autônomo e está em um constante processo de
desenvolvimento. Ou seja, suas ações, bem como seus comportamentos, acontecerão em
interação com este espaço, espaço que pode modifica-lo.
Todos os lugares que frequentamos, tem seu significado, sentido e sensação. Pois, como
afirma Cordeiro (2009) “aquilo que não tem significado, simplesmente não existe em nossa
mente”. Deste modo, para que o espaço constituído como estabelecimento penal, possa ter
significado, sentido e eficácia de sua função, na vida do indivíduo na condição de infrator, é
homem preciso que ele traga e disponha de agradáveis ambientes para ajudar no processo de
requalificação social e leve ao caminho do verdadeiro induto.
MODELO APAC

Imagem 69 - unidade APAC


Fonte: VIX. Acesso 14/05/2021
modificado pelo autor
A melhor forma de conseguir a realização pessoal é dedicarmo-nos a metas desinteressadas. - Viktor Frankl

5 MODELO APAC

5.1. Conhecendo o Conceito APAC


A Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (APAC) entende como necessidade
Por se fazer inovador, o método da APAC se espalhou por todo Brasil, somando até o ano
novas práticas que promovam a eficácia de ressocialização do preso, através da humanização
de 2017 aproximadamente 100 unidades, em território nacional e internacional, em países
das cadeias. Sendo assim, para atender a essa proposta inovadora, o Tribunal de Justiça de
como: Alemanha, Argentina, Bolívia, Bulgária, Chile, Cingapura, Costa Rica, El Salvador,
Minas Gerais (TJMG), criou o Projeto Novos Rumos na Execução Penal, com a missão de
Equador, Eslováquia, Estados Unidos, Inglaterra e País de Gales, Latvia, México, Moldovia,
difundir o método APAC como uma ferramenta para humanização da execução penal e
Nova Zelândia e Noruega. (ibid, 2017)
contribuir para a construção ressocialização e requalificação social. (FARIA, 2017) Imagem 71 - união
A Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (APAC) é uma entidade filantrópica, Fonte: Mulheres do Brasil. Acesso 13/05/2021
modificado pelo autor
civil, que busca à requalificação social dos indivíduos na condição de infratores, de modo a
socorrer a vítima e proteger a sociedade. Sendo assim, a APAC funciona como uma entidade
em auxílio do Poder Judiciário e Executivo, atendendo as recomendações da LEP, na
administração do cumprimento das penas privativas de liberdade. A APAC possui um lema:
‘Matar o criminoso e Salvar o homem’ (OTTOBONI, 2001), a partir de uma disciplina rígida e
do cumprimento da pena estabelecida judicialmente, promovendo respeito, ordem, trabalho e
o relacionamento das famílias dos indivíduos na condição de infratores.

Como meio de promover proximidade da sociedade com os indivíduos na condição de


infratores, e por não ser é remunerada e nem receber ou ajudar os condenados, a APAC se
mantém através de doações realizadas por pessoas físicas, jurídicas, entidades religiosas, de
parcerias e de convênios com o Poder Público, instituições educacionais e outras entidades.
(FARIA, 2017)
Faria (2017) aponta que, amparada pela Constituição Federal, a APAC atua nos presídios,
trabalhando com princípios fundamentais, tais como a valorização humana. A primeira
instituição, nasceu em São José dos Campos (SP) em 1972 idealizada pelo advogado e
Imagem 70 - logo APAC jornalista Mário Ottoboni e um grupo de amigos cristãos.
Fonte: Fernando Hallberg. Acesso 13/05/2021 Por se fazer inovador, o método da APAC se espalhou por todo Brasil, somando até o ano de
modificado pelo autor
2017 aproximadamente 100 unidades, em território nacional e internacional, em países como:
Faria (2017) aponta que, amparada pela Constituição Federal, a APAC atua nos presídios, Alemanha, Argentina, Bolívia, Bulgária, Chile, Cingapura, Costa Rica, El Salvador, Equador,
trabalhando com princípios fundamentais, tais como a valorização humana. A primeira Eslováquia, Estados Unidos, Inglaterra e País de Gales, Latvia, México, Moldovia, Nova
instituição, nasceu em São José dos Campos (SP) em 1972 idealizada pelo advogado e Zelândia e Noruega. (ibid, 2017)
jornalista Mário Ottoboni e um grupo de amigos cristãos. Como meio de promover proximidade da sociedade com os indivíduos na condição de
infratores, e por não ser é remunerada e nem receber ou ajudar os condenados, a APAC se
mantém através de doações realizadas por pessoas físicas, jurídicas, entidades religiosas, de
parcerias e de convênios com o Poder Público, instituições educacionais e outras entidades.
(FARIA, 2017)
5.2. Objetivos do método APAC
5.3. Eficácia do método APAC
“O objetivo da APAC é gerar a humanização das prisões, sem deixar de lado a finalidade
punitiva da pena. Sua finalidade é evitar a reincidência no crime e proporcionar condições para Segundo Faria (2011), o custo de cada indivíduo na condição de infrator para o Estado,
que o condenado se recupere e consiga a reintegração social. ” (FARIA, 2017). corresponde a quatro salários mínimos enquanto na APAC este o custo é reduzido a um salário
O método “apaqueano” baseia-se na vertente de que todo ser humano é recuperável, porém, e meio. Afirma ainda que, o índice nacional de pessoas de presídios comuns, que voltam a
é que seja oferecido um tratamento adequado e eficaz. Como forma de oferecer um praticar crimes é, aproximadamente, de 85%, já na APAC corresponde a 8,62%. A APAC
tratamento que atenda este princípio, a APAC desenvolveu 12 princípios fundamentais, e que instalada na cidade de Itaúna-MG foi considerada como uma referência nacional e
para o êxito na recuperação do indivíduo na condição de infrator, é imprescindível a aplicação internacional, por demonstrar sua eficácia vinda da possibilidade de humanizar o cumprimento
de todos eles: 1) participação da comunidade; 2) recuperando ajudando recuperando; 3) da pena e o estabelecimento penal.
trabalho; 4) religião; 5) assistência jurídica; 6) assistência à saúde; 7) valorização humana; 8)
a família; 9) o voluntário e sua formação; 10) Centro de Reintegração Social – CRS (O CRS
possui três pavilhões destinados ao regime fechado, semiaberto e aberto); 11) mérito do
recuperando; 12) a Jornada de Libertação com Cristo. (ibid, 2017)
Para elaboração do projeto em questão, alguns dos modelos da APAC serão adotados para a
composição dos princípios do Centro de Requalificação Social.

modelo convencional modelo APAC

voltam a praticar crimes

O modelo Apaqueano foi reconhecido pelo Prison Fellowship International (PFI),


organização não-governamental que atua como órgão consultivo da Organização das Nações
Unidas (ONU) em assuntos penitenciários, como uma alternativa para humanizar a
execução penal e o tratamento penitenciário. (FARIA, 2017).
O modelo APAC se faz inovador, pelo fato de chamar o indivíduo na condição de infrator
pelo nome; pela Individualização da pena; por permitir que a comunidade local participe
efetivamente, através do voluntariado; por ser o único estabelecimento prisional que oferece
os três regimes penais: fechado, semiaberto e aberto com instalações independentes e
apropriadas às atividades desenvolvidas; por não contar com a presença de policiais e agentes
penitenciários, e as chaves do presídio ficam em poder dos próprios detentos; pela ausência
de armas; manter a religião como fator essencial da recuperação; incentivar que a valorização
humana é a base da recuperação, promovendo o reencontro do indivíduo com ele mesmo; por
oferecer assistência não só à família do recuperando mas também à vítima ou seus familiares;
por manter um número menor de detentos juntos, evitando formação de quadrilhas,
Imagem 72 - APAC subjugação dos mais fracos, pederastia, tráfico de drogas, indisciplina, violência e corrupção;
Fonte: MPGO direito humanos. Acesso 13/05/2021
modificado pelo autor por permitir que escolta dos detentos ser realizada pelos voluntários da APAC. (FARIA,
2017).
LEITURAS
PROJETUAIS

Imagem 73 - Fechadura/grade
Fonte: Pinterest. Acesso 08/06/2021
modificado pelo autor
As coisas não são ultrapassadas tão facilmente, são transformadas. - Nise da Silveira

9 Leitura projetual

Justizzentrum Leoben

ficha técnica

Arquiteto: Josef Hohensinn

Localização: Leoben - Áustria

Ano do projeto: 2004

Imagem 76 - vista penitenciária leoben


Fonte: PJV arquitetura. Acesso 13/05/2021
Imagem 75 - vista penitenciária leoben modificado pelo autor
Fonte: PJV arquitetura. Acesso 13/05/2021
modificado pelo autor

A Justizzentrum, se trata de uma prisão atípica pela imponência trazida no seu modelo e estilo
arquitetônico. Pela área externa, já é possível perceber alguns de seus diferenciais, como por exemplo: o
verdejante gramado envolto do grandioso edifício constituído por concreto e vidro, dando um ar
convidativo aos que de longe possam avista-la. Com relação a maioria das penitenciárias, essa sem dúvidas
é diferente dos modelos típicos de uma penitenciária.

Para Hohensinn, criador, a prisão do futuro propõe inúmeros debates a respeito do tratamento,
dignidade e respeito oferecidos aos presos. Com a aparência de um Centro de Eventos, Biblioteca,
Escritórios renomados, a Justizzentrum causa questionamentos a respeito de seu conceito.
Justizzentrum Leoben

Pelo ambiente de entrada, da


para sentir a sensação de um
ambiente convidativo.
Características como: as
grandes aberturas, a composição
dos vidros, boa iluminação e a
decoração compõem a a beleza
do edificio.
Imagem 78 - hall penitenciária leoben
Fonte: PJV arquitetura. Acesso 13/05/2021
modificado pelo autor
Imagem 77 - entrada penitenciária leoben
Fonte: PJV arquitetura. Acesso 13/05/2021
modificado pelo autor

As celas individuais, são compostas por


camas de madeira, televisão, prateleiras,
mesinha de apoio pontos de passagem elétrica,
bom acabamento teto e no piso, entrada de
iluminação, lembram o conforto de um quarto de
hotel, de uma pausada, ou até mesmo de um
kitnet.
Se tratando de um ambiente com importante
função social, essas imagens revelam a importância
que tem a acolhida nos ambientes penais. Imagem 79 - cela penitenciária leoben
Fonte: PJV arquitetura. Acesso 13/05/2021
modificado pelo autor
Justizzentrum Leoben
Pensando no conceito de oferecer
dignidade e respeito, os ambientes são
extremamente aconchegantes.
Preservando o acesso à cultura,
informação, socialização.
Analisando a imagem 01, é possível
perceber a riqueza em acervo que o
Imagem 82 - sala de visitas
espaço de leitura e conhecimento, Fonte: PJV arquitetura. Acesso 13/05/2021
modificado pelo autor
oferece aos seus indivíduos na condição
de infratores.
Na imagem 02, um espaço de
permanência, que possibilita a
Imagem 80 - biblioteca penitenciária leoben
Fonte: PJV arquitetura. Acesso 13/05/2021
comunicação e interlocução pessoal,
modificado pelo autor promovendo momentos de reflexão e
partilha.
A imagem 03, mostra o zelo e
importância do contato com amigos e
Imagem 83 - corredor penitenciária leoben
familiares que estão em convívio com Fonte: PJV arquitetura. Acesso 13/05/2021
modificado pelo autor
a sociedade geral. E ao mesmo tempo,
por meio do ambiente, transparece ao
membro visitante, que o respeito e a
dignidade estão sendo oferecidos no
ambiente penal.
Nas imagens 05 e 06, a presença de
espécies vegetativas, e mobiliários
coloridos como elementos decorativos,
mostra a vitalidade que um centro penal
Imagem 81 - jardim penitenciária leoben
Fonte: PJV arquitetura. Acesso 13/05/2021 pode oferecer através de seus Imagem 84 - corredor penitenciária leoben
Fonte: PJV arquitetura. Acesso 13/05/2021
modificado pelo autor
ambientes. modificado pelo autor
Justizzentrum Leoben

analise critica

Considerando o intuito deste trabalho, e as informações do


levantamento da prisão Justizzentrum. Conclui-se que o
conceito de acolhimento, respeito e dignidade, estão presentes Imagem 85 - hall penitenciária leoben
Fonte: PJV arquitetura. Acesso 13/05/2021
em todos os ambientes e suas composições. E que, o acesso ao modificado pelo autor
conhecimento, cultura, lazer, esporte, momentos de reflexão,
sugestivamente estão presentes neste projeto.

Estes são fatos importantes defendidos na fundamentação


teórica deste trabalho, ressaltando a importância da humanização
dos ambientes dentro do espaço penal. Porém, esta realidade
apresentada no projeto de Justizzentrum, no presente momento
para o Brasil, ainda é uma realidade utópica. O centro penal
brasileiro, poderia sim se configurar nestes padrões, no entanto, é Imagem 86 - vista aérea penitenciária leoben
Fonte: PJV arquitetura. Acesso 13/05/2021
preciso que muitas questões e problemas sociais, sejam discutidos e modificado pelo autor
resolvidos de antemão.

Imagem 87 - sala de convivência penitenciária


leoben
Fonte: PJV arquitetura. Acesso 13/05/2021
modificado pelo autor
Leitura projetual
Holmsheidi Prison
ficha técnica

Arquiteto: Holmes Miller

Localização: Reykjavik -
Islândia

Ano do projeto: 2015

Imagem 89 - vista das celas Holmsheidi


Fonte: Blog DIVIDIR. Acesso 13/05/2021
Imagem 88 - vista aérea Holmsheidi modificado pelo autor
Fonte: Blog DIVIDIR. Acesso 13/05/2021
modificado pelo autor

Se trata de uma penitenciária feminina, com apenas 56 celas destinado a cumprimento de penas de curto
tempo. O projeto arquitetônico desta penitenciaria, pretende justamente atender a necessidade social do
centro penal e proporcionar um ambiente mais humanizado e com mínimas condições de dignidade e respeito,
visando baixo custo nas despesas.

Para Hohensinn, criador, a prisão do futuro propõe inúmeros debates a respeito do tratamento, dignidade e
respeito oferecidos aos presos. Com a aparência de um Centro de Eventos, Biblioteca, Escritórios renomados, a
Justizzentrum causa questionamentos a respeito de seu conceito.
Holmsheidi Prison
Através das cores e do mobiliário. As celas são
oferecidas como ambientes convidativos,
proporcionando dignidade, segurança e saúde na
hora do descanso. As camas, bem como prateleiras
de apoio são de madeira, compõem a materialidade
trazendo sensação de conforto.

Imagem 80 - celas Holmsheidi


Fonte: Blog DIVIDIR. Acesso 13/05/2021
modificado pelo autor

Imagem 81 - jardim externo Holmsheidi


Os pátios internos, ficam localizados no centro de cada Fonte: Blog DIVIDIR. Acesso 13/05/2021
modificado pelo autor
bloco. Além de ser um espaço para receber visitas e espaço
ao ar livre para o indivíduo na condição de infrator, os pátios
servem também para levar luz do sol para dentro de para
cada cela .
Outro fator importante, é o fato de cada cela possuir
Imagem 82 - jardim externo Holmsheidi
esta saliência no eixo de iluminação, que serve para trazer a Fonte: Blog DIVIDIR. Acesso 13/05/2021
modificado pelo autor
luz do dia, limitando que de cada cela possa se ter visão da
outra.
Holmsheidi Prison
Este marcante elemento
cilíndrico, se trata do posto de
vigilância e também uma claraboia
responsável de de levar iluminação
para o interior. Posicionados no centro
do edifício, e suspenso do chão, vista
de longe, parece com um grande cone
liso.
Imagem 85 -
Imagem 84 - claraboia Holmsheidi vista aérea
Fonte: Blog DIVIDIR. Acesso 13/05/2021 Holmsheidi
modificado pelo autor Fonte: Blog
Imagem 83 - esquema Holmsheidi DIVIDIR.
Fonte: Blog DIVIDIR. Acesso 13/05/2021 Acesso
modificado pelo autor 13/05/2021
modificado
pelo autor

O conceito da cor e da materialidades,


foram usados como forma de combinação e
adaptação do edifício com o seu entorno natural,
misturando os tons do edifício com o tom da terra
de Holmsheidi.
A proposta visa entregar um ambiente
arquitetônico acolhedor que possibilite a melhoria
aos indivíduos na condição de infratores.
A materialidade se resume, basicamente, no
Imagem 86 - penitenciária Holmsheidi
Fonte: Blog DIVIDIR. Acesso 13/05/2021
uso do concreto, e revestimento de aço de
Imagem 87 - entrada de luz celas Holmsheidi
Imagem 74g - grades
Fonte: canva. Acesso 13/05/2021
modificado pelo autor
Fonte: Blog DIVIDIR. Acesso 13/05/2021 intemperismo em alguns pontos.
modificado pelo autor
modificado pelo autor
Holmsheidi Prison convivência

Imagem 88 - refeitório Holmsheidi


convivência Fonte: Blog DIVIDIR. Acesso 13/05/2021
modificado pelo autor

Imagem 89 - refeitório Holmsheidi


Fonte: Blog DIVIDIR. Acesso 13/05/2021
modificado pelo autor

De modo geral, o edifício foi


projetado de maneira que tenha bastante
iluminação e ventilação em todas os
ambientes. O que certamente
proporcionará ambientes saudáveis e
pátios internos salubres.
Os tons claros contrastam com os
detalhes coloridos do mobiliário,
vegetação, com o tom externo do próprio
edifício e detalhes coloridos em algumas
paredes das celas.

circulação

Imagem 91 - corredor para celas Holmsheidi


Imagem 90 - jardim externo Holmsheidi Fonte: Blog DIVIDIR. Acesso 13/05/2021
Fonte: Blog DIVIDIR. Acesso 13/05/2021 modificado pelo autor
modificado pelo autor
Holmsheidi Prison

Jardim Interno
Esporte
Administrativo
Convivência
Celas
Vigilância
Estacionamento
Acesso/circulação

N
Imagem 92 - planta Holmsheidi
Fonte: Blog DIVIDIR. Acesso 13/05/2021
modificado pelo autor
Holmsheidi Prison

analise critica

Imagem 93 - vista aérea Holmsheidi


Com relação ao projeto anterior, o projeto de Hilmsheidi Fonte: Blog DIVIDIR. Acesso
13/05/2021
apresenta uma proposta menos utópica e mais próxima da realidade. modificado pelo autor

O projeto apresenta características de preocupação com o


espaço a ser oferecido aos indivíduos na condição de infrator.
Trata-se de um projeto que visa humanização, dignidade, respeito e
saúde na composição dos ambientes.

A pesar de ser planejado para penas de curta duração, o


ambiente está mais do que bem preparado para oferecer condições Imagem 94 - captação de água
de ressocialização e requalificação social. Holmsheidi
Fonte: Blog DIVIDIR. Acesso
13/05/2021
modificado pelo autor

Imagem 95 - academia Holmsheidi


Fonte: Blog DIVIDIR. Acesso
13/05/2021
modificado pelo autor
Leitura projetual
APAC

ficha técnica

Arquiteto: MAB - Arquitetura e


Urbanismo

Localização: Santa Luzia - MG

Ano do projeto: 2006

Imagem 97 - fachada APAC


Fonte: M3 arquitetura. Acesso 13/05/2021
Imagem 96 - vista aérea APAC modificado pelo autor
Fonte: M3 arquitetura.. Acesso
13/05/2021
modificado pelo autor

A APAC de Santa Luzia - MG, foi a primeira construção arquitetônica construída no Brasil, visando
diferenciar-se das demais prisões construídas no país, e buscando meios de oferecer aos indivíduos na condição
de infrator a reinserção social .

O complexo penitenciário abriga cerca de 200 detentos, sendo 120 vagas para o regime fechado e 80 para o
regime semiaberto. Além das celas, existem as demais áreas como por exemplo da administração, convivência,
lazer e 12 quartos para visitantes palestrantes e afins
APAC

As áreas externas dispõem de


amplos ambientes para atividades ao ar
livre, e momentos de partilhas, além da
grande composição paisagística.

Pelo fato de abrigar detentos em


regime fechado, seguindo a
legislação, esta unidade penal fica
distante dos centro urbano. Porém,
Imagem 98 - jardim externo APAC
Fonte: M3 arquitetura. Acesso para propor uma relação entre o Imagem 100 - jardim externo APAC
13/05/2021 Fonte: M3 arquitetura. Acesso
modificado pelo autor estabelecimento e a cidade, na 13/05/2021
modificado pelo autor
frente do estabelecimento penal, foi
criada uma praça, que inclusive tem
lojas que vendem materiais
produzidos pelos indivíduos na
condição de infrator.

Além disso, existem terraços


escalonados de acordo com o perfil
natural topográfico, proporcionando um
ambiente de área livre e até mesmo
como mirante .

Imagem 99 - jardim externo APAC Imagem 101 - terraço APAC


Fonte: M3 arquitetura. Acesso Fonte: M3 arquitetura. Acesso
13/05/2021 13/05/2021
modificado pelo autor modificado pelo autor
Um elemento arquitetônico marcante do projeto, é
APAC a rampa de acesso à área administrativa. Uma rampa
helicoidal de concreto, pequenas aberturas no teto e
nas laterais, são responsáveis por levar iluminação e
Regime fechado ventilação para o interior da rampa. Vista do lado de
Regime fechado fora, sem dúvidas ela compõem o paisagismo, como um
objeto arquitetônico.
Atividades/Terapia

Cozinha/Refeitório
Educacional Regime fechado

Recepção de familiares

Administração
Regime Semiaberto
Imagem 103 - interior rampa APAC
Fonte: M3 arquitetura. Acesso
Casa do Albergado 13/05/2021
modificado pelo autor

Acima é possível entender


como funciona a distribuição Imagem 102 - rampa APAC
Fonte: M3 arquitetura. Acesso
das atividades e a setorização 13/05/2021
modificado pelo autor
Imagem 104 - interior rampa APAC
dos ambientes. Fonte: M3 arquitetura. Acesso
13/05/2021
modificado pelo autor
APAC

Imagem 106 - celas, camas e prateleiras


APAC
Fonte: M3 arquitetura. Acesso 13/05/2021
modificado pelo autor

Outro aspecto marcante a ser destacado, são os elementos


vasados nos corredores das celas. Trazem ventilação e iluminação
tanto para o corredor quanto para as celas. As celas acomodam até 5
pessoas, e dispões de camas sobrepostas ortogonalmente e espaços
individuais para guardar objetos pessoais.
Nas portas das celas, existem portas de PVC, que permite que os próprios
detentos fechem ou abram a cela.

Imagem 105 - corredor, elemento vazado


APAC
Fonte: M3 arquitetura. Acesso
13/05/2021
modificado pelo autor
Este estabelecimento penal, foi projetado de
modo que todos os ambientes possuam aberturas, ou
elementos vazados que ajudam tanto com a circulação
de ar, iluminação, quanto com a redução de sensação
de aprisionamento.

Imagem 107 - salão APAC


Fonte: M3 arquitetura. Acesso
13/05/2021
modificado pelo autor
APAC

analise critica

Com relação aos projetos apresentados anteriormente, e


com os centros penais mais comuns no Brasil, o modelo
arquitetônico penitenciário da APAC, é o que mais tem próximo Imagem 108 - acesso as celas APAC
de um tratamento mais humano, oferecido pelos ambientes. O Fonte: M3 arquitetura. Acesso
13/05/2021
modelo arquitetônico é projetado pensando no tipo de uso e na modificado pelo autor

ajuda no tratamento do indivíduo na condição de infrator.

A APAC, faz com que o programa de necessidades siga


exatamente todas as exigências previstas nas normativas da
LEP, no entanto, ela sugerem um modelo arquitetônico mais
humano, porém distante de ser algo utópico.
Imagem 109 - jardim externo APAC
Fonte: M3 arquitetura. Acesso
O principal conceito da APAC, é fazer com que o indivíduo 13/05/2021
modificado pelo autor
na condição de infrator, não se sinta preso. Mas sim, recluso da
sociedade geral, para cumprir pena, se desapegar do ato
criminoso que o levou até lá e buscar sua requalificação social
para poder retornar à sociedade.

A praça criada a frente do estabelecimento penal, é uma


tentativa de romper com o preconceito contra os indivíduos na
condição de infrator, e de valorizar a produção feitas por eles
Imagem 110 - quadra de esportes APAC
durante as atividades e trabalhos coletivos Fonte: M3 arquitetura. Acesso
13/05/2021
modificado pelo autor
DIAGNÓSTIICO DA ÁREA DE
INTERVENÇÃO

Imagem 111 - ressurgimento


Fonte: Pinterest. Acesso 08/06/2021
modificado pelo autor
A melhor forma de conseguir a realização pessoal é dedicarmo-nos a metas desinteressadas. - Viktor Frankl

7 DIAGNÓSTICOS DO ENTORNO
Área
Intervenção
Escolha da área
CPP
Jardinópolis
Área
Intervenção

CPP
Jardinópolis
Área
Intervenção

Com aproximadamente 248.164,92m², localizada no inicio do


perímetro urbano de Jardinópolis, a 12km do quadrilátero central de Ribeirão
Preto, e a 37km do centro do município de Batatais, a escolha da área de
intervenção se baseou em aspectos regionais e no número de estabelecimentos

Ribeirão Preto prisionais existentes na região. Trata-se da implantação do Centro de


Requalificação Social na região da cidade de Ribeirão Preto, como forma de
ter na região uma unidade que atenda e ofereça a proposta de um ambiente
mais humanizado.

Na região existem o total de:


03 - CDP - Centro de Detenção Provisória
Imagem 112, 113 e 114 - mapa da área
01 - Centro de Progressão Penitenciária
Fonte:
08/06/2021
Google maps. Acesso 01 - Penitenciaria Feminina
modificado pelo autor 02 - Penitenciaria Masculina
Escolha da área
Imagem 115 - mapa da área
crematório
Fonte: Google maps.
Acesso 08/06/2021
modificado pelo autor

entorno
Área Imagem 116 - crematório
Fonte: Google maps. Acesso

de intervenção 08/06/2021
modificado pelo autor

Próximos à área de intervenção,


as margens do Rio Pardo, encontra-se o
clube de regatas, ranchos particulares,
além do crematório ecológico.

Aproximadamente a 2km de
distancia, sentido Batatais, está
localizado o CPP de Jardinópolis.

rio pardo
Imagem 117 - Rio Pardo
Fonte: Google maps. Acesso
08/06/2021
modificado pelo autor

Imagem 119 - clube de regatas Imagem 118 - rancho Alegria


Fonte: Google maps. Acesso Fonte: Google maps. Acesso
08/06/2021 08/06/2021
modificado pelo autor modificado pelo autor

clube de regatas ranchos


Escolha da área

Ribeirão Preto CPP - Jardinópolis hierarquia viária


Anhanguera Batatais
A área de intervenção
situa-se ao lado da Rodovia
Rodovia C. Portinari Candido Portinari, que além
Rodovia C. Portinari
de dar acesso à Rodovia
Anhanguera, da acesso as
entradas das cidades de
Ribeirão Preto, Brodowski,
Batatais e para estrada que
leva até a cidade de
Jardinópolis.

Área Próximos à área, por


conta dos ranchos e clubes,

de intervenção existem rotatórias e vias


marginais que funcionam
como vias coletoras que
levam até as estradas rurais
dos ranchos próximos.

Imagem 121a- mapa da área


Via Expressa Fonte: Google maps. Acesso
08/06/2021
modificado pelo autor

Via Coletora
Escolha da área
Imagem 122 - telefone Imagem 123 - ponto de Imagem 124 - placa de
SOS ônibus trânsito
Fonte: Google maps. Fonte: Google maps. Fonte: Google maps.
Acesso 08/06/2021 Acesso 08/06/2021 Acesso 08/06/2021

mobiliário
modificado pelo autor modificado pelo autor modificado pelo autor

Por estar próximo de


áreas de bastante fluxo de
veículos e da rodovia, o
entorno é rico em placas de
sinalização. Além disso,
existem 3 pontos de ônibus
nos dois sentidos das
marginais. O que certamente
facilitará o acesso até o
Centro de Requalificação.
Área
SOS - Rodovia
de intervenção
Ponto de ônibus

Placa sinalizadora
Imagem 121b- mapa da área
Fonte: Google maps. Acesso
08/06/2021
modificado pelo autor
Escolha da área
Imagem 125 - mapa da área
Fonte: Google maps. Acesso
08/06/2021
modificado pelo autor

vegetação

Ao redor do leito do Rio


Pardo, existem variadas
espécies vegetativas,
arbóreas, herbáceas e
gramíneas . O mapa ao lado
retrata a realidade do
Área entorno, onde a massa
de intervenção vegetativa é mais densa
próximo ao rio e dos
ranchos. Já no entorno
imediato o maciço de
árvores é mais escasso
devido a presença do
canavial.

Contraste vegetativo forte Represa


Contraste vegetativo fraco Rio Pardo
Escolha da área

caracteristicas físicas
Imagem 128a - mapa da área
Fonte: Google maps. Acesso
08/06/2021
modificado pelo autor

Área 530

de intervenção 540 550 560

50 150 250

Orientação solar
Ventos dominantes
Sentido das águas Pelo fato da área estar próxima ao Rio Pardo, a curvas de níveis indicam que a gleba
se encontra em uma área bem acentuada. O mapa acima mostra o desenho das curvas
topográficas de 10m em 10m. De acordo com o mapa, também é possível perceber
a orientação solar de leste para oeste, direção dos ventos dominantes ao leste e o
escoamento das águas que se dá em direção ao rio.
Escolha da área
Imagem 128b - mapa da área
Fonte: Google maps. Acesso
08/06/2021
modificado pelo autor
caracteristicas físicas

Área
de intervenção
Imagem 129 - pavimentação
Fonte: arquivo pessoal

Orientação solar

Conforme as imagens ao lado, atualmente a gleba de


intervenção está ocupada por plantação de cana de açúcar e
a pavimentação que dá acesso até ela, é apenas para
passagem de veículos canavieiros, ou de proprietários de Imagem 130 - pavimentação
Fonte: arquivo pessoal
ranchos próximos
DIRETRIZES DE
PROJETO

Imagem 131 - arame farpado, liberdade


Fonte: Pinterest. Acesso 08/06/2021
modificado pelo autor
Você não é produto das circunstancias, você é produto das suas decisões. - Viktor Frankl
8 DIRETRIZES PROJETUAIS

8.1. Programa de Necessidades


O programa de necessidades permite uma percepção de como a setorização acontecerá de
acordo com o pré-dimensionamento que se baseia em normas.
Permite ainda, entender os tipos de acessos que cada pessoa pode ter de acordo com as
categorias de acesso, sendo: USO PÚBLICO, USO SEMIPRIVADO, USO PRIVADO
Como destinatário, temos 4 categorias: público (visitantes/voluntários), visitantes
(amigos/família), funcionários (funcionários/agentes) e os internos. O quadro ao lado mostra a
destinação de cada espaço de acordo com seu ambiente, setorização e uma base de pré-
dimensionamento de cada ambiente. USO PÚBLICO

SETOR AMBIENTE DE USO DESTINATARIO QUANTIDADE ÁREA ÚTIL (m²)


PRAÇA público 01 5.000
S SALAS DE VENDAS (LOJAS) público 01 30,00
USO PÚBLICO USO SEMI PRIVADO USO PRIVADO O ESTOQUE funcionários 02 9,25
C ADMINISTRAÇÃO funcionários 01 9,5
I BARBEARIA público 04 16,25
Pode ser acessado por São áreas internas que Destinada exclusivamente A BANHEIRO VISITANTES visitantes 02 9,30
L BANHEIRO FUNCIONÁRIOS funcionários 02 9,30
qualquer pessoa como forma permitem acesso de aos funcionários, aos
BANHEIRO INTERNOS internos 02 9,30
de proporcionar interação visitantes, ou público, internos e a prestadores de
da sociedade com os porém exige credenciamento serviços de assistência ou R
SALA DE RECEPÇÃO público 01 22,50
indivíduos na condição de e autorização de acesso. ambulatorial. E SALA DE ESPERA público 01 15,35
GUARDA VOLUME (INTERNOS) público 02 20,50
infrator. C
E GUARDA VOLUME (VISITANTES) público 02 15,35
Como por exemplo sala de Dentro desta classificação POTARIA público 03 30,25
P
Principalmente nas áreas da visita, sala de visita íntima, existe mais restrição de Ç SALA DE ATENDIMENTO público 02 10,60
praça a frente do sala de atendimento para acesso, de modo que haja à BANHEIRO VISITANTES visitantes 02 9,50
O SALA DE REVISTA público 04 5,25
estabelecimento penal e familiares dos indivíduos na segurança e privacidade dos
ambientes internos como condição de infrator. funcionários e dos próprios
auditório, lojas e barbearia. internos.
USO SEMIPRIVADO (público e semiprivado) continuação semiprivado

SETOR AMBIENTE DE USO DESTINATARIO QUANTIDADE ÁREA ÚTIL (m²) SETOR AMBIENTE DE USO DESTINATARIO QUANTIDADE ÁREA ÚTIL (m²)
A
SALA DE ATENDIMENTO funcionários 03 5,25 SALA DE ESPERA internos 01 10,50
M
A SALA DE REUNIÃO funcionários 03 10,50 B ENFERMARIA internos 02 9,50
D DIREÇÃO funcionários 01 9,50 U CONSULTÓRIO internos 03 9,50
M VICE-DIREÇÃO funcionários 9,50 L SALA DE OBSERVAÇÃO internos 03 9,50
01
I A
GUARDA VOLUME funcionários 02 10,50 ESTOQUE internos 01 9,50
T
N ODONTOLOGIA internos 9,50
CREDENCIAMENTO funcionários 01 5,25 O 03
I
SALA DE ESPERA funcionários 02 10,50 R ARMAZÉM funcionários 01 9,50
S I
VESTIARIO funcionários 02 9,50 BANHEIRO (EQUIPE) funcionários 02 4,25
T A
R SALA DE DESCANSO funcionários 01 9,30 L BANHEIRO (INTERNOS) internos 02 4,25
A REFEITORIO funcionários 02 16,30
T BANHEIRO (MASC) funcionários 01 4,25 V SALA DE ESPERA visitantes 01 20,50
I
I BANHEIRO (FEM) funcionários 01 4,25 S SALA VISITAS público 02 16,30
V DEPÓSITO funcionários 01 4,25 I SALA DE VISITA INTIMA visitantes/internos 03 25,50
O T
DML funcionários 01 3,50 BANHEIRO visitantes 01 9,50
A
COPA funcionários 01 15,50 S DML funcionários 01 3,50
BANHEIRO VISITANTES visitantes 02 9,50 BANHEIRO VISITANTES visitantes 02 9,50
A ATENDIMENTO SOCIAL internos 03 8,60 A REFEITORIO internos 02 160,10
T L
ATENDIMENTO PSICOLÓGICO internos 03 8,60
E I DESPENSA funcionários 01 9,50
N ATENDIMENTO JURÍDICO internos 03 8,60 M
D ATENDIMENTO FAMILIAR visitantes 03 8,60 E
I
COZINHA funcionários 01 45,50
ATENDIMENTO INDIVIDUAL internos 03 8,60 N
M DEFENSORIA PÚBLICA internos 03 8,60 T
E A LAVANDERIA internos 01 35,60
SALA DE AUDIÊNCIA internos 03 8,60
N Ç
SALA DE TERAPIA EM GRUPO internos 02 25,50
T Ã BANHEIROS internos 01 6,50
O O
USO PRIVADO

SETOR AMBIENTE DE USO DESTINATARIO QUANTIDADE ÁREA ÚTIL (m²)


A REFEITORIO internos 02 160,10
L
I DESPENSA funcionários 01 9,50
M
E
COZINHA funcionários 01 45,50
N
T
A LAVANDERIA internos 01 35,60
Ç
à BANHEIROS internos 01 6,50
O

SALA DE AULA internos 03 115,6


C
U MÍDIATÉCA internos 01 28,50
L BIBLIOTECA internos 01 28,50
T SALA DE OFICINAS internos 03 45,60 continuação uso privado
U SALA DE ESTUDOS internos 01 15,60
R SETOR AMBIENTE DE USO DESTINATARIO QUANTIDADE ÁREA ÚTIL (m²)
SALA DOS PROFESSORES funcionários 01 9,50
R V SALA DE COMANDO funcionários 01 5.000
A BANHEIRO (INTERNOS) internos 01 6,50
I GUARITA DE VIGILÂNCIA funcionários 30,00
BANHEIRO funcionários 01 6,50 04
G BANHEIRO (MASC) funcionários 9,25
01
I
BANHEIRO (FEM) funcionários 01 9,5
L
A SALA DE REUNIÃO funcionários 01 16,25
continuação uso privado
N DORMOTÓRIO funcionários 03 9,30
SETOR AMBIENTE DE USO DESTINATARIO QUANTIDADE ÁREA ÚTIL (m²) C COPA funcionários 01 9,30
funcionários 01 I DEPOSITO funcionários 01 9,30
C SALA DE CONTROLE 10,50
A SALA DE DESCANSO funcionários 01 15,70
A SALA DE INSPETOR funcionários 01 9,50
R BANHEIRO funcionários 9,50 SALA DE RECEPÇÃO público 01 22,50
01
C
CELAS COLETIVAS COM WC internos 436 9,50
E
R CELAS COLETIVAS (PNE) COM WC internos 07 9,50
A CELA INDIVIDUAL COM WC internos 50 9,50
G CELAS INDIVIDUAL (PNE) COM WC 4,25
internos 07
E
M VESTIÁRIOS (EXTERNO) internos 03 9,50
BANHO internos 04 4,25

PÁTIOS visitantes 03 300,00


AUDITÓRIO público 01 140.60
L ENTRETENIMENTO visitantes/internos 02 74,50
A JOGOS visitantes 02 74,50
QUADRA DE ESPORTES funcionários 02 128,00
Z
QUADRA DE AREIA visitantes 02 128,00
E ACADEMIA AR LIVRE internos 01 185,60
R HORTA funcionários 01 160,00
MARCENÁRIA visitantes 02 200,00
BANHEIRO visitantes 02 10,50
8.2. Organograma
lazer/entretenimento

pátio carceragem pátio

cultura oficinas
alimentação
saúde adm atendimento
visitas
vigilância recepção barb vigilância
loja earia

Praça
horta refeitório
8.3. Fluxograma
CARCERAGEM pátio
pátio

ambulatório dentista jurídico psicológico psicológico

direção s. espera atendimento s. reunião copa

guarita
s. de comando administração credenciamento descanso
vigilância

revista
s. de espera guarda volume s. de atendimento

A ideia do fluxograma, apresenta sugestivamente


o percurso que pode ser feito por cada pessoa, de
recepção
acordo com sua finalidade. Os traços e a legenda
mostram as limitações de acesso que cada pessoa
tem, dependendo se ela é: funcionário, visitante ou
interno. portaria barb
ol jas earia
LEGENDA
praça internos
funcionários
estacionamento público/visitantes
8.4. Plano de massas

A elaboração do plano de massas, apresenta o


funcionamento geral das áreas da penitenciaria,
destacando as principais atividades ou ambientes
dando foco para as setorizações: PÚBLICA,
SEMIPRIVADA E PRIVADA.

carceragem / recreação

assistência aos internos

administração
ÁREA PRIVADA

administração

assistência à família

visitas
ÁREA SEMI PRIVADA

loja

barbearia
ÁREA PÚBLICA
auditório

praça
8.5. Conceito e Partido
8.5.1. Conceito
Como conceito, adota-se a requalificação. Aqui representada por um
muro composto por blocos. O muro representa a sociedade: grande,
uniforme e rígida. E os blocos representam todos que compõem a sociedade:
seres diferentes, individuais, separados, porém, quando unidos, formam
juntos uma importante função social.

A imagem a seguir, criada especificamente para este trabalho, mostra


uma parede com blocos faltantes e blocos desgastados. Ambos elementos
representados: blocos faltantes e blocos desgastados, representam
exatamente a falta que faz a unidade (bloco) para compor o todo (parede).
Ou seja, a parede não será a mesma sem qualquer um dos blocos. Ela pode
se sustentar, porém, nunca será uma parede completa.

Assim é a sociedade com os indivíduos na condição de infratores. Após cometerem o delito, eles serão
retirados por um tempo do meio social, porém a intenção é, ou deveria ser, que logo fossem reinseridos no Imagem 132 - Muro - conceito
Elaborado pelo autor
meio social, com suas individualidades, porém, sem os atos que possam ser prejudiciais a si mesmo ou aos Representação gráfica por Vitória Souza
demais componentes do meio social.
Esta simbologia, revela o quanto todos os seres humanos são importantes na composição de uma sociedade, cada um com sua singularidade ou peculiaridade.
Sendo assim, cabe ao estabelecimento penitenciário proporcionar a ressocialização durante o período penal. Cabe ao indivíduo na condição de infrator, cumprir sua pena e buscar a sua
requalificação, e a sociedade de entender que o Centro de Requalificação Social é um equipamento social, e proporcionar ao indivíduo o devido acolhimento, após o cumprimento da pena,
respeitando-o agora como um membro que retorna.

“Gostaria de uma sociedade mais justa, menos corrupta, com menos hipocrisia, mais digna,
com mais amor ao próximo, menos preconceito, menos rancor e principalmente mais paz na

8.5.2. Partido alma. ” (ALBERT EISNTEIN)

O partido acontecerá a partir de blocos explodidos e separados, porém unidos por


algum elemento ou finalidade. Isso remeterá ao conceito, ao fato da individualidade de
cada ser humano (bloco), porém, quando olhado como um todo, enxergado como sociedade
(parede). Desta forma, teremos a composição de blocos independentes, que quando
somados formam a composição final de um edifício social. O Centro de Requalificação
Social.

Imagem 133 - mãos, apoio


Fonte: Pinterest
Acesso: 15/05/2021
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS

Imagem 09 - Libertar-se da condição


Fonte: Pinterest. Acesso 08/06/2021
modificado pelo autor
9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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BRASIL. LEI Nº 7.210, DE 11 DE JULHO DE 1984. Institui a Lei de Execução Penal. Brasília, 11 de julho de 1984; 163º da JORGE, Wilson Edson. Projetos Prisionais no estado de São Paulo. Revista do Programa de Pós-Graduação da Faculdade
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ANEXO
Uma entrevista foi realizada com dois voluntários da APAC de Santa Luzia (MG). Na entrevista
foi expressada a experiência dos entrevistados, com a estabelecimento em questão. Através de Aldair Alves: Qual sensação você descreveria sentir, caso estivesse recluso (a) neste estabelecimento?
Nathan: Com certeza ficaria muito chateado de ter que passar por esse processo. Mas entre passar em um sistema
perguntas e respostas objetivas.
prisional comum ou passar na Apac, prefiro mil vezes o Apac. A taxa de readaptação a sociedade é de quase 85%
nesse caso, enquanto no sistema normal é de 15% se não me engano.
Aldair Alves: Qual o nome e a cidade do estabelecimento que frequenta? Keyla: Sentimento de uma nova oportunidade! Descreveria com a frase: "Aproveite e agarre a segunda chance que a
Nathan: Cidade Santa luzia/MG vida te da. "
Keyla: Cidade Santa luzia Aldair Alves: Acha que as condições atuais do lugar, são capazes de propor a ressocialização? Que ao sair, tendo
Aldair Alves: Qual o tipo de trabalho realiza neste estabelecimento? passado por um ambiente como este, o indivíduo terá alcançado um grau se socializar?
Nathan: Em períodos agendados, dou aula de música, tanto a parte da teoria, quanto a parte prática. Nathan: Com certeza. Os dados mostram isso claramente. O processo é totalmente voltado para a ressocialização e
Keyla: Geralmente em datas comemorativas fazemos visitas, com período de louvor e palavra cristã. conseguem atingir os objetivos propostos.
Aldair Alves: Ao entrar no estabelecimento, qual sensação que o ambiente lhe causa? Keyla: Com toda certeza! Tendo a oportunidade de saber o motivo de estar ali, a qual é relatado pelos próprios
Nathan: É uma sensação estranha devido a ser um tipo de confinamento e distância social. Mas vejo como um recuperando, é nítido a mudança já existente em muitos recuperandos.
ambiente necessário para a melhoria dos que estão envolvidos ali. Aldair Alves: Olhando como um familiar, sentiria que seu ente está em um lugar onde existe respeito e dignidade com
Keyla: Ao mesmo tempo que senti uma agonia por saber que as pessoas ficam naquele local por anos todos os dias o ser humano?
sem ter como ir e vir, também tenho um sentimento de uma correção necessária que trará bons frutos futuros. É um Nathan: Sim. Até porque os familiares possuem uma liberdade maior para acompanharem o processo de perto e verem
lugar de recomeços. os resultados.
Aldair Alves: Qual a impressão que os penitentes causam? Keyla: Sim, sem dúvidas!
Nathan: Diferentes do que vemos em presídios comuns, eles transmitem uma impressão diferente. Mesmo ficando um Aldair Alves: Que sugestões você levaria para ajudar a propor a requalificação social?
pouco receoso, depois de um tempo me senti mais confortável e menos tenso. São bastante educados. Nathan: A criação de mais espaços iguais a esse em pontos estratégicos. Maior participação de profissionais
Keyla: Eles são extremamente éticos e educados. voluntários de diversas áreas. Maiores contribuições e investimento financeiro por parte de empresas e do governo,
Aldair Alves: Os ambientes, possuem condições dignas para habitação? (moradia, alimentação, lazer) para adquirir mais equipamentos, como computador, já que saber sobre tecnologias atuais é muito importante.
Nathan: Sim. Possui diversos quartos, áreas de alimentação e áreas esportivas para recreação. E são os próprios Keyla: Começaria trabalhando a mente da sociedade, mostrando que devemos apostar e acreditar na recuperação de
presos que cuidam do recinto. um ser humano por pior que seja seu passado.
Keyla: Sim, e tudo é cuidado pelos próprios recuperandos. Aldair Alves: Parabenizo e Agradeço imensamente ao Nathan e a Keyla, por aceitarem contribuir com minha pesquisa
Aldair Alves: Os ambientes possuem o mínimo conforto no tocante a salubridade, ventilação, iluminação? e compartilharem a experiência de vocês como voluntários no método APAC. Agradeço também ao meu amigo Gabriel,
Nathan: Sim. São adequados e bem confortáveis. Bem diferente do que vemos em presídios comuns. que intermediou e tornou possível esta entrevista.
Keyla: Sim, tudo muito bem organizado.

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