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Digital Devil Story
Digital Devil Story
MEGAMI TENSEI
- A Ressurreição da Deusa -
DIGITAL DEVIL STORY:
MEGAMI TENSEI
- A Reencarnação da Deusa -
Autor: Aya Nishitani
Ano: 1996
Tradução: Mangekyou54
- GYAAH!
Um grito bizarro fez Akemi Nakajima recobrar a consciência.
Abrindo os olhos, ele viu que o tentáculo de Loki estava se
retorcendo sobre sua cabeça, enegrecido e emitindo um cheiro de
carne queimada. Lutando contra a dor de ter a cabeça rachada,
Nakajima se levantou. Pilares de chamas saíam de vários pontos do
corpo de Loki, e seus tentáculos torrados balançavam pelo ar como
ondas, todos emanando a mesma fumaça e o cheiro de carne queimada.
Além disso, Yumiko, que ele achava que estava morta, estava
lutando contra ele. Chamas surgiam onde quer que ela olhasse. Na
Europa medieval, quando o uso de magia estava no auge, a habilidade
era chamada de combustão espontânea.
- O que está acontecendo...? - Nakajima olhava sem palavras para
Yumiko, que estava usando um poder que ele nunca poderia imaginar
vê-la controlando. Mas logo Nakajima percebeu que o rosto dela estava
estranhamente pálido, e seu corpo inteiro estava tremendo. Só com a
força da sua vontade, Yumiko estava canalizando o imenso poder de
Izanami, e seu corpo estava chegando perto do limite que podia
aguentar.
Enquanto isso, sob o intenso ataque da chama, Loki ejetou Ohara
de dentro do seu corpo e começou a conjurar um feitiço num ritmo
sinistro. O protoplasma rosa começou a se condensar, retornando à
forma do jovem de pele bronze que Loki assumiu no começo.
Yumiko canalizava sua vontade desesperadamente e tentava
incinerar Loki com o poder de Izanami, mas as chamas simplesmente
se dispersavam sem deixar rastro ao entrar em contato com a pele de
bronze, sem o menor sinal de algum efeito. Mas Loki não mexia um
centímetro e simplesmente ficava parado, como que esperando ela
gastar toda a sua energia. Uma onda de exaustão tomou conta do corpo
de Yumiko, e sua visão começou a nublar. Justo quando ela achou que
ia cair de joelhos, incapaz de aguentar o esforço, a voz ecoou mais uma
vez.
"Depressa, pegue Nakajima e fuja!"
Com a coragem restaurada pela voz, Yumiko correu até
Nakajima, mas escorregou e caiu. Todavia, determinada a não
demonstrar nenhuma fraqueza, ela imediatamente olhou para cima e
encarou Loki. Ao ver a determinação dela, alguma coisa despertou na
alma cheia de desespero de Nakajima. Desde que ele apanhou por
causa de um mal entendido bobo e tomou a decisão de evocar um
demônio, Nakajima selou suas emoções, mas naquele instante elas
voltaram, e ele sentiu um tipo de amor que nunca tinha vivenciado
antes.
"Eu não posso morrer! Tenho que viver, por ela!"
A tontura de Nakajima se dissipou. Ele correu os olhos
rapidamente pela sala. Em algum momento, Ohara, ainda nua, tinha ido
até um terminal de computador e começado a digitar alguma coisa. Ela
estava longe de ser tão hábil como Nakajima, mas era claramente
acostumada a usar um computador. Quando Nakajima percebeu que
Ohara estava salvando as mudanças de dados que ocorreram quando
Loki se materializou, entendeu imediatamente as ações peculiares dele.
O motivo de Loki estar se mantendo perto do terminal era quase
que sem dúvida porque não estava completamente confiante na
própria materialização. Era muito provável que essa forma
protoplásmica fosse resultado de um bug na transferência de dados.
Loki devia estar testando como usar essa forma. Ele provavelmente
não sabia o que aconteceria se tentasse sair do campo magnético
gerado pelo computador. Era muito possível que ele tivesse
conseguido a liberdade de existir fora das limitações digitais, mas
ainda havia o risco de se aniquilar completamente. Para garantir,
Ohara estava salvando todos os dados.
Assim que percebeu isso, Nakajima decidiu que podia escapar se
tentasse agora. Usando seu notebook para rapidamente reevocar
Cérbero, que fora derrotado em batalha e agora estava caído ao lado
dele como se estivesse morto, Loki percebeu o movimento de Nakajma.
Loki não podia deixar Nakajima escapar de jeito nenhum. Ele
sabia tudo sobre ele. Mesmo sabendo do perigo, Loki pulou em cima de
Nakajima, se afastando do computador.
- Nakajima, cuidado! - Yumiko se levantou desesperadamente.
Naquele momento, tudo ficou vermelho, e os lábios de Yumiko
proferiram palavras que ela mesma não imaginava dizer.
- Para trás, demônio!
Por um momento, Izanami tomou o corpo de Yumiko
completamente e liberou toda a sua energia. Uma coluna de chamas
irrompeu na testa de Loki, no único ponto em que seu corpo ainda
estava em forma gelatinosa. Loki soltou um grunhido como o de uma
fera enraivecida, e Yumiko, na verdade Izanami, agarrou o corpo de
Nakajima e avançou para a aurora.
Surpreso e enfurecido, Loki soltou um rugido e foi atrás dele. Por
um instante, seu corpo oscilou como uma miragem e sua pele de
bronze ficou quase transparente. Números corriam freneticamente
pelo monitor do terminal, e Ohara olhava para a tela sem saber o que
fazer.
Mas, alguns instantes depois, o computador parou de aquecer e
Loki voltou à forma normal. Pouco antes dos raios da aurora
envolverem Yumiko e Nakajima, balançando como que carregados pelo
vento, Loki avançou com suas garras sobre os dois.
Suas longas garras perfuraram fundo o pescoço de Yumiko e a
cortaram até o meio das costas, e sangue fresco jorrou do ferimento.
Mas assim que a aurora envolveu os dois, eles começaram a
desaparecer imediatamente. A única coisa que restou para trás no
espaço onde a aurora estava foi o sangue de Yumiko, e a sala tremeu
com o grito angustado de Loki, agora completamente materializado.
Capítulo 4:
Seguindo em Frente
Capítulo 4-1
A caverna era uma descida leve, mas parecia que não tinha fim.
Enquanto o som da sua respiração cansada ecoava pelas paredes, a
entrada acima ficava cada vez mais distante. As reverberações quase
faziam parecer que Yumiko, amarrada nas costas de Nakajima, estava
respirando, e várias vezes ele parou para conferir.
Mas os ombros do cadáver estavam moles como sempre, e ao
parar, Nakajima só detectava o cheiro de morte.
Seu senso de passagem do tempo tinha se perdido há muito. O
túnel era tão comprido que ele quase chegou a achar que chegaria ao
centro da Terra. Os braços e pernas de Nakajima estavam acabados por
conta do esforço de suportar o peso de dois corpos, e ele tinha a
sensação de que cairia e rolaria até o fundo se se distraísse por um
único momento. Com dificuldade, Nakajima tirou os sapatos e as meias
e continuou descendo com os pés descalços. Assim ele teria mais
certeza de onde estava pisando. Se ele estivesse sozinho, talvez
preferisse se jogar no poço de qualquer jeito. Mas se o corpo de
Yumiko fosse danificado, tudo seria em vão. De repente, Nakajima não
sentiu nada debaixo dos pés.
- Agh!
Esticando os braços desesperadamente para tentar agarrar o
nada, uma sensação de perda, medo e desespero correu pelo corpo
dele. Um instante depois, ele bateu dolorosamente contra uma
superfície dura de pedra. Ele caiu dois ou três metros. Se movendo
inconscientemente para proteger o corpo de Yumiko, os ombros e as
costas de Nakajima sofreram um impacto maior do que deveriam e,
sem forças, ele perdeu a consciência.
Havia uma luz fraca e uma brisa calma. Com o frio acariciando
sua bochecha, Nakajima abriu os olhos pesados. Um pouco à frente,
estava o corpo imóvel de Yumiko. Ele se sentia leve, e não parecia ter
algum osso quebrado. De fato, embora estivesse ferido, não era nada de
preocupante. Reunindo as forças e se levantando, Nakajima respirou
fundo. À medida que seus olhos foram se acostumando com a
escuridão, o lugar foi ficando mais visível.
E que lugar misterioso era! Nakajima se encontrava numa
espécie de praça esculpida num vale subterrâneo. As paredes ao redor
eram todas vermelhas. Numa delas, a cerca de três metros de altura,
havia uma abertura. Muito provavelmente, foi o buraco por onde
Nakajima caiu. Estando no subsolo, devia haver um teto visível, mas ao
olhar para cima, as paredes simplesmente continuavam até as pedras
vermelhas desapareceram na escuridão. Em frente à praça, um
caminho estreito se estendia até onde não se podia mais ver. Seria o
caminho para a câmara funerária de Izanami? Ao contrário do buraco
por onde ele caiu, essa parecia ser uma trilha subterrânea natural.
Nakajima se lembrou da cena das visões que teve de ser perseguido
pela mulher em decomposição.
De repente, Nakajima se deu conta de uma coisa. A tintura
vermelha usada nas antigas tumbas japonesas era a base de mercúrio.
Ele então se lembrou das palavras de Craft.
Quando exploradores encontraram um material que
aparentemente era parte do corpo de um demônio num templo maia,
ele evaporou ao entrar em contato com a tinta a base de mercúrio
deles. Em outras palavras, essa tumba foi feita especificamente para
afastar demônios. Recuperando a coragem ao perceber isso, Nakajima
pegou o corpo de Yumiko e avançou pelo vale vermelho. Mas o
problema é que Nakajima desde o começo nunca teve muito fôlego. Em
menos de dez minutos, suas pernas estavam exaustas. Seria
interessante ter a ajuda de Cérbero, mas ele não queria explorar mais o
demônio já tão ferido. Além do mais, esse lugar estava longe de ser o
mais apropriado para ele, com as paredes literalmente cobertas de
repelente de demônio.
Com a respiração pesada de cansaço, Nakajima prosseguiu pelo
caminho para a câmara funerária. O suor escorrendo da testa para os
olhos embaçava a sua visão, e cada passo exigia todo o esforço de que
ele era capaz. Nakajima balançava a cabeça de um lado para o outro
para clarear a visão, e logo percebeu uma silhueta branca na sua visão
periférica.
- Quem está aí?!
Olhando melhor, ele reparou que era mais de uma silhueta. Na
verdade, eram várias, mas nenhuma dava o menor sinal de movimento.
Se aproximando de uma cautelosamente, Nakajima viu que era uma
múmia esbranquiçada, com a cabeça tombada para o lado e as órbitas
oculares vazias encarando o espaço. Fosse o poder do sulfeto de
mercúrio ou o frio da câmara subterrânea, o corpo fora protegido da
decomposição natural. A região do peito tinha um grande buraco, que
parecia ter sido aberto propositalmente. Olhando ao redor, parecia que
as várias múmias estavam espalhadas sem nenhuma ordem específica.
A julgar pelas roupas, pareciam ser pessoas de muitos períodos de
tempo diferentes. Uma usava trajes primitivos, outra parecia estar
usando um chapéu eboshi dos samurais da era Kamakura, e outra
parecia um plebeu da era Edo. Muitas tinham indícios dos seus ossos
terem sido esmagados por grandes mandíbulas ou as gargantas
cortadas. Poucas pessoas chegariam a um lugar desses por acidente;
muito provavelmente eram ladrões que vieram aqui para saquear a
tumba Kofun. Quem foi então que fez isso com eles?
De repente, o som de um grito bizarro atingiu os ouvidos de
Nakajima.
- YAAH! GLULULU!
Parecia que a voz estava vindo de longe, mas as reverberações
estranhas produzidas pelas paredes do lugar tornavam difícil
identificar a distância do som. Nakajima olhou de relance para os
corpos estraçalhados das múmias. Se o guardião da tumba que
massacrou impiedosamente esses possíveis ladrões ainda estivesse
patrulhando o caminho para a câmara funerária...
Enquanto Nakajima pensava, esse mesmo guardião surgiu de
trás de uma grande pedra e pulou na frente dos olhos dele.
- Yomotsu-Shikome! - gritou Nakajima.
A imagem feroz da mulher monstro das visões estava gravada na
mente de Nakajima. Mas a Yomotsu-Shikome que estava diante dele
era muito mais grotesca que a que ele viu. Ela tinha quase que
exatamente o dobro da altura dele. Suas pernas retorcidas e
amareladas jorravam uma gosma branca, e a barriga inchada acima
delas chamava atenção como a de uma mulher grávida. O manto que
ela vestia era quase cômico de tão pequeno, e o comprimento nem
chegava a cobrir os seus seios, que eram caídos até a altura do umbigo.
Suas mãos gordas tremiam, grossas de gordura. Seu rosto era quase
que idêntico ao de um sapo verde, e quando ela respirava, dois cortes
parecidos com guelras no seu pescoço se expandiam, expondo a parede
de carne interior. Seus longos cabelos negros só contribuíam para
deixar a sua aparência ainda mais sinistra.
Yomotsu-Shikome deu um passo à frente. Quando o olhar de
Nakajima e o dela se encontraram, ele colocou Yumiko com cuidado no
chão, limpou o suor frio das mãos na calça e pegou o notebook.
- Cérbero, por favor venha aqui.
Antes que a névoa que saía da tela de cristal líquido sequer
pudesse tomar forma, desapareceu com um latido fraco.
Aparentemente a tintura desses corredores realmente selava os
demônios.
Yomotsu-Shikome esticou suas mãos tortas em direção ao
aterrorizado Nakajima. Se afastando no último minuto, Nakajima
escorregou e caiu. Ele tentou se levantar desesperadamente, mas as
grandes mãos já o tinham agarrado. A longa língua de Yomotsu-
Shikome lambéu os lábios, e o seu bafo horrível atacou os sentidos de
Nakajima.
- Izanami, você vai me abandonar depois de eu ter vindo até
aqui?! - gritou Nakajima instintivamente.
Por alguma razão, no instante em que ouviu Nakajima gritar, a
mulher monstro começou a agir de maneira estranha. Boquiaberta, ela
olhou para Nakajima com uma expressão vazia, a hostilidade tendo
desaparecido completamente. Seu olhar correu ao redor, e então se
fixou no corpo de Yumiko, caído num canto. Uma expressão de respeito
se formou em seu rosto.
- Izanami...
Titubeando um pouco, Yomotsu-Shikome falou o nome quase
que em reverência. Colocando Nakajima no chão, a mulher monstro
andou desajeitadamente até Yumiko e a pegou como se estivesse
lidando com um objeto frágil.
- Ei, espere! O que você vai fazer com a Yumiko?!
Lançando um olhar de desaprovação para Nakajima, Yomotsu-
Shikome balançou a cabeça como que dizendo para ele a seguir, e
avançou pela rota subterrânea, carregando Yumiko nos braços.
Capítulo 5-2