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PROCESSO Nº 0800687-90.2020.8.14.0061
DA TEMPESTIVIDADE
DA DECISÃO EMBARGADA
DA CONTRADIÇÃO QUANTO À AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DA MÁ-FÉ
DA REGULARIDADE DE PROCEDIMENTOS ADOTADOS PARA EXTINÇÃO DE CURSO
“Diante do exposto e tudo mais que dos autos consta, com fundamento no
artigo 487, inciso I do CPC:
1) Nos autos 0800687-90.2020.8.14.0061, JULGO PROCEDENTE EM PARTE a
açã o com fim de:
1.a) CONDENAR a requerida, a título de dano moral, a pagar a parte autora o
valor de R$ 2.000,00 (dois mil reais), a ser corrigido monetariamente, pelo
INPC, a partir da presente data (Sú mula 362 do STJ), e acrescidos de juros de
mora de 1% ao mês a partir da citaçã o.
2) Nos autos 0800722-50.2020.8.14.0061, JULGO PROCEDENTE a açã o com fim
de:
2.a) DECLARAR a inexistência do débito relativo à negativaçã o informada nos
autos pela parte autora, dos débitos constantes no extrato do SERASA juntado
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aos autos, confirmando, assim, a tutela antecipada concedida, determinando
que a ré exclua, no prazo má ximo de 5 (cinco) dias a contar de sua intimaçã o, o
nome da autora do cadastro de ó rgã os de proteçã o ao crédito.
2.b) CONDENAR a requerida, a título de dano moral, a pagar a parte autora o
valor de R$ 2.000,00 (dois mil reais), a ser corrigido monetariamente, pelo
INPC, a partir da presente data (Sú mula 362 do STJ), e acrescidos de juros de
mora de 1% ao mês a partir da citaçã o. ” (Grifamos)
4. Nesse sentido, insta salientar que a sentença mantida guarda flagrante contradiçã o
decisó ria, visto que o juízo determina indenizaçã o por danos morais, quando ela só é
cabível quando efetivamente comprovada a má -fé, o que nã o ocorreu no presente caso.
6. Para ter o direito à reparaçã o por danos morais, os elementos que constituem o
direito à indenizaçã o do aludido dano devem ser comprovados. No caso em tela, a má-fé
por parte da Embargante nã o foi comprovado, vez que a IES adotou todos os
procedimentos para a extinçã o do curso, bem como as negativaçõ es e débitos foram
baixados.
9. O juízo monocrá tico considerou que houve ocorrência de dano capaz de atingir a
moral da parte Embargada. Entretanto, com o devido respeito, o juízo sentenciante nã o
agiu com o seu costumeiro acerto, na medida em que nã o houve ato ilícito praticado pela
Embargante capaz de atingir a honra e a dignidade da parte recorrida.
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10. Como foi dito, a má-fé por parte da Embargante nã o foi comprovado, motivo pelo
qual nã o deveria ser condenada ao pagamento por danos morais, uma vez que realizou
baixa das negativaçõ es e débitos da Embargada.
14. Cabe destacar que, ao contrá rio do que se alega o Recorrido, o ensino é atividade
exercida por direito pró prio das instituiçõ es. Consequentemente, nã o se trata de serviço
pú blico delegado, em que o particular apenas atuará na medida em que o Estado permitir,
com restrita margem de liberdade empresarial. Nesse sentido, posiciona-se o Supremo
Tribunal Federal:
"(...) 2. Os setores de saú de (CF, art. 199, caput), educaçã o (CF, art. 209, caput),
cultura (CF, art. 215), desporto e lazer (CF, art. 217), ciência e tecnologia (CF,
art. 218) e meio ambiente (CF, art. 225) configuram serviços pú blicos sociais,
em relaçã o aos quais a Constituiçã o, ao mencionar que "sã o deveres do Estado e
da Sociedade" e que sã o "livres à iniciativa privada", permite a atuaçã o, por
direito pró prio, dos particulares, sem que para tanto seja necessá ria a
delegaçã o pelo poder pú blico, de forma que nã o incide, in casu, o art. 175,
caput, da Constituiçã o. (...)". (Grifou-se) (STF, Tribunal Pleno, ADI 1923, rel.
Min. Ayres Britto, rel. p/ Acó rdã o: Min. Luiz Fux, DJe 16.12.2015)
15. Como apontado pelo STF, o setor de ensino privado nã o se sujeita à incidência do
art. 175 da Constituiçã o Federal, de modo que nã o é serviço pú blico delegado e exercido
nos estreitos limites dessa delegaçã o. É , na verdade, uma atividade privada que, embora
classificada como "serviço pú blico social" em funçã o de sofrer maior ingerência estatal do
que aquelas sujeitas apenas à livre iniciativa, como regra se orienta por esse princípio
(arts. 170 e 209, caput, CF), ainda que constrita na forma da lei (art. 174 e art. 209, I e II,
CF).
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16. A esse respeito, vale frisar que, por ocasiã o do julgamento da ADI 3.330/DF, que
discutiu a constitucionalidade do Programa Universidade Para Todos ("Prouni"), o STF
assentou que a atividade privada de ensino é livre e nasce "condicionada pelo
interesse coletivo", o que se materializa pela autorizaçã o pú blica prévia a seu exercício e,
assim, a retira do contexto dos serviços pú blicos delegados.
18. Tal definiçã o é importante porque revela que, segundo a CF, é de escolha dos
indivíduos ou das pessoas jurídicas que exercem empresa, como é o caso do ensino, definir
a maneira pela qual entendem mais adequado levar sua atividade produtiva ao mercado.
19. Assim, normas que limitem tal liberdade de iniciativa hã o de ser interpretadas de
forma restritiva, pois contrariam a regra. Vale notar que essa conclusã o está em linha com
a Lei 13.874/2019 ("Lei da Liberdade Econô mica") que, na condiçã o de norma geral de
direito econô mico, estabelece como princípio a "intervençã o subsidiá ria e excepcional do
Estado sobre o exercício de atividades econô micas" (art. 2º, inciso III)3.
20. Se essa conclusã o é verdadeira para quaisquer atividades econô micas de uma
forma geral, com mais fundamento ainda deve ser aplicada ao setor de ensino. Isso porque
o art. 207 da CF conferiu à s instituiçõ es de ensino, em especial à s universidades,
prerrogativas de autonomia didá tico-científica (pedagó gica), administrativa e de gestã o
(funcional).
21. Ou seja: não há apenas liberdade de iniciativa, assim entendida como aquela de
ingressar e permanecer no mercado ou dele se retirar4; mas, também, assegura-se a
prerrogativa de definir quais cursos ofertar e durante quanto tempo. Por isso, há ampla
margem para criar e retirar do mercado diferentes serviços que possam ser
oferecidos aos alunos, como consequência dos princípios constitucionais da
liberdade de aprender e ensinar (art. 206, inc. II, da CF).
22. Isso nã o significa a ausência restriçõ es pú blicas ou mesmo uma negativa do poder
normativo do Estado e seu papel de regulador da atividade. Tais limitaçõ es existem, mas
se devem decorrer daquelas indicadas no art. 209 da CF, aprimoradas pelo art. 7º da
LDB5:
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Art. 7º O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas as seguintes condiçõ es:
24. Observada essa moldura, nota-se que a LDB prevê regras específicas para a
situaçã o em apreço. Ao elencar algumas das prerrogativas de autonomia, o art. 53, I, da
LDB é claro ao assegurar as seguintes atribuiçõ es à s IES: "criar, organizar e extinguir,
em sua sede, cursos e programas de educação superior previstos nesta Lei,
obedecendo à s normas gerais da Uniã o e, quando for o caso, do respectivo sistema de
ensino".
26. Por isso, parece ser mais razoá vel considerar que autonomia é uma prerrogativa
de qualquer instituiçã o de ensino, que poderá ser exercida em diferentes graus, conforme
"as normas gerais da Uniã o e, quando for o caso, do respectivo sistema de ensino" (art. 53,
I, LDB).
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LEI N. 9.394/96 - RECURSO ESPECIAL PROVIDO, A FIM DE JULGAR
IMPROCEDENTE O PEDIDO CONDENATÓ RIO. INSURGÊ NCIA DA INSTITUIÇÃ O
EDUCACIONAL. (...) 3. A instituiçã o educacional privada de ensino superior
goza de autonomia universitá ria, nos termos do art. 207 da Constituiçã o
Federal, motivo pelo qual possível, ante a inviabilidade de determinado curso,
proceder à sua extinçã o, conforme preceito constante do art. 53, I, da Lei nº
9.394/1996 - Lei de Diretrizes e Bases da Educaçã o Nacional. (...)” (Grifou-se)
(REsp 1094769/SP, Rel. Min. Marco Buzzi, 4ª Turma, DJe 15.08.2014)
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fornecedor alternativas para soluçã o do problema, ante a clá usula resolutó ria
do contrato, diga-se, decorrente de inexecuçã o nã o voluntá ria.” 15 STJ, REsp
1.094.769-SP, Quarta Turma, Rel. Min. Marco Buzzi, DJe 15/08/2014
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proceder à sua extinçã o, conforme preceito constante do art. 53, I, da Lei nº
9.394/1996 - Lei de Diretrizes e Bases da Educaçã o Nacional. 4. O art. 6º, III, do
CDC que institui o dever de informaçã o e consagra o princípio da transparência,
alcançou o negó cio jurídico entabulado entre as partes, porquanto a
aluna/consumidora foi adequadamente informada acerca da possibilidade de
extinçã o do curso em razã o de ausência de quorum mínimo, tanto em razã o de
clá usula contratual existente no pacto, quanto no manual do discente. 5. No
caso, nã o se verifica o alegado defeito na prestaçã o de serviços, haja vista que a
extinçã o de cursos é procedimento legalmente previsto e admitido, nã o sendo
dado atribuir-se a responsabilizaçã o à universidade por evento sobre o qual
nã o há qualquer participaçã o ou influência da desta (ausência de alunos e nã o
obtençã o, pela aluna, de aprovaçã o), mormente quando cumpre todos os
deveres ínsitos à boa-fé objetiva. Na relaçã o jurídica estabelecida com seu
corpo discente, consoante atestado pelas instâ ncias ordiná rias, a instituiçã o de
ensino forneceu adequada informaçã o e, no momento em que verificada a
impossibilidade de manutençã o do curso superior, ofereceu alternativas à
aluna, providenciando e viabilizando, conforme solicitado por esta, a
transferência para outra faculdade. 6. Recurso especial provido para julgar
improcedente os pedidos da inicial. (REsp 1094769/SP, Rel. Ministro MARCO
BUZZI, QUARTA TURMA, julgado em 18/03/2014, DJe 15/08/2014)
32. Houve o encerramento do curso, entretanto, vale ressaltar que a notificaçã o aos
alunos quanto ao encerramento, se deu antes de efetivamente, iniciar o semestre letivo,
ainda lhes foram dadas opçõ es para que continuassem os estudos com tempo há bil para
que iniciassem junto do semestre letivo.
33. A Recorrente nã o praticou qualquer ato que tenha repercutido sobre os direitos da
personalidade do Recorrido. Note-se que a Recorrente agiu em conformidade com a lei e o
contrato, nã o restando culpa nenhuma a ser imputada à mesma.
34. Cumpre trazer novamente à baila os termos do art. 373, I do CPC, onde cabe ao
Recorrido provar o dano moral suportado, ou seja, para ter reconhecido o direito
pleiteado, o Recorrido deveria ter comprovado o dano sofrido, pois no plano moral nã o
basta o fato em si do acontecimento, mas, sim, a prova de sua repercussã o,
prejudicialmente moral, o que nã o ocorreu.
35. O dano moral consiste em lesã o a direitos da personalidade, tal como honra,
intimidade, liberdade, integridade física e psíquica, provocando abalo, dor, vexame,
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tristeza, sofrimento e desprestígio, ou outra situaçã o que se revele intensa e duradoura, a
ponto de romper o equilíbrio psicoló gico da pessoa física. O caso em discussã o nã o se
amolda a essa estrutura conceitual. Os poucos documentos entranhados são ineptos
para configurar fato gerador de lesão a direitos da personalidade. Assim, Aguiar Dias
define o dano moral:
36. Sendo assim, considerando que nã o houve má -fé por parte da IES, a Embargante
requer que Vossa Excelência proceda a devida correçã o da sentença a fim de corrigir a
contradiçã o apontada.
CONCLUSÃO
37. Embargos de Declaraçã o para sanar a contradiçã o apontada como mais lídima
forma de Justiça.
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