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Uma introdução problematizada1

1 Anotações para aula de Introdução à Sociologia /2018.


2 Licenciado em Ciências da Educação (opção Ensino da Sociologia) (Instituto Superior de Ciências da Educação [ISCED] de Luanda). Estudante do
curso de Mestrado em Sociologia da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto.
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“Filha da modernidade, a sociologia nasceu da vontade de compreender a sociedade e o
facto social e de agir sobre ambos”.
[Molénat, 2011: 9]
Introdução
O neologismo “sociologia” foi usado publicamente, pela primeira vez, em 1839, pelo
filósofo francês Auguste Comte (1798-1857), no seu Curso de filosofia positiva.
Porém, o processo de formação desta ciência cujo nome Comte atribuíra é anterior
a esta data e goza de um conjunto de condições sociais, políticas, económicas e
intelectuais como pano de fundo [Martins, 1985; Ritzer, 2008].
É comum atribuir-se o surgimento da Sociologia às consequências da encruzilhada
de três revoluções: (i) económica (Revolução Industrial); (ii) política (Revolução
Francesa) e (iii) intelectual (o êxito do racionalismo e da ciência) [Quintaneiro et
al., 2003; Molénat, 2011].
A Revolução Industrial, representada pela introdução da máquina a vapor e
consequente aperfeiçoamento dos métodos de produção, não só proporcionou o
surgimento do capitalismo como também se fez acompanhar de incontáveis
consequências sociais: desemprego (causado pela maquinofactura), prostituição,
alcoolismo, criminalidade, êxodo urbano, surgimento de bairros de lata e surtos de
epidemias causadas pela falta de condições de habitabilidade, etc. [Martins, 1985;
Ritzer, 2008; Molénat, 2011].
No campo intelectual, registaram-se transformações no modo de pensar: o advento
do racionalismo. Filósofos iluministas começaram a sacudir o pó da superstição e
da perspectiva sobrenatural que açambarcavam as explicações dos fenómenos
sociais.
Inspirados nos ganhos dos métodos utilizados pelas ciências naturais (observação,
experimentação, acumulação de dados, etc.), os iluministas, ao combinar o uso da
razão e da observação, analisaram diversos aspectos da sociedade e contribuíram
para os ideais que animaram a Revolução Francesa (liberdade, igualdade e
fraternidade), à medida que declinavam a concepção de que a organização social é
estanque e resultante de forças transcendentais [Martins, 1985].
A Revolução Francesa, sob os ideais iluministas, desferiu golpes contra a Igreja e a
sua influência, contra as tradições e normas sociais e vários aspectos sociopolíticos
e culturais do chamado “Antigo Regime”. Em linhas gerais, a 2
revolução de 1789 foi motivada pelo ideal de abolir radicalmente a antiga forma de
sociedade (suas instituições sociais, crenças, hábitos e costumes) e implementar
outra, assente na liberdade, igualdade e fraternidade, alicerçada na razão e livre de
superstições e crenças infundadas [Martins, 1985].
Dentre as consequências da revolução, são assinaláveis a crise de valores, a
anarquia, a perturbação e desorganização sociais que se registaram na sociedade
francesa.
A procura de explicações racionais e soluções para as consequências nefastas da
industrialização e das insurreições da revolução francesa, mobilizou vários
pensadores dos séculos XVIII e XIX, e forneceu um arsenal de conhecimentos,
muitos deles inéditos, sobre a sociedade que facultaram o surgimento desta já não
tão jovem ciência social baptizada sob o nome de Sociologia, por Comte.
Note-se, entretanto, que, embora Comte tenha atribuído um nome a esta ciência
social e seja considerado como o “pai da sociologia”, a sociologia é uma “produção
colectiva” e cumulativa [Simon, 1994]. Dito de outro modo, a sociologia não é “obra
de um único filósofo ou cientista”, mas sim “o resultado da elaboração de um
conjunto de pensadores que se empenharam em compreender as novas situações de
existência que estavam em curso [nos séculos XVIII e XIX]” [Martins, 1985: 11].
Nos pontos a seguir, tecer-se-ão considerações a respeito desta ciência do social.
Trata-se de uma abordagem introdutória cuja tónica incidirá sobre algumas
problemáticas que permeiam este campo de estudo. Daí, o subtítulo “Uma
introdução problematizada”, pois, trata-se de problematizar temas transversais a
uma iniciação sociológica, tais como: sua definição, seu objecto de estudo, seus
métodos, sua periodização histórica, seus fundadores, seus níveis de análise, etc.
Entenda-se “problematizar” no sentido de dar forma de problema aos referidos
temas. E, por sua vez, entenda-se “problema”, tanto no sentido matemático
(questão proposta para se achar solução), como no filosófico (situação que constitui
o ponto de partida para indagação, podendo esta ser feita a partir de várias
alternativas).
Serão objectos de análise aqui: (i) a problemática dos fundadores e precursores da
sociologia; (ii) a problemática da periodização da sociologia; (iii) a problemática do objecto
de estudo e do método da sociologia; (iv) a problemática da objectividade do
conhecimento sociológico; (v) a problemática da unidade do social e a pluralidade das
Ciências Sociais; e (vi) a problemática dos níveis de análise da realidade social.

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