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DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA

TERMODINÂMICA EXPERIMENTAL II – DEQ 0519

EBULIOSCOPIA: ANÁLISE DOS PONTOS DE EBULIÇÃO DE


MISTURAS COM CONCENTRAÇÕES DE CLORETO DE SÓDIO
DIFERENTES.

A. V. V. BEZERRA1, S. da S. R. FILHO1, W. M. TAVARES1 e W. A. de MORAIS1


1
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Departamento de Engenharia Química
E-mail para contato: arthurvinicius_cds@hotmail.com; ssrf.cb@gmail.com;
wanessa.moura.708@ufrn.edu.br; wildsonamorais@gmail.com

RESUMO – Propriedades coligativas são todas as propriedades de uma solução que


depende da quantidade de partículas do soluto com as suas características pré-definidas.
A ebulioscopia é a propriedade coligativa correspondente ao aumento do ponto de ebulição
de um líquido quando se acrescenta a ele um soluto não-volátil. É como se as partículas do
soluto "prendessem" as partículas do solvente, dificultando sua passagem ao estado
gasoso. Este artigo tem como objetivo explanar o estudo e a análise do efeito ebulioscópico,
através do acompanhamento das alterações nas temperaturas de ebulição de um volume
fixo de água com diferentes concentrações de cloreto de sódio; analisando o
comportamento de cada amostra; observando a relação da molalidade com a variação de
temperatura; o quanto essa relação influencia no valor da constante ebulioscópica e o erro
percentual associado ao experimento.

1. INTRODUÇÃO
As propriedades de uma solução que dependem da concentração de partículas do soluto e não da
sua natureza recebem o nome de propriedades coligativas. As propriedades coligativas, também
conhecidas como efeitos coligativos, ocorrem quando é possível verificar alterações no comportamento
de um líquido qualquer devido à presença de um soluto adicionado a esta substância.

Essas propriedades incluem o abaixamento da pressão do vapor, elevação do ponto de ebulição,


abaixamento do ponto de congelamento e pressão osmótica. As propriedades coligativas abrangem 4
áreas de estudo, sendo elas: Tonoscopia ou Tonometria, Ebulioscopia ou Ebuliometria, Crioscopia ou
Criometria e Cosmometria (Castellan, 1986).

Segundo Chang (2010) “Propriedades coligativas (ou propriedades coletivas) são aquelas que
dependem apenas do número de partículas do soluto em soluções e não da natureza dessas partículas”,
logo é possível afirmar que a intensidade da ocorrência dessas propriedades varia de acordo com a
quantidade de partículas encontradas na solução, portanto, essas propriedades não são explicadas pela
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natureza da substância, mas sim pela quantidade de suas moléculas, partículas ou átomos.

Dentre as áreas de estudo das propriedades coligativas, temos a ebulioscopia, que de acordo com
Atkins (2003) são características de uma solução que dependem apenas da concentração de partículas
do soluto e não necessariamente da sua natureza, ou seja, esse fenômeno depende apenas da quantidade
de partículas do solvente em solução. A ebulioscopia, também denominada de ebuliometria, é a
propriedade coligativa que estuda a elevação da temperatura de ebulição do solvente em uma solução.

Essa propriedade, como todas as outras propriedades coligativas, não depende da natureza da
substância, ela depende apenas da quantidade de partículas do sistema. Por exemplo, quando analisamos
um líquido em estado puro e uma solução desse mesmo líquido, percebemos mudanças no
comportamento do líquido em razão da presença do soluto, ou seja, houve alterações nas propriedades
coligativas desse líquido.

Logo, é possível afirmar que quanto maior for a quantidade de partículas do soluto não volátil
dissolvidas na solução, maior será a elevação do ponto de ebulição do solvente, independente da
natureza da substância. Por exemplo, se tivermos dois frascos com a mesma quantidade de água e
adicionarmos sal em um e a mesma quantidade de açúcar no outro, o valor do aumento do ponto de
ebulição será igual para os dois, independentemente de ter-se adicionado sal ou açúcar.

Um exemplo da Ebulioscopia no nosso dia a dia é quando estamos preparando o café e colocamos
uma certa quantidade de água para aquecer. Quando essa água atingir a temperatura de 100ºC, ela
entrará em ebulição. Nesse momento, adicionamos o açúcar à água, a água irá parar de ferver
imediatamente. E depois de aquecer por mais alguns instantes, atingindo temperaturas um pouco acima
de 100ºC, a solução de água e açúcar entrará em ebulição novamente.

Cada uma dessas propriedades coligativas depende da diminuição da tendência de escape das
moléculas do solvente pela adição das partículas do soluto. Deste modo, existem quatro propriedades
das soluções que dependem da quantidade de partículas e elas são o abaixamento da pressão de vapor,
o aumento da temperatura de ebulição, o abaixamento da temperatura de solidificação e a tendência de
o solvente atravessar membranas permeáveis (Atkins, 2003). Logo, a Ebulioscopia ou Ebuliometria é a
propriedade coligativa que estuda a elevação da temperatura de ebulição do solvente em uma solução.
O presente artigo descreve o estudo ebulioscópico de diferentes misturas de cloreto de sódio em água.

2. OBJETIVO
Este experimento consiste em observar o aumento do ponto de ebulição de um líquido quando
adicionamos um soluto não volátil a ele. Foi analisado um líquido em estado puro e uma solução desse
mesmo líquido, logo será possível perceber mudanças no comportamento do líquido em razão da
presença do soluto, ou seja, haverá alterações nas propriedades coligativas desse líquido, com a adição
do soluto irá haver um aumento na temperatura de ebulição do líquido estudado. Por fim, o presente
artigo tem como objetivo estudar as diferentes misturas de cloreto de sódio em água, determinar a
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constante ebulioscópico dos sistemas e analisar como a adição de cloreto de sódio influencia no ponto
de ebulição da água.

3. MATERIAIS E MÉTODOS
Os materiais e métodos abordados estão de acordo com o procedimento experimental de análise
de elevação do ponto de ebulição (ebulioscopia) descrito no roteiro da disciplina de Termodinâmica
Experimental II do Departamento de Engenharia Química da UFRN que foi realizado no laboratório
dessa disciplina.

3.1. Aparelhagem utilizada


O conjunto experimental que permite determinar a temperatura de ebulição de soluções de
cloreto de sódio consiste de:

● Cloreto de Sódio (NaCl); ● Bastão de vidro;


● Sensor de temperatura; ● Espátula;
● Balança analítica; ● Pisseta;
● Chapa aquecedora; ● Vidro de relógio.
● Béqueres 250mL;

3.2. Procedimento experimental


A temperatura de referência foi obtida aquecendo 50 mL de água destilada em um Becker, que foi
aquecido em uma chapa aquecedora até o ponto de ebulição normal. Em seguida, massas diferentes de
cloreto de sódio foram pesadas: 5g, 10g e 15g. Essas massas foram adicionadas em 50 mL de água
destilado em um Becker e medida a temperatura de cada experimento no ponto de ebulição da mistura.
O procedimento citado foi realizado em duplicata.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Na Tabela 1, é possível observar os dados obtidos dos experimentos citados no tópico anterior.
O primeiro experimento foi o de referência e os outros três são a média dos experimentos realizados
em duplicata.

Tabela 1 – Dados obtidos nas medidas de massa e temperatura


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Experimento mNaCl (g) TReferência (C°) ΔT (°C)

1 0,00 96,0 96,0

2 5,01 96,0 99,0

3 10,1 96,0 102

4 15,0 96,0 106

O aumento da quantidade de cloreto de sódio provoca um aumento na temperatura de ebulição da


mistura, como pode ser verificado ao analisar a Tabela 1. Com a adição de 5,01g, a temperatura de
ebulição do solvente aumenta em 3,0°C em relação à temperatura de referência de 96,0°C. O mesmo
aumento de temperatura é observado, no experimento 3, quando se adiciona 10,1g; o dobro,
aproximadamente, da quantidade anterior de sal. Já no experimento 4, observa-se uma variação de
temperatura de 4,0°C.

O aumento do soluto não-volátil a uma quantidade fixa de solvente, isto irá provocar uma
alteração na temperatura de ebulição do solvente. Então, quanto maior a quantidade de soluto
adicionado, maior será a temperatura de ebulição do solvente, comparado a esta mesma temperatura
para o caso do solvente puro.

Outro parâmetro influenciado pela presença de soluto não-volátil a um líquido, é a pressão


máxima de vapor/pressão de vapor do solvente, a qual diminuirá de valor, neste caso. Portanto, essas
alterações podem ser explicadas pela dificuldade imposta pelo soluto adicionado impedindo, por meio
de interações moleculares, a passagem para o estado de vapor do solvente, o que justifica a alteração
da temperatura em função da quantidade de sal adicionada.

A relação entre a variação do ponto de ebulição e a molalidade do sal no sistema é dada pela
Equação 1,

ΔTe=KeW (1)

Em que Ke é a constante ebulioscópica, na Equação 1. A constante ebulioscópica é obtida pela


regressão linear da variação de temperatura de ebulição em função da molalidade do soluto.
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Figura 1 - Variação da temperatura de ebulição,ΔTe, em função de W*i.

Em que Ke é a constante ebulioscópica, na Equação 1. A constante ebulioscópica é obtida pela


regressão linear da variação de temperatura de ebulição em função da molalidade do soluto, em que i é
o fator de van’t Hoff, o qual foi levado em consideração pelo uso de um soluto não-volátil iônico. Dado
pela Equação 2,

i= 1 + α (q- 1) (2)

Na Equação 2, α é o grau de dissociação do soluto e, q, o número de partículas do soluto na


mistura. Para o soluto não-volátil estudado no presente artigo, o valor de i encontro foi 2; por isso, o
eixo x na Figura 1 é observado como W*i, com o valor de i obtido pela Equação 2.

Com o coeficiente linear obtido dos dados experimentais, conforme Figura 1, foi possível obter
o valor de Ke de 0,9609 Kkg/mol. O valor teórico encontrado, para esse parâmetro na literatura, foi de
0,5014 Kkg/mol. O erro percentual experimental associado foi de cerca de 91,0%.
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5. CONCLUSÃO
Os solutos não-voláteis são utilizados em diversas aplicações no cotidiano e, também, na
indústria, como, por exemplo, o etilenoglicol utilizado nos veículos no sistema de arrefecimento. Esta
aplicação mostra a importância do estudo realizado no presente artigo. O erro percentual encontrado na
determinação da constante ebulioscópica mostrou que é necessário repensar quais foram as fontes de
erros e com isso replicar os experimentos em melhores condições para diminuir o erro experimental.
Alguns fatores que foram discutidos e que estariam associados ao erro percentual experimental são: a
não precisão na determinação da temperatura de ebulição, possíveis impurezas no soluto não-volátil
utilizado no experimento, a medição do sensor de temperatura, calibração dos equipamentos ou possível
mau aferição do analista nas variáveis de interesse. Por fim, uma sugestão como forma de minimizar
estes problemas é a repetição da análise experimental para uma melhor segurança dos valores dos dados
experimentais obtidos.

6. REFERÊNCIAS
ATKINS, P.W. ; JO N ES, Loretta. Princípios de química: questionando a vida moderna e o meio
ambiente. 3.ed. Porto Alegre: Bookman, 2006.

ATKINS, Peter W. Físico-Química: fundamentos. 3ed. LTC, 2003

CASTELLAN, G. Fundamentos de Físico-Química, LTC ed., Rio de Janeiro, 1986.

CHANG, Raymond. Química Geral l: conceitos essenciais. 4. ed. Porto Alegre : AMGH, 2010.

FENDRICH, Barbara; PITOL-FILHO, Luizildo. ENSINO DE PROPRIEDADES COLIGATIVAS: A


DETERMINAÇÃO EXPERIMENTAL DA CONSTANTE EBULIOMÉTRICA DA ÁGUA E
COMPARAÇÃO COM MODELOS TEÓRICOS. In: COBENGE, 43., 2014, Juiz de Fora. Engenharia:
múltiplos saberes. Juiz de Fora: Cobenge, 2014. p. 1-9. Disponível em:
http://www.abenge.org.br/cobenge/arquivos/5/Artigos/129084.pdf. Acesso em: 20 jun. 2021.

RUSSEL, J. B., Química Geral, Vol 1, 2ª Edição, Makron Books, 2001.

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