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Tampões biológicos
1. Tampões biológicos
+
A manutenção da concentração de íons H livres nos fluidos corporais é
mantida dentro da estreita faixa fisiológica de 35 a 45 nanomolar. Portanto, se existe
uma alta produção fisiológica de ácidos e bases e ao mesmo tempo há a necessidade de
manter o pH constante, a existência de sistemas-tampões nos fluidos biológicos é vital.
Além disso, nosso organismo está exposto a diversas variações de pH, seja na dieta ou
no ambiente. Embora, o metabolismo produza continuamente ácidos, o pH do fluido
extracelular é normalmente mantido dentro de limites estreitos, entre 7,35 e 7,45
(Normal = 7,40). Os ácidos produzidos pelo organismo são imediatamente tamponados
por tampões intra- e extracelulares. Pulmões e rins intervém em seguida (sendo assim
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2. Tampões intracelulares
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- -2 -3
H3PO4 H2PO4 HPO4 PO4
pK = 2,1 pK = 6,7 pK = 12,3
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+
H + HPO4 2- H2PO4 -
Espécie Espécie
Aceptora Doadora
-
Portanto, se o pH variar acima de 6,7 , a espécie H2PO4 (doadora de prótons,
+
doa quem tem mais) se dissocia fornecendo H para o meio repondo a perda de protons,
-
mantendo desa maneira o pH; se variar abaixo de 6,7 a espécie HPO4 (aceptora de
+
prótons, recebe quem tem menos) irão se associar ao H , impedindo que aumente a
+
concentração de H no meio.
O tampão fosfato é um importante tampão nos túbulos renais, por duas razões:
em primeiro lugar, o fosfato fica geralmente muito concentrado nos túbulos,
aumentando sobremaneira a capacidade de tamponamento do sistema fosfato. Em
segundo lugar, o líquido tubular geralmente é mais ácido do que o líquido extracelular,
trazendo a faixa de operação do tampão mais próximo ao pK do sistema.
O tampão fosfato é mais importante no compartimento intracelular do
que extracelular, pois sua concentração é bem mais alta dentro da célula do que no
exterior, tendo fora da célula uma participação muito pouco significativa.
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3. Tampões extracelulares
+ -
H + HCO3 H2CO3H2O + CO2
anidrase
carbônica
+ -
H + HCO3 H2CO3 H2O + CO2
anidrase
carbônica
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+ -
H + HCO3 H2CO3 H2O + CO2
anidrase
carbônica
Figura 6: Figuras mostrando que o pH normal do sangue está distante do pK = 6,1 do tampão
bicarbonato, havendo uma concetração bem maior de bicarbonato do que de gás carbônico.
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substâncias que são devolvidas para circulação, as células da parede do tubo renal, que
realizam as trocas de substâncias e o interior do tubo (luz do túbulo, espaço localizado
no interior do túbulo renal, por onde o filtrado glomerular passa), por onde circula o
filtrado glomerular, que originou-se do plasma no acesso ao néfron.
Figura 9: Figura mostrando as trocas realizadas entre o capilar sangüíneo, as células do epitélio
renal e a luz do túbulo renal (espaço existente no túbulo renal onde passa o filtrado glomerular
que é a urina em formação.
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deve bloquear o mecanismo de secreção pois em uma emergência pode ser necessário
+ +
eliminar o H , mas (ii) deve eliminar o H do organismo. Para cumprir esses requisitos,
o próton é encaminhado para formação da urina conjugado com a amônia sob forma de
íons amônio. Existe a possibilidade da formação de amônio ocorrer já dentro da célula
ou somente na luz do túbulo a partir da amônia que difundiu da célula. Outra
possibilidade para o próton é associar aos íons fosfatos existente no filtrado glomerular,
gerando um valor clínico conhecido como acidez titulavel.
Como o bicarbonato propriamente dito desparece da circulação enquanto
tampona os ácidos fixos ( pois se transforma em gás carbônico + água) e só reaparece
depois da eliminação do próton pelo rim, sua quantidade no plasma é um bom índice da
quantidade de ácidos não-voláteis no organismo. Dessa forma, é comum nas rotinas de
emergência a solicitação de uma gasometria arterial, a qual informa não apenas o pH
plasmático, mas também a concentração de íons bicarbonato e a pressão parcial de gás
carbônico dissolvido no plasma.
- Muito ácido não-volátil (fixo) bicarbonato plasmático baixo
- Pouco ácido não-volátil (fixo) bicarbonato plasmático alto.
A presença da anidrase carbônica é fundamental para permitir a excreção de
ácidos fixos pelos rins, pois é a anidrase carbônica que permite que o próton seja
regenerado no local exato de sua eliminação, ou seja, dentro das células do epitélio
renal. Essa enzima é a mais abundante em mamíferos.
Quando uma base é lançada na circulação, o próton é consumido na
neutralização, alcalinizando o plasma. Nessa situação, o bicarbonato excedente é
eliminado na urina e não existe excreção de prótons adicionais que permitam a sua
recaptação. Portanto em situações que o plasma está alcalino, os rins reduzem a
reabsorção e aumentam a eliminação urinária de bicarbonato, bem como há uma
redução da eliminação de prótons.
O mecanismo renal para a regulação do equilíbrio ácido-básico é incapaz de
reajustar o pH dentro de segundos, como o fazem os sistemas tampões do líquido
extracelular, nem dentro de minutos, como ocorre com o mecanismo respiratório
compensador; entretanto, difere desses dois outros mecanismos por sua capacidade de
continuar funcionando durante horas ou dias até trazer o pH quase exatamente a seu
valor normal. Em outras palavras, sua capacidade final de regular o pH dos líquidos
corporais, apesar de ser de ação lenta, é infinitamente mais potente que a dos outros dois
mecanismos reguladores.
Outros tampões presentes na urina
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-2 -
O tampão fosfato é constituído por mistura de HPO4 e H2PO4 . Ambos estão
muito concentrados no líquido tubular, devido à sua reabsorção relativamente pequena e
à remoção de água do líquido tubular. Por conseguinte, apesar de o tampão fosfato ser
muito fraco no sangue, trata-se de um tampão muito mais potente no líquido tubular.
Outro fator que aumenta a importância do tampão fosfato nos líquidos
tubulares durante a acidose é o pK desse tampão, que é de 6,8. Quando são secretados
+
íons H em excesso, o líquido tubular começa normalmente com pH próximo a 7,4 na
parte inicial dos túbulos proximais, que, a seguir, cai para cerca de 6,0 nos túbulos
distais e dutos coletores. Por conseguinte, nesses túbulos, o tampão fosfato funciona em
sua faixa mais eficaz, muito perto de seu valor de pK, conforme explicado antes neste
capítulo.
+
Figura 8 ilustra a maneira pela qual os íons H são removidos do líquido
tubular pelo sistema tampão fosfato, bem como isso funciona no processo total de
+
controle ácido-básico renal. Observe que, para cada íon H ligado pelo tampão fosfato,
é formado um novo íon bicarbonato pela célula epitelial e transportado no sangue. Isso
+
contribui ainda mais para a correção da acidose quando são secretados íons H em
excesso.
Portanto, quando o próton é excretado no filtrado glomerular se associa com o
- -2
íon HPO4 formando H2PO4 que então é eliminado na urina.
+ -2 -
H + HPO4 H2PO4 (excretado)
Outro sistema tampão do líquido tubular ainda mais importante e mais complexo
+
para os íons H é composto por amônia (NH3) e íon amônio (NH4). As células epiteliais de
todos os túbulos, à exceção das encontradas no segmento delgado da alça
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Figura 9: Figura mostrando a reação da amônia com íons hidrogênio nos túbulos e a secreção do
íon amônio.
+
Esse mecanismo do íon amônio para o transporte do excesso de íons H nos
túbulos é especialmente importante por duas razões: (1) Toda vez que uma molécula de
+
amônia se combina com um íon H para formar um íon amônio, a concentração de
amônia no líquido tubular diminui, o que provoca maior difusão de amônia das células
epiteliais para o líquido tubular. Por conseguinte, a velocidade da secreção de amônia no
+
líquido tubular é realmente controlada pela quantidade de íons H em excesso a serem
transportados. (2) A maior parte dos íons negativos do líquido tubular consiste em íons
+
cloreto. Apenas alguns íons H poderiam ser transportados na urina em combinação
direta com o cloreto, visto que o ácido clorídrico é um ácido muito forte e considerando-
se o fato de que o pH tubular cairia rapidamente além do valor crítico de 4,5, abaixo do
+ +
qual cessa a secreção adicional dos íons H . Todavia, quando os íons H se combinam
com amônia e os íons amônios resultantes se combinam a seguir com
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cloreto, o pH não cai de modo significativo, visto que o cloreto de amônio é apenas
muito fracamente ácido. 60% da amônia secretada pelo epitélio tubular derivam da
glutamina, enquanto os 40% restantes provêm de outros aminoácidos ou aminas.
Se os líquidos celulares permanecerem fortemente ácidos por longo período de
tempo, a formação de amônia irá aumentar de modo uniforme nos primeiros 2 a 3 dias,
atingindo um nível 10 vezes maior do que o normal. Por exemplo, logo após o início da
acidose, a secreção diária de amônia é de apenas 30 mM, mas, depois de vários dias,
podem ser secretados até 300 a 450 mM, ilustrando o fato de que o mecanismo secretor
de amônia pode adaptar-se facilmente para mobilizar cargas muito aumentadas de
eliminação de ácidos. A principal causa da formação crescente de amônia é que a
acidose local das células tubulares induz a produção de grandes quantidades da enzima
glutaminase, a responsável pela liberação da amônia a partir da glutamina.
A importância de outros sistemas de tamponamento na urina, como o fosfato e
o amônia, além de auxiliar na manutenção do pH urinário, no fato gerar uma molécula
de bicarbonato “nova”, ou seja, na verdade há um saldo de uma molécula de
bicarbonato em relação a um próton, pois o próton é efetivamente excretado na urina, e
uma mólécula de bicarbonato é formada e volta para circulação, diferente no que
ocorria no tampão bicarbonato que o próton não era excretado e sim envolvido no ciclo
p/ regeneração do bicarbonato.
Resumindo 1:
A secreção de prótons na urina está vinculada a reabsorção renal de bicarbonato.
O conteúdo de bicarbonato do filtrado glomerular é semelhante ao conteúdo
plasmático.
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Resumindo 2:
+
- Em uma alcalose (redução de H no plasma):
+
Redução da concentração de H no sangue leva a uma menor formação de gás
carbônico reduz a difusão destes para células do epitélio renal reduz a formação de
bicarbonato e próton reduz a reabsorção de bicarbonato (já que sua formação é menor) e
reduz a excreção de próton no filtrado glomerular como há mais bicarbonato no plasma
(já que o equilíbrio foi deslocado na formação de próton e bicarbonato) e como há menos
excreção de prótons, irá ocorrer menos prótons reagindo com o bicarbonato existente no
filtrado formando ácido carbônico, logo, o bicarbonato ficará nesta forma e será excretado
na urina aumento da excreção de bicarbonato na urina.
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+
Controle por feedback da concentração de íons H pelo sistema respiratório.
+
Devido à capacidade do centro respiratório de responder à concentração de íons H , e
considerando-se o fato de que as variações na ventilação alveolar alteram, por sua vez, a
+
concentração de íons H dos líquidos corporais, o sistema respiratório atua como um
+
controlador típico da concentração de íons H por feedback. Isto é, toda vez que a
+
concentração de íons H estiver elevada, o sistema respiratório também fica mais ativo,
e a ventilação alveolar aumenta. Em conseqüência, a concentração de CO2 nos líquidos
+
extracelulares diminui, com a conseqüente redução da concentração de íons H para seu
+
valor normal. Por outro lado, se a concentração de íons H cair para níveis muito
baixos, o centro respiratório fica deprimido, e a ventilação alveolar também diminui,
+
com elevação da concentração de íons H até a faixa normal.
A hiperventilação permite que elimine-se mais CO2 e assim o equilíbrio
químico do sistema bicarbonato é deslocado no sentido de consumo de prótons,
resolvendo o problema da acidificação.
No caso contrário, em uma situação de carência de prótons, pois estes estão
envolvidos no tamponamento de alguma base lançada na circulação, o pH aumenta.
Uma maneira de resolver o problema é realizar uma hipoventilação. Assim a eliminação
de CO2 fica reduzida e a permanência da molécula por um maior tempo na circulação
permite repor o próton por deslocamento do equilíbrio químico do sistema
bicarbonato/ácido carbônico no sentido de formação de prótons.
Alterações induzidas no ritmo de respiração terão portanto consequências a
nível de pH plasmático. Por exemplo, uma pessoa que ingeriu uma droga que deprime o
centro respiratório bulbar (como morfina) e está com poucos movimentos ventilatórios
por minuto estará em hipoventilação. Assim o gás carbônico irá permanecer mais tempo
na circulação e por delocamento de equilíbrio irá produzir mais prótons. Isso acidificará
o plasma e o quadro patológico dessa pessoa é definido como uma acidose.
Um paciente que está em um quadro de hiperventilação estará reduzindo os
níveis de gás carbônico muito rapidamente. Assim o pH plasmático se eleva e
caracteriza um quadro de alcalose.
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tamponamento" global do sistema respiratório é uma a duas vezes maior que a de todos
os tampões químicos combinados. Isso significa que, normalmente, uma a duas vezes
mais ácido ou base podem ser tamponados por esse mecanismo em relação aos tampões
químicos.
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Figura 12: Figura mostrando o efeito Bohr, para uma mesma oferta de oxigênio a
hemoglobina possui maior afinidade pelo oxigênio a medida que aumenta o pH
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alcalino. O ácido carbônico formado dissocia em água e gás carbônico que difunde-se
para o ar expirado, sendo finalmente eliminado pela ventilação. Cerca de 70% do gás
carbônico eliminado pelo tecido periférico é transportado aos pulmões sob forma de
bicarbonato; 7% na forma dissolvida no plasma e 23% ligado covalentemente na porção
aminoterminal de resíduos de valina das cadeias da hemoglobina
(carbaminohemoglobina). O desligamento do gás carbônico em troca pela ligação do
oxigênio é explicado por um mecanismo conhecido como efeito Haldane. Cerca de 97%
do oxigênio é transportado ligado à hemoglobina e 3% dissolvidos no plasma.
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Resumindo:
Podemos observar na Figura 13 um resumo dos eventos que ocorrem nas trocas gasosas
nos tecidos e pulmão.
- No tecido
No tecido a concentração de CO2 é bem maior, já que é originário do metabolismo
celular, portanto, este se difunde para o interior das hemáceas, dentro destas a enzima
anidrase carbônica catalisa a reação do CO2 com água formando o ácido carbônico que
+
se dissocia em H e bicarbonato. A hemoglobina chega nos tecido na forma de HbO2,
+
ou seja ligada ao O2, mas como a hemoglobina possui grande afinidade pelos íons H e
estes estão em grande concentração no interior da hemácea, estes são captados pela
+
hemoglobina finado na forma de HbH , assim, é reduzida a afinidade pelo O2, sendo
este então liberado pela hemoblobina e por difusão oxigena os tecidos (importante
perceber que neste momento a hemoglobina exerce seu poder tamponante na captação
+
de H que foi originário da captação de CO2 pela hemácea, então em última análise a
hemoglobina está indiretamente tamponando ácidos voláteis, contribuindo para que o
+
CO2 não acidifique o sangue pela formação de H , não captanto este diretamente já que
não pode se difundirpela membrana). Como aumenta também a concentração de
bicarbonato no interior da hemácea este é liberado para o meio extracelula e é captado
cloreto. Então o CO2 é transportado na hemácea majoritariamente na forma de
bicarbonato e outra parte ligado na hemoglobina e diluído no plasma.
- Nos pulmões
Nos alvéolos pulmonares as hemáceas chegam carregadas com a hemoglobina ligada ao
+ +
H , HbH , mas nos alvéolos há uma grande concentração de O2, pelo ar inspirado,
sendo o pH mais alcalino também, pela baixa concentração de CO2, então o O2 é
+
captado pela hemoglobina, HbO2, liberando desta maneira o H que reage com o
bicarbonato no interior da hemácea, formando ácido carbônico que se dissocial em água
e CO2, sendo este então eliminado pelo pulmão na expiração. Ainda como o
bicarbonato é consumido, deve haver entrada de bicarbonato em uma troca com o
+
cloreto que sai da hemácea. Note que no tecido a hemácea captou CO2 formou H no
seu interior que foi captado pela hemoglobina sendo liberado no pulmão e convertido
após união com bicarbonato em CO2 novamente que é eliminado na respiração, em
última análise a hemoglobina contribui na eliminação de ácidos voláteis de CO2, de
maneira indireta, contribui na manutenção da concentração de prótons no sangue.
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4. Equação de Handerson-Hasselbach
-
No sangue arterial, a [ HCO ] normal é ~ 24 mM e a pCO é ~ 40 mm Hg. A solubilidade do CO
3 2 2
no plasma é 0,0301 mmóis por mm de Hg; então 40 X 0,0301 = 1,2 mM de [CO ] . Assim,
2
pH = 6,1 + log 24/1,2
pH = 6,1 + log 20
pH = 7,4
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Referências:
VOET, D., VOET, J., PRATT, C.W. Fundamentos de Bioquímica, Artes Médicas Sul,
Porto Alegre. (NRB 653812)
AIRES, Margarida de Mello. Fisiologia. Rio de Janeiro, RJ: Guanabara Koogan. (NRB
653521)
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