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CONTROLE MOTOR: POSTURA E MOVIMENTO

Elielma Costa de Andrade;


elielma_jp@yahoo.com.br

Dayse Costa Urtiga;


daysecostaurtiga@yahoo.com.br

Fabíola Mariana Rolim de Lima.


fabiolafisiot@ig.com.br

RESUMO

O desenvolvimento motor é uma contínua alteração no comportamento ao longo da vida que


acontece por meio das necessidades de tarefas, da biologia do indivíduo e do ambiente em que
vive. Ele é viabilizado tanto pelo processo evolutivo biológico quanto pelo social. Desta forma,
considera-se que uma evolução neural proporciona uma evolução ou integração sensório-motora
que acontece por meio do sistema nervoso central (SNC) em operações cada vez mais
complexas. As habilidades motoras são desenvolvidas a partir da interação e exploração do
ambiente, ou seja, a prática e a experiência são importantes variáveis na definição do
aprendizado motor e no desenvolvimento das habilidades motoras. Esta pesquisa tem por
objetivos, investigar, a partir da pesquisa bibliográfica, e informar aos profissionais da área de
saúde, principalmente os fisioterapeutas neurológicos, sobre alguns aspectos do controle motor,
que se apresenta muitas vezes comprometido em indivíduos com patologias que envolvem o
sistema nervoso central, o que lhes traz uma grande dificuldade durante a mobilidade nas
atividades do cotidiano. Foi realizada uma pesquisa bibliográfica, do tipo exploratória,
apresentando como método de abordagem o dedutivo, e como técnica de pesquisa a
documentação indireta. É necessário compreender o funcionamento neurofisiológico do
desenvolvimento motor, a fim de fornecer bases teóricas para a elaboração de um plano de
tratamento que considere as fases de desenvolvimento neural da criança e de reestruturação
neural em indivíduos que apresentam patologias neurológicas, maximizando assim o
aprendizado e melhorando o bem estar e a qualidade de vida dos mesmos.

PALAVRAS-CHAVE: Controle Motor.Aprendzagem. Qualidade de vida.

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INTRODUÇÃO

As áreas correlacionadas ao controle motor têm origem bem antiga, ou seja, na


biomecânica e na neurofisiologia, porém a área de estudo do controle motor humano é bem
recente, datando de pouco mais de cem anos. O comportamento motor evolui a partir de um
complexo conjunto de processos neurológicos e mecânicos, os quais determinam a natureza dos
movimentos.
Alguns movimentos são geneticamente predeterminados e se tornam aparentes através
dos processos de crescimento e desenvolvimento normais. Há os padrões reflexos que
predominam durante grande parte do início de nossas vidas.

CONTROLE MOTOR

É o nome dado às funções da mente e do corpo, as quais se unem para governar a postura
e o movimento, ou seja, estuda como os movimentos são produzidos e controlados, em diferentes
níveis pelo sistema nervoso central na interação com o sistema osteomuscular.
O Ser Humano planeja e controla suas ações, assim como o SNC produz respostas e
padrões motores coordenados, através de duas vertentes, a periférica e a centralista.
Para desempenhar com sucesso a grande variedade de habilidades motoras que utilizamos
em nossa vida diária, precisamos coordenar o funcionamento conjunto de vários músculos e
articulações. O desempenho de habilidades motoras tem outra característica geral importante,
além da coordenação do corpo e dos membros.
A maioria das teorias que tentam explicar como o sistema nervoso controla o movimento
coordenado, incorpora dois sistemas básicos de controle, um circuito aberto e outro fechado, os
quais são baseados em modelos de controle de engenharia mecânica, que além de fornecer uma
descrição do processo de controle do movimento humano complexo, e descrevem também as
diferentes formas utilizadas pelo Sistema Nervoso Central para iniciar e controlar uma ação.

SISTEMA DE CONTROLE MOTOR EM ALÇA FECHADA

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O controle motor está intimamente relacionado com as funções sensorial, perceptiva e
motora. A função sensorial é um componente crítico do controle motor, pois este proporciona o
feedback necessário usado na monitoração do desempenho. O sistema de controle motor pode ser
em alça fechada, também chamada de servomecanismo ou ainda servoalça, ou seja, ‘’um sistema
de controle empregando o feedback, uma referência de correção, computação do erro e
subseqüente correção, para a manutenção de um desejado estado do ambiente’’ (SCHIMIDT,
1982). Os olhos, as orelhas, o aparelho vestibular, os músculos, os proprioceptores tendíneos e
articulares, assim como os receptores de tato são fontes de feedback empregadas na monitoração
do movimento.
A função precípua do sistema de controle motor em alça fechada é a monitoração dos
estados constantes, como a postura e o equilíbrio, e o controle de movimentos lentos, ou
movimentos que exigem alto grau de precisão. A informação do feedback é também essencial
para o aprendizado de novas tarefas motoras.

SISTEMA DE CONTROLE MOTOR EM ALÇA ABERTA

Há também um sistema de controle motor em alça aberta, onde o controle se origina


centralmente de um programa motor, ou conjunto de instruções programadas para o movimento
coordenado, que atuam independentemente dos processos de informação do feedback e
processos de detecção de erros. Tem como função precípua o controle das seqüências de
movimentos rápidos, balísticos, e das ações estereotipadas, como as observadas na marcha.
A função motora perceptiva se define por ser a seleção, integração e interpretação dos
estímulos sensoriais do corpo e do ambiente ao redor. Sendo crítico para o desempenho motor, o
aprendizado motor é essencial para uma boa interação com o ambiente.
A função motora é de grande importância para o controle motor, pois esta busca
identificar a tensão de repouso e a reatividade dos músculos ao alongamento passivo, a partir de
uma avaliação do tônus muscular, que por sua vez é o grau de tensão fisiológica em uma
musculatura normal.
O tônus pode ser categorizado como hipertônico, ou seja, aumentado e acima dos níveis
normais em repouso, e hipotônico, ou seja, reduzido e abaixo dos níveis normais em repouso.
Podendo ser influenciado pela posição e interação dos reflexos tônicos, pelo estresse e ansiedade,

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pelo esforço causado por um movimento voluntário, por medicamentos ou ainda pelo estado do
Sistema Nervoso Central.
As teorias que descrevem o controle do movimento coordenado diferem de acordo com
os aspectos centrais e ambientais de um sistema de controle, essas teorias fornecem as bases para
compreendermos como controlar as habilidades motoras complexas. A propriocepção e a visão
são elementos importantes nas teorias do controle motor.

EXPLICAÇÃO NEUROFISIOLÓGICA

A realização de uma habilidade motora exige que o Sistema Nervoso Central controle as
características espaciais, temporais e quantitativas, transformando uma intenção abstrata em
atividade muscular adaptada à situação.
Quando um indivíduo interpreta uma situação e elabora uma intenção, ativa os centros
como o córtex associativo frontal e parietal, gânglios da base e cerebelo envolvidos nos
programas motores, até os núcleos motores que ativarão os grupos musculares para a realizar o
gesto adaptado.

CONTROLE MOTOR PELO CÓRTEX CEREBRAL

O córtex motor está localizado no giro pré-central e corresponde à área quatro de


Brodmann, contém uma população característica de células gigantes (50 a 80 mm de diâmetro)
em forma de pirâmides, conhecidas como células piramidais ou células de Betz, em homenagem
ao seu descobridor. As células piramidais do córtex motor fornecem um canal direto do cérebro
para os neurônios do corno ventral da medula, os motoneurônios.

SISTEMA PIRAMIDAL

O sistema piramidal, via ou trato piramidal ou ainda trato córtico-espinhal, como é


freqüentemente denominado, fornece uma via motora direta entre o córtex, o tronco cerebral e a
medula espinhal. O feixe de fibras desse sistema recebe o nome piramidal porque ele percorre,
ao nível do bulbo, uma estrutura denominada pirâmide. As fibras piramidais descendentes do

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bulbo formam os tratos córtico-espinhais e descem pelo funículo lateral na substância branca da
medula.

Ao nível do bulbo, cerca de 80% das fibras da via piramidal cruzam para o outro lado do
tronco encefálico (na decussação das pirâmides) e descem no quadrante póstero-lateral da
medula (trato córtico-espinhal lateral). Um número menor de fibras que não cruzam no bulbo
(trato córtico-espinhal anterior) desce no quadrante ântero-lateral da medula, mas essas fibras
não chegam a alcançar a medula lombar, terminando nos diversos níveis segmentares mais altos,
quando então cruzam para o lado oposto.

CONTROLE MOTOR PELO CEREBELO

Os hemisférios cerebelares (ou córtex cerebelar) e o vermis projetam-se para os núcleos


cerebelares profundos que servem como plataforma para as fibras que chegam e para as que
saem do cerebelo.

O córtex cerebelar está disposto em forma de folhas transversais e é subdividido em três


camadas denominadas, a partir da superfície externa, de molecular, células de Purkinje e
granular. As camadas molecular e granular recebem seus nomes em função do aspecto
pontilhado e granuloso, respectivamente, que apresentam em seu corte.

Na execução de um movimento, o cerebelo participa organizando-o e atualizando-o,


baseando-se na análise das informações sensoriais que dão conta da posição e velocidade dos
membros a cada instante. Essa operação constitui um planejamento de curto prazo que se
sobrepõe ao planejamento de longo prazo efetuado pelo córtex cerebral. Isso explica porque na
aprendizagem de um movimento o realizamos inicialmente de forma vagarosa com intensa
concentração mental. Com a prática e o conseqüente aprendizado motor, aumenta a quantidade
de movimentos pré-programados, resultando em uma maior facilidade e rapidez na execução dos
mesmos.

O CÉREBRO EMOTIVO (SISTEMA LÍMBICO)

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Na face medial de cada hemisfério cerebral observa-se um anel cortical contínuo
constituído pelo giro do cíngulo, giro para-hipocampal, e hipocampo. Este anel constitui o lobo
límbico.

O sistema límbico pode ser conceituado como um sistema relacionado com a regulação
dos processos emocionais e do sistema nervoso autônomo constituído pelo lobo límbico e pelas
estruturas subcorticais a ele relacionadas. As estruturas componentes corticai são: Giro do
cíngulo, giro para-hipocampal e hipocampo. E as estruturas componentes subcorticais são: Corpo
amigdalóide, área septal, núcleos mamilares, núcleos anteriores do tálamo, núcleos habenulares .

MODELOS PARA O CONTROLE MOTOR

* Modelo Reflexo – Este tem suas origens no modelo de Sherrington. Apresenta uma
visão perifericalista, na qual o controle motor vem das partes periféricas do sistema nervoso, ou
seja, ele supõe que os impulsos sensoriais aferentes são pré-requisitos necessários para a
produção motora eferente – para a execução do movimento voluntário, todo trajeto sensorial da
periferia para o centro deve estar funcionando. No modelo reflexo a meta do sistema nervoso é
controlar a ativação muscular. Os impulsos sensoriais controlam o rendimento motor; o
movimento é a soma dos reflexos; as sensações são necessárias para o movimento, porém
experiências mostram que animais com perdas dos impulsos aferentes demonstram ter
movimentos coordenados.
*Modelo Hierárquico – Em 1932, o neurologista Dr. Humglings Jackson, foi o primeiro
articulador deste modelo, que representa-o de cima para baixo do controle motor. Este modelo
defende uma visão centralista, onde os centros superiores contêm todas as informações
necessárias para o movimento podendo ou não usar o Feedback interno ou externo para regular o
movimento. Não há comunicação entre os níveis, eles funcionam como subordinados,
executando comandos gerados pelos centros superiores; há a separação de atos voluntários e
reflexos.
*Modelo de Sistemas – Processado por Nicole Bernistein, em 1932. De acordo com o
mesmo, os movimentos não são perifericamente ou centralmente dirigidos, emergem como um
resultado de uma interação entre muitos sistemas, cada um contribuindo para aspectos diferentes
de controle motor.

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Os movimentos normais são coordenados não por causa de padrões de ativação muscular
prescrito por trajetos sensoriais ou por programas centrais, mas devido a estratégias de ação que
emergem da interação dos sistemas. O termo sistemas é usado para descrever a relação entre
vários centros do cérebro e da medula espinhal trabalhando junto com uso de Feedback.
Uma vantagem clínica dos modelos de sistemas é que ele pode contribuir para a
flexibilidade e adaptabilidade do comportamento motor em uma variedade de condições
ambientais. Os sistemas interativos controlam o comportamento para alcançar os objetivos das
atividades; mecanismos adaptativos e antecipatórios e estratégias normais para limitar a
liberdade.

REFLEXOS E REAÇÕES

*Reflexos Tendinosos (de estiramento muscular)


A avaliação dos reflexos tendinosos (RT) se dá através da percussão direta do tendão
muscular, seja com as pontas dos dedos do terapeuta, seja com um martelo de reflexos. Reflexos
típicos examinados são: mandibular, biciptal, braquioradial do tríceps, patelar, dos ísquios tibiais
e do tornozelo. Como exemplo pode-se citar o reflexo patelar, onde o paciente deve estar sentado
com o joelho fletido e o pé apoiado. Percute-se o tendão do músculo quadríceps entre a patela e a
tuberosidade tibial, o que seria o estímulo. A resposta se dá, com a contração do músculo (o
joelho se estende), ocorrência normal.
*Reflexos Cutâneos Superficiais – São desencadeados por um estímulo irritante,
usualmente um ligeiro arranhão. Exemplo: reflexo cutâneo plantar, passa-se um alfinete grande
ou com a ponta do dedo, ao longo da parte lateral do pé, movendo o instrumento do calcanhar até
a base do dedo mínimo e em seguida atravessando a parte infero-dianteira do pé, o que seria o
estímulo. A resposta normal é a flexão plantar do hálux, algumas vezes os outros dedos com
ligeira inversão e flexão da porção distal do pé.
*Reflexos e Reações do Desenvolvimento (Reflexos Posturais) – O termo reação é
comumente empregado com referência aos reflexos que surgem nos primeiros dias e meses após
o nascimento permanecendo por toda vida.
*Reações de endireitamento - prestam-se para a manutenção da cabeça em sua postura
vertical normal (face vertical, boca horizontal) ou para a manutenção do alinhamento normal da
cabeça e tronco.

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*Reações de Equilíbrio - servem para a manutenção do equilíbrio em resposta a
alterações no centro de gravidade e/ou base de sustentação do corpo. As reações de equilíbrio
podem também ser testadas mediante a alteração da posição do paciente através de movimentos
voluntários, ou por deslocamento manual.

ESTÁGIOS DE CONTROLE MOTOR

Uma perspectiva evolutiva do desenvolvimento das habilidades fornece um enfoque


adequado para a avaliação do controle postural e dos movimentos. Os processos evolutivos
normais propiciam uma estrutura clínica útil para avaliação e tratamento dos pacientes com
deficiências no controle motor. Os estágios pertencentes são: mobilidade, estabilidade,
mobilidade controlada e habilidade.

Mobilidade: Consiste no estágio inicial do controle motor. Os movimentos de


mobilidade têm base reflexa, executando uma função protetora ampla para o recém-nascido.
Com o progresso do desenvolvimento, o controle passa no âmbito reflexo para o voluntário. Um
dos requisitos essenciais para esse estágio do controle motor é a capacidade de iniciar o
movimento, o que exige a ativação dos músculos. O segundo requisito é a capacidade de
movimenta-se em toda a amplitude, o que exige vigor adequado, amplitude der movimento e
flexibilidade.
Diversas atividades promotoras do desenvolvimento podem ser utilizadas na avaliação do
funcionamento da mobilidade. Exemplo: Padrões de retirada de braço ou perna, rolagem e
adoção da posição em pivô no decúbito ventral (extensão em decúbito ventral).

Estabilidade: Consiste no segundo estágio do controle motor. Estabilidade pode ser


definida como a capacidade de manter uma posição constante, em relação à gravidade. Também
conhecido como equilíbrio estático, ou reações posturais estáticas.
O desenvolvimento do controle motor da estabilidade pode ser fracionado em duas fases:
manutenção tônica e contração. Manutenção tônica é definida como a ativação dos músculos
posturais à nível de encurtamento máximo. Concontração refere-se à contração simultânea de
músculos, tanto de agonistas como antagonistas; funciona a nível ótimo na sustentação do corpo
em posturas em que há sustentação de peso. A adoção de posturas em há sustentação do peso

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também ativa os receptores articulares, o que aumenta a facilitação dos músculos estabilizadores
em torno das articulações. Os critérios para um adequado controle da estabilidade são:
capacidade de manutenção da postura, sem apoio; a capacidade de sustentação da postura por um
período adequado e a capacidade de controle de postura, o que fica evidenciado por uma
quantidade mínima de oscilação postural.

Mobilidade controlada: O terceiro estágio do desenvolvimento do controle motor está


envolvido com a capacidade de mudar de posição e de assumir uma nova, enquanto é mantido o
controle postural. Muitos autores referem-se a este estágio como um controle postural dinâmico,
atingido através de padrões bem coordenados de movimentos e de alterações no tônus. Os testes
para a mobilidade controlada podem focalizar no controle dinâmico estático-dinâmico. Este é
definido como a capacidade de transferir o peso para um dos lados e de liberar o membro oposto
para atividades dinâmicas, não envolvendo a sustentação de peso.
Habilidade: O quarto e mais elevado nível de controle motor é denominado de
habilidade. Habilidade é um movimento coordenado evidenciado pela função motora distal
discreta superposta à estabilidade proximal. Exemplos de atividade a nível de habilidades são:
funções promotoras de mastigação, deglutição e fala; funções manuais de preensão e
manipulação; e locomoção .

APRENDIZAGEM MOTORA

A aprendizagem motora é uma mudança interna no domínio motor do indivíduo,


deduzida de uma melhora relativamente permanente em seu desempenho, como resultado da
prática. O estudo da aprendizagem motora está centrado nas modificações comportamentais
decorrentes de experiências motoras, procurando-se fazer inferências sobre processos internos
responsáveis por essas alterações.
Há três fases de aprendizado motor:
- A Fase cognitiva ou inicial, onde há um processo de erro, requer uma quantidade de
impulsos corticais;
- Fase Associativa ou intermediária, na qual há refinamento de controle motor através da
prática;

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- Fase Inicial ou autônoma, onde os movimentos se tornam refinados ou altamente
coordenados.
A Predominância dos mecanismos de processamento sensorial varia segundo o estágio do
aprendizado. No estágio inicial, a demonstração visual pode contribuir para a aprendizagem
geral. Durante o estágio intermediário, o movimento é concretizado através da concentração do
feedback. E no último estágio, ocorre o refinamento da tarefa motora mais automático e mais
cognitivo.
O Conhecimento de cada um desses fatores permite ao terapeuta a estruturação
apropriada do ambiente terapêutico e da interação entre seu paciente.

COORDENAÇÃO MOTORA

Chamamos de coordenação motora a integração articulada de diversas habilidades. A


coordenação motora é uma estrutura psicomotora básica, concretizada pela maturação motora e
neurológica da criança e desenvolvida através da sua estimulação psicomotora, englobando os
movimentos amplos, finos e a dissociação de movimentos.
A coordenação motora de um simples movimento de agarrar um objeto levantá-lo e
colocá-lo de volta a mesa pode representar um árduo trabalho do Sistema Nervoso Central. Faz-
se necessário, a participação de diferentes centros nervosos motores e sensoriais para a
organização de programas motores e para intervenção de diversas sensações oriundas dos
receptores sensoriais, articulares e cutâneos do membro requerido. As atividades necessárias para
a execução do movimento incluem ler as propriedades físicas do objeto, buscar antigas
referências sobre ele, mandar impulsos para os músculos aplicarem uma força determinada,
contrair os músculos, parar de contrair vagarosamente, soltar o objeto no momento certo para ele
não cair nem bater com muita força na mesa. Na criança, o êxito das atividades coordenativas em
cada uma de suas etapas varia conforme o nível de aprendizado e a evolução do seu
desenvolvimento motor.
A sinestesia corporal, ou seja, a noção do próprio corpo em relação ao ambiente está
diretamente ligada ao controle motor fino, o qual está entre as habilidades que requerem maior
atenção e concentração durante a execução, a precisão do movimento implicando em um
aumento da preparação para o movimento. Prejuízo na prontidão e fatores emocionais negativos
interferem na resposta prejudicando o grau de atenção do indivíduo. Considerando que a noção

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espacial, o controle óculo-motor e a consciência corporal têm papel importante na elaboração do
plano e na execução do movimento pelo Sistema Nervoso Central, a atenção pode influenciar no
controle motor por estar associada ao estado de vigília e ao feedback constante do gesto.
Próximo do primeiro ano de idade, como a criança já tem mais destreza e começa a andar,
ela passa a se interessar ainda mais por atividades com movimentos. Nessa faixa etária, ela
começa a tentar encaixar e empilhar objetos. Com dois anos, ela pode ser apresentada à
atividades como circular a mão, desenhar, amassar papéis, colagens com bolinhas de papel e
pintura a dedo, entre outras, auxiliam no desenvolvimento cognitivo e na coordenação motora
fina.
A partir dos 4 anos, atividades que envolvam algum tipo de raciocínio começam a
fascinar as crianças, enquanto as brincadeiras como pular corda, descer no escorregador, subir no
trepa-trepa do playground são benéficas à coordenação motora grossa. As habilidades de
coordenação motora e de equilíbrio devem ser avaliadas e desenvolvidas basicamente na
infância, pois a aprendizagem motora posterior vai necessitar destas habilidades básicas numa
fase adulta.
Na adolescência, idade compreendida entre os 10 até os 20 anos ou mais, o
comportamento motor esperado é caracterizado pela fase de habilidades motoras especializadas.
Depois que crianças alcançam o estágio maduro de um padrão motor fundamental, poucas
alterações ocorrem. As mudanças ocorrem na precisão, na exatidão e no controle motor, porém
não no padrão motor. O início da adolescência é marcado pela transição e a combinação dos
padrões motores maduros. Nesta fase as crianças começam a enfatizar a precisão e a habilidade
de desempenho em jogos e movimentos relacionados aos esportes. A habilidade e a competência
são limitadas. A segunda fase da adolescência é marcada pela autoconsciência dos recursos
físicos e pessoais e suas limitações, e por isso concentra-se em determinados esportes. A ênfase
está na melhora da competência.

COORDENAÇÃO MOTORA GLOBAL OUGROSSA

A coordenação motora grossa é aquela caracterizada por envolver a grande musculatura


do corpo, como base principal do movimento, ou seja, que utiliza os músculos para movimentos
que exigem força, por exemplo, subir degraus.

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COORDENAÇÃO MOTORA FINA

Já a coordenação motora fina caracteriza-se por envolver e controlar musculatura


pequena do corpo a fim de garantir a execução bem sucedida e elevada em termos de precisão,
ou seja, se refere à destreza que a pessoa tem para realizar movimentos precisos e suaves,
especialmente com as mãos e dedos, como desenhar, pegar, empilhar ou encaixar objetos.

COORDENAÇÃO MOTORA ÓCULO-MANUAL

A coordenação motora óculo-manual compreende a capacidade de coordenar movimentos


com os membros superiores de acordo com as referências perceptivo-visuais presentes no
espaço. Envolve a percepção de distâncias, alturas e características dos alvos ou objetos tais
como forma, altura, comprimento, largura, textura, etc; e a consciência sinestésica do segmento
corporal que irá executar o movimento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Observou-se que as recentes teorias sobre o controle motor ressaltam a atividade


integrada entre os sistemas, nervoso, músculo-esquelético, sensório-percentual e cognitivo, além
de destacarem a interação do indivíduo com o meio ambiente como fatores determinantes no
processo de agir.
A aprendizagem é a mudança de comportamento viabilizada pela plasticidade dos
processos neurais cognitivos. Considerando que a aprendizagem motora é complexa e envolve
praticamente todas as áreas corticais de associação, é necessário compreender o funcionamento
neurofisiológico na maturação a fim de fornecer bases teóricas para a estruturação de um plano
de tratamento que considere as fases de desenvolvimento neural da criança e de reestruturação
neural em indivíduos que apresentam patologias neurológicas, maximizando assim o
aprendizado e melhorando o bem estar e a qualidade de vida dos mesmos.

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Todas as informações contidas nesta obra são de responsabilidade dos autores

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