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Trypanosoma cruzi e Doença de - O chagásico continua sendo um indivíduo

marginalizado pela sociedade. Muitas vezes não lhe é


parasito.
Terão regiões hipervariáveis, que vão permitir a análise

Chagas dada uma possibilidade de emprego, mesmo que


da variabilidade genética de distinta cepas de
Tripanossoma cruzi que serão repetidas de 10 a 30 mil
adequado à sua condição clínica, que nem sempre é
cópias numa única célula do parasito”.
devidamente avaliada, o que causa uma sobrecarga (aula)
para os órgãos de previdência social, com um
- Os tripomastigotas sanguíneos apresentam
- Introdução - montante de aposentadorias precoces nem sempre
necessárias. variações morfológicas denominadas “polimorfismo”
- O Trypanosoma cruzi é um protozoário agente que guardam correlações importantes com outras
etiológico da doença de Chagas que constitui uma - Morfologia - características fisiológicas do parasito. Algumas
antroponose frequente nas Américas, principalmente serão aqui mencionadas:
na América Latina. Este protozoário e a doença Hospedeiro vertebrado
- Experiências em camundongos demonstram que
foram descobertos e descritos pelo grande cientista - Nos hospedeiros vertebrados e na cultura de diferentes populações de T. cruzi apresentam ao
Carlos Ribeiro Justiniano das Chagas. tecidos são encontradas intracelularmente as longo da infecção tripomastigotas sanguíneos
- Carlos Chagas conseguiu naquela época descobrir o formas amastigotas e extracelularmente as formas delgados, intermediários ou largos ou muito largos.
agente etiológico, T. cruzi, desvendar os aspectos da tripomastigotas presentes no sangue circulante.
- Diferenças de comportamento importantes são
sua biologia nos hospedeiros vertebrado e - As formas amastigotas e tripomastigotas são observadas entre cepas que apresentam ao longo da
invertebrado, seus reservatórios e diversos infectantes para células in vitro e para vertebrados. infecção predominância de um tipo ou outro de
aspectos da patologia e da sintomatologia
- A microscopia eletrônica, observa-se em todas as morfologia.
pertinentes à fase aguda da doença
formas evolutivas do T. cruzi um a organela especial, - As formas delgadas seriam mais infectantes para
- Apesar dos avanços obtidos em seu controle, a o “cinetoplasto”, que constitui uma mitocôndria células e para camundongos, desenvolvendo nestes
doença de Chagas é ainda hoje transmitida por modificada, com alto conteúdo de DNA. Esta mais precocemente, porém mais sensíveis à ação de
vetores intradomiciliares em 18 países da América organela dá o nome à classe Kinetoplastida, na qual anticorpos circulantes. Sendo assim, tripomastigotas
Latina e presente em 22 países. No Brasil, sua se inserem os tripanosomatídeos. A análise deste delgados seriam destruídos por anticorpos ou
distribuição abrange uma área de 3 milhões de km2, DNA extranuclear é um dos parâmetros utilizados desapareceriam da circulação para cumprir novo
do MA até o RS, numa espécie de corredor na caracterização molecular de diferentes amostras ciclo celular.
correspondente à Floresta Amazônica, Mata ou cepas de T. cruzi.
Atlântica e estado de SC. - Por outro lado, as formas largas, menos
“Ordem: Kinetoplastida
infectantes, demorariam mais a penetrar nas células,
- Já a enzootia silvestre está presente em Caracterizada por apresentar uma organela especializada
desenvolvendo parasitemias mais tardias nos
praticamente todo o território nacional, sendo denominada CINETOPLASTO (mitocôndria especializada
que contém o kDNA-extranuclear em forma de rede). camundongos, porém, seriam mais resistentes à ação
encontrados reservatórios e vetores infectados nos
Essas redes são importantes ferramenta de dos anticorpos circulantes e por consequência,
mais diferentes ecótopos naturais, como florestas,
caracterização molecular e de diagnóstico desse
cerrados e cavernas.
capazes de permanecer mais tempo na corrente - O ciclo biológico de T. cruzi é do tipo heteroxênico seu ciclo extracelular. No início da infecção do
circulatória. passando o parasito por uma fase de aplicação vertebrado (fase aguda) a parasitemia é mais
intracelular no hospedeiro vertebrado (homem e elevada, podendo ocorrer morte do hospedeiro.
- Existem outras diferenças importantes:
mamíferos pertencentes a sete ordens diferentes) e - Na espécie humana, a mortalidade nesta fase
extracelular no inseto vetor (triatomíneos). Os da infecção ocorre principalmente em crianças.
Tripomastigotas delgados : são menos capazes de
estudos revelam que os hospedeiros primitivos de
desenvolver no vetor que tripomastigotas largos. - Quando o hospedeiro desenvolve resposta imune
T. cruzi na natureza foram o tatu, o tamanduá e o
eficaz, diminui a parasitemia e a infecção tende a
bicho preguiça.
Também o tropismo celular difere entre eles. cronificar.
Tripomastigotas delgados parasitam durante a fase
- Na fase crônica, o número de parasitos é pequeno
aguda de preferência células do sistema
Ciclo biológico no hospedeiro na circulação, só sendo detectados por métodos
mononuclear fagocitário (SMF) do baço, do fígado e
vertebrado especiais (xenodiagnóstico, hemocultura e inoculação
da medula óssea, sendo chamadas as cepas que assim
em camundongos - ver Diagnóstico).
se comportam de “macrófagotrópicas”. - Amastigotas, epimastigotas e tripomastigotas
interagem com células do hospedeiro vertebrado e - A evolução e o desenvolvimento das diferentes
Já as cepas que apresentam predomínio de formas apenas os epimastigotas não são capazes de nelas se formas clínicas da fase crônica da doença de Chagas
largas têm tropismo para células musculares lisa, desenvolver e multiplicar. ocorrem lentamente, após 10 a 15 anos de infecção
cardíaca e esquelética, sendo denominadas ou mais.
- Considerando o mecanismo natural de infecção pelo
“miotrópicas”.
T. cruzi, os tripomastigotas metacíclicos eliminados - Experiências in vitro demonstram que o processo
nas fezes e urina do vetor, durante ou logo após o de invasão de células não fagocíticas pelas formas
- O acompanhamento de infecções experimentais repasto sanguíneo, penetram pelo local da picada e tripomastigotas do parasito ocorre por dois
revela que numa dada amostra ou população de interagem com células do SMF da pele ou das mecanismos, ambos envolvendo a interação com os
T. cruzi, que as formas delgadas do parasito seriam mucosas. Neste local, ocorre a transformação dos lisossomas da célula hospedeira.
relativamente mais frequentes no início da infecção tripomastigotas em amastigotas, que aí se
- No primeiro, denominado lisossoma dependente,
do hospedeiro vertebrado quando ainda não existe multiplicam por divisão binária simples longitudinal.
ocorre recrutamento de lisossomas da célula
uma imunidade humoral específica contra o parasito.
- A seguir, ocorre a diferenciação dos amastigotas hospedeira no sítio de adesão das formas
em tripomastigotas, que são liberados da célula tripomastigotas com posterior fusão de lisossomas
- Gradualmente estas formas seriam substituídas
hospedeira caindo no interstício. Estes com a membrana plasmática e internalização do
pelas formas largas, menos sensíveis à ação de
tripomastigotas caem na corrente circulatória, parasito, com consequente formação do vacúolo
anticorpos e que, portanto, passariam a predominar
atingem outras células de qualquer tecido ou órgão parasitóforo.
na fase mais tardia da infecção, quando a imunidade
para cumprir novo ciclo celular ou são destruídos por
já se estabeleceu - No segundo mecanismo, denominado lisossoma
mecanismos imunológicos do hospedeiro ou podem
independente, é observada uma invaginação da
- Biologia – ainda ser ingeridos por triatomíneos, onde cumprirão
membrana plasmática da célula hospedeira no local
da adesão do parasito sem participação ativa do 9PAK8A/1/tese_pedro_vers_o_final_corrigida.pdf) 3. Fenômenos intracelulares: as formas
citoesqueleto da célula hospedeira. Nesta segunda epimastigotas são destruídas dentro do VP,
via, após a internalização do parasito, ocorre a fusão (Lisossoma: Em seu interior existem enzimas que enquanto os tripomastigotas sobrevivem
do lisossoma com o vacúolo parasitóforo. realizam normalmente a digestão intracelular, porém resistindo às ações das enzimas
extracelular em casos excepcionais) lisossômicas. Cerca de 2-8 horas após a
invasão, os tripomastigotas rompem a
- Independentemente da via de invasão, verificou-se
membrana do vacúolo parasitóforo e
que a fusão dos lisossomas com o vacúolo
desenvolvem-se livremente no citoplasma da
parasitóforo é essencial para reter as formas
célula, onde se transformam em
tripomastigotas altamente móveis no interior da
amastigotas (24 horas após a
célula hospedeira. Caso contrário, o parasito escapa
interiorização) aí permanecendo por 24 a
de dentro da célula hospedeira e não estabelece uma
35h. As amastigotas se multiplicam por
infecção produtiva
divisão binária simples longitudinal a cada
- A interação entre o parasito na forma 12 horas, num total de nove gerações,
tripomastigota e a célula hospedeira ocorre em três totalizando cerca de 540 parasitos, que a
fases sucessivas: seguir se diferenciam em tripomastigotas
por um mecanismo denominado
1. Adesão celular: quando ambos se
“alongamento” e passando antes por estágio
reconhecem e o contato
transitório de epimastigotas. A célula
membrana-membrana ocorre favorecida
hospedeira, repleta de parasitos rompe-se,
pela superfície altamente glicosilada das
liberando no interstício tripomastigotas ou
formas tripomastigotas do parasito.
mesmo amastigotas que ainda não se
A via dependente de lisossomos (esquerda) 2. Interiorização e formação do vacúolo
diferenciaram, além de substâncias e
depende do recrutamento de lisossomos para o parasitário (VP): após a adesão do parasito
detritos celulares da célula hospedeira
local da infecção através da liberação de Ca2+ à superfície da célula hospedeira, ocorre
intracelular. A tripomastigota é então contida em aumento da concentração de Ca2+ no - O tempo aproximado para o T. cruzi cumprir todo
vacúolo formado por membrana lisossomal. citoplasma da célula hospedeira e posterior ciclo celular em macrófagos é de 48 a 72 horas,
Alternativamente, tem-se a via independente de recrutamento e fusão dos lisossomas no variando em função da cepa do parasito. Em células

lisossomos (direita), na qual tripomastigotas sítio de adesão do parasito. não fagocíticas o parasito cumpre seu ciclo completo

penetram a célula por invaginações na membrana Alternativamente, o parasito penetra por entre 4 a 5 dias

plasmática que acumulam PIP3. Posteriormente, o invaginação da membrana plasmática da


parasito é contido em vacúolo que matura com a célula hospedeira com posterior fusão de
Ciclo biológico no hospedeiro
aquisição de marcadores lisossomais lisossomas que passam a fazer parte da
invertebrado
(https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUOS- membrana do VP.
- Os triatomineos vetores se infectam ao ingerir - O tempo mínimo para o parasito cumprir o ciclo - Evidências bioquímicas, moleculares e
com as formas tripomastigotas presentes na no vetor é de pelo menos 15 a 30 dias em função epidemiológicas têm demonstrado que T. cruzi é um
corrente circulatória do hospedeiro vertebrado da alimentação sanguínea. táxon extremamente polimórfico tanto
durante o hematofagismo. genotipicamente quanto fenotipicamente.

- T. cruzi é considerado um parasito diploide (2n)


Manutenção do T. cruzi
que se multiplica por divisão binária simples. No
em laboratório
entanto, a possibilidade de reprodução sexual deste
- Além da manutenção do T. cruzi em laboratório parasito não é completamente descartada.
através de infecções experimentais de triatomíneos
- Os estudos pioneiros de caracterização
vetores e animais de laboratório (principalmente
bioquímica-molecular de T. cruzi, através da analise
camundongos, nos quais se fazem passagens
do perfil eletroforético de isoenzimas, permitiram o
sanguíneas sucessivas), o parasito pode ser também
reconhecimento de três grupos distintos
cultivado in vitro em diversos meios acelulares ou
denominados “zimodemas” (população que apresenta
celulares.
- No estômago do inseto eles se transformam em o mesmo perfil de isoenzimas): zimodemas I e III,
formas arredondadas denominadas amastigotas, - Em meios de cultura acelulares (meio LIT e NNN), constituídos por amostras procedentes do ciclo
circundadas ou não por flagelo, e em epimastigotas. o T. cruzi desenvolve o ciclo semelhante ao descrito silvestre e zimodema II, representado por amostras
Estes amastigotas podem se transformar no no vetor, apresentando formas arredondadas do ciclo domiciliar.
intestino em epimastigotas de dois tipos: denominadas leishmanoides, semelhantes aos
- Posteriormente, com base em vários marcadores
esferomastigotas do vetor ou evolui diretamente
epimastigotas curtos: capazes de se multiplicar por moleculares nucleares e mitocondriais, o táxon
sob a forma epimastigota, não infectante para o
divisão binária simples longitudinal (portanto T. cruzi foi dividido em duas linhagens
hospedeiro vertebrado. Esses epimastigotas se
responsáveis pela manutenção da infecção no vetor), geneticamente distintas: T. cruzi I - formada por
multiplicam por divisão binária simples e
e de se transformar novamente em amostras predominantemente isoladas do ciclo
posteriormente se diferenciam em tripomastigotas
esferomastigotas que originam tripomastigotas silvestre (correspondente aos zimodemas I ) e
metacíclicos. As formas leishmanoides e
metacíclicos na ampola retal, ou ainda em T. cruzi II - constituída por amostras
tripomastigotas metacíclicas são infectantes para o
epimastigotas longos: que não se multiplicam e nem predominantemente do ciclo domiciliar
hospedeiro vertebrado.
se diferenciam em tripomastigotas metacíclicos. (correspondente ao zimodema II).
- T. cruzi pode ser também cultivado em meios Posteriormente foi proposto que a linhagem T. cruzi
- Na ampola retal, porção terminal do tubo digestivo, celulares (macrófagos, fibroblastos), onde II fosse subdividida em cinco sublinhagens.
epimastigotas se diferenciam em tripomastigotas desenvolvem o ciclo já descrito para o hospedeiro
- Recentemente, uma nova classificação dividindo as
(infectantes para os vertebrados), sendo eliminados vertebrado.
imagens do parasito em seis grupos ou DTUs
nas fezes ou na urina.
Alguns aspectos de epidemiologia T. cruzi I a VI foi proposta. Apesar de sua
Molecular de T. Cruzi reprodução ser predominantemente clonal,
evidências de outros eventos envolvendo troca de relatada com todas as linhagens genéticas, exceto
material genético já foram detectadas, TcV e TcVI TcIV.
são considerados populações hibridas* do parasito Mecanismos de Transmissão
Acidentes de laboratório: pode ocorrer entre
por apresentarem componentes genéticos
Transmissão pelo vetor: este mecanismo de pesquisadores e técnicos que trabalham com o
recorrentes de hibridização ou troca genética entre
transmissão é o que tem maior importância parasito, seja com sangue de animais, vetores e
** e TcIII.
epidemiológica. A infecção ocorre pela penetração pessoas infectadas e cultura do parasito.
- A relevância ecológica e epidemiológica das de tripomastigotas metacíclicos (eliminados nas A contaminação pode ocorrer por contato do
diferentes DTUs de T. cruzi ainda permanece fezes ou na urina de triatomíneos, durante o parasito com a pele lesada, mucosa oral ou ocular ou
controversa. No Brasil, em geral Tcl, TcIII e TcIV hematofagismo) em solução de continuidade da pele autoinoculação. E necessário trabalhar com todas as
são mais frequentes em isolados do silvestre. Por ou mucosa íntegra. condições de segurança.
outro lado, TcII prevalece no ciclo doméstico
Transfusão sanguínea: constitui o segundo Transmissão oral: pode acontecer em várias
exceto na região Amazônica, onde são encontrados
mecanismo de importância epidemiológica na situações, como na amamentação, pois T. cruzi já foi
Tcl e TcIV. Dados mais atuais reforçam a presença
transmissão da doença de Chagas. Esta importância encontrado em leite materno na fase aguda da
cada das DTUs híbridas TcV e TcVI em infecções
é maior ainda nas grandes cidades, onde é alta a infecção; animais ingerindo triatomíneos infectados;
humanas, no Brasil e em países do Cone Sul.
prevalência da infecção e naqueles países da canibalismo entre diferentes espécies de animais;
- Correlações entre padrões de distribuição América Latina ou de outros continentes onde o pessoas ingerindo alimentos contaminados com fezes
geográfica de T. Cruzi I e II e manifestações controle desta possibilidade de transmissão não está ou urina de triatomíneos infectados. Este mecanismo
clínicas da doença de Chagas têm sido também bem estabelecido ou nunca foi implantado. Este de transmissão tem crescido de importância
reportados. Em países do cone da América Latina mecanismo de transmissão tem diminuído de epidemiológica após relatos frequentes de sua
(Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai, Uruguai) importância à medida que o Ministério da Saúde tem ocorrência na Amazônia em função do extrativismo
onde a doença de Chagas é considerada mais severa, incentivado e apoiado o controle de vetores das florestas, principalmente do açaí.
T. cruzi I está associado ao ciclo silvestre de domiciliares, e que o controle de transfusão Pode ainda ocorrer contaminação com formas
transmissão infectando principalmente mamíferos sanguínea tem se aperfeiçoado. Esta ainda não é a infectantes presentes na glândula de cheiro do
arbóreos, enquanto T. cruzi II predomina no ciclo realidade de alguns países da América Latina. gambá que, em situação de estresse, são liberadas
doméstico infectando homens e outros mamíferos contaminando diretamente alimentos que são
Transmissão congênita: a transmissão ocorre
terrestres. Por outro lado, T. Cruzi I predomina na ingeridos crus. A penetração do parasito, em todos
quando existem ninhos de amastigotas na placenta,
bacia Amazônica e em áreas endêmicas para doença estes casos, pode ocorrer pela mucosa da boca
que liberam tripomastigotas que alcançam à
de Chagas na Venezuela. Manifestações patológicas íntegra ou lesada. Esta transmissão tem sido mais
circulação fetal. Este mecanismo de transmissão tem
digestivas associadas à infecção por T. cruzi são relacionada a parasitos das linhagens Tcl e TcIV.
diminuído progressivamente de importância à medida
mais comuns nas regiões do Brasil Central e sul da
que avança o controle vetorial nos diferentes países. Coito: este mecanismo de transmissão já foi
América do Sul (TcII), mas raras ou ausentes no
Assim tem sido no Brasil uma vez que a prevalência demonstrado experimentalmente e nunca foi
norte da América do Sul e América Central (Tcl).
da infecção é cada vez menor em pessoas mais comprovado na espécie humana. Há apenas relato de
jovens e em idade fértil. Esta transmissão tem sido
encontro de tripomastigotas em sangue de - O sinal de Romaña se caracteriza por edema apenas em crianças muito jovens e em pacientes
menstruação de mulheres chagásicas e no esperma bipalpebral unilateral, congestão conjuntival, imunossuprimidos.
de cobaios infectados. linfadenite- satélite*, com linfonodos
Fase Crônica Assintomática
pré-auriculares, submandibulares e * aumentados de
OBS.: Além de todas estas possibilidades descritas,
volume, palpáveis, celulite do tecido gorduroso Forma Indeterminada
os caçadores com as mãos feridas podem se infectar
periorbitário e palpebral e presença de parasitos
ao lidar com a caça recém-abatida infectada. - Após a fase aguda, os sobreviventes passam por um
intra e extracelulares em abundância
longo período assintomático (10 a 30 anos). Esta
- O complexo cutâneo-linfonodal caracteriza-se fase é chamada de forma indeterminada (latente) e
pelo aparecimento, em qualquer parte do corpo, do
- A doença - chagoma primário e da linfadenite-satélite. O
caracterizada pelos seguintes parâmetros:

primeiro é representado pela inflamação aguda local 1. positividade de exames sorológicos e/ou
Fase aguda parasitológicos;
na derme e na hipoderme, no ponto de inoculação do
- Pode ser sintomática (aparente) ou assintomática parasito. 2. ausência de sintomas e/ou sinais da doença;

(inaparente). Esta é mais frequente. Ambas estão 3. eletrocardiograma convencional normal;


- Microscopicamente, a lesão lembra um furúnculo 4. coração, esôfago e cólon radiologicamente
relacionadas com o estado imunológico do
que não chega à supuração, seguida de regressão normais.
hospedeiro.
lenta acompanhada de descamação.
- Há predomínio da forma aguda sintomática na - Cerca de 50% ou mais dos pacientes chagásicos

primeira infância levando à morte cerca de 10% dos que tiveram a fase aguda apresentam esta forma da
As manifestações gerais da fase aguda são doença e casos que tiveram morte súbita e/ou que
casos, devido principalmente à meningoencefalite e
representadas por febre, edema localizado e foram autopsiados devido a outras causas (morte
mais raramente à falência cardíaca devido à
generalizado, poliadenia, hepatomegalia, violenta, atropelamentos etc.), do ponto de vista
miocardite aguda difusa, uma das mais violentas que
esplenomegalia e, às vezes, insuficiência cardíaca e anatomopatológico, mostram lesões muito
se tem notícia.
perturbações neurológicas semelhantes às da fase aguda. Há diferença, no
- A fase aguda inicia-se através das manifestações entanto, quanto à intensidade das lesões. A
locais, quando o T. cruzi penetra na conjuntiva (sinal miocardite é muito discreta, na grande maioria dos
- Excepcionalmente, alguns pacientes apesar de
de Romaña) ou na pele (chagoma de inoculação). casos, mas já se observa intensa desnervação do
apresentarem diminuição da parasitemia,
Estas lesões aparecem em 50% dos casos agudos SNA. Do ponto de vista imunológico, esta forma
desaparecimento dos edemas e dos sinais de porta
dentro de 4-10 dias após a picada do barbeiro, parece estar em atividade, dada a presença
de entrada, não normalizam o eletrocardiograma
regredindo em 1 ou 2 meses. constante de anticorpos líticos. Apesar de
(ECG), apresentando continuamente alguma
- Concomitantemente os linfonodos-satélites são assintomáticos e apresentarem lesões muito
sintomatologia cardíaca de maior ou menor grau.
comprometidos e no conjunto forma-se o complexo discretas, tem-se registrado morte súbita de
- As perturbações neurológicas são raras e pacientes com esta forma da doença.
cutâneo e/ou conjuntivo-linfonodal.
consequência da meningoencefalite que ocorre
Fase crônica sintomática
- Certo número de chagásicos após permanecerem ▪ à destruição do SNA simpático e (bloqueio atrioventricular de grau variável, bloqueio
assintomáticos por vários anos, com o correr do parassimpático; do ramo direito do feixe de Hiss, esta última
tempo apresentam sintomatologia relacionada com o alteração considerada patognomônica da doença de
sistema cardiocirculatório (forma cardíaca), ▪ ao próprio exsudato inflamatório em Chagas).
digestivo (forma digestiva), ou ambos (forma atividade que são os responsáveis pelos
- Quando os mecanismos de compensação cardíacos
cardiodigestiva ou mista). sintomas.
tomam-se incapazes de superar as deficiências de
- Isto ocorre devido ao fato de mudar inteiramente sua força de contração, surge o quadro de ICC, que
▪ outro fator responsável pelas arritmias é a
a fisionomia anatômica do miocárdio e do tubo se traduz clinicamente por:
lesão vorticilar ou aneurisma de ponta, ou
digestivo (esôfago e cólon, principalmente).
seja, uma lesão encontrada no ápice dos ▪ dispneia de esforço
Observa-se reativação intensa do processo
ventrículos, na qual há pobreza de células ▪ insônia
inflamatório, com dano destes órgãos, nem sempre
musculares com consequente herniação do ▪ congestão visceral
relacionada com o parasito, que se encontra
endocárdio. ▪ edema dos membros inferiores evoluindo
extremamente escasso nesta fase.
em dispneia contínua, anasarca e morte.
- Além da insuficiência cardíaca, devido ao
Forma cardíaca
retardamento da circulação e da hipóxia, são Pacientes com este quadro apresentam
- A forma cardíaca atinge cerca de 20 a 40% dos frequentes os fenômenos tromboembólicos. cardiomegalia intensa.
pacientes no centro-oeste e sudeste do Brasil.
Hipóxia: ausência de oxigênio suficiente nos tecidos
para manter as funções corporais. (internet)

- Os trombos cardíacos são frequentes (76% dos


casos que desenvolvem insuficiência cardíaca), mas
também podem se formar nas veias dos membros
inferiores. A partir destes trombos, desprendem-se
- Na cardiopatia chagásica crônica sintomática, o êmbolos que podem originar infartos no coração,
fato clínico principal é a insuficiência cardíaca pulmões, rins, baço, encéfalo etc., causando assim a
congestiva (ICC) e isto se deve à: morte súbita

▪ diminuição da massa muscular que se - O comprometimento do sistema autônomo


“Ao longo do tempo as lesões tendem a confluir
encontra muito destruída devido à regulador das contrações cardíacas (nódulo sinusal,
formando áreas mais extensas e o órgão pode
substituição por áreas de fibrose nódulo atrioventricular e feixe de Hiss) traz como
perder a capacidade compensatória e dilata:
interrompendo fibras e fascículos; consequência uma grande variedade de
cardiomegalia “
perturbações, tanto na formação dos estímulos
(arritmia, extrassístoles) como na sua propagação Forma digestiva
- No Brasil, a forma digestiva da doença está - É mais frequente no adulto entre 30 e 60 anos e pelos triatomíneos, exceto a ausência do chagoma de
presente em cerca de 7 a 11% dos casos. mais no homem que na mulher. inoculação.

- As manifestações digestivas são representadas - É frequente a associação com o megaesôfago e - O período de incubação varia entre 20 e 40 dias
principalmente no Brasil e na Argentina pelos megas, este fato agrava em muito* a desnutrição. (excepcionalmente 8 ou 120 dias), quase o mesmo
onde aparecem alterações morfológicas e funcionais encontrado em infecções pelo vetor. A febre é o
- As complicações mais graves do megacólon são a
importantes, como, por exemplo, a incoordenação sintoma mais frequente, encontrado em 60 a 80%
obstrução intestinal e a perfuração, esta levando a
motora (aperistalse, discinesia) caracterizando o dos pacientes, sendo muitas vezes o único sintoma
peritonite.
megaesôfago e o megacólon. observado.

- O megaesôfago pode surgir em qualquer idade, - Muitas vezes a doença de Chagas transfusional é
desde a infância até a velhice. A maioria dos casos, Forma mista mal diagnosticada sendo confundida com infecções
no entanto, é observada entre 20 e 40 anos. bacterianas que não respondem, portanto, ao
- A denominação de forma mista da doença de
Aparece mais no sexo masculino que no feminino e é tratamento por antibióticos.
Chagas tem sido atribuída aos casos em que o
mais frequente na zona rural endêmica.
paciente apresenta alterações clínicas de mais de - Linfadenopatia e esplenomegalia são sintomas
- Os sintomas principais são: uma das formas clínicas anteriormente mencionadas. frequentes. Em menor porcentagem de casos (menos
de 50% dos pacientes), há:
▪ disfagia Forma nervosa
▪ odinofagia ▪ Palidez
- Embora admitida ainda por Carlos Chagas, a
▪ dor retroesternal ▪ Edema periorbital e dos membros
existência desta forma da doença foi sempre muito
▪ regurgitação ▪ Hepatomegalia
discutida. Muitos patologistas não a consideram
▪ pirose ▪ Exantema
suficientemente documentada ponto de vista
▪ soluço ▪ Distúrbios cardíacos, taquicardia e outras
morfológico e hoje sua existência não é mais aceita.
▪ tosse alterações cardíacas podem ser
▪ sialose evidenciadas pelo ECG.

- Devido a alterações na secreção o megaesôfago é A morte pode acontecer em casos mais graves não
muito associado ao câncer. tratados e principalmente nos pacientes
imunossuprimidos.
- O megacólon compreende as dilatações dos cólons
(sigmoide e reto) e são mais frequentes depois do - Doença de chagas - O SNC é raramente afetado. Sonolência, fadiga e
esôfago. O diagnóstico é feito mais tardiamente transfusional - tremores são os sintomas mais comuns, e em
porque a obstipação, é o sintoma* mais frequente do pacientes imunossuprimidos podem progredir para
- A fase aguda da doença é muito semelhante à
megacólon, é encontrado em outras patias contrações involuntárias irregulares e ataques tipo
observada em pacientes que adquiriram a infecção
digestivas. epilépticos causados por meningoencefalites de mau
prognóstico.
- Já os sintomas gastrointestinais são raros. Cerca - Microscopicamente as lesões podem ser - A reativação da doença tem sido também
de 20% dos pacientes podem ser assintomáticos. abundantes e disseminadas. Cortes histológicos verificada em leucemia, doença de Hodgkin e em
revelam o processo patológico básico que é a casos de transplantes pelo uso de drogas
- Em pacientes não tratados o desaparecimento dos
placentite chagásica associada ou não a focos de imunossupressoras, adquirindo a doença aspectos
sintomas pode ocorrer entre 6 e 8 semanas, mas
necrose e presença do parasito nas células clínicos muito mais graves que nas formas agudas
pode se estender até 4 meses. A doença pode
macrofágicas (inclusive células de Hofbauer), livres resultantes de transmissão por triatomíneos ou
evoluir naturalmente para a forma indeterminada ou
no estroma vilositário e na placa corial. pós-transfusionais.
fase crônica sintomática cardíaca e/ou digestiva.
- Nos casos de DCC comprovada com feto a termo, a - O envolvimento do SNC é o fato mais marcante
- Doença de chagas criança evolui bem sem nenhum sintoma da doença ou e grave, diferindo das lesões neuronais já descritas
congênita (DCC) - pode ter peso reduzido, hepatoesplenomegalia, em três aspectos básicos:
abdome distendido, meteorismo, alterações da crase
- Suspeita desde 1911 por Carlos Chagas, o primeiro 1. a encefalite é multifocal e tende a adquirir o
sanguínea e às vezes sinais de ICC.
caso humano foi documentado por Dao (1949), na aspecto necrosante;
Venezuela. - Nos natimortos, há hidropsia e maceração do feto, 2. alguns pacientes têm a forma tumoral da
hidrotórax, hidroperitônio, hepatoesplenomegalia e doença com múltiplas lesões
- A prevalência desta forma da doença varia de
micropoliadenia. A presença do parasito é mais necróticohemorrágicas principalmente no
região para região, geralmente de 2 a 10% e
frequente no SNC, no coração, no fígado, no trato cérebro;
excepcionalmente 14,8%, como por exemplo em
esofagogastrointestinal e na pele. As causas de 3. os parasitos são abundantes no sangue,
Santa Cruz, na Bolívia.
morte são meningoencefalite, miocardite e infecções interior de macrófagos, células gliais e nos
- A transmissão pode ocorrer em qualquer momento intercorrentes. neurônios e podem ser encontrados no
da gravidez causando abortamentos, partos liquor, na pele e no exudato peritoneal.
- O diagnóstico da infecção pode ser feito pelo
prematuros com nascimento de bebês com baixo
isolamento do parasito no sangue do cordão - O diagnóstico pode ser feito por métodos de
peso (1.500 a 2.000 g) e também natimortalidade.
umbilical, pela pesquisa de IgM no soro do detecção de imagem que é sugestiva de encefalite
- Fatores como a cepa do parasito e possivelmente recém-nascido, ou pela pesquisa de IgG após 6 por Toxoplasmsose gondii, sendo necessário se fazer
lesões prévias da placenta, facilitam a penetração do meses do nascimento quando os anticorpos IgG da diagnóstico diferencial. A ausência de resposta ao
parasito, que passa a se localizar nas células de mãe já teriam desaparecido. tratamento desta, sugere doença de Chagas.
Hofbauer no estroma vilositário. Daí o T. cruzi pode
- Doença de Chagas no - O tratamento da doença de Chagas no paciente
atingir a circulação fetal chegando a qualquer célula
imunossuprimido torna-se ainda mais complexo pela
e órgão do feto. paciente imunossuprimido -
toxicidade das drogas e pela gravidade de seus
- Macroscopicamente a placenta pode apresentar - Apesar do número crescente de casos descritos, efeitos colaterais, dentre outros fatores. E de
alterações, como aumento de volume, de peso e de considerar a doença de Chagas como oportunista nos fundamental importância que tanto o diagnóstico
coloração. Apresenta-se pálida, edemaciada, com pacientes com vírus HIV é ainda um fato discutível. como o tratamento sejam feitos de forma precoce
cotilédones volumosos e em geral esbranquiçados.
para facilitar um maior sucesso terapêutico. inflamatório inicial, indo parasitar aleatoriamente
qualquer órgão.
- Isto demonstra, a exemplo de outras doença
- Sinopse da patogênese e patologia da parasitárias, que também na doença de Chagas os - Na fase aguda, o coração pode ser lesado
mecanismos pelos quais T. cruzi determina as lesões intensamente. De fato, o parasitismo é muito grande
doença de Chagas -
devem ser multifatoriais e deles depende o e se encontram ninhos de amastigotas nas células
- Na doença de Chagas são inúmeros os fatores que aparecimento ou não das formas anatomoclínicas da musculares, nos histiócitos, nos fibroblastos, nas
atuam direta ou indiretamente no aparecimento das doença, ou seja: a forma indeterminada, a cardíaca células gliais e raramente nos neurônios dos plexos
lesões produzidas por T. cruzi. sintomática ou não, a digestiva (megaesôfago e nervosos. A miocardite surge em correspondência
Alguns são devidos ao parasito: megacólon) além, é claro, das formas mistas. com os ninhos rompidos.

▪ Eventos iniciais na relação - O exsudato inflamatório que predomina é o de


parasito-hospedeiro dependentes de Fase aguda células monocucleadas, como linfócitos, macrófagos
mecanismos ligantes específicos; e por vezes granulócitos, neutrófilos e eosinófilos.
- A partir da porta de entrada (chagoma de
▪ Polimorfismo
inoculação, por exemplo) o T. cruzi pode parasitar - A presença de focos inflamatórios é proporcional
▪ Tropismo celular
qualquer célula. As mais frequentemente parasitadas aos ninhos de parasitos presentes. Deste modo, a
▪ Virulência do clone
são: macrófagos, células de Schwann, micróglia, inflamação, de início focal, pode se estender a todo
▪ Cepa ou linhagem do parasita
fibroblastos, células musculares lisas estriadas e órgão, tomando-se difusa, grave e podendo levar à
▪ Reinfecção
outras. morte, como acontece, por exemplo, na miocardite
▪ Infecções mistas
chagásica aguda ou meningoencefalite.
▪ Seleção clonal etc.) - Durante a fase aguda da infecção o macrófago
deve ser a célula que tem mais chances de adesão. - Macroscopicamente há aumento da área cardíaca
Outros são inerentes ao hospedeiro
devido ao hidropericárdio e ao próprio coração que
- Nesta fase, o parasito ao se multiplicar pode se mostra globoso, flácido e muito congesto em
▪ Constituição genética
sofrer degeneração, como também a célula
▪ Sexo consequência da inflamação que acomete
hospedeira, ocorrendo liberação do mesmo no
▪ Idade simultaneamente os três folhetos: pericárdio,
interstício, seja na forma de amastigota,
▪ Raça miocárdio e endocárdio
epimastigota ou tripomastigota, bem como de
▪ Resposta imunitária
organelas citoplasmáticas da célula hospedeira
▪ Nutrição
Fase crônica
▪ Tipos de células que interagem com o - Devido a estes imunógenos íntegros ou
parasito, como macrófagos profissionais e degenerados e a outras substâncias liberadas pela Forma Indeterminada
células não permissíveis, células musculares, célula hospedeira surge uma inflamação aguda focal
- Os indivíduos que sobrevivem à fase aguda
neuróglia central e periférica, fibroblasto, estabelecendo-se, já na segunda semana, uma
assintomática ou sintomática evoluem para a fase
outros. imunidade. Mesmo assim, os parasitos que
crônica e podem permanecer assintomáticos ou com
permanecem íntegros não são detidos no foco
infecção latente (forma indeterminada) por vários Forma Digestiva ■ Microscopicamente, as lesões são mais
anos ou durante toda a sua vida. características e constantes:
- O tubo digestivo, ainda durante a fase aguda da
Forma Cardíaca infecção, também é atingido pelo T. cruzi que 1. Parasitismo acentuado na fase aguda das
parasita, ao acaso, as células musculares, os células musculares e dos plexos nervosos.
- Alguns pacientes podem 20 a 30 anos após a
fibroblastos e principalmente o sistema nervoso Este é mais raro na fase crônica
infecção, apresentar a cardiopatia chagásica crônica
intramural (plexos de Meissner e Auerbach). 2. Miosite, periganglionite, ganglionite,
(CCC) sintomática que pode levá-los à morte.
perineurite e neurite em focos
- Dependendo do grau e da extensão das lesões é
■ Macroscopicamente o coração mostra-se: sistematizados com predominância das
que surgem os primeiros sinais de incoordenação
células mononucleadas
1. Aumentado de volume e mais pesado que o motora acompanhados de alterações de secreção e
3. Fibrilopoese focal e difusa, não relacionada
normal (cardiomegalia com peso de 550 g absorção.
diretamente com os focos inflamatórios
em média);
- Somente nos casos mais graves, 10 a 20 anos após 4. Hipertrofia das células musculares
2. Congesto com espessamentos nodulares
a infecção inicial, é que surgem em 20 a 30% dos íntegras, principalmente da camada
branco-peroláceos no epicárdio ao longo das
pacientes o megaesôfago e o megacólon. muscular interna
coronárias;
5. Inflamação crônica da mucosa e da
3. Hipertrofia das paredes ventriculares e - Entende-se por megas 🡪 dilatações permanentes e
submucosa, a; vezes com ulcerações e/ou
atriais; difusas de vísceras ocas ou de canais (ureter, por
perfurações.
4. Dilatação dos anéis das válvulas tricúspide e exemplo), acompanhados ou não de alongamento da
mitral parede, não provocados por obstrução mecânica e Muitos são os fatores patogenéticos e
5. Presença da chamada lesão vorticilar ou cujo substrato anatômico seria a despopulação fisiopatológicos, entre eles o mais importante seria
aneurisma de ponta. neuronal intrínseca do órgão. a desnervação parasimpática tanto no coração
quanto nos megas chagasicos.

- Todavia, além da desnervação nos megas, muitos


Morfologicamente a víscera oca com mega mostra:
■ Histologicamente observam-se: outros fatores entram em jogo na gênese das lesões,
■ Macroscopicamente: como:
1. Uma miocardite crônica fibrosante em
focos sistematizados e uma fibrilopoese 1. Dilatação permanente e às vezes 1. Alterações morfofuncionais das glândulas
difusa intersticial interfascicular. alongamento (dólico) do intestino que secretam vários tipos de
2. Despopulação neuronal grave causada por 2. Espessamento das musculares hormônios
perineurite, periganglionite e ganglionite. 3. Alterações da mucosa (polipose, leucoplasia, 2. Alterações do reflexo peristáltico
3. Fenômenos regressivos intensos das ulceração) intrínseco com relação ao extrínseca
miocélulas (lesão de Magarinos Torres). 4. Porção terminal sem lesão aparente. 3. Alterações para mais ou para menos da
4. Raros ninhos de amastigotas. neurossecreção dos gânglios simpáticos
(catecolaminas, indolaminas), que
permanecem íntegros interferindo na imunoglobulinas, caderinas e selectinas) permanência do parasito no tecido participam na
motilidade e na condutibilidade das células transmembranas que fazem conexão com o patogênese das diversas formas clínicas da doença.
musculares citoesqueleto.
- Ao atingir a corrente sanguínea, T. cruzi torna-se
4. Fibrose difusa, presente tanto na CCC
- Tanto nos megas quanto na CCC fibrosante a um alvo da via do complemento.
quanto nos megas e responsável, com toda
neoformação colagênica aumenta com o tempo
probabilidade, pela incapacidade contrátil - O sistema do complemento consiste em proteínas
durante a evolução da doença e modifica
do órgão. solúveis que interagem com estruturas ao patógeno e
profundamente a fisionomia anatômica do órgão
ativam uma cascata de proteases que eliminam
- Já se sabe que tanto na fase aguda como na fase levando-o à disfunção.
microrganismos invasores.
crônica de diversas doenças inflamatórias e inclusive
- Os mecanismos pelos quais alteram o turnover da
na doença de Chagas, que os componentes da matriz - Existem três vias do complemento: clássica,
matriz extracelular na Doença de Chagas precisam
extracelular estão diretamente relacionados com as alternativa e lectina. Embora estas vias sejam
ser esclarecidos. Pode-se conjecturar, até que se
respostas imunitárias. Os componentes do distintas nos passos iniciais das respectivas
prove o contrário, que desvios da modulação das
interstício formam uma intrincada rede cascatas, todos os três convergem para produzir
respostas imunitárias sejam fatores patogenéticos
tridimensional envolvendo cada célula muscular. uma C3 convertase e, em seguida, uma convertase
importantes.
C5, que conduz à formação do complexo de ataque à
- Suas modificações são constantes, dinâmicas,
- Sendo assim, macrófagos, linfócitos, fibroblastos e membrana (MAC) e à subsequente lise do patógeno.
dependem de vários estímulos fisiológicos,
outras células, via citocinas, na certa são os
homeostática e imunológicos, devido a agressões por - Em mamíferos, as formas tripomastigotas são
maestros responsáveis pelas alterações da matriz
agentes patógeno: entre eles o T. cruzi, responsáveis capazes de bloquear a via do complemento. Várias
extracelular.
pelas doenças fibrosantes. moléculas do parasito participam neste processo
como a proteína reguladora do complemento,
- Sendo as relações entre estes componentes muito
também conhecida como gp 160 kDa, que inibe a
íntimas com a célula muscular torna-se fácil
formação da C3 convertase, um passo-chave em
compreender as alterações funcionais dos órgãos
- Imunidade na todas as vias de complemento e que impede a
acometidos na doença de Chagas como consequência
formação do complexo MAC.
da expressão quantitativa e qualitativa alterada da Doença de Chagas -
matriz extracelular. - Outros componentes do sistema imune inato são
- A infecção por T. cruzi mobiliza vários mecanismos
ativadas na infecção por T. cruzi. Os receptores da
- O fibroblasto é a principal célula da matriz da resposta imune inata e adaptativa que levam ao
imunidade * mais bem estudados na infecção pelo
responsável pela síntese de diferentes tipos de controle da infecção, mas que não elimina o parasito
parasito são os receptores do tipo toll (ou TLR, do
colágeno. do hospedeiro vertebrado, resultando em uma baixa
inglês toll-like recepor) reconhecem padrões
parasitemia e persisiente parasitismo tecidual.
- As integrinas têm papel importante nas funções da moleculares associados a patógenos (PAMPs, do
matriz. A transmissão de impulsos da matriz para a - Acredita-se que lesões teciduais resultantes da inglês pathogen associated molecular patterns), que
célula se faz via receptores específicos integrinas, resposta imune prolongada desencadeada pela
são moléculas altamente abundantes em patógenos, reinfecção indicando ser a imunidade na doença de - Alguns meses após a infecção (três ou mais) e
mas suprimidas em vertebrados. Chagas do tipo parcial. depois da queda da parasitemia, os níveis de IgM
diminuem progressivamente até desaparecerem. São
- Diferentes TLRs são ativados por diferentes - Há também indicações de que a imunidade da
raros os casos de IgM positiva durante a fase
PAMPs do parasito. Glicosilfosfatidilinositol (GP1) doença de Chagas é dependente da presença do
crônica da infecção.
lípides usadas para ancorar proteínas na superfície parasito no hospedeiro, pois já foi demonstrado que
de T. cruzi e em outros parasitos são agonistas de camundongos tratados e curados toram-se - Por outro lado, anticorpos IgG aumentam por mais
TLR2. Glicoinositolfosfolípedes (GIPL), um subtipo novamente suscetíveis à infecção desenvolvendo alguns meses e depois decrescem lentamente
de GP1 livres, ativa TLR4. Mais recentemente, nova fase aguda com alta parasitemia. estabilizando-se em níveis variáveis de hospedeiro
demonstrou-se que o DNA genômico de T. cruzi para hospedeiro podendo ser facilmente detectáveis
contém motivos CpG não metilados que são pelo testes sorológicos ao longo da infecção. Alguns
Imunidade Humoral
ativadores de TLR9 e o RNA do parasito ativa TLR7. estudos têm encontrado correlação entre a presença
- Aparentemente a imunidade humoral exerce um de altos níveis de IgM e cardiopatia chagásica
- A ligação de moléculas de T. cruzi nos TLRs induz a
papel fundamental no controle da infecção. Diversos crônica, níveis elevados de IgA e forma digestiva da
produção de citocinas pró-inflamatórias. Ocorre a
autores têm demonstrado que uma forte ativação do doença e níveis elevados de IgE
produção principalmente de IL-12 e TNF-a, que
sistema imunológico ocorre durante a fase aguda da anti-T. cruzi em pacientes chagásicos com a forma
induzirão a síntese de IFN-y e a consequente
doença de Chagas. cardíaca.
produção de intermediários reativos de oxigênio e
nitrogênio que apresentam propriedades - No primeiro estágio da doença é observada uma - Em um hospedeiro na fase crônica da infecção,
microbicidas. grande mobilização do sistema imune com o objetivo existem evidências de que o mecanismo de LMCo
de conter o parasito e os danos da infecção. O ocupa um papel fundamental na manutenção da
- A indução da produção de IL-12 por células
parasito promove a ativação inespecífica de parasitemia em níveis subpatentes. Este mecanismo
dendríticas também levará ao desenvolvimento de
macrófagos e células natural killer (imunidade imunológico de controle da infecção foi
uma resposta de perfil Th1 e produção de IFN-y,
celular) acompanhada de ativação de linfócitos T e B, intensivamente estudado sendo demonstrado que os
propiciando o estabelecimento da imunidade mediada
resultando na produção de imunoglobulinas anticorpos responsáveis por este fenômeno
por células, bem como a produção de anticorpos,
(imunidade humoral). (denominados anticorpos líticos, subclasses IgGl e
eventos geralmente necessários para o
IgG2) atuam apenas sobre tripomastigotas vivos e
estabelecimento de uma imunidade protetora. - Com relação à imunidade humoral, tem sido bem
estão presentes em infecções ativas.
documentado em diversos modelos experimentais e
- Um fato que evidencia a presença de imunidade
em humanos, que o surgimento de IgM e IgG são - Sendo assim, métodos de diagnóstico explorando
adquirida, bem demonstrado em modelos
precoces (7 a 15 dias após a infecção), atingindo este mecanismo foram padronizados com o objetivo
experimentais, é que uma nova infecção por T. cruzi
níveis elevados a partir da quinta semana de de determinar a cura de pacientes tratados. Mais
pode se estabelecer ao lado de uma infecção
infecção, coincidindo esta elevação com o aumento recentemente foi verificado que anticorpos que
preexistente sem ocorrer reagudização e aumento
da parasitemia detectável ao exame a fresco. reconhecem o epítopo terminal contendo galactosil
da parasitemia. Apenas um aumento dos níveis de
a-l-3-galactose (anticorpos antigal) também
anticorpos é verificado temporariamente após a
exercem atividade lítica sobre o parasito de produção de anticorpos líticos que auxiliam na - A origem do paciente, a presença dos sinais de
independente da presença de complemento. Estes destruição dos parasitos intra e extracelulares. As porta de entrada (sinal de Romana e/ou Chagoma de
anticorpos elevam-se na fase aguda da infecção e células T CD8+ parecem ter participação mais inoculação) acompanhadas de febre irregular ou
permanecem elevados durante a fase crônica. importante na fase crônica da infecção e na gênese ausente, adenopatiasatélite ou generalizada,
das lesões, sendo associadas a fenômenos de hepatoesplenomegalia, taquicardia, edema
citólise, fibrose tecidual e, portanto, às generalizado ou dos pés fazem suspeitar de fase
Imunidade Celular manifestações cardíacas e intestinais da doença. aguda de doença de Chagas.

- Em relação à imunidade celular na doença de Autoimunidade - As alterações cardíacas acompanhadas de sinais de


Chagas sabe-se que o parasito ativa as células NK a insuficiência cardíaca confirmadas pelo
- A ocorrência de lesões progressivas, associadas a
produzirem o IFN-y. Esta citocina constitui um eletrocardiograma e as alterações digestivas e do
fenômenos degenerativos intensos (inflamação,
importante mediador da resistência à infecção e esôfago e do cólon (reveladas pelos raios X) fazem
fibrose e desnervação) em pacientes com baixa
passa nos estágios posteriores da infecção a ser suspeitar de fase crônica da doença. Entretanto, em
parasitemia na fase crônica da infecção e
produzida por células T CD4+ e T CD8+. ambos os casos, há necessidade de confirmação do
apresentando as formas clínicas graves da doença,
diagnóstico por métodos laboratoriais.
- As citocinas IL-12 e TNF-a (produzidas por sugerem que a autoimunidade exerce um papel
macrófagos) e IFN-y participam desta interação de importante na gênese das lesões na doença de
forma cooperativa. Chagas. Laboratorial

- A IL-10, antagônica ao IFN-y, também é produzida - No entanto, a hipótese da autoimunidade como - Os métodos de diagnóstico laboratorial
pelos macrófagos durante a infecção. Vários estudos determinante na evolução da doença tem perdido apresentam diferentes resultados se aplicados na
têm demonstrado que a forma indeterminada da força com o surgimento de métodos mais sensíveis fase aguda ou crônica da infecção.
doença de Chagas está associada a um perfil de para a detecção do parasito nos tecidos lesionados,
- Na fase aguda, observam-se: alta parasitemia,
citocinas anti-inflamatório, representada pela como as reações de imuno-histoquímica, a PCR e a
presença de anticorpos inespecíficos e início de
expressão elevada de IL-10, enquanto a forma qPCR. O uso destas técnicas demonstrou claramente
formação anticorpos específicos (IgM e IgG) que
cardíaca está associada a uma alta produção de que a presença do parasito nas lesões seria de fato
podem atingir níveis elevados. Nesta fase,
IFN-y e TNF-a com relação a IL-10, levando a um responsável pelo início de todo o processo
recomenda-se: pesquisa direta e, se necessário,
perfil inflamatório. Portanto, o balanço dessas degenerativo e também pelo desencadeamento de
pesquisa indireta do parasito.
respostas pró e anti-inflamatória determinaria o fenômenos de autoagressâo.
curso da infecção na doença de Chagas. - Na fase crônica, observam-se: baixíssima
parasitemia, presença de anticorpos específicos
- Quando se analisam as linhagens de células T,
- Diagnóstico – (IgG). Nesta fase, a presença de anticorpos IgM é
verifica-se que as células T CD4+ aparentemente são
discutida, só sendo detectada esporadicamente em
mais importantes na proteção contra a infecção por Clínico baixos títulos. Recomendam-se métodos sorológicos
T. cruzi na fase aguda da infecção, devido à
(imunofluorescência indireta, ELISA,
produção de citocinas, como IFN-y, e pelo estímulo
hemaglutinação indireta ou fixação de complemento) ■ Cultura de sangue ou material de biópsia: e a seguir guardado em geladeira ou em recipiente
* a pesquisa do parasito por métodos indiretos (linfonodos), em meios próprios como LIT ou NNN ou com sílica-gel). No caso de colheita em papel, o
(xeno*, hemocultura ou inoculação em animais de meios difásicos de ágar sangue. processamento da reação deve ser feito no prazo de
laboratório). até 30 dias para não haver queda do título de
■ Métodos de concentração: entre os métodos de
anticorpos.
- Estes métodos de diagnóstico parasitológicos concentração podem ser usados o exame do creme
tornaram-se especialmente necessários quando a leucocitário obtido após centrifugação em tubo ■ Reação de precipitação ou precipitina: Das reações
sorologia é duvidosa ou quando se deseja verificar a capilar com o sangue colhido com anticoagulante, ou sorológicas esta foi, no passado, a mais indicada na
eficácia de tratamento. o método de Strout em tubo de hemólise. O método fase aguda, pois apresenta cerca de 95% de
de Strout consiste em deixar o sangue coagular. A sensibilidade a partir do sétimo dia de infecção. E
Fase aguda
medida que este se retrai, os parasitos uma reação específica, de execução simples e
Exames Parasitológicos concentram-se no soro, que pode ser centrifugado realizada em tubo capilar, com antígeno homólogo
para exame do sedimento ou inoculação em animais. (polissacárides de formas de cultura do T. cruzi).
■ Exame de sangue a fresco: com gota de sangue
Forma-se um precipitado na interface do antígeno,
colocada entre lâmina e lamínula. ■ Inoculação do sangue: (0,5 mL) ou creme
com o soro, consequente da reação
leucocitário em camundongos jovens,
■ Exame de sangue em gota espessa: Este método antígeno-anticorpo. Esta técnica encontra-se em
preferencialmente de linhagens isogênicas, muito
tem mais chances de detectar o parasito do que o desuso e seu emprego não tem sido recomendado.
suscetíveis à infecção.
método anterior, por concentrar maior quantidade
■ Reação de imunofluorescência indireta (RIFI):
de sangue em um mesmo espaço, porém sua ■ O xenodiagnóstico e a hemocultura: são métodos
apresenta alta sensibilidade a partir do 15a dia de
visualização torna-se mais difícil. Pelo fato de a muito sensíveis na fase aguda. Ambos podem chegar
infecção, detectando anticorpos da classe IgM
malária ser presente na região amazônica e a 100% de positividade. Estas técnicas não são
mediante o emprego de conjugado específico. Estes
diagnosticada por este exame, o Ministério da Saúde normalmente indicadas, uma vez que nestes métodos
anticorpos raramente ocorrem na fase crônica da
patrocinou o treinamento dos agentes de saúde os exames e a obtenção dos resultados ocorrem após
doença, mas são constantes na fase aguda, com
desta região para habilitá-los a reconhecer T. cruzi 30 dias ou mais. Qualquer um dos métodos citados,
títulos elevados. Desta forma, a RIFI é uma reação
na gota espessa. Esta prática tem aumentado a mas principalmente os três primeiros, são também
sorológica de escolha para o diagnóstico da fase
possibilidade do diagnóstico da fase aguda da doença empregados para o diagnóstico de transmissão
aguda.
de Chagas na região, e, consequentemente, seu congênita e transfusional.
tratamento mais precoce, quando a cura da infecção ■ Enzime-linked immunosorbent assay (ELISA): esta
Exames sorológicos
é mais facilmente alcançada. técnica também detecta classes específicas de
- O diagnóstico sorológico evidencia a presença de anticorpos e, portanto, é indicada para o diagnóstico
■ Esfregaço sanguíneo corado pelo Giemsa: este
anticorpos específicos no soro do paciente. O sangue de fase aguda da doença, utilizando-se conjugado
método oferece vantagem por permitir observar a
pode ser colhido por punção venosa (e o soro anti-IgM. Atualmente o uso de antígenos
morfologia do parasito, mas só será possível em
conservado a -20°C, até processamento) ou em papel recombinantes isolados ou em associação tem sido
casos de parasitemia muito elevada.
de filtro (seco à temperatura ambiente por 24 horas utilizado com bons resultados aumentando a
sensibilidade e a especificidade diferenciando a - Este método, quando realizado em paralelo com o A seguir são descritas as técnicas mais importantes
infecção por T. cruzi das Leishmanioses. xenodiagnóstico, pode apresentar maior e rotineiramente utilizadas.
sensibilidade, dependendo da técnica utilizada.
• Reação de fixação de complemento (RFC) ou de
- Algumas mudanças desta técnica elevaram sua Guerreiro e Machado: esta técnica sorológica é a
Fase crônica
sensibilidade até 55%, superior ao xenodiagnóstico, mais antiga e, durante muito tempo, a mais
Exames Parasitológicos realizado em paralelo com ninfas de T. infestans. rotineiramente utilizada. É feita com antígeno
homólogo (extrato de formas de cultura do parasito
Sendo a parasitemia da fase crônica subpatente e - Esta técnica foi padronizada sendo utilizados 30
sob diferentes preparações). Devido a algumas
muito escassa a detecção do parasito se dá por mL de sangue heparinizado de cada paciente. O
dificuldades técnicas esta técnica está em desuso.
métodos parasitológicos indiretos. plasma e desprezado após a centrifugação (3.000
Sua sensibilidade e especificidade variam de 90 a
rpm, 30 minutos) e o sedimento lavado com meio LIT
■ Xenodiagnóstico 100%, segundo diferentes autores.
para eliminar os possíveis anticorpos ainda
- E o método de diagnóstico indireto empregado presentes. • Reações de imunofluorescência indireta (RIFl): é
quando se quer detectar o parasito na fase crônica uma reação muito sensível e a mais utilizada
- O sedimento é distribuído em seis tubos de rosca
da doença. O xenodiagnóstico pode ser natural, atualmente. Consiste em fazer reagir sobre
contendo 6 mL de LIT. O material deve ser mantido
conforme instruções detalhadas em seguida, ou antígenos fixos em lâminas de microscópio,
a 28°C, homogeneizado a cada 48 horas e examinado
artificial. anticorpos do soro do paciente adicionados
quinzenalmente até 60 dias ou mais, se necessário.
posteriormente do conjugado (anti-imunoglobulina
- Em geral é realizado nos pacientes o
- Pequenas modificações posteriores, como marcada com substância fluorescente). A
xenodiagnóstico natural, colocando-se os
processamento do sangue imediatamente após a fluorescência pode ser visualizada em microscópio
triatomíneos para sugar o braço ou as costas do
coleta, cultivo por tempo mais prolongado (120 dias) de imunofluorescência, revelando a presença de
paciente.
e repetição ia técnica por três vezes em um mesmo anticorpos. A padronização dos reagentes
- O xenodiagnóstico artificial é indicado quando o paciente, elevaram a taxa de sensibilidade. (conjugados e antígenos) permite uma alta
paciente é sensível à picada de barbeiros ou quando confiabilidade dos resultados. Os antígenos são
- Líquido cefalorraquidiano pode também ser
se deseja fazer estudos com triatomíneos e o homólogos e preparados a partir de formas
cultivado em meio LIT ou NNN. A maior limitação da
parasito fora do hospedeiro. epimastigotas de cultura na fase exponencial de
técnica de hemocultura é a necessidade de meio de
crescimento. A RIFI, bem como a RHA e a ELISA,
- Para que o xenodiagnóstico dê bons resultados, cultura especial, feito somente em laboratórios de
apresentam resultados falso-positivos em casos de
recomenda-se o emprego de espécies de pesquisa especializados.
leishmanioses. Nestes pacientes, as reações com
triatomíneos bem adaptados às cepas locais do T. antígenos homólogos de Leishmania sp. costumam
■ Inoculação em Camundongos Jovens
cruzi. Em geral, são usadas as espécies apresentar títulos mais elevados que as heterólogas
Já descrito para o diagnóstico de fase aguda da
Triatomainfestans, Panstrongylus megistus, T. com T. cruzi. E possível afastar estas reações
doença.
braziliensis e T. pseudomaculata. cruzadas por processos simples de absorção
Exames Sorológicos seletiva, ou inibição de anticorpos de grupo. Por
■ Hemocultura
detectar classes específicas de anticorpos, a RIFI é Chagas seja realizado utilizando sempre dois testes etc.);
especialmente indicada para o diagnóstico de fase sorológicos diferentes em paralelo, para a obtenção • Sorológicos não convencionais (LMCo e pesquisa de
aguda (natural, acidental ou transfusional) e de resultados mais precisos. No caso de resultados anticorpos antitripomastigota vivo - AATV por
transmissão congênita mediante a pesquisa de IgM duvidosos, devem -se em pregar outras técnicas e citometria de fluxo).
que está presente nas infecções agudas e que não repetir as reações. Se dois métodos apresentarem
- Considera-se “curado”: todo paciente que
atravessa a placenta. resultados contraditórios, realizar um terceiro
apresentar além da negativação parasitológica
método de princípio diferente. Se permanecer a
• Reação de hemaglutinação indireta (RHA): é uma (xenodiagnóstico, hemocultura e PCR), negativação
dúvida, realizar um quarto método de
técnica muito simples e sensível (mais de 90%), da sorologia convencional, LMCo e pesquisa de AATV.
imunodiagnóstico e se ainda permanecer a dúvida
muito utilizada para o diagnóstico de fase aguda e Isto porque já foi verificado que pacientes que
realizar um método de diagnóstico não imunológico.
crônica. O antígeno é obtido de formas de cultura do apresentaram exames parasitológicos negativos e
parasito por vários métodos de preparação. Consiste - No caso de banco de sangue recomenda-se o uso de sorologia convencional com títulos persistentemente
em fazer atuar sobre hemácias sensibilizadas com três técnicas de princípios diferentes para baixos, voltaram a apresentar positividade dos
antígenos de T. cruzi o soro do paciente. Na assegurar a detecção da maioria dos casos. Durante exames parasitológicos e elevação dos títulos
presença de anticorpos específicos, ocorre ou mesmo algum tempo após tratamento, o paciente sorológicos em tempo variável após o fim do
aglutinação da preparação. A reação pode ser feita pode apresentar testes sorológicos negativos, sem, tratamento.
em placas, com ou sem automatização, e a leitura contudo, significar cura da infecção.
- Os pacientes “não curados”: são àqueles que
dispensa qualquer aparelhagem.
apresentam positividade em qualquer dos métodos
• Enzime-linked immunosorbent assay (ELISA): este - Critério de cura - de todas as categorias. Existe ainda uma terceira
é um método imunoenzimático cujo mecanismo de categoria de pacientes denominada “dissociado” que
reação é semelhante à RIFI, porém o conjugado é - Denomina-se critério de cura o conjunto de se refere àqueles pacientes que apresentam
marcado com uma enzima. A interação da enzima com parâmetros (clínicos e laboratoriais) utilizados na resultados dos exames parasitológicos
o substrato adequado dá cor à reação, o que permite verificação da eficácia do tratamento de um persistentemente negativos, sorologia convencional
a leitura com espectrofotômetro adequado para a paciente. positiva e sorologia não convencional
leitura em placas. Por permitir a pesquisa de classes persistentemente negativa. O tempo prolongado de
- Os critérios clínicos são de valor limitado,
específicas de anticorpos, tem as mesmas aplicações observação destes pacientes tem mostrado que
especialmente na fase crônica da infecção, quando o
da RIFI. Esta técnica oferece vantagens em relação apesar de esta categoria apresentar sorologia
paciente pode ser assintomático ou possuir lesões
às demais técnicas sorológicas, por permitir a convencional positiva, eles podem também ser
viscerais irreversíveis.
realização de um grande número de testes de uma só considerados “curados”, pois a negativação da
vez e uma completa automatização. Os resultados - Vários métodos de exames laboratoriais são sorologia convencional ocorre muito tardiamente.
indicam ser esta técnica mais sensível que a RIFI. indicados como critério de cura: Esta interpretação ainda constitui um tema polêmico
• Parasitológicos: xenodiagnóstico (Xd), hemocultura entre os clínicos e pesquisadores.
- A Organização Mundial de Saúde (OMS)
(Hc) e PCR;
recomenda que o diagnóstico sorológico da doença de Levantamento Epidemiológico
• Sorológicos convencionais (RIFI, ELISA, RHA
O método de maior praticidade é a reação de conhecidos e delineados, conforme será mostrado - Esses elos, portanto, compõem uma biocenose, isto
ELISA, por permitir o exame de um grande número em seguida. é, “uma associação de seres de espécies diferentes
de amostras de uma só vez e leitura automatizada. numa área alimentar ou abrigo”.
- A transmissão pelos dejetos do triatomíneo é a que
Também pode ser utilizada a RIFI e RHA. A coleta
tem maior importância epidemiológica, embora nos - Na biocenose silvestre 🡪 os tatus, gambas,
de sangue deve ser feita em papel de filtro para
centros urbanos possa ocorrer transmissão através roedores e respectivos ninhos de aves fornecem
maior praticidade. Após a secagem, as amostras são
de transfusão sanguínea. Dessa forma, considera-se abrigo e alimentos para os triatomíneos.
guardadas a -20°C e embaladas em saco plástico.
que o T. cruzi circula entre os mamíferos, passando
Para fazer a reação, picotes de papel são evoluídos - Na biocenose domiciliar 🡪 cão e o gato, fornecem
obrigatoriamente pelos triatomíneos. Assim sendo, a
em solução adequada, conforme a técnica utilizada, alimento e abrigo para os barbeiros.
existência desse protozoário está intimamente
na hora de execução da reação.
relacionada com a presença e os hábitos desses - Dessa forma, o T. cruzi circula entre humanos e
insetos. Existem 140 espécies de triatomíneos, e animais, desde o sul dos EUA até a Argentina, e hoje
- Epidemiologia - destas, apenas 15 tem participação importante na também está presente em outros continentes em
transmissão da doença ao homem. decorrência da imigração de latinos americanos.
- A doença de Chagas permanece sendo
- Estudando a distribuição geográfica e o - O que ocorreu após o descobrimento das
negligenciada embora seja endêmica em 22 países da
comportamento da doença de Chagas hoje, podemos Américas? Os colonizadores desmataram florestas
América Latina e sua distribuição ser paralela à
inferir que ela é uma doença exclusivamente de para explorar madeiras, depois para implantarem a
existência de triatomíneos vetores presentes desde
animais e triatomíneos silvestres. Posteriormente agropecuária e estabelecerem o desbravamento à
o sul dos Estados Unidos até a Patagônia na
passou para os humanos, na medida em que estes procura de pedras preciosas e ouro, completaram a
Argentina e responsáveis pela transmissão de
modificaram ou destruíram o ciclo silvestre natural e destruição da flora e da fauna.
T. cruzi aos 6 a 8 milhões de indivíduos infectados.
construíram a cafua na zona rural. Nessa cafua
Destes, cerca de 3 milhões são brasileiros. - A medida que ia avançando a interiorização, o
algumas espécies de triatomíneos se adaptaram e a
homem construía cafuas como habitação.
- Com a intensa migração de indivíduos de áreas colonizaram. A doença de Chagas tornou-se então
endêmicas para áreas não endêmicas, a doença se uma zoonose típica. Da zona rural tem passado para
encontra em expansão e casos esporádicos têm sido as zonas periurbana e urbana, uma vez que o
diagnosticados na América do Norte, Oceania, camponês, no êxodo rural existente em nosso meio,
O “barbeiro”, ao ser ameaçado na sua biocenose
Japão, Europa e outros países asiáticos, vinculados à constrói favelas na periferia das grandes cidades e,
silvestre, voou para o abrigo mais próximo, isto é, a
transmissão por mecanismos independentes do vetor com a mudança, traz exemplares de “barbeiros”.
cafua, galinheiros e chiqueiros. Algumas espécies de
tais como: congênita, sanguínea e por transplante de triatomíneos se adaptaram perfeitamente a esses
- Vimos então que os principais elos da cadeia novos ambientes colonizando-os.
órgãos.
epidemiológica são: T. cruzi, mamíferos silvestres Formou-se, então, um ciclo doméstico
- Ao analisarmos a epidemiologia do T. cruzi, (reservatórios), triatomíneos silvestres; mamíferos (domiciliação) e peridoméstico “independente” do
podemos ver que os principais fatores estão bem domésticos (reservatórios) triatomíneos ciclo silvestre. O alimento fácil, pela presença de
domiciliados e o homem. moradores (humanos, cão, gato), e proteção (as
frestas do barro ressequido) facilitaram a são resistentes ao tratamento usual, possivelmente da doença de Chagas humana, nos quais a
procriação, permitindo a existência de centenas de por serem infectados predominantemente por Tcl. contaminação pode ter sido por ingestão de
barbeiros numa só parede. Essa domiciliação de alimentos infectados recentemente com a secreção
- Os primeiros reservatórios conhecidos de T. cruzi,
barbeiros e, às vezes, de roedores e gambás, das glândulas paranais daquele marsupial.
além dos humanos, foram o tatu, o tamanduá e o
representam um exemplo típico de sinantropia, isto
bicho preguiça. Hoje, já se sabe que sete ordens de - Nos últimos anos tem sido demonstrada a
é, adaptação de animais ao domicílio humano após
mamíferos (marsupiais - gambás; desdentados; ocorrência frequente de casos agudos da doença de
a alteração do meio ambiente.
quirópteros - morcegos; roedores - ratos; primatas - Chagas e especialmente no Pará, a transmissão por
macacos; logomofos - coelho; e carnívoros - cão e via oral tem sido constatada em pessoas que ingerem
gato) “apresentam espécies que foram encontradas o açaí ou alimentos preparados com açaí
- Esses aspectos apresentados podem ser
infectadas pelo T. cruzi, dos quais dez são contaminados com os tripomastigotas metacíclicos.
comprovados pela verificação do que ocorre em
domésticas e 71 silvestres, sendo o maior número de Podemos então supor que outros alimentos obtidos
outras áreas da América, onde a doença de Chagas
roedores, quirópteros e marsupiais de ectótopos por extrativismo nas regiões onde existe o ciclo
ainda é predominantemente silvestre. Por exemplo,
silvestres” (Alencar, 1980). De todos eles, os silvestre da infecção (barbeiros e animais
vejam os o que se passa no sul dos EUA. A doença
reservatórios silvestres mais importantes são o tatu infectados) poderão ser fonte de infecção silenciosa
era considerada unicamente silvestre, mas já foram
e o gambá e entre os domésticos destacam-se o cão, por T. cruzi.
descritos casos autóctones. Até hoje há poucos
o rato e o gato (além dos próprios humanos) e
casos humanos de doença de Chagas comprovados
cobaias na Bolívia. As aves e os répteis são
naquele país em decorrência possivelmente da
refratários ao T. cruzi, não funcionando, pois, como
qualidade da moradia e hábitos higiênicos de seus
reservatórios, por realizarem com muita eficiência a
habitantes que não facilitaram o abrigo e a
lise mediada por complemento (LMCo), o mecanismo
domiciliação dos triatomíneos. Dessa forma o
de proteção imunológica humoral mais importante na
T. cruzi permanece predominantemente no ambiente
fase crônica da infecção humana.
- Profilaxia -
natural, circulando entre mamíferos e triatomíneos
- Quanto ao gambá {Didelphis marsupialis) foi Conforme vimos na epidemiologia, a profilaxia da
silvestres.
verificado por Maria Deane (1986) que nele são doença de Chagas está intimamente ligada à melhora
- Na Amazônia, o comportamento dos triatomíneos das condições de vida de nosso camponês, bem como
vistos dois ciclos distintos: um como acontece num
locais é bastante variado, dependendo do grau da à modificação do hábito secular de destruição da
reservatório normal, com presença de
alteração ambiental. No ambiente silvestre, os fauna e da flora. Sabemos que para se alcançar isto
tripomastigotas sanguíneos e amastigotas teciduais;
barbeiros e o T. cruzi circulam entre os animais e será necessário modificar a estrutura agrária
e outro ciclo completamente inusitado, pois nas
triatomíneos silvestres e raramente migram para as brasileira e a educação sanitária. São metas de
glândulas paranais (glândulas de cheiro, ricas em
tabas dos índios ou cafuas locais. Entre os índios difícil alcance, mas reputamos as de maior
secreção lipídica, localizadas ao lado do ânus)
dessa região foram detectados 12% de casos com relevância, pois são medidas básicas e capazes de
desenvolvese um ciclo idêntico ao dos barbeiros, com
sorologia positiva, e parte deles com sintomatologia evitar grande número de doenças.
presença de formas epimastigotas e tripomastigotas
cardíaca. Alguns estudos revelaram que os pacientes
metacíclicas. Essa descoberta explica alguns casos
Atualmente, as medidas que podem ser sugeridas entendendo-se ao domicílio + peridomicílio como uma diagnóstico não tenha sido estabelecido,
na profilaxia são: unidade epidemiológica. recomenda-se ainda que 6 meses após o nascimento
(tempo suficiente para o desaparecimento de IgG
■ Melhoria das habitações rurais: com mais amor ao ■ Combate ao barbeiro: conforme mostrado no
transferida passivamente ao feto) repita-se a PCR e
próximo e compreensão do valor da vida humana, a Capítulo 53, existem hoje várias técnicas que podem
a pesquisa de IgG para confirmar ou não o
construção de cafuas não é mais aceita em nossa ser aplicadas contra os insetos em geral. Com
diagnóstico. Assim a infecção é ainda recente e
sociedade. Nas situações em que não for possível relação aos triatomíneos, o seu combate por meio de
responde muito bem aos tratamentos usuais (cura
construir casa simples, de alvenaria, aquelas que inseticidas eficientes promove em curto prazo a
em aproximadamente 60% dos casos).
suportarem uma reforma poderiam ser rebocadas e eliminação do principal modo de transmissão.
caiadas. Não se pode perder de vista, no entanto, - O Brasil é um pais que atingiu um nível de controle
■ Controle do doador de sangue: sabendo-se que a
que a melhora habitacional é também uma medida da doença de Chagas bem considerável, reduzindo
transfusão sanguínea é o segundo modo de
paliativa no que diz respeito ao controle da doença consideravelmente a transmissão vetorial. Também
transmissão de importância epidemiológica, a sua
de Chagas se não for acompanhada de mudanças de houve avanços consideráveis no tocante a profilaxia
profilaxia é feita com base nos seguintes critérios:
comportamento dos moradores e se eles não da transmissão por transfusão sanguínea. Cada vez
• seleção dos doadores por exames sorológicos
reconhecerem as espécies de triatomíneos em todos mais a prevalência da infecção tem sido menor nas
(ELISA, RIFI, RHA, RFC) e exclusão dos positivos
os seus estádios para combatê-los. Algumas crianças e na população mais jovem.
ou suspeitos;
experiências vêm mostrando que casas de alvenaria
• adição ao sangue de violeta-de-genciana ou,
recém-construídas podem ser rapidamente povoadas
principalmente, o cristal-violeta na concentração de
por triatomíneos se mantida a desorganização
1:4.000. Essas drogas, 24 horas após a adição, são as
interna, lixo e os esconderijos necessários para
“únicas substâncias capazes de efetuar a
alojamento dos barbeiros. Além disso, é preciso que
quimioprofilaxia da transmissão do T. cruzi, por
a nova construção esteja ao alcance da população
transfusão de sangue”, sendo ao mesmo tempo
(baixo custo; utilização de matéria-prima disponível
isentas de efeitos colaterais. - E importante considerar que dois fatores
na região; repasse de tecnologia de construção) para
principais responsáveis pela domiciliação do vetor: o
possíveis reformas posteriores. Caso contrário, ■ Controle de transmissão congênita: embora
combate sucessivo de uma espécie que ao ser
estas modificações serão feitas da mesma maneira registrada desde 1949, o controle da transmissão
eliminada de uma residência passa a ser substituída
de antes, facilitando a recolonização das casas por congênita da doença de Chagas não tem sido feita na
por outra, e o desmatamento ostensivo que leva
triatomíneos silvestres. Tendo em vista a rotina médica pelo fato de seu papel na
alguma espécie de vetor ainda não domiciliada a
importância do peridomicílio na manutenção de epidemiologia da doença não estar bem determinado.
invadir as casas em busca de abrigo e fonte
grandes populações de triatomíneos muito próximos A rigor, todo recém-nascido de mãe com sorologia
alimentar.
às moradias, a melhora habitacional, a organização e positiva para T. cruzi deveria ser examinado
a higiene devem estender-se ainda aos seus anexos imediatamente após o nascimento, para pesquisa de - Todas as medidas profiláticas mencionadas acima
(galinheiros, chiqueiros, paióis, currais etc.), IgM anti-T. cruzi, exame de sangue a fresco e PCR fazem parte do que se denomina “ações da vigilância
e, caso positivo, tratado imediatamente. Caso o epidemiológica da doença de Chagas” que após a
descentralização dos serviços de saúde e extinção ■ Vacinação: a vacinação da doença de Chagas refere-se ao critério de cura, isto é, como se pode
da FUNASA, passaram a ser de responsabilidade continua em fase de estudos e tem resultados avaliar com segurança que o medicamento está sendo
dos municípios que nem sempre estão preparados contraditórios e pouco promissores. eficaz? (Ver critério de cura.) Há diferenças
para realizá-la. A vigilância epidemiológica (VE) regionais de suscetibilidade do T. cruzi à droga, o
Vê-se, portanto, que a profilaxia da doença de
constitui o conjunto de medidas que envolvem todas que na verdade reflete a diversidade genética do
Chagas deve ser feita integrando-se vários métodos.
as ações referentes à profilaxia, controle e parasito. índices de cura de 70% ou mais foram
assistência ao indivíduo infectado (passando pelo alcançados com o uso de nifurtimox e benzonidazol
São mencionados os principais:
diagnóstico, assistência clínica até o tratamento na fase aguda da infecção dependendo da região. Em
clínico, cirúrgico e etiológico). A VE, portanto é um ▪ Melhora da habitação, com adequada Minas Gerais, taxas de até 36,5% de cura com o
grande desafio para a saúde pública, pois exige higiene e limpeza da mesma benzonidazol foi alcançada em pacientes crônicos em
continuidade e aperfeiçoamento constantes devido a ▪ Combate ao triatomíneo por meio de função do critério de cura adotado. Cepas isoladas
mudanças epidemiológicas e ambientais que vão inseticidas e outros métodos auxiliares de pacientes, reservatórios e vetores silvestres
ocorrendo ao longo do tempo e refletindo na (combate biológico etc.) mostram-se naturalmente resistentes a drogas em
realidade vetorial. Consequentemente, novas ▪ Identificação e seleção dos doadores de condições experimentais, o que explicaria a
espécies de vetores podem se aproximar do sangue ou esterilização do sangue pela ocorrência de falha terapêutica no tratamento de
ambiente doméstico e até mesmo domiciliarem, pois violeta-de-genciana. pacientes
são inúmeras as espécies de vetores que convivem
- Um ponto, entretanto, deve ser salientado: as
com os animais no ambiente silvestre, passando
drogas são mais eficientes quando aplicadas em
progressivamente para o ambiente peridoméstico e - Tratamento - esquemas terapêuticos prolongados para a
finalmente invadindo o domicílio. O próximo passo - A terapêutica da doença de Chagas continua manutenção de níveis duradouros e a eliminação das
seria a colonização da residência. parcialmente ineficaz, apesar dos grandes esforços formas sanguíneas até a exaustão das formas
que vêm sendo desenvolvidos por vários laboratórios teciduais.
e pesquisadores, em especial de brasileiros,
- A descentralização das ações de saúde argentinos, chilenos e, mais recentemente, os - Entre as inúmeras drogas testadas, duas têm sido
preconizadas pelo SUS (Sistema Único de Saúde) venezuelanos. Diversas drogas vêm sendo testadas usadas, com cautela e acompanhamento criterioso.
trouxe algumas consequências negativas ao controle em animais e algumas delas têm sido usadas no São o nifurtimox (Lampit) e o benzonidazol
da doença de Chagas, decorrentes do despreparo homem, mas nenhuma consegue suprimir a infecção (Rochagan). Estes medicamentos são indicados
dos municípios para a sua manutenção, deficiência de pelo T. cruzi e promover uma cura definitiva em especialmente nos casos agudos que tenham ocorrido
agentes de saúde ou superposição de ações todos pacientes tratados devido à resistência por transmissão natural, por transfusão sanguínea ou
referentes a outras endemias/epidemias ou doenças, natural apresentada por algumas populações do acidental, reagudização por qualquer droga ou
o que deixa, em segundo plano, as ações de controle parasito. doença imunossupressora e na prevenção da
da doença de Chagas cujo início (fase aguda) pode transmissão por transplantes de órgãos. O objetivo
ser silenciosa e de evolução clínica lenta, progressiva - Além do problema da terapêutica específica, uma é, precocemente, diminuir ou eliminar a infecção, o
e maligna. dificuldade enfrentada pelos pesquisadores que tem sido mais fácil durante a fase aguda ou
infecção recente. Nos casos crônicos, apesar da - Muitos estudos têm sido conduzidos na procura de parasito e a sua biologia, resistência/suscetibilidade
pouca eficiência dos medicamentos, aconselha-se o terapias alternativas para o tratamento da doença ao tratamento quimioterápico, epidemiologia da
seu emprego, principalmente em crianças ou nos de Chagas. Alguns deles, como o uso dos derivados doença e suas características clínicas revelam a
acometidos com a forma indeterminada da doença ou azólicos. muito utilizados no tratamento de micoses, importância da caracterização molecular do T. cruzi.
formas cardíacas ou digestivas leves, visando a ou de citocinas associadas ao benzonidazol
melhora de prognóstico do paciente. (imunoquimioterapia) em modelos experimentais,
representam potenciais tratamentos para a
- Deve-se, por outro lado, esclarecer ao paciente o
infecção. Os azólicos inibem a síntese do ergosterol
período prolongado de uso, as reações de toxicidade
que é um dos constituintes de membrana do parasito.
que provocam e que diminuindo a parasitemia e os
Alguns compostos como o alopurinol e o itraconazol
ciclos endógenos haverá, pelo menos, a possibilidade
têm sido empregados no tratamento de humanos e
de redução das lesões.
modelos experimentais infectados, oferecendo
■ Nifurtimox: age contra as formas sanguíneas e resultados promissores. Inúmeros compostos estão
parcialmente contra as formas teciduais. É sendo submetidos a ensaios e triagens clínicas.
administrado via oral, sob a forma de comprimido na Dentre eles, o itraconazol, o posaconazol, o
dose 8 a 12 mg/kg por dia, até 90 dias. Os efeitos cetozonazol e um derivado do ravuconazol já foram
colaterais (que aumentam com tratamento mais submetidos à triagem clínica, porém os resultados
prolongado) são anorexia, emagrecimento, náuseas, foram desanimadores porque a eficácia em humanos
vômitos, alergia cutânea, parestesias irreversíveis, foi menor que a obtida com o benzonidazol.
polineuropatia. Esta droga foi recentemente Atualmente tem sido avaliada experimentalmente a
retirada do mercado. associação das drogas convencionalmente usadas
(benzonidazol, nifurtimox) entre si aos novos
■ Benzonidazol: possui efeitos apenas contra as
compostos em estudo com o objetivo de melhorar a
formas sanguíneas. Deve ser empregado em
eficácia terapêutica.
comprimidos, por via oral, na dose de 5 a 8 mg/kg
por dia, durante até 60 dias. Os efeitos colaterais - Do ponto de vista experimental, também se
observados são: anorexia, perda de peso, vertigens, verifica uma maior suscetibilidade de parasitos do
dermatites urticariformes, cefaleia, sonolência e grupo TcII e os híbridos (TcV e TcVI) ao
dores abdominais, hiperexcitabilidade, depressão benzonidazol ou nifurtimox, os únicos compostos
medular, polineuropatia (mais frequente em idosos e empregados no tratamento humano da doença de
de efeito cumulativo). A Roche interrompeu sua Chagas, em relação aos parasitos do grupo Tcl. Isto
produção que foi transferida ao Laboratório LAFEPE justificaria porque estes compostos sempre foram
em Recife, que ficou com a responsabilidade de mais eficazes em países tais como Chile e Argentina.
produzi-lo. As correlações encontradas entre a genética do
~~

(TODO o resumo, cada palavra rs)


Referência: NEVES, David Pereira; MELO, Alan
Lane; LINARDI, Pedro Marcos; VITOR, Ricardo
W. Almeida. Parasitologia Humana. 13ª ed. São
Paulo: Atheneu, 2016.

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