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FACULDADE VENDA NOVA DO IMIGRANTE

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

VENDA NOVA DO IMIGRANTE - ES


SUMÁRIO

1 SOCIOLOGIA: O QUE É? .................................................................................... 6

1.1 Antecedentes históricos ................................................................................. 6

2 REVOLUÇÃO INDUSTRIAL ................................................................................. 8

2.1 Divisão de classes. ........................................................................................ 8

2.2 As mudanças no mundo do trabalho .............................................................. 9

2.3 O sentido do trabalho ................................................................................... 10

3 HOMEM E NATUREZA ...................................................................................... 12

3.1 Os Séculos XVIII e XIX: Novo caráter do trabalho e suas relações no filme
Tempos Modernos ................................................................................................. 13

4 IMAGENS DE INADEQUAÇÃO PARA O TRABALHO NO FILME ..................... 15

5 O PAPEL POLÍTICO DA GREVE ....................................................................... 17

5.1 Revolução Francesa .................................................................................... 19

5.2 Direitos civis ................................................................................................. 20

6 AUGUSTO COMTE: SURGE A CIÊNCIA DA SOCIEDADE............................... 21

6.1 Positivismo ou cientificismo.......................................................................... 21

7 O POSITIVISMO................................................................................................. 23

7.1 A lei dos três estados ................................................................................... 24

8 A EVOLUÇÃO DA SOCIEDADE ........................................................................ 25

8.1 Ciência e senso comum ............................................................................... 26

9 A INFLUÊNCIA DO POSITIVISMO .................................................................... 28

10 ENTENDENDO O CONCEITO ........................................................................ 29

10.1 Como Durkheim concebe a sociedade ........................................................ 30

11 SOCIEDADE MECÂNICA E ORGÂNICA ........................................................ 31

12 POSITIVISMO E EDUCAÇÃO ........................................................................ 32


13 O POSITIVISMO E A ESCOLA ....................................................................... 33

13.1 A Influência do Positivismo no Brasil ........................................................... 35

14 MARX WEBER: O SOCIÓLOGO DA BUROCRACIA E DA


RACIONALIDADE........... .......................................................................................... 36

15 AÇÃO SOCIAL ................................................................................................ 38

15.1 Outro conceito importante de Weber: Os tipos ideais .................................. 42

16 RACIONALIZAÇÃO DO MUNDO SOCIAL ...................................................... 43

16.1 Karl Marx: A Sociologia da luta de classes .................................................. 44

17 CRÍTICA DE MARX AO CAPITALISMO.......................................................... 46

17.1 Continua a crítica de Marx ao capitalismo.................................................... 47

17.2 A atividade humana: A prática ..................................................................... 47

17.3 Atenção no Conceito Importante de Marx .................................................... 48

17.4 O que importava para Marx então? .............................................................. 48

17.5 Ideologia para Marx significa de acordo com o sociólogo Michael Lowy: .... 49

18 A LUTA DE CLASSES..................................................................................... 50

18.1 Propriedade privada dos meios de produção capitalista .............................. 51

19 A CRÍTICA AO CAPITALISMO NA ARTE ....................................................... 52

20 A INFLUÊNCIA DA TEORIA MARXISTA ........................................................ 55

21 MARX E A EXPANSÃO DO CAPITALISMO ................................................... 57

21.1 O que dizer do proletariado na teoria Marxista? .......................................... 58

22 O ESTADO NA TEORIA MARXISTA .............................................................. 60

22.1 Como o proletário adquire a consciência de classe? ................................... 61

23 REIFICAÇÃO, O QUE É? ................................................................................ 63

23.1 Conhecimento de Marx aplicados à Educação ............................................ 63

24 A TEORIA DE DURKHEIM NA EDUCAÇÃO ................................................... 65

25 O PAI DA SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO: DURKHEIM ................................. 65

26 WEBER E A EDUCAÇÃO ............................................................................... 68


27 OS GRANDES SOCIÓLOGOS DO BRASIL ................................................... 69

27.1 a) Florestan Fernandes ................................................................................ 70

27.2 O pai da sociologia brasileira ....................................................................... 71

28 DARCY RIBEIRO: O BRASIL COMO MISSÃO ............................................... 73

28.1 Gilberto Freyre: autor de Casa Grande & Senzala ....................................... 74

28.2 Você sabe o que é patrimônio imaterial? ..................................................... 75

28.3 Sergio Buarque de Holanda ......................................................................... 76

29 HOMEM CORDIAL: A IDENTIDADE BRASILEIRA NA VISÃO DE SÉRGIO


BUARQUE................................................................................................................. 76

29.1 Caio Prado Junior. ....................................................................................... 77

30 FERNANDO HENRIQUE CARDOSO ............................................................. 79

30.1 No que consiste a teoria do desenvolvimento de Fernando Henrique


Cardoso? ................................................................................................................ 79

31 SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO ....................................................................... 80

32 CONCEITO DE EDUCAÇÃO .......................................................................... 84

33 CAMPO DA SOCIOLOGIA .............................................................................. 87

34 DESCOBERTA DA INFÂNCIA ........................................................................ 90

35 A FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA .................................................................. 93

36 REFLETINDO SOBRE AS CONCEPÇÕES DE EDUCAÇÃO ......................... 96

37 REPRODUÇÃO NA ESCOLA ......................................................................... 99

37.1 Pierre Bourdieu .......................................................................................... 100

38 ESCOLA: DESIGUALDADE LEGÍTIMA? ...................................................... 102

39 A TRANSMISSÃO DO CAPITAL CULTURAL ............................................... 103

40 RENDA E CULTURA: ATRIBUTOS FAMILIAR ............................................. 104

41 A ESCOLHA DO DESTINO E A QUESTÃO DO ETHOS FAMILIAR ............ 106

42 COMO A ESCOLA CUMPRE A FUNÇÃO DE CONSERVAR AS


DESIGUALDADES SOCIAIS? ................................................................................ 109

43 VIOLÊNCIA SIMBÓLICA ............................................................................... 112


44 BOURDIEU E A EDUCAÇÃO ....................................................................... 113

45 CAPITAL CULTURAL.................................................................................... 114

46 A SOCIOLOGIA NA ESCOLA ....................................................................... 116

47 PAULO FREIRE: A IMPORTÂNCIA DO PENSAMENTO EDUCACIONAL


BRASILEIRO. .......................................................................................................... 118

48 FREIRE E BOURDIEU .................................................................................. 121

49 ESCOLA: UM AMBIENTE POLÍTICO ........................................................... 124

50 ENSINAR É TRANSFORMAR....................................................................... 126

51 A SOCIEDADE NA VISÃO DE FREIRE ........................................................ 129

52 FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA PARA OS PIONEIROS DA ESCOLA


NOVA.............. ........................................................................................................ 131

53 ENTENDENDO A POLÍTICA DA EDUCAÇÃO .............................................. 134

54 PARA ENTENDER A SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO NO BRASIL .............. 137

55 ESCOLA TECNICISTA.................................................................................. 138

56 E COMO FICA A FORMAÇÃO? .................................................................... 142

57 PENSANDO NA AVALIAÇÃO ....................................................................... 144

58 FORMAÇÃO DOCENTE ............................................................................... 145

59 RETRATO DA EDUCAÇÃO NA SOCIEDADE BRASILEIRA ........................ 147

60 PARA VOCÊ ENTENDER O QUE SIGNIFICA CAPITAL HUMANO: ............ 150

61 CRÍTICA À TEORIA DO CAPITAL HUMANO ............................................... 152

61.1 Retrospectiva a partir dos clássicos: .......................................................... 153

62 OS CLÁSSICOS DA SOCIOLOGIA .............................................................. 156

63 FECHANDO COM CHAVE DE OURO .......................................................... 158

64 MORIN E A EDUCAÇÃO .............................................................................. 160

65 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ............................................................. 164


1 SOCIOLOGIA: O QUE É?

Fonte: educacaodialogica.blogspot.com.br

A sociologia é antes de tudo uma ciência. Uma ciência social. Neste sentido
você deve compreender que esta disciplina não pode ser identificada como
simplesmente estudo da sociedade como é comumente definida pelo senso comum.
Deve-se, perguntar, portanto: que estudo e para qual sociedade? Significa dizer que
por ser ciência ela possui um método de investigação. Mas antes de saber sobre os
métodos de investigação e o paradigma do conhecimento da sociologia, é necessário
reconhecer o universo histórico do seu surgimento.

1.1 Antecedentes históricos

A sociologia é parte integrante das ciências sociais juntamente com a


antropologia e a ciência política. Isto significa que estes três disciplinas tem em
comum tanto o paradigma de sua construção e constituição quanto sua metodologia.
A busca do entendimento sobre a sociedade é possível imaginar, é um exercício que
sempre esteve presente na vida das relações humanas, vimos que mesmo na

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Grécia, com os Sofistas, chamados também de pedagogos já se discutiam fatos
sociais, políticas e economia. Pode-se dizer, então, que já existia a sociologia como
ciência?

Fonte: pedagogia2015-anhanguera.blogspot.com.br

A sociologia como disciplina científica vai surgir no início do século XIX, como
uma resposta acadêmica para o novo desafio da modernidade: o mundo estava se
tornando cada vez menor e mais integrado, a consciência das pessoas sobre o
mundo estava aumentando e dispersando. Os sociólogos não só esperavam
entender o que mantinha os grupos sociais unidos, mas desenvolver um “antídoto”
para a desintegração social.
O termo sociologia foi criado pelo Francês Auguste Comte, que associou a
palavra sócio do latin socius (associação) e o grego lógus (estudo). Ele pretendia
juntar todos os estudos sobre a humanidade, incluindo história, economia e
psicologia.
Dois eventos foram marcantes para o início desta ciência: A revolução
Industrial e a Revolução Francesa.

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2 REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

Fonte:lingua-bocaberta.blogspot.com.br

A Revolução Industrial ocorrida na Europa (principalmente na Inglaterra) no


século XVIII, mudou radicalmente a estrutura da sociedade. Homens passaram a ser
substituídos por máquinas, que produziam mais e custavam muito menos. Isto fez
com que os problemas sociais aumentassem, pois muitas pessoas que antes
trabalhavam de forma artesanal, ficaram sem emprego. Eram acostumadas a uma
forma mais lenta de vida, no meio rural, trabalhando apenas para sobreviver da
terra. Agora passariam a trabalhar muitommais para os empresários, ganhando às
vezes menos do que estavam ganhando antes.

2.1 Divisão de classes.

A sociedade se dividiu em Burgueses, os que detinham as fábricas e


controlavam a economia, e os Proletariados, que tinham a força de trabalho.
O capitalismo se fortaleceu quem produzisse mais, estava acima dos outros.

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Fonte: www.cinevest.com.br

2.2 As mudanças no mundo do trabalho

Fonte: kdfrases.com

A revolução industrial mudou a forma e a estrutura do trabalho e das relações


de produção. Da manufatura ao trabalho nas fábricas e nas indústrias. Este ponto é
de fundamental importância para o seu entendimento das consequências que esta
revolução trouxe para a humanidade de forma geral, mesmo que ainda no seus
primórdios é possível visualizar em longo prazo fortes transformações sentidas até
hoje na estrutura de produção e reprodução social.

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2.3 O sentido do trabalho

Fonte: pt.slideshare.net

A origem da palavra trabalho tem sido comumente atribuída ao latim tripalium,


instrumento de tortura utilizado para empalar prisioneiros de guerra e escravos
fugidios. O sentido da palavra trabalho atribuído há séculos passados é
responsável por inúmeros preconceitos e padrão relacionados à atividade que
tem atribuído uma separação hierárquica de funções, que irá se refletir
posteriormente em desigualdades sociais.
A origem da palavra trabalho tem sido comumente atribuída ao latim tripalium,
instrumento de tortura utilizado para empalar prisioneiros de guerra e escravos
fugidios. Assim, em sua própria terminologia, o trabalho carrega uma carga de
esforço e desprazer, o que é extremamente compreensível em sociedades onde
predominavam o trabalho forçado e que atividades produtivas eram desprezadas e
executadas tão somente por escravos como na Grécia e Roma antigas, cabendo aos
homens livres a execução de atividades intelectuais ligadas às ciências e às artes.
Pode-se afirmar que o trabalho é o ato que o homem executa visando
transformar conscientemente a natureza, é uma ação em que o homem media,
regula e controla seu metabolismo com a natureza.

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Fonte: kdfrases.com

A origem do trabalho encontra-se na necessidade de a humanidade satisfazer


suas necessidades básicas, evoluindo para outros tipos de necessidades, mesmo
supérfluas. Assim, trabalhar é produzir riqueza, o que é necessário em todos os
modos de produção, seja no comunal primitivo, no escravista, no feudal, no
capitalista, e mesmo nas experiências socialistas. O que muda é a forma de produzir,
a tecnologia utilizada, e a relação entre o sujeito que produziu e o que se apropria do
que foi produzido, que varia de acordo com a forma de organização da sociedade.
Uma sociedade não vive sem o trabalho, na verdade, pode-se dizer que o
homem evoluiu de sua condição animal até sua condição atual devido ao seu
trabalho. Engels (s/d, p. 270) afirma que o homem modifica sua relação com a
natureza devido ao trabalho. Se na condição animal ele tinha de submeter-se às leis
da natureza, através do trabalho ele busca dominar a natureza, transforma- a em
proveito próprio. Passa de ser dominado a ser dominante devido ao
desenvolvimento do trabalho.

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3 HOMEM E NATUREZA

O próprio desenvolvimento do seu corpo, do cérebro, da fala, e da relação


entre os homens origina-se do trabalho. Desta forma, Engels afirma que o trabalho
criou o homem e o homem criou o trabalho, sendo esta uma ação exclusivamente
humana, pois assume uma forma consciente, não intuitiva, pois antes de produzir
um objeto é necessário ao trabalhador elaborálo inicialmente em seu cérebro para
só então partir para a execução. Já as atividades que os animais executam (a
aranha e sua teia, o joão-de-barro e sua casa) são meramente intuitivas, daí trabalho
ser uma atividade exclusiva da espécie humana.
Para Marx, o único bem que o trabalhador possui devido a não ser
proprietário de meios de produção é a sua força de trabalho, a sua capacidade de
trabalhar, sendo por isso que o trabalhador é obrigado a vender sua força de
trabalho ao capital. Ao contrário de sociedades pré-capitalistas como o feudalismo e
a escravidão, no capitalismo o trabalhador entrega sua capacidade de trabalhar por
um tempo determinado através de um contrato de trabalho.
Além do estabelecimento de um contrato de assalariamento que regula as
relações capital-trabalho, algumas diferenças podem ser encontradas no trabalho
sob o modo de produção capitalista em comparação com sociedades pré-
capitalistas. Como já visto, o trabalho era desprezado na Grécia e Roma antigas,
fazendo com que a socialização dos indivíduos ocorresse fora do trabalho, enquanto
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na sociedade capitalista a socialização dos indivíduos ocorre exatamente nas
relações de trabalho.
Percebe como o sentido atribuído ao trabalho vai sofrer alterações ao longo
da história? Para você entender, principalmente o pensamento de Karl Marx, que é o
sociólogo do conflito e da luta de classes, é imprescindível que você compreende
antes como este autor considerava o trabalho. Para ele o elemento chave para a
compreensão da dinâmica da sociedade capitalista. Neste sentido, sugiro que você
faça anotação no seu caderno da disciplina porque esta conhecimento lhe será útil
mais tarde, tanto para a realização das suas atividades, quanto para entender a
sociologia da educação dos autores pós Marx.

Fonte: slideplayer.com.br

3.1 Os Séculos XVIII e XIX: Novo caráter do trabalho e suas relações no filme
Tempos Modernos

A revolução industrial dos séculos XVIII e XIX teve um peso determinante, com
a formação de exércitos de trabalhadores que desprovidos de qualquer propriedade
são obrigados a abandonar a vida do campo, sendo jogados nas cidades em busca
de empregos assalariados junto às nascentes indústrias.

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O trabalho então assumiria um novo caráter, de atividade indigna no passado,
passam a ser vistos como indignos aqueles que não trabalham, taxados como
vagabundos os que não se submetem a trabalhar para o capital, mesmo que o
próprio capital não tenha interesse
em absorver todo o trabalho posto à sua disposição. Assim, os capitalistas
sempre encontram um grupo de trabalhadores à margem do processo produtivo,
mas sempre ávidos por incorporar-se a ele, a estes trabalhadores Marx denominou de
“exército industrial de reserva”.
Em “Tempos modernos” (“Modern times”), filme de Charles Chaplin de
1936, o diretor mostra com maestria os efeitos que o desenvolvimento
capitalista e seu processo de industrialização trouxeram à classe trabalhadora.
Como diz o texto de introdução do filme, “Tempos modernos” é uma história
sobre a indústria, a iniciativa privada e a humanidade em busca da felicidade.
A temática de “Tempos modernos” custou a Chaplin uma série de
perseguições por parte da CIA, juntamente com a acusação de simpatias
comunistas. Além disso, havia recusado naturalizar-se norte-americano
argumentando ser um “cidadão do mundo” o que agrava ainda mais sua situação.
Chaplin passa a constar na “lista negra” de Hollywood durante a perseguição
macarthista, o que torna sua situação de trabalho nos EUA insustentável (seus
filmes eram proibidos), levando-o a abandonar definitivamente os EUA em 1952.

Fonte: mansaodocinefilo.blogspot.com.br
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No filme “Tempos Modernos”, o vagabundo Carlitos, ironicamente, encontra-
se na condição de operário. É ao auge do predomínio do padrão de acumulação
taylorista-fordista, em que os trabalhadores têm suas habilidades substituídas por
um trabalho rotineiro e alienado. É o predomínio da esteira rolante de Ford, do
cronômetro de Taylor, do operário-massa.

4 IMAGENS DE INADEQUAÇÃO PARA O TRABALHO NO FILME

A inadequação de Carlitos com o trabalho alienado perpassa o tempo todo do


filme. Na condição de operário ele tenta se adaptar, se esforça para inserir- se
naquele novo mundo de produção em massa, máquinas gigantescas, exploração do
trabalho, mas também de greves e de organização sindical. Esta inadequação fica
presente logo no início do filme, quando um bando de ovelhas brancas é mostrado e
apenas uma delas tem a cor preta, certamente está representa o próprio Carlitos. A
cena do bando de ovelhas é misturada com a cena dos operários entrando na
fábrica, como se fossem animais indo para o abate, só que, na verdade, vão para a
produção na fábrica.
Como operário da fábrica, Carlitos se depara com a esteira de produção
fordista que aumenta o ritmo de produção a todo instante, tornando a relação
homem-máquina extremamente conflituosa, até o ponto em que o próprio Carlitos é
engolido pela máquina, saindo de lá em uma condição de insanidade, momento em
que ele abandona a condição de quase um autômato (repetindo um gesto mecânico
mesmo quando não está trabalhando, fruto da alienação do trabalho) para uma
situação de confronto direto em que ele sabota a produção, insurge-se contra o
patrão e é internado como louco.

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Fonte: historiaeciajg.blogspot.com.br

Em outras passagens, a inadequação de Carlitos com o trabalho alienado fica


presente nas tantas tentativas de trabalhar que o personagem enfrenta. Quando
arranja trabalho no caís após sair do hospício, consegue em um simples gesto lançar
um navio ao mar. Quando o personagem vira vigia na loja de departamentos, além,
de não conseguir impedir um assalto, consome produtos da loja, leva a amiga para o
interior da loja, e dorme no serviço. Trabalhando como auxiliar de mecânico, Carlitos
demonstra a todo instante sua inadequação com a simples tarefa de ajudar o
mecânico chefe, fazendo com que este seja também engolido pela máquina.
Quando assume o papel de garçom, também é nítida a sua incapacidade de servir
uma mesa.
Na verdade, Carlitos só consegue mostrar sua identificação com atividades
nada alienantes e que fogem ao domínio da máquina sobre o trabalho. Quando ele
está na loja de departamentos e mostra uma grande habilidade em patinar, e quando
está no restaurante trabalhando como garçom e que improvisa um número musical
cômico. Neste momento percebe-se que em ao menos em uma atividade ele é bom,
em um tipo de trabalho que requeira criatividade e não uma mera execução de
tarefas formulada por terceiros. Só então, ele é aplaudido por todos e inclusive,
parabenizado pelo patrão.
A voz de Carlitos é ouvida pela primeira vez no cinema quando ele canta.
Chaplin opunha-se ao cinema falado, achando que este não duraria muito tempo. Na
verdade, seu temor era com seu próprio personagem, adequado muito mais ao
gestual do que a fala. Somente depois de 10 anos de existência, é que em “Tempos
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modernos”, Chaplin faria sua primeira experiência com o cinema falado, ou no seu
caso, “semi-falado”. Ouve-se o ruído das máquinas, o som mecânico da “máquina de
comer”, do alto-falante em que o patrão dirige-se aos funcionários, mas em nenhum
momento um personagem fala, que não seja através de uma máquina.
Mesmo quando Carlitos canta ele expressa uma crítica ao cinema falado,
quando esquece a letra, sua amiga grita a ele: “Cante! Dane-se a letra!”, e é o que
ele faz, mostra que mesmo sem palavras, ou no caso, usando palavras sem sentido,
mas caprichando no gestual, faz com que todos consigam compreender uma história.
Outro aspecto que chama atenção no filme é o predomínio completo do
trabalho abstrato sobre o trabalho concreto, ou seja, ao capital não interessa a forma
como está sendo produzido ou que está sendo produzido, somente importa é que
está sendo criado valor. Daí não sabermos exatamente qual a mercadoria que
Carlitos produz, e certamente, nem mesmo os operários da fábrica o sabem. Assim,
não existe qualquer identificação do trabalhador com seu trabalho, nem com a
mercadoria produzida por ele.

5 O PAPEL POLÍTICO DA GREVE

Fonte: www.youtube.com

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Mesmo com toda a crítica social que é feita, a reação do personagem Carlitos
ao sistema é feita de maneira individual e não coletiva. Quando eclode a Grande
Depressão de 1929, que coincide com a saída do personagem do hospício, é levado
à prisão acusado de ser líder comunista por empunhar uma
bandeira (pretensamente vermelha) em frente a um grupo de trabalhadores
que fazia uma passeata na rua. Carlitos é visto como o cidadão comum, não
politizado, mas que pelo simples gesto de buscar devolver a bandeira que tinha
caído do caminhão é acusado de líder da revolta operária. Em outro momento,
quando eclode uma greve na fábrica em que trabalha, também por acidente é
acusado de agressão a um policial que viria reprimir a greve.
No final do filme, quando sua amiga indignada com a situação de
perseguição, miséria e desemprego pergunta: “para que tudo isso?” ele responde:
“levante a cabeça, nunca abandone a luta”. No entanto, a reação dos dois não é o
enfrentamento contra o capital, é retirar-se da cidade, indo em direção ao campo.
Ao som da belíssima “Smile”, de autoria de Chaplin, Carlitos dá as costas
para a para produção em massa, para as gigantescas máquinas que desempregam
trabalhadores, para as suntuosas lojas com suas escadas rolantes, para o trabalho
alienado. Seria o último filme mudo de Chaplin e também a despedida do
personagem Carlitos, que havia se tornado obsoleto em um momento em que o
cinema falado tomava conta dos cinemas do mundo todo. Era o sinal dos tempos. Os
tais “tempos modernos”. O que representa o tempo da urbanização e do advento dos
problemas sociais.
O que conhecemos hoje como modernidade foi exatamente marcado por
acontecimentos que fundaram e consolidaram o sistema capitalista de produção, ou
seja: a relação capital X trabalho, o trabalho assalariado, a propriedade privada dos
meios de produção, o consumo, o investimento em tecnologia, enfim, fatos
relacionados â revolução científica e industrial.
São as consequências destes acontecimentos sobre a sociedade como
desemprego, desigualdades, injustiças, prostituição, mendicância, etc, que vai fazer
com que Auguste Comte decida por criar a disciplina sociologia.
Sugiro que se você ainda não viu o filme, que veja, ou veja novamente com
um novo olhar a partir do que lido.

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5.1 Revolução Francesa

A Revolução francesa é o outro evento que junto à Revolução Industrial


representa um marco histórico importante para o surgimento da sociologia.
A Revolução Industrial é um marco em termos econômicos e tecnológicos, e
a Revolução Francesa é importante no aspecto político, com a queda da bastilha
inaugurou a passagem de uma sociedade de privilégios para uma sociedade de
direitos, sobretudo na dimensão formal, representada pelo documento produzido e
bastante significativo que é a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.
Usualmente observa esta declaração ser apenas citada sem conhecer a fundo
o seu teor e a sua importância para o que estamos estudando nestas primeiras aulas
que é as consequências dos acontecimentos dos Séculos XVIII e XIX para o
surgimento da sociologia. Na revista Nova Escola é possível encontrar uma reflexão
acerca deste documento, conforme segue abaixo:
A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão foi anunciada ao público
em 26 de agosto de 1789, na França. "Ela está intimamente relacionada com a
Revolução Francesa. Para ter uma ideia da importância que os revolucionários
atribuíam ao tema dos direitos, basta constatar que os deputados passaram cerca de
10 dias reunidos na Assembleia Nacional francesa debatendo os artigos que
aís ainda a ferro e a fogo após a tomada da Bastilha em 14 de julho do mesmo
ano", explica o professor Bruno Konder Comparato, professor no Departamento de
Ciências Políticas da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade da
Cidadania Zumbi dos Palmares.
Havia urgência em divulgar a declaração para legitimar o governo que se
iniciava com o afastamento do rei Luís XVI, que seria decapitado quatro anos depois,
em 21 de janeiro de 1793. "Era preciso fundamentar o exercício do poder, não mais
na suposta ligação dos monarcas com Deus, mas em princípios que justificassem e
guiassem legisladores e governantes", diz o professor.

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5.2 Direitos civis

A primeira geração de direitos humanos diz respeito à conquista por direitos


individuais e inaugura o marco histórico da sociedade fundada em direitos contra o
privilégio.
Você pode observar que se trata de direitos de primeira geração, ou seja,
direitos civis, que diz respeito ao indivíduo, à pessoa.
A importância desse documento nos dias de hoje é ter sido a primeira
declaração de direitos e fonte de inspiração para outras que vieram posteriormente,
como a Declaração Universal dos Direitos Humanos aprovada pela ONU
(Organização das Nações Unidas), em 1948. Prova disso é a comparação dos
primeiros artigos de ambas:

O Artigo 1º da Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789,


como visto acima, diz: Os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos.
As distinções sociais só podem fundar-se na utilidade comum.

O Artigo 1º da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948:


Todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de
razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de
fraternidade.

Foi também na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão que o lema


da República Francesa se inspirou: liberdade, igualdade, fraternidade. Dos três, a
igualdade era o mais importante para os revolucionários.

Fonte: novaescola.org.br

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6 AUGUSTO COMTE: SURGE A CIÊNCIA DA SOCIEDADE

Nas aulas anteriores você viu o contexto do surgimento da sociologia, agora


você irá conhecer os métodos sociológicos. Atenção, vamos tentar entender de
forma sistemática. Não se esqueça de registrar no seu caderno.

6.1 Positivismo ou cientificismo

Fonte:articulo.mercadolibre.com.ar

Filósofo do Século XIX, Comte tinha na base na sua filosofia uma visão
evolucionista, ou seja, acredita que a história evolui para o progresso, que a
humanidade caminha para a perfeição. Contudo, como você viu na segunda vídeo
aula o horizonte desta perspectiva era a Europa, demonstrando assim uma visão um
tanto quanto etnocêntrica. E o que é o etnocentrismo?

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Fonte: www.youtube.com

Etnocentrismo é a atitude de enxergar o mundo com os parâmetros da sua


própria cultura.
O objetivo de Comte era reorganizar o conhecimento humano a partir da ideia
de ordem e progresso. Como você pode perceber ele teve grande influência na
sociologia brasileira, não é por acaso que os dizeres da bandeira nacional são:
ordem e progresso.
Comte fez uma releitura, digamos assim da realidade da época na França, num
período turbulento de revoluções e mudanças como visto. Esta formulação parte do
princípio que é possível aplicar as leis naturais ao estudo da sociedade. Hoje esta
ideia é rebatida por muitos estudiosos, inclusive pelo próprio Karl Marx, considerado
também um clássico da sociologia, No entanto, é fundamento do positivismo é a
ideia de que tudo o que se refere ao s a b e r h umano pode ser sistematizado
segundo os princípios adotados como critério de verdade para as ciências exatas e
biológicas.
Este conjunto de ideias descritas acima se refere ao método que Comte irá
propor e que mais tarde será aprofundado por Emile Durkheim. Como dito, as leis
naturais se aplicaria também aos fenômenos sociais, que deveriam ser reduzidos a
leis gerais como as da física. Para Comte, a análise científica aplicada à sociedade é
o cerne da sociologia, cujo objetivo seria o planejamento da organização social e
política.

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7 O POSITIVISMO

Fonte: slideplayer.com.br

O método da ciência de Comte consiste em observar os fenômenos por meio


da experiência sensível, e como você viu, este é o único, de acordo com o autor,
capaz de produzir estados concretos e científicos, tomando como base o mundo
físico ou material.
Para Augusto Comte, o desígnio único da história é o progresso do espírito
humano. Se este dá unidade ao conjunto do passado social, é porque a mesma
maneira de pensar deve se impor em todos os domínios. Auguste Comte conclui que
o método positivo, baseado na observação, na experimentação e na formulação de
leis, deve ser estendido aos domínios que são deixados às explicações por meio de
seres transcendentais ou entidades ou ainda as causas últimas dos fenômenos. Para
ele há um modo de pensar, o positivo, que tem validade universal, tanto em política
como em astronomia.

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7.1 A lei dos três estados

O estágio final da inteligência humana é o estágio positivo.


Observe:
1. No primeiro estado, o teológico tudo se explica pela ação dos deuses,
mitos, enfim, de forma não científica;
2. No segundo, já começa a curiosidade e a pergunta sobre os fatos;
3. E, por fim, o último estado é aquele em que a explicação acontece.
Tem-se a verdade sobre os fatos, se tem a ciência e seu método.
Nesse sentido a humanidade atravessa várias etapas até atingir a etapa final.
E o que o positivismo faz é descobrir as leis que agem por traz dos fatos e estas
podem ser apreendidas da mesma forma que se apreende o conhecimento de um
evento natural.
A queda de um corpo, por exemplo, pode ser explicada espontaneamente de
forma positiva. Mas a filosofia da observação, da experimentação, da análise e do
determinismo, não podia se fundamentar na explicação autenticamente cientifica
desses poucos fenômenos.
No referido curso de Comte, ele afirma que, em seu conjunto a história é, na
essência, o dever da inteligência humana. Assim, o progresso necessário do espírito
é o aspecto essencial da história da humanidade. Ou seja, o progresso é uma
realidade.
Na dinâmica da sociedade quando se passa de uma etapa para outra ocorre
uma força que move a contradição entre os diferentes elementos da sociedade. As
grandes fases históricas da humanidade são dadas pela forma de pensar; a etapa
final é a do positivismo universal, e a impulsão última do dever e nesse sentido o
positivismo faz a crítica às sínteses provisórias do da teologia e da metafísica.
A história humana é compreendida numa dimensão única. E isto se dá o
nome de visão evolucionista. Ou seja, a evolução vai ocorrer fatalmente e todas as
sociedades passam pelos mesmos caminhos até o progresso.
Auguste Comte justifica essa diversidade enumerando três fatores de
variação: a raça, o clima e a ação política. Ele interpretou a diversidade das raças
atribuindo a cada uma a predominância de certas disposições. Assim, segundo ele,
a raça negra deveria caracterizar-se, sobretudo, pela propensão à afetividade. As

24
diferentes partes da humanidade não evoluíram do mesmo modo porque, no ponto
de partida, não tinham os mesmo dons. Mas é evidente que essa diversidade se
desenvolve tendo como pano de fundo uma natureza comum.

8 A EVOLUÇÃO DA SOCIEDADE

Fonte: slideplayer.com.br

A evolução da sociedade em sua diversidade é explicada em relação ao clima


da seguinte forma: o conjunto das condições naturais em que se encontra cada parte
da humanidade. Cada sociedade conheceu circunstâncias geográficas mais ou
menos favoráveis, o que permite explicar, até certo ponto, a diversidade da sua
evolução.
Estática e dinâmica são as duas categorias centrais da sociologia de Auguste
Comte. Uma sociedade se assemelha a um organismo vivo. E aqui, querido aluno e
querida aluna você deve parar um pouco e reter o seguinte:
Para este autor a sociedade deve ser vista como um organismo e é por isso
que ele é também conhecido como sociólogo organicista. Ou seja, a sociedade

25
composta por elementos interdependentes formando uma totalidade. Assim como é
impossível estudar o funcionamento de um órgão sem situá-
lo no conjunto do ser vivo, é impossível estudar a política e o Estado sem
situá- los no conjunto da sociedade. Mais tarde Emile Durkheim irá retomar
estes conceitos de Comte, e sob a forte influência desta Durkheim será reconhecido
também como sociólogo das instituições. Isto quer dizer que as instituições
cumprindo cada um sua função contribui para a harmonia social.
Compreendendo melhor este ponto acima citado, a sociedade para os autores
positivistas tende à harmonia social, ao equilíbrio. Como ocorre então a mudança
social?
De acordo com Aron (2008), para Comte,

8.1 Ciência e senso comum

Neste ponto das aulas é esperado que você já compreenda que para Comte,
havia uma grande diferenciação entre o conhecimento científico e o conhecimento
do senso comum. Segundo ele, o conhecimento científico representava um estágio
mais elevado do desenvolvimento da sociedade.
Assim para ele a evolução da ciência, ou seja, do conhecimento, é uma
sucessão de estágios, é assim a mente humana se desenvolve se libertando do
senso comum. Este é o denominado Sistema de Filosofia Positiva. O estágio positivo
da sociedade seria o mais evoluído o pensamento científico e está baseado na
observação e na experiência.

26
Iniciando informando que Comte para o desenvolvimento de suas ideias
recebe influências de filósofos. Vamos a eles: Condercet (1666-1790), que defendia
a ideia de que toda e qualquer ciência da sociedade precisa se identificar com o que
ele chamava de matemática social, isto é, precisa realizar
um estudo preciso, rigoroso, numérico dos fenômenos sociais. Percebe a
origem do pensamento de Comte? Veja: Segundo Condorcet, a ciência estava
sendo controlada e submetida aos interesses de senhores feudais, à aristocracia e
ao clero e carecia de objetividade. A intenção era libertar a ciência de subjetividades e
interesses políticos e individuais. Portanto, de acordo com Condorcet, era necessário
tirar o controle das ciências destas classes para que uma ciência natural pudesse se
impor.
Outra influência foi a de Saint-Simon (1760-1852), este o primeiro a usar o
termo positivo na ciência. Então observe que Comte usou o nome sociologia pela
primeira vez, mas não foi o primeiro a usar o termo positivo. Para SaintSimon, o
raciocínio deveria se basear nos fatos observados e discutidos. “Uma vez que nosso
conhecimento está uniformemente fundado em observações, a direção de nossos
interesses espirituais deve ser entregue ao poder da ciência positiva” (COMTE In:
MESQUIDA, 20001, p.27).
Saint- Simon também defendeu a sociedade industrial, dizendo que o que é
favorável à indústria também o será para o homem. Portanto, acreditava na visão de
progresso trazido pela indústria e a sociedade capitalista.
O século XIX recebe então, a formalização do pensamento positivista. É o
século de surgimento da ciência positiva, a sociologia.
Sintetizando assim e concluindo as características do positivismo podemos
citar que:
 As sociedades, melhor, a sociedade, é considerada um fenômeno
natural, podendo ser analisada através dos métodos das ciências
naturais.
 A compreensão da realidade só é possível pela objetividade que é
alcançada através do rigor empírico e da coerência teórica. Trata-se de
um avanço na capacidade de pensar, da razão.
 A ação da ciência, ou seja, o conhecimento, é evolutivo e caminha para
o progresso.
27
Desta forma se descobre as leis gerais e diante disso o ser humano pode
prever ações futuras.

9 A INFLUÊNCIA DO POSITIVISMO

Fonte: slideplayer.com.br

O pensamento positivista teve grande influência na formação científica de


muitos autores que buscavam analisar as transformações da sociedade e a
emergência do capitalismo nos séculos XIX e XX. Como já foi citado, Durkheim é um
desses autores que foi profundamente influenciado por todo o ambiente intelectual e
social de sua época. Embora tenha sido influenciado pelas ideias de Comte,
Durkheim, diferentemente de Comte, aprofundou seus estudos na análise da
sociedade a partir dos fatos sociais. Procurou explicar o funcionamento da sociedade
emergente no século XIX, com base no estudo dos fenômenos sociais vistos de
maneira isolada do seu contexto históricocultural.
Durkheim foi um dos primeiros a teorizar sobre a sociologia da educação. A
ideia central de Durkheim, ao propor a sociologia no campo da educação, era

28
preparar as novas gerações para uma nova civilização. A educação, para ele,
significava o mesmo que socialização e tinha por objetivo formar o ser social.
A sua teoria, embora atualmente bastante contestada pelas teorias críticas da
sociedade, serviu de base para o Funcionalismo, corrente de pensamento bastante
desenvolvida e valorizada no Século XX. Veja abaixo a influência de Augusto Comte:
A teoria Funcionalista de Durkheim
Esta é a concepção de funcionalismo de Durkheim. A diversificação de
funções vai gerar a solidariedade entre os seres humanos, e a especialidade
atribuída a cada um ele vai dar o nome de Divisão social do trabalho social. E aqui
podemos conhecer dois conceitos essências em Durkheim: Solidariedade mecânica
e solidariedade orgânica.

10 ENTENDENDO O CONCEITO

A solidariedade orgânica é, portanto, uma das características da sociedade


capitalista, industriais e a divisão do trabalho é que promove a coletividade, este elo
perdido com a fragmentação e o individualismo. Coletividade existente nas
sociedades primitivas.
Nestas aulas você está conhecendo a base conceitual de cada um dos
chamados clássicos da sociologia. Posteriormente você terá estes conhecimentos
aplicados à análise das questões da educação, ou seja, como a sociologia pode
contribuir para a compreensão dos problemas educacionais.
Pois bem, sigamos um pouco mais com Durkheim:
Émile Durkheim, nasceu em Epinal, na Alsácia, descendente de uma família
de rabinos. Iniciou seus estudos filosóficos na Escola Normal de Paris, indo depois
para a Alemanha. Lecionou Sociologia em Bourdieu primeira cátedra desta ciência
na França.
Durkheim é conhecido como um dos primeiros teóricos da Sociologia,
conferindo a esta o estatuto de ciência. Portanto, um clássico, o que quer dizer que o
seu trabalho é sempre uma referência no estudo da sociedade. Foi também o primeiro
filósofo a sugerir a Sociologia como uma disciplina autônoma, caracterizada pelo
método científico. Com base nos ideais positivistas, que tem como princípio
29
fundamental a realidade objetiva dos fatos, dando pouca importância aos fatores
históricos e ao papel do indivíduo e dasubjetividade desses na organização social,
Durkheim desenvolveu seus estudos tendo como objeto de pesquisa a investigação
dos fatos sociais. Mas o que são os fatos sociais?
Fique Atento:

1. O que significa que são coercitivos. Independentemente de sua


vontade o fato irá exercer uma força sobre o indivíduo.
2. São exteriores porque dizem respeito à cultura, ou seja, como o
indivíduo nasce o fato está lá.
3. Gerais porque não diz respeito a um indivíduo apenas mas a uma
comunidade.
Os estudos de Durkheim tinham como foco principal descobrir as leis de
funcionamento da sociedade. E isto você já viu também em Comte, não é mesmo?
Nesse sentido, é considerado um dos sistematizadores do funcionalismo, uma
corrente de pensamento muito presente até os dias de hoje não apenas nas
diferentes ciências sociais, mas também nas teorias educacionais e organizacionais.
Você entendeu o que é o funcionalismo?

10.1 Como Durkheim concebe a sociedade

Você já deve ter entendido, mas não é demais rever que a sociedade, para
Durkheim, é um organismo exterior e superior aos indivíduos e constituída por um
conjunto de normas, leis e regras que são responsáveis pela formação moral e
social dos indivíduos. Ou seja, ela mesma um fato social, por excelência, da
sociologia. Regida por normas, leis e regras que irão determinar a maneira de ser e
de agir dos indivíduos, bem como, a formação das instituições sociais.
Em seu livro: A Divisão do Trabalho Social, Durkheim descreve o processo de
transformação da sociedade primitiva para a sociedade moderna através da divisão
social do trabalho, na qual estabelece a passagem de um tipo de organização social
com base na solidariedade mecânica (pré-capitalista) para a solidariedade orgânica
(capitalista).
Por que esta obra é importante? Uma de suas preocupações, nessa obra, é
perceber como se dá a relação entre indivíduo e a sociedade. Isso porque, para o
30
autor, o objetivo máximo da vida social é promover a harmonia da sociedade que é
conseguida por meio do consenso social. Está fazendo os links possíveis para
entender o pensamento de Durkheim? Viu que ele fala da harmonia social que
ocorre por meios do consenso entre os indivíduos e é garantido por meio das regras
e leis que controlam as ações.
Quando você viu os conceitos de solidariedade mecânica e orgânica
entendeu que se trata de um processo de mudança: de sociedade simples para mais
complexas. Você pode perceber como a questão do consenso é tratada pelo autor, a
partir da análise da mudança nas formas de organização social das sociedades
"primitivas" para as sociedades modernas.

11 SOCIEDADE MECÂNICA E ORGÂNICA

Vamos revisar um pouco:


Na solidariedade mecânica a consciência coletiva forte, existe a ideia de
coletividade, típica de sociedades primitivas, pré-capitalistas. Pense, por exemplo,
numa comunidade indígena. Os integrantes destas comunidades, identificados por
laços familiares, tradição, religião, costumes seguiam as regras sociais cegamente,
de forma mecânica, ou seja, não existe obrigatoriedade nem burocracia, não tem
documento e, no entanto, podiam se manter autônomos e independentes em relação
aos outros grupos. A divisão social do trabalho não precisava ir além da sua
propriedade e existia para assegurar a subsistência familiar. O consenso se
manifesta na semelhança entre os indivíduos.
Contudo, na Solidariedade orgânica o que se percebe é a diminuição da
consciência coletiva, e o aumento da fragmentação e do distanciamento típicos das
sociedades capitalistas. A divisão social do trabalho é obtida por outros meios,
espalhada pelos setores econômicos da sociedade, como fábricas, agricultura,
comércio, indústrias. E por que o laço não se rompe? De acordo com Durkheim, a
solidariedade é assegurada pela interdependência dos indivíduos, mantendo, assim,
os laços sociais. O indivíduo escolhe seguir as regras, pois percebe que as mesmas
são boas para ele. O consenso se manifesta na diferenciação dos indivíduos.

31
Entendeu a noção de consenso, ou seja, há um acordo entre nós de que seguir as
regras e as leis é um bem para o todo, para o coletivo.
Você poderia perguntar: mas e quanto há um romper com as regras?
Um não respeito às leis?
Para Durkheim, a existência de valores e laços morais entre as pessoas era
fundamental para a manutenção da harmonia social e da consciência coletiva.
Quando uma sociedade não consegue manter esse estado de harmonia, significa
que a sociedade está ‘doente’. E para isso Durkheim tem o termo: anomia.
Anomia é exatamente quando o consenso se rompe e não há mais
possibilidade de manter a ordem e o respeito às instituições. Anomia, neste caso,
seria o contrário de harmonia.
Pois bem, Augusto Comte e Durkheim são autores expressivos do positivismo
e antes de dar início a mais duas vertentes clássicas da sociologia é importante que
você compreenda a relação entre o positivismo e a educação. Vamos lá?

12 POSITIVISMO E EDUCAÇÃO

A corrente positivista influenciou consideravelmente a sociedade nos


séculos XIX e XX. Aqui você poderá se lembrar da disciplina história da
educação e o próprio surgimento da escola formal.

Fonte: multigolb.wordpress.com
32
O positivismo esteve presente de forma marcante no ideário das escolas e na
luta a favor do ensino leigo das ciências e contra a escola tradicional humanista
religiosa. O currículo multidisciplinar – fragmentado – é fruto da influência positivista.
Certamente você se lembrará.
No Brasil esta influência aparece no início da República e na década de 70,
com a escola tecnicista. Muitos historiadores ressaltam o pensamento positivista no
movimento pela proclamação da república e da elaboração da constituição de 1891.
O movimento republicano apoiou-se em ideias positivistas para formular sua
ideologia da ordem e do progresso, graças particularmente à atuação de Benjamim
Constant (1836-1891).

13 O POSITIVISMO E A ESCOLA

fonte: pht.slideshare.net

Pode-se inclusive entender que ainda hoje a ênfase nos conteúdos


sequenciais, a valorização do pensamento cognitivo, o distanciamento das
características emocionais e estéticas do aluno e do processo de aprendizagem tem

33
um viés positivista. A ideia de que o aluno se desenvolve de forma linear à medida
que vai se apropriando do raciocínio lógico.
Assim apenas o que é observável interessa ao positivismo. O real,
inquestionável, aquilo que se fundamenta na experiência. Deste modo, a escola
deve privilegiar a busca do que é prático, útil, objetivo, direto e claro. Os positivistas
se empenharam em combater a escola humanista, religiosa, para favorecer a
ascensão das ciências exatas. Compreenda que o positivismo influenciou a prática
pedagógica na área das ciências exatas, influenciando a prática pedagógica na
área de ensino de ciências sustentadas pela aplicação do método científico: seleção,
hierarquização, observação, controle, eficácia e previsão. Observe. Não é difícil de
entender:

Fonte: slideplayer.com.br

Reflita:
Hoje é comum a prática da avaliação baseada nestes princípios. A própria
escola em sua prática seleciona, hierarquiza, observa, controla, busca a eficiência e
busca a previsão. É neste sentido que no Módulo II você irá conhecer autores
críticos do positivismo que apresenta uma perspectiva mais voltada para a sociologia
marxista, que se verá nas próximas aulas.
Espera-se que você tenha entendido que esta postura dá uma ênfase nas
ciências exatas em detrimento das humanas, e a sociologia estaria no ápice da

34
classificação de Comte, que seria: Por meio da fundamentação e classificação das
Ciências (Matemática, Astronomia, Física, Fisiologia e Sociologia).

13.1 A Influência do Positivismo no Brasil

Foi em meados do século XIX que o positivismo de Comte chega ao Brasil. E


foi entre os oficiais do exército que estas ideias ganharam força. O currículo voltado
para as ciências exatas e para a engenharia denota um distanciamento da tradição
humanista e acadêmica, havendo certa aceitação das formas de disciplina típicas do
positivismo. Você irá se lembrar da influência do humanismo do século XVI na
origem do capitalismo. Contudo, as palavras “ordem e progresso” que fazem parte
da bandeira brasileira indicam claramente a influência positivista.
No ano de 1870, a escola tecnicista teve uma presença marcante. A
valorização da ciência como forma de conhecimento objetivo, passível de verificação
rigorosa por meio da observação e da experimentação, foi importante para a
fundamentação da escola tecnicista no Brasil. Para esta escola o elemento
primordial é a tecnologia.
De acordo com Saviani (1993), na escola tecnicista, professores e alunos
ocupam papel secundário dando lugar à organização racional dos meios.
Professores e alunos relegados à condição de executores de um processo cuja
concepção, planejamento, coordenação e controle, ficam a cargo de especialista
supostamente habilitados, neutros, objetivos, imparciais. Esta objetividade do
positivismo vai gerar a noção de que a ciência e a educação devem ser neutras, ou
seja, livre de qualquer pré-noção ou posicionamento político. Portanto, pode-se
perceber pelas palavras de Saviani que neutralidade e objetividade são típicas do
positivismo.
Concluindo pode-se dizer que a necessidade de estabelecer uma relação de
aproximação entre a ciência e a técnica em nome do progresso foi um grande marco
nos primórdios do pensamento social e das políticas de educação que se
concretizou de maneira significativa por gerações. De forma racional e não critica.
Se você estiver atento/a a discussão hoje no Brasil, inclusive com manifestações de
intelectuais e professores, vai observar que tramita uma discussão no congresso
nacional que desautoriza o professor ensinar de forma reflexiva e crítica.
35
Se você entendeu até aqui o contexto do surgimento da sociologia e as ideias
e os ideais positivistas vá até o fórum da graduação e chame seus colegas para uma
roda de conversa virtual, isto irá ajudar você a reconhecer os conteúdos de uma
forma mais prática. Não tenha a noção de que está recebendo um conhecimento,
mas reflita que o conhecimento é uma produção humana e é nesta dimensão que
ele pode ser questionado.

14 MARX WEBER: O SOCIÓLOGO DA BUROCRACIA E


DA RACIONALIDADE

Max Weber é considerado um dos grandes intelectuais do Século XIX e a sua


influência atravessa o Século XX. Na verdade, ele figura na transição do século XIX
para o século XX. A sociedade da época de Weber gestava um conhecimento que
foi sistematizado de forma brilhante por este autor. Especialista em história, direitos
e economia. Não falava de si como sociólogo e isso faz dele um autor diferente tanto
de Comte quanto de Marx, isso porque ele não acreditava na força da sociedade
sobre o indivíduo. A sociedade por si só não determina as ações humanas, o
caminho dele foi outro. Contudo, como Durkheim ele era professor de sociologia,
contribuindo para o avanço desta disciplina.

Fonte:pt.slideshare.net

36
Entre Weber e Durkheim há uma diferença, quase oposta. Durkheim é o
pensador social que está imbuído, no seu universo de estudo, da presença de um
Estado nacional e de uma sociedade constituída. Weber vivia numa nação
problemática, desafiadora. O grande desafio era pensar a inserção da Alemanha na
Europa. Na virada do século já unificada, a Alemanha tinha atravessado um
processo rápido de modernização e industrialização com marcar profundas no nível
estrutural. As turbulências políticas e econômicas da industrialização da Alemanha
era a preocupação de Weber.

Observa alguns fatores que contribuíram para o pensamento social de


Max Weber:
Leia buscando reconhecer a diferença entre Weber e Durkheim.

Fonte: slideplayer.com.br

Se você leu atentamente o quadro acima encontrou diferença entre o autor


francês e Max Weber. Durkheim visava a totalidade, o fato social, enquanto Weber
vai se debruçar sobre as motivações humanas para o agir. É neste sentido que ele
se aproxima de uma perspectiva cultural.
Na época a Alemanha organizou o maior movimento operário do mundo, o
partido social democrata. Para weber a constante é a forma de organização da
37
sociedade e a consolidação política. Está preocupado com o tema da política: quais
são as dificuldades para o surgimento de sujeito histórico, grupos capazes de
organizar um projeto de sociedade, assim como o era também de Marx. Este você
conhecerá posteriormente. Vale adiantar que enquanto Marx considerava as classes
sociais, a luta entre as classes, Weber visualizava que grupo será este. E a primeira
resposta de Weber é a constatação de que não existe na Alemanha nenhum grupo
que saberá dar um rumo à nação como Estado com projeção internacional.
O que propõe então Max Weber? A reflexão de Weber não mostra
preocupação com grandes estruturas já montadas. A preocupação deste sociólogo
está na ação social. Ou seja, quem age e como age, o que move a ação dos sujeitos
e para onde estas ações conduzem na prática e como as ações promovem as
mudanças no social.
Weber é o autor da burocracia e da razão instrumental. Na sociedade
capitalista a organização ocorre de maneira rotineira e repetitiva, mas administração
não é a questão política, esta é de outra ordem.
Portanto, o pensamento de Weber está entre o corpo administrativo que faz
funcionar a sociedade e a questão política que escapa à administração.

15 AÇÃO SOCIAL

Formular projetos e objetivos para a sociedade. Weber aposta na capacidade


política e neste sentido o seu pensamento é fundamentalmente político. A eficiência
e a direção, a orientação da conduta. Quem age? Estas são as questões teóricas de
Weber. Diante disso ele formula uma teoria da ação. Assim o conceito de ação
social é a unidade básica da sociologia weberiana. Vejamos o conceito

38
Fonte: slideplayer.com.br

Teoria da ação
Ação social, a atividade orientada para um objetivo que dá sentido a ação. As
múltiplas linhas de ação são complexas e tecem o social. Cada ação busca uma
meta, ou metas que se cruzam, as ações se cruzam e podem ser ou não
significativas uma para outras.
Este autor, por exemplo, explicou como a ação do protestante levou (indícios
da salvação, está ou não salvo, o protestante se orienta pelo trabalho para a obra no
mundo capaz de mostrar resultados), ao surgimento do espírito do capitalismo. O
modo de comportamento na área religiosa influenciou a área econômica. Está
confuso isso? Continue lendo...
Para Weber não existe uma ação que determina a sociedade. O sentido a
ação religiosa concedeu importância à ação econômica. Não é uma relação direta,
mas a questão é o sentido que é dado pela ação. O que isso quer dizer? Você já
ouviu falar no livro clássico de Weber: A ética protestante e o espírito do
capitalismo? Ele faz uma interessante análise de como o comportamento de um
destes influencia o outro.
Veja no esquema abaixo:

39
Fonte: slideplayer.com.br

A ética protestante é diferente da ética católica. Por isso, na visão weberiana,


o capitalismo no Brasil é chamado por alguns sociólogos de Capitalismo tardio.
A ideia de rede, de ações sociais, e a busca de significados que as ações têm
para o agente, é isso que vai construindo a teia social. Observe novamente o
esquema acima e certifique-se de que entendeu. Se ainda não compreendeu chamo
seus colegas lá no fórum e levanta esta discussão.
Max Weber é o único dos três clássicos (Durkheim e Marx), que considera a
ação individual é um elemento de análise importante, e que responde a questão
fundamental para Weber: o que pode responder pela continuidade da sociedade. A
ação individual não é vista sozinha, isto seria caótico. Como você analisou, ela
aparece numa teia de relações que se cruzam.
Weber traz uma nova reflexão sobre ciência e a sociedade. Vimos que para
Durkheim e Comte a sociedade deve ser estudada de forma objetiva. Weber admite
que a neutralidade/objetividade total é impossível tendo em vista que o próprio
pesquisador está inserido na sociedade. No entanto, a ciência não pode se submeter
a interesses particulares e político. Existe fronteira entre a ciência e a política,
rigorosa.

40
O papel do sociólogo é compreender a sociedade e suas múltiplas
possibilidades de entendimentos.
Para Weber não existe uma causa para um fenômeno social, existe uma
pluricausalidades e estas dadas pela ação social. As ideias condicionam o momento
histórico, e são essenciais para entender o pensamento de Weber.
Vamos fazer uma síntese do que foi visto até aqui. Lembrando que a intenção
aqui é que você entenda a base do pensamento dos clássicos, tendo em vista que o
pedagogo está habilitado para dar aulas de sociologia no ensino médio e estas
noções precisão ser bem compreendidas. Sigamos:

PARA ENTENDER UMA SÍNTESE

a) O conceito de ação social para Max Weber


O conceito de “ação social” foi concebido por Weber como qualquer ação
realizada por um sujeito em um meio social que possua um sentido determinado por
seu autor. O processo de comunicação estaria, portanto, intimamente ligado ao
conceito de ação social. A manifestação do sujeito que deseja uma resposta é feita
em função dessa resposta. Em outras palavras, uma ação social constitui-se como
ação que parte da intenção de seu autor em relação à resposta que deseja de seu
interlocutor.

b) Weber estipulou quatro tipos ideais de ações sociais:


1. A ação racional com relação a fins,
2. A ação racional com relação a valores,
3. A ação afetiva e,
4. A ação tradicional.

Percebe-se, portanto, que Weber afastou-se dos determinismos sócio


históricos de Karl Marx (A história da produção econômica determina a realidade
social), e do fatalismo da noção de um sistema externo e independente do indivíduo
que Emile Durkheim propôs, elaborando, assim, a noção de um ser humano livre
para agir, pensar e construir sua realidade.

41
Para Weber, as estruturas sociais estavam em contato direto com o poder de
ação dos indivíduos, o que significa que os sujeitos, seus valores e ideias possuem
força de ação direta sobre essas estruturas. A tarefa da Sociologia seria então,
segundo o teórico, apreender os significados que norteiam essas ações.
Interessante, não acha? Esta perspectiva é muito utilizada nas pesquisas atualmente
tanto no campo social, como econômico e político. O que move a ação individual?
Weber demonstrou esse princípio em seus estudos comparativos sobre as
distinções entre religiões Ocidentais e Orientais. Em seu livro, “A ética protestante e
o espírito do capitalismo”, conforme já foi mencionado acima, o autor buscou
esclarecer como a lógica cristã foi responsável pelo desenvolvimento do sistema de
produção capitalista. Nisso estaria inserido o contexto cultural e valorativo das
sociedades cristãs, e não apenas seu modelo ou situação econômica.

15.1 Outro conceito importante de Weber: Os tipos ideais

Outro ponto importante da teoria weberiana é a busca pela construção dos


tipos ideais no processo de construção do conhecimento teórico. O estabelecimento
de tipos ideais não busca construir tipologias fixas nem mesmo busca classificar de
maneira inflexível o objeto em questão. Eles servem como parâmetro de
observação, um “boneco” com características delineadas que serve apenas como
ponto de comparação entre o observado e sua obra teórica. Trata-se de modelos
conceituais que nem sempre, ou quase nunca, existem. Apenas alguns aspectos ou
atributos são observáveis.

42
Fonte: slideplayer.com.br

Esta construção do tipo ideal faz parte da metodologia de Weber. Observa


que neste modelo está inserido também o sentido da ação de cada pessoa.

16 RACIONALIZAÇÃO DO MUNDO SOCIAL

Max Weber faz referência a um fenômeno de grande importância do mundo


moderno e que está relacionado com as mudanças estruturais, culturais e sociais
que as sociedades modernas passaram no decorrer do tempo: “a racionalização do
mundo social”. Um dos conceitos essenciais de Weber é o de racionalização. E isso
você já sabe.
Esse fenômeno refere-se a mudanças profundas, como a gradual
construção do capitalismo e a monstruosa explosão do crescimento dos meios
urbanos, que se tornaram as bases da reordenação das organizações tradicionais

43
que predominavam até então. Pode-se dizer que o processo de consolidação do
capitalismo é sim um processo de racionalização da vida e da sociedade.

Ampliando nossa explicação, devemos dizer que a preocupação de Weber


estava em tentar apreender os processos pelos quais o pensamento racional, ou a
racionalidade, impactou as instituições modernas, como o Estado, os governos e,
ainda, o âmbito cultural, social e individual do sujeito moderno. Em sua denominação
das diversas formas de racionalidade, Weber fez distinção de quatro principais
formas: a racionalidade formal, a racionalidade substantiva, a racionalidade meio
finalística e a racionalidade quanto aos valores. A obra de Max Weber é
incrivelmente diversa e amplamente utilizada em esforços de compreensão dos
fenômenos sociais contemporâneos. Como já foi dito, a sociologia weberiana
influenciou e ainda influencia grandes teóricos, que enxergam na visão de Weber
uma ferramenta para desvendar os mistérios das relações humanas.

16.1 Karl Marx: A Sociologia da luta de classes

Talvez o mais popular entre os clássicos sejam o alemão Karl Marx e isto se
deve ao fato de terem as suas ideias não só influenciados gerações mas, sobretudo,
fundou as bases para as lutas dos movimentos sociais, especialmente o movimento
operário, além de fundamentar as grandes revoluções socialistas do século XX,
como a revolução soviética e cubana.

44
Fonte: www.portalconscienciapolitica.com.br

No quadro acima é importante que você reconheça a diferença entre o


sistema capitalista e o socialista. Assim, você poderá entender as propostas de Marx
e também todos os movimentos sociais, partido políticos, enfim, todo o movimento
que surgir em torno desta teoria marxista.
Na investigação da relação de Marx com a sociologia, não há como
subestimar a importância do movimento crítico. E esta palavra é chave para você
compreender a influência de Marx, sobretudo na educação. Ele é, digamos o pai do
pensamento crítico.

Percebeu?
Este é de fato o autor que inaugurou o pensamento crítico e o que você verá
nesta disciplina é que grandes sociólogos da educação pautaram suas reflexões
neste pensamento.

45
17 CRÍTICA DE MARX AO CAPITALISMO

Marx é sem dúvida o que influenciou uma geração de estudiosos da


educação, especialmente a maior referência em educação no Brasil, o filósofo Paulo
Freire. As reflexões que se seguem foram extraídas do artigo do professor Ricardo
Musse, do Departamento de Sociologia da USP.
Ao longo de toda sua obra, o exame das diversas teorias sociais
prevalecentes desemboca, com base no exercício de uma crítica ao mesmo tempo
imanente e transcendente, na delimitação de um território próprio denominado pela
posteridade de “materialismo histórico”, “sociologia marxista” ou mesmo “sociologia
ou teoria crítica”.
Durante o inverno de 1845-1846, refugiados em Bruxelas, Marx e Engels
redigiram A Ideologia Alemã. O texto, no entanto, por uma série de motivos, não foi
editado e permaneceu assim durante o período em que eles viveram. Numa breve
apresentação de sua trajetória intelectual, no Prefácio ao livro Para a Crítica da
Economia Política (1859), Marx comenta o manuscrito, destacando que:

As ideias apresentadas no artigo, e que se tornaram uma espécie de resumo


oficial da teoria marxista da história, retomam quase que literalmente o texto do
manuscrito de 1845-1846.
Marx é alemão, crítica que ele fez à racionalidade filosófica o fez declarar:

46
17.1 Continua a crítica de Marx ao capitalismo

A Ideologia Alemã tornou-se desde então um texto essencial do corpus


marxista. Nela delineia-se pela primeira vez de forma nítida o que pode ser
considerado o programa do materialismo histórico, gestado por meio de uma crítica
incisiva dirigida simultaneamente à filosofia, à teoria política, à historiografia, à
economia política, à teoria social etc. Você deve considerar então, que Marx é o
sociólogo da crítica ao capitalismo. Para ele a política, economia, cultura, enfim, são
na verdade a superestrutura criada para sustentar o capitalismo, a classe burguesa.
Até o Estado para ele, é o braço direito da burguesia.

17.2 A atividade humana: A prática

A auto compreensão à qual Marx se refere surgiu, em grande medida, de um


acerto de contas com filósofo chamado Ludwig Feuerbach, o mais destacado dos
filósofos pós-hegelianos. Nos 11 parágrafos das famosas “Teses sobre Feuerbach”,
escritas provavelmente em maio ou junho de 1845.
Portanto, alguns meses antes do início da redação de A Ideologia Alemã –,
Marx, que havia muito já não era idealista, ao contestar o caráter passivo, abstrato e
não histórico do materialismo (incluindo o de Feuerbach), destaca que a
sensibilidade, a história e a vida social resultam da atividade prática humana. Não se
preocupe com os conceitos filosóficos até aqui, o mais importante é que você
retenha que Marx criticava uma postura que considera o pensamento o início da
reflexão social. Para ele o pensamento nasce na prática, ou seja: Não somos o que
pensamos, mas pensamos do jeito que somos, que produzimos e nos inserimos
enquanto uma classe social.

47
Um ponto decisivo da divergência de Marx ante Feuerbach consiste na
determinação do conceito de “alienação”. Esta palavra se tornou popular hoje em
dia, embora o seu sentido muitas vezes tenha se perdido.

17.3 Atenção no Conceito Importante de Marx

Viu? O homem no sistema capitalista se distanciou dos seus meios de


produção e ficou alienado do seu próprio trabalho. Aliás, não existe mais trabalho
próprio, porque agora se trabalha para um patrão.
Marx afirma: “a auto alienação religiosa, o desdobramento do mundo em um
mundo religioso e um mundo mundano (…) só pode se explicar pela auto
dilaceração e pela autocontradição desse fundamento mundano”. Desse modo, a
questão da alienação, e assim da própria situação do homem, é deslocada de “um
reino autônomo nas nuvens” ou da compreensão do indivíduo singular para a vida
efetiva, que se desenrola como um nexo de relações sociais. É dele a frase: a
religião é o ópio do povo. Ópio no sentido de uma droga que entorpece o ser e o
impede de enxergar a sua verdadeira posição.

17.4 O que importava para Marx então?

Era a tarefa de delinear uma nova concepção, materialista, da história e da


sociedade. Teoria essa que, não custa repetir, nasceu da convivência com e da
crítica à filosofia pós-hegeliana (pode entender aqui pós-idealista), mas que, de certo
modo, pode ser estendida a grande parte da tradição cultural e intelectual burguesa.
Não mais no mundo das ideias, mas no mundo das condições concretas, materiais,
no mundo do trabalho e de suas relações que onde ocorre o processo de produção e
reprodução humana.

48
A estratégia de Marx e Engels para submeter à crítica os jovens hegelianos,
evitando o risco de recair no jogo especular de uma crítica da “filosofia crítica”, passa
pela remodelação do conceito de “ideologia” – concebido como um descompasso
entre o que os indivíduos, grupos e sociedades imaginam ser e o que efetivamente
são.

1. A teoria social alemã, tal como configurada no idealismo alemão e no


movimento dos jovens hegelianos;
2. A teoria social inglesa, consubstanciada na economia política;
3. E as vertentes da sociologia francesa iniciadas por Saint-Simon,
com seus desdobramentos no socialismo utópico de Fourier e
Proudhon.

17.5 Ideologia para Marx significa de acordo com o sociólogo Michael Lowy:

O levantamento das principais determinações da sociedade capitalista tornou-


se imprescindível durante a redação do Manifesto do Partido Comunista (1848).
Para compreender o momento histórico, Marx expõe a história da gênese e do
desenvolvimento do mercado mundial, assim como dos conflitos sociais e das
oposições de classe que moldam esse cenário, delineando os principais pontos da
sociologia marxista, numa exposição concisa das coordenadas econômicas, sociais,
políticas e culturais do mundo moderno.
Esteja certo de que:

O manifesto comunista de Marx


Se tiver curiosidade de conhecer mais um pouco sobre o que Marx escreveu
no manifesto Comunista, busque, leia resenhas, ou melhor, leia o texto na íntegra.

49
Não é um texto difícil, talvez seja um dos mais fáceis de apreender o sentido. Veja o
que diz o texto abaixo:

O Manifesto Comunista e a teoria de Marx


O Manifesto pode ser lido então como uma demonstração da contradição
entre o movimento do desenvolvimento das forças produtivas e a estática inerente
às relações de produção, que reproduzem a cada momento as formas desiguais de
apropriação da riqueza e de dominação social. Ou seja, em outras palavras, a
relação ente capital e trabalho.
Marx apresenta o Manifesto como uma auto exposição do comunismo.
Conjugado a essa tentativa de exposição teórica das premissas de um movimento
político que mal entrara em cena e já invocava para si o papel de protagonista, Marx
compôs um diagnóstico da modernidade que esquematiza, em linhas gerais, tópicos
que só serão desenvolvidos detalhadamente em obras posteriores, particularmente
no conjunto de textos projetados pelo próprio Marx como uma “crítica da economia
política” e cuja formulação mais acabada consiste em O Capital.
Este livro influenciou os partidos de esquerda que se espalharam pela Europa
e em todo o mundo, sobretudo no pós guerra. Na América Latina, inclusive, no
Brasil, influenciou as lutas pelo fim de ditadura militar e a criação dos partidos.

18 A LUTA DE CLASSES

Diante de tudo o que você leu até agora já deve estar compreendendo o que
é a luta de classes e que classes são estas. A burguesia e o proletariado, ou seja, o
dono dos meios de produção e o dono da força de trabalho.
Marx tomou como pressuposto no Manifesto apenas um esquema mínimo, a
tese de que “a história de todas as sociedades até o presente é a história das
lutas de classes”. Observe que em toda a história esta foi a conclusão a que
chegou Marx. Trata-se, portanto, de trazer para o centro do relato da história
humana o conflito, a “luta ininterrupta, ora dissimulada, ora aberta”, entre oprimidos e
opressores.

50
Em uma comunidade primitiva ou indígena não existe Estado, nem trabalho
assalariado e, acima de tudo não existe propriedade privada, que é o núcleo da
crítica de Marx ao capitalismo.
Apesar do tom panfletário, inerente a seus objetivos práticos, políticos e
pedagógicos (afinal foi lendo o Manifesto que as lideranças criaram os partidos), o
Manifesto mantém a postura crítica em relação à filosofia da história de A Ideologia
Alemã, como você viu acima. Em lugar de estabelecer uma teleologia para o
desenvolvimento geral da espécie humana, Marx, fez uma analise em conjunto do
destino da humanidade e do moderno, apenas aponta duas tendências, extraídas
da observação do passado histórico, procurando evitar recair na ideia de uma
necessidade inerente ao espírito ou em alguma forma de determinismo: “uma
reconfiguração revolucionária de toda a sociedade ou uma derrocada comum
das classes em luta”.

18.1 Propriedade privada dos meios de produção capitalista

Chamo a sua atenção aqui para a palavra chave do conceito no quadro


acima: PROPRIEDADE PRIVADA. Esta é a razão de todo o processo. No momento
em que se instaura a propriedade privada está se instalando o conflito entre as
classes. É por isso que a proposta socialista e, o comunismo, tem na sua base a
eliminação da propriedade privada, os bens não seriam individuais e sim coletivos.
Querido aluno, querida aluna, observe bem que Marx associa o
desenvolvimento histórico-social da burguesia, em especial sua constituição como
força política, a uma série de acontecimentos que marcaram a gênese e os
desdobramentos do mundo moderno. Desse modo, essa classe é apresentada como
o produto de um longo processo, de uma série de revoluções nos meios de
produção, transportes e comunicação, por meio do qual ela se desenvolve,
51
economicamente, multiplicando seus capitais e, politicamente, empurrando para
segundo plano as demais classes opressoras.
Marx adverte assim que, ainda que as demais classes opressoras não sejam
suprimidas, doravante quem dá as cartas nos rumos do desenvolvimento histórico e
na luta política é a burguesia.
No Manifesto, o mundo burguês é compreendido como uma unidade
contraditória entre fatores dinâmicos e invariância estática. O paradoxo de uma
sociedade que não pode existir sem revolucionar continuamente os instrumentos de
produção e, com eles, o conjunto das relações sociais é próprio do mundo moderno.
Enquanto os antigos modos de produção assentavam-se, à maneira de uma
tradição, na manutenção e conservação de relações fixas e cristalizadas, a
sociedade burguesa se reproduz, mantendo-se idêntica somente ao preço de uma
contínua transformação que, acarretando a obsolescência e uma incessante
destruição de toda a estrutura de produção existente em determinado momento,
subverte inclusive o cenário histórico e político.

19 A CRÍTICA AO CAPITALISMO NA ARTE

Para descontrair um pouco leia a música que Cazuza compôs e perceba


também a crítica à sociedade burguesa. Analise a letra a partir do que você estudou
até agora.

Cazuza: Burguesia
A burguesia fede

A burguesia quer ficar rica


Enquanto houver burguesia
Não vai haver poesia

A burguesia não tem charme nem é discreta


Com suas perucas de cabelos de boneca

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A burguesia quer ser sócia do Country
A burguesia quer ir a New York fazer compras

Pobre de mim que vim do seio da burguesia


Sou rico mas não sou mesquinho
Eu também cheiro mal
Eu também cheiro mal

A burguesia tá acabando com a Barra


Afunda barcos cheios de crianças
E dormem tranqüilos
E dormem tranquilos

Os guardanapos estão sempre limpos


As empregadas, uniformizadas
São caboclos querendo ser ingleses
São caboclos querendo ser ingleses

A burguesia fede
A burguesia quer ficar rica
Enquanto houver burguesia
Não vai haver poesia

A burguesia não repara na dor


Da vendedora de chicletes
A burguesia só olha pra si
A burguesia só olha pra si
A burguesia é a direita, é a guerra

A burguesia fede
A burguesia quer ficar rica
Enquanto houver burguesia
53
Não vai haver poesia

As pessoas vão ver que estão sendo roubadas


Vai haver uma revolução
Ao contrário da de 64
O Brasil é medroso
Vamos pegar o dinheiro roubado da burguesia
Vamos pra rua
Vamos pra rua
Vamos pra ruaVamos pra rua
Pra rua, pra rua

Vamos acabar com a burguesia


Vamos dinamitar a burguesia
Vamos pôr a burguesia na cadeia
Numa fazenda de trabalhos forçados
Eu sou burguês, mas eu sou artista
Estou do lado do povo, do povo

A burguesia fede - fede, fede, fede


A burguesia quer ficar rica
Enquanto houver burguesia
Não vai haver poesia

Porcos num chiqueiro


São mais dignos que um burguês
Mas também existe o bom burguês
Que vive do seu trabalho honestamente
Mas este quer construir um país
E não abandoná-lo com uma pasta de dólares
O bom burguês é como o operário
É o médico que cobra menos pra quem não tem
E se interessa por seu povo

54
Em seres humanos vivendo como bichos
Tentando te enforcar na janela do carro
No sinal, no sinal
No sinal, no sinal

A burguesia fede
A burguesia quer ficar rica
Enquanto houver burguesia
Não vai haver poesia

20 A INFLUÊNCIA DA TEORIA MARXISTA

Marx é de fato o mais popular dos sociólogos exatamente por influenciar


gerações e continuar influenciando. Você mesmo já deve ter usado os seus
conceitos como alienação, ideologia, revolução. Embora seja o mais conhecido, as
teorias de Max Weber e Emile Durkheim são teoria ainda vivas, o que justifica a
posição que ocupam como clássicos dos estudos da sociedade. São cientistas
sociais referências não apenas nas ciências sociais, em vários campos das ciências
humanas.

Fonte: eumarxista.blogspot.com.br

55
No manifesto comunista como você perceber, Marx mostra a dinâmica da,
característica da modernidade, e apresenta sob a forma de um feixe de expansões
que ocorrem simultaneamente, em direções e sobre domínios diferenciados. A
descrição do papel “eminentemente revolucionário” desempenhado pela burguesia
na história moderna pode ser concebida como uma história dos movimentos do
agente histórico dessa expansão, o que explica, entre outras coisas, a forte carga
irônica dessas passagens, muitas vezes interpretadas erroneamente como uma
apologia da burguesia.
Vamos lá: Está se falando que a Revolução Francesa é uma revolução
burguesa e, de fato, foi uma grande transformação, na medida em que acabou com
aquela sociedade dos senhores feudal, dos vassalos e suseranos e instaurou-se a
sociedade capitalista, de trabalho assalariado.

Marx descreve os movimentos segundo os quais o capitalismo extravasa o


campo das relações puramente econômicas, espraiando-se para outras esferas da
vida social. Esse processo caracteriza-se por uma inaudita mercantilização e
reificação de todo o domínio social, atingindo inclusive o âmago da subjetividade. O
que significa dizer que tudo no capitalismo se transforma em mercadoria. Até o
próprio ser humano. Não vê o tráfico de pessoas ou de órgãos?

56
Contudo, ao mesmo tempo em que ressalta o domínio do mercado e da
coisificação, reificação sobre o conjunto da vida social, Marx percebe outro
movimento de expansão caracterizado pela colonização, ou melhor, pela penetração
capitalista sobre áreas e regiões econômicas ainda não capitalistas – o que abrange
desde áreas do mundo rural, situadas próximo do centro do capitalismo, até os
territórios pré-capitalistas, situados nos confins do planeta. O que ele vai denominar
de acumulação primitiva do capital.

Fonte: slideplayer.com.br

A queda do muro de Berlin significou uma queda do socialismo e a expansão


do capitalismo em que a globalização é a maior referência, ou seja, o capitalismo se
expandido para todos os cantos da sociedade ocidental.

21 MARX E A EXPANSÃO DO CAPITALISMO

Essa expansão, hoje denominada globalização, vincula-se de forma mais


estreita, no Manifesto, com a fase do mercado mundial. Por “mercado mundial”,
Marx designa tanto uma forma de concentração industrial como o domínio exclusivo
do poder pela burguesia.

57
Essas duas “expansões” são assinaladas, ao mesmo tempo, como
expedientes a que a burguesia recorre para tentar superar as crises do capitalismo.
Marx indaga: “Por quais meios a burguesia supera as crises? Por um lado, pelo
extermínio forçado de grande parte das forças produtivas; por outro lado, pela
conquista de novos mercados e da exploração mais metódica dos antigos
mercados”.
A frase “exploração metódica dos antigos mercados”, outra vertente da
expansão capitalista, fala da reformulação dos meios e das formas de produção, o
que abrange desde a tecnologia empregada na produção até as formas de manejo
da mão de obra no interior do processo produtivo. Esse processo, no entanto, não
pode ser levado adiante sem a derrubada de obstáculos (jurídicos, culturais etc.) e
sem uma intensificação da padronização específica da economia capitalista sobre as
demais esferas do mundo social.

21.1 O que dizer do proletariado na teoria Marxista?

Todo aquele ou aquela que vende a sua força de trabalho, que não é dono/a
dos meios de produção. A exposição do proletariado, no decorrer do manifesto,
embora possa ser remetida ao quadro histórico-econômico próprio do mundo
moderno, não privilegia as mediações econômicas, mas antes a história de sua
formação política. De modo geral, Marx salienta que, na mesma medida em que a
burguesia, ou melhor, o capital se desdobra, também o proletariado se desenvolve.
A proposta de Marx é a tomada do poder político pelo proletariado.

58
Fonte: pt.slideshare.net

No livro O Manifesto Comunista, Marx determina, de modo genérico, o


proletariado como aqueles que “só subsistem enquanto encontram trabalho e só
encontram trabalho enquanto seu trabalho aumenta o capital”. Esse modo de
compreender a inserção social do proletariado destaca a submissão do mundo do
trabalho à lógica econômica do mercado: os “operários, que têm de vender- se um a
um, são mercadorias como qualquer outro artigo de comércio e, por isso, igualmente
expostos às vicissitudes da concorrência e às oscilações do mercado”. “A clássica
frase: ‘trabalhadores de todos os países, une-vos” retrata a proposta de Marx de
libertação. A liberdade só é possível coma revolução e a tomada do poder pelo
proletariado.

59
A dinâmica da expansão, própria do capitalismo, afeta o proletariado no
âmago da sua inserção (e integração) social, como força de trabalho, consolidando-
se como um dos principais obstáculos à sua organização e formação política. Esse
processo foi destacado por Marx como uma forma de reificação típica da situação do
trabalho no capitalismo. E você já sabe o que significa a palavra reificação.
Primeiro, o trabalhador perde sua autonomia, pela via da expansão da
máquina e pela ampliação da divisão de trabalho no interior do processo de
produção, tornando-se quase um mero acessório da máquina. Mas, sobretudo, ele
encontra-se submetido, no interior da fábrica, ao “despotismo” do capital:

22 O ESTADO NA TEORIA MARXISTA

Observe que Marx tem uma visão do Estado atrelado aos interesses da
burguesia. O Estado como diz Althusser, um teórico marxista é um aparelho
ideológico. O que significa dizer que longe de atender aos interesses de todos o
Estado existe para manter e proteger a propriedade privada dos meios de produção.
60
Isto não é difícil de entender. O que você deve fazer é ler estes conceitos não
como uma atitude de alguém que está recebendo um conhecimento mas numa
atitude de reflexão. O objetivo aqui é que você desenvolva a sua autonomia para
pensar junto com Marx, concordando ou não com ele.

Fonte: produto.mercadolivre.com.br

22.1 Como o proletário adquire a consciência de classe?

A formação política do proletariado é, portanto, uma alternativa de


superação, seja da alienação própria ao mundo do trabalho, seja dos resultados da
incessante concorrência entre os trabalhadores gerada pela recorrente reprodução
da mão de obra. Nesse sentido, um dos pressupostos práticos do Manifesto, a tarefa
de contribuir para a organização do proletariado em um partido político, não pode ser
visto como um objetivo descolado da necessidade de superar esses obstáculos.
É neste sentido que você irá compreender os muitos movimentos a favor da
escola e sua transformação, e como já dito anteriormente, o próprio Paulo
Freira adepto desta corrente de transformação. Em educação como prática de
autonomia é possível visualizar estas ideias. Paulo Freire é considerado um dos, se
não, o maior educador brasileiro. Isto também você irá ver no Módulo II.
Pode-se considerar que a aposta de Marx, recorrente ao longo do Manifesto,
atribui ao proletariado a possibilidade de desempenhar na história papel equivalente
ao exercido pela burguesia. Vale dizer que, para Marx, a classe operária tem a
possibilidade de posicionar-se como agente determinante do destino histórico do
mundo moderno.

61
Assim criou-se partidos comunistas e movimentos revolucionários em várias
partes do mundo.
Por que é importante você se situar em relação ao papel revolucionário da
classe trabalhadora? Exatamente porque será esta classe que irá para as escolas
públicas e, neste sentido, é a partir dela que se desenvolverá os estudos sociológicos
em educação. Para tornar este conteúdo um pouco mais prático, faça você mesmo
um retrocesso na sua história de vida e avalie em que medida a sua identidade foi se
constituindo a partir das condições materiais de existência da sua família.
O que diz Karl Marx é que o povo está alienado, ou seja, não conhece e nem
reconhece tais processos históricos. Neste ponto entre a escola como instituição
capaz de praticar o exercício crítico e a conscientização do aluno enquanto um ser
histórico.
No entanto, como você também verá, a escola pode também e quase sempre
o faz, reproduzir a situação de classes. Ou seja, a escola pode manter tudo como
está atuando em uma educação desprovida do pensamento crítico o que levaria, de
acordo com Marx, a um processo de reificação cada vez maior.
Esse engajamento da classe operária em um projeto de transformação social
não é apresentado como um resultado automático e necessário decorrente das
condições econômicas e sociais da sociedade burguesa. Marx adverte que os
incessantes esforços para organizar o proletariado em um movimento político são, a
cada instante, contrariados pela concorrência entre os próprios operários, bem como
pela reificação, condições inerentes a sua situação no capitalismo.
O que se vê é que com o processo de globalização acelerado pelo impulso da
internet e, sobretudo, pela nova forma de produção e as características do capital
hoje, o trabalhador não é mais aquele da fábrica do século XVIII e XIX. Não há o
predomínio do coletivo de trabalhadores em um só lugar, o que existe é uma
pluralidade de formas de trabalho nem sempre assalariado.
Assim a nova dinâmica social coloca em cheque as ideais de Marx, no sentido
de que estas conduzirá inevitavelmente à ditadura do proletariado. A generalização
da forma-mercadoria dificulta não só a afirmação do proletariado como sujeito
histórico, mas a própria reflexão acerca dos problemas inscritos no cerne da
sociedade capitalista, uma vez que a reificação, originariamente atuante no mundo
do trabalho, estende-se para todos os setores da sociedade.
62
Se você ainda não entendeu o que significa o termo reificação, olha com
atenção a citação abaixo.

23 REIFICAÇÃO, O QUE É?

Fonte: slideplayer.com.br

23.1 Conhecimento de Marx aplicados à Educação

Vamos concluir o pensamento de Marx com uma parte da entrevista do


sociólogo Michael Lowy já citado nas aulas anteriores, num trecho em que ele fala
da relação do marxismo com a educação.
Antes disso é preciso justificar porque um espaço maior aqui para a teoria
marxista? O processo de luta pela democracia no Brasil e a luta pela escola pública,
universal e gratuita ocorreu, em grande parte, sob as bases da teoria crítica de Marx.

63
E os principais teóricos da educação tem como referência esta teoria, a exemplo, já
citado, de Paulo Freire.

ASSISTA: Revista Histedbr On Line – Como as propostas marxistas podem


contribuir para o desenvolvimento de um projeto educacional no Brasil?

Fonte: jornalggn.com.br

Michael Löwy – Do ponto de vista marxista, a educação é uma das prioridades


de qualquer política social. Um primeiro passo seria, como em Cuba ou na Nicarágua,
uma grande campanha de alfabetização, mobilizando a juventude escolar para ir a
todos os recantos do país, utilizado a pedagogia ativa de Paulo Freire.
Recursos enormes que hoje são desperdiçados com compra de armamentos
inúteis – porta aviões! – ou na subvenção a banqueiros e usineiros, deveriam ser
dedicados ao orçamento da educação, em todos os níveis, desde o primário ao
universitário; é fundamental ampliar a rede de ensino público gratuito, e marginalizar
as empresas privadas, enorme sistema parasitário que se desenvolveu explorando as
falhas da educação pública.
É preciso garantir o acesso ao ensino secundário e universitário ao conjunto
dos jovens brasileiros. Isto permitirá não só criar centenas de milhares de postos de
trabalho, mas contribuirá para elevar o nível cultural da população, aprimorar a
qualificação profissional dos trabalhadores, ampliar substancialmente o público leitor
e reduzir a criminalidade juvenil. Enfim, seria importante associar os professores e os

64
alunos, assim como seus sindicatos e associações a uma reforma estrutural da
educação, buscando superar a herança do elitismo, do autoritarismo e da exclusão
social e/ou racial, e introduzindo métodos pedagógicos libertários.
Viu? A proposta de educação está vinculada a uma proposta política de
transformação social, então neste sentido, não existe uma escola neutra. O que
significa dizer que a escola deve optar de que lado está. Ao lado da burguesia ou do
lado do trabalhador. Sigamos em frente!

24 A TEORIA DE DURKHEIM NA EDUCAÇÃO

Émile Durkheim, nasceu em 1858, França, próximo à fronteira com a


Alemanha. Era filho de judeus e optou por não seguir o caminho do rabinato, como
era costume na sua família. Mais tarde declarou-se agnóstico. Depois de formar-se,
lecionou pedagogia e ciências sociais na Faculdade de Letras de Bordeaux, de 1887
a 1902. Durkheim foi o primeiro professor de sociologia da educação. A cátedra de
ciências sociais foi a primeira em uma universidade francesa e foi concedida
justamente àquele que criaria a Escola Sociológica Francesa.

25 O PAI DA SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO: DURKHEIM

Os alunos de Durkheim eram, sobretudo, professores do ensino primário.


Durkheim abordou a educação como um fato social. Você já sabe o que é fato social
e se não se lembra, sugiro que volte às aulas anteriores ou veja no seu caderno de
anotações.
Para ele a verdadeira natureza da educação era esse: o de considera-la um
fato social. "Estou convicto de que não há método mais apropriado para pôr em
evidência a verdadeira natureza da educação", declarou. Sua preocupação sempre
65
esteve ligada à questão da educação. Dentro da educação moral, psicologia da
criança ou história das doutrinas pedagógicas, não há campos que ele não tenha
explorado. Suas obras mais famosas são A Divisão do Trabalho Social e O Suicídio.
Morreu em 1917, supostamente pela tristeza de ter perdido o filho na Primeira
Guerra Mundial, no ano anterior.

Em cada aluno há dois seres inseparáveis, porém distintos. Um deles seria o


que Durkheim chamou de individual, formado pelo estado mental pessoal. A função
da educação então seria o desenvolvimento deste ser individual, posição que
predominou até o século XIX. Principalmente por meio da psicologia, entendida
então como a ciência do indivíduo, os professores tentavam construir nos estudantes
os valores e a moral. Lembra-se das aulas anteriores?
O reconhecimento de Durkheim veio com a caracterização do segundo ser:

A importância que Durkheim atribuía à educação reforça sua teoria: Segundo


ele, "a educação é uma socialização da jovem geração pela geração adulta". E
quanto mais eficiente for o processo, melhor será o desenvolvimento da comunidade
em que a escola esteja inserida.

66
Fonte: slideplayer.com.br

Na teoria funcionalista de Durkheim, as consciências individuais são formadas


pela sociedade. Ela é oposta ao idealismo de acordo com o qual a sociedade é
moldada pelo "espírito" ou pela consciência humana. Lembra que também Marx
combateu o idealismo? "A construção do ser social, feita em boa parte pela educação,
é a assimilação pelo indivíduo de uma série de normas e princípios - sejam morais,
religiosos, éticos ou de comportamento - que baliza a conduta do indivíduo num grupo.
O homem, mais do que formador da sociedade, é um produto dela” (DURKHEIM,
1994).
Essa teoria, além de caracterizar a educação como um bem social, a relacionou
pela primeira vez às normas sociais e à cultura local, diminuindo o valor que as
capacidades individuais têm na constituição de um desenvolvimento coletivo. Aqui
você vê claramente a perspectiva sociológica que é o entendimento do ser e das
ações coletivas. Embora com Weber você tenha vista o termo ação social, este é
utilizado para compreender as ações no seio da sociedade. E por falar em Weber
vamos ver um pouco com aplicar sua contribuição teórica é educação?

67
26 WEBER E A EDUCAÇÃO

Você já viu que os conceitos básicos de Weber são racionalidade e burocracia


e é neste viés que você deve entender a visão de Weber sobre a educação. Veja
abaixo:

Fonte: pt.slideshare.net

A educação é um caminho de acesso a formas cada vez mais racionais e


também uma forma de inserção social, de mudança de uma classe para outra.

Estas conclusões não são literais de Weber, o tema da educação nunca foi
exaustivamente desenvolvido pelo autor, como o foi em Durkheim. Todavia, no texto
conhecido como “A religião da China”, quando Weber trata do papel dos letrados ou
mandarins chineses naquela sociedade, encontramos uma explícita menção do
pensador a diferentes tipos ideais de educação. Pode-se apresentar os tipos ideais
de educação de Max Weber da seguinte forma:

68
Fonte: slideplayer.com.br

a) Educação especializada: Aqui você pode observar o foco no


treinamento do aluno para finalidades específicas, formando os estratos
sociais. Atividades úteis à administração – na organização das
autoridades públicas, escritórios, oficinas, laboratórios industriais,
exércitos disciplinados. Para Weber qualquer pessoa pode ser treinada
para qualquer função.

b) Educação humanística: retomando os termos weberianos temos que


a pedagogia do cultivo, finalmente procura educar um tipo de
homem, cuja natureza depende do ideal de cultura da respectiva
camada decisiva. E isto significa educar um homem para certo
comportamento interior e exterior.

27 OS GRANDES SOCIÓLOGOS DO BRASIL

É muito comum nos cursos de graduação o estudo da sociologia voltado para


os grandes clássicos, o que de fato é importante. Contudo é necessário conhecer o

69
processo de produção da sociologia brasileira, considerando a relação entre
sociologia e os problemas sociais, você aluno/a poderá por meio deste
reconhecimento compreender o Brasil em suas especificidades sócio cultuais.
É por esta razão e, sobretudo, para contribuir com uma formação próxima da
realidade brasileira é que vamos concluir o módulo I, com uma série de abordagens
e reportagens sobre o papel que a sociologia brasileira exerceu no processo de
construção do pensamento cientifico. Respire fundo e vamos lá!
É em 1930 na Era Vargas teve início no Brasil a construção da ideia de nação
e dos processos incipientes de industrialização. Foi também neste período que surge
a discussão sobre a educação universal, pública e gratuita.

27.1 a) Florestan Fernandes

Sempre se mostrou extremamente comprometido com estudos de


perspectivas teórico-metodológicas esforçando-se no âmbito da fundamentação
da Sociologia enquanto ciência. Foi também crucial sua atuação no
desenvolvimento e orientação de pesquisas do processo de industrialização e
mudanças sociais no Brasil.

70
27.2 O pai da sociologia brasileira

Fonte: nossapolitica.net

A obra deixada por Florestan é ampla e variada, abrigando estudos sobre


temas diversos. No entanto, seu constante esforço para entender a sociedade
brasileira como um todo – sua formação marcada por conflitos, seu desenvolvimento
único e suas perspectivas futuras – foi caracterizado por uma perspectiva única que
questionava não só a forma de ser da realidade social, como o pensamento
sociológico em si. É por esse motivo que Florestan é considerado o fundador da
Sociologia crítica brasileira.
Você pode compreender pela formação de Florestan Fernandes a sua filiação
à teoria marxista. Este diálogo com os clássicos e, principalmente com o
pensamento marxista, é um tema central nos escritos de Florestan, que procurou
revisitar as principais correntes do passado e do presente, buscando o que existia de
mais crítico em cada uma. A necessidade de interpretar uma sociedade como a
brasileira – complexa e marcada por grandes desigualdades
levantava muitos questionamentos a Sociologia como um todo (uma vez que
a disciplina foi forjada principalmente em solo europeu). Algumas das obras onde
Florestan reflete sobre o próprio saber sociológico são: Fundamentos empíricos da
explicação sociológica, Ensaios de sociologia geral aplicada e A natureza
Sociológica.
71
Outra fonte importante de Florestan foi o legado deixado por pensadores
brasileiros que buscaram interpretar o país elevando a primeiro plano a luta de
setores populares nacionais. Para Florestan, era preciso compreender o país a partir
da perspectiva dos grupos e classes que formavam a maioria do povo. Por isso,
durante alguns anos, dedicou-se a estudar a centralidade da presença dos negros
na sociedade brasileira, sua trajetória de povo escravizado a trabalhador
marginalizado. Sobre as lutas que marcaram o Brasil – desde a resistência ao
colonialismo a conquista de direitos sociais – Florestan pública: A organização
sociais dos Tupinambás, A integração do negro na sociedade de classes, O negro
no mundo dos brancos e Mudanças sociais no Brasil.
Pelos temas de estudos você já é capaz de ver a filiação teórica.
A transformação social e as possibilidades revolucionárias de um dado tempo
é também um tema recorrente na Sociologia de Florestan. Sobre esse ponto em
específico, destacamos os livros: A sociologia numa era de revolução social, A
revolução burguesa no Brasil e Da guerrilha ao socialismo: a Revolução Cubana.
Florestan era um homem de ação, comprometido a compreender e colaborar
com os desafios colocados pela época e pelo local onde vivia: um país periférico
vivendo o pleno ápice de seu processo de urbanização. Para ele, o intelectual não
deveria se esconder por detrás da máscara da neutralidade científica, uma vez que
os movimentos e acontecimentos ao seu redor são grandes fontes que nutrem o
pensamento crítico.

72
28 DARCY RIBEIRO: O BRASIL COMO MISSÃO

Fonte: pt.slideshare.net

Darcy Ribeiro, antropólogo, escritor e político brasileiro, desenvolveu


trabalhos importantes na educação, inclusive na LDB9394/96.
Sua principal obra “O Povo Brasileiro” traz impressões de um
importantíssimo estudioso que observou durante muito tempo as características de
nosso povo pensando sua formação e sua organização social.
Darcy é muito conhecido também por seus trabalhos desenvolvidos a partir
das temáticas voltadas para os povos indígenas, com riquíssimas observações e
relatos antropológicos. Foi o relator da Lei de Diretrizes e Bases da Educação,
aprovada no governo Fernando Henrique (1996)

73
28.1 Gilberto Freyre: autor de Casa Grande & Senzala

Fonte: pt.slideshare.net

Gilberto Freyre é um dos mais reconhecidos nomes da Sociologia no Brasil.


Você certamente conhece a sua obra Casa Grande & Senzala. A influência de
Portugal, o mundo ibérico e a presença portuguesa nos trópicos frequentemente são
temas de seus escritos, demostrando o papel desse povo na formação de
civilizações modernas nos trópicos. Mais uma vez percebe-se o anseio da
compreensão da formação da sociedade e do povo brasileiro, principal questão
que move os estudos dos precursores da Sociologia em nosso país.
Lembre-se: Neste momento está se pensando no país como uma nação, na
construção de uma Nação.

74
A análise da vida cotidiana é a grande contribuição de Freire. Teria sido ele,
então, um dos primeiros a pensar em "patrimônio imaterial". Ele foi o precursor do
conceito de patrimônio imaterial, conceito este que se concretizou com enorme
sucesso.

28.2 Você sabe o que é patrimônio imaterial?

Fonte: slideplayer.com.br

De outra forma: Não é possível de ser tocado, como a dança, a música, a


religião. Entendeu? Outra contribuição da obra de Freyre foi a tentativa de
desmistificar a noção de determinação racial na formação de um povo, apontando a
miscigenação conferida no país como elemento positivo. Em "Casa-Grande", o papel

75
de índios e negros na formação do povo brasileiro é valorizado de forma
praticamente inédita.

28.3 Sergio Buarque de Holanda

Fonte: slideplayer.com.br

Com Sergio Buarque de Holanda veremos a influência da sociologia de Max


Weber. No seu estudo sobre o homem cordial, ele mostrou as motivações das ações
social e, sobretudo criou um tipo ideal para entender a característica do brasileiro.
Mas o que quer dizer homem cordial?

29 HOMEM CORDIAL: A IDENTIDADE BRASILEIRA NA VISÃO DE SÉRGIO


BUARQUE.

Vamos ver o diz o próprio sociólogo:

76
Fonte: pt.slideshare.net

Significa dizer que o brasileiro age mais pelas emoções do que pela razão. A
forma de solucionar os problemas é ligada a vínculos familiares ou de amizade. Um de
seus principais trabalhos, intitulado “Raízes do Brasil” aborda aspectos centrais da
formação da cultura brasileira e do processo de formação da sociedade, que
como vimos, é a preocupação mais recorrente dos grandes sociólogos do Brasil.
Nesta obra, mais uma vez aparece em lugar de destaque, a importância do legado
português no Brasil e a dinâmica de transferências culturais que se dava entre
metrópole e colônia.

29.1 Caio Prado Junior.

Observe um pouco da biografia deste intelectual e responda qual é a sua


influência teórica?

Estudou na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco (1924-1928),


formando-se bacharel em ciências jurídicas e sociais aos 21 anos. Na Faculdade de
Direito iniciou sua preparação crítica no ensaio político e, logo depois de formado

77
exerceu a advocacia por alguns anos. Durante sua formação universitária e prática
advocatícia, vivenciou toda a efervescência política, social e cultural no Brasil,
durante as décadas de 20 e 30.Iniciou suas atividades políticas ingressando no
Partido Democrático (1928). Participou ativamente da Revolução (1930) e filiou-se
ao Partido Comunista Brasileiro. Fez uma viagem de estudos à União Soviética
(1933) e publicou um livro de viagens, URSS, um novo mundo (1934).
Assumiu a vice-presidência da Aliança Nacional Libertadora, motivo por que
foi preso (1935) por dois anos. Exilou-se na Europa (1937-1939) e de volta ao Brasil
(1940), lançou sua obra mais importante: Formação do Brasil Contemporâneo (1942)
um clássico da historiografia brasileira, discorrendo sobre a formação histórica do
Brasil.

Com certeza você acertou. Ele foi um estudioso da realidade brasileira e


se dedicou a esta temática tão cara à Sociologia Brasileira, publicando a clássica
obra “Formação do Brasil Contemporâneo” que deveria ser parte de uma
coletânea dedicada a pensar justamente a evolução histórica brasileira desde o
período colonial, tendo mais uma vez como tema central a formação da sociedade
e do povo brasileiro desde a chegada dos portugueses.

78
30 FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Este é sem dúvida o mais conhecido sociólogo brasileiro. Este é conhecido,


foi o presidente da República do Brasil. É o mais reconhecido sociólogo brasileiro.

30.1 No que consiste a teoria do desenvolvimento de Fernando Henrique


Cardoso?

A Teoria da Dependência surgiu no quadro histórico latino-americano do início


dos anos 1960, como uma tentativa de explicar o desenvolvimento socioeconômico
na região, em especial a partir de sua fase de industrialização, iniciada entre as
décadas de 1930 e 1940.
Em termos de corrente teórica, a Teoria da Dependência se propunha a tentar
entender a reprodução do sistema capitalista de produção na periferia, enquanto um
sistema que criava e ampliava diferenciações em termos políticos, econômicos e
sociais entre países e regiões, de forma que a economia de alguns países era
condicionada pelo desenvolvimento e expansão de outras.

79
Fonte: pt.slideshare.net

Aqui é importante você compreender que embora os estudos sociológicos


tenham surgidos entre os anos 1920 e 1930, sem dúvida, foi na década de 1960 que
ganham maior fôlego. O Brasil está no momento de investir em grandes projetos
industriais e a teoria da dependência busca apreender este momento histórico.
Parabéns por ter concluído este módulo I. Se você fez as leituras com atenção
certamente agora está capacitado a reconhecer os principais pontos da origem da
sociologia como ciência e as ideias centrais dos clássicos desta disciplina.
Esta capacitação básica tem por objetivo contribuir para a sua formação de
pedagogo/a tendo em vista que a legislação o habilita para dar aulas de sociologia no
ensino médio. Sendo assim é muito importante que saiba as bases conceituais desta
ciência social.

31 SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

Nas aulas anteriores você conheceu os pontos centrais das teorias


sociológicas dos clássicos Durkheim, Weber e Marx. Que tal pensá-los na relação
com a escola?
80
Não esqueça de registrar no seu caderno de sociologia da educação o
resultado de sua leitura. Não deixe passar nenhum conteúdo sem a sua
compreensão. A qualquer momento pare, reflita, faço conexões, busque exemplo e,
peça ajuda. O ensino à distância oferece um espaço importante de liberdade e
autonomia para o estudo que, se não for bem aproveitado poderá trazer prejuízo
para a sua formação. Então, encorajo você a criar metas e fazer um plano de
estudo.
Nestas aulas você irá ter contato com trabalho bastante significativo de
autores que se dedicam à sociologia da educação:
 Professora Marília Freitas de Campos Tozoni-Reis, professora Livre
Docente do Departamento de Educação do Instituto de Biociências da
UNESP- Botucatu. Trata-se do artigo A Contribuição da Sociologia da
Educação para a Compreensão da Educação Escolar;
 Pierre Bourdieu e a reprodução. Este importante sociólogo apresenta
dois conceitos importantíssimos para entender a escola como
reprodutora da sociedade. Os conceitos são: violência simbólica e
capital cultural. Fique atento/a que você deverá, no final do módulo,
compreender e aplicar bem estes conceitos;
 A pedagogia de Paulo Freire. Este é o autor clássico da educação
brasileira. As reflexões freirianas da relação entre escola e sociedade
trarão grande contribuição para a sua formação acadêmica.

Vamos lá?

Primeiramente o artigo da professora Marília Freitas de Campos Tozoni- Reis


A Contribuição da Sociologia da Educação para a Compreensão da Educação
Escolar.
Você já possui conhecimentos suficientes para fazer um diálogo com a autora
na medida em que vai identificando e reconhecendo as perspectivas durkheimianas,
weberianas e marxistas presente no artigo.

81
Fonte: www.scielo.br

A imagem acima tem o objetivo de inspirar a sua leitura e motivar o seu


estudo sempre direcionando a sua atenção na sua formação e, como já podemos
concluir, uma formação que é essencialmente política, tendo em vista os interesses
diversos que são colocados em jogo na complexidade do espaço, tanto da sala de
aula quanto da sociedade global em que estamos todos envolvidos. Portanto, antes
de seguir em frente, observe e registre no seu caderno as reflexões contidas na
imagem.
Não se preocupe se encontrar dificuldades no caminho, siga em frente.
Leia com atenção as aulas a partir de agora. Estamos na reta final e o seu
empenho fará uma grande diferença não só aqui mas em toda a sua vida
acadêmica.

82
Fonte: albertovillas.com.br

A origem da escola está no contexto do desenvolvimento da sociedade


moderna, precisamente na sociedade capitalista. Não é difícil entender que no
cenário brasileiro, a partir dos anos 20 e 30 do século XX, a escola surgirá ladeada
de problemas sociais, sobretudo das desigualdades sociais. Qual é o papel da
escola nesta sociedade emergente, moderna e capitalista? Este papel é permanente
ou sofre mudanças com o tempo e as condições históricas?
Pensar na relação entre educação, escola e sociedade é o primeiro exercício
para se entender a contribuição da sociologia da educação. Antes de conhecer a
citação convido você a pensar na sua própria definição de educação e depois
verificar em que medida ela se aproxima ou se distancia do conceito de Demerval
Saviani.
O que é educação para você? Este é o princípio básica que irá definir a sua
experiência, ou seja, a sua definição de educação irá ser a base para a sua prática.
Por isso importante escolher como quais autores você quer caminhar. A partir das
suas leitura e conhecimento com quais você mais se identifica. Tenha isso como
meta ao caminhar na sua formação.

83
32 CONCEITO DE EDUCAÇÃO

Fonte: slideplayer.com.br

Observou a relação entre o indivíduo e a sociedade? Pois bem, esta é a


relação mais importante da sociologia. Temos na citação acima que o processo
educativo é um processo de formação humana, isto é, um processo em que todos
seres humanos - que nascem inacabados do ponto de vista de suas características
humanas - são produzidos, construídos, como humanos. É um processo – histórico e
social – de tornar humanos os seres humanos. Neste sentido, não nascemos
humanos, este é um processo que se consolida nas práticas das relações sociais
nos variados campos, seja político, social, econômico, cultural, etc.
Para compreender melhor esta definição de educação como um processo
histórico e social de formação humana, tomemos como referencial os escritos de Marx
(1993) no mais importante de seus textos sobre a concepção de homem: os
Manuscritos Econômicos e Filosóficos.

84
Fonte: www.todocoleccion.net

Neste livro, Marx desenvolveu uma concepção de homem como ser natural,
universal, social e consciente. Isto é, embora ao nascer, ele conte com uma base
biológica, natural, para se objetivar como gênero humano – para vir a ser humano –
os homens, todos os homens, necessitam de um processo de humanização, que
seja direto e intencional, um processo social e consciente.
A finalidade imediata da educação (muitas vezes não cumprida) é a de tornar
possível um maior grau de consciência, ou seja, de conhecimento, compreensão da
realidade da qual nós, seres humanos, somos parte e na qual atuamos teórica e
praticamente.
Então, se a espécie humana necessita de um processo de humanização,
histórico e social de formação humana – de educação –, a educação tem como
objetivo realizar esta tarefa. Isso implica em um processo de conscientização que
significa conhecer e interpretar a realidade social e atuar sobre ela, construindo-a.
O primeiro processo de socialização, primária, ocorre na família. É neste
ambiente que a criança desde o seu nascimento aprende por meio da interação com
o meio e com a intervenção de um mediador adulto, as primeiras lições de vida. A
noção do certo e do errado, a se comportar, a reconhecer as pessoas, os valores da
família.

85
No segundo processo, o secundário, que ocorre principalmente na escola, a
criança começa a ter conhecimento do mundo que a envolve e a produção coletiva
que forma a estrutura social do seu ambiente.

Fonte: pt.slideshare.net

Neste processo de humanização, nós, seres humanos, produzimos cultura, e a


cultura se expressa por meio de símbolos. Assim, podemos dizer que o ser humano
é um produtor de símbolos. Em outras palavras, significamos a nossa existência.
Assim, o processo educativo constrói, ao mesmo tempo, o ser humano como
humano e a realidade na qual ele se objetiva como tal. Constrói, também, a
humanidade do ponto de vista histórico e social. Se os seres humanos não trazem
ao nascer os instrumentos necessários para compreender as leis da natureza e da
cultura (das sociedades), e não podem contar com a possibilidade de que isso
aconteça “naturalmente”, o processo de formação do ser humano tem que ser
intencionalmente dirigido, pelos próprios seres humanos que se relacionam
socialmente. Ocorre que, na história social da humanidade, diferentes e diversas
instituições sociais se responsabilizaram por esse processo de formação humana,
pelo processo educativo.

86
33 CAMPO DA SOCIOLOGIA

Nas sociedades primitivas, por exemplo, vemos a importância dos ritos de


iniciação realizados por diferentes coletivos no processo educativo dos sujeitos mais
jovens como expressão da organização do processo de formação humana para a
convivência naquelas sociedades que tinham, como tal, características próprias.
Muitos estudos no campo da sociologia – e da antropologia – mostram
diferentes formas sociais de apropriação dos elementos da cultura nessas
sociedades primitivas. Mas, o que temos em comum nesses estudos é o fato de que,
mais ou menos sistematicamente, há um processo educativo expresso na vida social
dessas sociedades.
Nesse sentido, também merece destaque o processo de preparação para o
trabalho a que eram submetidos os jovens aprendizes de ofícios nas sociedades
pré-industriais. A família como principal instituição social responsável pelo processo
de formação humana para convivência naquelas sociedades, em especial, como
instituição responsável pela formação para o trabalho: além da família de origem,
muitos jovens aprendizes eram encaminhados a outras famílias para a
aprendizagem dos ofícios.

Fonte: melhorcomsaude.com

87
Com esta referência, podemos buscar a tese de que a escola, tal como a
conhecemos hoje, é uma instituição social nova, moderna. E como instituição é a
principal responsável pela formação dos jovens para sua integração ao mundo social
adulto na modernidade.

Fonte: soparamaes.wordpress.com

Se, em períodos históricos anteriores, a família foi a principal responsável


pelo processo de formação dos sujeitos para a integração na sociedade, a
modernidade – com suas profundas transformações – buscou uma nova instituição
que se responsabilizasse pela formação humana para este novo modo de
organização da vida social: a escola.
Lembremos que as profundas modificações nas formas de organização das
sociedades, no final da Idade Média, culminaram com as revoluções do século XVIII,
caracterizadas pela ascensão da classe social denominada burguesia e a
implantação na Europa de um novo modo de produção – base da organização social
– o capitalismo.

Fonte: blogdaebi.blogspot.com.br

88
Foi a partir da segunda metade do século XVIII, com a Revolução Industrial,
que o capitalismo consolidou-se. Do ponto de vista econômico, tem início um
processo intenso e contínuo de exploração do trabalho em grandes
proporções, geração de lucro e acumulação de capital. Aqui você pode se lembrar
também da reflexão do filme Tempos Modernos, de Chaplin, visto no Módulo I.
Do ponto de vista político e social, a aristocracia perde o poder político para a
burguesia urbano-industrial, surgindo ainda uma outra classe: os trabalhadores (ou
operários). Isso tudo implicou em profundas modificações nas práticas sociais, em
especial, no modo de produção.
Foi a preparação para essas novas relações sociais que modificou também a
organização do processo de formação humana, elegendo a escola como principal
instituição preparatória para a vida social.
Se, desde a antiguidade, temos algumas manifestações de um processo
educativo um pouco mais sistematizado, o qual nos acostumamos a chamar de
escola, somente na modernidade, a escola assume o papel de uma instituição
educativa significativa na sociedade para a organização do processo educativo
socialmente representativo.
Portanto, a escola é uma instituição da sociedade moderna, assim como a
sua correlata: a infância, tal como a entendemos hoje. Você já sabia, não é mesmo?
De acordo com o “sentimento da infância”, que “corresponde à consciência da
particularidade infantil, essa particularidade que distingue essencialmente a criança
do adulto, mesmo jovem” (1981, p. 156). Na idade média, a infância se limitava ao
período inicial da vida no qual a criança dependia do constante cuidado do adulto,
mãe ou ama.

89
34 DESCOBERTA DA INFÂNCIA

Fonte: pt.slideshare.net

A criança ingressava no mundo dos adultos não se distinguindo mais destes.


A dilatação do período da infância foi correlata de uma transição da escola que
durou do século XV ao século XVIII.
A escola foi um meio de isolar cada vez mais as crianças durante um período
de formação tanto moral quanto intelectual, de adestrá-las, graças a uma disciplina
mais autoritária, e, desse modo, separa-la da sociedade dos adultos.
Segundo este autor, na idade média, a escola era destinada a um pequeno
número de clérigos de diferentes idades.

90
Fonte: slideplayer.com.br

A abertura da escola aos demais manteve a mistura de diferentes idades e a


exclusão das mulheres. Mais tarde, criou-se a separação dos estudantes por classes
(o que constituiu a primeira subdivisão no interior da população escolar), mas o
critério para formação das classes foi o grau de capacidade, não a idade. A criação
das classes por idade ocorreu somente no século XVIII.
Observe como vai se construindo o processo de seleção dos estudantes.
A regularização do ciclo anual das promoções, o hábito de impor a todos os
alunos a série completa de classes, em lugar de limitá-la a alguns apenas e as
necessidades de uma pedagogia nova adaptada a classes menos numerosas e mais
homogêneas, resultaram, no início do século XIX, na fixação de uma
correspondência cada vez mais numerosa entre a idade e a classe.

91
Fonte: pt.slideshare.net

Até o século XVIII, a distinção entre população escolarizada e não


escolarizada não correspondia às condições sociais, embora o núcleo principal da
escola fosse constituído de indivíduos oriundos das famílias burguesas de juristas e
ligados ao clero.
No século XIX, a escola única foi substituída por um sistema de ensino duplo,
em que cada ramo correspondia não a uma idade, mas a uma condição social: o
Liceu e o Colégio para os burgueses (o secundário) e a escola para o povo (o
primário).
Existe, portanto, um notável sincronismo entre a classe de idade moderna e a
classe social: ambas nasceram ao mesmo tempo, no fim do século XVIII, e no
mesmo meio: a burguesia.
Se do ponto de vista sócio histórico a escola é uma instituição moderna, e
aqui você já compreende o que significa o moderno, então, qual a função da escola
no processo de formação humana nas sociedades atuais?
Nas aulas de história da educação você viu que o surgimento da escola tal
qual a conhecemos hoje coincide com o advento da sociedade capitalista em que
a necessidade de ler e escrever atendia às necessidades emergente do universo
comercial.

92
35 A FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA

Fonte: slideplayer.com.br

A professora Tozoni-Reis (2010) pergunta em seu artigo: Se a educação é


uma exigência humana – individual e coletiva – e a escola foi, historicamente, a
instituição social “escolhida” pela humanidade para cumprir esta tarefa, como
podemos considerar a função específica da escola atualmente?
Lembremos que os estudos sobre o papel da escola, na sociedade moderna,
apontam para o fato de que não existe uma função única, consensual, universal da
escola. Se você recordar da sua vida escolar desde o início certamente irá
reconhecer que a função da escola mudou. Se vivemos, na modernidade, em uma
sociedade contraditória – uma sociedade de classes com interesses antagônicos e
contraditórios – cada grupo social compreende este papel segundo seu próprio
conjunto de valores e interesses sociais, culturais e políticos.

93
Fonte: www.inclusive.org.br

A função da escola é vista de forma global, universal e também tem um


caráter individual de acordo com o interesses daqueles que dela participa. Isso
significa dizer que a escola não é uma instituição social neutra, uma instituição
educativa a serviço de todos, igualmente. A forma como se realiza o processo de
formação humana na sociedade moderna, portanto, a educação no interior da
instituição social chamada escola, diz respeito aos valores, ideologias e intenções
dos diferentes grupos sociais que disputam seu lugar na hierarquia social.
Assim, os estudos da sociologia da educação apontam para a ideia de que a
educação escolarizada nestas sociedades tem, em geral, algumas funções. Vejamos
com atenção algumas destas funções.

94
(LUCKESI, 1990).

Observe bem como estas funções acima citadas são vistas por Demerval
Saviani. Para este autor a escola vive o antagonismo destas três funções.

Fonte: pt.slideshare.net

O estudo empreendido por Saviani (2008) sobre as bases teóricas da


educação, apresentado no conhecido Escola e Democracia com todas as polêmicas

95
que ainda gera, analisa a impossibilidade teórica e prática das propostas educativas
denominadas por ele como “teorias não-críticas da educação”.

36 REFLETINDO SOBRE AS CONCEPÇÕES DE EDUCAÇÃO

Fonte: www.egov.ufsc.br

Observe bem como Saviani conceitua as três funções da escola. Tozoni- Reis
(2010) utiliza-se da categoria desigualdade social para analisar a função social da
escola, especialmente para compreender as relações entre educação e sociedade.
Assim a autora pergunta: Diante desta característica definidora da sociedade
capitalista moderna, como sustentar a tese das teorias não críticas de que a
educação escolarizada é um instrumento de equalização social?
Teorias não críticas são aquelas que não consideram a escola na relação com
a sociedade e seus conflitos.
Em outras palavras, como conceber a escola como um instrumento de justiça
social analisada por teorias que não fazem a crítica às relações conflituosas que
existem na sociedade. Percebe?

96
Neste sentido, “a sociedade é concebida como essencialmente harmoniosa,
tendendo a integração de seus membros” (SAVIANI, 2008, p. 4).
Lembra da teoria de Durkheim, em que a sociedade tende para a harmonia?
Assim, de característica definidora da sociedade capitalista moderna, a desigualdade
social – e, consequentemente, a marginalidade – é concebida como uma distorção
que, pela educação, pode ser superada. Numa perspectiva durkheimiana a
desigualdade social seria uma anomia social.
Assim pensada a escola mostra o caráter “redentor” nas relações entre a
educação e a sociedade: A marginalidade é, pois, um fenômeno acidental que afeta
individualmente um número maior ou menor de seus membros, o que, no entanto,
constitui um desvio, uma distorção que não só pode como deve ser corrigida.

Fonte: pt.slideshare.net

A educação emerge aí como um instrumento de correção dessas distorções.


Tozoni-Reis analisa esse papel de “redentora” da sociedade, de instrumento de
equalização, de correção das distorções que, eventualmente, encontramos na
sociedade moderna. Nesse sentido, a educação escolarizada tem o papel social de

97
garantir a construção de sociedades igualitárias, de corrigir essas distorções
eventuais.
Perguntas:
1. A educação e, particularmente, a escola, como instituição social, define,
por si, a superação da desigualdade social?
2. A desigualdade social não é uma das mais importantes características
– definidora, fundante – da sociedade capitalista moderna? Nesta
questão você consegue perceber a perspectiva marxista?

Fonte: tempossafados.blogspot.com.br

Tozoni-Reis não conclui que essa tarefa – de superação das desigualdades é


impossível para a escola pela sua magnitude, mas compreende que a instituição
escolar é uma instituição que emerge desta sociedade, que está a serviço dos
interesses contraditórios que definem a constituição da sociedade capitalista
moderna como sociedade desigual.
Por outro lado, a educação, em particular a escolarizada, como instituição
social principal responsável pela formação dos sujeitos sociais na modernidade tem
assumido, segundo as análises sociológicas dedicadas ao seu estudo, a função de
reproduzir a desigualdade social que caracteriza esta sociedade.

98
37 REPRODUÇÃO NA ESCOLA

Reprodução: Isso significa dizer que a educação, como instituição social


organicamente ligada a esta sociedade, contribui, no que diz respeito à formação
dos sujeitos sociais, para reproduzir a contradição de classes inerente à sociedade
capitalista moderna.

Fonte: praticassocioeducativas.blogspot.com.br

A maior contribuição dos sociólogos da educação foi denunciar o papel


legitimador da desigualdade social que assume a escola em nossa sociedade.
Você já deve ter percebido a perspectiva crítica e já deve ter identificada qual
é a corrente teórica que a autora utiliza para compreender a escola na sua relação
com a sociedade.
Ou seja, é necessário compreender que a escola não tem apenas o papel de
formação dos sujeitos sociais, uma formação descomprometida com as formas
organizativas da sociedade, mas um papel comprometido com a dinâmica social
dominante.

99
Fonte: pt.slideshare.net

Dessa forma, a escola, em sua tarefa de formar os sujeitos sociais, não é


neutra, mas exerce um papel político nesta formação, no sentido de seu
comprometimento – do ponto de vista da reprodução ideológica – na formação dos
sujeitos.
Como dito acima a principal referência nestes estudos é Bourdieu:
Contrariando a ideia da escola enquanto espaço social democrático e emancipador,
a Sociologia bourdieusiana buscava mostrar que essa instituição legitimava as
práticas sociais das classes dominantes.
Vamos conhecer um pouco este eminente sociólogo que dedicou boa parte do
seu trabalho para entender a relação da escola com a sociedade.

37.1 Pierre Bourdieu

Destacado sociólogo francês do século XX. Nascido na cidade de Denguin,


França, no dia primeiro de agosto de 1930, era proveniente de uma família
campesina Sua publicação entre as décadas de 1960 e 1980 o caracteriza como
importante sociólogo do século XX. A repercussão de suas reflexões o leva a
lecionar em importantes universidades do mundo.

100
Bourdieu faz uma análise das desigualdades escolares e sua relação com a
estrutura das desigualdades sociais, revela o que ele chama de violência simbólica,
ao mostrar como as desigualdades e dificuldades dos alunos podem ser
compreendidas a partir da observação da estrutura social em que vivem e, o que é o
mais importante, como a escola contribui para a reprodução destas desigualdades.
No texto, A Escola conservadora: as desigualdades frente à escola e à
cultura, o sociólogo francês Pierre Bourdieu (1966), desenvolve um de seus
principais conceitos teóricos, o capital cultural; através do qual explica o atraso
“educacional” das classes populares. Bourdieu (1966) faz uma crítica vigorosa à
função desempenhada pelas instituições escolares francesas. Salvo às
especificidades da realidade escolar da França, da pesquisa sociológica científica e
da época em que Bourdieu escreve, acredito que, a partir de seu texto, podemos
ainda pensar algumas questões à política e à educação contemporânea no Brasil.

É provavelmente por um efeito de inércia cultural que continuamos tomando o


sistema escolar como um fator de mobilidade social, segundo a ideologia da ‘escola
libertadora’, quando, ao contrário, tudo tende a mostrar que ele é um dos fatores
mais eficazes de conservação social, pois fornece a aparência de legitimidade as
desigualdades sociais, e sanciona a herança cultural e o dom social tratado como
dom natural.
101
38 ESCOLA: DESIGUALDADE LEGÍTIMA?

Você pode perceber aqui que o autor chama a atenção para o fato de que a
escola legitima a desigualdade social, na medida em que não questiona as relações
de conflito que estão no seu interior.
Por que a escola não é um fator de mobilidade social? Bom, para o autor,
existe uma série de aspectos culturais que precisam ser levados em conta para
explicar a mobilidade social (aquilo que pode fazer com que uma pessoa saia de uma
classe social inferior para uma superior). Dentre os aspectos das relações sociais
que levam ao êxito escolar e à ascensão social, são perceptíveis algumas formas
grosseiras:
a) Recomendações, quer dizer, o famoso “Quem Indica”.
b) Ajuda no trabalho escolar ou ensino suplementar. Pais, familiares e
outros que auxiliam os alunos nas tarefas escolares; e as atividades fora do âmbito
da escola, como cursos de idiomas ou de disciplinas específicas como português e
matemática (famoso Kumon) e de pré-vestibulares, no atual caso brasileiro.
c) Informação sobre o sistema de ensino e perspectivas profissionais. Este
ponto se refere ao conhecimento detalhado de profissões e de particularidades de
estudos conforme as exigências de uma prova classificatória, como no vestibular ou
ENEM.

Porém, nenhuma dessas três formas consegue dar conta da sofisticação


cultural relacionada à classe social do aluno, que podemos enumerar em dois tipos:
1. Transmissão do capital cultural da família
2. Do Ethos (como proceder) no agir ao capital cultural e à instituição
social. Essas duas heranças culturais que diferem entre as classes
sociais são responsáveis pela diferença inicial das crianças diante da
experiência escolar e pelas suas taxas de êxito. Tento explicar
minimamente a seguir os valores culturais sofisticados captados por
Bourdieu, que estão implícitos na relação familiar – os modos de
aprender e de agir, e as expectativas de futuro.

102
Fonte: eliperochasociologia.blogspot.com.br

39 A TRANSMISSÃO DO CAPITAL CULTURAL

As pesquisas do sociólogo Paul Clere mostram que a parcela de bons alunos


em uma amostra de 5ª série cresce em função da renda de suas famílias. Entretanto
percebe-se que aqueles alunos cujos pais possuem formação superior têm maior
sucesso escolar. Você está entendendo a postura de Bourdieu? Ou seja, mesmo
utilizando-se de alguns pressupostos marxistas, este autor dá uma ênfase especial
ao aspecto cultural. Ainda assim os alunos de famílias que possuem diplomas iguais,
muito pouco diferem entre si, mesmo que a renda de uma ou de outra família seja
superior. Isto demonstra que dentro das heranças dois fatores são determinantes
para o êxito escolar: a renda e o “conhecimento” dos familiares.

103
Fonte: pt.slideshare.net

Mas, acima de tudo, o conhecimento dos membros da família. Este está à


frente da renda. O que significa que o sucesso da criança na escola está
diretamente ligado à cultura. Esta tem um valor maior do que o financeiro, embora
geralmente os dois apareçam atrelados.

40 RENDA E CULTURA: ATRIBUTOS FAMILIAR

Podemos dizer então que o capital cultural possui uma relação direta com
os atributos familiares (cultura e renda), logo, com a rede sociocultural da qual a
criança participa. A herança cultural deve levar em conta não somente o nível cultural
do pai ou da mãe, mas também o dos demais componentes da família,
especialmente, o dos avós.
As localidades regionais onde se residiu para os estudos na adolescência e
na juventude também precisam ser colocadas nesse cálculo. Pois em determinados
lugares existe uma maior disponibilidade de bens simbólicos, como museus, teatros,
parques culturais, cinemas, instituições escolares de melhor qualidade, centros de
cultura e etc. Soma-se a estes dois aspectos o conjunto das características do
104
passado escolar, como o tipo de curso secundário e o tipo de estabelecimento – se
municipal, estadual, federal ou privado. Você está entendendo? Se não, volte à
leitura e faça reflexão, ou pare um pouco de depois retorne.

Fonte: marisaserikako.iibnn.com

Para a pesquisa sociológica sobre as causas do êxito escolar, é necessário


consequentemente, um modelo que leve em conta essas diferentes variáveis – e
também as características demográficas do grupo familiar, como o tamanho da
família – que permita fazer um cálculo muito preciso das esperanças de vida escolar.
É perceptível que Bourdieu atribui um valor muito maior a família do que a
escola. Ele conta que os filhos das classes populares com maior propensão a
ingressar na faculdade têm famílias diferentes da média de sua categoria, seja por
seu nível cultural global ou por seu tamanho.

Fonte: wol.jw.org

105
Contudo os níveis de instrução da família são apenas indicadores e não
mostram quais conteúdos são transmitidos às crianças. Nisso as pesquisas
demonstram que o capital cultural mais rentável para o sucesso escolar é constituído
pelas informações e conhecimentos relacionados ao mundo universitário, à
facilidade verbal e à cultura livre adquirida nas experiências extraescolares.
Quer dizer que a transmissão cultural eficaz é a que não está separada da
vida comum do aluno e que não se trata de uma tarefa específica que ele fará
metodicamente, mas um eixo de relações culturais que participa de sua vida de
maneira integral sem parecer forçosa. Neste sentido, os alunos de família rica e culta
interagem numa cultura de gostos, de linguagens e de fazeres propícios

ao que é cobrado nas instituições formais. Por conta de haver essas relações
desde “berço” acredita-se, enganosamente, que as qualidades destas crianças,
transmitidas quase por osmose, são dons naturais. Olha que interessante!
Ao contrário desta crença, Bourdieu (p. 46) escreve que: “o êxito com os
estudos literários está estreitamente ligado à aptidão para o manejo da língua
escolar, que só é uma língua materna para as crianças oriundas das classes cultas”,
enquanto as crianças das classes populares precisam se desdobrar para fugir do
linguajar próprio ao seu cotidiano.
Faz sentido para você, estas reflexões?

41 A ESCOLHA DO DESTINO E A QUESTÃO DO ETHOS FAMILIAR

Geralmente a atitude de pais e de crianças em relação à escola está


relacionada às suas posições sociais. Esse caso é particularmente importante no
âmbito do ensino francês estudado por Bourdieu. Os alunos após terminarem o nível
básico precisavam mudar para outra escola. Entre as opções, as melhores “públicas”
eram concorridas através de exames, de indicações e de regularidades de notas
boas no ensino básico.
O pai do aluno esperava que ele atingisse um bom desempenho nas séries
iniciais, sobretudo, baseado num certo índice medido conforme os incentivos dos

106
professores, para que ele continuasse os estudos e/ou concorresse a uma vaga nas
melhores escolas.
As pesquisas de Bourdieu mostram que “a escolha da escola e das maneiras
do ensino (técnico ou teórico) tem a ver com as lembranças das experiências direta e
imediata pela estatística intuitiva das derrotas ou dos êxitos parciais das crianças de
seu meio”. A desesperança, não raras vezes, tomam as classes populares e então
dizem: “Isso não é para nós”. O que significa: “Não temos meios para isso”.

Fonte: ambientalistamarcioluiz.blogspot.com.br

As condições econômicas e culturais das classes médias também são


diferentes das classes superiores, haja vista que a cada dois alunos das classes
superiores que acessam a faculdade, somente um aluno das classes médias
consegue.
Pare um pouco agora e reflita sobre o seu capital cultural, este que você
herdou da sua família. Que tipo de bagagem você trouxe para a escola? Em que
medida o seu capital cultural ajudou ou dificultou a sua assimilação da cultura da
escola?

107
O capital cultural e o ethos combinam-se na concorrência para definir as
condutas escolares que excluirão os alunos das classes populares. A questão da
desesperança e do ethos aparece de modo paradoxal para as crianças pobres, pois
se espera que compensem suas carências de capital cultural através de um
desempenho melhor que aqueles que possuem melhores condições econômicas e
culturais.

Fonte: slideplayer.com.br

Desta maneira, aponta Bourdieu (p. 50): “o princípio geral que conduz à
superseleção das crianças das classes populares e médias estabelece-se assim: as
crianças dessas classes sócias que, por falta de capital cultural, têm menos
oportunidades que outras de demonstrar um êxito excepcional, devem, contudo,
demonstrar um êxito excepcional para chegar ao ensino secundário”.

108
42 COMO A ESCOLA CUMPRE A FUNÇÃO DE CONSERVAR AS
DESIGUALDADES SOCIAIS?

Agora que você compreendeu o que significa capital cultural converse com os
seus colegas no fórum ‘do aluno’ e amplie ainda mais o se conhecimento de forma
interativa. Este é um ótimo exercício.
E, agora? Como o capital cultural interfere no processo de aprendizagem?

Fonte: slideplayer.com.br

As práticas e os métodos de ensino na escola são homogêneos, ou seja, o


mesmo para todos os alunos, não se importando com a diversidade cultural entre eles,
não atentam para as especificidades como as carências de cada pessoa associada
a uma dada classe social.
A escola trata todos “os educandos, por mais desiguais que sejam eles de
fato, como iguais em direitos e deveres, assim, o sistema escolar é levado a dar sua
sanção às desigualdades iniciais diante da cultura”. Pode-se afirmar que a escola
nega o princípio de isonomia da justiça liberal (inclusive), pois não trata
particularmente cada um de maneira adequada às suas necessidades.

109
Fonte: educaja.com.br

Ou seja, há um tratamento igual (baseado no modelo da cultura formal das


classes superiores) que reproduz as desigualdades já existentes tanto nas
condições simbólicas (como a linguagem) quanto nas condições materiais
(econômicas).
Veja nas palavras do próprio Bourdieu:
“Ao atribuir aos indivíduos esperanças de vida escolar estritamente
dimensionadas pela sua posição na hierarquia social, e operando uma seleção que –
sob as aparências da equidade formal – sanciona e consagra as desigualdades
reais, a escola contribui para perpetuar uma sanção que se pretende neutra, e que é
altamente reconhecida como tal, nas aptidões socialmente condicionadas que trata
como desigualdades de ‘dons’ ou de mérito, ela transforma as desigualdades de fato
em desigualdades de direito, as diferenças econômicas e sociais em ‘distinção de
qualidade’, e legitima a transmissão da herança cultural.”

110
Segundo a lição de Bourdieu, não é possível haver igualdade diante das
desigualdades pré-existentes.

Como cobrar as mesmas coisas para pessoas com condições materiais e


simbólicas totalmente diferentes? As estatísticas dos vestibulares da UFU mostram
que em dez anos nenhum aluno da rede pública conseguiu ingressar no curso de
medicina (o mais concorrido desta instituição).

Seria porque nasceram burros? Porque estudaram pouco? Ou porque não


estudaram nas mesmas instituições e cursinhos que os alunos aprovados? Ou
porque não tiveram tempo ($) suficiente para aprenderem inglês no CCA e
matemática no Kumon? Talvez seja porque seus professores da rede pública
precisaram pegar 32 aulas por semana em 18 salas diferentes, com cerca de 40

111
alunos em cada (360 alunos ao todo), fazendo com que seu tempo fosse bastante
pequeno para que pudessem preparar melhor as aulas.
Aulas as quais a direção da escola e o governo não deram apoio nenhum
além do livro didático de História escrito por um bacharel em Direito. Ou então talvez
porque os alunos tiveram que trabalhar de atendente de telemarketing para ajudar
nas despesas de casa. Vai saber!

43 VIOLÊNCIA SIMBÓLICA

Nas próximas aulas você continuará a ter contato com o conceito de capital
cultural, entretanto, aliado a outro não menos importante conceito de Bourdieu:
violência simbólica.

Desigualdades sociais incorporadas na escola: A violência simbólica


Importante iniciar aqui com a compreensão do termo violência simbólica. O
adjetivo simbólico adverte que esta violência não é física nem aparente e, de certa
forma, é invisível, na medida em que para compreendê-la será necessário
desvendar alguns pontos presentes na prática pedagógicas.
Examine as suas experiências tanto pessoal quanto o contato com outras
pessoas, colega, vizinhos, família e identifique que tipos de violência simbólica é
possível lembrar.
Será que a violência existente na escola tem alguma relação com a violência
simbólica nesta mesma escola?
Como visto anteriormente, a escola tende a reproduzir a cultura dominante de
forma homogenia sem considerar a diversidade de saberes que a compõe e, neste
sentido, exclui alunos que não conseguem incorporar a estrutura dos valores
dominantes, considerados legítimos. Contudo, a transmissão de conhecimento não
forma pessoas críticas e com autonomia para pensar a partir de categorias que lhes
são próximas, construindo sentidos para a aprendizagem. A reprodução das
estruturas econômicas e sociais na escola e, consequentemente a exclusão dos
alunos menos favorecidos promove a violência simbólica, na medida em que as
dificuldades dos alunos são vistas como naturais e inerentes às suas capacidades

112
individuais, quando na prática devem ser compreendidas analisando a exclusão que
a própria sociedade impõe.

Fonte: nepfhe-educacaoeviolencia.blogspot.com.br

44 BOURDIEU E A EDUCAÇÃO

Uma contribuição importante de Bourdieu foi a noção de que o chamado


fracasso escolar não é um resultado que depende exclusivamente do aluno, pois a
escola não é um ambiente neutro. Existe influência dos agentes que participam das
instituições de ensino no processo de desempenho educacional, interferindo
diretamente no sucesso ou fracasso escolar.
Bourdieu (1998) argumenta que os problemas na educação são de ordem
social, que por meio de leis e projetos define quem serão os melhores e, assim,
exclui a concorrência justa.
Percebe que os problemas da escola estão ligados diretamente à estrutura
social e não será com leis e regras internas ou usadas para resolver o problema da e
na escola que irá acabar com as dificuldades enfrentadas. É preciso entender que a
escola é fruto de uma sociedade e compreender como esta funciona, quais são suas

113
características, sua história, sua cultura, é essencial para pensar em uma educação
transformadora, porque mudar a escola significa também operar mudanças no
próprio ambiente escolar.

Fonte: ccfjm.blogspot.com.br

O termo violência simbólica, que na visão de Bourdieu (1998), consiste em


uma ação arbitrária imposta por um grupo de poder dominante e imposto a todos
como algo natural, é um instrumento importante para compreender a dinâmica da
escola e a função do currículo nas práticas escolares. Para a apreensão mais efetiva
o conceito de violência simbólica, vamos fazer uma breve revisão no conceito de
capital cultural. É o que se apresenta a seguir:

45 CAPITAL CULTURAL

Revisando o conceito: O Capital Cultural é a tradução de toda experiência


intelectual e cultural que o indivíduo adquire por meio das relações de socialização,
sejam socialização primária, no contexto familiar, ou secundária, em outros
ambientes de convivência. Este capital irá definir o sucesso ou o fracasso no
contexto da meritocracia tanto escolar quanto profissional. Ou seja, por mérito
alcançam-se determinados lugares. A discussão, portanto, está na palavra mérito.
O termo capital que poderia ser entendido na sua relação econômica, ou seja,
tem capital que possui dinheiro investido, ganha outro adjetivo. O que se pode
adquirir com o dinheiro: livros, idas à biblioteca, cinema, enfim, o investimento feito
114
pela elite econômica, gera uma relação entre os capitais que se traduz no capital
simbólico (cultural) e tem relação de poder sobre os demais, sendo esta influência
do capital simbólico chamada de poder simbólico.
A relação de dominação do capital simbólico passa a ser vista como legítima
e não como um tipo de violência que é imposta pelos valores, condutas e atitudes de
uma determinada classe.
O pertencimento a um determinado grupo é constituído a partir do capital
cultural que cada indivíduo traz consigo. Quando mais capital cultural é assimilado
maior é o poder e a visibilidade.

Fonte: www.google.com.br

Observe a imagem. O universo cultural dos alunos diante de um professor


que transmite o conhecimento no lugar de problematiza-lo faz diferença no processo
de aprendizagem. Para aqueles que não assimilam os códigos culturais dados pelo
professor (Veja: literatura, música e artes plásticas), o ‘aprender’ transforma-se
numa atividade angustiante.
Agir de acordo com os interesses da classe dominante é o jogo de poder do
qual fala Bourdieu, referindo-se ao poder simbólico que, na prática produz o que se
viu acima, a violência simbólica. Sucesso para uns e fracasso para outros. Ao entrar

115
para a escola o indivíduo traz consigo traços definidores da sua cultura e de seu
desempenho.
Na perspectiva de Bourdieu, os problemas educacionais não podem ser
resolvidos sem antes resolver os problemas sociais para garantir condições de
igualdade de oportunidades. Condições em que a escola deixa de ser uma
instituição reprodutora da cultural dominante para ser uma instituição produtora do
saber.

46 A SOCIOLOGIA NA ESCOLA

Essa análise sobre a escola, baseada em volumosas e importantes pesquisas


com levantamento de dados empíricos sobre a realidade escolar, criou novos
referenciais teóricos para a compreensão da educação escolar na sociedade
capitalista dos anos sessenta do século XX. Até hoje, ela se constitui como um dos
principais paradigmas para os estudos sociológicos da educação: A grande
contribuição da Sociologia da Educação de Pierre Bourdieu foi, sem dúvida, a de ter
fornecido as bases para um rompimento frontal com a ideologia do dom e com a
noção moralmente carregada de mérito pessoal.

116
Fonte: alencarcaroline.wordpress.com

A partir de Bourdieu, tornou-se praticamente impossível analisar as


desigualdades escolares, simplesmente, como frutos das diferenças naturais entre
os indivíduos.
Se essa Sociologia denunciou o papel de legitimador das desigualdades
sociais, trazemos também para análise a proposta transformadora da escola. Mais
do que uma realidade existente – como a analisada e denunciada pela sociologia
reprodutivista – a educação transformadora consiste em uma proposta que parte do
desafio de construir uma escola que esteja, não a serviço dos grupos dominantes da
sociedade no que diz respeito à preservação dos privilégios, mas comprometida com
a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
O ponto de partida da educação transformadora, que tem caráter fortemente
crítico, é a constatação de que a escola não transforma diretamente a sociedade,
mas instrumentaliza os sujeitos que, na prática social, realizam o movimento de
transformação. Isto é, a escola tem a especificidade de, do ponto de vista da
formação humana, garantir a apropriação de elementos da cultura que se
transformem, na prática social, em instrumentos de luta no enfrentamento da
desigualdade social. Em uma perspectiva crítica, que concebe a educação como um
processo de instrumentalização dos sujeitos para a prática social transformadora,
Saviani define a função da escola como sendo a de uma instituição cujo papel
consiste na socialização do saber sistematizado.

117
Fonte: pt.slideshare.net

Isso significa afirmar que a educação escolar tem como principal função
promover a consciência dos educandos para a compreensão e transformação da
realidade.
Sobre a educação transformadora você aluno e aluna não podem deixar de
conhecer mais de perto as grandes contribuições que o educador brasileiro,
referência em todo o mundo, Paulo Freire trouxe para o pensamento educacional.
Sugiro que registre em seu caderno de notas. Compreender Paulo Freire é
aproximar da história de educação brasileira.

47 PAULO FREIRE: A IMPORTÂNCIA DO PENSAMENTO EDUCACIONAL


BRASILEIRO.

A biografia de Paulo Freire revela momentos importantes da educação


brasileira, como você verá a seguir: Paulo Régis Neves Freire, educador
pernambucano, nasceu em 19/9/1921 na cidade do Recife. Foi alfabetizado pela mãe,
que o ensina a escrever com pequenos galhos de árvore no quintal da casa da família.
Com 10 anos de idade, a família mudou para a cidade de Jaboatão.
Na adolescência começou a desenvolver um grande interesse pela língua
portuguesa. Com 22 anos de idade, Paulo Freire começa a estudar Direito na

118
Faculdade de Direito do Recife. Enquanto cursava a faculdade de direito, casou- se
com a professora primária Elza Maia Costa Oliveira. Com a esposa, tem teve cinco
filhos e começou a lecionar no Colégio Oswaldo Cruz em Recife.
No ano de 1947 foi contratado para dirigir o departamento de educação e
cultura do Sesi, onde entra em contato com a alfabetização de adultos. Em 1958
participa de um congresso educacional na cidade do Rio de Janeiro. Neste
congresso, apresenta um trabalho importante sobre educação e princípios de
alfabetização. De acordo com suas ideias, a alfabetização de adultos deve estar
diretamente relacionada ao cotidiano do trabalhador. Desta forma, o adulto deve
conhecer sua realidade para poder inserir-se de forma crítica e atuante na vida
social e política.

Fonte: www.youtube.com

No começo de 1964, foi convidado pelo presidente João Goulart para


coordenar o Programa Nacional de Alfabetização. Logo após o golpe militar, o
método de alfabetização de Paulo Freire foi considerado uma ameaça à ordem,
pelos militares. Viveu no exílio no Chile e na Suíça, onde continuou produzindo
conhecimento na área de educação.

119
Sua principal obra, Pedagogia do Oprimido, foi lançada em 1969. Nela, Paulo
Freire detalha seu método de alfabetização de adultos. Retornou ao Brasil no ano de
1979, após a Lei da Anistia
Durante a prefeitura de Luiza Erundina, em São Paulo, exerceu o cargo de
secretário municipal da Educação. Depois deste importante cargo, onde realizou um
belo trabalho, começou a assessorar projetos culturais na América Latina e África.
Morreu na cidade de São Paulo, de infarto, em 2/5/1997
Atualidade de Freire está em colocar o ser humano, aquele que por muito
tempo esteve invisível diante da cultura dominante, como uma categoria central da
sua pedagogia. Se você observar bem verá que a concepção freirianas se insere
nas teorias críticas e pós-críticas, primeiro por denunciar a desumanização e a
opressão como estratégia fundamental para a libertação e transformação social.
Uma Teoria da educação de inspiração freireana necessariamente deverá
contemplar eixos centrais do pensamento de Paulo Freire, quais sejam: o que,
como, para que, para quem, a favor de quem?

Fonte: sociedadedospoetasamigos.blogspot.com.br

120
Neste sentido os conteúdos e em termos gerais o conhecimento, são
questões centrais que vem dominando as discussões curriculares tanto na ótica de
algumas teorias quanto nas políticas públicas, e mesmo nas escolas: quais os
conteúdos que são relevantes frente a contemporaneidade, aos desafios postos pela
globalização.

48 FREIRE E BOURDIEU

Paulo Freire se aproxima de Bourdieu na medida em que os dois estão


interessados em denunciar as relações de classe presente na escola e
consequentemente, as desigualdades sociais.
Para Freire, a escola ensina muito mais que conteúdos, ensina uma forma de
ver o mundo. Neste sentido, o que ensinar não poder estar desvinculado de outras
questões que precisam ser feitas no ato de educar: quem educa? Por que educa? O
que ensina? Como ensina? A quem serve, contra quem e a favor de quem?
As dimensões devem ser vistas em seu conjunto.

Fonte: sociedadedospoetasamigos.blogspot.com.br

121
A diversidade é reflexo da nova configuração social em que o acesso à
educação fruto de lutas por direitos e do fortalecimento da democracia se constitui
uma realidade que não pode ser negada.
Para Freire a organização do conhecimento na escola não passa pelo viés
dos conteúdos mas pelas relações que se possam estabelecer no entorno do ato
educativo; a vida cotidiana da escola como um todo diz respeito ao ato educativo.
Um campo vivo de possibilidades e incertezas. A vida cotidiana está no centro do
currículo.
Freire entende que não se muda a cara da escola por portaria, por pacotes
pensados por uma dúzia de iluminados, para ser aplicado nas escolas. Aqui ele
aponta para a noção do conhecimento como uma construção teórico/prática, sendo
imprescindível a participação, a dialogicidade no processo de elaboração curricular.
Freire compartilhou com Giroux a perspectiva de uma pedagogia radical, libertadora.
Para ele, a linguagem da educação é contextual e deve ser compreendida em sua
gênese e desenvolvimento como parte de uma rede mais ampla de tradições
históricas e contemporâneas, de forma que possamos nos tornar autoconscientes
dos princípios e práticas sociais que lhe dão significado.
Tomando a linguagem como prática de significação, Giroux(1997) coloca a
necessidade de se analisar as condições históricas de construção de um discurso.

Para ele, nenhum projeto teórico está pronto, e cada ensaio tem que ser lido
de novo pela compreensão que pode trazer ao momento presente. Neste sentido,
tomando a educação como prática de significação, o pensamento de Paulo Freire
122
pode ajudar a escola a contribuir na construção de outras subjetividades,
inconformistas, que pervertam os sentidos impostos pelo capitalismo sob a ótica de
valorar a tudo por sua qualidade de troca.
Sob a perspectiva freireana, a luta por significados é uma luta política,
reafirmando-se portanto a urgente politicidade da educação.
Em seu livro A pedagogia da autonomia, Freire (2002), pontua uma questão
que nos interessa de perto e veremos a seguir.

Ensinar exige respeito aos saberes do educando


Ao professor cabe respeitar os saberes do educando e mais do que isto,
reconhecer que tais saberes são parte de um processo social construído na prática
comunitária e discutir com os alunos a razão de ser de alguns desses saberes em
relação com o ensino dos conteúdos.

Nas palavras de Freire:


Deve-se aproveitar a experiência que tem os alunos de viver em áreas da
cidade descuidadas pelo poder público para discutir, por exemplo, a poluição dos
riachos e dos córregos e os baixos níveis de bem estar das populações, os lixões e
os riscos que oferecem à saúde das gentes.
Por que não há lixões no coração dos bairros rios e mesmo puramente
remediados dos centros urbanos? Esta pergunta é considerada em si demagógica e
reveladora da má vontade de quem a faz.
É pergunta de subversivo, dizem certos defensores da democracia. Por que
não discutir com os alunos a realidade concreta a que se deva associar a disciplina
cujo conteúdo se ensina, a realidade agressiva em que a violência é a constante e a
convivência das pessoas é muito maior com a morte do que com a vida?
Por que não estabelecer uma necessária "intimidade" entre os saberes
curriculares fundamentais aos alunos e a experiência social que eles têm como
indivíduos?

123
49 ESCOLA: UM AMBIENTE POLÍTICO

Por que não discutir as implicações políticas e ideológicas de um tal descaso


dos dominantes elas áreas pobres da cidade? A ética de classe embutida neste
descaso?
Por que, dirá um educador reaccionariamente pragmático, a escola não tem
nada que ver com isso. A escola não é partido. Ela tem que ensinar os conteúdos,
transferi-los aos alunos. Aprendidos, estes operam por si mesmos.
Exatamente neste ponto há uma crítica à perspectiva freireana, a de enfatizar
as relações políticas e sociais presentes na construção e elaboração do
conhecimento.
A reflexão crítica sobre a prática se torna uma exigência da relação
Teoria/Prática sem a qual a teoria pode ir virando blábláblá e a prática, ativismo. Em
meio a uma estrutura social que se constitui como classista e exploratória,
diariamente moldando o pensar dos indivíduos, fazendo-os objeto dócil de
dominação e negando a sua condição de humano, a emancipação político-social e
educacional deve constituir-se como combustível que mova a esperança de
libertação de uma opressão cruel e desumana imposta a uma determinada classe.
Diante disso, a pergunta que deve ser feita, com base em uma práxis
educativa e emancipadora é então, como transformá-la?
Para Paulo Freire, uma educação que tenha como viés a conscientização dos
educandos-educadores, o engajamento político, a denúncia das estruturas
desumanizantes por parte dos oprimidos e a valorização de uma ética universal do
ser humano que em seu bojo está a serviço do status quo vigente, são
características indispensáveis para se ousar tal transformação, ou nas palavras de
Paulo Freire ousar ser mais.
Veja uma dica do mestre para você que irá se tornar um educador:

124
Fonte: images.slideplayer.com.br

Nesse sentido a educação de que precisamos deve ser capaz de construir


humanidade através da efetivação de um processo educacional libertador, crítico e
subjetivo, permitindo o diálogo como forma de construção do conhecimento e
valorização dos saberes individuais. Excluindo os variados modelos de educação
que entende o processo de ensino aprendizagem como depósito e acúmulo de
conhecimentos e o educando como recipiente vazio pronto para ser preenchido com
conteúdo, regras e fórmulas.
A partir dessa necessidade de humanização, afirma Freire:

Contudo, tais saberes, bem tipicamente freiriano, devem ser concebidos na


prática. Não existe um saber modelar em que como numa cartilha o educador se
inspirará para realizar seu ofício. Não. A prática é a principal fonte formadora do
educador.

125
Esta prática produz um sujeito autônomo que se convence que ensinar não é
transferir conhecimentos mas criar possibilidades para a sua construção. Formação
do indivíduo que é uma característica e função da educação é vista por Freire não
como uma ação que dá forma ou estilo a uma alma ou a um corpo indeciso e
acomodado.
O educador e o educando não são, apesar de suas diferenças, objetos um do
outro. Quem ensina aprende ao ensinar. Por isso é que, do ponto de vista
gramatical, o verbo ensinar é um verbo transitivo-relativo. Verbo que pede um objeto
direto - alguma coisa - e um objeto indireto - a alguém. Do ponto de vista
democrático, em que o autor declaradamente se situa, na compreensão do homem e
da mulher como seres historicamente inacabados.

50 ENSINAR É TRANSFORMAR

A concepção do ensinar de Paulo Freire promove reflexões importantes sobre


a dinâmica do currículo na medida em que como foi alertado nas aulas anteriores a
dimensão de redes de significados estão presentes assumindo que conhecer é um
ato dialógico e humanizador.
A experiência que tive nos anos 90 na UFES como monitora e depois como
coordenadora do Projeto de Extensão do Centro de Educação para Educação de
Jovens e Adultos me ensinou que o diálogo é importante para mediar a aproximação
com o mundo, e é a partir desta mediação que acontece a aproximação da cultura
do educador e educando, produzindo novos sentidos e significados. Estas lições
aprendi na prática tendo Paulo Freire como mestre.

126
Fonte: pensador.uol.com.br

O educador brasileiro nos leva a refletir acerca da mudança deste quadro


alienador e injusto, o qual se estabelece dentro da nossa sociedade atual,
permitindo através de seu trabalho humano-pedagógico-político e social
entender a necessidade do despertar de uma consciência crítica nas pessoas para o
fato de que não somos seres determinados, mas seres de liberdade, assim Freire
em sua busca incessante pela denúncia de uma estrutura social que desumaniza as
pessoas, buscou anunciar a boniteza da vida e o inacabamento das pessoas
rechaçando os vários discursos deterministas vinculados pela classe opressora, nos
quais a ideia central é que a sociedade é assim mesmo e que não pode ser
modificada.
Freire insistiu veementemente em denunciar as estruturas desumanizantes
existentes em nossa sociedade, por entender que os oprimidos ao despertarem de
sua situação de opressão que é tida como condição dada e imóvel despertará para
uma construção social perfeitamente superável, pois segundo ele é necessário que o
oprimido libertando-se de sua situação de opressão liberte também o opressor, que
não se percebe cativo da exploração promovida por ele e não tem nenhum interesse
em perceber. Campina Grande, REALIZE Editora, 2012 13 Ao observarmos
ligeiramente as escolas brasileiras, é possível perceber um silêncio nos espaços

127
onde deveriam acontecer calorosas discussões, no entanto falar, em um sistema
que oprime falar/questionar é um ato de rebeldia, sujeito a punições.
Estaria certo então o educador Moacir Gadotti, ao afirmar que “A educação
para a fala, para a formação do orador (no sentido daquele que defende seus
direitos), seria um suicídio para a sociedade opressiva.” (GADOTTI, FREIRE e
GUIMARÃES, 1995, p. 90).

Fonte: www.blogdopedroeloi.com.br

O processo de humanização das pessoas através da estrutura educacional


perpassa pela conquista da conscientização dos alunos, através do qual estes
envolvidos em um processo de alfabetização política como possibilidade de leitura
de sua realidade tomam como base a sua experiência para o entendimento da
sociedade e o domínio da palavra como instrumento de poder, nesta perspectiva
afirma Freire,

“Não há palavra verdadeira que não seja práxis”.

128
Daí dizer que a palavra verdadeira seja transformar o mundo” (FREIRE, 2005,
p.89). Mas, o que Freire entendeu por palavra? Palavra é o ser humano
transformando em diálogo, palavra é a comunhão com o outro como testemunho e
doação e, consequentemente, como existência, porque existir “humanamente é
pronunciar o mundo, é modificá-lo” (FREIRE, 2005, P.90) porque não é no silêncio
que os homens se fazem e sim na ação reflexão.

51 A SOCIEDADE NA VISÃO DE FREIRE

Como visto a própria dimensão política é tocada tendo em vista que os


lugares são ressignificados. O lugar do professor adquire importância histórica tanto
quando o lugar do aluno e estes promovem um encontro cultural, ou melhor,
multicultural em que aprende-se ensinando e ensina-se aprendendo.

Na visão freireana de sociedade, esta constitui um espaço contraditório de


relações sociais historicamente tecidas. “Fechada” – é como ele via a sociedade
brasileira, nos anos 60. Não tardaria a enfrentar traços semelhantes, em outras
sociedades latino-americanas. E para além delas, afinal o Capitalismo se estende
pela maior parte das por onde, “andarilho da Utopia”, teve que peregrinar. Sociedade
de contradições extremadas, terreno propício para a formação de situações de
dualidade, algo como uma esquizofrenia individual e coletiva, a afetar opressores e
oprimidos, estes, sobretudo, condicionados a uma situação.
129
Terreno fértil para a fermentação da diversidade de justificativas ideológicas
introjetadas pelo opressor e alimentadas pelo oprimido coisificado. Apesar de toda a
carga ideológica administrada aos oprimidos, estes, uma vez estimulados a
recuperar sua identidade de sujeitos de sua história. Mediante debates, encontros,
engajamento nas lutas, passam a se conscientizar, a descobrir a sociedade em que
vivem.
À medida que constroem ferramenta capaz de romper o véu ideológico em
que se acham envoltos os mecanismos de opressão, vão descobrindo o caráter
histórico, e portanto mutável, da sociedade. De meros integrantes acríticos de uma
classe sofrida (“classe em si”), passam também a identificar-se criticamente
enquanto membros de uma classe, sabendo a favor de quê e de quem e contra quê
e contra quem são historicamente desafiados a lutar.
E aqui, vão percebendo que sempre vale a pena dialogar com os iguais e com
os diferentes, com quem vão aprendendo e se completando; nunca, porém, com os
antagônicos: é trabalho perdido, além de ameaça de suicídio, é pretender o diálogo
do pescoço com a guilhotina.
Essa proposta pressupõe que a escola, para exercer sua função
transformadora no sentido de contribuir para a democratização da sociedade, não
pode abrir mão de sua responsabilidade específica que é a de garantir que os
sujeitos sociais se apropriem – de forma crítica e reflexiva – do saber elaborado pela
cultura a qual pertencem.
Nesse sentido, é importante que o educador compreenda a complexidade da
realidade social na qual ele atua. Não basta para isso conhecer a realidade, é
preciso pensar sobre ela, tendo as diferentes teorias educacionais como referência.
Escola pública e desigualdade social.
A escola pública é a maior expressão da escola com instituição social, aquela
que tem sua origem na modernidade, exigência do modo de produção capitalista
moderno industrial. No Brasil, podemos considerar como marco histórico do
surgimento da escola pública o Manifesto dos Pioneiros Pela Educação Nova por
seu conteúdo escolanovista.

130
Esse Manifesto foi mais um documento de política educacional do que um
documento didático-metodológico, como encontramos muitas vezes na literatura
pedagógica. Sua proposta estava plenamente integrada ao contexto social, político e
econômico da consolidação do capitalismo industrial no Brasil, cujo papel da escola
estava voltado para a formação dos sujeitos sociais para esse desenvolvimento. Isso
explica porque o Manifesto trouxe a público da forma mais veemente na história da
educação brasileira a defesa da escola para todos, um dos mais importantes
princípios da educação burguesa. A escola para todos - pública - defendida no
Manifesto em contraponto à escola da Reforma Francisco Campos, era a escola
única (significando igualdade de oportunidades), laica (livre de doutrinas), gratuita
(sob a total responsabilidade do Estado), obrigatória (até 18 anos) e para ambos os
sexos.

52 FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA PARA OS PIONEIROS DA ESCOLA NOVA

Nas próximas linhas você fará uma revisão do que viu em história da
Educação, agora identificando pontos importantes para compreender a sociologia
educacional.
Você já sabe que para os Pioneiros, a função social da escola (campo
específico da educação) explicitava-se pela sua organização como instituição social
limitada na sua ação educativa pela pluralidade e diversidade das forças que
concorrem ao movimento das sociedades, considerando que, entre todos os deveres
do Estado, a educação é o maior.

131
Fonte: slideplayer.com.br

Saviani (2007) faz uma cuidadosa análise do Manifesto dos pioneiros


considerando-o heterogêneo e contraditório, pois expressa princípios elitistas e, ao
mesmo tempo, princípios igualitaristas. Como documento doutrinário da Escola
Nova, o Manifesto traz uma proposta de política educacional em defesa da escola
pública e de um sistema nacional de educação pública. No entanto, podemos
encontrar nele a marca da dualidade: a escola teria função homogeneizadora dos
indivíduos nos níveis primários e secundários de ensino e função diferenciadora no
nível superior (universitário). Todos estes embates ocorreram, como você já sabe, no
início dos anos trinta do século XX, e durante o Estado Novo (de 1937 a 1945)
acirraram-se ainda mais, pois a Reforma Capanema regulamentou um sistema de
ensino centralista, burocratizado, dualista (diferenciando fortemente o ensino
secundário do profissional) e corporativista (criando no ensino profissional o ensino
industrial, agrícola e comercial, além do curso normal para formação de
professores).
O pacto com a Igreja, que a Reforma Capanema manteve, tinha uma
abordagem de “renovação conservadora”, isto é, nos aspectos pedagógicos
defendia novos métodos – inspirados na Escola Nova –, mas nos sociopolíticos era
extremamente conservador.
132
Com o fim do Estado Novo em 1945, as discussões em torno da Constituição
de 1946 trouxeram de volta os Pioneiros e, com eles, as forças hegemônicas na
comissão para elaboração da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional em 1961. É importante você entender este contexto da criação da primeira
LDB. O principal conflito vivido entre Pioneiros e Católicos no processo de
elaboração da LDBEN foi entre a escola pública e a escola privada. Centrada na
figura de Anísio Teixeira, a defesa da escola pública, universal e gratuita foi
fortemente atacada pelos católicos que, identificando-a com a proposta comunista
de organização da educação, contrapunham a hierarquia da Família, Igreja e Estado
na responsabilidade educacional.
Em defesa da escola pública estavam três principais correntes do
pensamento pedagógico brasileiro segundo Saviani (2007): liberal-idealista, liberal-
pragmatista e socialista. Por outro lado, esse conflito não ficou restrito aos
educadores empolgando a opinião pública: a imprensa católica e a imprensa leiga
fomentaram as discussões para o conjunto da população. A primeira LDB, a Lei n°
4024/61 – LDBEN – definiu a construção do Plano Nacional de educação em 1962.

133
53 ENTENDENDO A POLÍTICA DA EDUCAÇÃO

Fonte: sociologiadaeducacaouff.blogspot.com.br

É importante que à medida em que você revê estes conhecimentos você


possa também fazer um link com o pensamento de Bourdieu e Freire, analisando o
caráter neutro da escola, ou crítico. Para isto, veja a citação de Florestan Fernandes,
que você conheceu um pouco no módulo I.
Com a LDB, de 1961 e a criação do Plano Nacional de Educação em 1962, o
investimento financeiro na educação subiu para 12% dos recursos da União, a
política educacional a esse investimento articulada pretendeu enfrentar o grave
problema do analfabetismo, da evasão escolar e do afunilamento do sistema de
ensino. A estrutura criada foi a do ensino primário, ensino médio (ginasial e colegial)
e ensino superior. Propunha também a valorização da formação de professores, a
implantação do tempo integral nas 5a e 6a séries (artes industriais).
Essas medidas legais, que consolidaram o ensino público, tomaram ainda
mais importância no início dos anos sessenta, desde 1945, vinha vivendo um
período de redemocratização, acompanhado pelo crescimento econômico do

134
capitalismo industrial. O papel dos movimentos sociais sempre marcou uma
diferença no pensamento educacional brasileiro.
Muitos destes influenciados pelo pensamento do educador Paulo Freire que
atuava frente aos Círculos de Cultura, com atenção especial à educação de jovens e
adultos, na intenção de discutir a função da educação no sistema de reprodução das
desigualdades e injustiças sociais.

Fonte: resistenciaemarquivo.wordpress.com

Os movimentos sociais populares do início dos anos sessenta trouxeram


importantes discussões acerca da organização do ensino e dos processos
educativos. As defesas da cultura popular e a da educação popular foram
compreendidas como formas de garantir o processo de conscientização necessário
para a organização igualitária da sociedade brasileira.
Nesse momento, as discussões sobre a escola pública deram lugar a
propostas de educação popular vinculadas aos grupos sociais populares. Esses
movimentos tiveram também a participação de um novo setor da Igreja Católica,
articulado em torno da Teologia da Libertação.

135
Fonte: pt.slideshare.net

Como já foi dito, um dos mais importantes representantes desse movimento de


educação popular no início dos anos sessenta é Paulo Freire com a pedagogia
libertadora. Tendo como referência a escola nova e teologia da libertação,
principalmente no que diz respeito à ênfase da atividade sobre os conteúdos – na
Pedagogia do Oprimido vemos a valorização da atividade para a conscientização
política transformadora –, esses movimentos tiveram fim no golpe militar de 1964.

Fonte: pt.slideshare.net

136
54 PARA ENTENDER A SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO NO BRASIL

É importante que você compreenda o contexto que envolveu a criação e a


consolidação da escola pública no Brasil para assim estabelecer critérios de análise
da educação.
Marcado pela contradição entre ideologia e economia, o período anterior ao
golpe militar organizava-se sob a ideologia do nacionalismo desenvolvimentista e
desnacionalização da economia. Essa contradição no conturbado governo João
Goulart foi “resolvida” pelo governo militar que marcou uma ruptura política com
continuidade socioeconômica, fundamentando-se na doutrina da interdependência.

Fonte: slideplayer.com.br

Com a implantação do Regime militar após a derrubada de Jango do poder, o


reflexo direto na educação, se expressou pelas reformas implantadas, em busca da
“educação que nos convém”: a aprovação da Lei 5540- 69 da Reforma Universitária e
da Lei 5692-71 que organizou o ensino básico em 1º e 2º graus. O pano de fundo
das reformas foi a teoria do capital humano com seus princípios da racionalidade,

137
eficiência e produtividade, isto é, o máximo de resultados com o mínimo de esforços
na formação humana (investimento) que interessava ao regime político e ao modelo
econômico.
Essas reformas, portanto, inspiraram-se na pedagogia tecnicista, articulando a
organização racional (taylorista) do sistema de ensino brasileiro com o controle de
comportamento nos processos de aprendizagem (behaviorismo).

55 ESCOLA TECNICISTA

Fonte: pt.slideshare.net

Durante a Ditadura Militar, a escola pública expandiu-se. Essa aparente


contradição, por um lado, refere-se ao modelo econômico em desenvolvimento que
exigia escolarização da população, e por outro, exigia o controle da escolarização,
em especial no que diz respeito ao ingresso ao ensino superior, maior foco de
resistência ao regime no interior da sociedade brasileira.
O governo autoritário, então, equacionou essa aparente contradição pela
expansão controlada, isto é, expandiu a rede pública de ensino, criando um

138
mecanismo interno de controle. Segundo Romanelli (2009), esse controle recaiu
sobre a progressão no sistema e a qualidade da educação. A dualidade, então, cujos
reflexos vivemos ainda hoje, expressou-se pela oposição quantidade- qualidade, ou
seja, enquanto se expandia o atendimento à educação escolarizada pública
pelo estado autoritário (quantidade), privatiza-se, gradualmente, a
qualidade.

Fonte: kdimagens.com

A década de oitenta, com o fim da Ditadura Militar, foi um período muito


fecundo nas discussões sobre a educação e a organização do ensino, em especial,
sobre a escola pública na perspectiva crítica e transformadora. No entanto, essas
posições críticas representavam um setor que, embora tivesse muita penetração
entre os educadores, não se consolidou como hegemônico, conferindo uma linha
político-pedagógica crítica e transformadora na organização do sistema de ensino.
Podemos afirmar que a política oficial centrava-se na expansão do ensino e
as forças contra-hegemônicas apontavam duas correntes distintas:

1. A renovação dos processos de ensino propostos pela educação


libertadora, principalmente no que diz respeito ao processo de
conscientização dos sujeitos educandos e,

139
2. A valorização da educação escolar das tendências marxistas em
defesa da escola pública.

No entanto, as forças hegemônicas neoliberais avançavam no campo das


políticas púbicas da educação.

Essa situação se expressa de forma muito clara no processo de elaboração da


nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB – que, iniciado em 1988
com a promulgação da Constituição Federal, consolidou-se na promulgação da Lei
no 9394-96.
De acordo com a professora Tozoni-Reis a Constituição Federal, elaborada por
um Congresso Constituinte apoiado pela população entusiasmada com o fim da
Ditadura e o início da redemocratização da sociedade, organizou o sistema de
ensino no Capítulo da Educação, expressando algumas vitórias e muitas derrotas
nas teses defendidas pela mobilização em defesa da escola pública.
O Fórum em Defesa da Escola Pública na Constituinte atuou vigorosamente
na elaboração deste capítulo da educação e seguiu mobilizado na difícil elaboração
da LDB. O clima de entusiasmo pela redemocratização arrefeceu frente ao avanço
da reforma do Estado inspirado na doutrina neoliberal. A nova LDB, instrumento
político da organização da educação no Brasil, traz a marca do neoprodutivismo
(SAVIANI, 2007), ou seja, a renovação neoliberal da teoria do capital humano.

140
Fonte: slideplayer.com.br

Essa abordagem fez com que a LDB aprovada (cuja organização popular
sofreu um grande golpe no final de sua elaboração) se tornasse um instrumento para
a política educacional marcada pela inclusão-excludente. Os avanços quantitativos
necessários na inclusão da população em idade escolar na escola pública, não
foram equivalentes à qualidade necessária.
Temos que, pelo aprofundamento da crise de qualidade na escola pública,
uma enorme parte da população é excluída do processo de apropriação da cultura
como instrumento transformador na prática social.
Entenda o que diz a professora Tozoni-Reis:

141
56 E COMO FICA A FORMAÇÃO?

Se por um lado, implica na preparação dos sujeitos sociais para esse modo
de produção que tem dimensão social, política, econômica e cultural, caracterizando
o que a Sociologia identificou como um papel reprodutor das desigualdades sociais,
por outro, a educação escolar pode ser considerada como um processo que oferece
aos sujeitos em formação um dos mais fundamentais instrumentos para o
enfrentamento dessas desigualdades.
Esse enfrentamento ocorre quando a escola se organiza de modo a
sistematizar a transmissão crítica e reflexiva do saber elaborado historicamente pela
humanidade.
Isso significa dizer que a escola, como instituição social, tem o papel de
garantir aos sujeitos com oportunidades contraditoriamente desiguais a apropriação
de conhecimentos, a formação de valores sociais e culturais, a preparação para o
mundo do trabalho e para o desenvolvimento da prática social.

Fonte: www.ocoracaovermelho.com

Esse é o sentido público da escola pública: servir aos interesses públicos, aos
interesses da maioria da população, embora essa seja uma tarefa contraditória.
Superando o senso comum em relação à escola pública e ao poder estatal,
consideremos o importante papel que o Estado tem na formulação e realização da
escola pública. Assegurar escolas que facultem o acesso a todas as crianças, jovens
142
e adultos, bem como sua permanência em igualdade de circunstâncias,
independentemente das suas condições históricas, econômicas, políticas e sociais.

Embora seja fundamental reconhecer a importância política e social do


avanço quantitativo do ensino público – alguns dados indicam que, de 98% das
crianças brasileiras em idade própria para o ensino fundamental, mais de 90% delas
estão nas escolas públicas –, as escolhas neoliberais que no Brasil definem as
políticas públicas de saúde, educação, moradia e transporte – além de outros “bens
comuns” –, desde a última década do século XX, têm definido uma escola pública
menos pública.
Isso significa uma escola menos democrática, menos inclusiva, pois voltada
principalmente para a certificação e o registro estatístico do sucesso quantitativo, em
detrimento da socialização do saber sistematizado. Nesse sentido, a escola pública
no Brasil, orientada pelas políticas neoliberais, está voltada mais para responder aos
interesses dos grandes grupos políticos e economicamente hegemônicos do que aos
interesses de formação plena do conjunto da população.

Fonte: slideplayer.com.br

143
É visível o progressivo “desinvestimento” na Educação, nem tanto diretamente
pela aplicação de percentuais orçamentários obrigatórios, mas por uma série de
outros mecanismos que Romanelli (2009) chamou de “mecanismos internos de
controle”. O processo de privatização do ensino, que afirma sua dualidade, é tão sutil
quanto eficiente e se expressa pelos mais diferentes indicadores:

Os indicadores referentes à consolidação do ingresso da população na


escola, encobrem os índices de abandono e fracasso. Embora estes índices, nas
últimas décadas, tenham baixado significativamente, sendo dignos de
comemoração pelo conjunto da sociedade, eles têm sido manipulados politicamente
pelos Governos.

57 PENSANDO NA AVALIAÇÃO

Essa manipulação advém do objetivo de realizar uma avaliação


essencialmente estatística. Com essa avaliação, posterga-se a urgente necessidade
de alcançar níveis de aprendizagem e formação mais consistentes que garantam aos
estudantes os instrumentos indispensáveis ao exercício de uma cidadania ativa.
O investimento de recursos públicos na educação, cujos “gestores” insistem
em se desobrigar do cuidado com a qualidade ao assumir como política pública o
ingresso e a permanência das crianças na escola de ensino fundamental (na medida
em que o ensino médio no Brasil ainda é quantitativamente insuficiente para atender
144
os jovens e adultos), significa, na prática, uma perda irreparável de dinheiro e uma
oportunidade social mal aproveitada no sentido da formação dos sujeitos.

58 FORMAÇÃO DOCENTE

Fonte: slideplayer.com.br

Ao burocratizar o exercício da profissão docente, a formação e ação educativa


dos professores pouco têm a contribuir para a melhoria da qualidade do ensino
público. Essa burocratização provém do investimento em processos de formação e
ação educativa com tendências a transformar os professores e educadores em
profissionais acríticos e simples executores de tarefas pré- estabelecidas.

145
De impacto muito negativo para a qualidade da escola pública é, também, o
ataque neoliberal em curso contra os profissionais da Educação, docentes e não
docentes, com a supressão de aspectos fundamentais das suas carreiras. Esse
ataque consolida a instabilidade profissional, articulada a uma campanha pública de
desvalorização social da sua imagem (para isso colaboram, por exemplo, as
campanhas de substituição – direta e indireta – da ação docente na escola).
Sugiro neste ponto que você acompanhe as propostas de reforma do Ensino
Médio.
Essa situação colabora também para o aumento da indisciplina e da violência
nas escola. Então, se a escola pública no Brasil tem uma trajetória histórica marcada
pela tardia implantação de um sistema nacional de ensino caracterizado, nos
diferentes momentos históricos, como excludente e dual, que “lições” essa história
nos traz? Lembremos que Lombardi, Saviani e Nascimento (2005) identificou na
trajetória histórica da consolidação da escola pública no Brasil três projetos de
desenvolvimento da sociedade brasileira em disputa nos dias atuais:

1. O projeto liberal (ou neoliberal), em sua versão mais contemporânea, o


neoliberalismo – atravessou praticamente todo o século XX como
hegemônico, com poucos períodos de interrupção, derrubando e
assimilando teses do projeto mais conservador.

2. Projeto do “desenvolvimento econômico nacional e popular”.

3. O projeto do desenvolvimento popular cresceu no final da ditadura e


consolidou-se no início dos anos 1980. A alternativa ao projeto
neoliberal – o projeto de desenvolvimento econômico nacional e popular
–, ao chegar ao poder pela expressiva votação do atual Presidente
Lula, agiu de forma radicalmente diferente daquilo que vinha buscando.
Isso significa que aprofundou ainda mais o ajuste neoliberal da
economia globalizada, consolidando uma perspectiva flexibilizadora da
responsabilidade do Estado em relação às políticas públicas, mesmo
se considerarmos as contradições – cada vez menores – que existem
nos espaços de gestão das políticas públicas deste governo.

146
59 RETRATO DA EDUCAÇÃO NA SOCIEDADE BRASILEIRA

Para uma pequena, mas poderosa do ponto de vista econômico e político,


parcela da população há uma escola privada de melhor qualidade e, para a grande
maioria, uma escola pública de menor qualidade. Lembremos que, segundo os
dados do Censo Escolar de 2008, publicados em janeiro de 2009, a rede privada de
ensino no Brasil é responsável por 13,3% das matrículas da educação básica,
enquanto a rede pública recebe 86,7% dessas matrículas.
Então, pensar em políticas públicas de educação escolarizada no nível básico
no Brasil significa refletir sobre a estrutura e o funcionamento da escola pública
como instituição social responsável pela formação humana que interessa ao projeto
de sociedade que queremos – ou não queremos – construir.
A situação acima descrita é enfrentada pela sociedade em geral e pelo poder
público em particular de forma a consolidar a dualidade histórica da organização da
educação brasileira. Compreendida a educação básica – e o ensino – não como
direito social, mas como “mercadoria” a ser “adquirida” no mercado, a qualidade de
ensino é um “valor agregado” à escola privada, tornando-a mais atrativa para
aqueles que podem comprar seu produto.

147
Fonte: pt.slideshare.net

Isso não significa que, na escola privada, haja garantia de qualidade na


educação como formação humana que pretendemos, antes a qualidade que lhe
conferem está diretamente relacionada aos interesses imediatos, aos valores éticos
e políticos das elites dirigentes: individualismo, competição, consumismo etc.
No que diz respeito à escola pública, vejamos como os professores, de
mediadores no processo de apropriação de conhecimentos sistematizados da
cultura elaborada, assumem, na lógica hegemônica da organização da sociedade, o
papel de prestadores de serviço. Nesse sentido, sua formação plena para dirigir
sofisticados processos de ensino e aprendizagem que garantam a apropriação
crítica e reflexiva da cultura elaborada na perspectiva de formação para práticas
sociais mais conscientes e consequentes, transforma- se em uma formação ligeira e
superficial.

148
Fonte: pt.slideshare.net

Chauí (2004) faz importante análise do sentido neoliberal e neoprodutivista da


proclamada educação continuada desses professores. A política de contratação de
professores substitutos, a existência ainda significativa de professores leigos –
inclusive em sua mais nova versão, os professores eventuais – e a valorização dos
programas com educadores voluntários na escola são reflexos dessas referências
na organização da escola pública. Essa pseudoparticipação dos grupos sociais
privilegiados na forma do voluntariado em busca de qualidade na escola pública
pode ser compreendida, por exemplo, quando buscamos identificar os protagonistas
dos tão conhecidos programas como “adote uma escola”; “amigos da escola”,
“padrinho da escola” etc.
Identificados os protagonistas, reconhecemos sua inserção de classes e
interesses econômicos, políticos e sociais que os move. Outra dimensão importante
da flexibilização da educação como direito de todos, identificada por Lombardi,
Saviani e Nascimento (2005), diz respeito à “privatização do pensamento
pedagógico”. Saviani (2007) analisou essa privatização do pensamento pedagógico,
identificando quatro categorias (provisórias).

149
60 PARA VOCÊ ENTENDER O QUE SIGNIFICA CAPITAL HUMANO:

Fonte: slideplayer.com.br

O neoprodutivismo, fundamentado na teoria do capital humano, busca


organizar o ensino a partir da necessidade de formação humana para as novas
formas de produção, também flexibilizadas. Isso significa que a formação escolar
pretendida refere-se às capacidades e competências presentes e expressas nos
documentos que traçam parâmetros e diretrizes curriculares para a educação
básica.
Veja bem: Assim, os princípios da Escola Nova, também ressignificados,
constituem-se no que ele definiu como neoescolanovismo, isto é, o “aprender a
aprender” que, agora também, é “formação permanente” dos sujeitos educandos.
Como terceira categoria, encontramos o neoconstrutivismo, expresso
particularmente pela teoria do professor reflexivo: os saberes docentes centrados na
experiência cotidiana. A reflexão aqui, cujos fundamentos estão na pedagogia das
competências, nos comportamentos flexíveis e na responsabilidade individual, diz
respeito à compreensão pragmática da experiência docente.

150
Se na década de setenta, seus princípios eram de racionalidade, eficiência e
produtividade sob o controle direto do Estado, agora, ele aparece sob o controle do
mercado, da responsabilidade da iniciativa privada e das organizações não-
governamentais, reduzindo os investimentos públicos pelas parceiras público-
privadas.

Como fica, então, o papel da escola e do profissional da educação diante


deste quadro e das exigências do mundo atual?

Vamos pensar um pouco, lembrando do último encontro presencial: A escola


pública é uma conquista que tem suas origens na Revolução Francesa, isto é, na
democratização da sociedade e na origem da modernização das sociedades como
capitalistas e industriais. Esse é um fato histórico de enorme importância, pois
confere à escola pública o caráter democratizante e democratizador. Contudo, sua
origem histórica não a exime de problemas também historicamente incorporados,
problemas a serem resolvidos e questões teóricas e práticas a serem exploradas.

Fonte: slideplayer.com.br

A Revolução Francesa marca o advento da sociedade capitalista e das


ideologias liberais, ou seja, centradas no economia e no mercado. Uma das críticas
que esta escola enfrenta, concerne à atualidade de seus conteúdos. Se por um lado,

151
o avanço neoliberal – e seu componente mais estritamente econômico, a
globalização da economia – trouxe novas exigências, a escola inserida neste mundo
tem o papel de preparar o aluno para conhecê-lo e nele atuar de forma adaptadora.
Isto é, a escola prepara os sujeitos para atuar de forma a se adaptar às exigências
desta doutrina de organização da sociedade e contribuir para seu aprimoramento,
permitindo, principalmente, que o aluno tenha competência em diversas tecnologias.

Fonte: cmapspublic.ihmc.us

61 CRÍTICA À TEORIA DO CAPITAL HUMANO

As críticas a essa forma de organização das relações sociais veem na escola,


em especial na escola pública, o papel de problematizar esse mesmo mundo atual,
seus conteúdos e valores constituintes, visando questioná-lo e transformá-lo de
forma a contribuir para a construção de uma sociedade mais justa, mais
democrática, mais igualitária.
A escola pública é uma instituição social, portanto, política e enquanto tal
precisa desenvolver suas funções. Para isso, não significa uma formação
instrumental, “interessada” na manutenção do um modo de produção capitalista
moderno que, por definição material e histórica, é injusto e desigual.

152
A escola pública deve contribuir na formação plena – crítica – dos sujeitos
sociais. Para tanto, sua “tarefa” filosófico–política é a de assegurar a cultura clássica,
em cujo bojo se encontra o que há de mais universal e permanente das produções
humanas e que, considerada as condições de desigualdade de nossas sociedades
modernas, somente essa escola é capaz de garantir para o conjunto da população.
Em síntese, a escola, articulando o novo com a tradição, será efetivamente
pública se for capaz de trazer para seu interior a responsabilidade de formação
plena dos sujeitos, o que significa garantir a apropriação crítica do conjunto da
produção humana, ou seja: Trata-se aqui da produção de ideias, conceitos, valores,
símbolos, hábitos, atitudes, habilidades. Numa palavra, trata-se da produção do
saber, seja do saber sobre a natureza, seja do saber sobre a cultura, isto é, o
conjunto da produção humana.
Portanto, trata-se da necessidade da escola pública de assumir sua tarefa,
histórica e política, de equalização da sociedade, de superação da desigualdade
social, de realização de seu caráter público no sentido amplo e complexo de
instituição pública de educação.
Concluindo este módulo, desafio você a pensar em tudo que leu e estudou
relacionando com os clássicos da sociologia e buscando identificar quais são os
fundamentos sociológicos que estão na base nas análises aqui apresentadas.

61.1 Retrospectiva a partir dos clássicos:

Agora você já possui informação suficiente para entender as bases


sociológicas da educação. Avalie o seu conhecimento e faça uma reflexão sobre os
seus valores e sua formação. Tente compreender a sua concepção de educação na
relação com a sociedade. Este é um exercício importante para o exercício da sua
formação. Vamos rever:
No pensamento marxista, a educação é um espaço de reprodução ideológica
dos interesses da classe dominante (a burguesia); em Durkheim, a educação é vista
como instituição integradora essencial à ordem social; na perspectiva weberiana, a
educação é fonte de um novo princípio de controlo. Se em Marx a educação pode
oprimir ou emancipar o indivíduo (no sentido de “libertação”).

153
Fonte: slideplayer.com.br

Em Durkheim, a educação é o mecanismo pelo qual ele se torna membro de


uma sociedade (se torna “um ser novo”). A teoria da educação durkheimiana inspira-
se na sua teoria sociológica geral. Durkheim interessou-se desde cedo pela
educação enquanto objeto de estudo sociológico; pelo carácter social- histórico do
fenómeno educativo; pelos métodos de educação de cada sociedade em
determinado período histórico; pela forma como uma sociedade disciplina e integra
através da educação; pela forma como favorece a realização dos seus membros. Foi
o primeiro autor clássico a afirmar a educação como processo social, como
fenómeno social, capaz de ser descrito, analisado e explicado sociologicamente
(Sebastião, 2009: 23), como “função essencialmente social” (Durkheim, 2009: 61),
como “coisa eminentemente social” (Durkheim, 2009: 94). Este clássico da
pedagogia francesa, teórico fundador da sociologia da educação, considera que os
fins da educação devem ser determinados pela sociologia. A sua teoria define a
educação como ‘bem’ social.

154
E EM WEBER?

Fonte: kdfrases.com

Weber vai mais longe: a educação é fator de seleção e de estratificação


sociais. Ou seja, o indivíduo passa de uma classe a outra por meio do processo de
racionalização do conhecimento. Marx e Durkheim centraram-se no poder das forças
externas ao indivíduo.

Fonte: slideplayer.com.br

Weber centrou-se na capacidade de ação do indivíduo sobre o exterior. Como


sabemos, o capitalismo é, para Weber, a forma mais elevada de racionalização.
155
Numa sociedade capitalista-racional burocrática, os indivíduos distinguem-se pelas
suas qualificações (havendo necessidade de “funcionários especializados”,
“profissionalmente mais informados”): a educação é o elemento que contribui para a
seleção social, é um dos recursos possíveis para se manter ou melhorar – o status
(e quanto mais reduzido for o grupo, maior o prestígio social dos seus membros).
Margaret Archer, no texto The sociology of educational systems, sintetiza,
numa lógica comparativa, o pensamento dos três clássicos: os três autores partilham
uma orientação comum, apesar das suas diferentes abordagens teóricas.

Em primeiro lugar, unanimemente trataram a educação como instituição social


macroscópica, e não como um amontoado de organizações (escolas, faculdades,
universidades) ou como um conjunto de coletividades (professores, alunos e
diretores), nem como um aglomerado de propriedades separadas (inputs, processos,
outputs).

62 OS CLÁSSICOS DA SOCIOLOGIA

Em segundo lugar, Marx, Weber e Durkheim colocaram firmemente a


instituição educacional na estrutura social mais ampla e propuseram problemas
interessantes sobre a sua relação com outras instituições sociais (economia,
burocracia e ação política, respectivamente).
Em terceiro lugar, todos os três perceberam que a posição da educação na
estrutura social e sua relação com outras instituições eram a chave para
compreender a dinâmica da mudança educacional.

156
Fonte: slideplayer.com.br

Embora somente Durkheim tenha teorizado profundamente sobre os reais


mecanismos de desenvolvimento educacional, sendo chamado de Pai da sociologia
da educação, nenhum deles deixou dúvidas de que esta deveria ser uma parte
integrante das suas grandes teorias – para Marx, a mudança educacional nasceu do
jogo dialético entre infraestrutura e superestrutura; para Weber, ela estava associada
à dinâmica de burocratização, embora esta ligação estivesse ‘escondida em algum
ponto decisivo’.

Fonte: slideplayer.com.br

157
Para Durkheim, ela estaria, e deveria estar, unida à ação política e, deste
modo, ao desenvolvimento de uma sociedade orgânica integrada e normativa.

Fonte: slideplayer.com.br

O pensamento dos clássicos exerce influência por ser a base do pensamento


contemporâneo. Só a partir da leitura das teorias clássicas da sociologia se poderá
chegar a um entendimento mínimo do que foi dito.

63 FECHANDO COM CHAVE DE OURO

Observe bem o que Edgar Morin diz na sua entrevista na Rede Globo: é
preciso educar os educadores
Vejamos os seus argumentos:

158
Fonte: pt.slideshare.net

O Globo: Na sua opinião, como seria o modelo ideal de educação?


Edgar Morin: A figura do professor é determinante para a consolidação de um
modelo “ideal" de educação. Através da Internet, os alunos podem ter acesso a todo o
tipo de conhecimento sem a presença de um professor. Então eu pergunto, o que
faz necessária a presença de um professor? Ele deve ser o regente da orquestra,
observar o fluxo desses conhecimentos e elucidar as dúvidas dos alunos. Por
exemplo, quando um professor passa uma lição a um aluno, que vai buscar uma
resposta na Internet, ele deve posteriormente corrigir os erros cometidos, criticar o
conteúdo pesquisado.
É preciso desenvolver o senso crítico dos alunos. O papel do professor
precisa passar por uma transformação, já que a criança não aprende apenas com os
amigos, a família, a escola. Outro ponto importante: é necessário criar meios de
transmissão do conhecimento a serviço da curiosidade dos alunos. O modelo de
educação, sobretudo, não pode ignorar a curiosidade das crianças.

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O Globo: Quais são os maiores problemas do modelo de ensino atual?
Edgar Morin: O modelo de ensino que foi instituído nos países ocidentais é
aquele que separa os conhecimentos artificialmente através das disciplinas. E não é
o que vemos na natureza. No caso de animais e vegetais, vamos notar que todos os
conhecimentos são interligados. E a escola não ensina o que é o conhecimento, ele
é apenas transmitido pelos educadores, o que é um reducionismo. O conhecimento
complexo evita o erro, que é cometido, por exemplo, quando um aluno escolhe mal a
sua carreira. Por isso eu digo que a educação precisa fornecer subsídios ao ser
humano, que precisa lutar contra o erro e a ilusão.

Fonte: educarparacrescer.abril.com.br

64 MORIN E A EDUCAÇÃO

O Globo: O senhor pode explicar melhor esse conceito de


conhecimento?
Edgar Morin: Vamos pensar em um conhecimento mais simples, a nossa
percepção visual. Eu vejo as pessoas que estão comigo, essa visão é uma
percepção da realidade, que é uma tradução de todos os estímulos que chegam à
nossa retina. Por que essa visão é uma fotografia? As pessoas que estão longe são
pequenas, e vice-versa. E essa visão é reconstruída de forma a reconhecermos
160
essa alteração da realidade, já que todas as pessoas apresentam um tamanho
similar.
Todo conhecimento é uma tradução, que é seguido de uma reconstrução, e
ambos os processos oferecem o risco do erro. Existe outro ponto vital que não é
abordado pelo ensino: a compreensão humana. O grande problema da humanidade
é que todos nós somos idênticos e diferentes, e precisamos lidar com essas duas
ideias que não são compatíveis. A crise no ensino surge por conta da ausência
dessas matérias que são importantes ao viver. Ensinamos apenas o aluno a ser um
indivíduo adaptado à sociedade, mas ele também precisa se adaptar aos fatos e a si
mesmo.

O Globo: O que é a transdisciplinaridade, que defende a unidade do


conhecimento?
Edgar Morin: As disciplinas fechadas impedem a compreensão dos
problemas do mundo. A transdisciplinaridade, na minha opinião, é o que possibilita,
através das disciplinas, a transmissão de uma visão de mundo mais complexa. O
meu livro “O homem e a morte" é tipicamente transdisciplinar, pois busco entender
as diferentes reações humanas diante da morte através dos conhecimentos da pré-
história, da psicologia, da religião. Eu precisei fazer uma viagem por todas as
doenças sociais e humanas, e recorri aos saberes de áreas do conhecimento,
como psicanálise e biologia.

O Globo: Como a associação entre a razão e a afetividade pode ser


aplicada no sistema educacional?
Edgar Morin: É preciso estabelecer um jogo dialético entre razão e emoção.
Descobriu-se que a razão pura não existe. Um matemático precisa ter paixão pela
matemática. Não podemos abandonar a razão, o sentimento deve ser submetido a
um controle racional. O economista, muitas vezes, só trabalha através do cálculo,
que é um complemento cego ao sentimento humano. Ao não levar em consideração
as emoções dos seres humanos, um economista opera apenas cálculos cegos. Essa
postura explica em boa parte a crise econômica que a Europa está vivendo
atualmente.

161
O Globo: A literatura e as artes deveriam ocupar mais espaço no
currículo das escolas? Por quê?
Edgar Morin: Para se conhecer o ser humano, é preciso estudar áreas do
conhecimento como as ciências sociais, a biologia, a psicologia. Mas a literatura e as
artes também são um meio de conhecimento. Os romances retratam o indivíduo na
sociedade, seja por meio de Balzac ou Dostoiévski, e transmitem conhecimentos
sobre sentimentos, paixões e contradições humanas. A poesia é também importante,
nos ajuda a reconhecer e a viver a qualidade poética da vida. As grandes obras de
arte, como a música de Beethoven, desenvolvem em nós um sentimento vital, que é
a emoção estética, que nos possibilita reconhecer a beleza, a bondade e a
harmonia. Literatura e artes não podem ser tratadas no currículo escolar como
conhecimento secundário.

Fonte: www.correiodopovo.com.br

O Globo: Qual a sua opinião sobre o sistema brasileiro de ensino?


Edgar Morin: O Brasil é um país extremamente aberto a minhas ideias
pedagógicas. Mas, a revolução do seu sistema educacional vai passar pela reforma
na formação dos seus educadores. É preciso educar os educadores. Os professores
precisam sair de suas disciplinas para dialogar com outros campos de
162
conhecimento. E essa evolução ainda não aconteceu. O professor possui uma
missão social, e tanto a opinião pública como o cidadão precisam ter a consciência
dessa missão.

Assista a Edgar Morin - Os limites do conhecimento na globalização | No


vídeo exclusivo, Morin reflete sobre seus interesses enquanto filósofo e sociólogo: os
limites do conhecimento e da razão, bem como a relação entre a poesia e a
racionalidade. Ainda, questiona a possibilidade da mudança de pensamento em um
mundo globalizado e acelerado. É possível sairmos de uma visão fechada em
formas particulares para o pensamento complexo, capaz de ver os problemas em
sua integralidade?

Não deixe de assistir. Acesso para o link:


https://www.youtube.com/watch?v=_FmdI-UFW1U

Se você se dedicou e chegou até aqui, tenho certeza de que cumpriu com
dignidade os compromissos da sua formação. Você está apto a usar os
conhecimentos aqui construídos no exercício da sua profissão e da sua vida como
cidadão. Parabéns por mais essa conquista!

163
65 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

ARIÉS, P. História social da criança e da família. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar


Editores, 1981.

Brasil: história e historiografia. Campinas: Autores Associados, 2005. LUCKESI, C.


C. Filosofia da Educação. São Paulo: Cortez, 1990. MARX, K. Manuscritos
económicos-filosóficos. [S.l]: Edições 70, 1993.

ENGUITA, M. A face oculta da escola. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989.


FRIGOTTO, G. Escola pública brasileira na atualidade: lições da história. In:
LOMBARDI, J. C.; SAVIANI, D.; NASCIMENTO, M. I. M. A escola pública no

MEDEIROS, C. C. C.; MARCHI-JR, W. Para uma sociologia da educação:


considerações a partir da obra de Pierre Bourdieu. In: BRANDÃO, C.F. Intelectuais
do século XX e a educação no século XXI: o que podemos aprender com eles?
Marília-SP: Poiesis Editora, 2009, p. 99-119.

NOGUEIRA, C. M. M. e NOGUEIRA, M. A. A sociologia da educação de Pierre


Bourdieu: limites e contribuições. Educação e Sociedade. Campinas, v. 23, n. 78, p.
15-35, abr. 2002.

RIBEIRO, M. L. S. Educação Escolar: que prática é essa? Campinas: Autores


Associados, 2001.

ROMANELLI, O. O. História da Educação no Brasil. 34. ed. Petrópolis. Vozes. 2009.


SAVIANI, D. A pedagogia histórico-crítica: primeiras aproximações. 9. ed. Campinas:
Autores Associados, 2005. SAVIANI, D. História das ideias pedagógicas no Brasil.
Campinas: Autores Associados, 2007
SAVIANI, D. Escola e democracia. 40. ed. Campinas: Autores Associados, 2008.

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