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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA UFRR

PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO
NÚCLEO INSIKIRAN DE FORMAÇÃO SUPERIOR INDÍGENA
CURSO DE LICENCIATURA INTERCULTURAL

PROPOSTAS PEDAGÓGICAS PARA


A VALORIZAÇÃO CULTURAL WAPICHANA:
O ARTESANATO NA AULA DE ARTE INDÍGENA

CARMÉLIA MANDUCA NICÁCIO

BOA VISTA
2009

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CARMÉLIA MANDUCA NICÁCIO

PROPOSTAS PEDAGÓGICAS PARA


A VALORIZAÇÃO CULTURAL WAPICHANA:
O ARTESANATO NA AULA DE ARTE INDÍGENA

Trabalho apresentado como pré-requisito para a Conclusão do


Curso de Licenciatura Intercultural, na área de habilitação em
Ciências Sociais do Núcleo Insikiran de Formação Superior
Indígena, da Universidade Federal de Roraima.

Orientador: Professor Dr. Maxim Repetto

BOA VISTA
2009

CARMÉLIA MANDUCA NICÁCIO

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PROPOSTAS PEDAGÓGICAS PARA
A VALORIZAÇÃO CULTURAL WAPICHANA:
O ARTESANATO NA AULA DE ARTE INDÍGENA

Trabalho apresentado como pré-requisito para a


Conclusão do Curso de Licenciatura Intercultural do
Núcleo Insikiran de Formação Superior Indígena, na área
de habilitação em ciências sociais, da Universidade
Federal de Roraima defendida em 2009 e avaliada pela
seguinte banca examinadora:

Professor Maxim Repetto


Orientador / Núcleo Insikiran - UFRR

Professor Celino Raposo


Professor Núcleo Insikiran - UFRR

Professor Herundino Ribeiro


Professor Núcleo Insikiran - UFRR

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Dedico este trabalho para o povo Wapichana de todas as
regiões.

Este material é fruto de um trabalho que valeu


a pena produzir para que futuramente os jovens
se inspirem e executem para não perder os
conhecimentos dos seus antepassados.

AGRADECIMENTO

Agradeço:

Antes de tudo a Deus por ter me direcionado estes anos de luta e ter me dado
sabedoria, ao professor e orientador Maxim Repetto, pela paciência, incentivo e apoio nas

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pesquisas e em todo contexto do trabalho, aos demais mestres na casa educacional.
A aqueles que deram o máximo de si e aqueles que se contentaram em ser
somente professor (a) ao repassarem os conhecimentos na minha formação e a
UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA-NÚCLEO INSIKIRAN DE FORMAÇÃO
SUPERIOR INDÍGENA, pelo apoio instrucional e pelas oportunidades oferecidas.
Aos meus pais “Adolfo e Carmelita” pelo carinho, incentivo e apoio nos momentos
complexos da minha trajetória de formação profissional.
Aos mestres natos de artesanato indígena que são: Geraldo James Manduca,
Olivia Pereira , Thiago Mateus e a sua esposa Marilene; e aos colegas professores que
são: Erinaldo Cadete, Raildo de Souza Cruz, Josiel da Silva Pereira, Odamir de Oliveira,
Jonas Fabiano Pereira, Márcia Pita, Zeimar Pereira e a todos os alunos de 5ª à 8ª série
do ano de 2008 da Escola Sizenando Diniz da comunidade Malacacheta pela soma de
conhecimentos na execução da oficina de artesanato.
Ao meu pastor e a sua família da igreja Assembléia de Deus que por alguns
momentos foi amigo, Psicólogo e pastor, pelas horas que teve a paciência de me ouvir e
ter a sabedoria de compreender e dar alternativas para que eu pudesse trilhar na minha
vida. E também a ex-tuxaua Maria Inés que me ajudou na explicação do inicio do trabalho
que ia desenvolver na comunidade.
Em especial ao meu esposo Jairo James Mendes da Silva pelo apoio, presença e
a compreensão que teve comigo nas horas que precisei e a minha filha querida Jaksemia
Mendes Nicácio que inocentemente torcia para me formar e ter mais tempo para com ela.

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A arte é o resultado de uma
colaboração entre Deus e o artista, e
quanto menos o artista participa
melhor.
André Guide.

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RESUMO

O objetivo deste trabalho é apresentar e tornar acessível à leitura sobre a


importância de conhecer e valorizar os conhecimentos tradicionais indígenas tendo como
a base a produção do artesanato. Por isso, a idéia de trabalhar as propostas pedagógicas
para a valorização cultural wapichana, tendo como tema: O artesanato na aula de arte
indígena.
A proposta é partir do contexto e focalizar as atividades experimentais iniciados
informalmente na década de 80. O foco principal é mostrar a importância de toda a cultura
indígena e do artesanato e colocar em prática os conhecimentos tradicionais tendo em
vista todo o processo de desenvolvimento sem deixar de lado tudo que o cerca.

Wapichana.

Dyraa kaydinkizei aidikiazun maxapak aich'karyr naap'dii kaimen waaich'pan na'ik


wassaban ipei kaimenauraz wairiben'nau kuty'ainhau wakauraz waat. Wassaban
aichapkary naap'dii tumkau tyyzyt'kary yryy kapam bauzak'dauraz ipei wa'aichapan
wakadyz'diaa. Yryy id ditinhap'kary naap'dii tyryy kaydi'kau ipei pidian tuminhap'kiz,
sabazun na'ik

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SUMÁRIO
Página
INTRODUÇÃO 10
1 –O ESTUDO DA ARTE NA ESCOLA 12
1.1 A arte e a pluralidade cultural 12
1.2 A situação atual do ensino da arte na escola Estadual Indígena
19
Sizenando Diniz
2-O PROCESSO DA PRODUÇÃO DE ARTESANATO NA
23
COMUNIDADE MALACACHETA
2.1 O artesanato Wapichana 23
2.2 A valorização cultural 27
2.3 Os procedimentos da produção de artesanatos 30
3 –O ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NO CURSO DE
35
LICENCIATURA INTERCULTURAL
3.1 Uma experiência pedagógica 35
3.2 Propostas pedagógicas:o III estágio 39
3.3 Oficina para a produção de artesanatos 42
CONSIDERAÇÕES FINAIS 46
REFERÊNCIAS 50
ANEXOS
ANEXO 1 51
ANEXO 2 52
ANEXO 3 53
ANEXO 4 54
ANEXO 5 55
ANEXO 6 56

Introdução
O presente trabalho se propõe a analisar uma experiência pedagógica de ensino
de Arte Indígena na Escola Estadual Indígena Sizenando Diniz, T.I. Malacacheta, e, a
partir disso, debater sobre a valorização cultural num sentido mais amplo. Abordaremos
principalmente a prática do artesanato do povo indígena wapichana utilizando fibras,
talhas e palha, e discutiremos como ele pode ser um instrumento a serviço da valorização
cultural e social dos jovens na escola e comunidade e ainda ser utilizado como
ferramenta pedagógica em qualquer nível de ensino. Em última instância a valorização
cultural também contesta o processo de invasão territorial e cultural, e como isso trouxe a
desvalorização da cultura e dos utensílios e objetos indígenas.

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Esta reflexão se baseia numa experiência prática de implementação de um
projeto pedagógico na disciplina de Arte Indígena. Neste sentido nossa reflexão reúne
uma série de experiências desenvolvidas no contexto do Curso de Licenciatura
Intercultural da UFRR. Para tanto aproveitamos os estudos e pesquisas desenvolvidas
nos temas contextuais, no Estágio Curricular Supervisionado, no Trabalho de Conclusão
de Curso (TCC), além de minhas experiências como professora no ensino fundamental
desde 2002, e a experiência de orientadora pedagógica do Centro de Formação
Wapixana na Escola Estadual Indígena Sizenando Diniz, entre os anos 2007 e 2008, na
comunidade Malacacheta. Esta comunidade encontra-se na Terra Indígena Malacacheta,
a aproximadamente 40 km da capital Boa Vista, na região da Serra da Lua.
Com isto esperamos responder aos princípios curriculares do curso de
Licenciatura Intercultural, que foi uma das lutas das lideranças indígenas para melhorar o
ensino nas comunidades.
O tema abordado foi a valorização cultural Wapichana através do artesanato e da
Língua de Origem, porém o que mais trabalhamos foi a produção de artesanato. O tema
foi escolhido para fortalecer o que já estava em discussão ao longo do tempo pelas
lideranças indígenas da região que é a questão da desvalorização cultural.
Para desenvolver o trabalho tivemos que apresentar uma proposta e solicitar a
autorização da comunidade Malacacheta, pois esperávamos uma participação direta da
mesma, assim como uma articulação para a realização do Estágio Curricular
Supervisionado, que foi a base de reflexão do presente trabalho, essa articulação
aconteceu durante as reuniões comunitárias e pedagógicas na Escola.
A realização de cada etapa do estágio foi realizada com a participação das
pessoas da comunidade em diálogos, entrevistas, palestras e oficinas de produção dos
artesanatos indígenas. O acompanhamento do orientador durante a realização do estágio
foi de grande importância, porque orientou na estruturação do trabalho e na reflexão
teórica.
Vale a pena ressaltar que o centro do debate inclui a construção de uma proposta
pedagógica para o ensino de arte indígena na escola que foi desenvolvido no Estágio
Curricular Supervisionado do curso, e pelo tanto, toda nossa reflexão se volta á análise
desta experiência pedagógica.
O trabalho se divide em três capítulos. O primeiro capítulo trata da arte e a
pluralidade cultural em relação à situação atual do ensino de arte na Escola Estadual
Indígena Sizenando Diniz. No segundo, abordamos o processo da produção de
artesanato na comunidade Malacacheta, a definição do artesanato no contexto indígena e

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os procedimentos de produção de artesanatos. Sendo que no terceiro capítulo
analisamos o Estágio Curricular Supervisionado do curso da Licenciatura Intercultural e a
proposta para atividades pedagógicas destinados às escolas indígenas. Sendo assim
passamos ao primeiro capítulo deste TCC.

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1- O ESTUDO DA ARTE NA ESCOLA

1.1) A Arte e a Pluralidade Cultural

A Arte é uma expressão humana que se manifesta de formas diversificadas e que


possui valores diferentes em cada cultura. Para a tradição ocidental a arte é uma
experiência individual do artista, que usa a sua criatividade, produzindo sua arte conforme
os padrões próprios de beleza. Neste sentido a “estética” refere-se ao estudo que
determina o que é belo e as harmonias entre as formas Michaelis, (2008). A arte é uma
expressão cultural concreta que envolve também uma dimensão simbólica e que
expressa a realidade da vida e da existência humana no seu cotidiano.
Segundo o dicionário Aurélio, (2006), “arte é a capacidade humana de criação e
sua utilização com vistas a certos resultados, obtidos por diferentes meios: arte da caça;
arte de dominar o fogo; arte poética, etc. (...); oficio (especialmente, nas artes manuais)”.
O Dicionário Michaelis (2008) acrescenta que uma arte envolve regras, “saber ou perícia
em fazer alguma coisa” e uma habilidade.
Neste sentido podemos listar inúmeras artes, tais como: “artes plásticas; arte
dramática - teatro; arte marcial - repertório de técnicas e exercícios corporais para defesa
e ataque; arte poética - a arte de escrever em verso; artes gráficas- conjuntos de técnicas
e atividades para a execução de projetos gráficos de livros, revistas, jornais, etc; artes
plásticas – as artes que se manifestam por meio de elementos visuais e táteis, tais como
o desenho, a pintura, a escultura, etc.” (AURÉLIO, 2006).
A arte sempre esteve e está presente, em todas as culturas do mundo.Sua
presença é importante, porque identifica o povo e a sociedade a qual pertence o artista.
Cada povo tem o seu modo de produzir e também de apreciá-la, isso é o que chamamos
de senso estético. Segundo Gomes e Hussak, “A Arte em todas as culturas está
relacionada a algum tipo de aprendizagem que envolve a explicação verbal, a
observação, o ver fazer e a ação de fazer”. (1998, p. 290).
A partir do momento, que um indivíduo produz sua arte, mostra a cultura do seu
povo, por exemplo: um indígena quando faz uma pintura corporal; ou objetos indígenas;
ou quando pratica uma dança, etc. Inclusive nas manifestações passadas havia arte, por
exemplo falamos da arte rupestre para nos referir às pinturas antigas desenhadas nas
pedras.De acordo com Reinaux:

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A arte é quase tão antiga quanto o homem. É uma forma de trabalho. E o
trabalho é também uma característica antiga da atividade do homem. Perde-se
na poeira do séculos, a data exata em que o homem teria começado a produzir
arte ou criar coisas e objetos de arte, ou formas com características, que
revelassem sua sensibilidade estética interior. O homem tem conseguido através
do tempo, reproduzir por mil aspectos diferentes a sua criatividade. Desde os
gestos mais simples, do canto, de um pequeno poema, à obra arquitetônica de
grandes proporções. Desde uma forma musical qualquer, passando pelas
expressões corporais como a arte cênica, à pintura e outras formas de
expressão. Ao longo dos milênios, o homem tem ultrapassado a si mesmo na
perpetuação da sua criatividade, ensinada e transmitida de geração à geração.
Implicitamente não se ensina a criar. A criação é um gesto espontâneo, inusitado,
independente do querer. É a inspiração que predomina, e que determina o
comportamento estético do homem. Discutível até se o homem estava no
propósito de criar. Entendemos primeiramente que a arte surgiu assim tão cedo
na vida do homem, teve uma permanente necessidade de comunicação com
seus semelhantes do seu clã.(...) A arte, ela está presente, nesse alvorecer do
homem, desde os primeiros passos da sua caminhada na aventura da civilização.
O aparecimento tardiamente de tais obras de arte, de nada invalidam o conteúdo
intrínseco de cada uma dessas formas de expressão da pré- história. Muito pelo
contrário, elas são obras de arte em todos os aspectos, até porque, nem os
séculos conseguiram obscurecer o brilho de tais obras. (in:FISCHER, 1991, p.
27-29)

Em qualquer cultura, existe um vasto conhecimento no qual está presente a arte, o


que implica dizer que a valorização e a apreciação estética podem se desenvolver de
forma diferente de acordo com cada cultura. Pois as diferenças não definem o seu valor,
mas o que pode transmitir, através da sua beleza ou até mais, para compreender, o
mundo social. Não é por existir várias culturas, que a arte vai perder o seu brilho, mais
sim, uma complementa a outra com suas riquezas e diferenças.
Neste processo de criação artística não só participa o indivíduo com seu potencial,
mas também dialogando com os valores e saberes de seu povo que são transmitidos de
geração em geração. A criatividade pessoal do artista vai acrescentando possibilidades
de pensar a arte. Portanto é uma atividade que coloca uma tensão entre a criatividade
individual e o senso estético e funcional da sociedade a que pertence o artista.
Antigamente os povos indígenas, produziam suas artes manualmente e com
recursos que encontravam na natureza. Atualmente há uma dependência na utilização de
ferramentas e materiais de origem industrializada.
E segundo Alexandre (1975):

Cada criança, cada homem e cada cultura expressa seus ideais e sentimentos
através da arte. A arte é a própria essência de tudo que é humano e como tal dá
forma à experiência do homem e às metas traçadas por ele. Quando o homem
pôde se definir, a arte foi seu signo distintivo, ele nunca deixou de criar
artisticamente. O ato artístico e o objeto da arte provam e demonstram
constantemente o ato humano e os objetivos que guiam o homem. Num mundo
cada vez mais dominado pela tecnologia, o homem vê sua posição no campo da
atividade humana com sensação ao mesmo tempo de orgulho e dúvida. Uma
cultura constitui uma prova da vontade e da participação do indivíduo no processo

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que a forma. A arte poderia e deveria ser uma experiência compartilhada por
todos os homens a cada dia de vida; o que não quer dizer que todos os homens
devam ser pintores, arquitetos, escritores, compositores, nem que passem as
noites em teatros e salas de concerto. O que se quer dizer é que se deve permitir
que a sensibilidade inata do homem, no que diz respeito à arte, se expresse e se
desenvolva e que, estimulando e educando o ser humano desde a infância, deve-
se fazer com que essa sensibilidade se firme para que surja o homem completo.
(ALEXANDRE, 1975, p. 19 e 20),

É interessante compreender a arte em seu contexto, porque mostra a arte de


acordo com o crescimento humano, e a necessidade de se adequar com novas maneiras
de expressão. Podemos também ver que um produto artístico não somente possui um
valor estético, mas também um valor funcional, ou seja, há nele um senso de beleza e
uma intenção de utilidade prática. Estes dois aspectos na cultura Wapichana não estão
separados, quando uma pessoa produz um objeto de arte, expressa nele uma forma de
pensar o que é belo e expressa também a necessidade de utilização disso na vida prática
de cada dia.
Na sociedade ocidental, a separação entre senso estético e utilidade prática é
muito mais acentuada, o que veio a ser agravado pela produção industrializada e pela
produção em massa das obras de arte. Isso implicou em afastar o caráter único e criativo
das obras de arte, como analisaram os pensadores da escola de Frankfurt, conforme nos
explica Marilena Chauí,(2006).
A percepção da arte no povo Wapichana vem mudando na medida em que a
presença da sociedade brasileira se faz cada vez mais forte dentro das comunidades,
introduzindo novos sensos estéticos e a utilização de produtos industrializados.
Assim por exemplo, na comunidade Malacacheta nos anos 70, havia uma
riquíssima produção de alimentos e de artesanatos, no contexto em que a comunidade
supria suas próprias necessidades. Ao avançar os anos 80 e 90 observamos que a
comunidade ficou cada vez mais dependente de produtos industrializados, sejam
alimentos ou utensílios. Ao passarem a utilizar objetos industrializados, as famílias
começaram gradualmente a deixar de lado os objetos de artesanato produzidos na
própria comunidade.
Com isso também reduziram a produção de suas próprias artes culturais e
paralelamente a isto também foi diminuindo a produção de alimentos, essa prática não só
ocorreu na comunidade Malacacheta, mas também em toda a região.
Uma outra afirmação que fortalece este argumento é, apresentado por Amodio,
Vicente, Maria & Giovannoni:

O povo indígena tinha o costume de fazer as trocas dos seus objetos com as

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outras comunidades próximas (vizinhas), depois da chegada dos brancos, os
parentes encontraram muitas dificuldades em continuar o sistema de trocas.
Novos objetos começaram a circular e os brancos pediam dinheiro em troca das
mercadorias que eles vendiam. Os parentes, para ganhar dinheiro, começaram a
trabalhar para os brancos e, na maioria das vezes, foram enganados. Outra
conseqüência da chegada dos brancos foi a diminuição dos objetos produzidos
pelos parentes. Muitos parentes começaram a pensar que a mercadoria dos
brancos era melhor e, enganados, pararam de fazer redes de algodão, panelas de
barro, peneiras, etc.. Desta maneira, os brancos tornavam-se ricos e os parentes
esqueciam a maneira de trançar ou fazer outros objetos. (AMODIO &
GIOVANNONI,1983, P.28 )

Dessa citação observamos que o abandono gradual de algumas práticas culturais


está associado ao contexto de invasão cultural, pois os objetos indígenas passaram a ser
vistos como inferiores aos industrializados, que ganharam espaço de uso prático, e assim
passaram a ter apenas um valor simbólico, passando a ser supervalorizados. Podemos
exemplificar aqui uma peneira de plástico que passou a ser vista como melhor, ou de
melhor qualidade do que uma peneira artesanal seja pela sua duração ou pela qualidade
do material.
Nesse contexto ocorre uma desvalorização generalizada da cultura indígena,
pois, por exemplo, a língua Wapichana também ficou em um segundo plano perante o
avanço da língua portuguesa.
Esta situação é bastante polêmica para o povo indígena, pois muitas das vezes
não se vislumbravam outras saídas para que pudesse reverter a situação. Foi a partir
deste debate e reflexão das lideranças e comunidades que surgiram propostas para
reposicionar a cultura e a vida indígena, valorizando a cultura em geral e propiciando
mudanças. Estas reflexões envolvem a auto-valorização indígena e a auto-avaliação da
nossa história enquanto povo indígena, melhorando assim a auto-estima, e ganhando um
sentido de respeito para com os povos indígenas. Essa mudança não ocorreu de uma
hora para outra, mas sim gradualmente conforme iam ocorrendo as demandas.
Sabemos que existem idosos nas comunidades que sabem produzir e ainda
preservam suas artes, os quais são verdadeiras “bibliotecas do saber” das tradições dos
povos indígenas. E é a partir da valorização deste saber que surgiu a proposta do
presente trabalho.
Contudo pairavam dúvidas, pois não existem planos claros, ou pelo menos
formalizados da Secretaria de Educação que orientem o trabalho de artes na escola.
Ainda como nos mostram os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997, p. 24-25)
referentes ao ensino de Arte na escola, que diz que o ensino de artes foi influenciado
inicialmente por uma tradição que impunha métodos, técnicas e práticas que perpetuaram
por todo o século XX,como podemos observar nesse trecho dos PCNs:

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Ao recuperar, mesmo que brevemente, a história do ensino de arte no Brasil,
pode-se observar a integração de diferentes orientações quanto as suas
finalidades à formação e atuação dos professores, mas, principalmente, quanto às
políticas educacionais e os enfoques filosóficos, pedagógicos e estético.
O ensino de Arte é identificado pela visão humanista e filosófica que demarcou as
tendências tradicionalistas escolanovista. Embora ambas se contraponham em
posições, métodos e entendimento dos papéis do professor e do aluno ficam
evidentes as influências que exerceram nas ações escolares de arte. Essas
tendências vigoram desde o início do século e ainda hoje participam das escolhas
pedagógicas e estéticas de professores de arte.
Na primeira metade do século XX, as disciplinas desenho, trabalhos manuais,
música e canto Orfeônico faziam parte dos programas das escolas primarias e
secundárias, concentrando o conhecimento na transmissão de padrões e modelos
culturais predominantes. (PCNs 1997, p. 24-25)

Esse modelo de ensino pode ser observado até os dias de hoje em nossas
escolas fazendo parte do currículo escolar. Com a preocupação de que o ensino da arte
possa romper com esta perspectiva é que estamos discutindo um programa de arte para
as escolas indígenas, centrado na valorização cultural e social dos povos indígenas, luta
esta que é incansável e não tem fim.
Ao fazermos um levantamento com aplicação de questionários sobre a situação
das artes na comunidade Malacacheta, região Serra da Lua, constatamos que os jovens
wapichanas conhecem pouco ou quase nada de suas artes culturais e sua produção.
Assim aproximadamente 70% dos jovens disseram não produzir as Artes do seu povo
como deveriam. Esta situação agravou-se com a imposição do ensino e aprendizagem
escolar dos não-indígenas nos anos 80, quando se começou a tirar os jovens muito
“cedo” do seio familiar, sendo ocupados e ensinados no contexto dos novos
conhecimentos dos não indios.
Esta situação fez com que muitos jovens priorizassem os novos saberes e assim
foram deixando de lado os conhecimentos indígenas. O povo indígena, principalmente os
mais antigos acreditam que a escola foi um fator que contribuiu para a desvalorização
cultural indígena. Eles dizem que a escola afastou gradativamente os jovens indígenas
dos conhecimentos do seu povo. Contudo a escola não pode ser responsabilizada pelo
afastamento, já que o processo implicou a aceitação das pessoas e das famílias, embora
tenha sido num contexto de violência e imposição. Hoje apostamos que a educação pode
mudar a nossa realidade, mas para isso acontecer temos que mudar a educação e usá-la
conforme o nosso contexto.
Não abordaremos com profundidade a história do povo Wapichana da região
Serra da Lua, mas sim serão ressaltados alguns pontos históricos referentes a educação
indígena. Porém se o leitor quiser aprofundar o estudo da história do povo wapixana pode

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revisar os seguintes autores: Carlos Cirino (2008), Jaci Guilherme Vieira (2007), Paulo
Santilli (2001) e Nádia Farage (1991). Conhecer o processo histórico de uma comunidade
é importante, para saber como ocorrem as transformações desde o princípio até a
atualidade.
As lutas e reivindicações das lideranças indígenas, na área de educação têm
como objetivo melhorar a situação da educação escolar nas suas comunidades, sem
deixar de valorizar a sua cultura. No início o processo escolar era conduzido por
educadores não-indígenas, e esta foi mais uma das preocupações das lideranças, isso
porque os educadores não-indígenas não conheciam e não respeitavam a realidade dos
povos indígenas.
Essa situação foi discutida em assembléias e reuniões, daí por diante passou-se
a reivindicar de que os próprios indígenas fossem professores em suas escolas, essa
reivindicação passou a acompanhar outras, por exemplo, a demanda do reconhecimento
de suas terras, o atendimento a saúde, dentre outros. Esses fatores trouxeram resultados
satisfatórios, em primeiro lugar para a formação dos professores indígenas, para que
pudessem complementar e enriquecer seus conhecimentos, na perspectiva de melhorar a
educação e as condições de vida do seu povo. E em segundo lugar para a própria
comunidade que ganhou autonomia nas decisões.
Segundo Simeão Messias, da comunidade Malacacheta, coordenador da região
serra da lua em 2009, afirmou: “Muitas das vezes fico idealizando propostas para
melhoria da comunidade que atualmente moro, e também para outras comunidades, isto
é, porque vejo as situações difíceis para nossa juventude indígena na atualidade, que
terminam seus estudos sem ter nenhuma alternativa para que possam estar habilitados
em alguma profissão.”
No entanto a escola também começou a valorizar a cultura, como veremos abaixo no
Histórico da Escola do Centro de Formação Wapichana:

No ano de 1949 houve a troca das irmãs beneditinas pelas irmãs da congregação
da consolata, pois não deram prosseguimento à alfabetização limitando-se
somente na catequização. Nesta época lideranças indígenas ( Os tuxauas),
começaram a ter consciência que a educação escolar é dever do estado, por isso
iniciaram as reivindicações para implantar o ensino formal e regular, reconhecido
pelo estado.Concretizou-se a reivindicação no ano de 1953, através do decreto
nº233 de 13-10-53, pelo governador do território federal do Rio Branco,José Luiz
de Araújo Neto. A escola foi criada isoladamente, e assim tendo por nome
Sizenando Diniz, em memória a um cidadão que viveu por muitos anos na
região,e assim sendo oferecido o ensino de 1ª à 4ª série (primário).No entanto,
esta escola só veio funcionar no ano de 1959, com o trabalho voluntário do srº
Clodomiro, não-índio, que exerceu a função de professor por um ano. Logo após
ocorreu a contratação pela prefeitura de Boa-Vista Mª Teodora Pereira, que
lecionou até o ano de 1967, aproximadamente. Entretanto, a oficialização da
escola só ocorreu no ano de 1962, que funcionava na capela de são José, sendo

25
que as aulas eram ministradas pelos professores brancos, enviados e
contratados pelo gpvernador do território federal do Rio Branco, que durou
aproximadamente 19 anos.Em 1983, como conseqüência de lutas e
reinvidicações das lideranças da Região Serra da Lua, foi criada o decreto nº 045
de 21 de junho de 1983, Major Brigadeiro Vicente de Magalhães Moraes, onde
foram decretadas várias escolas à categoria de Escolas à categoria de escolas
de 1º grau, dentre elas a “Sizenando Diniz”da comunidade Malacacheta que na
época pertencia ao município de Bonfim. Desde às décadas de setenta, já havia
uma discussão, sobre como seria uma escola indígena. E após várias reuniões
inter-regionais as reinvidicações das lideranças foram atendidas apesar de
várias barreiras contra a criação das escolas indígenas, felizmente em 1985 ,foi
publicado pelo ministério da educação, a possibilidade das escolas indígenas
funcionarem como as lideranças almejavam. Depois de um período de
conscientização desenvolvida pelas lideranças da região, na data 1º de janeiro de
1986, na comunidade, na comunidade Canoanin os tuxauas decidiram que a
escola indígena seria na comunidade Indígena Malacacheta, onde funcionaria
como centro de formação wapichana para atender a região serra da lua.O centro
de Formação Wapichana tem como objetivo, formar monitores para trabalhar nas
escolas nas escolas indígenas da região valorizando o artesanato indígena e o
ensino da língua Materna. A escola Sizenando Diniz só veio funcionar de fato e
direito como escola de 1º grau, em 1987. Diante de uma grande demanda de
alunos concludentes da 8ª série do Ensino Fundamental e as dificuldades de
continuarem seus estudos como falta de custeio financeiro, moradia, alimentação
na capital -Boa-Vista e levando muitos interessados a desistência fez com que
muitas lideranças e famílias da Região Serra da Lua reivindicassem a
implantação do Ensino Médio no Centro de formação Wapichana, que se
concretizou através da lei federal nº 9.394-96, artigo 24, inciso VII e parecer nº
17-02 do CEE-RR, publicada no diário oficial nº 203 de 22-10-2002, que
estabeleceu normas sobre a criação e funcionamento da Escola Indígena,
autorização e reconhecimento de cursos, no âmbito da Educação Básica no
Estado de Roraima.

Pois foi dos anos 80 e 90, quando foram iniciadas as aulas na escola é que foi
incluído o estudo da produção das artes indígenas, como, por exemplo: peneiras, abanos,
jamanxins, darruanas, adornos, etc. Dessa inclusão obtivemos bons resultados, porque a
maioria dos jovens fazia esse artesanato e os que não sabiam eram interessados em
apreender. A Produção de artes indígenas era feita somente para o uso pessoal na
sociedade indígena. Atualmente essa prática mudou, porque as artes começaram a ser
vistas e apreciadas de outras formas. Na percepção indígena da Malacacheta, a arte é
dividida em duas categorias, assim uma refere-se as peças de artesanato grande,
destinadas ao uso; sendo que as peças pequenas destinadas a enfeite são consideradas
para nós como arte.
No entanto, depois de algum tempo, estes aspectos destinados a valorização
cultural começaram a ficar num segundo plano, perdendo a importância inicial de cada
objeto produzido pelos indígenas. Foi mudando cada vez mais o ensino e aprendizagem
para o povo indígena. Apesar de que a escola tentou trabalhar a arte do povo indígena no
ensino e aprendizagem das crianças e jovens wapichanas que se tornou mais difícil.
Porque os próprios estudantes não queriam aprender a arte indígena, achavam que seria
um atraso no conhecimento e queriam aprender outros conhecimentos. A vontade de

26
conhecer outras culturas, costumes e saberes acabaram se tornando um motivo para
abandonarem as práticas de arte tradicional.
Nas comunidades contemporâneas existe a idéia de que o Ensino dos
conhecimentos tradicionais tem menos valor que o ensino e aprendizagem dos
conhecimentos ocidentais (não Indígenas). Por isso, hoje algumas famílias mandam seus
filhos à Escola, preferindo ter um novo conhecimento a respeito de assuntos não
ensinados tradicionalmente. Em contraponto outras famílias buscam fortalecer seus
conhecimentos tradicionais. Reivindicando assim seus Direitos para serem ensinados não
só com conteúdos ocidentais, mas em especial o ensino da própria língua indígena, a
produção de artesanato e outros conhecimentos dos seus antepassados.
Segundo o questionário aplicado na comunidade Malacacheta temos
aproximadamente 30% dos jovens indígenas wapichana que tentam praticar, produzindo
suas artes, conforme apreenderam com pessoas idosas (avós, pais, tios), estes por sua
vez tem ainda como repassar os conhecimentos tradicionais indígenas, para os seus
descendentes, e assim sendo de geração a geração. Para que no futuro não dependam
somente do conhecimento ocidental (do não indígena), mas para produzirem seu próprio
material, para facilitar o trabalho no seu cotidiano.
E, com este direito garantido na lei, é que o povo indígena pode estudar a sua
língua de origem e sua arte conforme a cultura. Alguns pais de alunos indígenas na
comunidade Malacacheta sentem-se maravilhados com isto, por ter valorizado os seus
conhecimentos; são os que principalmente assumem sua identidade como indígena.
Há uma resistência de alguns pais na comunidade Malacacheta, por não
reconhecerem o valor do ensino e aprendizagem do conhecimento tradicional indígena. A
simples vistas ainda existe, mas não tão forte. Ainda mais, porque o povo indígena está
ocupando o seu espaço como, por exemplo: nos concursos específicos, nas suas
formações específicas e até mesmo nas suas terras. Pois é valorizando os seus
conhecimentos tradicionais que os povos indígenas conseguirão atingir os seus objetivos,
apesar de tantas imposições na sua cultura.

1.2) A Situação Atual do Ensino da Arte na Escola Estadual Indígena Sizenando


Diniz
O planejamento para o ensino dos alunos é realizado de forma ampla, onde possa
ser contemplada a realidade dos alunos e serem trabalhadas as criatividades e
imaginações, e assim, despertar no seu interior idéias que gerem interesse. Pois tudo
isso, tem o seu significado, o que está sendo trabalhado, é a arte fluindo no ensino e
aprendizagem dos alunos.

27
A arte indígena ainda é ensinada de forma precária, porque é trabalhada com um
mínimo de freqüência em cada série de 5ª a 8ª, com 50 minutos de aula na semana.
Embora os conhecimentos tradicionais sejam repassados nas oficinas pedagógicas e até
mesmo na sala de aula. O estudo de Arte Indígena conta com apenas cinqüenta (50)
minutos por semana, embora na Malacacheta dobramos a carga horária nas oficinas para
pudéssemos alcançar o objetivo esperado na produção de artesanato.
Ainda há outras oficinas pedagógicas, que são: corte-costura, crochê, desenho,
pintura, dança, música, teatro, comunicação e expressão. Está a oficina de artesanato
que é trabalhada especificamente para a produção de objetos indígenas. Como por
exemplo: peneira, cocar, cesto e vassoura.
Entre estes, é produzido em excesso a peneira, porque é o símbolo do povo Wapichana,
e ela possui várias formas e utilidades. O formato é de acordo com a utilização, tem
peneiras, para peneirar: farinha, beiju e goma, e para coar: caxiri, e tucupi. Cada oficina
tem o seu coordenador, que vai procurar todas as metodologias, para realizar sua oficina,
isto ocorre, em todas as sextas-feiras, se alternando com os trabalhos realizados (ajuri),
para ajudar a comunidade a se desenvolver com zelo e harmonia (união), e assim os
alunos aprendem, com os seus pais, como executar os trabalhos, necessários em uma
comunidade.
Cada coordenador é o próprio professor dos alunos, é ele que esta trabalhando as
criatividades dos mesmos. Com certeza a Escola Sizenando Diniz não é a única que está
tentando trabalhar os conhecimentos tradicionais indígenas, mas sim todas as escolas
indígenas que se interessa em valorizar, revitalizar e conservar a sua cultura. Mas para
estes conhecimentos serem trabalhados excelentemente nas escolas indígenas, é
necessário uma soma de esforços, em especial e além dos professores, dos próprios pais
de alunos, principalmente aqueles, que praticam no seu cotidiano a cultura.
No sentido de compreender a complexidade das artes na formação dos estudantes
podemos invocar as palavras de Gomes e Hussak:

A Arte como área de estudo é praticamente desconhecida nas Escolas Indígenas.


Com raras exceções o que realmente se vê e o Desenho, a musica e o teatro,
sendo utilizados como uma atividade complementar de outras áreas. Mas vale
lembrar que a Arte está estreitamente ligada a vida de todos os povos,
especialmente dos povos indígenas, entre as quais as imagens, a musica ou a
dança constituem em inúmeros casos, os principais meios de expressão e
comunicação de idéias e conhecimento e assim como as línguas, os
conhecimentos matemáticos, a História, a Geografia ou as Ciências integram as
áreas de currículo Escolar, também a Arte pode constituir-se como tal a ser
trabalhado por meio dos conteúdos que lhe são próprios. Cada modalidade artística
tem suas particularidades nas artes visuais (desenho pintura, escultura, gravura,
etc...), estudam-se as linhas, as formas, as cores, no teatro, os personagens, o
texto, o cenário; na musica, os ritmos, a cultura dos sons, o timbre da voz, e assim

28
por diante.
Alem desses, outros aspectos estão intimamente ligados com as produções
artísticas, como a percepção, a criação, a fantasia, a imaginação, a reflexão, a
emoção e os sentimentos. Tais aspectos tratados adequadamente, propiciam o
desenvolvimento de potencialidades individuais que também são fundamentais à
construção de outros conhecimentos. Pertinente ao mesmo tempo que os alunos
tenham a oportunidade de lidar com situações que ultrapassam o universo de sua
vida cotidiana, tornando-se capaz de ampliar a dimensão da realidade em que
vivem e passando a ter uma participação mais ativa nos processos, especialmente
mais criativos.
As experiências e referências adquiridas pelo Ensino da Arte atuam positivamente
sobre os alunos, aumentando-lhe o sentimento de pertencerem a determinado povo
e contribuindo para a construção de identidades.
A compreensão da arte como forma de expressão a comunicação presente em
diferentes sociedades, possibilita trabalhar melhor as diferenças, o que beneficia os
alunos tanto nas relações pessoais, em situações de contato com outros povos,
quanto na valorização das produções de sua própria cultura.
Destacam-se aqui algumas iniciativas que mostram diferentes possibilidades de
lidar com a questão da Arte entre as populações indígenas. Essas iniciativas -
algumas delas decorrentes do contato escola outras não – envolve a utilização de
novos temas, materiais, recursos e procedimentos de trabalho para documentar e
valorizar aspectos da cultura e divulgar outros conhecimentos necessários à
sobrevivência das comunidades. São experiências que mostram o imenso potencial
criativo e imaginativo dos povos indígenas, uma inegável sensibilidade poética e
uma exemplar capacidade de lidar com novos instrumentos de trabalho. Essas
iniciativas poderão auxiliar as reflexões sobre o porquê do ensino da Arte nas
Escolas indígenas. (RCNEI, p.292,1998)

Estes parágrafos nos mostram todo o contexto do povo indígena referente ao


ensino da arte nas escolas indígenas. Em especial como a arte indígena faz uma ligação
com a vida do povo indígena. Por isso, estas propostas que são citadas abaixo e até
mesmo já executadas na Escola Estadual indígena Sizenando Diniz, poderão ser
trabalhadas nas oficinas pedagógicas de outras Escolas e, até mesmo, adaptadas para
outros contextos.
A continuação apresenta diversas propostas de trabalho de oficinas que envolvem
a arte, as quais vêem sendo realizadas na escola Sizenando Diniz:

a) Na oficina de corte-costura e crochê - Os coordenadores estão ensinando como


fazer os cortes de tecidos, costura de roupas e os pontos de crochê para fazer diversos
tipos de roupas. Ensinam também aos alunos, como produzir as suas vestes tradicionais,
que são bastante utilizados nas apresentações e formaturas. Para produzir estas
vestimentas são usados diferentes tipos de materiais que variam de povo para povo.
Temos aqui dois exemplos: O povo macuxi produz suas vestimentas com semente de
capim, talas de bambu e fios de algodão. E o povo wapichana por sua vez produz
especialmente com palha de buriti. Mas é uma preocupação de todos a utilização de
recursos da natureza, por isso é necessário, que haja um estudo e a prática sobre
reflorestamento das plantas nativas que são bastante utilizadas nas confecções das artes
29
indígenas ou vestimentas tradicionais indígenas. Isso para que não haja destruição
ambiental. É desta forma que podem enriquecer o seu conhecimento e também melhorar
a utilização dos recursos naturais.
b) Na oficina de desenho e pintura - Os coordenadores tentam trabalhar a criatividade
dos alunos, através do desenho. Porem, muitas vezes os desenhos são tirados dos livros,
porque na verdade, cada aluno varia a sua tendência criativa, no uso da imaginação, no
momento que está criando, alguns vão além e outros fazem o que podem e da mesma
forma nas pinturas, sendo assim muitos não desenham e sim copiam, isso não significa
que não tenham outras habilidades. Trabalhar as criatividades dos alunos é interessante,
já que ajudam a encontrar e formar essas habilidades. Nesta situação é necessário,
ensinar e estudar os desenhos e pinturas feitas no corpo humano, antes das danças
indígenas, seja de qualquer povo (Wapichana, taurepang, Macuxi, Patamona, Ingarikó,
Wai-Wai e outros) e assim, deixando fluir novas criatividades. Nas comunidades
indígenas temos a possibilidade de inspirar-nos na natureza, da beleza natural, pois a sua
aproximação é essencial para dar sentido ás criações.
c) Na oficina de dança e musica - É ensinado os passos da dança ocidental (dos não-
indígena), o ritmo da música é baseado em músicas existentes (como a de forró), embora
as letras falam com clareza da importância sobre a cultura indígena. Neste caso, está
sendo necessário ser ensinado os passos da dança indígena, como a dança dos
Wapichana que é parixara e a dos Macuxi, a dança Tukui. Pois se continuarmos
priorizando e ensinando os passos das danças de outras culturas, iremos desvalorizar o
próprio, e assim perder gradativamente os conhecimentos dos antepassados.
d) Na oficina de teatro, comunicação e expressão - É ensinado e trabalhado, como
viver na sociedade, por exemplo, como se expressar diante de várias pessoas,
respeitando-as em seus valores, costumes e conhecimentos diferentes, de acordo com
suas culturas. Isto era ensinado através de pequenas apresentações de teatro. Apesar de
ser trabalhado dessa forma é preciso, que seja aprofundado o estudo da convivência dos
seus antepassados, e assim fazer apresentação de teatro, para melhor valorização da
sua cultura, porque a influência de outras culturas é constante nas comunidades que são
próximas da cidade.
Estas sugestões foram refletidas e elaboradas de acordo com o contexto da
Escola Estadual Indígena Sizenando Diniz. Acreditamos que todas as culturas se
complementam, umas com as outras, e que é importante saber quais conhecimentos
estão contidos nelas, reconhecendo que cada uma possui o seu valor próprio.

30
2- O PROCESSO DA PRODUÇÃO DE ARTESANATO NA COMUNIDADE
MALACACHETA

2.1) O Artesanato Wapichana

O artesanato é uma atividade humana que produz manualmente objetos de


diversos materiais e usos. Mesmo sendo produzidos em série, cada peça é uma obra
única. Os objetos podem ser de uso cotidiano ou decorativo, e dependendo da habilidade
dos artesãos, surgem novas obras e usos. Cada objeto possui um processo especial de
produção que é guardado socialmente através da oralidade e repassado de geração a
geração.
Recentemente o SEBRAE, vem estimulando a produção de artesanato como uma
forma de gerar renda para as famílias. Neste contexto eles classificaram diferentes tipos
de artesanatos, como veremos a seguir:

ARTESANATO INDÍGENA
São os objetos produzidos no seio de uma comunidade indígena, por seus
próprios membros. São, em sua maioria, resultante de uma produção coletiva,
incorporada ao cotidiano da vida tribal.
ARTESANATO TRADICIONAL
Conjunto de artefatos mais expressivos da cultura de um determinado grupo,
representativo de suas tradições, porem, incorporados à sua vida cotidiana. Sua
produção é, em geral, de origem familiar ou de pequenos grupos vizinhos, o que
possibilita e favorece a transferência de conhecimentos sobre técnicas, processos
de desenhos originais. Sua importância e seu valor cultural decorrem do fato de
ser um passado, de acompanhar histórias transmitidas de geração, e de ser parte
integrante e indissociável dos usos e costumes de um determinado grupo.
ARTESANATO DE REFERÊNCIA CULTURAL
São produtos que tem como característica a incorporação de elementos culturais
tradicionais da região onde são produzidos. São, em geral, resultantes de uma
intervenção planejada de artista e designes, em paceria com os artesãos, com o
objetivo de diversificar os produtos, porem preservando seus traços culturais mais
representativo.
ARTESANATO CONCEITUAL
Objetos produzidos por pessoas com alguma formação artística, de nível
educacional e cultural mais elevado, geralmente de origem urbana, resultante de
um projeto deliberado de afirmação de um estilo de vida ou afinidade cultural. A
inovação é o elemento principal que distingue esse artesanato das demais
categorias. Por trás desses produtos existe sempre uma proposta, uma afirmação
sobre estilos de vida e de vida e de valores, muitas das vezes explícitos nos
sistemas de promoção utilizados, sobretudo aqueles ligados ao movimento
ecológico e naturalista. (SEBRAE, 2009).

Estas definições dos tipos de artesanatos feita por SEBRAE nos ajudam a pensar
nosso tema, pois são bem objetivas. Isso nos ajudará a definir melhor o que é artesanato
e o papel dele na sociedade indígena, coisa que as pessoas na comunidade nem sempre
compreendem.

31
Segundo o SEBRAE (2009),outra forma de classificar o artesanato é em função da
matéria prima que é utilizada:

As matérias primas podem ser de origem vegetal, mineral ou animal, podendo


ser utilizadas em seu estado natural depois de ser processadas artesanalmente
ou industrialmente, ou ainda, serem decorrentes de processos de reciclagem
ou reaproveitamento. Para cada matéria-prima principal derivam práticas
profissionais que resultam em tipologias respectivas técnicas, ferramentas e
destinações. (SEBRAE,2009)

Vamos nos referir aqui principalmente ao artesanato feito a partir de fibras vegetais
da tradição do povo Wapichana. Esta arte é conhecida como “trançado” ou “trançar”,
devido à necessidade de compor as peças de arte a partir da junção e posição de fibras
vegetais. Para o povo Wapichana o sentido da palavra “trançado”, é o que chamamos na
língua indígena de Tyzytkary. E significa a arte de produzir objetos utilizando palha, talas
e fibras, desde que estejam trançadas. Na língua wapixana não existe uma palavra que
traduza literalmente a idéia de “artesanato”. Sabemos que artesanato são artes
produzidas manualmente. Isto em wapixana se diz: aimekan tumun'kau kay' dian. Que
significa: “fazer algo manualmente”, mas que não tem o sentido da palavra em português
“artesanato”. Isso nos mostra que o sentido de artesanato para os wapixana se relaciona
a arte das tranças, pois é um dos aspectos de maior relevância na vida cultural desse
povo.

Segundo Berta Ribeiro (1963, p.28),

O trançado indígena do Brasil pode ser caracterizado por dois macro estilos,
em função da matéria -prima empregada e de sua elaboração: palha e tala. É,
completamente, devido à estrutura básica e à ornamentação resultante. Poder-
se-ia objetar que semelhante critério de determinação de estilos é inadequado
e insuficiente. Contudo, é, a meu ver, o único plausível, uma vez que as formas
e, de um modo geral, as técnicas, independem do material utilizado. Dele
depende, é certo, a ornamentação estrutural do trançado, uma vez que só com
o emprego de talas- que podem ser tingidas antes do entretecimento – é
possível produzir desenhos bicromos, que chamo marchetados. Por outro lado,
a caracterização do estilo segundo a matéria- prima devidamente tratada
encontra apoio nos critérios classificatórios dos próprios índios. No caso dos
grupos Tukano, incorpora-se à designação do cesto, o nome da marantácea de
que é feito: uh+ bahtí (arumã, apá). O mesmo se verifica no caso dos tiriyó.
Entre as nomenclaturas tribais generalizantes (em oposição às específicas)
dessa tribo, Frikel refere as “... denominação especificando o objeto pelo
material de que é feito” (1973:227). Acrescenta que esse “sistema de
terminologia nominativa” aplica-se aos trançados onde o nome do material
pode significar todo e qualquer objeto dele fabricado. (op. Cit.:226).

No trabalho que realizamos na comunidade Malacacheta, pertencente ao povo

32
Wapichana, pudemos ver que as tranças são classificadas em três estilos, segundo a
matéria prima. Assim se separam as tranças de palha, as de fibras e as de talas. Cada
estilo é trabalhado de modo diferente. A definição de um estilo não depende da planta do
qual é retirado, pois do buriti, por exemplo, se utilizam palhas e fibras. Separamos estes
em dois estilos, devido a importância social que tem sua utilização para o povo
Wapichana, onde os artesãos separam palhas de fibras, pois ambos tem usos muito
diferentes.
Para a confecção dos artesanatos de tranças é necessário a matéria prima da
natureza que são as plantas nativas. Estas plantas nascem naturalmente em espaços e
solos apropriados. Existem plantas nativas específicas para fazer diversos tipos de
artesanatos de tranças. Na comunidade Malacacheta, da região serra da lua, no
município de Cantá, as plantas nativas que são utilizadas para fazer artesanatos de
tranças são: arumã, tucumã, cipó titica, cipó ambé e buriti.
O artesanato de palha refere-se a produção feita das folhas de buriti e tucumã. O
buriti se desenvolve no solo dos córregos de água, em locais muito úmidos. O tucumã
se desenvolve de preferência no espaço que se tornou capoeira. A capoeira é um espaço
que foi utilizado para fazer plantio de roças, onde se plantaram diversas espécies, tais
como: mandioca, melancia, abóbora, etc. As palhas são aproveitadas de forma natural, ou
seja aproveitam-se as folhas, que passam por um processo de corte, e preparo especial.
As palhas de buriti servem para confeccionar vestimentas e para fazer cestos como a
Darruana. As palhas de tucumã são aproveitadas para fazer abanos.
Outra forma de aproveitar estes vegetais é retirando as fibras. As fibras retiram-se
da palha ou folha do buriti, desfiando a folha, o que permite elaborar artesanatos mais
delicados, como bolsas, chapéus, saias e sutiãs. Também se utilizam as fibras para fazer
colares e cestos pequenos. Outra planta da qual se utilizam as fibras é o curawã, cujas
fibras são separadas e utilizadas para fazer cordas que são de grande resistência.
O artesanato de talas é feito principalmente de arumã. O arumã se desenvolve em
solo bastante úmido. Para ser utilizado deve ser colhido no momento certo, quando
consideramos maduros. Ao ultrapassar esse ponto, envelhecerá e apodrecerá, ficando
em decomposição, mas antes da decomposição, das suas raízes nascerá outros
pequenos arumãs. O procedimento de retirada do arumã é o seguinte: retiram-se as
varetas completas da mata e depois são trabalhadas para tirar somente as talas.
Deixando somente a raiz no lugar. As talas são tiradas do arumã e do cipó.
O cipó titica se desenvolve na mata, enroscando-se em árvores bem altas e o
cipó ambé se desenvolve no solo úmido (brejo), pendurado nas árvores bem altas ou até

33
mesmo em outras plantas nativas, como o buriti. Estes cipós alcançam um comprimento
de três (3) metros ou mais.
Com as palhas, fibras e talas são feitos diversos artesanatos. Com talas de arumã
são feitas, peneiras de vários tipos e utilidades, tipiti, jamanxi e balaio; com talas de cipó
titica são feitas cestarias, vassoura e outros conforme a criatividade de cada indivíduo;
com as fibras de buriti são feitas vestimentas (saia e sutiã), e com a palha se faz a
darruana, com a palha e tala de tucumã se faz abano. Cada um destes artesanatos
possui funções diferentes, vejamos abaixo alguns exemplos:

a) Peneira dependendo do seu formato-serve para peneirar massa de mandioca


(farinha e beiju), goma, e também serve para coar caxiri, etc;
b) Tipiti-serve para espremer massa de mandioca;
c) Jamanxi-serve para carregar mandioca, lenha etc, conforme o peso;
d) Balaio-serve para guardar e algodão limpando-o, antes de ser fiado;
e) Cestas-serve para guardar diversas coisas, dependendo do tamanho;
f) Vassoura-serve para varrer o quintal da casa;
g) Saias e sutiãs-são usados nas danças indígenas;
h) Darruana-serve para carregar peixes durante a pescaria;
i) Abano-serve para virar beiju, quando estiver assando e até mesmo abanar o fogo.
j)
As pessoas que produzem os artesanatos são preferencialmente as pessoas
maiores, idosas, que detém o conhecimento e repassam para os seus descendentes.
Além das artes de trançar, recentemente foi introduzido entre os wapichana a
cerâmica feita de barro, que foi ensinado pelo povo Macuxi, qual o resultado foi muito útil,
pois propiciou além da economia na compra de panelas um retorno aos nossos costumes
passados. Este conhecimento de fazer panelas de barro foi repassado de preferência de
uma pessoa idosa para outra. Isto ocorre desta forma porque segundo a tradição
indígena, somente pessoas idosas podem trabalhar com este tipo de material (barro),
porque são necessários certos rituais e procedimentos bem definidos, para não sofrer as
conseqüências, que podem causar certas doenças as pessoas. Seguindo estes rituais
poderão ser produzidos artefatos duradouros, difíceis de quebrar. Do barro se produzem:
panelas, potes, cofres e bandejas.
No caso do barro, fica evidente a relação entre a natureza e a vida dos povos
indígenas, onde os rituais para se retirar o barro demonstram a religiosidade do povo, a
qual comentaremos a seguir. Na atualidade uma minoria das pessoas pratica estes
conhecimentos. Além da escola, a entrada de igrejas cristãs nas comunidades, também
contribuíram para a mudança cultural e para que os indígenas deixassem de lado as
crenças dos seus antepassados, tema que será debatido no próximo item.

34
2.2) A Valorização Cultural

O conhecimento de fazer as tranças se conserva muitas das vezes no seio familiar.


Os avôs fazem questão de ensinar os seus conhecimentos. Isto, porque sentem orgulho
de dizer aos parentes que ensinaram os seus netos (as). Isto ocorria com freqüência
antes do ensino ser feito entre as quatro paredes da escola. Neste sentido podemos dizer
que quando se iniciou o ensino e aprendizagem nas salas de aula, as famílias tiveram
dificuldade para repassar estes conhecimentos para as novas gerações, talvez por não
haver tempo suficiente para estarem juntos com seus filhos (as) e netos (as).
A nova geração de wapichanas ocupa boa parte de seu tempo na escola. Isso faz
com que todos se preocupem em aprender os novos conhecimentos da escola. Tudo isso
no contexto de mudança social imposta às comunidades e povos indígenas, devido ao
convívio crescente junto da sociedade não indígena. A esse respeito a introdução de
computadores nas escolas indígenas tem colocado novas expectativas em relação a
formação escolar. Isto lamentavelmente implica em uma desvalorização dos
conhecimentos tradicionais.
Vemos desta forma que o conhecimento tradicional vem perdendo espaço diante
dos conhecimentos divulgados pela escola. E isto não se refere apenas ao artesanato,
mas a cultura de forma ampla, pois na mesma medida em que o conhecimento do
artesanato vem perdendo espaço diante do avanço de produtos manufaturados e
industriais, a língua wapichana vem perdendo espaços diante do avanço e predomínio da
língua portuguesa.
Para ampliar o debate, sentimos a necessidade de discutir o próprio conceito de
cultura, desmitificando-o e contextualizando o momento atual das escolas e
comunidades.
As novas gerações, mesmo adquirindo e acompanhando esses avanços nos
conhecimentos, devem lembrar e valorizar a cultura a qual pertencem. Segundo Repetto:

A cultura não pode ser vista apenas como “aspectos” ou “traços” culturais, ou
simples somatórios de crenças, costumes ou formas de viver. A cultura não é
estática, e, portanto não se pode esperar que permaneça sempre igual. A própria
cultura dos não indígenas muda. E não é por isso eles deixam de ser o que são.
A mudança e a continuidade histórica se processam nas formas de pensar e na
consciência coletiva. A mudança cultural não pode ser vista apenas como perda
de cultura. O fato de que alguns povos indígenas não falem suas línguas e
tenham adotado elementos culturais dos chamados “brancos”, não os transforma
em brancos. (REPETTO,2008,P.66,67)

Apesar deste contexto de mudança há famílias que guardam o conhecimento da

35
língua wapichana e ao mesmo tempo praticam a produção de artesanatos, valorizando
sua cultura. Vemos assim que ainda existem práticas e vivência dos conhecimentos dos
antepassados. Na comunidade, a cultura se vivencia de diferentes formas, uma é a
relação que as pessoas sentem e estabelecem com a natureza e com o desenvolvimento.
O contato com a natureza é muito importante para o povo wapichana, pois a ela se
vinculam os conhecimentos dos seus antepassados apesar das interferências de outras
culturas nas comunidades indígenas.

Assim, por exemplo, existe uma série de rituais e orações com que as pessoas se
previnem das forças da natureza, ou se preparam para enfrentá-las, por exemplo os
homens que fazem tratamentos para preparar-se para a vida, isto é, para ser um caçador
ou pescador através das suas orações.
Apesar de nem todas as famílias conhecerem e saberem todas as práticas destes
conhecimentos eles ainda são praticados, direta ou indiretamente.
Por isso é necessário que estes “saberes” sejam repassados com mais urgência
para as novas gerações. No entanto as pessoas idosas pensam que não é bom que os
jovens adquiram certos conhecimentos, como: as orações para proteger crianças dos
espíritos dos animais silvestres (caças); a oração de pedir permissão antes de comer
determinados alimentos proibidos para certo tipo de resguardo, por exemplo, o pai ou a
mãe que está com filho (a) pequeno com a idade de zero a três (3) anos, ou quando a
moça fica menstruada pela primeira vez, ou quando uma pessoa está de luto. As pessoas
pensam que se os jovens fizerem estas orações, iram envelhecer mais cedo. Para
compreendermos melhor a relação existente entre a cultura e a natureza, podemos ver
em CHAUI, o seguinte texto:

A distinção entre a natureza e cultura é recente, pois, tais como a conhecem,


data do século XVIII. No entanto, a distinção entre natureza e ação humana
(ética, política, história, técnica) é antiga e foi tematizada de várias maneiras
pela filosofia, desde suas origens. Aqui, queremos mencionar três aspectos que
tornam essa oposição desprovida de sentido no mundo contemporâneo: a
concepção científica atual da natureza; e a natureza tomada como patrimônio
ambiental nacional; e a natureza como mercadoria. Se partirmos da idéia de
natureza, constataremos que esta se desdobra em vários sentidos. Tomada
individualmente, ela é a substancia (matéria e forma) dos seres, é principio de
vida ou principio ativo que anima e movimenta o ser (onde a existência de
expressões como “deixar agir a natureza” ou “seguir a natureza” para significar
que se trata de uma força espontânea, capaz de gerar e de cuidar de todos os
seres por ela criados e animados). E, como um núcleo definidor de um ente, e
a essência ou aquilo que constitui necessária e universalmente alguma coisa,
determinando o conjunto de qualidades, propriedades e atributos que a fazem
existir e agir tal como existe e age. Tomada como realidade físico-química e

36
biológica, ou como a natureza ela e a organização universal e necessária dos
seres segundo uma ordem regida por leis inalteráveis. Nesse sentido
caracteriza-se pelo ordenamento dos seres, pela regularidade dos fenômenos e
dos fatos, pela freqüência, pela Constancia e pela repetição de encadeamentos
fixos entre as coisas, isto é, de relações de igualdade entre elas. Em outros
termos, a natureza e a ordem e a conexão universal e necessária entre as
coisas, expressas em leis naturais. (CHAUI, 2006, p. 103 e 104)

A valorização da natureza e da cultura, para os povos indígenas e não-indígenas é


bastante diferente, já que cada cultura tem uma maneira especial de ver e agir conforme
o sentido da realidade da qual se sente parte. Assim, e retomando as idéias da Chauí,
vemos como na cultura ocidental a natureza tem sido vista apenas como mercadoria e
bem de consumo, onde prima a idéia de tirar proveito, sem pensar nas conseqüências.
Enquanto os povos indígenas se sentem muito mais ligados a natureza, pensando ela
como uma mãe, e não como mercadoria.
Na religião indígena, as pessoas dialogam com a natureza, antes de tocá-la.
Porque no conhecimento tradicional indígena, tudo que existe na natureza tem um
responsável, um ser espiritual, um “dono” que cuida de cada elemento. Por isso sempre é
necessário um diálogo e orações antes de utilizar determinadas matérias primas da
natureza.
Antigamente os indígenas Wapichanas conservavam e praticavam muito estes
conhecimentos, para sua própria segurança. As suas crenças eram guardadas pelos mais
velhos, porque na cultura indígena, estes são as fontes do saber. Para enfrentar tudo na
vida era necessário obedecer aos mais velhos, e assim poderiam ter mais chances de
sucesso. Temos como exemplo o barro, pois para ser retirado do seu local e produzir
utensílios domésticos, é preciso dialogar (fazer uma oração), pedindo a permissão da
vovozinha (responsável ou dona do barro). Segundo os antigos pode-se pedir desta
forma, mas em língua indígena e que traduzido ao português significa: quero um pouco
do seu barro vovozinha, para fazer minha panela. Ela ouvirá o pedido e atenderá e não
deixará mal algum atingir a pessoa que estará trabalhando com este material. Caso estas
medidas não sejam seguidas, as pessoas podem adoecer e o material não sair como
esperado.
E para tirar os cipós, é quase igual, pede-se a permissão da vovozinha (esta é
outra vovozinha que é responsável especificamente pelos cipós) e desta forma enrola a
ponta do cipó na mão antes de ser cortado, e fala: vovozinha quero um pedaço do seu
cabelo. Logo é só puxar que o cipó será torado por si próprio, lá em cima da árvore, isso
é porque ela deu a permissão, se o cipó fosse cortado sem pedir a permissão, seria
necessário subir na árvore para cortar. Para tirar o arumã, não existe nenhum diálogo

37
com seu responsável, porém para fazer os trançados tem horários apropriados. As cinco
horas em diante não pode fazer os trançado com este material, senão o artesão ficará
cego, não de imediato, mas no decorrer da sua vida, mesmo sendo novo sofrerá a
conseqüência da sua desobediência.

2.3) Os procedimentos de produção de artesanatos

Os procedimentos de produção, de artesanatos variam de acordo com os


produtos produzidos, por isso iremos ver abaixo alguns exemplos de produtos artesanais
de outras culturas, conforme a classificação de seu uso. É importante conhecer e
aprender a fazer os artesanatos de outras culturas, sem deixar de lado, os produtos
artesanais pertencentes ao seu povo. O enriquecimento do conhecimento do ser humano
nunca deve ser limitado, somente no contexto do seu povo, porque na verdade não tem
como fugir da realidade.
Segundo o SEBRAE (2009):

Os produtos artesanais também são classificados segundo o seu uso. Assim


temos:
Adornos e acessórios: objetos de uso pessoal, como jóias, bijuterias, cintos,
bolsas, peças para vestuário etc..
Decorativo: objetos produzidos para ornamentar e decorar ambientes.
Educativo: objetos destinados às praticas pedagógicas.
Lúdico: objetos produzidos para o entretenimento e para representação do
imaginário popular. Exemplos: jogos, bonecos, e brinquedos, entre outros.
Religioso: peças destinadas aos rituais ou para demonstração das crenças e da
fé. Exemplos: imagens, adornos, altares e oratórios, entre outros.
Utilitário: peças produzidas para satisfazer às necessidades de trabalho das
pessoas, sejam no campo ou na atividade doméstica. Peças de grande
simplicidade formal, seu valor é determinado pela importância funcional, e não por
seu valor simbólico.(SEBRAE,2009)

A produção de artes (artesanato), que são feitos manualmente com a utilização


de meios tradicionais são sempre trabalhadas com mais dedicação. É interessante
observar a diferença dos produtos de artesanatos que são produzidos e utilizados pelo
povo indígena e não-indígena. Porque as peças de artes são produzidas de acordo com a
necessidade de cada povo.
A maioria dos artesanatos dos povos indígenas, eram produzidos simplesmente a
partir de matérias primas da natureza, embora na atualidade, algumas ferramentas são
utilizadas para facilitar o trabalho, na coleta e na produção. Por exemplo: o facão, as
cordas, serrinha etc. As matérias primas continuam sendo utilizadas com freqüência, por
poucas pessoas que ainda produzem. Em cada comunidade indígena sempre tem uma
pessoa ou mais, que produzem algum artesanato do seu povo.
Todos os artesanatos indígenas de grande tamanho são de utilização diária para

38
o povo indígena, o artesanato pequeno é produzido somente quando os povos não-
indígenas começaram a dar uma outra função que era de ser apreciada com objetos
decorativos.
Os artesanatos dos não-indígenas tem a função de decorar os ambientes e
alguns possuem outras funções utilitárias, como já vimos anteriormente. A principal
diferença entre os artesanatos indígenas e não-indígenas é referente à matéria prima
com o qual cada um é produzido. Os indígenas produzem seus artesanatos, com mais
recursos da natureza e os não-indígenas usam vários produtos artificiais, para que haja
beleza no seu trabalho. Ambos os povos não dão o mesmo valor a estes produtos.
As plantas nativas são aproveitadas de várias formas diferentes. Abaixo
abordaremos os procedimentos para a produção de artesanato feito pelo povo
Wapichana da comunidade Malacacheta e outras comunidades indígenas vizinhas:

Planta nativa- ARUMÃ


Artesanato- PENEIRA DE FARINHA

PROCEDIMENTOS:
1-tirar-25 arumãs
2- raspar os arumãs com cuidado, e não raspar muito profundo, deixar sem raspar as
duas pontas (3cm),
3-partir em 4 partes as pontas de cada arumã,
4- de 4 partes partir mais 8;
5- de cada 8 partes, tirar as camadas internas (bucho), da 1ª a 3ª camadas e assim
chegando na tala;
6-com 16 talas começa a trança;
7-colocar 4 talas horizontalmente e 4 verticalmente;
8-colocar as 4 talas horizontais entre as outras verticais;
9- quanto mais colocar as talas verticalmente é necessário colocar também
horizontalmente;
10-as talas são colocadas em excesso, para haver muitos furinhos, onde passara a
massa de mandioca;
11-são usados 35 talas em toda a peneira e mais 5 para cada lado para o acabamento;
12-de cada lado tanto horizontalmente e quanto verticalmente colocar as 2 varetas para
dar o suporte;
13-arrematar com fibra de arumã em todos os lados;

39
Planta nativa- ARUMÃ
Artesanato-PENEIRA DE BEIJU E COADOR DE CAXIRI

PROCEDIMENTOS:
1- 15 arumã de 1 metro;
2- Raspar os arumas com cuidado, e não raspar muito profundo, deixar sem raspar
as duas pontas(3cm);
3- Partir em 4 partes as pontas de cada arumã;
4- De 4 partes mais 8;
5- De cada 8 partes, tirar as camadas internas (bucho), da 1ª a 3ªcamadas e assim
chegando na tala principal;
6- Começar o trançado com 6 talas horizontalmente e 7 verticalmente, e sempre o
vertical terá uma tala a mais do horizontal;
7- As talas que são colocadas horizontalmente chegam no total de 29 e verticalmente
no total de 30;
8- Após terminar o trançado é colocado, cinco talas em cada lado para fazer o
acabamento;
9- Em cada lado tanto verticalmente e quanto horizontalmente é colocado 2 varetas
para dar o suporte;
10-Arrematar com fibra de arumã;

Planta nativa- ARUMÃ


Artesanato-JAMANXI

PROCEDIMENTO:
1-tirar 45 arumãs,40 de 1 metro e meio e 5 de 2 metros;
2-raspar os arumãs com cuidado, e não muito profundo, deixar sem raspar as duas
pontas (3cm);
3- partir em 4 partes as pontas de cada arumã;
4- de 4 partes mais 8;
5-de cada 8 partes, tirar as camadas internas (bucho), da 1ª a 3ª camadas e assim
chegando na tala principal;
6-a trança começa com 6 talas verticalmente e 2 horizontalmente, de cima para baixo;
7- as 6 talas que estão na posição vertical permanecerão até a parte horizontal completar
70 talas, após isto, serão colocadas mais talas na vertical até completar 40;
8-colocar 2 varas de cada lado no final da trança das talas verticais;
9- arrematar com fibra de curaúa;
10- as talas de 2 metros serão trançados na parte da frente do jamanxi, que fica no
formato de um oval( U) ,
11-arrematar com cipó de 1metro e meio, por dentro e por fora do oval, isto é no
acabamento do jamanxi;
12- na parte da frente do jamanxi, onde é o oval, colocar a fibra de curaúa, fazendo zig-
zag, e amarrar, para impedir que a massa caia de dentro;
13- colocar por ultimo a corda do jamanxi, que é a casca da madeira de tawari;
Obs: A corda do jamanxi serve para colocar e carregar-lo na cabeça;

40
Planta nativa-ARUMÃ
Artesanato-TIPITI

PROCEDIMENTO:
1- tirar 20 arumãs de 2 metros;
2- raspar somente a metade dos arumãs com cuidado a outra metade deixar com a
casca, marcando e deixando 3 cm com a casca nas duas pontas;
3- em uma ponta do arumã partir em 4 partes;
4- de 4 partes dividir em 8;
5- de cada 8 partes, tirar as camadas internas (bucho) da 1ª a 3ª, e assim chegando
na tala principal;
6- dos 20 arumãs poderá tirar 160 talas;
7- com 25 talas começa a trança do tipiti da parte da frete e mais 25 a parte de trás;
8- na parte da frente do tipiti, onde se põe a massa de mandioca é colocado mais 30
talas e na parte de trás a mesma quantidade, isto é para continuar o trançado até o
acabamento, depende muito do tamanho do tipiti;
9- na trança uma tala vai por cima e outra vai por baixo, de um lado para outro no
formato de um X;
10- no final arrematar com a fibra de curauá;
obs: as talas que sobram, servirão para outro tipiti, e pode passar por muito
tempo sem perigo de estragar.

Planta-nativa-CIPÒ-TITICA
Artesanato- VASSOURA

PROCEDIMENTO:
1- tirar 33 cipó titica, 30 de 1 metro e meio e 3 de 3 metro e meio;
2- raspar profundamente e tirar a casca grossa do cipó;
3- partir em 6 partes cada cipó;
4- dobrar 6 cipós de 1 um metro;
5- colocar no meio dos cipós uma vara grossa;
6- fazer o trançado na metade das dobras dos cipós de 1 metro com os cipós de 3
metros de baixo para cima;
7- as talas que ficaram para cima, onde está a vara, retornará para baixo;
8- após as talas retornarem para baixo, serão colocados, mais talas até ficarem bem
distribuídas;
9- fazer um pequeno trançado de largura de 2 cm, no meio da vassoura, para fazer
uma boa distribuição e dar suporte;
10- após estarem bem distribuídas corta-las na medida igual;

41
Planta nativa- TUCUMÃ
Artesanato- ABANO

PROCEDIMENTO:
1- tirar 2 palhas novas (olho- de- tucumã);
2- colocar as palhas por dois dias no sol;
3- tirar a tala com um pouco de palha;
4- começar a trança com 5 talas de um lado e da mesma forma do outro lado, em um
formato de um X;
5- colocar uma tala por cima e outra por baixo e assim sucessivamente;
6- na metade da trança do abano as talas estarão no total de 20. 10 talas de um lado
e do outro na mesma quantidade;
7- o abano estará pronto com total de 50 talas, sendo 25 de um lado e do outro na
mesma quantidade;
8- as pontas das 25 talas irão de um lado para outro, para poder ser arrematado;
9- arrematar com curauá o abano por completo. curauá é uma planta nativa, do
formato do abacaxi e dela se tira a fibra que é feita como corda.;

O importante do artesanato é que por detrás desses produtos existe sempre uma
proposta, uma afirmação sobre estilos de vida e de valores. Veremos abaixo passos de
alguns artesanatos que são produzidos na comunidade indígena Malacacheta.
Depois de ver estes exemplos podemos tentar dar uma definição do que seja o
artesanato para o povo wapichana. Na língua Wapichana, falamos tyzt'karynau, que
significa literalmente “os trançados”, em geral. Isso nos mostra que para o nosso povo
Wapichana artesanato é aquilo que se trança. A produção de panelas de barro, por
exemplo, em estrito rigor não seria um artesanato.

42
3- O ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NO CURSO LICENCIATURA
INTERCULTURAL

3.1) Uma Experiência Pedagógica

Como explicamos anteriormente, o presente trabalho surgiu com uma proposta


pedagógica dentro do Estágio Curricular Supervisionado do curso de Licenciatura
Intercultural. Foi assim que elaboramos um projeto pedagógico para discutir a valorização
cultural wapichana através do artesanato. Desta forma fizemos uma pesquisa sobre a
construção de propostas pedagógicas para a escola indígena a partir da disciplina de Arte
Indígena, na qual centramos o debate no artesanato.
Esta proposta está em concordância com a proposta pedagógica do curso, que
estimula a pesquisa e a reflexão do contexto das próprias comunidades indígenas, de
forma que os estudantes possam buscar alternativas para o fortalecimento de sua cultura.
Nesta situação foi necessário seguir todas as etapas dos estágios, como explicaremos a
seguir.
A primeira fase do estágio supervisionado foi para fazer o diagnóstico dos
problemas e dificuldades que afetam a escola e o desenvolvimento pedagógico dos
alunos na comunidade Malacacheta. É bastante complexo abordar os problemas e
dificuldades em uma comunidade, isto é, porque existem vários.
O diagnóstico foi feito através de várias reuniões comunitárias e da escola. Entre
os vários temas foi escolhido: A valorização cultural Wapichana através do artesanato e a
língua de origem. Este tema é bastante polêmico, devido às imposições de outras
culturas, e a idéia que muitos indígenas tem de que a cultura ou em específico a língua
ou o artesanato não tem um valor na atualidade.
Uma vez feito o diagnóstico construímos uma estratégia a partir do trabalho na
disciplina de Arte Indígena. O tema foi apresentado para a comunidade em uma reunião
comunitária, para ouvir a opinião da maioria, nos surpreendemos porque as pessoas
gostaram do tema proposto, pois a influência e a imposição de outras culturas sobre a
cultura do povo indígena está sendo cada vez mais forte e muitos querem reverter essa
situação. Por isso que os povos indígenas estão se tornando dependentes, no sentido de
utilizar tudo o que os não indígenas produzem. Esta situação é bastante crítica para todas
as comunidades que procuram o seu desenvolvimento sem deixar de valorizar a sua
cultura.
Nesta segunda fase do Estágio construímos esta proposta de trabalho com
artesanato na disciplina de Arte Indígena, que veio envolver pesquisa, assim como

43
trabalho de estudo e orientação junto aos alunos envolvidos nos trabalhos.
A proposta foi articulada com uma estrutura de projeto de pesquisa. A construção
da proposta pedagógica foi junto com algumas pessoas da comunidade, porém de início
foi apresentado à comunidade em geral o roteiro para a construção da proposta
pedagógica.
A apresentação foi interessante, porque teve uma pequena discussão e reflexão,
a respeito da valorização da cultura indígena wapichana.
Cada participante que questionou ou fez sua colocação a respeito da cultura do
seu povo, contribuiu para enriquecer a construção da proposta, isto é porque as
perguntas se referiam a preocupação de como seria executado o trabalho, para que
houvesse a participação das pessoas da comunidade.
A explicação da participação das pessoas da comunidade é de suma importância,
porém de inicio requer primeiramente a participação dos mestres de artes, através deles
conseguimos adquirir conhecimentos da prática do artesanato e também a fala da língua
wapichana.
Após essa etapa de trabalho com os mestres de artes indígenas, se planejou a
teoria e a prática com os jovens ou pessoas que se interessavam em adquirir estes
conhecimentos indígenas. Esta foi a explicação repassada para as pessoas da
comunidade, depois as pessoas interessadas em participar e assim repassar seus
conhecimentos foram apresentadas.
Para complementar a idealização da construção da proposta pedagógica, foi
necessário fazer algumas entrevistas com algumas lideranças, porque a proposta
pedagógica traz a necessidade de realizar um estudo com profundidade para que possam
contemplar as idéias e assim procurar boas alternativas para a solução do problema.
O acompanhamento do orientador no estágio, foi de grande importância, pois
contribuiu bastante para direcionar e corrigir o que muitas das vezes queremos dizer,
através da escrita.
A terceira fase do estágio, foi para execução do projeto pedagógico.
Primeiramente foi feita a apresentação da proposta para a comunidade, porém era uma
proposta flexível, mas para ser executada foi necessário criar metodologias a serem
seguidas, como estas:

- apresentação do trabalho na reunião comunitária, (proposta pedagógica);


- convite aos mestres de tranças com o material de arumã;
- reuniões para organização do trabalho das tranças;
- coleta dos materiais para a execução do trabalho;

44
- produção do artesanato;
- registros fotográficos;
- pesquisas das mudas de arumã;
- produção de mudas;
- oficinas das práticas de artesanatos com os jovens;
- produção de pequenos textos em wapichana referente ao artesanato;
-catalogar os artesanatos;
- visualizar as produções;

Estes foram os métodos seguidos para executar a proposta pedagógica, a


maioria foi executado com sucesso, porém alguns itens não foram possíveis executar,
porque o tempo não foi suficiente para que pudesse realizar todos.
A realização da proposta pedagógica foi bastante interessante, isto é, porque
teve um bom aproveitamento, tanto para os mestres de artes indígenas e também para os
aprendizes, pois o envolvimento e a contribuição da prática dos conhecimentos tradicional
indígena fizeram bem a todos.
Na primeira semana, o trabalho foi somente dos mestres de artes. Estes
demonstraram com detalhe todo o processo de trabalhar com o material de arumã.
Durante o trabalho sempre apareciam pessoas, para apreender ou até mesmo tirar as
dúvidas, que tinha a respeito da produção do artesanato com o material de arumã. E
todos participavam direta e indiretamente.
A proposta pedagógica contemplava uma oficina de produção de artesanato e
também de ensino e aprendizagem dos jovens e das pessoas da comunidade que
desejassem enriquecer seu conhecimento com a prática de artesanato.
Após a análise de como seria a oficina, chegamos a conclusão em um encontro
pedagógico de professores, que deveria ser com a disciplina de Arte Indígena. Discutimos
a respeito de ensino e aprendizagem dos alunos com mais dedicação na produção de
diversos artesanatos indígenas. Pois na realidade os alunos já produzem suas artes na
oficina da escola, estes que aprenderam com seus pais e avós e outros que querem
aprender na escola.
Nestas oficinas participariam os mestres natos da própria comunidade, ele
poderia fortalecer e ajudar na valorização da cultural.
As oficinas foram realizadas na escola com a participação dos alunos de 5ª a 8ª
série e também dos próprios professores para auxiliar os mestres de artes, nas segundas
e quartas-feiras. A contribuição de todos nas oficinas foi excelente. Alguns alunos
procuraram realmente aprender e outros fizeram questão de demonstrar o que sabiam
sobre artesanato, tanto teoricamente como na prática.

45
A produção de tranças com arumã alcançou 21 peças de artes indígenas. Foram
produzidas somente peneiras, mas para diversas utilidades. A peneira mais produzida foi
de beiju e caxiri. Durante a produção deu para falar na língua de origem de todos, que é o
Wapichana, assim como nas horas da explicação de como fazer os artesanatos.
A quarta fase do estágio foi de análise e conclusão e serve de base para o
presente trabalho. Analisando todo o contexto da comunidade Malacacheta e também de
outras comunidades, pesquisamos como as oficinas e os projetos poderiam ajudar no
desenvolvimento das comunidades Indígenas. É importante falar que para se fazer um
projeto é preciso conhecer bem a realidade Indígena. Muitos projetos bons fracassam
justamente por falta do conhecimento destes problemas que impedem um bom
desenvolvimento dos projetos nas comunidades.
É necessário, antes de qualquer proposta de projeto em uma comunidade, que se
ouça a posição dos moradores, porque são eles que irão participar direta e indiretamente,
os mesmos conhecem melhor todo o seu contexto, por isso, cada sugestão dada por eles
tem um valor diferente do que uma pessoa outra.
Porque na realidade somente pessoas que moram na comunidade por muito
tempo, que conhecem o clima, o solo e até mesmo toda a trajetória daquele local. Por
isso, requer a participação mútua destes, desde o princípio, em qualquer proposta de
projeto. Pois desta forma toda a realização do projeto terá sucesso. Isto é, porque o
projeto é muitas vezes somente enviado, sem saber a real situação daquele lugar, e
acaba faltando recursos e deixa a desejar na realização.
O projeto construído com a participação das pessoas da comunidade, terá resultado,
porque saberão montar boas estratégias para realizar o projeto, principalmente para dar
alternativas ao desenvolvimento da comunidade e solucionar alguns problemas
existentes.
A contribuição principal, dos que possuem um nível de estudo mais elevado é na escrita e
também conforme seu estudo científico,pois a soma de ambas as partes chega a
construir um projeto que atenda e resolva o problema existente.
Segundo Maria Helena Ortolan Matos, aborda que:

A execução e gestão de projetos indígenas: Criando tradição e-ou reflexão. A


questão proposta me instigou a traçar um movimento reflexivo sobre o caráter da
dificuldade operacional enfrentadas na implementação de projetos indígenas, que
introduziram novas práticas no campo da política indigenista Brasileira. As
expectativas dos agentes financiadores e das organizações e comunidades
indígenas quanto ao resultado desses projetos nem sempre ser atendidas ou
efetivadas na realidade. Os envolvidos nos projetos procuram entender as razões
desses desencontros entre o desejado, o planejado e o executado. Cogitam-se
razões de várias naturezas, desde as técnicas, como falta de capacitação e de

46
habilidade dos agentes indígenas para execução das ações, até de caráter
pessoal, entre as quais a falta de compromisso dos indígenas designados para as
ações. Há, no entanto, questões bem mais complexas e menos aparentes a
serem consideradas, sobretudo se entendemos que as definições e as
elaborações de projetos constituem encontros e desencontros de sistema culturais
distintos (pg.21). Uma das dificuldades mais freqüentes dos projetos indígenas em
atingir os resultados esperados diz respeito á obtenção do compromisso dos
membros da comunidade na execução das ações previstas. Tomo como exemplo
experiências no âmbito do PPTAL-FUNAI.(...) Os proponentes dos projetos podem
ser tanto organizações indígenas quanto organizações indigenistas, mas a
execução das atividades previstas é de responsabilidade das comunidades
indígenas, que são as beneficiarias da implementação do projeto (pg. 24). Como
já ressaltado, projetos apoiados pelo PPTAL-FUNAI têm como orientação básica o
envolvimento das comunidades indígenas nas fases de elaboração e de execução
das atividades previstas. Essa orientação pressupõe que o sucesso na execução
das ações se vincula ao compromisso assumido pelas comunidades em relação
às ações do projeto, seja direta ou indiretamente. (MATOS,2007 p.26).

Estes parágrafos são bastante interessantes, porque abordam um pouco do


diagnóstico ou experiências vivenciadas em meio ao povo indígena. Isso nos faz refletir,
como pode ser trabalhado os projetos nas sociedades indígenas, para um bom
desenvolvimento das comunidades, isso se referindo ao desejado, o planejado e o
executado. Em todos os projetos sempre existirá desencontros entre os três itens: o
desejado, o planejado e o executado que devem ser compreendidos pelos participantes,
isto é, porque se não houver um bom diálogo com certeza não haverá uma boa
compreensão, para que passe se por cada processo do projeto e tenha um bom
resultado.

3.2) Propostas pedagógicas: o III estágio

No III estágio, observamos melhor como seria a realização do que foi idealizado,
junto com os participantes da comunidade, que são os principais, em toda a realização da
proposta.
Por isso, abaixo citaremos e comentaremos alguns itens que foram realizados
com sucesso.

Apresentação da proposta para a comunidade.

Toda a proposta de projeto a ser executado em uma comunidade indígena deve


ser apresentada em uma reunião comunitária, onde as pessoas estão em massa
discutindo os assuntos para o desenvolvimento da comunidade. A comunidade deve estar
ciente de todo o processo do projeto, para que possam se envolver e participar
ativamente.
Para atender as necessidades de uma comunidade, o projeto precisa-se ser

47
construídos junto com as pessoas pertencentes e interessados. Porque são eles que
conhecem a real situação, a ser trabalhada e combatida, que na realidade irão abordar o
principal fator que ocasiona os problemas. E até mesmo juntos podem ser idealizados
várias alternativas para desenvolver em uma comunidade.
A participação das pessoas da comunidade será sempre necessária na
construção ou discussão de algum projeto, que será realizada em uma comunidade
indígena. Se os projetos forem enviados para a realização na comunidade, sem a
participação mínima das pessoas pertencentes. Deixará algo a deseja na realização do
projeto.

Dialogo com os mestres de artes indígenas

É muito importante a participação e valorização dos mestres de artes indígenas.


Porque dialogando com eles poderemos adquirir conhecimentos, que ainda existe nas
comunidades. Se caso exista alguma pessoa que conheça ou pratica, algum
conhecimento da tradição indígena deve no máximo valorizá-lo e respeitá-lo, porque eles
são a fonte de conhecimento tradicional indígena.
O diálogo com os mestres de artes é de grande importância. Porque quando
queremos saber algo, temos primeiramente que dialogar com eles para dizer o que
queremos saber. Nestes momentos temos que ser flexíveis e compreensivos com eles.
Conforme o SEBRAE,(2009), Os artesãos ou grupos de artesãos recebem uma
classificação segundo a forma organização do trabalho que executam. São identificadas
as seguintes funções e estruturas organizacionais:
MESTRE ARTESÂO
Indíviduo que se destacou em seu ofício, conquistando admiração e respeito não
somente de seus aprendizes e auxiliares artesãos, como também dos clientes e
consumidores. Sua maior contribuição é repassar, para as novas gerações,
técnicas artesanais e experiências fundamentais de sua atividade.
ARTESÃO
É o que detém conhecimentos técnicos sobre os materiais, ferramentas e
processos de sua especialidade, dominando todo o processo de capacitação.
APRENDIZ
É o auxiliar das oficinas de produção artesanal, encarregado de elaborar partes do
trabalho e que se encontra em processo de capacitação.
ARTISTA
Todo artista deve ser, antes de tudo, um artesão, no sentido de dominar o ''saber
fazer'' de sua àrea de atuação. Desenvolve em seu trabalho uma coerência
temática demonstradas em seu compromisso de criar sempre coisas novas e ir
além do já conhecido.

È importante esta classificação de acordo com a forma da organização dos


trabalhos executados, porque complementa a idéia como é posta na prática da sociedade

48
indígena. Os mestres de artes nas comunidades indígenas, são pessoas idosas, que tem
muitas experiências vividas a contar. Na cultura do povo indígena as pessoas idosas
devem ser bem respeitadas e valorizadas, porque são eles que guardam os
conhecimentos dos seus antepassados, Na antiguidade a sociedade indígena praticava
mais seus elementos culturais, os conhecimentos tradicionais indígenas eram repassados
antigamente através de alguns rituais, para que um jovem indígena fosse bem sucedido
na sua sociedade e família. Para que um jovem indígena pudesse casar era necessário
que o mesmo tivesse adquirido e soubesse praticar algum conhecimento dos seus
antepassados para que não fosse uma vergonha à sua família e não passasse
necessidade.
A sociedade indígena na antiguidade era mais natural, obedecia e seguia todos os
conhecimentos dos seus antepassados. A coletividade era mais presente no meio do
povo, onde todos procuravam alcançar o mesmo objetivo, sem haver nenhuma
desigualdade.

A importância do estudo no campo

O estudo no campo é melhor do quer estudar entre as''quatros paredes'' da sala


de aula, todos os dias. Mas para que ocorra um estudo com mais profundidade no
assunto requer que se planeje, para que se busquem conhecimentos concretos e
enriqueçam os conhecimentos existentes. A necessidade de todos os alunos é praticar a
teoria que se estuda.
Nas escolas indígenas, temos mais possibilidades de trabalhar os estudos no
campo. Porque tudo esta em sua volta e próximo, a necessidade de adquirir novos
conhecimentos é mais para complementar os conhecimentos que já são praticados. Na
realidade do povo indígena, o estudo no campo não é uma novidade para alguns alunos
que estão sempre trabalhando com seus pais.
O maior problema para o povo indígena na atualidade, e a maioria da sua
juventude que se ocupam mais na escola é não ter oportunidade de ficar mais tempo com
os pais para participar dos seus trabalhos e assim adquirir experiências para o seu futuro.
Por isso na atualidade os jovens indígenas se acomodaram bastante na questão de se
preparar para a sociedade indígena sem dependência dos seus pais.
A experiência que tomamos como exemplo foi a realização da proposta
pedagógica, junto com os alunos e professores de 5ª a 8ª na Escola Estadual Indígena
Sizenando Diniz na comunidade Malacacheta. Que logo de inicio tivemos explicações

49
teóricas de alguns professores e mestres de artes. Para que todos os alunos soubessem
o objetivo e a importância da aula no campo.
A aula no campo teve o objetivo de conhecer o material de arumã e também o
solo e o ambiente. A aula foi bastante interessante, ocorreu uma caminhada para a mata,
onde todos os alunos se mostravam dispostos em aprender com os professores na
prática, os mesmos questionavam além das explicações que eram feitas. Na mata
ficaram a vontade, pois estavam em contato com a natureza, em tudo tinham a
curiosidade, questionavam e refletiam.
Mas antes de tudo foi necessário planejar a aula no campo ver toda a
possibilidade para que ocorram bem as aulas na prática. A presença e a participação dos
professores é importante para que possam orientá-los com base na teoria que se estuda
nos livros. Segundo a professora Kimi da Silva Oliveira da comunidade do Canauanim
(15.05. 2009) '' O estudo na prática se aprende mais e enriquece o conhecimento que se
adquiriu na sala de aula''
Os alunos se tornam críticos e criativos, quando participam ativamente da aula
que é do seu interesse, o estudo torna-se cada vez mais agradável. Foi este conceito que
descobrimos durante o trabalho realizado com os alunos.Principalmente quando
estudamos um conteúdo na teoria e depois procuramos estudar na prática.
As aulas dependem muito do desempenho de cada professor, para que sejam
executadas com sucesso, porém o aluno por sua vez não deve se conformar somente
com as aulas do professor (a), devem sempre enriquecer seus conhecimentos fazendo
suas pesquisas e dialogando com as pessoas experientes.

3.3) oficina para a produção de artesanatos

A oficina pedagógica que ocorreu durante a execução da terceira fase do estágio


na Escola Estadual Indígena Sizenando Diniz na comunidade Malacacheta teve como
objetivo a produção de artesanatos e demonstrar aos alunos a importância dos trabalhos
dos mestres de artes. As produções dos artesanatos tiveram duas etapas, a primeira foi
somente entre os mestres de artes e a segunda os mestres de artes, os alunos e
professores.
A primeira etapa foi aproximadamente duas semanas de trabalho com duração de
oito (8) horas. Foi no período do dia trinta de março a cinco de abril (30.03 à 05.04.08). A
execução foi difícil devido aos trabalhos rotineiros dos mestres.
Analisamos toda estratégia, para ocorresse toda a produção de artesanatos
indígena, como foi idealizado. As pessoas que trabalharam diretamente foram: 1

50
professor, Jonas da Silva e 1 professora, Carmélia Manduca, 3 pais de famílias (Geraldo
de souza, Thiago da costa, Jairo James), 2 Mães de famílias (Mirtes da Silva e Marilene
da silva) e 3 jovens (Janderlei pereira, Jonderson da Silva e Janderson da Silva). Essa foi
a equipe montada para ser trabalhada a primeira oficina de mestres, havia seis mestres
de artes e os quatro eram os aprendizes.
A estratégia foi definida na questão da execução dos trabalhos para a produção
de artesanatos, para que não houvesse um atrapalho com os trabalhos dos envolventes.
Por isso ficou decidido que o trabalho seria em revezamento, dividindo em duas equipes
para que executasse a produção (um dia ia uma equipe no outro dia ia a outra equipe),
isto era somente na tiração de talas de arumã, em uma semana deu para concluir.
Para outra semana foi tomada outra alternativa, para execução do trançado das
artes indígenas. A outra alternativa foi a divisão do material de arumã entre os mestres de
artes para que eles pudessem produzir as artes indígenas de acordo com o tempo
disponível que tinham nas suas casas, durante a semana. Que segundo os mestres de
artes, o tempo especial para fazer o trançado é após chegar de algum trabalho no roçado,
neste momento estarão descansando o seu corpo mais exercitando a sua mente.
Alguns mestres de artes preferem fazer seus artesanatos na tardinha do dia e
também de madrugada (as três ou quatro horas da manhã), porque é algo que refresca a
sua mente para que possam começar seu dia sem nenhuma preocupação, mas sim para
que ocorra tudo bem no seu trabalho. Por isso a execução do trançado foi feita de acordo
como eles queriam nas suas casas. Fizeram no total de oito artesanatos nesta oficina de
mestres. Até mesmo ressaltaram que alguns adolescentes e jovens os procuraram para
aprender e tirar algumas dúvidas.
A segunda etapa da oficina foi a produção de artesanatos na Escola Estadual
Indígena Sizenando, Diniz, com a participação dos alunos de 5ª a 8ª série e professores
(as). Primeiramente foi feito uma palestra dos próprios professores, falando da
importância e valorização destes conhecimentos existentes na comunidade e também foi
dado o espaço para os alunos exporem suas idéias a respeito do estudo da produção de
artesanato.
Após a palestra foram ministradas aulas práticas, com a busca e a explicação do
arumã na mata. Cada aluno retornou para a Escola com uma vara de arumã, isto é, para
iniciar a explicação dos mestres de artes, como se tiram as talas dos arumãs, alguns
alunos que já sabiam tirar as talas procuravam ajudar seus colegas, isso foi bastante
interessante, porque os alunos que sabiam trabalhar com o material do arumã se
tornaram auxiliares na produção de artesanatos.

51
A produção da oficina teve um bom rendimento, tendo no total de 21 artesanatos
feitos pelos próprios alunos. Porém poderia ser produzido mais, pois alguns artesanatos
foram feitos em duplas ou triplos de alunos isto é, porque os alunos que não sabiam fazer
a trança de artesanatos se uniam com os alunos que sabiam o trançado. E assim
aprendiam com facilidade não necessitando diretamente a ajuda dos seus professores e
mestres, a duração da oficina foi de quinze (15) horas.

Registros tanto fotográfico e quanto na escrita

O registro de todo acontecimento de qualquer atividade do trabalho é de grande


importância. Porque nos faz refletir sobre todo o processo de como foi executado certas
atividades para que no próximo trabalho exista uma melhora, tomando como o exemplo, o
que não foi executado com sucesso. Durante a execução de todas as fases do estágio foi
feito os registros fotográficos e os vídeos de todas as atividades realizadas. Isso foi um
ponto positivo para que estimulasse a todos os alunos na prática.
Segundo os alunos, os registros fotográficos são a forma de registrar a sua
participação e interesse na aquisição dos conhecimentos tradicionais do seu povo
indígena, para que no futuro seja como exemplo para outros alunos na valorização das
atividades pedagógicas, com acompanhamento de mestres de artes, da própria
comunidade. Os mestres de artes, quando eram fotografados e filmados tinham maior
orgulho de mostrar seus trançados e não somente isso, mas também, falando a língua
wapichana entre si e com os alunos durante as explicações.
O registro traz vários benefícios também à comunidade em geral, desde a
pesquisa para alunos das mais variadas séries de ensino, e a introdução destes dados ao
estudo na sociedade, como é um caso de uma postagem na internet destes trabalhos. Há
um projeto em andamento na Escola Sizenando Diniz da comunidade Malacacheta numa
parceria entre a Escola e a Universidade Virtual de Roraima - UNIVIRR, de construção de
um blog-site em que trabalhos como esses venham a ser postados para que possam ser
acessíveis a todos.
O arquivo de produções de trabalhos como este, deve ser feito em continuidade
de acordo com que forem registrados nas atividades que tenham a haver com a cultura
do povo indígena, para que o próximo trabalho sobre este assunto possa ser cada vez
mais rico na execução.
O registro na escrita também é importante, porque relata todo o acontecimento do
trabalho por detalhes tanto na teoria quanto na prática. Isso serve como fonte de

52
pesquisa para próximos alunos e professores, que queiram também fazer suas oficinas
para fortalecer a sua cultura.

Produção de pequenos textos em wapichana, sobre os artesanatos produzidos seja


um poema, verso, rima etc.

As produções de pequenos textos na língua indígena, sobre algo produzido são


de importância porque estará expondo mais um conhecimento do seu povo e também
escrevendo sobre algo produzido por eles próprios. Porém a maioria dos alunos na
escola Estadual Indígena Sizenando Diniz, sabem escrever mais em português do que
em wapixana.
O desafio foi principalmente para a maioria dos alunos, aqueles que davam pouca
importância para as aulas de wapixana, que primeiramente procuraram fazer seus
desenhos dos artesanatos produzidos por eles e depois escreveram os seus textos em
português e depois fazer a tradução para o wapichana. E os alunos que sabiam escrever
diretamente em wapichana foram privilegiados em terminar primeiro os seus desenhos,
textos e também as suas traduções, e assim as correções sendo feitas pelos professores.
Na realidade, existe a diferença da escrita em wapichana para o de português,
porque no momento da tradução da escrita de português para a escrita de wapichana
faltam palavras que tem em português que não tem em wapichana, que na compreensão
do indígena wapichana certas palavras em português têm outros sentidos. E a tradução
da escrita wapichana para o de português, sempre necessitará de um complemento para
uma boa compreensão no que estar sendo repassado.
Por isso os alunos tiveram um pouco de dificuldade no momento das traduções
dos seus textos, mas procuraram a ajuda dos mestres de artes na pronúncia das
traduções de certas palavras e na escrita pediram ajuda dos seus professores (as) de
wapichana, e assim tiveram sucesso nas produções de seus textos.

A comunidade pode visualizar todo o processo da execução da proposta


pedagógica e o resultado das produções de artesanatos

Apesar de algumas pessoas da comunidade participar diretamente, é necessário


que haja uma exposição de todas as atividades pedagógicas que foram postas em
pratica, porque é forma de estar valorizando todos os trabalhos realizados pelos
envolventes, mostrando a importância do estudo no campo.

53
A exposição da realização da proposta pedagógica na comunidade Malacacheta,
foi no dia 28 de junho de 2008, na reunião dos pais e mestres. A expectativa que viesse
muitos pais para participar da reunião e ao mesmo tempo, ver todos os trabalhos feitos
pelos seus filhos. Porém vieram poucos, estes gostaram bastante da exposição, porque o
importante não é somente aprender na sala de aula, mas também fora da sala pode
adquirir vários conhecimentos. Desta forma fortalece e encorajam os pais a colocar em
prática seus conhecimentos, e assim ensinar seus filhos, netos etc.
Através da exposição dos resultados podemos mostrar para as pessoas que um
outro método de ensino é válido isso fará a comunidade refletir sobre as concepções que
tem a respeito do ensino e aprendizagem entre as quatros paredes da sala de aula e o
estudo no campo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS.

Ao focalizar o que seja a arte no contexto geral da humanidade, deu para


percebemos que a arte não pertence a um só povo, mais toda a sociedade. Porque a arte
é a expressão humana que se manifesta de formas diversificadas e que possui valores
diferentes em cada cultura de um povo e não somente isso a arte também é a capacidade
humana de criação e sua utilização com vistas a certo resultado.
Em todas as culturas, a arte tem o seu modo diferente de ser trabalhada, isto é,
porque cada criança, cada homem e cada cultura expressa seus ideais e sentimentos
através dela. A arte é tão antiga quanto o homem. É uma forma de trabalho, que
caracteriza a antiga atividade do homem. Este é um conceito da arte na humanidade.
Existem diversas culturas no mundo, porém nenhuma é melhor do que a outra, o
que existe entre elas é a diferença e riqueza no conhecimento e também não é por existir
várias culturas, que a arte vai perder seu brilho, mais sim uma complementa a outra.
O que foi elaborado neste tcc, num termo geral, foi a cultura do povo indígena
Wapichana, que é uma maneira de viver em equilíbrio com a natureza que nos cerca.
Para um índio wapichana, por exemplo, derrubar, plantar, caçar ou retirar qualquer
matéria prima da floresta para uso em geral, é preciso pedir permissão aos espíritos que
cuidam destes lugares para que eles não tragam doenças para suas famílias. Um
exemplo de respeito para com a mata que traz sustento as pessoas.
Não se pode dizer o mesmo das sociedades não indígenas que usam
maquinários e plantam em larga escala produzindo unicamente para fins financeiros sem
se preocupar com os males que o uso exagerado e inapropriado da terra podem causar

54
aos seres humanos.
Do contato dos povos indígenas com os homens brancos vieram alguns fatores
negativos para as suas culturas, como por exemplo, a desvalorização cultural, assim
deixando de produzir os utensílios domésticos, com as matérias prima que são: talas de
arumã e palhas de buriti etc, estes sendo substituído por produtos industrializados de
plástico e ferro aumentando o lixo inorgânico nas matas. Este é um dos fatores que
atingiu a população indígena.
As reuniões, as lutas e reivindicações das lideranças indígenas são tidos como
os fatores principais para que o povo consiga reverter a situação gradativamente da
desvalorização cultural ou de outras conseqüências.
Os centros de formação indígenas é um exemplo dos resultados das lutas das
lideranças de todas as regiões, que é para proporcionar um bom aprendizado a todos os
alunos indígenas que tem dificuldade em concluir seus estudos. Que de inicio deu certo e
depois foi tornando difícil a ida dos alunos das suas comunidades para os centros, isto é,
porque foi tendo o ensino médio em todas as escolas.
As duas prioridades do centro de formação wapichana na comunidade
Malacacheta de inicio foi a valorização dos artesanatos indígenas e o ensino da língua de
origem. Tendo como objetivo principal, formar monitores para trabalhar estas prioridades
nas escolas indígenas da região.
As lideranças indígenas (tuxauas), são os primeiros a se preocuparem com toda a
situação do bem estar da sua comunidade, assim se posicionando e tomando atitudes
para melhoria de todos os moradores. Por isso antigamente as lideranças indígenas
tinham que ser pessoas idosas, porque são pessoas experientes, que conhecem toda a
situação do seu povo e também vai procurar alternativas que atender a todos.
As pessoas idosas indígenas nas suas comunidades é de grande importância .
Nas comunidades indígenas as pessoas idosas são a fonte de conhecimentos e histórias
do seu povo, por isso são considerados os mestres natos. Os conhecimentos indígenas
que são praticados são diversos, por exemplo são: A produção de diversos artesanatos
indígenas, os rituais e a sua língua de origem.
O artesanato é uma atividade humana que é produzido manualmente, como
objetos e diversos materiais e usos. Por isso os artesanatos variam de acordo de onde e
como são produzidos, o que expressam, o que caracterizam e por quem são produzidos.
Os artesãos também são classificados de acordo com a sua forma de organização de
trabalho.
Foi analisando e refletindo nas lutas das lideranças para o processo da valorização

55
cultural do povo indígena wapichana, que decidiu construir a proposta pedagógica para
que fosse posta em prática o que estávamos idealizando. Mas antes de tudo, foi
necessário diagnosticar toda a comunidade para ver o real problema que a comunidade
enfrentava ao longo do tempo, isto é, apesar de ter vários problemas, após este
diagnóstico ficou definido que seria este tema: Propostas pedagógicas para a valorização
cultural wapichana: o artesanato na aula de arte indígena.
O tema escolhido não é algo novo a ser trabalhado, mas sim de grande
importância, para somar forças com as lideranças na luta de valorizar o que temos de
especial dentro da comunidade indígena. O curso da Licenciatura Intercultural, cooperou
bastante no processo da definição do tema, pelo seguinte motivo de requerer que cada
cursista indígena passe por quatro etapas de estágios.
Que após quarto semestre do estudo no curso se faz estas etapas de Estágios
que são: 1º-O diagnóstico, 2º- Construção da proposta pedagógica, 3º- Execução da
proposta, 4º- Análise e conclusão de todos os estágios. As etapas do estágio foi a forma
de analisar e construir uma proposta para trazer alternativas de melhoria para as
comunidades indígenas. A convivência em uma comunidade é a melhor forma de detectar
os problemas que a afetam.
Porque é convivendo e dialogando com as pessoas que conhecemos a realidade
das comunidades, desde o passado até o presente momento. Pois foi convivendo,
dialogando e tendo a parceria com algumas pessoas da comunidade, que conseguimos
por em prática algumas etapas de estágio na Escola Estadual Indígena Sizenando Diniz e
também algumas na comunidade indígena Malacacheta.
O estágio foi uma experiência de trabalho com a participação das pessoas da
comunidade, tanto na autorização para a realização do 1º ao 4º estágio. Todos foram
importantes, porém o que foi interessante ser trabalhado na prática foi o 3º estágio,
porque exigiu o esforço de cada participante na execução da proposta. A teoria e a prática
são os pontos em destaque na realização desse trabalho. A colaboração de algumas
pessoas idosas da comunidade diretamente e indiretamente fez com que tornar-se
interessante o trabalho com as suas disposições de transmitir os conhecimentos contidos,
e estas pessoas são: Geraldo da silva e Simeão Messias entre outros.
É importante conhecer a História da comunidade do seu povo e até mesmo
aprender a fazer os utensílios ou objetos que pertencente a cultura. Para o
enriquecimento do trabalho a maioria da história da comunidade indígena Malacacheta foi
contada pelo senhor Simeão Messias principalmente a respeito das lutas e as conquistas
obtidas pelas lideranças indígenas. O ensino na prática da produção dos objetos

56
indígenas foi feito pelo senhor Geraldo da Silva, pois ele produziu particularmente
diversos tipos de artesanatos indígenas, como por exemplo: 3 Peneiras cada uma com
função diferente, abano, jamanxim.
Na execução da proposta pedagógica ocorreram duas oficinas subseqüentes, que
foram de grande importância para o enriquecimento do 3º estágio. O primeiro momento
foi a produção do artesanato somente entre os mestres e o segundo foi a pratica da
oficina na Escola Estadual Indígena Sizenando Diniz.
As oficinas foram de muito proveito para todos os alunos, pois puderam ver as
matérias primas que são utilizadas nas tranças de artesanatos indígenas, isto é, para
aqueles que não conhecem as utilidades de certas matérias primas que existe na mata da
sua comunidade. E não somente isso mas também aprender a fazer as tranças de vários
tipos de artesanatos, pertencentes a tradição do seu povo e consequentemente poder
levar ao conhecimento do seus descendentes.
Finalmente encerramos o presente trabalho onde discutimos propostas curriculares
para a escola indígena em especial o tema do artesanato na disciplina de arte indígena.
Com isto fazemos nossa contribuição para o grande desafio da valorização cultural.

57
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMODIO, Vicente & GIOVANE, Maria. Apresentação da pesquisa da organização


missionária. 1997.

Centro de Formação Wapichana. Histórico da educação escolar na Malacacheta.


(Mimeógrafo s/d).

CHAUI, Marilena. Cidadania cultural: O direito a Cultura. São Paulo: Editora Perseu
Abramo, 2006.

CIRICI, Alexandre. As três faces da arte. In: BENTO, António. Rio de Janeiro: Ed.
Fundação Getúlio Vargas, 1975.

CIRINO, Carlos. A Boa Nova na Língua Indígena: contornos da evangelização dos


wapischa no século XX. Boa Vista: Editora da UFRR, 2008.

FARAGE, Nadia. As Muralhas dos Serões. Rio de janeiro: Paz e terra, 1991.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Olanda. Dicionário Aurélio júnior, Curitiba:


Positivo,2005.

HELENA, Maria. Execução e gestão de projetos indígenas: Criando tradição e ou


reflexão.

MICHAELIS. Dicionário Michaelis escolar eletrônico. Editora Melhoramentos, 2008.

Parâmetros Curriculares Nacionais: Arte. secretaria de Educação Fundamental .-


Brasília: MEC / SEF, 1997.

Ministério da Educação. Referencial Curricular Nacional para as Escolas Indígenas-


RCNEI. Brasília: MEC,1998.

REPETTO, Maxim. Cultura, Identidade e Cidadania. In: Propostas Educativas em


cidadania Intercultural. Boa Vista: editora da UFRR, 2008. (Pag.66 a 67)

RIBEIRO, Berta. A Arte de tranças: dois macroestilos, dois modos de vida. In: SUMA
Etmológica Brasileira. Darcy Ribeiro (Editor) et al. (Pag. 283-321) Petrópolis: Vozes, 1987.

REINAUX, Marcilio. Introdução ao estudo da história da arte. Recife: editora


universitária UFE, 1991.

SANTILLI, Paulo. Pemongon Pata: território macuxi, rotas de conflito. São Paulo:
Editora UNESP, 2001.

SEBRAE. Artesanato. Disponível nem: http://www.sebrae.com.br. Acesso em: 04 de


março de 2009.

VIEIRA, Jaci Guilherme. Missionários, Fazendeiros e Índios em Roraima: a disputa


pela terra. Boa Vista: Editora UFRR, 2007.

58
Anexo 1
PENEIRA DE BEIJÚ
MANARY BADIITANNAA

1º Passo
v-7 talas
h-6 talas 2º passo
v-11talas
h-10talas

3º passo 4º passo
v-15 talas v- 20 talas
h-14 talas h-19 talas

PENEIRA
MANARY
BADIITANNAA

59
Anexo 2
PENEIRA DE FARINHA – MANARY UI TANNAA

A B
1º passo
v-4 talas
h-4 talas
x.a-4 talas
x.b-4 talas

A B

2º Passo
v-6 talas
h-6 talas
x.a-4 talas
x.b-4 talas

Peneira pronta
Obs: Quanto mais
talas colocar
maior será a
peneira com
varios furos por
onde passa a
massa da farinha

60
Anexo 3

TIPITI - NIZO

1º passo
25 talas 2º passo
30 talas na
frente e atras

3º passo
são utilisados
no trançado 110
talas no total

Massa
pronta

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Anexo 4

ARTEZANATO DE TRANÇAS COM


MATERIAL DE TUCAMÃ
ABANO - AWARIBEI

2º Passo
1º Passo 10 talas de
5 talas de cada lado
cada lado

3º Passo
15 talas

4º Passo
25 ou 27 talas de cada
lado dependendo do
tamanho de cada tala.

62
Anexo 5

JAMAXIM - DAPA'WAI

1º passo minimo
v-35 talas
Máximo
v-50 talas
minimo
H- 50 talas
máximo
H-70 talas

Fibra de
buriti

Vara de
Envieira

Curauá

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Anexo 6: Fotografias

Oficina de Artesanato, coleta de materiais no


campo (21/05/2008)
Prof. Odamir explica sobre utilização do
Arumã, na mata. (21/05/2008)

Prof. Jarvas, diretor da UNIVIRR, sendo Oficina de Artesanato na escola,Prof. Jonas.


homenagfeado com peneira e avano produto
da primeira Oficina de Artesanato, 2008.

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Dança Parixara, Povo Wapichana.
Saias e roupas de fibras de buriti. Sutiã de fibra de buriti

Vestimentas tradicionais,
com algodão e sementes de capim.
Saia de palha de buriti

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Artesanato com Talas de Arumã

Peneira para coar caxiri.

Peneira peneirar massa de mandioca para


fazer farinha

Balaio, para colocar objetos ou algodão que


vai ser fiado.

Jamaxim, para carregar lenha ou mandioca.

Cocar utilizado em festas de formatura ou


dança de parixara.
Detalhe de Jamaxim.

66
Suporte para panela de barro.

Abano para fazer fogo.

Darruana para carregar peixe.

Cesto de fibra de buriti.

67
9

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