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Unidade III
7 MODELOS DE APRENDIZAGEM MOTORA
Ao se estudar as teorias de aprendizagem motora e os modelos que buscam explicar suas características,
oferecem‑se alicerces desse extraordinário campo de investigação do comportamento motor humano.
Assim, pode‑se compreender quais são os principais dados e fatores de influência pelos quais indivíduos
adquirem habilidades e as exercem diante dos mais distintos domínios dos movimentos humanos.
É importante fazer algumas considerações sobre os termos principais que são usados em aprendizagem
motora, assim podemos uniformizar e padronizar a compreensão da matéria, constituindo parâmetros
apropriados para a designação acadêmica.
Toda ação proposital, com finalidade exclusiva a ser obtida e desempenhada de modo harmonioso,
conciso e com eficácia motora, fisiológica e social é denominada habilidade motora.
Habilidades podem ser adquiridas por meio de aprendizagem própria, por exemplo, as habilidades
motoras básicas: andar, correr, saltar, equilibrar‑se, segurar, agarrar etc. Essas competências são
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experimentadas de maneira natural e ininterrupta e fazem parte do cotidiano do ser humano na procura
de seu desenvolvimento primordial.
Outro modo para a obtenção de capacidades motoras pode ser concretizado por meio de educação,
práticas e adaptações diversas. Aptidões esportivas, como lançar uma bola de basquete com perfeição
em direção à cesta, práticas artísticas, como tocar um instrumento musical, competências profissionais,
como conduzir um caminhão ou uma angioplastia (intervenção cirúrgica com o intuito de corrigir
alterações em vasos sanguíneos) são ensinadas, instruídas, exercitadas e adaptadas até se atingir
precisão efetiva dos efeitos aguardados.
Uma definição de habilidade motora, de Wade e Whiting (1986), expressa que “por meio do processo
de aprendizagem, as ações tornam‑se organizadas e coordenadas de modo a alcançarem objetivos
predeterminados com o máximo de certeza e, frequentemente, com o mínimo de dispêndio de tempo
e/ou energia”. Agora, imaginemos um maratonista que percorre 42.195 m em uma competição. É
extraordinário que cada passada desse indivíduo esteja totalmente sob seu comando, envolvendo
experiência e exatidão para obter desempenho competente. Já capacidade é o potencial genético que
cada indivíduo possui. Como destaca Magill (2000), ela é um traço ou uma qualidade geral relacionada
ao seu desempenho numa disparidade de habilidades ou tarefas motoras. De modo óbvio, o triunfo
alcançado em qualquer tarefa motora dependerá, além da proficiência, do nível de competência motora
que é exigido para sua realização.
Segundo Schmidt e Wrisberg (2010), as potencialidades congênitas para desempenho motor dos
indivíduos incluem o seu aparelhamento genético básico. Nem sempre a multiplicidade de capacidades
motoras e físicas de uma pessoa fará dela mais apta para o aprendizado motor, porém poderá auxiliá‑la
a ultrapassar desafios motrizes, partindo‑se do princípio de que saiba desfrutar dessas vocações nas
ocasiões nas quais forem exigidas.
O fisioterapeuta desejará avaliar se seu paciente apresenta melhorias após determinado programa
de reabilitação. Professores de educação física pretenderão comparar os avanços conquistados e
necessários para executar movimentos próprios de uma habilidade motora e de específica modalidade
esportiva após o cumprimento das suas práticas estipuladas. O médico‑cirurgião deverá analisar se o
aluno residente que o acompanha em operações estará apto para exercer essa função com precisão e
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de modo eficaz. Em todas essas situações, esses profissionais têm por obrigação estabelecer medidas de
avaliação para dar continuidade aos seus objetivos.
Portanto, o desempenho pode convir para se avaliar a aprendizagem, por meio de medidas verificadas
pelo processo de execução ou pelos resultados alcançados.
A primeira categoria que indica registros ou efeitos do desempenho pode ser exemplificada por
dados obtidos por medidas de tempo, distâncias etc. Por conseguinte, velocidade alcançada por um
corredor em uma determinada distância, ângulo de flexão ou extensão de um membro corporal e pontos
obtidos no lançamento de dardos em um alvo são alguns exemplos desse tipo de medida de resultados.
Calcular o número de acertos ou erros ao arremessar uma bola na cesta do basquete, ao chutar uma
bola de futebol por cima de uma barreira para atingir um ponto específico entre as traves ou quantificar
quantas vezes houve competência nessa tarefa são características palpáveis para inferir desempenho.
Há outros exemplos que podem indicar a medida de resultados, como: estimar o maior ou menor tempo
ao nadar certa extensão na piscina, ou avaliar a altura ou distância de um salto. Essa categoria mede
basicamente os efeitos da realização de uma habilidade motora.
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De outro modo, o desempenho pode ser calculado pela categoria do processo efetivado. Um exemplo
fácil de perceber é aquele que determina qual é o músculo que reage primeiro ao contrapor um estímulo
visual, como na saída das corridas de automóveis, ou então dos estímulos auditivos, como nas corridas
de curta distância e nas partidas para provas de natação. Também se avalia o padrão de aceleração dos
membros corporais ao exercer uma ação motora, a coordenação motora de movimentos da ginástica e
dos saltos ornamentais pelo desempenho do processo realizado. Essa categoria sugere como os sistemas
envolvidos na execução do movimento (sistema nervoso central e sistema muscular) estão atuando, bem
como os membros e articulações estão agindo. Critérios de avaliação por posicionamento simétrico de
segmentos corporais se enquadram nessa categoria, permitindo informar aos executantes de uma ação
motora qual padrão deve ser alcançado nos ajustes corporais relativos ao movimento a ser realizado;
esse aspecto é muito usado nas aulas de ginástica quando o instrutor informa que “você deve unir mais
suas pernas ao fazer o salto carpado”.
Figura 50 – Avaliando e corrigindo a execução do toque das baquetas para execução em pratos e tambores de uma bateria
Apesar de oferecer parâmetros bem relevantes para que se possa inferir a aprendizagem, é vital
ressaltar que o desempenho nem sempre mede com certeza absoluta sua consistência. Um exemplo que
permite dizer que a performance não necessariamente mede a aprendizagem está no fato corriqueiro
de alguém executar um movimento pela primeira vez e realizá‑lo de maneira muito precisa e depois
não conseguir repeti‑lo com o mesmo efeito. Tal qual um iniciante ao lançar uma bola de boliche pela
primeira vez e acertar todos os pinos, fazendo um strike. Esse desempenho poderia dar a impressão
de que esse indivíduo aprendeu a jogar boliche, e de que essa habilidade já lhe pertence, o que depois
se verificaria como equivocado, em razão de o mesmo sujeito não acertar sequer outra jogada, com a
mesma eficiência, nessa mesma oportunidade.
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Figura 51
A performance pode sofrer variações, de tempos em tempos, por causa de vários fatores que
interferem na realização da habilidade ou tarefa motora. O primeiro deles pode ser a condição física.
Um atleta de ginástica artística poderá apresentar desempenho alterado caso modifique seu padrão
de massa muscular ou ganhe peso acima do preconizado para a execução apropriada das complexas
tarefas motoras dessa modalidade.
Outros aspectos relevantes podem ser o crescimento e a maturação. Adolescentes possuem crescimento
dístero‑proximal (membros crescem mais rapidamente que o núcleo central do corpo) e, portanto, no
início dessa etapa do ciclo vital, quando os órgãos sensoriais ainda não se acostumaram com as novas
medidas anatômicas, atividades motoras que eram corriqueiras são executadas desordenadamente ou
com mais erros, até que se readaptem aos novos alcances corporais.
Fadiga e lesões afetam o desempenho de modo substancial, pois limitam movimentos, impedem
suas realizações ou provocam ajustamentos que, na maioria das vezes, modificam o nível e a efetivação
da tarefa motora.
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Figura 52 – Fadiga
Observação
Além disso, a ingestão de drogas é aspecto preponderante para modificar o desempenho motor.
Lembre‑se de que o álcool interfere no tempo de reação, reduzindo a velocidade de execução de um
movimento, por isso nunca se deve beber nada alcoólico quando for dirigir. Outras drogas podem
acelerar a realização de um movimento, favorecendo ou prejudicando a coordenação motora, bem
como estabilizar ou bloquear o ato motor.
Assim, verifica‑se que a performance é variante e pode apresentar resultados diferentes em condições
e situações próprias quando a habilidade for executada.
Sujeitos habilidosos conseguem encontrar soluções diversas para alcançarem as mesmas metas ao
praticarem uma mesma habilidade motora, porém usando movimentos diferentes (HEBB, 1949). Manoel
Connolly (1995) refletem sobre esse conceito como o de utilização de meios alternativos no comportamento
motor. Tomando‑se como base um indivíduo que irá abrir uma porta com uma maçaneta em L, à primeira
vista fica fácil imaginar que se fará uso de uma das mãos para realizar o movimento de abaixar a maçaneta
para destrancar a porta e assim abri‑la. Contudo, se ambas as mãos estiverem ocupadas por sacolas, esse
mesmo indivíduo poderá usar o cotovelo para realizar a mesma ação e alcançar o mesmo objetivo desejado.
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No esporte, lembramos que em um jogo de voleibol os jogadores sacam a bola para iniciar o jogo,
podendo executar o gesto motor com a batida da mão na bola por baixo, por cima, lateralmente (como
no estilo coreano) ou até com o famoso saque jornada nas estrelas, muito usado pelo jogador Bernard
da seleção brasileira nos anos 1980. Jogadores de futebol passam a bola aos companheiros usando a
parte interna, a parte externa, o dorso do pé e, ainda, podem ter aptidão para que se atinja esse mesmo
objetivo usando o calcanhar. Um médico pode suturar cortes, após uma intervenção cirúrgica, realizando
movimentos entrelaçados, alinhados ou em viés, sempre respeitando a necessidade ou o local da cirurgia.
A equivalência motora é, então, uma característica própria de indivíduos hábeis, que conseguem, por
meio de diversas ações motoras, atingir com precisão os mesmos resultados, independentemente das
variações do ambiente.
Figura 53 – Homem carregando frutas por meio de uma haste (usando o ombro)
A foto a seguir destaca um indivíduo que carrega duas sacolas empregando as duas mãos. Desse
modo, usa artifícios motores humanos que possibilitam comprovar a equivalência motora.
Figura 54
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A prática é a execução real do conjunto de movimentos que determinam uma habilidade motora,
reproduzindo‑a continuadamente.
Não se pode perceber a prática como a simples repetição dos mesmos movimentos, pois, ao
realizar‑se uma habilidade motora, exigem‑se esforços de cognição, organização, execução, avaliação e
modificação das ações a cada tentativa.
Exemplo de aplicação
Para obter mais clareza, faça o seguinte teste: escreva sua assinatura por cinco vezes seguidas, uma
abaixo da outra, continuamente, sem interrupções.
Feito o teste, pode‑se notar que há diferenças de maior ou menor amplitude nos resultados. Isso
comprova que foi efetivado um processo similar de consumação da habilidade, buscando a reprodução
idêntica dos movimentos que envolvem a habilidade. Em verdade, foram aplicados recursos diferenciados
para se decidir sobre como se resolveria esse problema motor em cada tentativa, incorrendo, desse
modo, em pequenas alterações nas assinaturas. Portanto, na maioria das vezes, existe um conjunto de
soluções motoras apropriadas para se efetivar a prática de uma habilidade.
Pode‑se definir que a prática é uma “repetição sem repetição”, pois, de outro modo, seria uma
realização estereotipada e mecanizada de um conjunto de movimentos (BERNSTEIN, 1967).
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Por ser um processo oculto, que pertence a cada indivíduo, indicar se houve aprendizagem é uma
tarefa complexa. Como já descrito neste livro‑texto, a melhor maneira de se inferir a aprendizagem é
pelo comportamento observável, isto é, pela performance.
Os processos de aprendizagem são discutidos há várias décadas, e diversas teorias foram propostas
para se compreender o processo que fixa as disposições que levam um indivíduo a adquirir uma
habilidade motora. A seguir vamos estudar algumas delas.
Lembrete
Na figura a seguir, pode‑se notar que o ambiente, de modo contínuo, provê informações que são
capturadas e convertidas em estímulos nervosos pelos órgãos dos sentidos. Os elementos exteroceptivos,
advindos de atenção visual, da visão periférica ou focal, de recepção auditiva e de sensações táteis,
recebidas através de receptores cutâneos, que avaliam sensações de temperatura, toque e pressão,
aliam‑se às informações proprioceptivas, ou seja, aquelas que provêm de órgãos internos, tais como:
fusos musculares – que avisam sobre o estiramento dos músculos; órgãos tendinosos de Golgi –
informam sobre a tensão muscular e controlam sobretudo as respostas de estiramento dos tendões;
aparelho vestibular – responsável pelo acerto na posição de equilíbrio corporal, explicitamente da
disposição da cabeça; receptores articulares – que ajustam o movimento à amplitude articular máxima.
Essa conjunção de percepções, ou de atos aferentes, é interpretada e conduzida ao mecanismo decisório
(sistema nervoso central), que elegerá a melhor resposta para se definir o desafio motor.
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Assim, o sistema nervoso central (SNC), notadamente o córtex motor, em especial por meio dos
núcleos da base, vai planejar os movimentos voluntários e executar os disparos de sinais nervosos
apropriados para a realização de movimentos após o refinamento das informações neurais enviadas
pelo cerebelo, o qual organizou o arranjo sensório‑motor. Essas conduções nervosas serão transferidas
por meio do tronco encefálico e da medula espinhal ao sistema periférico e aos neurônios inferiores.
Essa determinação efetuada pelo SNC seguirá pelos mecanismos efetores, mais precisamente através dos
neurônios motores, cuja atuação seletiva associará os comandos recebidos, reorganizando as estruturas
perceptivas internas para que os músculos operem de modo apropriado.
Todo esse sistema de informações recebe ininterruptamente dados internos e externos que
retroalimentam o sistema para aperfeiçoar o movimento. Esse mecanismo de realimentação de
informações para correção do movimento é chamado de feedback.
Mecanismos perceptivos
Feedback extrínseco
Feedback extrínseco
Mecanismo decisório
Mecanismo efetor
Sistema muscular
O circuito de feedback destaca frequente checagem do movimento realizado com aquele que
foi imaginado pelo executor ou o necessário para se completar a ação de maneira satisfatória. Essa
classificação pode ser intrínseca ou interna, acionada primeiramente entre a configuração do sistema
muscular e a do sistema efetor, ou ainda, caso não se atinja a performance adequada, pelo sistema
muscular em relação ao mecanismo perceptivo, com retorno mais extenso da informação para adaptação
mais abarcante, reprocessada pelo mecanismo decisório para se conseguir uma resposta mais refinada e
apropriada. Além disso, podem‑se obter mais subsídios do ambiente, utilizando‑se o feedback extrínseco
(externo), por meio de novo acionamento dos órgãos sensoriais, e assim simultaneamente associá‑lo ao
feedback intrínseco para atingir o desempenho desejado.
Observação
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Turvey, Fitch e Tuller (1982) sugeriram, então, a aplicação do conceito de sistemas dinâmicos
com base na contínua mudança motriz humana e na autoadaptação do indivíduo, ao longo de seu
desenvolvimento, em todas as etapas de seu ciclo vital. Essa visão usou as ilustrações de Bernstein
(1967) e Kelso (1997) acerca da concepção de coordenação e controle motor explicada pelo grau de
liberdade articular. Além disso, essa proposta foi associada à Teoria de Percepção Direta, de Gibson,
que destacava a compreensão interpessoal das informações, obtidas exclusivamente pelo campo visual.
Gibson (1986) esclareceu que a percepção visual existe sem interferência de análises de interpretação
mental intrínseca, isto é, de estímulos interiores que pudessem dar significados provindos da consciência.
Observação
A Teoria dos Sistemas Dinâmicos define o desenvolvimento motor e, por conseguinte, a aprendizagem
como processos não lineares, auto‑organizados, que mudam continuamente pelos estímulos recebidos
do ambiente, pelas propostas constitutivas das tarefas a que são submetidos os indivíduos que as
desempenham e pelas próprias restrições funcionais e estruturais desses indivíduos (NEWELL, 1986).
Portanto, não existem estados integralmente fixos no desenvolvimento e, consequentemente, na
aprendizagem motora. Há um processo de adaptação constante, e a aprendizagem, assim como
o comportamento motor, altera‑se e ajusta‑se conforme as influências recebidas do meio, pelas
adaptações internas e pelos desafios motores a serem superados. Novas organizações sistêmicas são
interconectadas diligentemente e se alteram com novas aprendizagens motoras e, inversamente, novas
aquisições modificam as circunstâncias orgânicas que possam levar a um possível grau momentâneo
de estabilização motora do indivíduo. Desse modo, a aprendizagem motora é resultado da cooperação
entre os níveis sistêmicos individuais e coletivos que afetam o movimento.
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Também se verifica que tarefas motoras humanas são afetadas quando se exige desempenho em
tempos bem determinados: metas intermediárias a serem atingidas em tempos mais restritos, associadas
à meta principal proposta para um prazo mais longo, parecem resultar em atingir a automação do
movimento em menor período de tempo, assim como se alcança melhor nível de desempenho motor
(LOCKE; LATHAM, 1990).
O espaço físico está relacionado com a possibilidade de exercício dos graus de liberdade, em especial
no início da aprendizagem, quando existe maior dificuldade no aparelhamento dos movimentos. Pela
razão de não haver confiança suficiente por parte do aprendiz, na construção inicial dos elementos que
compõem a habilidade, o recinto deve oferecer segurança para que o iniciante se sinta mais à vontade.
De modo contrário, quando o indivíduo possui a automação da habilidade, o espaço físico é usado na
configuração de melhores condições para a realização da tarefa. Imagine um praticante de Le Parkour,
atividade que exige grande concentração, força e agilidade. O aprendiz, ao enfrentar suas primeiras
lições, considerará os saltos sobre obstáculos como exercícios de elevação total do corpo, e precisará
de espaço suficiente e que lhe permita executar as transposições com cautela, tendo a certeza de que
não errará o movimento. O praticante perito, por sua vez, utilizará de pequenos gestos manipulativos
no mesmo espaço físico, com absoluto controle corporal no ambiente físico e usufruindo todos os
elementos disponíveis no espaço para melhorar seu desempenho. O mesmo acontece na aprendizagem
da natação, em que a pessoa inexperiente tende a movimentar os braços com amplitude bem reduzida,
com movimentos muito próximos do torso, igualmente ao nado executado pelos cães. Quem é experiente
nada de modo muito mais eficaz e seguro, aproveitando‑se da amplitude dos membros superiores para
efetivar maior interação com o meio líquido, obtendo eficácia mecânica.
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Observa‑se que as resultantes motoras apresentam efeitos diversos conforme o meio social em
que se vive. O indivíduo se comporta de acordo com a influência de sua educação e cultura, sobretudo
pela expectativa criada em torno de seus resultados e sucesso (VON HOFSTEN, 2007). A Teoria de
Sistemas Dinâmicos descreve que a movimentação corporal é afetada pelas influências recebidas das
perspectivas sociais. Em uma academia um aluno poderá se motivar pela presença e pelo incentivo
de outros colegas e aprender a executar movimentos que, até então, nunca tinha imaginado que
conseguiria realizar. De modo oposto, o indivíduo pode não conseguir aprender uma habilidade, pois
sofre muita pressão emocional ou mesmo se inibe e, então, não tem estímulo para executá‑la. O
pretexto social pode alterar as ações motoras regulares que uma pessoa está acostumada a realizar,
podendo aprimorá‑las ou impedi‑las.
Produzir movimentos e desempenhar habilidades específicas depende das condições pelas quais se
exigem suas realizações, em razão da interação dos indivíduos com seus pares, o meio orgânico ou o
inorgânico em que vivem. Pode‑se verificar que se aprende a remar com facilidade desde muito jovem
nas regiões próximas a rios ou mares. Indivíduos que habitam áreas amazônicas ou da costa litorânea
brasileira, seja por necessidade na busca de alimentos, seja para usar o meio de transporte, deslocam‑se
por meio de pequenas embarcações e canoas que demandam o aprendizado dessa habilidade. Em
grandes regiões metropolitanas, aprende‑se a atravessar uma via pública, com passagem de automóveis,
com o auxílio de análises visual‑motoras e levando em conta a relação espaço‑tempo, adaptada à
movimentação dos veículos. Essas adaptações são constantes e se modificarão toda vez que houver
qualquer mudança nesses ecossistemas.
A figura a seguir retrata uma criança no Tajiquistão que aprendeu a remar em barcos improvisados
para atravessar o rio.
Figura 58
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Estudo realizado por Brandine Brill (1986) também afirma que o desenvolvimento motor está
intimamente ligado aos estímulos oferecidos para aprendizagem acerca do ambiente em que se vive. Essa
pesquisadora francesa verificou que crianças de Bambara, situada na região oeste da África, apresentavam
melhor nível de desenvolvimento motor que crianças europeias da mesma faixa etária. Verificou‑se que
as mães dessas crianças estimulavam invariavelmente seus filhos, desde os primeiros meses de idade,
por meio de massagens e alongamentos, penduravam‑nas e balançavam‑nas por um ou dois braços,
agitavam e colocavam‑nas de cabeça para baixo puxando‑as pelas pernas, movimentavam suas pernas
e seguravam‑nas pelas axilas e as levantavam. Essas práticas corporais, basicamente, permitiam que
os bebês de Bambara permanecessem mais tempo em posicionamento vertical que os bebês europeus;
desse modo, essas perturbações da disposição anatômica provocavam melhores estímulos cinemáticos
e cinéticos, que agem no aparelho anatômico vestibular. Os bebês eram conduzidos a realizar mais
aprendizagens coordenativas com base no conhecimento espaçotemporal.
Cada qual obterá de seu sistema motor para aprender um novo movimento, obterá informações
correspondentes às intenções, buscando as melhores respostas e tentando construir seu programa
motor para satisfazer seus próprios anseios. Analisando‑se a jogadora brasileira de basquete Hortência,
ao arremessar a bola em direção à cesta, nota‑se que ela usava um processo particular de movimentos
e que não condizia com as indicações biomecânicas mais precisas para essa habilidade; ela cumpria com
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total independência e exatidão os requisitos da tarefa e obtinha alto nível de desempenho, sempre com
grande eficiência mecânica e o mínimo dispêndio de energia.
Tarefa
Indivíduo
Ambiente
Enfim, a Teoria dos Sistemas Dinâmicos traça uma ordem na qual se determina que a aprendizagem
seja parte integrante do desenvolvimento do indivíduo. Logo, o organismo é precursor da própria
ação que exerce sobre o ambiente; a origem do desenvolvimento motor seria a intenção (CONNOLLY;
BRUNNER, 1974). A estrutura de movimento corporal se modificaria por conta do desenvolvimento
e encontraria a melhor condição de resposta para executar a ação motriz sempre que fosse exigido,
isto é, adquiriria condições para solucionar problemas e os respectivos controles, e ela cumpriria tais
necessidades. A aprendizagem motora é uma condição ativa do organismo e se relaciona intimamente
com as classes estruturais do indivíduo e aquilo que deseja realizar. A seguir vamos estudar modelos
de aprendizagem motora que delineiam relações com o tempo da prática, mostrando as fases que se
sucedem para ocorrer o aprendizado, os erros iniciais do aprendiz e o alcance da perícia motora.
Observação
Figura 61 – Continuum de tempo para aquisição de uma habilidade motora, a partir da iniciação da prática.
O padrão de referência para delinear as fases de aprendizagem motora foi apresentado por Paul
Fitts e Michael Posner em 1967 (FITTS; POSNER, 1967), que se tornou o modelo clássico para descrever
como acontece a aquisição de uma habilidade motora. Segundo esses pesquisadores, para se adquirir
desenvoltura motriz específica, o indivíduo passa por três fases ou estágios específicos, os quais
distinguem a efetivação do aprendizado: fases cognitiva, associativa e autônoma.
Magill (2000) mostrou como essas fases se sucedem em relação ao tempo de prática na figura a seguir.
Figura 62 – As fases da aprendizagem de Fitts e Posner, apresentados em relação ao tempo de prática (continuum)
Outros modelos serão também apresentados, como o de Gentile (1972, 2000), composto de etapas
de aprendizagem, expressas na Figura 6, sob o ponto de vista de metas a serem alcançadas pelo aprendiz.
Por fim, o modelo de aprendizagem proposto por Newell (1985), que toma por base a aprendizagem por
meio do desenvolvimento do movimento coordenado.
Habilidade
motora Variação de
aberta movimentos
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O primeiro estágio da aprendizagem é chamado de fase cognitiva. Essa etapa indica que o aprendiz
centraliza suas atenções para compreender os problemas de natureza cognitiva. Os principiantes tendem
a vivenciar uma experiência totalmente nova e desse modo não possuem confiança para a efetivação da
habilidade, produzindo desempenho muito aquém do inicialmente imaginado por eles próprios (SINGER,
1982). Em geral, os iniciantes direcionam sua atenção para responder como o movimento será realizado,
até onde devem movimentar os segmentos corporais participantes da ação, qual a maneira correta de
manipular objetos que serão usados para executar a habilidade, qual é o objetivo da ação motora e
como processar as informações recebidas instantaneamente do ambiente (MAGILL, 2000).
Além de não conseguir isolar os vários estímulos que recebe do ambiente, tampouco entender quais
componentes da habilidade são os mais importantes para sua realização, nessa fase inicial é comum o
aprendiz perceber que a habilidade não está sendo executada de modo correto, porém não consegue
compreender bem o que deve ser mudado. O aprendiz intui que existem erros de performance.
Tani (1989) afirma que os erros de performance são a característica mais acentuada do principiante
ao vivenciar uma nova experiência motriz. Adicionalmente, esse autor descreve que o erro não deve ser
considerado como incapacidade do iniciante, mas apenas em relação ao objetivo da tarefa.
Do mesmo modo, Tani (1989) complementa que na aprendizagem motora a meta é alcançar respostas
corretas, e o erro faz parte do processo de aquisição da habilidade, somente tornando‑se um problema
quando não for identificado e quando não se souber corrigi‑lo. É importante que haja liberdade para
errar. Devem‑se usar os desacertos como fatores de contribuição para dirigir o processo de prática e de
ajuste dos elementos que compõem a habilidade, além de se reforçar os aspectos positivos e acertos das
tentativas passadas (durante a efetivação da prática).
Observação
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Assim, nessa fase, o praticante obtém maior sensibilidade cinética do movimento e melhor percepção da
musculatura envolvida para atingir a melhor resposta motora. O desempenho vai se tornando satisfatório,
porém não totalmente seguro. A variabilidade de performance vai diminuindo (MAGILL, 2000).
O último estágio da aprendizagem é chamado de autônomo. Essa fase é marcada essencialmente pela
capacidade do indivíduo em se desvincular dos estímulos externos, e a habilidade motora se torna usual.
A efetivação dos movimentos está totalmente integrada ao processamento de informações sensoriais.
A pessoa executa a tarefa de modo seguro, com controle e dispêndio exato de energia, apresentando
comportamento motor plástico e consistente.
Segundo Fitts e Posner (1967), observa‑se que a variabilidade de desempenho é quase nula. As
execuções motoras apresentadas por indivíduos que atingem essa fase praticamente não incorrem em
erros. Desse modo, essas pessoas já são consideradas experientes e conseguem fazer adequações de
maneira muito instantânea na ocorrência de fatos que demandem alterações no cumprimento da tarefa
motora. Pode‑se afirmar que há ajuste de tempo bastante preciso e antecipação excelente; o produto
motor é visível, e o desempenho é autêntico.
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Unidade III
É importante destacar que nem todos os praticantes atingem competência autônoma, mesmo após
algum período de prática de uma habilidade motora. A qualidade das instruções recebidas, o tipo da
prática, o tempo que se gastou nela, bem como a assistência correta de informações para a conformidade
dos movimentos são vitais para atingir essa fase de rendimento.
Essa autora destacou o processo de aprendizagem motora segundo as metas observadas pelo
aprendiz. Desse modo, foram descritas duas fases de aprendizagem.
A primeira etapa da aprendizagem versa sobre a captação da ideia de execução, ou seja, o iniciante
precisa compreender o que deve ser feito para se atingir o objetivo da ação motriz. Nesse estágio da
aprendizagem, Gentile (1972, 2000) menciona que a pessoa procura definir quais são as principais
características do movimento e as significações de coordenação motora necessárias para sua realização.
Nessa primeira etapa acontece um direcionamento específico para determinar como se sucederá a
continuidade do desenvolvimento da aprendizagem. O principiante, além de estabelecer o padrão
básico de movimento, deverá perceber as condições reguladoras de como os movimentos deverão
ser produzidos e quais aspectos podem afetar a sua realização (MAGILL, 2000). A prática da atividade
envolve grande variabilidade no desempenho.
Existem condições reguladoras do movimento que são essenciais para sua realização, por exemplo, a
distância da rede de voleibol e a posição em que se encontra o executante e a altura em que ela está fixada.
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Por sua vez, a cor da bola ou o tipo da rede não comprometem a efetivação da ação, sendo condições
designadas como não reguladoras de desempenho.
A partir da segunda fase, o aprendiz necessita aprofundar sua compreensão acerca das
particularidades da tarefa, sobretudo quanto à necessidade de tomadas de decisão imprevistas para
efetivar um movimento com eficiência.
As tarefas classificadas como fechadas (realizadas em ambientes que não se alteram) requerem
a fixação do padrão de movimentos. As tarefas motoras abertas, que demandam assumir constantes
variações nos movimentos para que os objetivos da tarefa motora sejam atingidos, exigem a diversificação
na execução, a fim de se obter desempenho compatível com sua realização (SCHMIDT; WRISBERG, 2010).
Higgins e Spaeth (1972) fizeram um estudo que comprova a adaptação dos indivíduos ao se
confrontarem com atividades que conduzem à construção de padrão de movimento mais estáveis
ou mais diversificados em relação às variações propostas pelo ambiente durante o processo de
aprendizagem. Esses pesquisadores verificaram que o padrão de movimento tende a se estabilizar e
se tornar consistente, tomando‑se por base o lançamento de dardos em um alvo imóvel, ou que se
movimente de modo oscilatório, porém com velocidade constante. Quando se provocaram mudanças
contínuas de velocidade pendular do alvo para cada lançamento, encontraram‑se diferentes padrões de
movimento na tentativa de se alcançar êxito nessa tarefa.
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Unidade III
Remar apoiando‑se sobre uma prancha exige uma combinação bastante apurada de vários graus de
liberdade envolvidos na ação motora, que abrange o tamanho dos segmentos corporais, as dinâmicas
biomecânicas (torção de articulações, extensão e flexão dos braços, semiflexão dos joelhos, postura ereta das
costas etc.) coordenação visual e espaçotemporal, noção de direção do corpo, aplicação de forças corretas etc.
Figura 64 – Remando sobre uma prancha de surfe. Combinação de vários graus de liberdade concomitantemente
Após o estágio de conquista da coordenação dos padrões de movimentos, o controle dos movimentos
acontecerá por meio do acréscimo de informações características das situações nas quais as habilidades
deverão ser concretizadas. A adição desses aspectos é conhecido por parametrização do padrão de
movimentos (MAGILL, 2000).
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APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO MOTOR
β e n são constantes
x = número de tentativas
Percebe‑se que não há limitação no processo de adaptação do controle das habilidades para a
realização motora, mesmo que as pessoas envolvidas já estejam acostumadas ao cumprimento de uma
tarefa e não estejam mais em processo de aprendizagem. Pode‑se verificar que a medida de desempenho
de uma habilidade depende do número de tentativas de prática alcançadas pelo executante.
No entanto, chama‑se a atenção para o fato de que indivíduos que atingiram a especialização
motora em qualquer habilidade apresentam, mesmo com muitas tentativas de prática, mínimos
incrementos de desempenho. Essa afirmação se identifica pelas determinações de Fleischman
(1982) para indicar os potenciais e as limitações de cada indivíduo em relação às suas capacidades
perceptivo‑motoras e de proficiência física. As inclinações perceptivo‑motoras são relacionadas a
tempo de reação, destreza, velocidade de movimentos articulares, precisão motriz, controle muscular
e coordenação entre múltiplos membros. Já as competências físicas são as força estática, explosiva
e dinâmica, a flexibilidade dinâmica, o equilíbrio geral do corpo e a manutenção de estados de
desempenho. Uma vez próximo de se atingir a plenitude dessas capacidades, mais complexo fica
alcançar melhorias substanciais no refinamento da habilidade.
Recente experimento efetuado por Stafford et al. (2012) mostra a comparação do que foi aprendido
entre humanos e ratos na aquisição de tarefa de manipulação com elementos de análise espacial,
temporal e cinemáticos, com possibilidade de incrementos de dificuldade e verificação de introdução de
novos elementos de resolução de problemas para alcançar a solução motora.
115
Unidade III
10
pesquisa irrelevante
Distância da
8
5
0 2 4 6 8 10
Interação
Figura 65 – Interval search distance = intervalo de distância de investigação em segundos x Interation = número de tentativas
8 ESTRUTURAÇÃO DA PRÁTICA
A categorização das habilidades permite que se possa organizar sua disposição instrucional, sua
prática e as condições de oferecimento de informações (feedback) que auxiliem na motivação, correção,
reforço de execução e correção dos movimentos.
A precisão dos resultados e o tamanho da musculatura envolvida para executar uma habilidade
indicam a classe das habilidades globais ou finas. Habilidades globais (grosseiras) possuem determinadas
demandas de exatidão, não tão rigorosas quanto às de categoria fina, e, para sua execução, há
participação de uma grande musculatura envolvida no gesto motor, por exemplo, lançar uma bola de
basquete, chutar uma bola, correr, saltar, remar e pedalar. Por sua vez, habilidades finas possuem elevado
nível de exigência quanto à precisão motora. Ao mesmo tempo, essas tarefas apresentam participação
de pequeno grupo muscular, como nas obturações realizadas por um dentista, serviços de um relojoeiro
ou ourives, localização de uma peça de xadrez na posição exata na qual se pretende efetuar lance
pensado, e o preparo e disparo de um projétil com uma pistola em alvo com acurácia.
A coordenação do movimento pressupõe a classificação das tarefas motoras em três grupos distintos:
discretas, seriais ou seriadas, e contínuas.
As discretas são identificadas por arranjos iniciais e finais bem-definidos. Citemos alguns exemplos:
ligar e desligar um computador, fazer uma incisão com bisturi em espaço marcado, efetuar o arremesso
de lance livre no basquete, sacar a bola de tênis, arremessar ou rebater uma bola de beisebol ou golpear
uma bola de golfe. Em geral são realizadas com ações de modo muito breve, com duração específica e
são muito corriqueiras nas ocupações que envolvam objetos para serem cumpridas.
116
APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO MOTOR
Habilidades identificadas quanto à sua organização, chamadas de serial ou seriadas, são compostas
de um conjunto de habilidades motoras discretas em sequências. A corrida de 110 m sobre obstáculos se
caracteriza por ser uma tarefa motora serial, pois é constituída pela corrida associada aos saltos sobre
as barreiras. Outros exemplos são as atividades de ginástica rítmica, artística e acrobática. Dirigir um
automóvel também é uma tarefa seriada, pois o indivíduo combina várias ações de natureza discreta
para conseguir o resultado desejado, como pisar e soltar a embreagem, acelerar ou frear o veículo e
controlar a direção.
Por fim, temos as habilidades contínuas, que são de natureza repetitiva, e não são os movimentos
que definem seu início e fim. Pedalar, nadar, correr, andar e remar são exemplos clássicos. Nota‑se que
em competições as atividades repetitivas partem de uma linha arbitrária para seu começo e têm fim
fixado por distâncias previamente estabelecidas. Maratonas, provas de corridas, ciclismo, remo e de
natação são tarefas motoras contínuas. Bater um prego ou fixar um parafuso em algum lugar também
são exemplos delas.
O ambiente executável pode oferecer alterações para realização das tarefas, e o indivíduo deverá
diversificar suas ações de acordo com os objetivos a serem alcançados.
Define‑se tarefa aberta a partir do momento em que o indivíduo deva tomar uma decisão motora
instantânea em razão das demandas em questão. O espaço de realização da atividade é instável e
com baixíssimo grau de previsibilidade. Uma luta de judô se caracteriza por ser uma combinação de
habilidades abertas porque estipula uma combinação de ações que resultará em aplicação dos golpes,
defesas, esquivas e contra‑ataques, sem que se possam preestabelecer, previamente, todas as ações a
serem realizadas, mesmo porque não se pode prognosticar tudo o que seu adversário poderá perpetrar.
A decisão sobre o que deverá ser empreendido é tomada instantaneamente a cada momento da luta.
Uma cortada de vôlei exige tomada de decisão imediata, pois, apesar de se programar o movimento da
batida na bola, o atacante decide somente no último instante sobre a posição final da mão, efetuando
um golpe paralelo, em diagonal, ou mesmo explorando o bloqueio. Jogos de oposição caracterizam
habitualmente tarefas motoras abertas pela diversidade de oportunidades possíveis. No judô a luta se
caracteriza por ser uma tarefa motora aberta, pois não se sabe com exatidão qual será a habilidade
usada pelo oponente; devem‑se tomar decisões instantâneas.
117
Unidade III
Figura 66 – No caratê a luta se caracteriza por ser uma tarefa motora aberta, pois não se sabe com exatidão qual será a habilidade
usada pelo oponente
Habilidades repetitivas e que não exigem variações no padrão de movimento são classificadas como
fechadas. O ambiente é previsível e não oferecerá oposições ou mudanças que exijam a transformação das
ações previamente definidas para a realização da habilidade. Assim, o espaço de realização é estável e sem
alterações repentinas. Atividades motoras cotidianas como cortar legumes, tomar água, apanhar um talher
sobre a mesa, andar em um ambiente vazio são exemplos de tarefas motoras fechadas. Outras tarefas afins
são: realizar uma coreografia no balé, disputar uma prova de remo, correr uma prova de 1.500 m, atirar
uma flecha em alvo estável, fazer o lance livre no basquete e sacar a bola no tênis de mesa.
Figura 67 – Tiro com arco e flecha é uma tarefa motora fechada: alvo fixo e previsível
A ação executável determina deslocamentos corporais específicos quando da realização de tarefas motoras.
Desse modo, a primeira classificação refere‑se ao uso de objetos e sua afinidade característica com
o indivíduo. Tomemos como exemplo um rebatedor de beisebol, o arremessador no basquete ou mesmo
um jogador de tênis. Todos necessitam manejar elementos exclusivos e típicos para a execução da tarefa.
118
APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO MOTOR
Temos ainda a classificação chamada de locomoção, que se caracteriza quando o sujeito da ação
projeta seu corpo no espaço por meio de atos motores causados por segmentos articulares, que, por
sua vez, movimentam o próprio corpo. Exemplos de locomoção: andar, correr, saltar, escalar e nadar.
Quando se dirige um automóvel ou se galopa, quem está fazendo a locomoção é o veículo ou o cavalo,
respectivamente, e, nesse caso, o protagonista da ação motora que dá movimento ao carro ou faz o
animal se deslocar está realizando ações de manipulação.
Figura 69 – Exemplo de locomoção: escalada = projeção do corpo com membros superiores e inferiores
Por último, destacamos o sistema de ação motora que está presente em todas as tarefas humanas: a
estabilização. Em todas as habilidades e tarefas é indispensável haver equilíbrio estático ou dinâmico de
determinados grupamentos musculares para auxiliar a execução de atos de manipulação ou locomoção.
119
Unidade III
Ao andar, mantemos nossa coluna vertebral ereta e a cabeça bem estável; ao escrever ficamos com a
cintura escapular e os braços bem firmes para podermos segurar a caneta com os dedos e movimentar
os punhos de modo adequado. A estabilização, entretanto, pode muitas vezes ser o sistema principal a
ser notado. Na pirueta do balé, mesmo com a bailarina realizando giros diligentes, o fator principal do
exercício é a manutenção do equilíbrio corporal dinâmico. Quando nos sentamos também realizamos
uma estabilização corpórea estática.
Figura 70 – Exemplo de estabilização como ação motora principal: pirueta com a cabeça na dança de break
É importante que sejam definidos instrumentos para permitir a ocorrência da aquisição e da retenção
da habilidade. Dispor e oferecer instruções para que um indivíduo aprenda uma aptidão motora depende
essencialmente das metas a serem atingidas e do tipo de destreza a ser ensinada. Para tal, haverá o
planejamento da prática, e será primordial proporcionar dados para aprimoramento dos movimentos a
fim de atingir a aptidão motora.
Lembrete
Modelagem ou demonstração é um dos instrumentos mais usados para apresentação inicial de uma
habilidade motora e de seus componentes para seus iniciantes. É uma representação da habilidade e ocorre
do seguinte modo: a recepção deve ser efetuada de modo visual e apreender a concentração do iniciante.
120
APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO MOTOR
A percepção visual é capaz de captar informações, e então o aprendiz poderá transformar a informação em
código cognitivo, formalizando a coordenação necessária para processar o movimento. Professores, especialistas,
vídeos, esquemas e fotos são os meios pelos quais a demonstração pode ser realizada. A demonstração associada
à verbalização dos movimentos parece ser a maneira mais apropriada para se transmitir satisfatoriamente
uma habilidade motora ao público‑alvo e obter um nível de aprendizagem com desempenho suficiente
(HAGUENAUER et al., 2005; HODGES; FRANKS, 2002; MIRANDA, FERRO; TEIXEIRA, 2009)
Saiba mais
Saiba mais
O desenvolvimento das execuções reais dos movimentos que constituem uma habilidade motora em
relação ao ambiente e à tarefa é chamado de prática.
121
Unidade III
O efeito da prática pode ser conduzido para que o aprendiz obtenha uma abrangência mais global
das atividades que envolvem a tarefa. Assim, a prática é efetuada pelo todo, isto é, de modo que o
principiante possa experimentar orientação mais universal da combinação de movimentos em busca
dos objetivos da atividade e o emprego global da coordenação motora. Então, irá descobrir os detalhes
mais relevantes que instituem a tarefa motora apenas após um período determinado da prática. Jogos
coletivos são tarefas que têm mostrado resultados mais consistentes de aprendizagem quando praticados
pelo todo, e somente depois incluem elementos particulares para serem treinados separadamente.
Contrariamente, pode‑se preparar a prática destacada das partes que configuram uma tarefa
motora. Tarefas com muitos elementos independentes, em geral, são ensinadas separadamente, para
que primeiro esses componentes sejam praticados com ênfase e depois se possa juntá‑los em uma
unidade principal. A associação das execuções independentes de elementos de uma coreografia de
dança é exemplo de configuração da prática de partes isoladas que se agregam no fim para composição
integral da tarefa motora.
Deve‑se notar que o preparo da prática leva em consideração a natureza da tarefa para analisar
sua complexidade, a qual consiste em fixar o número de elementos que a compõe. Essa avaliação pode
ajudar a determinar se a prática do todo é mais indicada ou se a prática das partes é mais recomendada.
Tarefas motoras complexas são aquelas que possuem um maior número de componentes para sua
realização. Trocar as marchas de um automóvel ao dirigir é uma atividade de alta complexidade, pois
envolve muitos elementos. O mesmo ocorre ao sacar uma bola de tênis de campo. Vejamos os dados:
aprender sobre a empunhadura da raquete, sua manipulação, colocação dos pés na posição apropriada,
lançar verticalmente a bola ao alto, movimentar o tronco à frente e golpear a bola em direção à quadra
do adversário com a raquete. Não se pode confundir um exercício difícil de ser efetivado por possuir alta
complexidade, pois uma tarefa de baixa complexidade pode ser extremamente difícil de ser executada.
Alguns exemplos de tarefas de baixa complexidade são: lançar um dardo, rebater uma bola no beisebol,
pegar um copo para beber água e efetuar uma tacada no golfe.
A natureza da atividade também determina sua organização, que é explicada pela integração dos
componentes que a caracterizam. Se os elementos que a compõem são muito independentes, a tarefa
é de baixa organização. No entanto, se os itens possuem vinculação, não são concretizados sem que
o precedente tenha ocorrido ou o próximo somente é possível após a efetivação do anterior. Então, a
tarefa é de alto nível de coordenação. O rebatimento de uma bola de beisebol possui alta organização,
assim como se deslocar e lançar uma bola de basquete em direção à cesta, nadar uma modalidade
específica como o nado crawl e o salto em altura. Por sua vez, o arranjo de uma coreografia de dança,
em geral, é composto de partes relativamente independentes, bem como a cortada no voleibol.
Os estudos científicos têm mostrado que tarefas motoras de alta complexidade e baixa organização
são mais bem-exercitadas e apresentam melhores resultados quando praticados por partes (MAGILL,
2000). Assim, a cortada do voleibol pode ser segmentada e treinada isoladamente, por exemplo,
preparação e deslocamento; em seguida somente o salto em direção vertical junto à rede, deslocamento
do braço em direção à bola e as diferentes cortadas com a flexão do punho. Depois disso se unem todas
as partes e se realizam todas sequencialmente.
122
APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO MOTOR
Em atividades coletivas de oposição, deve‑se atentar para a prática do todo coligada à prática
da tática, pois os jogos implicam obter resultados de performance levando‑se em consideração as
regras e a participação do grupo na busca de objetivos comuns, tomando‑se por base o alto grau de
incertezas (tarefas abertas). Devem‑se propor práticas que contemplem a necessidade de resolução
de problemas.
A prática deve ser avaliada quanto à sua prescrição constante ou variada. A variabilidade da prática
deve ser analisada em virtude da classificação da tarefa quanto à tomada de decisão.
Caso a tarefa motora se categorize como fechada, então a prática constante da habilidade
parece ser a mais indicada. Cogita‑se examinar as condições não reguladoras da realização da
atividade e verificar se sua alternância ou modificação pode afetar o desempenho. Ao se comprovar
sua eficácia, então, o profissional deve provocar essas adaptações, porém a tarefa seguirá a prática
constante sem sofrer variações dos seus elementos de configuração. Como exemplo, temos o saque
do voleibol, que, por ser uma habilidade fechada, não tem quaisquer interferências reguladoras.
Assim, sua prática deve se restringir às condições de sua concretização e depois investigar outras
ações não reguladoras. Ingerências como barulho da torcida, número de saques e importância em
acertar os golpes para atingir resultado favorável em uma partida devem ser analisadas, e ainda
é preciso verificar como as respostas anteriores do adversário afetam o desempenho da tarefa e a
partir de então providenciar intervenções para que o jogador possa se apropriar dessas demandas.
123
Unidade III
A prática constante parece atender primeiramente os objetivos de retenção da habilidade, fazendo que
se construa primeiramente maior coerência motora e depois ocorra sua especialização pela permanência
dos seus movimentos. Por sua vez, a prática variada permite ao aprendiz adquirir versatilidade e, desse
modo, possuir mais desenvoltura motora.
Segundo Davies (2000), Maturana e Varela (1995), o sistema de arquivamento motor possui grande
adaptabilidade diante das mudanças internas e externas. Desse modo, conforme propõe Schmidt (1975),
as pessoas aprendem a construir regras abstratas por meio da prática variada. Essa condição permite ao
indivíduo delinear fluxogramas de soluções motoras que o auxiliarão a tomar decisões ante os desafios
aos quais estiverem sujeitos. Destarte, instigando a constituição de maior repertório motor, pois o sujeito
deve sempre reelaborar novos planos de ação.
Além disso, Batting (1979) sugere que, dependendo da tarefa, a introdução de interposições
circunstanciais durante o processo de aprendizagem pode servir de estímulo para a interação das
conexões sinápticas, seja de forma positiva, seja negativa, com o intuito de gerar diferentes respostas
motoras. Esse conceito foi chamado de interferência contextual. Assim, o indivíduo poderá variar
parâmetros cinestésicos e cinemáticos ao realizar uma mesma tarefa motora e atingir diferentes
formações cognitivas, e estas estabelecem condições de maior abrangência motriz em relação à mesma
classe de movimentos (TANI, 2000). Para visualizar esse conceito, apresentam‑se no quadro a seguir
mudanças contextuais na aprendizagem do passe de bola com os pés.
124
APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO MOTOR
Objetivo da Restrição
Alcance da bola Objeto (bola) Piso Calçados
tarefa (pernas)
– Próximo – Rasteiro – Tamanho – Grama – Tênis – Elásticos (bands)
– Mediano – À meia altura – Em ação – Terra – Chuteira – Perna de apoio
fixa/solta
– Afastado – Pelo alto – Parado – Cimento – Descalço
– Parado/
– Acertar alvos – Oficial – Madeira – Sandália correndo
– Leve – Areia – Caneleira com
– Pesado – Saibro peso adicional
– Borracha
O estabelecimento de metas para obter aprendizagem motora vem sendo investigado há muito tempo.
Desde a organização da educação, da vontade de efetuar‑se a melhor técnica desportiva e do trabalho
profissional e, até mesmo na estruturação familiar, aproveita‑se da necessidade de se obter resultados, bem
como de desejos intrínsecos dos interessados para se colocarem alvos de proficiência. Atingir determinadas
ações motoras, com eficácia, por meio de metas ou desafios implica almejar redução de tempo de
aprendizagem e obterem‑se seus efeitos mais objetivos e, além disso, adjetivar a excelência motriz. No
constante ao aprendizado de habilidades motoras, trabalhos de pesquisa como o de Locke e Latham (1990)
já expunham que a definição de objetivos de aprendizagem era sistematicamente investigada.
Vários estudiosos propunham que a relação estímulo-resposta era a chave para o aprendizado. Na
aquisição de habilidades motoras, a exposição de metas é uma importante ferramenta para estimular o
aprendiz a obter uma nova habilidade motora. As metas em geral são reforços positivos que entusiasmam
iniciantes a alcançar satisfação própria e autoestima.
Comportamento
Aprendizagem
Estabelecimento de
metas
Reforço positivo
Repetição de habilidade
Figura 71 – Condicionamento operacional respondente de Skinner – obtenção de aprendizagem por motivação positiva
resultado as consequências de sua execução, o que ele chamou de condicionamento operante. Ele
destacou que a maioria dos comportamentos humanos se processa com caráter produtivo, a fim de
satisfazer às necessidades relativas à sobrevivência fisiológica (fazer uma refeição), ou de utilização
cotidiana contínua para atividades profissionais (conduzir um automóvel, escrever uma mensagem,
tomar um ônibus etc.).
Ressalta‑se que a fixação de uma meta deve apresentar os motivos pelos quais ela foi solicitada e
incentivar o aprendiz a buscá‑la para atingir resultados tangíveis e que façam sentido para ele ou mesmo
para o perito motor. Adultos e pais que se distanciam de crianças de 12‑13 meses que já se sustentam
em seus pés parecem provocar nelas a impetuosidade necessária para que busquem a locomoção e
se desloquem sozinhas, caminhando e superando desafios: essa é uma meta de incentivo locomotor
bastante usual e apresenta bastante satisfação familiar, provocando efeitos gratificantes. É evidente
que a criança estabelece relação com o momento alcançado e consegue instituir o domínio de andar
com mais conveniência, já que aliou o seu processo de desenvolvimento com a aprendizagem de uma
habilidade motora básica e estendeu esse domínio à sua satisfação e percebeu isso na reação dos que a
rodeavam e propuseram esse objetivo.
Figura 72 – O incentivo dos pais é uma meta a ser atingida e instiga a aprendizagem do andar
Metas na aprendizagem motora implicam a produção de efeitos bastante ativos, pois primeiramente
chamam a atenção do aprendiz e dão direcionamento à atividade a ser conquistada. Sabe‑se que, ao
propor alvos, gera‑se mobilização dos esforços a serem colocados na produção motriz. Aprendizes que
iniciam uma nova habilidade motora, por exemplo, efetuar uma bandeja no basquete, treinam ativamente
a execução e com posicionamento do esquema corporal apropriado do lado direito, e se deparam com
um desafio maior ao serem confrontados para realizar a atividade do lado esquerdo. Essa é uma meta
essencial para estimular a ambidestridade e aumentar o repertório motor do aprendiz, pois favorece a
ampliação da formação de esquemas motores (apresentados anteriormente). A bandeja do basquete
exige coordenação motora bem apurada e possui elementos motores específicos para aproximação
à cesta, com passadas precisas, elevação da bola rumo à tabela, sair do raio de ação do adversário e
lançar a bola em direção à execução da sua passagem pelo aro respectivo, alcançando a pontuação
preconizada pela regra. Nas competições atuais o jogador de basquete deve saber efetuar a bandeja,
126
APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO MOTOR
não importando o lado, pois a competição exige versatilidade e grande capacidade de responder aos
mais difíceis momentos do jogo, em especial diante de estratégias de defesa muito bem-estruturadas.
Figura 73 – A foto mostra a jogadora de tênis rebatendo a bola com o lado reverso da raquete
O direcionamento da atenção mobiliza esforços de prática e faz que os iniciantes adicionem maior
interesse e se apliquem para obter as melhores condições de efetivação do movimento.
É conhecido o caso do jogador Bernard da seleção brasileira de voleibol, famosa nos anos 1980.
Ele efetuava o saque jornada das estrelas várias vezes após os treinamentos com a equipe para
aperfeiçoar a tarefa. Sua persistência lhe trouxe grande sucesso e determinou várias vezes pontuações
importantíssimas para o time, ganhando vários jogos notáveis.
Outro exemplo é o do ex‑goleiro de futebol Rogério Ceni, que ficava treinando a cobrança de faltas
exaustivamente todos os dias, estipulando metas de aprendizagem na execução dessa tarefa com o
intuito de aumentar o requinte das cobranças e promover dificuldades aos seus adversários durante os
jogos. O resultado foi positivo, ele marcou diversos gols de falta.
O grande campeão de judô Yamashita tinha como meta praticar a execução de determinados golpes
mais de mil repetições todos os dias, a fim de persistir no refinamento do sucesso de sua aplicação
quando estivesse nas competições. Ele tem um cartel impressionante de vitórias e nunca perdeu uma
luta internacional.
Michael Jordan, do basquete americano, diz ter treinado milhares de vezes arremessos de três pontos
do basquete em situações de grande pressão de tempo e com marcação bem cercada para poder realizar
a tarefa nos jogos com total isenção.
127
Unidade III
Verifica‑se que a colocação de metas faz o praticante persistir até obter resultados bem especiais e
que vão ao encontro das necessidades na conclusão de certas tarefas.
Com o grande incremento do número de eventos e torneios esportivos com a participação de crianças,
jovens e adultos, é possível estabelecer controles de aprendizagem, com metas a serem alcançadas por
meio do desempenho esportivo competitivo.
Qualquer modalidade que se insira na mídia leva familiares, instrutores e dirigentes de clubes ao
desejo de obter resultados e promover suas marcas, fazendo que infantes, adolescentes e marmanjos
decidam participar para se divertir e talvez iniciar uma carreira para competição de alto nível.
128
APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO MOTOR
Figura 75 – Crianças jogando campeonato de futebol aprendem novas ações motoras ao se defrontarem com metas impostas por
seus adversários
Adolescentes, por sua vez, parecem construir funções motoras mais bem-aproveitadas quando são
confrontados com metas competitivas em jogos de seu interesse e que estejam inseridos nos desejos
de pertencimento a grupos, ou que, em muitas ocasiões, não exijam exposição pessoal. Por exemplo, os
jogadores de vídeo virtuais (gamers) são desafiados para alcançar metas cada vez mais sofisticadas e
são colocados diante de situações que exigem ações manipulativas sempre mais ágeis, exigindo grande
capacidade de tomada de decisão imediata e solicitando desempenhos manuais com grande presteza.
Após várias tentativas tentando conseguir êxito, conseguem estabelecer movimentos peculiares,
adquirindo aprendizagem. Ao praticar modalidades esportivas, esses indivíduos obtêm necessidades
de aprendizagem por metas a serem atingidas em provas competitivas. Grupos juvenis são colocados
diante de adversários mais bem-reconhecidos e parecem treinar mais quando estão bem motivados
para atingir metas e vitórias. Por esse motivo, esforçam‑se em superar limitações motrizes e treinam
para obter sucesso por meio de estratégias de treinamento que exigem o aprendizado de técnicas
bastante surpreendentes, além de provocarem o desejo de realizá‑las com perfeição para suplantar
os oponentes. Com a dificuldade imposta pela concorrência, atingem‑se módulos de aprendizagem
cada vez mais sofisticados.
Adultos, em sua maioria, ao iniciarem a prática de atividades físicas, por meio de modalidades
esportivas, acabam se interessando pela competição. Muitos treinadores aproveitam esse interesse
para determinar parâmetros e classes de movimentos a serem cumpridos. É comum corredores de rua
definirem metas de tempo. Esse desempenho instiga o praticante a enxergar, observar e treinar passadas,
129
Unidade III
afastamento entre pernas e colocação de força adequada ao realizar a corrida, em especial porque seus
concorrentes sempre estarão apresentando alguma novidade de execução.
Considerando‑se a prática como fundamental para a associação de uma nova habilidade motora, é
vital notar que existe um princípio básico que acompanha os experimentos motores: a informação sobre
a condição de realização e o resultado do movimento efetuado. Esse processo, que pode ser conseguido
pelo próprio executante ou por meio de avisos externos, denomina‑se feedback.
O praticante de uma habilidade motora pode, inicialmente, após a execução de uma tentativa,
verificar que o movimento imaginado não foi alcançado como de fato deveria ter sido feito. A percepção
de análise e correção, internalizada pelo próprio executante, caracteriza‑se como feedback intrínseco
e é inerente à produção de movimentos humanos (SCHMIDT; WRISBERG, 2010). Aprendizes ou mesmo
indivíduos com determinada experiência processam informações cognitivas de tal modo que readaptam
os mecanismos do processamento de informações através de comparações sinápticas realizadas pelo
cerebelo e pelo córtex motor. Os ajustes necessários à correção do movimento, que elevarão o nível de
execução, são efetivados pelos mecanismos sensoriais e proprioceptivos.
Comumente, principiantes não conseguem idealizar as melhores respostas para atingirem o melhor
desempenho da habilidade. Nesse caso existem as informações externas recebidas de instrutores,
professores, especialistas e de outros indivíduos que podem prover dicas, pistas, lembretes, subsídios ou
elementos‑chave para que se alcance a eficiência motriz esperada. Os indivíduos com vasta experiência,
já autônomos, que necessitam de rendimento esportivo, recebem informações específicas de seus
técnicos e treinadores. Assim, esses dados externos para auxílio na aprendizagem ou feedback extrínseco
podem auxiliar praticantes a conseguir melhor performance.
Como mencionamos, as medidas de desempenho podem servir de base para se avaliar a performance.
Conhecimentos de resultado ou de performance fornecem dados importantes para a melhoria na
execução dos movimentos, pois permitem aos praticantes avaliar constantemente as compensações
físico‑mecânicas necessárias para a construção apropriada da habilidade.
Várias dimensões do feedback extrínseco tentam dinamizar o processo da prática para se alcançar
mais rapidamente as melhores respostas e assim atingir a fase autônoma de execução motora.
As instruções faladas são rotineiramente usadas para a correção de movimentos. Desse modo,
ressalva‑se a importância da gradação de voz, da unidade linguística utilizada conforme sua audiência
e do domínio de interpretação respectivo. Igualmente, nos dias atuais, o uso do vídeo adiciona dicas
importantes para que o próprio indivíduo possa examinar detalhes respectivos aos controles motores
e aos aspectos do sistema de ação motora mais proeminente da ação: a manipulação correta de
objetos, a locomoção com membros inferiores ou superiores e os princípios de estabilização corporal
estática ou dinâmica. O emprego do feedback ao executante deve permitir que o feedback intrínseco
seja processado. O fornecimento de informação deve obedecer a determinado tempo pós‑realização
da atividade (retardando a informação ao executante), assim como deixar que o executante efetue
130
APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO MOTOR
algumas vezes a habilidade (acúmulo de tentativas). Essa estratégia faz que sejam criadas condições
de aprofundamento, dando oportunidade para a construção de programas motores que venham ao
encontro de respostas satisfatórias, com competência motriz e favorável a cada indivíduo.
A aquisição da habilidade motora é verificada por meio de atribuição de valores que medem a
performance do indivíduo tomando‑se como base o desempenho com a iniciação da prática em
comparação com a atuação obtida após um período de prática predeterminado. Essa atribuição pode
ser efetuada por medida de resultados ou por valores de execução do movimento (padrão de realização).
Adicionalmente, pode‑se averiguar a retenção da habilidade e assim inferir que ela fará parte do
acervo motor do indivíduo, e isso ocorre quando, após um período sem prática, o sujeito a executa tão
bem quanto na ocasião ou até com melhor desempenho.
Desempenho
Pré-teste inicial
Instrução
Medidas da
aquisição
Medidas de retenção
Saiba mais
131
Unidade III
Por meio de estudos da biologia computacional, Anne Gabrielle Eva Collins e Michael Joshua Frank
conseguiram determinar que indivíduos que praticam mais ações motoras e as adsorvem como padrões
de realização têm mais chances de escolhas hipotéticas e de pensamento abstrato. Dessa maneira,
pode‑se apresentar que esses indivíduos possuem maior inteligência emocional, pois conseguem ampliar
possibilidades de escolhas e de soluções. As análises asseveram que, de acordo com nossos atos motores,
restringimos ou potencializamos nosso modo de pensar hipoteticamente.
Fica evidente que permitir o aumento de repertório motor de uma criança, em especial respeitando suas
etapas de desenvolvimento físico, afetivo‑moral e cognitivo, vai propiciar a formação de indivíduos mais
bem-preparados para fazer escolhas, para se relacionarem socialmente e para construírem seu conhecimento.
Fu et al. (2012) sugerem que o agrupamento de novas sinapses adjacentes aos dendritos neuronais
seja induzido por ativação repetitiva do circuito cortical durante a aprendizagem, fornecendo uma
base estrutural para a codificação espacial da memória motora no cérebro de mamíferos. Isso remete
ao fato de terem conseguido determinar, com o auxílio de microscópios com duofótons transcraniais
computadorizados, com bastante precisão, a complexa intensificação de memória motora por meio de
repetição frequente de ações motoras específicas. Isso traz à tona a afirmação de que a aprendizagem de
um ato motor provoca reações muito importantes na confecção da memória, dilatando o armazenamento
de conexões sinápticas especiais, as quais conduziram à maior atividade cerebral e que instigam a
ativação de novos neurônios motores. Essa possibilidade parece fazer frente às necessidades de saúde
mental. Aprender novos movimentos motores possibilita expandir horizontes neuronais e aplicar melhor
a plasticidade cerebral, além de aproveitar a potencialidade cerebral, contribuindo, decerto, para a
aquisição de maior cognição.
Assim, aprender movimentos coopera muito no desenvolvimento integral do ser humano e auxilia a
saúde mental expressivamente.
Resumo
Exercícios
Questão 1. (Enade 2004). Ao elaborar passos para a aprendizagem de determinado gesto esportivo,
o professor só permite que seu aluno avance quando executa o movimento anterior da forma desejada.
Ao proceder dessa forma, esse professor está adotando teorias da aprendizagem apoiadas:
A) No cognitivismo.
B) No comportamentalismo.
C) Na fenomenologia.
D) Na dialética.
E) Na resolução de problemas.
A) Alternativa incorreta.
Justificativa: a teoria cognitivista busca o aprendizado pelo sistema estímulo‑resposta. O aluno tenta
executar um plano de ação motora com base em um referencial ideal armazenado na memória. A ação é
formada a partir da relação entre as percepções sensório‑motoras e as informações armazenadas.
133
Unidade III
B) Alternativa correta.
C) Alternativa incorreta.
D) Alternativa incorreta.
E) Alternativa incorreta.
Justificativa: a teoria da resolução de problemas trabalha com situações reduzidas de jogos para
desenvolver habilidades próprias das modalidades coletivas. Também denominada teoria situacional,
desenvolve as habilidades de forma integrada com a situação vivida, e não como parte isolada e fracionada.
Questão 2. (Enade 2016, adaptada). Um profissional de educação física foi contratado para ensinar
voleibol a crianças de 9 e 10 anos de idade em um clube social de sua cidade. Na primeira semana de
aula, verificou que a turma era heterogênea em relação ao nível de aprendizagem motora. Para otimizar
o processo de ensino‑aprendizagem, o professor agrupou os alunos conforme o nível de aprendizagem,
aplicando o modelo clássico proposto por Fitts e Posner, em que o processo de aprendizagem ocorre em
três fases distintas. O professor utilizou as características comportamentais dos alunos nas aulas para
classificá‑los, considerando as fases de aprendizagem, nos seguintes grupos:
II – O grupo 2 (fase cognitiva): crianças que demonstravam padrão motor mais estável, que cometiam
erros moderados e apresentavam desempenho relativamente consistente.
III – O grupo 3 (fase autônoma): crianças que apresentavam elevado nível de precisão e eram capazes
de detectar e corrigir os próprios erros.
134
APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO MOTOR
A) II.
B) III.
C) I e II.
D) I e III.
E) I, II e III.
135
FIGURAS E ILUSTRAÇÕES
Figura 1
Figura 2
Figura 3
Figura 4
Figura 5
MCGRAW, M. B. Grow: a study of Jhonny and Jimmy. London: Appleton‑Century Company, 1975. p. 74.
Figura 6
Figura 7
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Figura 8
136
Figura 9
Figura 10
Figura 11
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Figura 17
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Development, EUA, n. 77, v. 6, p. 1.524, 2006.
Figura 19
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142
Figura 67
Figura 68
Figura 69
Figura 70
Figura 73
Figura 74
Figura 75
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Audiovisuais
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Textuais
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Exercícios
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Informações:
www.sepi.unip.br ou 0800 010 9000