Você está na página 1de 13

As crianças selvagens

1.
Índice

1
Pá gina

Psicologia B – 12.º ano 2021/2022


Introdução

As crianças selvagens são crianças que cresceram com contacto humano


mínimo, ou mesmo nenhum. Podem ter sido criadas por animais (frequentemente lobos)
ou, de alguma maneira, terem sobrevivido sozinhas. Normalmente, são perdidas,
roubadas ou abandonadas na infância e, depois, anos mais tarde, descobertas, capturadas
e recolhidas entre os humanos.
Os casos que se conhecem de crianças selvagens revestem-se de grande interesse
científico.
E por isto vamos analisar o que as torna tão interessantes aos olhos da ciência.
Pois se elas são crianças o que as distingue de nós?
Mais á frente veremos alguns casos e as suas características, percebendo afinal
do que são feitas estas crianças.

1.

2
Pá gina

Psicologia B – 12.º ano 2021/2022


Crianças selvagens

As diferenças entre os homens e os animais não passam apenas pelo grau de


complexidade enquanto o animal permanece na natureza, o homem é capaz de
transforma-la tornando só assim sendo possível a cultura.
As crianças selvagens só vêm comprovar que o ser humano é um ser cultural,
produzido pela sociedade em que se insere. As crianças selvagens tal como nós tem uma
herança genética que nos torna humanos mas os seus comportamentos, reacções,
sentimentos, entre outros em nada são iguais aos dos humanos.

Crianças selvagens, o que significa este termo?


As crianças selvagens são crianças que crescem privadas de todo o contacto
humano ou o contacto humano é mínimo. Estas crianças são em gerais criadas por
animais (frequentemente lobos) ou sobrevivem sozinhas.
Normalmente são crianças que são abandonadas, perdidas, roubadas, vítimas de
abusos em idades muito precoces e mais tarde são descobertas, capturadas e recolhidas
entre os humanos começando um trabalho de integração na sociedade.

Comportamentos/características apresentadas pelas


crianças selvagens

Estas crianças quando são encontradas apresentam características muito


3

particulares, não possuindo qualquer comportamento humano.


Pá gina

Características/comportamentos:
 A sua linguagem é sobretudo mimica e em alguns casos emitam mesmo os animais com
que viveram sendo a sua linguagem verbal quase sempre nula ou muito reduzida.
Quando resgatados a sua capacidade de aprender uma língua é muito variada umas
nunca aprendem a falar, outras aprendem algumas palavras e outras ainda aprendem a

Psicologia B – 12.º ano 2021/2022


falar (provavelmente antes de serem isoladas do mundo humano já teriam aprendido a
falar). A aprendizagem da linguagem e o que sabem quando são resgatadas vai depender
muito sobretudo da idade com que foram isoladas, da idade que permaneceram e
isolamento e da idade com que foram resgatadas.
 As crianças selvagens comportam-se da mesma maneira que a sua família de
acolhimento (como verdadeiros animais)
 Não gostam de usar roupas na maior parte dos casos
 Alimenta-se e bebem e comem tal como um animal o faria
 Não gostam da companhia humana percorrendo grandes distâncias para a evitar.
 Não mostram interesses em crianças da sua idade nem nos jogos apropriados às
suas idades.
 Procuram muitas vezes a companhia de outros animais parecidos com os seus
pais adoptivos sendo que estes reconhecem essas crianças aproximando-se delas
de uma forma que não fazem em relação aos restantes humanos.
 Não andam de forma erecta.
 Mas uma característica muito peculiar e estranha destas crianças é o facto de não
se rirem, chorarem ou apresentarem qualquer tipo de emoção não percebendo
também o seu significado embora possam eventualmente desenvolver ligação
afectiva. Esta falta de emoções leva a que tenham pouco ou nenhum controlo
emocional.
 Podem ter ataques de ferocidade tento comportamentos selvagens como morder
ou arranhar outros ou até eles mesmos (devido a este facto as crianças selvagens
apresentam muitas vezes cicatrizes e marcas físicas)
4

A importância das crianças selvagens


Pá gina

È um pouco difícil reconhecer a humanidade destas crianças, elas apenas tem


algumas características geneticamente determinadas ao nascer comuns a todos os
indivíduos humanos (olhos, boca, nariz, orelhas, etc). Estas crianças vêm provar que o
ser humano é um ser prematuro que possui um programa genético aberto. Podemos
realçar a importância das vinculações e da socialização (principalmente primaria) sendo
que só através do contacto com outros humanos podemos aprender a ser humanos.

Psicologia B – 12.º ano 2021/2022


Sabemos que o ser humano tem um conjunto de características predeterminadas
quando nasce contudo o meio exterior vai influenciar o ser humano.
Os animais quando nascem vêm com todas as características predeterminadas,
isto leva a que não estejam tão dependentes dos restantes elementos da sua espécie,
podendo sobreviver sozinhos desde os primeiros meses de vida, já o Homem só numa
sociedade é que o Homem é capaz de ser Humano sem a sociedade que o rodeia o
Homem tornar-se-ia um dos mais fracos pois de todos os seres vivos o Homem é o que
quando nasce se mostra mais incapaz de cuidar de si mesmo (nasce prematuro,
inacabado biologicamente). A sobrevivência do ser Humano deve-se à sociedade em
que habita, à cultura dessa sociedade. O Homem privado dessas necessidades
características da sua espécie vivera uma vida precária e reduzida Às funções de
animalidade. A superioridade do Homem em relação aos outros seres vivos é um
resultado da civilização, sem o conhecimento cultural e da socialização o Homem
comportar-se-ia como um verdadeiro animal não tendo conhecimentos.
O ser humano tem uma infância muito prolongada pois quando nasce é um ser
prematuro, ele necessita dos outros para aprender, aprender a ser humano isto só será
possível criando relações com as outras pessoas para poder aprender os
comportamentos, as normas, as praticas, entre outras que deve seguir como membro de
uma sociedade.

Os factores do meio que conferem aos indivíduos as características humanas


O que nos torna humanos é também o meio em que vivemos. Existindo
determinados factores que contribuem para isso.

Os padrões de cultura
5

A cultura
Pá gina

Os factores do meio que conferem ao


indivíduo características humanas.

A socialização

Psicologia B – 12.º ano 2021/2022


Cultura:
Cultura é todo o conjunto de normas colectivas de comportamentos que se
impõem às condutas individuais, sob pena de reprovação social que pode ir desde um
simples raspanete até à prisão, dependendo da importância e significado da norma
violada.
A cultura é a totalidade dos conhecimentos, das crenças e teorias, das artes, dos
valores, leis e normas, costumes e todas as outras capacidades e hábitos adquiridos pelo
Homem enquanto membro da sociedade. A cultura é uma totalidade onde se conjugam
estes diversos elementos materiais e simbólicos.

Os padrões culturais:

Padrão de cultura ou padrão cultural é o conjunto de comportamentos, práticas,


crenças e valores comuns aos membros de uma determinada cultura. Os padrões
culturais têm um papel muito importante na vida social: são quadros de referência, são
exemplos acessíveis às pessoas e influenciam actividades, relacionamentos e atitudes.
Através do padrão cultural podemos descobrir o significado de um dado
comportamento naquela cultura. No entanto, o papel dos padrões de cultura nem
sempre é notado. São tão normais, banais e constantes que nem tomamos consciência
da sua existência. A nossa forma de cumprimentar, de falar, de agir e até de pensar
está directamente relacionada com o meio em que estamos inseridos e,
consequentemente, com os padrões culturais a que obedecemos.

Assim, quando julgamos um dado comportamento, é necessário analisá-lo


consoante a cultura em que está inserido, o seu contexto sociocultural, para que o
6

possamos compreender e, então, avaliar.


Pá gina

Por outro lado, devemos notar que os padrões culturais estão em constante
mudança devido ao contacto com outras culturas, à criação de novos conceitos, às
descobertas do homem e à evolução de pensamento dos cidadãos.

Psicologia B – 12.º ano 2021/2022


A Socialização:
Socialização é o processo através do qual aprendemos e interiorizamos os
padrões de comportamento, normas, práticas e valores da comunidade onde estamos
inseridos. Este processo permite a integração individual numa dada cultura, mas
também assegura a sua reprodução e transmissão futura. Assim, socialização não se
cinge à adaptação de um indivíduo à cultura, mas antes à sua participação activa na
produção, recriação e transmissão de padrões de cultura e socialização.

Todos os elementos que o indivíduo adquire e ajuda a criar no conjunto da


comunidade vão ser postos em prática, reflectindo-se no próprio comportamento,
pensamento e atitude.

Podemos ter dois tipos de socialização: a socialização primaria e a secundaria.

A socialização primária é responsável pelas aprendizagens mais básicas da


vida em comum. Traduz-se na aprendizagem dos comportamentos considerados
adequados e reconhecidos como formas de pensar, sentir, fazer e exprimir próprias de
um determinado grupo social: as regras de relacionamento entre as pessoas, os hábitos
de cuidado com o corpo, hábitos alimentares, as regras da linguagem, etc. Ocorre
fundamentalmente durante a infância e a adolescência. A socialização secundária
ocorre sempre que a pessoa tem de se adaptar e integrar em situações sócias
específicas, novas para o indivíduo. Ao longo de toda a vida das pessoas, diferentes
acontecimentos, e contextos, diferentes tipos de relações implicam intensificações no
processo contínuo de socialização.

Exemplos de crianças selvagens:


7
Pá gina

Amala e Kamala
Amala e Kamala, também conhecidas como as meninas lobo, foram duas
crianças selvagens encontradas na Índia no ano de 1920. A primeira delas tinha um ano
e meio e faleceu um ano mais tarde. Kamala, no entanto, já tinha oito anos de idade, e
viveu até 1929.

Psicologia B – 12.º ano 2021/2022


Em 1920, o reverendo Singh encontrou, numa caverna, duas crianças que viviam entre
lobos. As suas idades presumíveis eram de 2 e 8 anos. Deram-lhes os nomes de Amala e
Kamala, respectivamente. Após encontrá-las, o reverendo Singh levou-as para o
orfanato que na cidade de Midnapore. Foi lá que ele iniciou o penoso processo de
socialização das duas meninas-lobo.
Elas não falavam, não sorriam, andavam de quatro, uivavam para a lua e sua
visão era melhor à noite do que de dia. Amala, a mais jovem, morreu um ano após ser
encontrada, com uma pneumonia . Kamala viveu durante oito anos na instituição que a
acolheu, humanizando-se lentamente. Ela necessitou de seis anos para aprender a andar
e pouco antes de morrer só tinha um vocabulário de 50 palavras. Atitudes afectivas
foram aparecendo aos poucos. Ela chorou pela primeira vez por ocasião da morte de
Amala e apegou-se lentamente ás pessoas que cuidaram dela e ás outras crianças com as
quais viveu.
Obviamente, não falavam, e seus rostos eram pouco expressivos. Não sabiam
andar de pé, mas se moviam rapidamente de quatro. Apreciavam carne crua, tinham
hábitos noturnos e repeliam o contato humano, preferindo os cachorros e os lobos. Ao
serem encontradas, gozavam de perfeita saúde, mas a separação da família lupina
provocou-lhes profunda depressão, levando uma delas à morte.

Victor de Aveyron
Victor de Aveyron foi uma criança selvagem que foi encontrado em França, em
1798, tendo sido adotado então pelo educador francês Jean-Marc-Gaspard Itard. O
cineasta francês François Truffaut realizou o filme "L'Enfant Sauvage", baseando-se nos
relatos de Jean Marc Gaspard Itard.
Em setembro de 1799, um menino com cerca de 12 anos foi encontrado perto da
8
Pá gina

floresta de Aveyron, sul da França. Estava sozinho, sem roupa, deslocava-se utilizando
quatro apoios e não falava uma palavra. Aparentemente, fora abandonado pelos pais e
cresceu sozinho na floresta. O menino, a quem lhe deram o nome de Victor, foi levado
para Paris, onde ficou aos cuidados do médico Jean-Marc-Gaspar Itard. Durante cinco
anos o Dr. Itard dedicou-se a ensinar Victor a falar, a ler e a comportar-se como um ser
humano, mas os seus esforços foram em vão. Pouco progresso foi conseguido durante
esse tempo. Victor nunca falou e apenas aprendeu a ler somente uma palavra (leite).

Psicologia B – 12.º ano 2021/2022


Hauser
Hauser passou os primeiros anos de sua vida aprisionado numa cela, não tendo
contacto verbal com nenhuma outra pessoa, facto esse que o impediu de adquirir uma
língua. Porém, logo lhe foram ensinadas as primeiras palavras, e com o seu posterior
contacto com a sociedade, ele pôde paulatinamente aprender a falar, da mesma maneira
que uma criança o faz. Afinal, ele havia sido destituído somente de uma língua, que é
um produto social da faculdade de linguagem, não da própria faculdade em si. A
exclusão social de que foi vítima não o privou apenas da fala, mas de uma série de
conceitos e raciocínios, o que fazia, por exemplo, que Hauser não conseguisse
diferenciar sonhos de realidade durante o período em que passou aprisionado.
Hauser, supostamente com quinze anos de idade, foi deixado em uma praça
pública de Nuremberg, em 26 de Maio de 1828, com apenas uma carta endereçada a um
capitão da cidade, explicando parte de sua história, um pequeno livro de orações, entre
outros itens que indicavam que ele provavelmente pertencia a uma família da nobreza.
Entre os temperamentos originados pelos seus anos de solidão, Hauser odiava
comer carne e beber álcool, já que aparentemente havia sido alimentado basicamente
por pão e água. Aprendeu a falar, a ler e a comportar-se, e a sua fama correu a Europa,
tendo ficado conhecido na época, como o "filho da Europa". Obteve um
desenvolvimento do lado direito do cérebro notoriamente maior que o do esquerdo, o
que teoricamente lhe proporcionou avanços consideráveis no campo da música.
Hauser foi assassinado com uma facada no peito, em Dezembro de 1833, nos
jardins do palácio de Ansbach. As circunstâncias e motivações ou autoria do crime
jamais foram esclarecidas, apesar da recompensa de 10.000 Gulden (c. 180.000,00
Euros) oferecida pelo rei Luís I da Baviera.
9
Pá gina

Psicologia B – 12.º ano 2021/2022


Conclusão

Podemos então concluir que as crianças selvagens são crianças que cresceram
com contacto humano mínimo, ou mesmo nenhum. Podem ter sido criadas por animais
(frequentemente lobos) ou, de alguma maneira, terem sobrevivido sozinhas.
Normalmente, são perdidas, roubadas ou abandonadas na infância e, depois, anos mais
tarde, descobertas, capturadas e recolhidas entre os humanos.
Elas constituem uma espécie de grau zero do desenvolvimento humano,
ensinam-nos o que seríamos sem os outros, mostram de forma abrupta a fragilidade da
nossa animalidade, revelam a raiz precária da nossa vida humana.
Estas evidenciam características semelhantes entre si: Em termos de linguagem,
as crianças selvagens só conhecem a mímica e os sons animais, especialmente os das
suas famílias de acolhimento. A sua capacidade para aprender uma língua no seu
regresso à sociedade humana é muito variada. Algumas nunca aprendem a falar, outras
aprendem algumas palavras, outras ainda aprenderam a falar correctamente o que
provavelmente indicia que tinham aprendido a falar antes do isolamento; Em termos de
comportamento, as crianças selvagens exibem o comportamento social das suas famílias
adoptivas (cães, lobos, etc.).Não gostam em geral de usar roupa e alimentam-se, bebem
e comem tal como um animal o faria. A maioria das crianças selvagens não gostam da
companhia humana e percorrem longas distâncias para a evitar. Algumas crianças
selvagens não mostram interesse algum noutras crianças da sua idade nem nos jogos
que estas jogam. Na medida em que não gostam da companhia humana, procuram a
companhia dos animais, particularmente dos animais semelhantes à espécie dos seus
pais adoptivos. Ao mesmo tempo, também os animais reconhecem estas crianças,
aproximando-se delas como não o fariam em relação a outros humanos.
10

As crianças selvagens não se riem ou choram, apesar de eventualmente poderem


Pá gina

desenvolver alguma ligação afectiva. Manifestam pouco ou nenhum controlo emocional


e, muitas vezes, têm ataques de raiva podendo então exibir uma força particular e um
comportamento claramente selvagem. Algumas crianças têm ataques de ferocidade
ocasionais, mordendo ou arranhando outros ou até eles mesmo.
Podemos então concluir que as crianças selvagens são unicamente humana por
causa da sua genética, e porque assim está pré-definido, pois em termos de

Psicologia B – 12.º ano 2021/2022


comportamentos elas são como lhes ensinam enquanto crianças, ou seja, enquanto estão
ainda em fase de desenvolvimento e aprendizagem. Assim sendo não nascemos
humanos, tornamo-nos humanos.

11
Pá gina

Psicologia B – 12.º ano 2021/2022


Bibliografia

Monteiro, M., Ferreira, P. (2006), Ser Humano, Maia, Porto Editora, 1º Edição pg.17-
36

12
Pá gina

Psicologia B – 12.º ano 2021/2022

Você também pode gostar