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EXMO. SR. DR.

JUIZ DO _º JUIZADO ESPECIAL CÍVEL E DAS RELAÇÕES DE


CONSUMO DE xxxxxxxxxxxxxx

Processo nº. _

____________, já qualificada nos autos da ação em epígrafe, ajuizada por ___________, vem,
respeitosamente, perante Vossa Excelência, tomando conhecimento da respeitável sentença proferida,
opor EMBARGOS DE DECLARAÇÃO nos termos dos artigos 1.022 e seguintes do NCPC, pelas
razões a seguir expostas:

1. DA TEMPESTIVIDADE

Os presentes embargos de declaração se fazem tempestivos, uma vez que a demandante foi
intimada da r. Sentença em xxxxxxxx, conforme se faz prova em análise aos autos.

3. DA OMISSÃO E RAZÕES PARA REFORMA

Como é cediço em Direito, para alcançar o fim a que se destina, é necessário que a tutela
jurisdicional seja prestada de forma clara e completa, sem obscuridade, omissão ou contradição.

No caso dos autos, entende a embargante, permissa venia, que deixou na decisão proferida de
observar o MM. Juiz, expressamente, pontos importantes de ordem pública levantados na contestação,
porém, que poderiam ser observados de ofício. Senão vejamos:

PRELIMINARMENTE

DA ILEGITIMIDADE PASSIVA “AD CAUSAM”

Em sede preliminar, cumpre ressaltar a absoluta ilegitimidade passiva da LOCADORA DE


VEÍCULOS para responder pelos danos causados.

Como cediço, todos os alegados danos suportados pelo autor em nada se relacionam com a
empresa demandada.
Veja que a demandada verificou que o condutor possuía todas as condições legais e contratuais
necessárias para a condução de automotores. Por isso, mesmo apto a trafegar, eventual falta de zelo
cometida pelo condutor, como faz crer o demandante, é prevista como causa resolutiva do contrato.

Assim, considerar a LOCADORA como responsável pelos prejuízos irrompe com nosso
ordenamento jurídico, visto que não há qualquer relação causal entre os fatos e a Empresa locadora.

Dessa forma, não é demais preconizar que o Código Civil estabelece que somente pode
ressarcir o prejuízo aquele quem, exclusivamente, lhe deu a causa, na leitura de seu Artigo 927, como se
observa:

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 1861 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a
repará-lo.

Dessa forma, na remota hipótese de restar comprovado de que o condutor do veículo da


LOCADORA é o único responsável pela conduta culposa que ensejou a pretensão da Requerente, não
deve prosperar a tese arguida pela parte autora de que a LOCADORA responde igualmente pelo fato, os
quais ocorreram sem que nem mesmo tivesse chance de evitá-lo, pois alheios à sua vontade.

E o que se alega não é determinação isolada em nosso Diploma Civil, considerando que é esse
o entendimento pacífico de nossa legislação, que ecoa na Lei máxima de trânsito, qual seja, o Código de
Trânsito Brasileiro, que preconiza em seu Artigo 257, § 3º, a responsabilidade pelos danos causados na
direção do veículo somente ao condutor, em que se depreende:

Art. 257. As penalidades serão impostas ao condutor, ao proprietário do veículo, ao


embarcador e ao transportador, salvo os casos de descumprimento de obrigações e deveres impostos a
pessoas físicas ou jurídicas expressamente mencionados neste Código.

(...) § 3º Ao condutor caberá a responsabilidade pelas infrações decorrentes de atos praticados


na direção do veículo.

Nem se alegue suposta e remota responsabilidade solidária, visto que a solidariedade não se
presume, e somente pode decorrer de Lei. A regra, de acordo com o Art. 186 é que “Aquele que, por ação
ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.” Verifica-se, portanto, que, com nosso ordenamento hodierno, é
que a responsabilidade solidária somente pode ocorrer quando há determinação imposta por norma
legislativo formal, consoante ao disposto no Artigo 2652, do Código Civil.

Sob o tema, aduzem Nelson Nery Júnior e Rosa Maria de Andrade Nery:

“Reconhecimento da solidariedade. Como decorrência de um principio de direito comum, a


solidariedade não se presume, devendo resultar inequivocamente do ato que a origina ou da lei que a
prescreve (RF67/532). A solidariedade não se presume. Não pode ser reconhecida sem determinação da
lei ou sem manifestação expressa da vontade das partes (RF97/120). Solidariedade não se presume. Se há
mera conjunção de credores, o crédito divide-se, salvo convenção entre partes iguais, pelos devedores ou
credores (STF-RF 11/69) não pode ser reconhecida sem determinação da lei ou sem manifestação
expressa da vontade das partes (RF 97/120) 3.”

Cumpre ressaltar ainda que o contrato de locação de veículo celebrado entre as partes, por si
só, não induz a qualquer das hipóteses de solidariedade previstas pelo Código Civil:

Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil:

I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia

II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condiçõe

III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do


trabalho que lhes competir, ou em razão dele

IV - os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro,


mesmo para fins de educação, pelos seus hóspedes, moradores e educando

V - os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a concorrente


quantia.

Art. 942. (...)

Parágrafo único. São solidariamente responsáveis com os autores os co-autores e as pessoas


designadas no art. 932.
Posto isto, resta claro que inexiste solidariedade entre a locadora de veículos e o causador do
acidente, por ausência de disposição legal neste sentido. (Art. 265. A solidariedade não se presume;
resulta da lei ou da vontade das partes. In: Código Civil Comentado, 2006, 4ª Edição, Editora RT, São
Paulo, pag. 347.)

Deste modo, entender que a demandada responde pelos danos ocasionados ao demandante é
atropelar o Princípio da Legalidade, preconizado no Artigo 5º, inciso II4, da Constituição Federal, pois
até o presente momento não há qualquer amparo legal para a pretendida condenação que ora se combate.

Diante de tais fatos, verifica-se que não é parte legítima para figurar como requerida a empresa
LOCADORA, em relação ao pedido de restituição por dano decorrente do acidente de trânsito em
comento, não restando outra alternativa senão a EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM RESOLUÇÃO
MERITÓRIA, tendo em vista a impossibilidade de chamamento ao processo em sede de Juizado.

DA INCOMPETÊNCIA DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL PARA JULGAMENTO DA


CAUSA – NECESSIDADE DE REALIZAÇÃO DE PERÍCIA TÉCNICA

Antes de adentrarmos no mérito, cumpre elucidar que a presente demanda não deve ser julgada
perante os Juizados Especiais Cíveis, por demandar prova pericial especializada.
Ainda, a referida Lei fixou os princípios informativos dos Juizados Especiais, no seu art. 2o,
onde estabelece que “o processo orientar-se-á pelos critérios da oralidade, simplicidade, informalidade,
economia processual e celeridade, buscando sempre que possível, a conciliação ou a transação”.

Ao que se observa o legislador infraconstitucional buscou criar um sistema onde a celeridade e


a simplicidade deve nortear a atividade jurisdicional, daí estabelecer, no art. 3o da Lei de Regência, que o
Juizado Especial Cível tem competência para conciliação, processo e julgamento das causas cíveis de
menor complexidade, significando que naquelas causas em que há necessidade de perícia complexa para
o desate da questão, estaria subtraída a sua competência.

In casu, o autor alega em sua peça vestibular que sofreu danos materiais ocasionados por uma
colisão entre o seu veículo e um veículo de propriedade da LOCADORA DE VEÍCULOS.

Verifica-se que há a necessidade de perícia para que reste comprovada a causa do acidente, e,
por conseguinte a responsabilidade da ré, sendo demonstradas as razões para surgimento do suposto ato
ilegal/ilícito.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

(...)

II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei.

Assim, se torna imprescindível a realização da perícia técnica, sob pena de, inclusive, se
desrespeitar o princípio do contraditório e da ampla defesa.

A Constituição Federal, em seu art. 98, determina que a competência dos Juizados Especiais se
restrinja às causas cíveis de menor complexidade. Ressalte-se que a expressão “causa de menor
complexidade” deve der entendida como aquela que exige mínima dilação do conjunto probatório,
independentemente da complexidade jurídica, especialmente quanto à prova técnica.

Tendo em vista que a apuração de tais fatores depende de perícia, os Juizados Especiais não
são competentes para a apreciação da demanda em referência.

Nesse diapasão, o Enunciado nº 54 do Fórum Permanente de Juízes Coordenadores dos


Juizados Especiais Cíveis e Criminais do Brasil (XV Encontro Nacional – Florianópolis – Santa Catarina)
assim determina:

“Enunciado nº 54. A menor complexidade da causa para a fixação da competência é aferida


pelo OBJETO DA PROVA e não em face do direito material.”

Diante do exposto, restando controversa as causas do acidente, bem como eventuais atos
adotados pela ré que viessem a contribuir com as causas do mesmo mostra-se indeclinável a realização da
prova pericial, que por envolver matéria complexa afasta a competência dos Juizados Especiais Cíveis,
razão pela qual, deve ser extinto o presente feito sem resolução do mérito, com fulcro nos artigos 3o e 51,
inciso II da Lei dos Juizados Especiais.

Dessa forma, resta clara a omissão da r. Sentença embargada.

Portanto, a omissão justificadora da interposição dos Embargos de Declaração caracteriza-se


pela falta de manifestação a respeito de fundamentos de fato e de direito ventilados na peça vestibular,
bem como na audiência, sobre os quais o juiz deveria se manifestar.

Logo, restando absolutamente evidenciado que, se tivesse se atentado para as peculiaridades do


caso, certamente, teria a r. Sentença embargada chegado a veredicto diverso, posto que perceptíveis a
ilegitimidade passiva e a incompetência do Juizado.

Assim, a interposição dos presentes Embargos de Declaração justifica-se pela TOTAL


OMISSÃO da r. Sentença quanto aos fundamentos constantes nos autos, configurando, tal situação,
motivo de nova entrega da prestação jurisdicional, na medida em que retira da embargante o direito de ver
seus argumentos examinados pelo Estado.

4. CONCLUSÃO

ISTO POSTO, requer a embargante sejam os presentes embargos recebidos em seus efeitos
suspensivos e modificativos/infringente, bem como, desde logo, seja corrigida/reformada a r. Sentença,
com o fim de sanar a omissão apontada e, por consequência, julgar extinto o processo sem resolução do
mérito.

Requer, por fim, desde já, a gratuidade da justiça, por ser pobre na forma da lei, à luz da Lei
1060/50 e não ter condições de arcar com custas processuais sem prejudicar sua manutenção.

Nestes termos,

Pede e espera deferimento.

Local, data.

NOME DO ADVOGADO

OAB Nº XXXXXXX

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