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2018
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Lista de Figuras
Figura 1. O Dilema do Prisioneiro ................................................................................... 7
Figura 2. O Jogo da Propina ............................................................................................. 9
Figura 3. Teoria da Corrupção ........................................................................................ 13
Figura 4. O Jogo-Base da Corrupção (Resultados) ........................................................ 14
Figura 5. O Jogo-Base (payoffs) ..................................................................................... 15
Figura 6. O Jogo-Base (probabilidades) ......................................................................... 16
Figura 7. Corrupção como um Fenômeno Cíclico ......................................................... 17
Figura 8. Representação Gráfica do Jogo da Corrupção ................................................ 20
Figura 9. Ordem de ocorrência dos resultados ............................................................... 21
Figura 10. Fronteira (y = x) ............................................................................................ 21
Figura 11. Fronteira (y = 1 – x) ...................................................................................... 22
Figura 12. O Tabuleiro da Corrupção ............................................................................. 22
Figura 13. Trade-offs e ordens de preferências .............................................................. 23
Figura 14. Áreas preferidas de cada jogador no Tabuleiro............................................. 23
Figura 15. Matriz do Jogo (2) ......................................................................................... 26
Figura 16. Vetor (w) ....................................................................................................... 28
Figura 17. A Curva 𝑰𝑮 no Tabuleiro da Corrupção ....................................................... 30
Figura 18. Transposição da Curva 𝑰𝑮 ............................................................................ 31
Figura 19. Matriz do Jogo (3) ......................................................................................... 32
Figura 20. Vetor (z) ........................................................................................................ 34
Figura 21. A Curva 𝑻𝑨 no Tabuleiro da Corrupção ....................................................... 35
Figura 22. Transposição da Curva 𝑻𝑨 ............................................................................ 36
Figura 23. Regras do Jogo da Corrupção ....................................................................... 37
Figura 24. Matriz do Jogo Expandido ............................................................................ 37
Figura 25. Vértices do quadrilátero ................................................................................ 38
Figura 26. Formatos Notáveis ........................................................................................ 39
Figura 27. Composição da Área ..................................................................................... 40
Figura 28. Interseção das curvas 𝑰𝑮 e 𝑻𝑨 ...................................................................... 42
Figura 29. A Hipocrisia dos Atores Privados ................................................................. 43
Figura 30. Seis Tipos de Sociedade ................................................................................ 45
Figura 31. Tabuleiros Auxiliares .................................................................................... 46
Figura 32. Sociedade Democrática ................................................................................. 47
Figura 33. Sociedade Autocrática ................................................................................... 48
Figura 34. Posição das Sociedades Democrática e Autocrática ..................................... 49
Figura 35. Evolução da Corrupção Comparada: Brasil-China (2012 – 2017) ............... 50
Figura 36. Elementos Associados à Corrupção .............................................................. 55
Figura 37. Matriz do Jogo da Corrupção Perpétua ......................................................... 55
Figura 38. O controlador externo no jogo da corrupção perpétua .................................. 56
Figura 39. Poderes de Polícia e Disciplinar .................................................................... 57
Figura 40. Poder da Mídia .............................................................................................. 58
3
Introdução
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1. Teoria dos Jogos
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Podemos observar que inexistem números reais que satisfaçam a condição: (𝐴 >
𝐵 > 𝐶 > 𝐴). Portanto, esse indivíduo não apresenta transitividade entre suas
preferências e não é considerado racional, segundo a Teoria da Escolha. Ele não
consegue escolher uma candidata que lhe forneça máxima utilidade.
Transitividade de preferências não significa necessariamente uma relação de
superioridade/inferioridade. Imagine uma pessoa que, dentre as candidatas acima,
apresenta a seguinte ordem de preferências:(𝐴 = 𝐵 > 𝐶). Isso quer dizer que essa
pessoa está indecisa entre as candidatas (A) e (B), mas não seria considerada racional se
escolhesse a candidata (C).
Portanto, a Teoria da Escolha Racional diz respeito à ação de indivíduos perante
suas próprias preferências. Já a Teoria dos Jogos é a teoria da interação entre indivíduos
racionais em busca da maximização de utilidade. Trata-se de uma racionalidade
“elevada” que é chamada de estratégia. Chama-se situação estratégica (ou jogo)
qualquer situação onde dois ou mais indivíduos racionais (jogadores), munidos de ações
(jogadas), buscam maximizar seus ganhos ou minimizar suas perdas (payoffs), levando
em consideração que a jogada do outro jogador afeta seu resultado (estratégia). Existem
diversos conceitos e tipologias associadas à Teoria dos Jogos, que serão abordadas na
próxima seção.
6
.
1.3. O Dilema do Prisioneiro
7
Isso significa que o político e o empresário, ambos racionais, na busca pela
maximização de sua utilidade, atingirão um resultado que não é ótimo, no sentido de
Pareto. Isto é, existe um resultado possível onde ambos podem ganhar mais (ou, nesse
caso, perder menos) sem que isso acarrete em custos para o outro. Caso nenhum deles
delatasse (Q4), ambos pegariam uma pena mais leve, mas ambos estariam
“arrependidos”, dado a jogada do outro.
O dilema do prisioneiro alterou paradigmas em estudos de Economia, por
comprovar matematicamente que a busca pelo interesse individual nem sempre
promove o bem coletivo. No caso específico do combate à corrupção, é desnecessário
dizer que o dilema do prisioneiro influenciou profundamente a Lei de Organização
Criminosa e o instituto da colaboração premiada, que já foi utilizada por centenas de
políticos e empresários no escopo da Operação Lava-Jato. Contudo, o dilema do
prisioneiro já foi aplicado, também, de maneira mais teórica para explicar a corrupção
como um fenômeno em si, e não para combatê-la. Existem literalmente centenas de
estudos que buscam relacionar corrupção e Teoria dos Jogos, e a maior parte deles
afirma que a corrupção se assemelha muito a um dilema do prisioneiro, pois é uma
situação em que os atores têm incentivos para serem desonestos, ainda que prefiram a
correição.
A primeira acadêmica que buscou relacionar corrupção e Teoria dos Jogos foi
Susan Rose-Ackerman, uma renomada professora da Universidade de Yale. Em 1978,
ela publicou Corruption: a study in political economy, em que analisou a relação
entre corruptores ativos e passivos nos Estados Unidos. Em 1999, escreveu Corruption
and Government, onde afirma claramente: “[m]ultinational firms face a [prisoners’]
dilemma when dealing with corrupt regimes. Each firm believes it needs to pay bribes,
but each knows that most of them would be better off if nobody paid.” (Rose-Ackerman,
1999, p. 88)
Seu trabalho também inspirou pesquisadores de todo o globo. Do Reino Unido,
John Macrae (1982) estudou o jogo da propina em países em desenvolvimento e
concluiu que: “a prisoner’s dilemma type of situation emerges with the added
complication that the judge and jailer may be corrupt.” (Macrae, 1982: p. 677).
Da China, os professores Sun Lianju and Peng Luyan (2011) escreveram Game
Theory Analysis of the Bribery Behavior, também analisando a relação entre
corruptores ativos e passivos, onde afirmam: “the game [of corruption] is a ‘prisoners'
dilemma’ apparently. The Pareto optimal solution of the game is not the unique Nash
equilibrium point but the situation ‘(no bribery, no bribery)’”(Lianju e Luyan, 2011, p.
106).
No Brasil, Marcos F. Silva (1999) publicou The political economy of
corruption in Brazil, onde, associando a corrupção diretamente a um dilema do
prisioneiro, afirma que o país: “seems to be a society where the incentive to cheat and to
disrespect the rules is widespread. It is an incentive to corruption the fact that the
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Justice is inefficient as well. The problem here is how to break the vicious circle of an
‘unruly’ society” (Silva, 1999, p. 36).
A matriz apresentada abaixo é uma versão alternativa do jogo da propina,
diferente daquela apresentada por Silva (1999) e tantos outros autores.
Corruptor Passivo
Não Ser corrupto
0 C–p
Não
Corruptor 0 0
Ativo 0 C
Ser corrupto
C–p C
Fonte: adaptado de Silva (1999)
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harsher. Provided punishments are sufficiently harsh, completely removing power
inequalities eliminates corruption, and cooperative punishment will likely spread”.
(Dueñez-Gúzman, 2012).
Todas essas pesquisas têm diferentes conclusões e resultados, mas têm em
comum o fato de associarem a corrupção a um dilema do prisioneiro. Neste modelo,
será apresentado outro tipo de jogo, que não tem equilíbrio de Nash em estratégias
puras. Antes, porém, devem-se fazer breves considerações a respeito da Teoria da
Corrupção, para delimitar os pressupostos e os conceitos que serão utilizados adiante.
2. Teoria da Corrupção
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O conceito de agente público pode ser encontrado nos primeiros artigos da Lei de
Improbidade Administrativa (1992):
Reputa-se agente público [...] todo aquele que exerce, ainda que
transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação,
contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato,
cargo, emprego ou função nas entidades ou órgãos da administração direta,
indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
Distrito Federal, dos Municípios, de Território, de empresa incorporada ao
patrimônio público ou de entidade para cuja criação ou custeio o erário haja
concorrido ou concorra com mais de cinqüenta por cento do patrimônio ou da
receita anual. (Brasil, 1992)
Onde quer que haja função pública, existe a possibilidade de que ela seja
desviada ou abusada. Saliente-se, portanto, que existe uma importante conclusão a esse
respeito: a corrupção ativa não se enquadra como corrupção, em sentido estrito.
Um ator particular, que não dispõe de função pública, não pode desviá-la. O que se pode
fazer é buscar influenciar um agente público a desviar a sua conduta por meio de
incentivos indevidos, como subornos, propinas, chantagens, etc. Portanto, o capítulo do
Código Penal brasileiro dedicado aos crimes cometidos por particulares contra a
administração configura-se como “corrupção ativa”, que é passível de punição, mas não
se constitui, por si só, como corrupção, que é um fenômeno disciplinado tanto pelo
Direito Penal (crimes cometidos por “funcionários” públicos contra a administração)
quanto pelo Direito Administrativo (disperso na legislação). É a ação do agente público,
e não do ator privado, que determina se a função pública será desviada, ainda que o ator
privado possa ser responsabilizado por buscar influenciar o desvio da função. Existem
crimes e formas de corrupção que um agente público pode praticar “sozinho”, isto é,
sem levar em consideração a presença de um corruptor ativo. O contrário, todavia, não é
válido.
Dessa forma, a análise da relação entre corruptores passivos e ativos pode
explicar vários tipos de crimes, mas não compreende o fenômeno da corrupção como
um todo, que inclui os poderes disciplinar e de polícia da administração pública. Por se
tratar de matéria exclusivamente penal, a corrupção ativa é controlada por meio do
poder de polícia, que é uma prerrogativa do Estado perante a Sociedade. Por ser tanto
penal quanto administrativa, a corrupção ativa pode ser controlada tanto pelo poder de
polícia quanto pelo poder disciplinar, que é uma prerrogativa do Estado para o Estado,
associada à hierarquia, conhecida como autotutela.
11
Administração Pública [...], assim como pelo povo diretamente,
compreendendo ainda a possibilidade de orientação e revisão da
atuação administrativa de todas as entidades e agentes públicos, em
todas as esferas de poder [...] com o intuito de garantir uma eficiente
prestação dos serviços e as condutas orientadas para a busca do
interesse público.” (Carvalho, 2017, p. 386).
12
Todos esses pressupostos, esquematizados no diagrama abaixo, serão
“transformados” em um jogo, ou melhor, em quatro jogos possíveis, com quatro
jogadores arquetípicos que representam cada um dos elementos.
Corrupção Ativa:
Corrupção em sentido
cometida por
amplo (exc. Penal)
Corrupção política: particulares
desvio de função
pública para fins
privados Corrupção Passiva:
Corrupção em sentido
cometida por agentes
estrito (Penal/Adm)
públicos
Controle Externo:
Possui caráter
exercido por
ambivalente
Controle da particulares
Administração
Pública: prevenção e
combate à corrupção Controle Interno: Relacionado aos
exercido pela poderes disciplinar e
adminsitração pública de polícia
3. A Relação de Caça-e-Fuga
13
Figura 4. O Jogo-Base da Corrupção (Resultados)
Corruptor Passivo
Não Corrupção
Controle Q1 Q2
Controlador
Interno
Não Q3 Q4
14
representa o risco de ser corrupto. No caso Q3, o controlador recebe o valor da
“segurança” (S) de não exercer o controle, que representa sua tentação para não
investigar. No caso Q4, o corruptor recebe o valor positivo do “crime” (C), que
representa sua tentação para ser corrupto e o controlador interno fica “frustrado”,
recebendo o valor negativo (–F), que representa seu risco de não exercer o controle. As
setas indicam as dominâncias de estratégia.
Corruptor Passivo
Não Corrupção
0 –P
Controle Q1 Q2
Controlador 0 0
Interno 0 C
Não Q3 Q4
S –F
Não existe, nesse jogo, equilíbrio em estratégias puras, uma vez que não há
resultado possível em que nenhum dos jogadores não tem arrependimento. No caso Q1,
o controlador se arrepende de exercer o controle, dado que o agente público não foi
corrupto. No caso Q2, o corruptor se arrepende de ter sido corrupto, dado que o
controlador exerceu o controle. No caso Q3, o corruptor passivo arrepende-se de não ter
sido corrupto, dado que o controlador interno não exerceu o controle. No caso Q4, o
controlador interno está arrependido de não ter exercido o controle, dado que o
corruptor passivo foi corrupto. Assim configura-se uma relação de caça-e-fuga entre
dois jogadores. O exemplo clássico, apresentado em 1984 por Aigner e Fromme,
chamava-se “Jogo dos Policiais e Ladrões”, que se trata exatamente do mesmo modelo,
mas o “ladrão” foi substituído pelo “corruptor passivo” e o “policial”, pelo “controlador
interno”. Isso porque a corrupção, enquanto relacionada ao direito penal, pode estar
associada a jogos de criminalidade, mais do que jogos de cooperação-defecção.
O fato de que não existe equilíbrio em estratégias puras no Jogo da Corrupção
nos traz três muito relevantes conclusões a respeito do fenômeno, que podem ser, por
analogia, estendidas à criminalidade em geral. Essas conclusões serão analisadas
detidamente a seguir.
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corruptor passivo tem arrependimento. Caso contrário, se o corruptor passivo escolhesse
nunca ser corrupto, então a melhor resposta do controlador seria nunca exercer o
controle, o que levaria inevitavelmente ao caso Q3, onde o corruptor passivo também
tem arrependimento. Isso significa duas coisas: 1) sob o ponto de vista do corruptor
passivo, a ação do controlador responde positivamente às suas (se eu for mais corrupto,
ele vai investigar mais; e se eu for menos corrupto, ele vai investigar menos); 2) jogar
uma ação com probabilidade certa (ou seja, uma estratégia pura) sempre trará
arrependimento certo ao corruptor passivo.
Agora, imagine-se que o controlador escolha sempre exercer o controle; então, a
melhor resposta do corruptor passivo é nunca ser corrupto, o que levaria ao caso Q1,
onde o controlador tem arrependimento. Caso o controlador escolhesse nunca exercer o
controle, então a melhor resposta do corruptor passivo seria sempre ser corrupto,
levando a Q4 onde o controlador tem arrependimento. Destarte: 1) sob o ponto de vista
do controlador, a ação do corruptor responde negativamente (se eu investigar mais, ele
será menos corrupto; se eu investigar menos, ele será mais corrupto); e 2) jogar uma
estratégia pura também é inviável para o controlador.
Se juntarmos as conclusões, teremos que: 1) sempre haverá uma
probabilidade de que o corruptor passivo seja corrupto (x) e uma probabilidade de
que o controlador interno exerça o controle (y), e essas probabilidades jamais
chegarão a 0% ou 100% (0 > x; y > 1). Saliente-se de que existem as probabilidades
complementares de que o corruptor não seja corrupto (1 – x) e de que o controlador não
exerça o controle (1 – y).
2) A relação entre as probabilidades de ação dos jogadores (x) e (y) tendem
à matemática caótica (são diretamente proporcionais sob um ponto de vista e
inversamente proporcionais sob outro ponto de vista). Como corolário dessas
conclusões, podemos interpretar que sempre haverá alguma probabilidade de todos
os quatro resultados ocorram. A matriz abaixo demonstra as probabilidades de ação
dos jogadores e de ocorrência dos casos.
Corruptor Passivo
Não (1 – x) Corrupção (x)
Controle 0 –P
(y) Q1: y – xy Q2: xy
Controlador 0 0
Interno Não 0 C
(1 – y) Q3: 1 – x- y + xy Q4: x – xy
S –F
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cíclico. Isso porque a relação de caça-e-fuga é a mesma estabelecida entre presas e
predadores no meio ambiente, e, portanto, tende a se comportar como uma onda no
tempo. Para entender essa interpretação, pode-se imaginar o Jogo da Corrupção jogado
em quatro momentos sequenciais, que se repetem ad eternum, conforme demonstrado
pela figura abaixo. No primeiro momento, aumenta-se a probabilidade de que os
corruptores passivos sejam corruptos; no segundo momento, como resposta ao primeiro,
os controladores aumentam a probabilidade de investigação; no terceiro momento, em
resposta ao segundo, os corruptores passivos diminuem a probabilidade de serem
corruptos; no quarto momento, em resposta ao terceiro, os controladores diminuem a
probabilidade de investigação, o que nos leva novamente ao primeiro momento, onde,
em resposta, os controladores aumentam a probabilidade de corrupção.
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desmotivada e aleatória de agentes públicos, apenas ressaltar que, nesse aspecto, o
modelo apresentado se diferencia parcialmente da vida real. Por fim, a última conclusão
da relação de caça-e-fuga é de que, em equilíbrio, a probabilidade de ação de um
jogador está em função dos payoffs do outro jogador. Essa conclusão será analisada
a seguir.
Se o valor esperado de uma ação é maior do que o valor esperado de outra ação,
então a ação de maior valor é mais estratégica. Dizemos que um jogador está em
equilíbrio de estratégias mistas quando a probabilidade de ação do outro jogador é
tal, que o torna indiferente entre suas opções. Ou seja, existe uma probabilidade de
que o corruptor passivo pratique a corrupção (x) que faria, para o controlador, os valores
esperados de investigar e não investigar se igualarem. 𝑉𝐸𝑁𝐼 = 𝑉𝐸𝐼
𝑆 − 𝑆𝑥 − 𝐹𝑥 = 0
𝑆𝑥 + 𝐹𝑥 = 𝑆
𝑆
𝑥=
𝑆+𝐹
18
𝑆
tentação-risco do controlador para não investigar (𝐹). A mesma lógica se aplica para o
outro jogador, mas dessa vez trazendo uma conclusão ainda mais contra-intuitiva.
Para o corruptor passivo, o Valor Esperado de Ser Corrupto (𝑉𝐸𝐶 ) é o payoff que
ele obtém quando é punido ponderado pela chance de punição (–P)(y), mais o payoff
obtido quando ele comete o crime sai impune, ponderado pela chance de não ser
investigado (C)(1 – y). Já o Valor Esperado de Não Ser Corrupto (𝑉𝐸𝑁𝐶 ): é igual a 0
(zero), pois, nesse jogo, ele não ganha nem perde nada quando não é corrupto. Em
equilíbrio:(𝐸𝑉𝐶 = 𝐸𝑉𝑁𝐶 ).
𝐶 − 𝐶𝑦 − 𝑃𝑦 = 0
𝐶𝑦 + 𝑃𝑦 = 𝐶
𝐶
𝑦=
𝐶+𝑃
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forma de visualização gráfica do Jogo aqui apresentado, que foi chamada de Tabuleiro
da Corrupção, analisado em seguida.
A probabilidade de a corrupção de fato ocorrer será tanto maior quanto maior for
(x) e quanto menor for (y), indicando que ela cresce nos sentidos para a direita e para
baixo no gráfico. É digno de nota mencionar que a corrupção ocorre menos nas
extremidades superiores e na inferior esquerda. Contudo, a probabilidade de Q4, por
si só, não é indicativa das probabilidades (x) e (y). Por exemplo: no gráfico acima,
foram listados quatro pontos onde a probabilidade de que a corrupção de fato ocorra é
igual a 18%, duas vezes no quadrante Q2 e duas vezes no quadrante Q3. Qual é a
diferença entre esses quatro pontos? Vejamos.
Imagine-se que cada um desses quatro pontos seja diferentes “sociedades”. Na
primeira, a probabilidade de que os passivos sejam corruptos (x) é de 90% e a
probabilidade de que os controladores investiguem (y) é de 80%. Na segunda, (x =
60%) e (y = 70%). Na terceira, (x = 30%) e (y = 40%). Na quarta (x = 20%) e (y =
10%). Conforme sabemos, em todas, a corrupção de fato (Q4) ocorre com probabilidade
de 18%, mas a probabilidade de que os outros casos (Q1, Q2 e Q3) ocorram é diferente
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em cada uma delas. Abaixo, eles foram calculados e ordenados, do maior para o menor,
para cada uma das quatro sociedades.
Sociedade x y Q1 Q2 Q3 Q4 Ordem
I 90% 80% 8% 72% 2% 18% 𝑄2 > 𝑄4 > 𝑄1 > 𝑄3
II 60% 70% 38% 42% 12% 18% 𝑄2 > 𝑄1 > 𝑄4 > 𝑄3
III 30% 40% 28% 12% 42% 18% 𝑄3 > 𝑄1 > 𝑄4 > 𝑄2
IV 20% 10% 8% 2% 72% 18% 𝑄3 > 𝑄4 > 𝑄1 > 𝑄2
A primeira conclusão que podemos extrair desses cálculos é que sempre que Q2
é predominante, Q3 é o menos frequente, e vice-versa. O que se altera entre as
sociedades de um mesmo quadrante é a ordem entre os casos Q1 e Q4. A reta que divide
esse segmento do gráfico é onde (y = x). Nas sociedades (I) e (IV), a probabilidade de
investigação (y) é menor que a probabilidade de corrupção (x) e, portanto, (Q4 > Q1).
Nas sociedades (II) e (III), a probabilidade de investigação (y) é maior do que a
probabilidade de corrupção (x), e (Q4 < Q1).
Uma forma de interpretar essa realidade é abstrair do termo “probabilidade” e
pensar em termos de “possibilidade”. Se o número de corruptos é maior do que o
número de investigados, então não é possível investigar todos que foram corruptos, e
com certeza algum corrupto saiu impune. Se o número de investigados for maior do que
o número de corruptos, então é possível eventualmente investigar todos os corruptos.
Destarte, podemos desenhar uma linha inclinada positivamente, onde (y = x), e que
separa completamente os casos Q1 e Q4. Em qualquer ponto à esquerda dessa linha, (y
> x) e (Q1 > Q4). Qualquer ponto à direita, (y < x) e (Q1 < Q4).
21
Q3). Em qualquer ponto à direita, (y > 1 – x) e (Q2 > Q3). Qualquer ponto à esquerda,
(y < 1 – x) e (Q2 < Q3).
22
as ordem de preferências de cada jogador e suas preferências entre as relações (Q1 –
Q4) e (Q2 – Q3), e a melhor relação entre (x) e (y) para cada um deles.
Jogador Ordem de Preferência (Q1 – Q4) (Q2 – Q3) Melhor relação entre (x) e (y)
23
estará no triângulo “bom”. Agora, substituem-se os valores de (x) e (y) pelas suas
formulas de equilíbrio.
1−𝑥 ≥𝑦 ≥𝑥
𝐹 𝐶 𝑆
≥ ≥
𝑆+𝐹 𝐶+𝑃 𝑆+𝐹
𝐶𝐹 + 𝐹𝑃 ≥ 𝐶𝑆 + 𝐶𝐹
𝑃 𝑆
≥
𝐶 𝐹
𝐶𝑆 + 𝐶𝐹 ≥ 𝐶𝑆 + 𝑃𝑆
𝐶𝐹 + 𝐹𝑃 ≥ 𝐶𝑆 + 𝐶𝐹
𝐹 𝑃
≥
𝑆 𝐶
𝐹 𝑃 𝑆
≥ ≥
𝑆 𝐶 𝐹
24
4. O Jogo da Corrupção Ativa
25
Figura 15. Matriz do Jogo (2)
Corruptor Passivo:
𝑪 − 𝑪𝒚 − 𝑷𝒚 − 𝒑(𝟏 − 𝒘)
Equilíbrio: 𝐶 − 𝐶𝑦 − 𝑃𝑦 − 𝑝(1 − 𝑤) = 0
𝐶 − 𝑝(1 − 𝑤)
𝑦=
𝐶+𝑃
Controlador Interno:
26
Valor Esperado de Não Investigar:
𝑺 − 𝑺𝒙 − 𝑭𝒙 − 𝒇𝒘
Equilíbrio: 𝑆 − 𝑆𝑥 − 𝐹𝑥 − 𝑓𝑤 = 0
𝑆 − 𝑓𝑤
𝑥=
𝑆+𝐹
Corruptor Ativo:
𝑮𝒙 − 𝑮𝒙𝒚 − 𝑰𝒚
Equilíbrio: 𝐺𝑥 − 𝐺𝑥𝑦 − 𝐼𝑦 = 0
𝐼𝑦
(𝑥)(1 − 𝑦) =
𝐺
𝑆 − 𝑓𝑤
(𝐼) → 𝑥 =
𝑆+𝐹
𝐶 − 𝑝(1 − 𝑤)
(𝐼𝐼) → 𝑦 =
𝐶+𝑃
27
𝐼𝑦
(𝐼𝐼𝐼) → (𝑥)(1 − 𝑦) =
𝐺
A partir do vetor (w) podemos inferir quatro conclusões importantes, que são:
(1) Ao contrário de (x) e (y), não existem impedimentos matemáticos para que
(w) valha efetivamente 0 (zero) ou 1 (um). Isso significa que, em determinadas
circunstâncias, pode ser estratégico para o corruptor ativo ser corrupto sempre ou
nunca.
(2) O vetor (w) “move a sociedade” na direção Q4 Q1, que é do seu caso
mais preferido a um dos seus casos menos preferidos. Isso poderia significar que o
corruptor ativo “joga contra si mesmo”, pois, quanto mais ele pratica a corrupção ativa,
cateris paribus, menos os corruptores passivos praticam a corrupção e mais os
controladores internos a investigam.
(3) A probabilidade de que o corruptor ativo ofereça suborno (w) é, caeteris
𝑆−𝑓𝑤 𝑆−𝑥(𝑆+𝐹)
paribus, inversamente proporcional ao fator de desconto (f) 𝑥 = 𝑤= ,
𝑆+𝐹 𝑓
𝐶−𝑝(1−𝑤)
e diretamente proporcional ao fator de desconto (p) 𝑦 = (1 − 𝑤) =
𝐶+𝑃
28
𝐶−𝑦(𝐶+𝑃)
. Isso indica que quanto maior for o “poder de pressão” dos corruptores ativos
𝑝
sobre os controladores internos (f), menor será a probabilidade de que eles pratiquem a
corrupção ativa (w), e quanto maior for o “poder de pressão” sobre os corruptores
passivos (p), maior será a probabilidade (w). Essas conclusões estão assentadas na
relação de caça-e-fuga e sua lógica de probabilidades espelhadas.
(4) Enquanto a direção do vetor (w) é sempre a mesma (para cima e para a
esquerda), seu sentido (inclinação), intensidade (tamanho) e posição no Tabuleiro
podem variar substancialmente. Analisemos cada uma dessas variáveis separadamente.
Podemos definir a inclinação do vetor (w) em termos de elasticidade, que é
relação entre a variação no eixo (x) e a variação no eixo (y). Assim, quanto mais vertical
for o eixo, mais inelástico; e quanto mais horizontal, mais elástico. A fórmula de
elasticidade pode ser obtida da seguinte maneira:
𝑆 𝑆−𝑓 𝑓
(x) máximo menos (x) mínimo: ∆(𝑥) = 𝑆+𝐹 − 𝑆+𝐹 = 𝑆+𝐹
𝐶 𝐶−𝑝 𝑝
(y) máximo menos (y) mínimo: ∆(𝑦) = 𝐶+𝑃 − 𝐶+𝑃 = 𝐶+𝑃
𝑓
∆(𝑥) 𝑆+𝐹 𝑓(𝐶+𝑃)
Elasticidade: (∆(𝑦) = 𝑝 )→ 𝑝(𝑆+𝐹)
𝐶+𝑃
29
(x) é inversamente proporcional a (w). Portanto, reitere-se que, neste projeto, todos os
fatores de desconto foram considerados como riscos adicionais, apenas para fins de
simplificação.
𝑰
4.3. A Curva (𝑮)
(𝑥)(1 − 𝑦) 𝐼
=
𝑦 𝐺
Essa relação reforça a ideia de que o corruptor ativo “joga contra si”. Uma vez
que a menor relação risco-tentação está nos casos a corrupção ocorre menos. Ao evitar
riscos, o corruptor ativo forçosamente se move para uma situação onde as chances de
seu suborno ser aceito são menores e as chances de ser investigado são maiores, ainda
que a punição não seja tão grande, em relação à tentação. Outra forma de se analisar
essa questão é isolar o (y) na equação acima:
𝐺𝑥
𝑦=
𝐺𝑥 + 𝐼
𝑰
Figura 17. A Curva (𝑮) no Tabuleiro da Corrupção
30
Podemos, assim, separar os corruptores ativos basicamente em três tipos, a partir
da sua relação risco-tentação. Se a tentação para cometer a corrupção ativa for maior
que duas vezes o risco (G > 2I), então a relação risco-tentação é muito baixa e essa
“sociedade” estará nos casos C1, C2, C3, C4 ou C8. Se a tentação para cometer
corrupção ativa for maior que o risco, mas menor que o dobro do risco (2I > G > I),
então a sociedade estará nos casos C5, C6, C7 ou C8. Caso o risco de cometer a
corrupção ativa seja maior do que a tentação (I > G), então a sociedade estará os casos
C7, C5 ou C6.
Pode-se argumentar, portanto, que o jogo da corrupção ativa possui equilíbrios
“mais fortes” que outros, de modo que a chance de ocupar determinados quadrantes é
maior que outros. Há, nesse jogo, forte inclinação para a impunidade. Uma forma de
𝐼
observar essa realidade é fazer uma transposição da curva ( ). Na figura abaixo, a
𝐺
relação risco-tentação foi colocada no eixo das abscissas no Tabuleiro da Corrupção,
indo de 0 (zero) a ∞ (infinito).
𝑰
Figura 18. Transposição da Curva (𝑮)
31
passivos não praticam a corrupção ou quando controladores internos a investigam). Ele
perde utilidade, representada por (–A), quando ele não se mobiliza e a corrupção de fato
ocorre (quando corruptores passivos são corruptos e não são investigados). Destarte,
temos que, para o controlador externo: (𝑄1 = 𝑄2 = 𝑄3 > 𝑄4).
Conforme mencionado no capítulo 2, o controle externo é ambivalente, pois se
direciona tanto aos corruptores passivos quanto aos controladores internos. Podemos
supor que os cidadãos, ou a opinião pública de maneira geral, podem criticar tanto os
“políticos corruptos” quanto os controladores, como a polícia, o Judiciário, etc. Dessa
forma, o fator de desconto é retirado dos corruptores passivos que são corruptos (−𝛼)
quando o controle externo é exercido, e é retirado dos controladores internos que não
investigam (−𝛽) também quando o controle externo é exercido.
A matriz do Jogo (3), apresentada abaixo, segue a mesma disposição da matriz
do Jogo (2), apresentada anteriormente.
Uma vez que os riscos adicionais não ultrapassam as tentações originais (𝐶 > 𝛼)
e (𝑆 > 𝛽), a relação de caça-e-fuga entre os jogadores essenciais é mantida. Para
encontrar o equilíbrio de Nash, procedemos com a mesma lógica dos valores esperados.
Para tanto, vamos considerar que a probabilidade de que o controlador externo exerça o
controle seja (z), e a probabilidade de que ele não exerça (1 – z).
Corruptor Passivo:
𝑪 − 𝑪𝒚 − 𝑷𝒚 − 𝜶𝒛
32
Valor Esperado de Não Ser Corrupto:
Equilíbrio: 𝐶 − 𝐶𝑦 − 𝑃𝑦 − 𝛼𝑧 = 0
𝐶 − 𝛼𝑧
𝑦=
𝐶+𝑃
Controlador Interno:
𝑺 − 𝑺𝒙 − 𝑭𝒙 − 𝜷𝒛
Equilíbrio: 𝑆 − 𝑆𝑥 − 𝐹𝑥 − 𝛽𝑧 = 0
𝑆 − 𝛽𝑧
𝑥=
𝑆+𝐹
Controlador Externo:
−(𝒙)(𝟏 − 𝒚)(𝑻 + 𝑨) + 𝑻
𝑇
(𝑥)(1 − 𝑦) =
𝑇+𝐴
33
5.2. Vetor (z)
𝐶 − 𝛼𝑧
(𝐼𝐼) → 𝑦 =
𝐶+𝑃
𝑇
(𝐼𝐼𝐼) → (𝑥)(1 − 𝑦) =
𝑇+𝐴
Ao contrário do vetor (w), que move uma sociedade na direção (Q1 Q4), o
vetor (z) move uma sociedade na direção (Q2 Q3), que é a direção que ambos os
jogadores essenciais consideram “boa”. Não se pode falar aprioristicamente que o
controlador externo “joga contra si mesmo”, uma vez que ele pode “arrastar” uma
sociedade para uma posição em que a corrupção de fato ocorre menos ou para uma
posição onde ela ocorre mais, a depender da sua elasticidade. Assim como o vetor (w), o
vetor (z) também pode valer 0 (zero) ou 1 (um), e apresenta uma elasticidade, uma
intensidade e uma posição, cujos cálculos seguem a mesma lógica.
𝑆 𝑆−𝛽 𝛽
(x) máximo menos (x) mínimo: ∆𝑥 = 𝑆+𝐹 − 𝑆+𝐹 = 𝑆+𝐹
𝐶 𝐶−𝛼 𝛼
(y) máximo menos (y) mínimo: ∆𝑦 = 𝐶+𝑃 − 𝐶+𝑃 = 𝐶+𝑃
𝛽
𝛽(𝐶+𝑃)
Elasticidade: ( 𝑆+𝐹
𝛼 ) →
𝛼(𝑆+𝐹)
𝐶+𝑃
34
𝛼2 𝛽2
Intensidade: √(𝐶+𝑃)2 + (𝑆+𝐹)2
Diferentemente de (w), a probabilidade de que o controlador externo exerça o
controle (z) é inversamente proporcional a ambos os fatores de desconto (𝛼) e (𝛽), o
que significa que, caeteris paribus, quando maior for o “poder de pressão” dos
controladores externos sobre os jogadores essenciais, menos eles irão exercê-lo,
𝑆−𝛽𝑧 𝑆−𝑥(𝑆+𝐹) 𝐶−𝛼𝑧 𝐶−𝑦(𝐶+𝑃)
estranhamente(𝑥 = )(𝑧 = ) e (𝑦 = )(𝑧 = ). Isso
𝑆+𝐹 𝛽 𝐶+𝑃 𝛼
significaria que as sociedades mais permeáveis, abertas e transparentes seriam
aquelas onde provavelmente a população sai menos às ruas para protestar contra
seus políticos. Também é digno de nota que, em seus limites de elasticidade infinita,
zero ou unitária, o vetor (z) pode coincidir com as fronteiras do Tabuleiro, exceto onde
(1 – x = y).
Também é possível encontrar uma função quadrática substituindo os valores de
(x) e (y) e as igualando, ou na terceira equação, indicando que, para determinadas
probabilidades de (x) e (y), pode haver duas probabilidades de equilíbrio (z).
𝑻
5.3. A Curva (𝑨)
𝑻
Figura 21. A Curva ( ) no Tabuleiro da Corrupção
𝑨
35
Também é possível dividir os controladores externos em três tipos: se o risco de
não se mobilizar contra a corrupção for maior que três vezes a tentação (A > 3T), então
a sociedade passa pelos casos C1, C2, C3, C4, C7 e C8. Se o risco de não se mobilizar
estiver entre três vezes e o valor da tentação (3T > A > T), então essa sociedade ocupa
os casos C5, C6 ou C7. Caso a tentação para não se mobilizar seja maior que o risco (T
> A), então a sociedade estará nos casos C5 ou C6. Outra forma de analisar essa
realidade é realizar uma transposição da relação tentação-risco, conforme a figura
abaixo, onde ela foi denotada de 0 (zero) a ∞ (infinito), no eixo das ordenadas.
𝑻
Figura 22. Transposição da Curva (𝑨)
36
Figura 23. Regras do Jogo da Corrupção
𝑆−𝑓𝑤−𝛽𝑧
(I) – 𝑥 = 𝑆+𝐹
37
𝐶−𝜑(1−𝑤)−𝛼𝑧
(II) – 𝑦 = 𝐶+𝑃
𝐼𝑦
(III) – (𝑥)(1 − 𝑦) = 𝐺
𝑇
(IV) – (𝑥)(1 − 𝑦) = 𝑇+𝐴
6.1.1. Formato
Pelas duas primeiras equações, observamos que existem quatro pontos, onde (x)
e (y) são mínimos e máximos. Eles são os vértices de uma figura quadrilátera, conforme
exposto na figura abaixo.
Vértice w z x y
𝑆−𝛽−𝑓 𝐶−𝛼
A 1 1 𝑥= 𝑦=
𝑆+𝐹 𝐶+𝑃
𝑆−𝑓 𝐶
B 1 0 𝑥= 𝑦=
𝑆+𝐹 𝐶+𝑃
𝑆−𝛽 𝐶−𝑝−𝛼
C 0 1 𝑥= 𝑦=
𝑆+𝐹 𝐶+𝑃
𝑆 𝐶−𝑝
D 0 0 𝑥= 𝑦=
𝑆+𝐹 𝐶+𝑃
No tabuleiro, teremos que o ponto (A) está mais à esquerda (𝑥𝑚𝑖𝑛 ); o ponto (B)
está mais para cima (𝑦𝑚𝑎𝑥 ); o ponto (C) está mais para baixo (𝑦𝑚𝑖𝑛 ); e o ponto (D) está
mais para a direita (𝑥𝑚𝑎𝑥 ). Podemos “desenhar” o quadrilátero a partir do ponto (D),
desenhando o vetor (w), que corresponde à aresta (𝐵𝐷 ̅̅̅̅) e desenhando o vetor (z) que
̅̅̅̅). Depois, invertem-se os vetores unindo os segmentos (𝐴𝐶
corresponde à aresta (𝐶𝐷 ̅̅̅̅ ) e
̅̅̅̅).
(𝐴𝐵
O formato do quadrilátero será, portanto, determinado pela elasticidade dos
vetores (w) e (z). As combinações entre eles nos dão nove “formatos notáveis”, que
podem ser divididos em cinco categorias, conforme a figura abaixo.
38
Figura 26. Formatos Notáveis
39
6.1.2. Tamanho
𝛼+𝑝 𝛽+𝑓 𝛼𝛽 + 𝛼𝑓 + 𝛽𝑝 + 𝑓𝑝
𝐴1 = Á𝑟𝑒𝑎 𝑑𝑜 𝑟𝑒𝑡â𝑛𝑔𝑢𝑙𝑜 𝑒𝑚 𝑣𝑜𝑙𝑡𝑎: ( )( )=
𝐶+𝑃 𝑆+𝐹 (𝑆 + 𝐹)(𝐶 + 𝑃)
𝑓 𝑝
2 (𝑆+𝐹) (𝐶+𝑃)
𝐴2 = Á𝑟𝑒𝑎 𝑑𝑜𝑠 𝑑𝑜𝑖𝑠 𝑡𝑟𝑖â𝑛𝑔𝑢𝑙𝑜𝑠 𝑓𝑜𝑟𝑚𝑎𝑑𝑜𝑠 𝑝𝑒𝑙𝑜 𝑣𝑒𝑡𝑜𝑟(𝑤) =
2
𝑓𝑝
=
(𝑆 + 𝐹)(𝐶 + 𝑃)
𝛽 𝛼
2( )( )
𝑆+𝐹 𝐶+𝑃
𝐴3 = Á𝑟𝑒𝑎 𝑑𝑜𝑠 𝑑𝑜𝑖𝑠 𝑡𝑟𝑖â𝑛𝑔𝑢𝑙𝑜𝑠 𝑓𝑜𝑟𝑚𝑎𝑑𝑜𝑠 𝑝𝑒𝑙𝑜 𝑣𝑒𝑡𝑜𝑟 (𝑧) =
2
𝛼𝛽
=
(𝑆 + 𝐹)(𝐶 + 𝑃)
𝛼𝛽+𝛼𝑓+𝛽𝑝+𝑓𝑝−𝛼𝛽−𝑓𝑝 𝜶𝒇+𝜷𝒑
Á𝑟𝑒𝑎 𝑑𝑜 𝑄𝑢𝑎𝑑𝑟𝑖𝑙á𝑡𝑒𝑟𝑜 = 𝐴1 − 𝐴2 − 𝐴3 = (𝑆+𝐹)(𝐶+𝑃)
= (𝑺+𝑭)(𝑪+𝑷)
40
6.1.3. Posição
𝐼𝑦 𝑇
(𝑥)(1 − 𝑦) = =
𝐺 𝑇+𝐴
𝑮𝑻
𝒚=
𝑰(𝑻 + 𝑨)
𝐼(𝑇 + 𝐴) − 𝐺𝑇
1−𝑦 =
𝐼(𝑇 + 𝐴)
(𝑥)((𝐼(𝑇 + 𝐴) − 𝐺𝑇)) 𝑇
=
𝐼(𝑇 + 𝐴) (𝑇 + 𝐴)
𝑰𝑻
𝒙=
𝑰(𝑻 + 𝑨) − 𝑮𝑻
Podemos perceber que o ponto exato que uma sociedade ocupa é a interseção, no
𝐼 𝑇 𝐼
tabuleiro, entre as curvas (𝐺) e (𝐴), conforme a figura abaixo, onde a curva (𝐺) está em
𝑇
cor cara e a curva (𝐴), em cor escura.
41
𝑰 𝑻
Figura 28. Interseção das curvas (𝑮) e (𝑨)
𝐺𝑇
𝑦=
𝐼(𝑇 + 𝐴)
𝐺𝑇
1>
𝐼(𝑇 + 𝐴)
𝐼 𝑇
>
𝐺 𝑇+𝐴
𝐼𝑇
𝑥=
𝐼(𝑇 + 𝐴) − 𝐺𝑇
𝐼𝑇
1>
𝐼(𝑇 + 𝐴) − 𝐺𝑇
𝐼𝑇 + 𝐴𝐼 − 𝐺𝑇 > 𝐼𝑇
𝐴𝐼 > 𝐺𝑇
𝐼 𝑇
>
𝐺 𝐴
Encontramos duas regras veladas, que, no entanto são absolutas, isto é, sempre
serão verdadeiras no Jogo da Corrupção. A primeira é de que a relação risco-tentação
𝐼
do corruptor ativo (𝐺) é sempre maior do que a probabilidade que a corrupção de
42
𝑇
fato ocorra (𝑇+𝐴). Essa regra apenas reforça o que já havia sido concluído a partir dos
vetores (w) e (z). Portanto, a relação risco-tentação do corruptor ativo pode ser um bom
indicativo do limite de corrupção de fato em uma sociedade. A segunda regra é que a
𝑰
relação risco-tentação do corruptor ativo (𝑮) é sempre maior do que a relação
𝑻
tentação-risco do controlador externo(𝑨). Isso equivale a dizer que, em qualquer
ponto do Tabuleiro da Corrupção, os riscos para qualquer ator privado associados a
praticar a corrupção ativa, em relação aos ganhos, são maiores do que “os ganhos” de
não exercer o controle externo, em relação às perdas. Em outras palavras, qualquer ator
privado tem mais incentivos para exercer o controle externo do que para cometer a
corrupção ativa, caso contrário, a curvas não se intercederão.
Em outras palavras, para qualquer ator privado, na maior parte do gráfico, a
tentação para cometer corrupção ativa é maior do que o risco (G > I), e, ao mesmo
tempo, o risco de não exercer o controle externo é maior do que a tentação (A > T).
Caso o risco de cometer corrupção ativa seja maior que a tentação (I > G), então pode
ser que os riscos e tentações para não exercer a corrupção sejam iguais, maiores ou
menores que as tentações, mas essa sociedade inevitavelmente estará nas áreas C5, C6,
ou C7 do Tabuleiro, todas fora do “triângulo bom”. Ademais, inexiste a possibilidade de
que a tentação para cometer corrupção ativa seja maior que o risco (G > I) e, ao mesmo
tempo, a tentação para não exercer controle seja maior que o risco (T > A). Assim,
conclui-se que, na maior parte das vezes, os atores privados são “hipócritas” porque
“preferem” cometer a corrupção e se mobilizar contra ela (ou não cometê-la e não se
mobilizar). Caso eles “prefiram” não cometer a corrupção e se mobilizar contra ela,
então com certeza a probabilidade de investigação será menor do que a probabilidade do
crime (y < x), e haverá impunidade certa nessa sociedade.
A transposição de ambas as curvas nos permitem observar a relação entre os
𝐼
atores privados, onde a relação risco-tentação em se cometer corrupção ativa (𝐺) está
𝑇
no eixo das abscissas e a relação tentação-risco de não exercer o controle externo (𝐴),
no eixo das ordenadas. Os casos C1, C2 e C3 são equilíbrios bastante instáveis neste
jogo.
43
Em suma, pudemos observar que é possível encontrar os valores exatos de (x) e
(y) apenas através dos payoffs dos atores privados. Cotejados com as probabilidades de
ação (w) e (z), as duas equações nos permitiriam descobrir qual vértice do
quadrilátero está em qual oitavo do tabuleiro. Assim, pode-se saber os níveis de
corrupção em uma sociedade apenas através das tentações, riscos e probabilidades
de ação dos atores privados.
Todas essas informações podem ser especialmente úteis para alguém que não
esteja de fato “jogando” o Jogo da Corrupção, isto é, um observador externo. Podemos
considerar arquetipicamente a existência de um “quinto jogador”, como um investidor
estrangeiro, cuja função é comparar diferentes sociedades para se investir, tendo em
conta apenas o risco de que a corrupção ocorra.
7. O Quinto Jogador
𝑆−𝑓𝑤−𝛽𝑧 1 𝑺−𝑭
(x = ½) = 2 → 𝒇𝒘 + 𝜷𝒛 =
𝑆+𝐹 𝟐
𝐶−𝑝+𝑝𝑤−𝛼𝑧 1 𝑷−𝑪+𝟐𝒑
(y = ½) = 2 → 𝒑𝒘 − 𝜶𝒛 =
𝐶+𝑃 𝟐
(y = x) 𝑆−𝑓𝑤−𝛽𝑧
𝑆+𝐹
=
𝐶−𝑝+𝑝𝑤−𝛼𝑧
𝐶+𝑃
→ 𝑷𝑺 − 𝑪𝑭 + 𝒑(𝑺 + 𝑭) = (𝑺 + 𝑭)(𝒑𝒘 − 𝜶𝒛) + (𝑪 + 𝑷)(𝒇𝒘 + 𝜷𝒛)
(y = 1– x) 𝐹+𝑓𝑤+𝛽𝑧
𝑆+𝐹
=
𝐶−𝑝+𝑝𝑤−𝛼𝑧
𝐶+𝑃
→ (𝑪 + 𝑷)(𝒇𝒘 + 𝜷𝒛) + (𝑺 + 𝑭)(𝜶𝒛 − 𝒑𝒘) = 𝑪𝑺 − 𝑭𝑷 − 𝒑(𝑺 + 𝑭)
44
• Tipo 1: cruza nenhuma fronteira.
• Tipo 2: cruza uma fronteira.
• Tipo 3: cruza duas fronteiras.
• Tipo 4: cruza três fronteiras.
• Tipo 5: cruza quatro fronteiras.
• Tipo 6: cruza oito fronteiras.
Cada sociedade tem um “tabuleiro auxiliar”, onde foram colocadas, no eixo das
abscissas, a probabilidade de corrupção ativa (w) e, no eixo das ordenadas, a
probabilidade de controle externo (z). Todavia, ao invés de colocar essas probabilidades
como 0 (zero) e 1 (um), podemos estendê-las aos limites dos respectivos vetores.
Assim, estaremos “transpondo” a figura quadrilateral, alterando seu formato e sua
disposição. O vértice (A) passaria necessariamente para canto superior direito do
quadrado; o vértice (B) para o canto inferior direito; o (C) para o canto superior
esquerdo; e o (D) para o canto inferior esquerdo. Esse tabuleiro auxiliar facilita a
visualização da área que a sociedade ocupa em cada um dos oitavos do Tabuleiro
Original. Portanto, ele será “repartido” em tantas partes quantas a sociedade ocupar, que
pode ser uma, duas, três, quatro, cinco ou oito das oito. A figura abaixo mostra os
Tabuleiros Auxiliares das seis sociedades.
45
Figura 31. Tabuleiros Auxiliares
Para que uma sociedade não cruze nenhuma fronteira, ela deve ser relativamente
1
“pequena”, isto é, sua área total não pode ultrapassar 8 do total, ou 12,5% do Tabuleiro.
3 5
A sociedade tipo 2 ocupa no máximo ¼; a tipo 3, 8; a tipo 4; ½ e a tipo 5, 8. Note-se
que a sociedade tipo 5 deve necessariamente ter um dos vetores mais intenso que o
outro. A Sociedade Tipo 6 pode ser “pequena” ou “grande”, sua característica principal
é que ela ocupa o ponto (E), que cruza todas as fronteiras, em algum lugar no meio do
seu “tabuleiro auxiliar”. Observe-se, ademais, que os pontos em que as sociedades
cruzam as fronteiras podem coincidir com seus pontos (A, B, C, D) e até mesmo uma
das arestas do quadrilátero pode coincidir com uma das fronteiras do Tabuleiro
Original.
De forma resumida, o Tabuleiro Auxiliar nos permite observar a área e a
posição de um quadrilátero, ignorando o seu formato, isto é, a inclinação dos eixos
(w) e (z). Vamos, agora, dar um exemplo um pouco mais prático de como os resultados
do modelo até agora podem ser utilizados para comparar sociedades, ainda que
tenhamos dados incompletos sobre elas.
46
seu “papel principal” é investigar os corruptores passivos) e nem pelo controle externo
(uma vez que não são eleitos nem criticados pela população). Portanto, na sociedade
que chamamos “democrática”, ambos os vetores (w) e (z) são muito intensos e
inelásticos. Se retomarmos a classificação que fizemos acerca dos formatos de
sociedades, no capítulo anterior, trata-se de um losango bem fino e “em pé” (formato 2).
A outra sociedade será chamada de “autocrática”, mas apenas porque o formato
se diferencia da “democrática”. Nela, ambos os vetores são muito intensos e elásticos,
indicando que tanto os corruptores ativos quanto os controladores externos afetam
muito os controladores internos e pouco os corruptores passivos. Podemos imaginá-la
como uma sociedade de partido único e sem eleições. Nesse caso, a população não
exerce o papel de controlador externo e, sim, a opinião pública internacional. Quando
eles fazem uma crítica à corrupção, ela é tomada como uma crítica ao regime em si e
por isso afeta negativamente o partido, que é o controlador interno. Ademais, por
inexistirem órgãos permeáveis como um parlamento e o instituto do foro privilegiado,
os dirigentes do partido também estão mais suscetíveis à influência de corruptores
ativos (os quais são investigados por eles) do que outros burocratas. Ressalte-se, mais
uma vez, que os termos “democrática” e “autocrática” foram utilizados meramente com
fins didáticos, pois não se pretende neste projeto definir o que é a democracia.
Apesar de sabermos o tamanho e o formato das duas sociedades, não temos
informações precisas sobre a sua posição. Na sociedade democrática, como ambos os
eixos são verticais e extensos, está implícito que a relação tentação-risco dos
𝐶
corruptores passivos (𝑃) para cometeram corrupção é alta, pois a sociedade ocupa um
grande espaço no eixo (y). Dessa forma, a “sensação de impunidade” dessa sociedade é
necessariamente alta. Contudo, não podemos afirmar nada com certeza sobre a razão
𝑆
tentação-risco do controlador interno (𝐹), de modo que essa sociedade pode apresentar
diferentes posições no eixo (x).
A figura abaixo mostra duas possibilidades extremas de posição da sociedade
democrática, uma delas onde a probabilidade de corrupção (x) é baixa e a outra, alta.
Podemos afirmar com certeza que essa sociedade cruza três das quatro grandes
fronteiras do Tabuleiro e ela pode ou não cruzar a fronteira (x = ½).
47
Isso significa que essa sociedade pode estar quase inteiramente posicionada no
triângulo “bom” ou completamente fora dele. Portanto, se estiver na posição “certa”, ela
pode ser a melhor sociedade dentre as duas para se “investir”; mas se estiver na posição
“errada”, será a pior delas. Já a sociedade que chamamos “autocrática” é um losango
“deitado”, e não “em pé”.
Essa sociedade também cruza necessariamente pelo menos três fronteiras no
Tabuleiro. Pelo seu formato, está implícito que a tentação dos controladores internos
𝑆
para não investigar a corrupção (𝐹) é muito maior do que o risco, de modo que ela
𝐶
ocupa quase todo o espaço no eixo (x). Portanto, a relação (𝑃) vai determinar a posição
da sociedade no eixo (y), que pode ir de um caso extremo ao outro, conforme
apresentado pela figura abaixo.
49
2012, ocorre a maior operação anticorrupção da história do país. Conhecida como a
“Campanha dos Tigres e Moscas”, ela objetiva investigar e punir todas as formas de
corrupção, das de menor às de maior escalão. No Brasil, também ocorre, desde 2014, a
maior operação anticorrupção da história do país, a Lava Jato, que se iniciou como uma
investigação policial e tomou proporções gigantescas na sociedade brasileira. Ambas as
operações têm em comum o fato de que indiciaram, investigaram e efetivamente
puniram dezenas de políticos importantes dos dois países e polarizaram a opinião
pública, que se divide entre elogios e críticas (à parcialidade das investigações e à
desobediência ao devido processo legal, nos dois casos).
Apesar das semelhanças, existem importantes diferenças entre as duas
operações. A Campanha Tigres e Moscas foi lançada pelo próprio presidente Xi
Jinping, está associada a seu marketing pessoal e é encabeçada, desde 2012, por um
órgão diretamente ligado ao Partido Comunista Chinês, podendo ser classificada como
top-down e de caráter político. A sociedade e a mídia chinesas tiveram pouca
participação no processo, e o partido acabou se fortalecendo. No Brasil, a Operação
Lava Jato ganhou impulso com uma ampla mobilização social a partir de 2013, e
tornou-se um dos assuntos mais cobertos pela mídia do país. A investigação é
direcionada especialmente a grandes políticos e esquemas de lavagem de dinheiro, e é
levada a cabo pela força tarefa que envolve a Polícia Federal, o Judiciário e o Ministério
Público, que são instâncias autônomas, no sentido de não responderem diretamente à
população nem ao Governo. Ao contrário da China, o partido que estava no poder no
momento em que a operação se iniciou acabou sendo prejudicado pelos seus
desdobramentos.
É de se pensar que, apesar das diferenças, as operações anticorrupção nos dois
países teriam aumentado as chances de que a corrupção fosse investigada (y) e, com
isso, diminuído as chances de que a corrupção ocorresse. Contudo, se observarmos o
índice de Percepção da Corrupção, publicado anualmente pela Transparência
Internacional para centenas de países, podemos verificar que não foi isso que ocorreu. O
índice relaciona pesquisas de opinião com milhares de agentes públicos e atores
privados e estabelece um ranking anual de países, conforme a percepção da própria
população sobre a corrupção. Desde a década de noventa, quando o ranking teve início,
Brasil e China têm, ambos, se posicionado medianos, embora o Brasil tenha,
historicamente, se posicionado um pouco acima da China (em termos rudimentares,
podemos dizer que, segundo o índice, o Brasil é tradicionalmente um pouco “menos
corrupto” do que a China). Essa situação mudou drasticamente desde 2012, quando as
operações começaram. A figura abaixo demonstra as posições relativas dos dois países
no ranking entre 2012 e 2017.
50
Como se pode perceber, desde o início das operações anticorrupção, ela
diminuiu na China e aumentou no Brasil. Após o início da Tigres e Moscas, a China
apresentou uma leve queda, mas tem apresentado uma subida estável desde então. Já o
Brasil, mesmo com alguma variação, tem apresentado queda significativa desde as
grandes manifestações de rua de 2013 e operação Lava Jato. Por que duas grandes
operações contra a corrupção podem levar a resultados tão diferentes em dois países? A
explicação, dentro do modelo apresentado neste projeto, é que Brasil e China têm
formatos, tamanhos e posições diferentes no Tabuleiro, relativos à relação entre
Estado e Sociedade nos dois países. Essa explicação não difere em nada de dizer que
são as distinções culturais ou institucionais dos países que explicam os comportamentos
diferentes, mas trata-se de uma forma matemática de abordar o fenômeno. Poderíamos
supor que o Brasil fosse, no exemplo ilustrativo acima, a “sociedade democrática” e a
China, a “sociedade autocrática”, para fins de exemplificação. Dessa forma, a própria
participação da sociedade no processo de combate à corrupção no Brasil pode ser um
fator que tenha contribuído para o aumento da percepção da corrupção no país.
O capítulo seguinte busca compilar os principais desdobramentos éticos do
modelo apresentado neste projeto.
8. Implicações Éticas
51
dessa conclusão é de que existe um trade-off entre a sensação de impunidade de a
impunidade real.
Nesse sentido, foi considerado também que inexiste possibilidade das ordens de
preferência dos jogadores serem obtidas no “tabuleiro”, de modo que é preciso fazer um
trade-off entre (Q1 – Q4) e entre (Q2 – Q3). Em outras palavras, significa que, no jogo
da corrupção, deve-se trocar simultaneamente, a probabilidade de investigar
pessoas inocentes pela probabilidade de não investigar pessoas culpadas; e a
probabilidade de investigar pessoas culpadas pela probabilidade de não investigar
pessoas inocentes. Ademais, pela transitividade de preferências dos jogadores, afirma-
se que nenhum deles prefere Q2 a Q3.
Foi chamada de triângulo “bom” do tabuleiro a chance de que (1 – x > y > x).
Ou seja, idealmente, a probabilidade de que um agente público não seja corrupto deve
ser maior do que a probabilidade de ele ser investigado, que deve ser maior que a
probabilidade de ele ser corrupto. Quanto menor o valor de (x), maior a chance de ele
satisfazer essas condições. Ressalte-se que, para (y = ½), qualquer (x < ½) satisfaz as
condições, o que nos permite concluir que a “melhor” sociedade possível é aquela em
que os riscos e tentações para agentes públicos serem corruptos são iguais (C = P),
e os riscos dos controladores para não investigar a corrupção superam as tentações
(F > S).
Em seguida, acrescentamos o primeiro ator privado ao Jogo da Corrupção, que
pode exercer a corrupção ativa ou não. Definimos que ele tem um duplo risco, pois pode
ser punido, caso seja corrupto, sendo o corruptor passivo corrupto ou não. Ademais, ele
retira utilidade do agente público corrupto quando decide não ser corrupto, e retira
utilidade do agente público controlador quando é corrupto. Nesses moldes, forma-se um
vetor (w) em que a prática da corrupção ativa diminui a prática da corrupção
passiva e aumenta o exercício do controle interno. Essa é uma das consequências
éticas mais contra-intuitivas do Jogo, pois vai ao encontro das teorias apresentadas no
capítulo 1, que afirmam haver, na relação dos corruptores ativos, incentivos para
corrupção sistêmica e perpétua. Com o vetor (w) podemos analisar a influência do
ator privado sobre os agentes públicos através de sua elasticidade, intensidade e
posição.
Ademais, a probabilidade de ação do corruptor ativo (w) é inversamente
proporcional ao seu poder de influência sobre os controladores internos; e
diretamente proporcional ao seu poder de influência sobre os corruptores passivos.
A relação entre riscos e tentações dos atores privados, ao contrário de seus vetores, não
são variáveis autônomas, e estão relacionadas a pares de (x) e (y).
Em seguida, analisamos a relação do ator privado na condição de controlador
externo. Nesse caso, ele tem uma tripla tentação para não exercer o controle quando a
corrupção não ocorre. Os agentes públicos, corruptor e controlador, perdem utilidade
quando o controlador externo exerce o seu poder e eles são corruptos ou não
investigam, respectivamente. Nessas condições, existe um eixo (z), que move uma
sociedade na direção (Q2 Q3), ou seja, o controle externo ambivalente diminui as
chances de que os agentes púbicos sejam corruptos, mas também as chances de que
52
eles sejam investigados. Para diminuir a corrupção (x) mais do que o controle (y), seria
necessário que o controle externo afetasse com mais intensidade os controladores
internos do que os corruptores passivos.
A única diferença significativa, além de suas direções, entre os vetores (w) e (z)
é que, ao contrário da probabilidade de ação dos corruptores ativos, a probabilidade de
controle externo (z) é inversamente proporcional ao seu poder de pressão sobre
ambos os jogadores essenciais. Dessa forma, ainda que um vetor (z) seja muito intenso
e tenha um “tamanho” grande no gráfico, a sociedade pode eventualmente permanecer
no ponto onde (z = 0). A união dos dois eixos no gráfico forma uma figura quadrilátera
que representa todas as possibilidades de combinações de probabilidades de ações dos
quatro jogadores. O formato do quadrilátero depende da elasticidade dos vetores, o
tamanho, da intensidade, e a posição, das relações tentação-risco dos jogadores
essenciais.
Outra abordagem é que, para alguém que esteja interessado tão somente na
probabilidade de ocorrência da corrupção, o formato do quadrilátero é
irrelevante. Diferenças de formato e tamanho, por si só, não garantem a ocorrência
mais baixa do fenômeno, de modo que não se pode afirmar, com base nos pressupostos
do jogo, que uma sociedade democrática é menos ou mais corrupta que uma sociedade
não democrática, baseado apenas nessas informações. Para tanto, foi imaginada a figura
de um “quinto jogador”, representado por um investidor estrangeiro, e um tabuleiro
auxiliar, que “deforma” uma sociedade para facilitar a visualização da sua área e
posição.
Por fim, observa-se que, apesar de não se afetarem de maneira direta, existe uma
relação tácita entre os dois atores privados no jogo na corrupção. Dessa relação,
podemos tirar três regras. A primeira é que a probabilidade de que a corrupção de fato
ocorra é diretamente proporcional à relação tentação-risco para controladores externos.
Quanto mais um cidadão “perde” quando a corrupção acontece (risco de não se
mobilizar), menos ela acontece. A segunda é que a relação risco-tentação do corruptor
ativo será sempre maior do que a corrupção. Quanto maior for o risco (“punição”)
para corruptores ativos, maiores serão as chances de corrupção. Destarte, o mesmo
trade-off entre sensação de impunidade e real impunidade pode ser observado nos
jogadores auxiliares.
A terceira conclusão é que existem fortes incentivos para uma espécie de
“hipocrisia natural” dos atores privados, pois na maior parte do tabuleiro eles têm
incentivos ou para praticar ambas as coisas (corrupção ativa e controle externo) ou
nenhuma delas. Os casos que representam exceções a essa regra são necessariamente
casos onde (Q4 > Q1). Uma vez que as relações tentação-risco desses jogadores não são
variáveis autônomas, para qualquer ponto do tabuleiro existe uma única relação entre
esses payoffs e o controlador externo apresenta uma “tentação tripla”, enquanto o
corruptor ativo apresenta um “risco em dobro”.
Após as referências, serão apresentados três anexos que buscam incluir novos
elementos para o Jogo da Corrupção, quais sejam: i) a possibilidade de que os
controladores internos também sejam corruptos; ii) uma sutil diferença entre o poder de
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disciplina e de polícia da administração pública; e iii) o papel da mídia ao denunciar a
corrupção. Esses anexos não trazem conclusões novas, apenas considerações adicionais
sobre as conclusões principais deste projeto.
Agradeço sinceramente a todos que leram o projeto até o fim.
Referências
Aigner, M. & Fromme, M (1984). A Game of Cops-And-Robbers. Math. Institut, Freie Universität
Berlin, Klinigin-Luke-Sk. 24-26, D-1000 Berlin 33.
Brasil, (2006). Decreto nº 5.687/06 (Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção – Mérida).
Dixit, A. and Skeath, S. (2004) Games of Strategy. W.W. Norton ISBN 0393924998,
978039324992
Lianju, Sun & Luyan, Peng (2011). Game Theory Analysis of the Bribery Behavior. International
Journal of Business and Social Science Vol. 2 No. 8; May 2011 104
Shepsle, Kenneth (2010). Analyzing Politics: rationality, behavior and institutions. Editora
Paperback.
Silva, Marcos F. (1999). The Political Economy of Corruption Brazil. RAE - Revista de
Administração de Empresas • Jul./Set. 1999 São Paulo, v. 39 • n. 3 • p. 26-41.
54
Wikipedia. Anti Corruption Campaign Under Xi Jiping. https://en.wikipedia.org/wiki/Anti-
corruption_campaign_under_Xi_Jinping
Poder
Controle Cidadão
Externo Poder da
Sociedade
Corrupção Mídia
Ativa
Corrupção
Passiva Poder
Estado
Controle Dsiciplinar
Interno Poder de
Polícia
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1 Corrup Control –P 0 Sim 0
2 Corrup Não C –F Não Sim
3 Corrup Corrup C C Não Não
4 Não Control 0 0 Não Sim
5 Não Não 0 S Sim Não
6 Não Corrup 0 S–p Sim 0
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pressão sobre os agentes públicos corruptos (𝜶) ultrapasse a tentação para que
eles sejam corruptos (C).
𝑆 𝐼 𝑇1 − 𝑇2 − 𝑤(𝑇2 + 𝑅2)
𝑥= =| |=
𝑆+𝐹 𝐺 𝑇1 + 𝑅1
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𝑞(𝐶−𝑃)+𝑝(1−𝑤) 𝐶−𝑦(𝐴−𝐶)+𝑝(1−𝑤)
𝑦= 𝑞 =
𝐴+𝐶(1−𝑞) 𝑃+𝐶(1−𝑦)
Dessa forma, percebemos que existe uma relação dupla de caça-e-fuga entre os
corruptores ativos e controladores disciplinares e policiais, e uma relação de caça-e-fuga
simples entre corruptores ativos e controladores policiais. A probabilidade de corrupção
𝑆 𝐼
passiva (x) continuaria sendo diretamente proporcional a (𝐹) e a (𝐺), mas também seria
𝑇1
diretamente proporcional a (𝑅1) e inversamente proporcional a (w) e a ambos (T2 e
R2), concluindo-se que as tentações e riscos adicionais das investigações policiais
podem contribuir para o movimento para a esquerda do vetor (w). Ademais, percebe-se
que tanto a probabilidade de exercício do poder de polícia (q) quanto do poder
disciplinar (y) são influenciadas por (w), ainda que o poder disciplinar não afete os
corruptores ativos. Portanto, o vetor (w) teria efeitos nas investigações disciplinares
e policiais. De maneira geral, as conclusões principais do modelo não se alteram.
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𝑆 − 𝛽𝑝
𝑥=
𝑆+𝐹
𝐶 − 𝛼𝑝
𝑦=
𝐶+𝑃
𝑅
𝑝= (> 1)
𝑅−𝐷
O vetor (p) tem a mesma direção que o vetor (z). Porém, nesse caso, o jornalista
não estabelece relação de caça-e-fuga com nenhum jogador, e sua probabilidade de ação
(p) é maior que 1 (um), indicando que ele está em equilíbrio em estratégia pura. Assim,
o controlador externo que obedece a essa ordem de preferências sempre terá incentivos
para denunciá-la, independentemente dos riscos e tentações. Contudo, uma vez que o
jogo está em relação de caça-e-fuga, a equação acima mostra que podemos relacionar a
probabilidade de ação da mídia aos próprios payoffs. Se a sua tentação para denunciar a
corrupção (D) for maior do que seus riscos, a “probabilidade de equilíbrio” de que ele
denuncie “aumentará”, e vice-versa. Destarte, com menos riscos para exercer o controle
externo, uma mídia mais livre para denunciar e criticar agentes públicos
intensificaria o vetor (z), analisado no modelo.
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