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Universidade Federal de Viçosa
RESUMO
Atualmente tem-se discutido os benefícios que as artes marciais podem oferecer às crianças, tais
como autoconfiança, a disciplina, o respeito às regras e a integração social. O objetivo deste trabalho foi
investigar quais benefícios o Jiu-Jitsu pode trazer para as crianças praticantes, na ótica dos alunos e de seus
pais. Metodologicamente é um estudo de intervenção, sendo os dados foram coletados por meio de um
questionário aplicado a 18 alunos e seus respectivos pais em duas instituições da Zona da Mata Mineira
que oferecem esta arte marcial. Os resultados indicam motivação dos alunos e percepção positiva dos pais
quanto aos benefícios promovidos por esta arte marcial a seus filhos. Dentre os benefícios percebidos pelos
pais destaca-se o comprometimento, melhora no relacionamento entre pais e filhos e na participação das
atividades escolares. Dessa forma, é possível atrelar a prática do Jiu-Jitsu aos processos de educação do
aluno, auxiliando-os em seu processo de formação física e escolar, garantindo através dos ensinamentos
aplicados um desenvolvimento holístico.
Palavras-chave: Criança. Benefícios. Jiu-Jítsu.
ABSTRACT
Várzea Paulista, v. 15, n. 02, p. 63-70, 2016. ISSN; 1981-4313.
Nowadays it has been discussed the benefits that martial arts can offer to children, such as self-
confidence, discipline, respect for rules and social integration. This study aimed to investigate what benefits
Jiu-Jitsu can bring to children, in the view of students and their parents. Methodologically, it is an intervention
study, and the data were collected through a questionnaire administered to 18 students and their parents in
two institutions of Zona da Mata Mineira that offer this martial art. The results indicate students’ motivation
and positive perception of parents about the benefits provided by this martial art to their children. Among
the benefits noticed by parents it is highlighted the commitment, improvement in the relationship between
parents and children and participation in school activities.
Keywords: Child. Benefits. Jiu-Jítsu.
Acredita-se que a arte marcial é importante no que se refere a educação pedagógica das crianças, uma
vez que, estão inseridas culturalmente em nossa sociedade, e, por meio dela, a criança relaciona, desenvolve
e vivencia diferentes capacidades motoras, cognitivas e afetivas. Consequentemente, as expressões corporais
viabilizam habilidades que são tão polêmicas no contexto atual como a agressividade, violência entre outros.
Para Rufino e Martins (2011), o Jiu-Jitsu é uma ferramenta de aprendizagem esportiva e educacional,
não somente uma arte marcial, mas uma filosofia de vida que permite ao aluno desenvolver a parte física,
além de trabalhar e melhorar o seu estado psicológico, em um ambiente propício à tomada de decisões, ao
trabalho em equipe além de estimular o companheirismo.
Entre as vantagens do Jiu-Jitsu, Vita (2011) cita a disciplina e o respeito às regras; autoconfiança e
autoestima; controle das emoções; desenvolvimento da coordenação motora; condicionamento dos reflexos;
alívio de tensões; controle da ansiedade e de si mesmo; integração social; auxílio no desenvolvimento da
inteligência, audácia, coragem, agilidade e resistência à dor.
Com a prática do Jiu-Jitsu, as crianças podem desenvolver o discernimento do certo e errado, do que
se e válido e o que pode ser feito para o bem do próximo, além de obterem contato e sociabilizarem com
outros alunos de sua mesma faixa etária e a partir do conteúdo bem oferecido e trabalhado pelo professor,
os alunos podem juntos propagarem suas experiências positivas vivenciadas nesta arte marcial.
Segundo Ajuriaguerra (1974), a evolução da criança é sinônimo de conscientização e conhecimento
cada vez mais profundo do seu corpo, pois é através dele que a criança elabora todas as suas experiências
vitais e organiza toda a sua personalidade. Sendo assim, através da prática do Jiu-Jitsu pode-se desenvolver
um excelente senso de consciência corporal, o que leva à autoconfiança e disciplina interior, bem como, uma
educação psicomotora bem trabalhada que proporcionará um diferencial no desenvolvimento desta criança,
pois visa a integração da tríplice aliança: motricidade, cognitivo e afetivo. A partir disso, seu desenvolvimento
o fará sujeito capaz de estabelecer transformações em si e no mundo que o cerca. Estabelecendo ainda,
condições de construir esquemas e imagens adequados, com vistas às relações humanas mais inovadoras
com seu eu e sua vida social.
A criança quando interage com o seu próprio corpo, com o meio, com as pessoas com quem convive
e com o mundo, onde estão inseridas suas relações emocionais e afetivas, constrói seu mundo baseado em
suas impressões corporais, no entanto, seu desenvolvimento é o resultado de suas experiências. Neste caso,
é importante que trabalhe atividades que criem possibilidades de autodomínio e autocontrole, observando
que, a criança é um conjunto articulado entre o corpo, mente e afeto. Baseando-se que, o movimento é uma
característica natural e constante em seu ser, através da prática do Jiu-Jitsu, as possibilidades de potencializar
o seu processo de autoconhecimento, tornando-os pessoas mais equilibradas, afetuosas e cognitivamente
com maior prontidão para o desenvolvimento integral destas crianças.
Destarte, esta arte marcial, o jiu-jitsu, pode ser concebido com uma forma de prática de atividade
física, objeto didático e educativo (ARRUDA; SOUZA, 2014). Logo, este estudo objetiva investigar quais os
benefícios o Jiu-Jitsu pode trazer para as crianças praticantes, na ótica dos alunos e de seus pais.
MATERIAIS E MÉTODOS
Metodologicamente é uma pesquisa quantitativa, do tipo descrita e exploratória, que foi desenvolvida
junto a alunos com idade entre 7 e12 anos de duas instituições, da Zona da Mata Mineira, que oferecem
aulas de jiu-jitsu para este público. A população é formada por 33 alunos e seus respectivos pais, sendo que
somente 18 (54,5%) alunos e seus respectivos pais assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
e aceitaram participar. Desta forma, a amostra se caracteriza por não probabilística de conveniência.
Os dados foram coletados a partir de dois questionários, o primeiro destinado às crianças foi adaptado
de Gorgatti e Rose Júnior (2006), sendo o instrumento composto de dez questões fechadas, em escala do
tipo Likert, com pontos variando de (1) “não, nunca” (2) “poucas vezes”, (3) “muitas vezes”, (4) “sim, sempre”.
A abordagem da amostra foi in loco (local das aulas), após estarem previamente autorizados por seus pais.
O segundo questionário, também composto por dez questões fechadas, foi adaptado de Guaragna;
Pick e Valentini (2005) e aplicado aos pais das crianças. Estes responderam em suas residências, devolvendo-o
posteriormente ao pesquisador. O instrumento é composto por questões fechadas, em escala do de atitudes
CONTEXTUALIZAÇÃO TEÓRICA
O jiu-jitsu é uma arte marcial japonesa que utiliza alavancas e pressões para derrubar, dominar
e submeter o oponente, tradicionalmente sem usar golpes traumáticos. De acordo com a Confederação
Brasileira de Jiu-Jitsu, esta modalidade se iniciou na Índia e praticado por monges budistas, que preocupados
com a sua autodefesa desenvolveram técnicas, sem uso da força e armas, dentro dos princípios do equilíbrio,
sistema de articulação do corpo e alavancas.
De acordo com Gehre et al., (2010, p.77) a palavra Jiu-Jitsu ou Jujutsu, é descrita por dois caracteres
chineses: “o ju significa ‘suavidade’ ou ‘via de ceder’ e o jutsu ‘arte, prática’ sendo traduzido como arte
suave. A “arte suave” chegou no Brasil, trazida por Mitsuyo Maeda, conhecido por Conde Koma, que
desembarcou no Brasil em 1915, quando conheceu o membro da família Gracie, Gastão Gracie, e passou
o seu conhecimento para seu filho mais velho, Carlos Gracie. A partir de então, inicia-se o legado do Jiu-
Jitsu no Brasil.
Devido aos seus inúmeros benefícios, a sua prática pode vir a somar de várias formas para o processo
de formação do aluno. Segundo Gehre et al., (2010) algumas capacidades adquiridas são essenciais para que
a criança consiga se sair bem nos treinos, tais como força para realizar a passagem de guarda, velocidade
exercida na execução de movimentos mais rápido que seus colegas de treino em situação de luta, resistência
para que possa se manter treinando por um tempo determinando o aumento de flexibilidade, agilidade e
coordenação motora que exerceram uma grande influência em todo instante no desempenho do praticante.
Para Alves e Lima (2008) alguns efeitos positivos da atividade física podem ser evidenciados nos
órgãos e sistemas: cardiovascular (aumentando o nível de oxigênio a ser consumido, manutenção de boa
frequência cardíaca e volume do nível de ejeção sanguínea), tratando-se de nível respiratório pode-se
obter um (aumento dos parâmetros ventilatórios funcionais), muscular (ganho de massa, força e resistência),
esquelético (maior ganho do conteúdo de cálcio e mineralização óssea), cartilaginoso (cartilagem mais espessa,
com maior proteção articular) e endócrino (aumento da sensibilidade insulínica, melhora do perfil lipídico).
Em busca de adquirir estes quesitos no campo físico das crianças, exercícios aplicados de maneira
lúdica, motivadora fazendo com que o aluno sinta-se contente e com prazer em estar realizando tal exercício.
A criança com estes princípios estará envolvida e comprometida com o propósito, com isto exercem funções
de locomoção, saltos, rolamentos, equilíbrios de maneira prazerosa e espontânea.
Relatada por Gehre et al., (2010) a parte técnica do treinamento de Jiu-Jitsu envolve habilidades
propriamente específicas da luta, aplicação golpes, a forma de defesa que é chamada de guarda que o
oponente faz no sentido de defesa para que o adversário não ultrapasse a linha de sua cintura quando
estiver no solo e o ataque que é chamado de passagem de guarda, quando o aluno que está em cima busca
transpassar a linha da cintura do aluno que está no solo fazendo a guarda.
Através deste meio, o aluno pode vir a adquirir um grande aumento em suas capacidades psicológicas
também, pois a busca em tentar se defender, de passar a guarda ou de aplicar um golpe ele inicia um
processo mental como se estivesse em um jogo, mas o instrumento e o seu próprio corpo, onde ele começa
a buscar meios para fintar, ludibriar, enganar, aproximar, afastar, defender, atacar, inverter a posição em
algum momento de dificuldade, utilizar a força de seu oponente contra ele próprio, mesmo que esteja em um
momento de descontração durante as aulas eles já iniciam um processo de formação intelectual, adquirindo
formas e métodos variados para sobressair diante às situações encontradas.
Além destes benefícios acima descritos, a socialização através desta pratica é um fator que se deve
levar em conta, uma vez que, a tempos atrás a pratica era somente exercida por pessoas de uma estrutura
financeira maior. Crianças menos favorecidas financeiramente não conheciam esta prática, e, com o passar
dos anos, ela foi difundida e hoje muitas crianças podem desfrutar do Jiu-Jitsu e de seus benefícios. Durante
as aulas as crianças formam laços de amizade, interagem durante as atividades propostas pelo professor, se
ajudam mutuamente construindo um relacionamento pautado no respeito e afeto. Ficando em evidência a
importância da prática no desenvolvimento da criança.
Este estudo objetiva investigar quais os benefícios o Jiu-Jitsu pode trazer para as crianças praticantes,
na ótica dos alunos e de seus pais. A maria das crianças é do sexo masculino (94%) com faixa etária de 7 a
12 anos. Na Tabela 1 são apresentadas as médias obtidas dos benefícios autopercebidos pelos alunos com
a prática do Jiu-Jitsu.
Considerando que o maior peso das questões é 4, a questão que apresentou maior média (3,94)
foi a que perguntou sobre o incentivo dos pais para a prática do Jiu-Jitsu. Nas questões H, I e J, pela escala
utilizada, quanto mais próximo de 1, mais favorável é a percepção de benefícios pelas crianças. Assim, as
médias 1,18; 1,29 e 1,12 para as questões sobre o comportamento do professor e dos colegas quando da
não realização das atividades e sobre a desistência quando da não realização da atividade indicam uma
percepção favorável por parte das crianças.
Tabela 1. Média e desvio padrão dos Benefícios auto percebidos do Jiu-Jitsu pelas crianças.
b) Você participa de todas as atividades dadas pelo professor de jiu-jitsu 3,76 0,44
d) Você tem incentivo dos seus pais para participar das aulas de jiu-jitsu 3,94 0,24
f) Você percebe que seus colegas te tratam normalmente nas aulas de jiu-jitsu 3,76 0,44
g) A sua academia possui as adaptações necessárias para que você possa realizar
3,53 0,87
as atividades que desejar
h) O seu professor fica nervoso quando você não consegue fazer alguma
1,18 0,53
atividade que ele pediu
i) Seus colegas ficam nervosos quando você erra alguma coisa na hora das
1,29 0,47
atividades propostas nas aulas de jiu-jitsu
J) Quando você não consegue realizar uma atividade proposta nas aulas de
1,12 0,33
jiu-jitsu você desiste logo
*DP = desvio padrão.
Questionados sobre a participação nas aulas (questão A), todas as crianças afirmaram que gostam
de praticar o Jiu-Jitsu oscilando de muitas vezes (11,1%) a sempre (88,9%), bem como a satisfação (felicidade)
após aulas (94,5%) (Questão C). No que concerne ao incentivo dos pais (questão D), para a prática do
esporte, todas as crianças declararam positivamente, já do professor (questão E) apenas 94% percebem esse
incentivo e outros 6% percebem que poucas vezes ocorre. Cabe destacar que todos se sentem incluídos
e possuem um clima harmônico nas aulas (questão F), além disso, que alguns alunos declaram que as
adaptações da academia (questão G), para a prática do esporte, não são adequadas (6%) ou poucas vezes
(6%) são adequadas. Quanto ao relacionamento com o professor, 12% da amostra declaram que o professor
fica nervoso (questão H) quando não consegue fazer a atividade, em contraponto, 72% consideram que os
colegas não ficam nervosos ou insatisfeitos quando erram alguma coisa (questão I)
Assumir compromissos (dar recado, comparecer na escola e nas aulas) 1,61 0,61
Ainda com relação à Tabela 2, a média geral dos benefícios do Jiu-Jitsu para as crianças na percepção
dos pais é de 1,76 com desvio padrão de 0,73, isso significa que a percepção dos pais está entre 1,03 e 2,49
indicando que 68% dos respondentes estão neste intervalo. O desvio padrão pequeno (0,73) em relação à
média (1,76) ainda indica uma amostra homogênea e positiva quanto aos benefícios do esporte.
Quando os pais foram questionados se as crianças buscam um relacionamento sadio com alunos
do mesmo sexo (questão A), 84% dos pais afirmam que sim. Do mesmo modo há a percepção entre os pais
(85%) de um relacionamento sadio em seus filhos com alunos do gênero oposto (questão B). No que diz
respeito à timidez (questão C), a maioria (89%) afirmam que a prática esportiva contribui para a perda da
timidez, em contraponto, apenas 6% discordam e outros 6% se mostraram indecisos. Oitenta e nove por
cento dos pais percebem que seus filhos apresentam maior participação nas atividades escolares (questão D)
depois que começaram a modalidade, do mesmo modo, 89% dos pais indicaram que depois que passaram
a praticar Jiu-Jitsu seus filhos apresentaram maior convivência e novas amizades (questão E). Perguntados
CONCLUSÃO
É possível concluir após este estudo que, a prática do Jiu-Jitsu, traz para as crianças praticantes desta
arte marcial, benefícios cognitivos, afetivo e social. De tempos anteriores até atualmente as pessoas veem
tentando buscar uma forma para que seus filhos cresçam mais saudáveis, dispostos, livre do sedentarismo,
da violência, das drogas, más companhias ou influências que sejam caracterizadas negativas que permeiam
a nossa sociedade. Dentro deste contexto, as artes marciais podem vir a ser colocadas em xeque pelo duplo
sentido que se é atribuído ao seu valor, uma vez que, pode-se gerar o medo do processo de agressividade
na criança praticante, e, por outro lado, comprovadamente neste estudo, o desenvolvimento equilibrado
destas crianças.
Quando o Jiu-Jitsu é trabalhado de forma correta e eficaz, nota-se que os benefícios no processo
de formação da criança praticante favorecem seu estágio cognitivo, motor e psicológico. Considera-se
que, o desenvolvimento da criança é um fator importante em todos os aspectos, pois objetiva-se um
desenvolvimento integral, ou seja, socioafetivo adequado às condições necessárias a uma criança. A base
deste desenvolvimento dará a estas crianças praticantes um subsídio para uma vida adulta mais saudável.
Desta forma, é possível atrelar a prática do Jiu-Jitsu aos processos de educação do aluno, pois a
modalidade propicia uma quebra de barreiras quanto ao relacionamento dos mesmos com seus amigos de
treino e seu professor, chegando a um nível elevado no processo de mudança e satisfação de ambos os alunos
mediante a prática exercida pelas crianças, aprovando este processo de ensino como fator importante para
o aluno como um todo, auxiliando-o em seu processo de formação, garantindo através dos ensinamentos
aplicados um desenvolvimento continuo por parte dos alunos praticantes.
Este trabalho possui como limitação o tamanho da amostra que é pequena, além disso, outras
características sobre o perfil dos respondentes poderiam ter sido pesquisas, como por exemplo, a renda e
se outros membros família praticam a atividade.
Como pesquisa futura, sugere-se o refinamento do instrumento de pequisa e extensão do trabalho a
outros grupos, de diferentes academias, inclusive de outras cidades. Além disso, sugere-se o estabelecimento
de relações entre as variáveis pesquisadas.
REFERÊNCIAS