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06/02/2022 10:37 A idade e o aprendizado de línguas

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A idade e o aprendizado de línguas


Ricardo E. Schütz (sk-inst.html)

Available since: June 2003

Last revision: December 2019

We are designed to walk ... That we are taught to walk is impossible. And
pretty much the same is true of language. Nobody is taught language. In fact
you can’t prevent the child from learning it.

— Noam Chomsky, The Human Language Series 2 (1994)

Já na Babilônia e no antigo Egito o homem procurava entender a complexidade


de suas habilidades cognitivas, e especialmente a capacidade de assimilar e
usar línguas.

Hoje, o que se aceita de forma geral, com base no que as ciências da


neurolinguística, da psicologia e da linguística oferecem, é uma série de
hipóteses que procuram explicar esta habilidade exclusiva do ser humano.
Essas hipóteses são resultado de estudos científicos que ajudam a explicar, não
só o desempenho cognitivo do ser humano, mas também as diferenças entre
crianças e adultos.

A idade crítica

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Não há dúvida de que existe uma idade crítica (como propõe Lennenberg), a
partir da qual o aprendizado começa a ficar mais difícil e o teto começa a baixar.
Este período parece situar-se entre os 12 e os 14 anos, podendo entretanto
variar muito conforme a pessoa e, principalmente, conforme as características
do ambiente linguístico em que o aprendizado ocorre. As limitações que
começam a se manifestar a partir da puberdade, como mostra o gráfico ao lado,
são mais evidentes na pronúncia.

O estudo dos diferentes fatores que afetam o desenvolvimento cognitivo do ser


humano pode ajudar a explicar o fenômeno da idade crítica. Os principais
fatores são:

fatores biológicos
fatores cognitivos
fatores de ordem afetiva
o ambiente e o input linguístico

Leia sobre o caso "Genie", demonstrando a hipótese da idade crítica para


desenvolvimento da linguagem: https://www.sk.com.br/sk-genie.html
(https://www.sk.com.br/sk-genie.html)

Fatores biológicos
Os órgãos diretamente envolvidos na habilidade linguística do ser humano são o
cérebro, o aparelho auditivo e o aparelho articulatório (cordas vocais, cavidades
bucal e nasal, língua, lábios, dentes). Destes, sem dúvida, o cérebro é o mais
importante.

A hipótese da lateralização do cérebro - Pesquisas no campo da


neurologia demonstram que os dois hemisférios cerebrais desempenham
diferentes funções. O lado esquerdo é o lado lógico, analítico; enquanto
que o direito é o lado criativo, artístico, sensível à música, responsável
pelas emoções e especializado em percepção e construção de modelos e
estruturas de conhecimento. O hemisfério direito seria, por assim dizer, a
porta de entrada das experiências e a área de processamento dessas
experiências para transformá-las em conhecimento.

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Sabe-se também que a lateralização do cérebro ocorre a partir da


puberdade. Ou seja, no cérebro de uma criança os dois hemisférios estão
mais interligados do que no cérebro de um adulto, correspondendo esta
interligação ao período de aprendizado máximo. A assimilação da língua
ocorreria via hemisfério direito para ser sedimentada no hemisfério
esquerdo como habilidade permanente. Portanto, o desempenho superior
das crianças estaria relacionado à maior interação entre os dois
hemisférios cerebrais.

Acuidade auditiva - É sabido que crianças e adolescentes possuem uma


acuidade auditiva superior. Fato curioso e ilustrativo disto, é uma
controvérsia na Inglaterra a respeito de um dispositivo, lançado no mercado
em 2006, que emite um som desagradável aos ouvidos, som este que só
crianças e jovens de até cerca de 25 anos conseguem ouvir. O aparelho
tem sido usado para evitar aglomeração de jovens frente a lojas, escolas,
etc. Notícia recentemente publicada em um site de notícias diz:

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Ultrasonic anti-teen device - Feb 12, 2008

The creators of a pioneering device that uses high-frequency sound to


stop teenagers congregating outside shops, schools and railway
stations reacted angrily today to news that the government-appointed
Children's Commissioner wants to see it banned.

The £500 Mosquito device has been installed at some 3,500 locations
across the country since it first went on sale in January 2006. It emits an
irritating, high-pitched sound that can only be heard by children and
young people up into their early twenties, forcing them to move on.

(Their sound causes discomfort to young ears - but their frequency is


above the normal hearing range of people over 25.)

But Sir Albert Aynsley-Green, the Children's Commissioner for England


appointed to represent the views of the country's 11 million children, has
set up a campaign – called Buzz Off – that is calling for the Mosquito to
be banned on grounds that it infringes the rights of young people.

Meanwhile in the US students are using a new ring tone to receive


messages in class — and many teachers can't even hear the ring.

Some students are downloading a ring tone off the Internet that is too
high-pitched to be heard by most adults. With it, high schoolers can
receive text message alerts on their cell phones without the teacher
knowing.

As people age, many develop what's known as aging ear — a loss of


the ability to hear higher-frequency sounds.

Além da capacidade auditiva superior, uma provável maior flexibilidade muscular


do aparelho articulatório também ajudaria a explicar o fenômeno da marcante
superioridade infantil no processo de assimilação de línguas.

Fatores cognitivos
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Formação da matriz fonológica - O adulto monolíngue, por já possuir uma


matriz fonológica sedimentada, se caracteriza por uma sensibilidade auditiva
amortecida, treinada a perceber e produzir apenas os fonemas do sistema de
sua língua materna. A criança, por sua vez, ainda no início de seu
desenvolvimento cognitivo, com filtros menos desenvolvidos e hábitos menos
enraizados, mantém a habilidade de expandir sua matriz fonológica, podendo
adquirir um sistema enriquecido por fonemas de línguas estrangeiras com as
quais vier a ter contato.

Assimilação natural x extudo formal - Uma diferença importante entre


crianças e adultos quanto à suas habilidades cognitivas, é que o adulto já
passou por grande parte de seu desenvolvimento cognitivo. Com um caminho
maior já percorrido e uma bagagem maior acumulada, o adulto tem a
capacidade de lidar com conceitos abstratos e hipotéticos, enquanto que a
cognição das crianças, ainda em fase de construção, depende
fundamentalmente de experiências concretas, de percepção direta. Isto explica
a capacidade superior dos adultos de compreender a estrutura gramatical da
língua estrangeira e de compará-la à de sua língua materna. Explica também a
tolerância superior dos adultos quando submetidos a situações artificiais com o
propósito de exercitarem línguas estrangeiras, bem como a tendência de buscar
simples transferências no plano de vocabulário, com ajuda de dicionários.

Stephen Krashen (sk-krash.html), em sua hipótese learning/acquisition,


estabelece uma distinção clara entre learning (estudo formal - receber e
acumular informações e transformá-las em conhecimento por meio de esforço
intelectual e de capacidade de raciocínio lógico) e acquisition (desenvolver
habilidades funcionais através de assimilação natural, intuitiva, inconsciente,
nas situações reais e concretas de ambientes de interação humana) e sustenta
a predominância de acquisition sobre learning no desenvolvimento de
proficiência em línguas.

Krashen defende a importância maior de acquisition sobre learning referindo-se


a adolescentes e adultos. Considerando que acquisition está mais intimamente
ligado aos processos cognitivos do ser humano na infância, é lógico deduzirmos

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que acquisition é ainda mais preponderante no caso do aprendizado de


crianças.

Portanto, se proficiência linguística pouco depende de conhecimento


armazenado, mas sim de habilidade assimilada na prática, construída através
de experiências concretas, fica com mais clareza explicada a superioridade das
crianças no aprendizado de línguas.

A hipótese da Harpaz
A hipótese de Harpaz é a mais esclarecedora. A aquisição da fala e a
descoberta do mundo são processos paralelos para a criança. A interação
linguística da qual a criança participa proporciona a maioria dos dados nesse
processo de desenvolvimento cognitivo. Como consequência, as estruturas
neurais no cérebro que correspondem aos conceitos que vão sendo aprendidos
acabam naturalmente e intimamente associadas às estruturas neurais que
correspondem às formas da língua.

Quando um adulto aprende uma língua estrangeira, seus conceitos (já


formados) já possuem estruturas neurais fixas associadas às formas da língua
materna. As estruturas neurais correspondentes às novas formas da língua
estrangeira não possuem relação com as estruturas dos conceitos já formados,
sendo esta uma associação mais difícil de ser estabelecida. É por isto que, no
aprendizado de adultos, as dificuldades causadas pela interferência da língua
materna são maiores.

A respeito do aprendizado de línguas na infância e da interferência da língua


materna, Harpaz diz:

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Humans are born with an ability to comprehend and generate all kinds of
phonemes, but during childhood (starting from birth, and maybe before) this
ability is shaped by experience such that only the phonemes of the native
language are easily comprehended and generated. In adults, these abilities
are much less plastic, so adult learners of a new language find it specially
difficult to comprehend and generate the phonemes of the new language that
are not used in their native language.

At the time of learning to speak, the child learns to understand the world, and
linguistic interaction forms most of the data in this learning. As a result, the
learned neural structures that correspond to concepts tend to be associated
with the neural structures that correspond to the words (by Hebbian
mechanisms).

When an older person learns a language, the concepts already have neural
structures, which are quite fixed. The neural structures corresponding to the
words in the new language, which are determined by the perceptual input,
have no relations to the former structures, and hence the association is
relatively difficult to learn.

In learning a new language, the learner is not only required to perform new
sequences of mental and motoric operations, but is also required not to
perform the old ones. The old sequences are very thoroughly learned
through practice, so it is very difficult to avoid performing them. Thus older
second language learners find it very difficult not to slip back into their old
language, both in terms of motoric actions (pronunciation) and mental actions
(syntax structures, phrases etc.). For a young child, this is much less of a
problem, because his/her language performance is much less practiced.

— Harpaz, Yehouda. http://human-brain.org/myths.html (http://human-brain.org/myths.html).


Online. Dec 1, 2007

Fatores afetivos e psicológicos


A hipótese conhecida como affective filter, também de Stephen Krashen, explica
que fatores de ordem psicológico-afetiva podem causar um impacto direto na
capacidade de aprendizado, tais como:

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desmotivação: é a ausência de motivo espontâneo, causada por


programas não autenticados pela presença da cultura estrangeira e que
não representam desafio. Também frequentemente causada pela
frustração de não se ter alcançado proficiência através do estudo formal ou
pelo insucesso em sistemas de avaliação (exames, notas, etc.).
Experiências anteriores de resultados negativos, podem desencorajar o
aluno de uma nova tentativa. Aquele que não se identifica com a cultura
estrangeira, - ou que às vezes até a despreza, - normalmente por falta de
informação a respeito da mesma, estará desmotivado para aprender sua
língua. Já a criança, por natureza tem um alto grau de curiosidade pelo
desconhecido e forte sintonia com tudo no ambiente que a rodeia.
perfeccionismo: tendência a preocupar-se excessivamente com a forma,
e ideia radicalizada do conceito de certo e errado em se tratando de
línguas. A pessoa prefere não correr o risco de cometer deslizes.
falta de autoconfiança: talvez causada por traumas durante a educação
recebida em casa ou na escola, e pela radicalização do conceito de certo e
errado em se tratando de línguas. A pessoa que tem uma boa imagem de
si próprio e autoconfiança, é por natureza mais experimentador e
descobridor.

dependência da eloquência: A precisão e elegância no falar são


conquistas alcançadas ao longo da vida, fruto de uma carreira acadêmica.
Essa habilidade com nossa língua materna representa segurança e poder,
dos quais é difícil abrir mão. Isso torna a tarefa de começar de novo na
língua estrangeira, do quase nada, de forma rudimentar, como se pouco
inteligentes fôssemos, extremamente frustrante.
autoconsciência: consciência da própria imagem; capacidade de imaginar
o que os outros podem pensar e preocupar-se com isso; característica
relacionada a introversão e inibição.
ansiedade: causada pela expectativa excessiva de obtenção de
resultados.

provincianismo: atitude de se fechar naquilo com que se identifica, seu


jeito de ser e de falar; de se sentir inseguro fora deles - problema
frequentemente observado em adolescentes.

Ora, todos esses bloqueios são resultado da vida pregressa do indivíduo,


podendo ocorrer portanto unicamente em adolescentes e principalmente
adultos. Fica, pois, novamente evidenciado que as crianças, ainda livres de tais
bloqueios, devem ter uma capacidade de assimilação superior à dos adultos.
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O ambiente e o Input linguístico


Krashen, em sua comprehensible input hypothesis, sustenta que assimilação de
línguas ocorre em situações reais, quando a pessoa está exposta a uma
linguagem levemente acima de sua capacidade de entendimento, porém ainda
inteligível. Ora, é natural que quando adultos se dirigem à crianças, usam um
linguajar próprio, simplificado tanto no plano estrutural como no vocabulário,
para se aproximar ao nível de compreensão da criança. Já nos ambientes em
que adultos vivem, eles não recebem o mesmo tipo de tratamento. Uma vez que
são adultos, seu universo de pensamento e linguagem é mais amplo; ou seja, o
caminho já desbravado é maior e a linguagem, por eles almejada e a eles
dirigida, tende a ser mais complexa e os conceitos mais abstratos, facilmente se
situando além de seu nível de entendimento.

Desta forma, podemos concluir que um ambiente de língua e cultura estrangeira


para crianças é, por natureza, mais simples, menos abstrato, mais próximo ao
nível de compreensão da criança e mais propício à assimilação da língua do
que os ambientes dos adultos.

A importância do contato com estrangeiros na


infância
A importância dos ambientes sociais em que a criança se desenvolve e do
contato com a cultura estrangeira está claramente explicada por George Yule:

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Cultural transmission

While we may inherit physical features such as brown eyes and dark hair
from our parents, we do not inherit their language. We acquire a language in
a culture with other speakers and not from parental genes. An infant born to
Korean parents in Korea, but adopted and brought up from birth by English
speakers in the United States, will have physical characteristics inherited
from his or her natural parents, but will inevitably speak English (and act like
an American). A kitten, given comparable early experiences, will produce
meow regardless.

This process whereby a language is passed on from one generation to the


next is described as cultural transmission. It is clear that humans are born
with some kind of predisposition to acquire language in a general sense.
However, we are not born with the ability to produce utterances in a specific
language such as English. We acquire our first language as children in a
culture. (p.14, my parenthesis)

Minha interpretação:

Nossas características físicas, como a cor dos olhos e do cabelo, são


herdadas de nossos pais. Entretanto não herdamos necessariamente a
língua deles. Assimilamos a língua daqueles falantes com os quais
convivemos, no ambiente cultural deles, e não dos gens paternos. Uma
criança nascida de pais coreanos na Coréia, por exemplo, mas adotada e
criada desde o nascimento por falantes de inglês nos Estados Unidos, terá
características físicas herdadas de seus pais biológicos mas,
inevitavelmente, falará inglês e se comportará como americana. Um gato,
submetido a um processo semelhante ou não, produzirá o mesmo miado
independentemente do ambiente em que for criado.

Este processo, através do qual uma língua é transmitida de geração em


geração, é explicado como transmissão cultural. É evidente que o ser
humano nasce com a predisposição de assimilar não uma determinada
língua, mas qualquer língua. Nossa(s) língua(s) materna(s) será(ão)
aquela(s) do(s) ambiente(s) cultural(is) em que vivermos na infância.

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Takako Kanomata assim conclui:

Na infância construímos os alicerces do nosso ser, de forma inconsciente,


através do convívio e das experiências do dia a dia. O contato e a
construção de relacionamentos com pessoas estrangeiras na infância
elimina o conceito de estrangeirismo de forma natural. A convivência
multicultural na infância proporciona a construção de uma identidade própria,
enriquecida por comportamentos e valores sociais diferentes, que eliminam
fronteiras.

Conclusões
A aquisição da fala e a descoberta do mundo são processos paralelos para
a criança. A língua estrangeira presente na infância e na adolescência,
durante o desenvolvimento cognitivo do indivíduo, tende a ficar enraizada
de forma semelhante à língua materna.
Linguagem é o principal elemento de relacionamento humano. Todos
desenvolvem proficiência em línguas estrangeiras mais através de
acquisition (desenvolvimento de habilidades através de assimilação
natural, intuitiva, inconsciente, em ambientes de interação humana)
do que de learning (estudo formal - memorizar informações e
transformá-las em conhecimento através de esforço intelectual),
especialmente crianças. Portanto, línguas não podem ser ensinadas,
mas serão aprendidas se houver o ambiente apropriado.
Crianças assimilam línguas com mais facilidade, porém têm grande
resistência ao aprendizado formal, artificial e dirigido. As crianças, mais do
que os adultos, precisam e se beneficiam de contato humano para
desenvolver suas habilidades linguísticas. Entretanto, se perceberem que a
pessoa que deles se aproxima fala a língua materna, dificilmente se
submeterão à difícil e frustrante artificialidade de usar outro meio de
comunicação. Elas só procuram assimilar e fazer uso da língua estrangeira
em situações de autêntica necessidade, desenvolvendo sua habilidade e
construindo seu próprio aprendizado a partir de situações reais de
interação em ambiente da língua e da cultura estrangeira. Portanto, a
autenticidade do ambiente, principalmente na pessoa do facilitador, é mais
importante do que o caráter das atividades (lúdicas ou não), e ambos são
mais importantes do que qualquer planificação didática predeterminada.
O ritmo de assimilação das crianças é mais rápido e, o teto, mais alto.

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Existe uma idade crítica (12 a 14 anos), a partir da qual o ser humano
gradativamente perde a capacidade de assimilar línguas ao nível de língua
materna. Essa perda é mais perceptível na pronúncia. Até os 12 ou 14
anos de idade, a criança que tiver contato suficiente com o idioma, o
assimilará de forma tão completa quanto a língua materna. É uma janela
de oportunidade que não pode ser desperdiçada.
Entretanto, no nosso caso (brasileiros que vivem no Brasil), onde
ambientes autênticos de língua e cultura estrangeira são raros,
decisões a respeito do aprendizado de inglês de crianças devem ser
baseadas menos na idade e mais na oportunidade. De nada adiantará
colocar a criança cedo em contato com uma língua estrangeira se o
modelo oferecido for caracterizado por desvios e ausência de valores
culturais – é melhor esperar por uma oportunidade melhor.
É grande a responsabilidade ao se colocar crianças, que ainda não
atingiram a idade crítica, em clubes, cursinhos ou escolinhas que oferecem
inglês. Se os instrutores tiverem uma proficiência limitada, com sotaque e
outros desvios que normalmente caracterizam aquele que não é nativo,
todos os desvios serão transferidos à criança, podendo causar danos
irreversíveis a seu potencial de assimilação. Seria como colocar a gema
bruta nas mãos de um lapidador aprendiz.
Atividades que expõem a criança prematuramente ao sistema
ortográfico do inglês, o qual se caracteriza por extrema irregularidade
e acentuado contraste em relação ao português, são prejudiciais. Veja
Correlação Ortografia x Pronúncia (sk-interfer.html).
Uma vez que o momento ideal de se alcançar proficiência em línguas
estrangeiras é a idade escolar e, sendo bilinguismo uma qualificação
básica do indivíduo na sociedade moderna, compete às escolas de ensino
fundamental e médio proporcionar ambientes autênticos de language
acquisition.
É grande a responsabilidade do poder público em abrir urgentemente
as fronteiras culturais, facilitando a vinda de falantes nativos de
línguas estrangeiras através de um enquadramento legal específico e
burocracia simplificada, bem como incentivando a criação de
organizações voltadas a intercâmbio linguístico e cultural e
promovendo a isenção fiscal das mesmas.

Bibliografia
Bialystok, Ellen. Effects of Bilingualism and Biliteracy on Children's
Emerging Concepts of Print. Developmental Psychology, Vol. 33, No. 3.
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Brown, H. Douglas. Principles of Language Learning and Teaching.


Prentice Hall Regents, 1994.
Clampitt, Sharon. Age and the Acquisition Process.
<http://ponce.inter.edu/proyecto/in/huma/age.html
(http://ponce.inter.edu/proyecto/in/huma/age.html)>. Inter American
University of Puerto Rico.
Fromkin, Victoria and Robert Rodman. An Introduction to Language. Fort
Worth, TX: Harcourt Brace College Publishers, 1974.

Harpaz, Yehouda. Myths and misconceptions in Cognitive Science. Human


Cognition in the Human Brain. <http://human-brain.org/myths.html
(http://human-brain.org/myths.html)>. Online. Nov 1, 2003.
Krashen, Stephen D. Principles and Practice in Second Language
Acquisition. Prentice-Hall International, 1987.
Krashen, Stephen D. Second Language Acquisition and Second
Language Learning. Prentice-Hall International, 1988.
Kuhl, Patricia. The Linguistic Genius of
Babies. <http://www.ted.com/talks/patricia_
kuhl_the_linguistic_genius_of_babies.html
(http://www.ted.com/talks/patricia_
kuhl_the_linguistic_genius_of_babies.html)>. Online. Jan 16, 2018.

Lenneberg, Eric H. Biological Foundations of Language. New York: Wiley,


1967.
Yule, George. The Study of Language. 4th edition. Cambridge University
Press, 2010.

Veja também
Leia aqui uma série de perguntas e respostas sobre aprendizado de
crianças (sk-perguntas-e-respostas-sobre-ensino-e-aprendizado-de-
ingles.html#child)

O papel dos pais (sk-pais.html)

O papel da escola (sk-escol.html)

O papel do governo (sk-gover.html)

COMO FAZER UMA CITAÇÃO DESTA PÁGINA:

Schütz, Ricardo E. "A Idade e o Aprendizado de Línguas." English Made in Brazil

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