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JUÍZO DE DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE TUCURUÍ – PA

PROCESSO Nº 0800687-90.2020.8.14.0061

EDITORA E DISTRIBUIDORA EDUCACIONAL S/A., devidamente qualificada nos autos da Açã o


que neste juízo lhe move LEANDRA DA SILVA E SILVA, por seus advogados, em atençã o à
sentença publicada, com fulcro no art. 48 da Lei nº 9.099/95 c/c art. 1.022, I do Có digo de
Processo Civil, opõ e EMBARGOS DE DECLARAÇÃO, vez que o mesmo contém contradiçã o e
omissã o, conforme se demostrará a seguir:

DA TEMPESTIVIDADE

1. A publicaçã o da r. sentença ocorreu no dia 04.11.2022. Assim, o prazo de 5 (cinco)


dias se iniciou em 07.11.2022, nã o pairando dú vidas quanto à sua tempestividade até o dia
11.11.2022.

DA DECISÃO EMBARGADA
DA CONTRADIÇÃO QUANTO À AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DA MÁ-FÉ
DA REGULARIDADE DE PROCEDIMENTOS ADOTADOS PARA EXTINÇÃO DE CURSO

2. Primeiramente, cabe frisar que o r. sentença julgou parcialmente procedentes os


pedidos autorais condenando a Embargante nos seguintes termos:

“Diante do exposto e tudo mais que dos autos consta, com fundamento no
artigo 487, inciso I do CPC:
1) Nos autos 0800687-90.2020.8.14.0061, JULGO PROCEDENTE EM PARTE a
açã o com fim de:
1.a) CONDENAR a requerida, a título de dano moral, a pagar a parte autora o
valor de R$ 2.000,00 (dois mil reais), a ser corrigido monetariamente, pelo
INPC, a partir da presente data (Sú mula 362 do STJ), e acrescidos de juros de
mora de 1% ao mês a partir da citaçã o.
2) Nos autos 0800722-50.2020.8.14.0061, JULGO PROCEDENTE a açã o com fim
de:
2.a) DECLARAR a inexistência do débito relativo à negativaçã o informada nos
autos pela parte autora, dos débitos constantes no extrato do SERASA juntado

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aos autos, confirmando, assim, a tutela antecipada concedida, determinando
que a ré exclua, no prazo má ximo de 5 (cinco) dias a contar de sua intimaçã o, o
nome da autora do cadastro de ó rgã os de proteçã o ao crédito.
2.b) CONDENAR a requerida, a título de dano moral, a pagar a parte autora o
valor de R$ 2.000,00 (dois mil reais), a ser corrigido monetariamente, pelo
INPC, a partir da presente data (Sú mula 362 do STJ), e acrescidos de juros de
mora de 1% ao mês a partir da citaçã o. ” (Grifamos)

3. Os presentes embargos de declaraçã o sã o cabíveis ao caso em tela, conforme versa


o art. 1.022 do Có digo de Processo Civil, in verbis:

"Art. 1.022. Cabem embargos de declaraçã o contra qualquer decisã o judicial


para: I - esclarecer obscuridade ou eliminar contradição;”

4. Nesse sentido, insta salientar que a sentença mantida guarda flagrante contradiçã o
decisó ria, visto que o juízo determina indenizaçã o por danos morais, quando ela só é
cabível quando efetivamente comprovada a má -fé, o que nã o ocorreu no presente caso.

5. Pois bem, da leitura da sentença verifica-se a contradição, posto que a


Embargante foi condenada ao pagamento dos danos morais, quando somente é cabível
quando efetivamente comprovada a má -fé, segundo entendimento do STJ.

6. Para ter o direito à reparaçã o por danos morais, os elementos que constituem o
direito à indenizaçã o do aludido dano devem ser comprovados. No caso em tela, a má-fé
por parte da Embargante nã o foi comprovado, vez que a IES adotou todos os
procedimentos para a extinçã o do curso, bem como as negativaçõ es e débitos foram
baixados.

7. Outrossim, cabe tecer que a Embargante apresentou todas as opçõ es direcionadas


pela companhia para que os alunos nã o tivessem seus estudos desapartados, como: apoio
para transferência (com bolsas especiais) para o polo parceiro, apoio para transferência
interna em uma das nossas unidades, presencial em outras cidades, entrega da
documentaçã o acadêmica para os alunos que realizassem transferência externa.

8. Isto posto, nã o restam dú vidas de que foram apresentadas alternativas em razã o


do fechamento do curso, através de comunicado de transferência externa ou transferência
interna para outro curso ou modalidade, de modo que ainda que há outras possibilidades
de se completar o curso pretendido.

9. O juízo monocrá tico considerou que houve ocorrência de dano capaz de atingir a
moral da parte Embargada. Entretanto, com o devido respeito, o juízo sentenciante nã o
agiu com o seu costumeiro acerto, na medida em que nã o houve ato ilícito praticado pela
Embargante capaz de atingir a honra e a dignidade da parte recorrida.

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10. Como foi dito, a má-fé por parte da Embargante nã o foi comprovado, motivo pelo
qual nã o deveria ser condenada ao pagamento por danos morais, uma vez que realizou
baixa das negativaçõ es e débitos da Embargada.

11. Além do mais, nã o há dú vidas de que a Recorrente, cumpriu os deveres de


informaçã o, objetividade e clareza imiscuídos nos artigos 4º, caput, III, 6º, II, III, e 46 do
CDC, nã o havendo vício ou defeito do serviço que a ela possa ser imputado.

12. Primeiramente, frisa-se que a Recorrente é uma instituiçã o de ensino superior


privado credenciada junto ao MEC e que age de acordo com as suas portarias e decretos,
conforme previsto no art. 9º do Decreto nº 5.773, de 9 de maio de 2006.

“Art. 9º - A educaçã o superior é livre à iniciativa privada, observadas as normas


gerais da educaçã o nacional e mediante autorizaçã o e avaliaçã o de qualidade
pelo Poder Pú blico.”

13. Forçoso esclarecer que o encerramento de um curso se trata de um exercício


regular da autonomia da Recorrente na forma do art. 53 da Lei de Diretrizes e Bases da
Educaçã o Nacional (Lei nº 9.394/1996) 1, a qual se encontra em perfeita consonâ ncia com
nossa Constituiçã o (art. 207).

14. Cabe destacar que, ao contrá rio do que se alega o Recorrido, o ensino é atividade
exercida por direito pró prio das instituiçõ es. Consequentemente, nã o se trata de serviço
pú blico delegado, em que o particular apenas atuará na medida em que o Estado permitir,
com restrita margem de liberdade empresarial. Nesse sentido, posiciona-se o Supremo
Tribunal Federal:

"(...) 2. Os setores de saú de (CF, art. 199, caput), educaçã o (CF, art. 209, caput),
cultura (CF, art. 215), desporto e lazer (CF, art. 217), ciência e tecnologia (CF,
art. 218) e meio ambiente (CF, art. 225) configuram serviços pú blicos sociais,
em relaçã o aos quais a Constituiçã o, ao mencionar que "sã o deveres do Estado e
da Sociedade" e que sã o "livres à iniciativa privada", permite a atuaçã o, por
direito pró prio, dos particulares, sem que para tanto seja necessá ria a
delegaçã o pelo poder pú blico, de forma que nã o incide, in casu, o art. 175,
caput, da Constituiçã o. (...)". (Grifou-se) (STF, Tribunal Pleno, ADI 1923, rel.
Min. Ayres Britto, rel. p/ Acó rdã o: Min. Luiz Fux, DJe 16.12.2015)

15. Como apontado pelo STF, o setor de ensino privado nã o se sujeita à incidência do
art. 175 da Constituiçã o Federal, de modo que nã o é serviço pú blico delegado e exercido
nos estreitos limites dessa delegaçã o. É , na verdade, uma atividade privada que, embora
classificada como "serviço pú blico social" em funçã o de sofrer maior ingerência estatal do
que aquelas sujeitas apenas à livre iniciativa, como regra se orienta por esse princípio
(arts. 170 e 209, caput, CF), ainda que constrita na forma da lei (art. 174 e art. 209, I e II,
CF).

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16. A esse respeito, vale frisar que, por ocasiã o do julgamento da ADI 3.330/DF, que
discutiu a constitucionalidade do Programa Universidade Para Todos ("Prouni"), o STF
assentou que a atividade privada de ensino é livre e nasce "condicionada pelo
interesse coletivo", o que se materializa pela autorizaçã o pú blica prévia a seu exercício e,
assim, a retira do contexto dos serviços pú blicos delegados.

17. Essa diferença é relevante porque a regra do setor, então, é a liberdade de


atuação. Segundo a definiçã o de livre iniciativa oferecida por Miguel Reale, tratase da:

"[p]rojeção da liberdade individual no plano da produção, circulaçã o e


distribuiçã o das riquezas, assegurando não apenas a livre escolha das
profissões e das atividades econômicas, mas também a autô noma eleiçã o
dos processos ou meios julgados mais adequados à consecuçã o dos fins visados.
Liberdade de fins e de meios informa o princípio da livre iniciativa"
(grifamos)

18. Tal definiçã o é importante porque revela que, segundo a CF, é de escolha dos
indivíduos ou das pessoas jurídicas que exercem empresa, como é o caso do ensino, definir
a maneira pela qual entendem mais adequado levar sua atividade produtiva ao mercado.

19. Assim, normas que limitem tal liberdade de iniciativa hã o de ser interpretadas de
forma restritiva, pois contrariam a regra. Vale notar que essa conclusã o está em linha com
a Lei 13.874/2019 ("Lei da Liberdade Econô mica") que, na condiçã o de norma geral de
direito econô mico, estabelece como princípio a "intervençã o subsidiá ria e excepcional do
Estado sobre o exercício de atividades econô micas" (art. 2º, inciso III)3.

20. Se essa conclusã o é verdadeira para quaisquer atividades econô micas de uma
forma geral, com mais fundamento ainda deve ser aplicada ao setor de ensino. Isso porque
o art. 207 da CF conferiu à s instituiçõ es de ensino, em especial à s universidades,
prerrogativas de autonomia didá tico-científica (pedagó gica), administrativa e de gestã o
(funcional).

21. Ou seja: não há apenas liberdade de iniciativa, assim entendida como aquela de
ingressar e permanecer no mercado ou dele se retirar4; mas, também, assegura-se a
prerrogativa de definir quais cursos ofertar e durante quanto tempo. Por isso, há ampla
margem para criar e retirar do mercado diferentes serviços que possam ser
oferecidos aos alunos, como consequência dos princípios constitucionais da
liberdade de aprender e ensinar (art. 206, inc. II, da CF).

22. Isso nã o significa a ausência restriçõ es pú blicas ou mesmo uma negativa do poder
normativo do Estado e seu papel de regulador da atividade. Tais limitaçõ es existem, mas
se devem decorrer daquelas indicadas no art. 209 da CF, aprimoradas pelo art. 7º da
LDB5:

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Art. 7º O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas as seguintes condiçõ es:

I - cumprimento das normas gerais da educaçã o nacional e do respectivo


sistema de ensino;
II - autorizaçã o de funcionamento e avaliaçã o de qualidade pelo Poder Pú blico;
III - capacidade de autofinanciamento, ressalvado o previsto no art. 213 da
Constituiçã o Federal"

23. Nota-se, assim, que a atividade nasce condicionada à necessidade de observar


as próprias regras gerais do setor e do sistema de ensino, a manter o atendimento a
critérios qualitativos e de sustentabilidade econô mica e, na forma do art. 174 da CF,
também à s demais limitaçõ es de oferta que possam ser impostas pela lei e pelo regulador
da atividade - papel esse que cabe ao MEC no âmbito do ensino superior, na forma do art.
6º da Lei nº 4.024/1961.

24. Observada essa moldura, nota-se que a LDB prevê regras específicas para a
situaçã o em apreço. Ao elencar algumas das prerrogativas de autonomia, o art. 53, I, da
LDB é claro ao assegurar as seguintes atribuiçõ es à s IES: "criar, organizar e extinguir,
em sua sede, cursos e programas de educação superior previstos nesta Lei,
obedecendo à s normas gerais da Uniã o e, quando for o caso, do respectivo sistema de
ensino".

25. É importante destacar que o art. 53 da LDB trata expressamente de


"universidades", razã o pela qual se poderia argumentar que as prerrogativas de
autonomia ali indicadas nã o seriam extensíveis à s demais IES. Contudo, o pró prio Decreto
9.235/2017 reconhece que também os centros universitá rios têm praticamente todas as
prerrogativas de autonomia direcionadas à s universidades, além do que as faculdades
detêm atribuiçõ es de decidir sobre criaçã o ou extinçã o de seus cursos, embora dependam
de ato da SERES para as tornar efetivas.

26. Por isso, parece ser mais razoá vel considerar que autonomia é uma prerrogativa
de qualquer instituiçã o de ensino, que poderá ser exercida em diferentes graus, conforme
"as normas gerais da Uniã o e, quando for o caso, do respectivo sistema de ensino" (art. 53,
I, LDB).

27. Extinguir cursos é uma decorrência da liberdade de iniciativa, que consiste em


uma prerrogativa das IES, podendo ser executada por ato pró prio do mantenedor de IES
com autonomia, de acordo com o art. 53, I, da LDB. Esse entendimento é, inclusive,
amparado pelo Superior Tribunal de Justiça (“STJ”):

“RECURSO ESPECIAL - AÇÃ O ANULATÓ RIA DE CLÁ USULA CONTRATUAL C/C


INDENIZAÇÃ O POR DANOS MORAIS E MATERIAIS - NÃ O FORMAÇÃ O DE
NOVAS TURMAS DE CURSO SUPERIOR (EXTINÇÃ O DE CURSO UNIVERSITÁ RIO)
(...) AUTONOMIA UNIVERSITÁ RIA (ART. 207 DA CF/88) - POSSIBILIDADE DE
EXTINÇÃ O DE CURSO SUPERIOR, NOS TERMOS DO ARTIGO 53, INCISO I, DA

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LEI N. 9.394/96 - RECURSO ESPECIAL PROVIDO, A FIM DE JULGAR
IMPROCEDENTE O PEDIDO CONDENATÓ RIO. INSURGÊ NCIA DA INSTITUIÇÃ O
EDUCACIONAL. (...) 3. A instituiçã o educacional privada de ensino superior
goza de autonomia universitá ria, nos termos do art. 207 da Constituiçã o
Federal, motivo pelo qual possível, ante a inviabilidade de determinado curso,
proceder à sua extinçã o, conforme preceito constante do art. 53, I, da Lei nº
9.394/1996 - Lei de Diretrizes e Bases da Educaçã o Nacional. (...)” (Grifou-se)
(REsp 1094769/SP, Rel. Min. Marco Buzzi, 4ª Turma, DJe 15.08.2014)

28. Conforme chancelado pelo Superior Tribunal de Justiça em jurisprudência pacífica


a instituiçã o educacional possui autonomia para criaçã o e extinçã o de curso, aumento ou
diminuiçã o de vagas, por exemplo. Podendo a qualquer momento fazer as modificaçõ es
que entender necessá rias em um curso:

“3. A instituiçã o educacional privada de ensino superior goza de autonomia


universitá ria, nos termos do art. 207 da Constituiçã o Federal, motivo pelo qual
possível, ante a inviabilidade de determinado curso, proceder à sua extinçã o,
conforme preceito constante do art. 53, I, da Lei nº 9.394/1996 - Lei de
Diretrizes e Bases da Educaçã o Nacional. (...)5. No caso, nã o se verifica o
alegado defeito na prestaçã o de serviços, haja vista que a extinçã o de cursos é
procedimento legalmente previsto e admitido, nã o sendo dado atribuir-se a
responsabilizaçã o à universidade por evento sobre o qual nã o há qualquer
participaçã o ou influência da desta (ausência de alunos e nã o obtençã o, pela
aluna, de aprovaçã o), mormente quando cumpre todos os deveres ínsitos à boa-
fé objetiva. Na relaçã o jurídica estabelecida com seu corpo discente, consoante
atestado pelas instâncias ordiná rias, a instituiçã o de ensino forneceu adequada
informaçã o e, no momento em que verificada a impossibilidade de manutençã o
do curso superior, ofereceu alternativas à aluna, providenciando e viabilizando,
conforme solicitado por esta, a transferência para outra faculdade. 6. Recurso
especial provido para julgar improcedente os pedidos da inicial. (...)Ressalte-se,
ainda, nã o ter a Corte local considerado abusiva a clá usula 4ª, § 1º, contida no
contrato de prestaçã o de serviços educacionais, que dá poderes à instituiçã o de
ensino para cancelar, de forma unilateral, curso de graduaçã o por ela
administrado, tendo tã o somente declarado que a interpretaçã o à clá usula
deveria ser realizada de forma limitada, sempre no interesse da
aluna/contratante, por tratar-se de contrato de adesã o. (...) A hipossuficiência
do consumidor, na hipó tese dos autos, nã o tem o condã o de legitimar prejuízo
ao fornecedor (onerosidade excessiva da ré), mormente quando nã o verificado
o defeito na prestaçã o do serviço pelo qual se obrigou, porquanto é certo,
enquanto presente a viabilidade econô mico-pedagó gica da manutençã o do
curso de graduaçã o (lucro e alunos em quorum mínimo), foi ele preservado, o
que é corroborado, inclusive, por ter a autora cursado o quarto ano de
engenharia química, ressalte-se, sem aprovaçã o, e ainda, de ter a universidade
mantido o curso de engenharia química até a formatura da primeira turma. (...)
Deste modo, é inviá vel, nesta hipó tese, imputar à instituiçã o educacional a
responsabilidade por todas e quaisquer prá ticas que afetem a relaçã o
contratual estabelecida entre as partes, mormente quando viabilizado pelo

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fornecedor alternativas para soluçã o do problema, ante a clá usula resolutó ria
do contrato, diga-se, decorrente de inexecuçã o nã o voluntá ria.” 15 STJ, REsp
1.094.769-SP, Quarta Turma, Rel. Min. Marco Buzzi, DJe 15/08/2014

29. Com efeito, alguns julgados:

RECURSO ESPECIAL. DANO MORAL. ENSINO SUPERIOR. PRESTAÇÃ O DE


SERVIÇOS POR INSTITUIÇÃ O PRIVADA. CÓ DIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR
- CDC. EXTINÇÃ O ANTECIPADA DE CURSO. AUTONOMIA UNIVERSITÁ RIA.
CONDUTA DESLEAL OU ABUSIVA. AUSÊ NCIA. 1. O contrato de prestaçã o de
serviços educacionais está sujeito à s disposiçõ es contidas no Có digo de Defesa
do Consumidor - CDC. O estudante é um consumidor de serviços educacionais.
A universidade, por sua vez, deve prestar seus serviços na forma contratada,
oferecendo salas de aula, professores e conteú do didá tico- científico adequados
ao bom desenvolvimento do curso universitá rio. 2. A extinçã o antecipada de
curso superior, ainda que por razõ es de ordem econô mica, encontra amparo no
art. 207 da Constituiçã o Federal e na Lei nº 9.394/1996, que asseguram
autonomia universitá ria de ordem administrativa e financeira, motivo pelo qual
a indenizaçã o por dano moral será cabível tã o somente se configurada a
existência de alguma conduta desleal ou abusiva da instituiçã o de ensino. 3. Na
hipó tese, segundo as instâ ncias ordiná rias, a universidade teria comunicado
previamente a extinçã o do curso, oferecido restituiçã o integral dos valores
pagos e oportunidade de transferência, o que demonstra transparência e boa-
fé, nã o caracterizando, por conseguinte, nenhum ato abusivo a ensejar
indenizaçã o por danos morais. 4. Recurso especial nã o provido. (REsp
1155866/RS, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔ AS CUEVA, TERCEIRA TURMA,
julgado em 10/02/2015, DJe 18/02/2015)
RECURSO ESPECIAL - AÇÃ O ANULATÓ RIA DE CLÁ USULA CONTRATUAL C/C
INDENIZAÇÃ O POR DANOS MORAIS E MATERIAIS - NÃ O FORMAÇÃ O DE
NOVAS TURMAS DE CURSO SUPERIOR (EXTINÇÃ O DE CURSO UNIVERSITÁ RIO)
- TRANSFERÊ NCIA DE ALUNA PARA OUTRA INSTITUIÇÃ O DE ENSINO -
RESPONSABILIDADE CIVIL DA UNIVERSIDADE RECONHECIDA PELAS
INSTÂ NCIAS ORDINÁ RIAS, AO ENTENDEREM CONFIGURADOS E
COMPROVADOS OS DANOS ALEGADOS, NÃ O OBSTANTE O AFASTAMENTO DA
ARGUIDA ABUSIVIDADE DA CLÁ USULA CONTRATUAL QUE FACULTA À
UNIVERSIDADE A EXTINÇÃ O DO CURSO POR AUSÊ NCIA DE VIABILIDADE
ECONÔ MICO-FINANCEIRA - AUTONOMIA UNIVERSITÁ RIA (ART. 207 DA
CF/88) - POSSIBILIDADE DE EXTINÇÃ O DE CURSO SUPERIOR, NOS TERMOS
DO ARTIGO 53, INCISO I, DA LEI N. 9.394/96 - RECURSO ESPECIAL PROVIDO, A
FIM DE JULGAR IMPROCEDENTE O PEDIDO CONDENATÓ RIO. INSURGÊ NCIA
DA INSTITUIÇÃ O EDUCACIONAL. 1. Violaçã o ao art. 535 do CPC nã o
configurada. Acó rdã o local que enfrentou de modo fundamentado todos os
aspectos fundamentais ao julgamento da demanda. 2. Nos termos do Có digo de
Defesa do Consumidor, o contrato de prestaçã o de serviços educacionais traduz
relaçã o de consumo. 3. A instituiçã o educacional privada de ensino superior
goza de autonomia universitá ria, nos termos do art. 207 da Constituiçã o
Federal, motivo pelo qual possível, ante a inviabilidade de determinado curso,

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proceder à sua extinçã o, conforme preceito constante do art. 53, I, da Lei nº
9.394/1996 - Lei de Diretrizes e Bases da Educaçã o Nacional. 4. O art. 6º, III, do
CDC que institui o dever de informaçã o e consagra o princípio da transparência,
alcançou o negó cio jurídico entabulado entre as partes, porquanto a
aluna/consumidora foi adequadamente informada acerca da possibilidade de
extinçã o do curso em razã o de ausência de quorum mínimo, tanto em razã o de
clá usula contratual existente no pacto, quanto no manual do discente. 5. No
caso, nã o se verifica o alegado defeito na prestaçã o de serviços, haja vista que a
extinçã o de cursos é procedimento legalmente previsto e admitido, nã o sendo
dado atribuir-se a responsabilizaçã o à universidade por evento sobre o qual
nã o há qualquer participaçã o ou influência da desta (ausência de alunos e nã o
obtençã o, pela aluna, de aprovaçã o), mormente quando cumpre todos os
deveres ínsitos à boa-fé objetiva. Na relaçã o jurídica estabelecida com seu
corpo discente, consoante atestado pelas instâ ncias ordiná rias, a instituiçã o de
ensino forneceu adequada informaçã o e, no momento em que verificada a
impossibilidade de manutençã o do curso superior, ofereceu alternativas à
aluna, providenciando e viabilizando, conforme solicitado por esta, a
transferência para outra faculdade. 6. Recurso especial provido para julgar
improcedente os pedidos da inicial. (REsp 1094769/SP, Rel. Ministro MARCO
BUZZI, QUARTA TURMA, julgado em 18/03/2014, DJe 15/08/2014)

30. Nobres Julgadores, como é de conhecimento comum, para a manutençã o de cursos


de graduaçã o presencial é necessá rio despender um alto custo com a manutençã o do
espaço físico, corpo docente, energia, á gua e serviços de uma maneira geral.

31. Com o nú mero de alunos reduzidos no curso, o mesmo nã o se sustentava, sendo


elevados os gastos da Recorrente sem o devido retorno. Os valores recebidos a título de
mensalidade sequer cobriam as despesas ordiná rias do curso para aulas de qualidade em
um ambiente salubre.

32. Houve o encerramento do curso, entretanto, vale ressaltar que a notificaçã o aos
alunos quanto ao encerramento, se deu antes de efetivamente, iniciar o semestre letivo,
ainda lhes foram dadas opçõ es para que continuassem os estudos com tempo há bil para
que iniciassem junto do semestre letivo.

33. A Recorrente nã o praticou qualquer ato que tenha repercutido sobre os direitos da
personalidade do Recorrido. Note-se que a Recorrente agiu em conformidade com a lei e o
contrato, nã o restando culpa nenhuma a ser imputada à mesma.
34. Cumpre trazer novamente à baila os termos do art. 373, I do CPC, onde cabe ao
Recorrido provar o dano moral suportado, ou seja, para ter reconhecido o direito
pleiteado, o Recorrido deveria ter comprovado o dano sofrido, pois no plano moral nã o
basta o fato em si do acontecimento, mas, sim, a prova de sua repercussã o,
prejudicialmente moral, o que nã o ocorreu.
35. O dano moral consiste em lesã o a direitos da personalidade, tal como honra,
intimidade, liberdade, integridade física e psíquica, provocando abalo, dor, vexame,

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tristeza, sofrimento e desprestígio, ou outra situaçã o que se revele intensa e duradoura, a
ponto de romper o equilíbrio psicoló gico da pessoa física. O caso em discussã o nã o se
amolda a essa estrutura conceitual. Os poucos documentos entranhados são ineptos
para configurar fato gerador de lesão a direitos da personalidade. Assim, Aguiar Dias
define o dano moral:

“... consiste na penosa sensaçã o da ofensa, na humilhaçã o perante terceiros, na


dor sofrida, enfim, nos efeitos puramente psíquicos e sensoriais
experimentados pela vítima do dano, em consequência deste, seja provocada
pela recordaçã o do defeito ou da lesã o, quando nã o tenha deixado resíduo mais
concreto, seja pela atitude de repugnâ ncia ou de reaçã o a ridículo tomada pelas
pessoas que o defrontam.” (Da Responsabilidade Civil - Forense - vol. II - pá g.:
375)

36. Sendo assim, considerando que nã o houve má -fé por parte da IES, a Embargante
requer que Vossa Excelência proceda a devida correçã o da sentença a fim de corrigir a
contradiçã o apontada.

CONCLUSÃO

37. Embargos de Declaraçã o para sanar a contradiçã o apontada como mais lídima
forma de Justiça.

Rio de Janeiro, 08 de novembro de 2022.

ARMANDO MICELI FILHO – OAB/RJ 48.237


LUCIANA FREITAS GORGES ROCHA – OAB/RJ 95.337 

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