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Crônica do retorno ao trabalho presencial

Três de Fevereiro do ano de dois mil e vinte e dois. Exatos um ano e dez meses e vinte
dias após o início do isolamento social. A pandemia acabou? Não! Todos estão
vacinados? Não. Estamos num novo cenário, de harmonia e prosperidade? NÃO! Mas, as
escolas devem continuar fechadas? Bom, a esta última pergunta preciso refletir sobre o
que vivi nestes dois primeiros dias letivos.

Dois míseros dias de atividades presenciais, mas, como me impactaram! Sete horas da
manhã: chegada de servidores e estudantes. Queria abraçar a todos! Mas, a necessidade
de manter o distanciamento para preservação das vidas falou mais alto. Na portaria da
instituição alguns colegas conferiam listas de presenças e davam as primeiras
recomendações.

Fui direto ao espaço de professores, ao chegar, vi uma pessoa que não reconheci e
perguntei: “Quem é você?” Logo a colega se apresentou: “Prazer, sou Alessandra, a que
até já te emprestou o apartamento.” Susto enorme! Rosto, altura, tez da pele, tudo
diferente sem os filtros virtuais. Não resisti e, pronto: abracei! Resposta dela. “Professor,
desenvolvi nervoso de receber abraço.” Eu, da minha parte, fui tomado por grande
vergonha e pedi desculpas. Ela está certa.

O vírus ainda está na dianteira e precisamos mudar até a forma de demonstrar bem-querer
(difícil para uma pessoa do afeto tátil como eu, mas, enfim. Tenho que aprender!)

Neste primeiro dia não tivemos


grandes contatos com os estudantes.
Foi de momentos coletivos para
apresentação da instituição aos
novatos e de trocas de ideias na
quadra da instituição. Tudo em
espaço aberto e com o devido
distanciamento. Foi o dia de
preparação dos corpos e das almas.

O segundo dia foi de encontro com


estudantes nas salas. Me apresentei,
afinal, era turma de novatos.
Comecei a perguntar sobre (Estudantes na quadra de esportes do IFMG Campus
principais dúvidas que estes tinham Avançado Ipatinga. 03/02/2022. Acervo pessoal)
em relação à escola. Ninguém
levantou a mão. Insisti. Uma estudante pediu para falar. Com um pouco de timidez ela
me perguntou:

“Professor, posso usar fichário?”

Espanto me tomou! Mas, óbvio, pensei em seguida. Para estes estudantes que estavam
agora começando o Ensino Médio a última vez que estiveram em sala de aula tinham
doze para treze anos no oitavo ano do Ensino Fundamental. Mais do que justa a pergunta!
Respondi com outra pergunta. “O que você acha?”. Em seguida, um estudante perguntou
como deveria dividir as matérias nos cadernos e quantas folhas deveria reservar para
História.

Respondi a todas as questões com outras. Ao final, um estudante mais sagaz comentou:
“Professor, o senhor está respondendo nossas perguntas com outras perguntas. Assim,
não saberemos o que é certo ou errado.” Prontamente falei: “Perfeito. O que é o certo e o
errado nas escolas no novo momento que vivemos? Vamos construir nossas regras.”

Lembrei de imediato do meu principal papel: escutar e estimular. Não há certo ou errado
antes da ação. O certo foi a escuta e acolhida necessária às pessoas de direito: estudantes.

(Leonardo Machado Palhares)

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