Você está na página 1de 76

#03

quadrimestral

CHEF JORGE PERES


2018 . PORTUGAL CONTINENTAL €3.90

Limitações face às cervejas


estão a acabar

CERVEJA E FUTEBOL
Retorno em forma de emoções

ECONOMIA
Um pacto pela cerveja
para maior justiça fiscal

BREWERS OF EUROPE FORUM


Cervejeiros reúnem-se
em Bruxelas para debater setor

DOIS CORVOS
Três anos de esforço,
suor e dedicação

LAGER
A SEDUTORA LEVEZA DO LÚPULO
Para descobrir e partilhar com os amigos
NORTADA | RAFEIRA | CERVEJA +351 | BOHEMIA HOPPY WEISS | FERMENTAÇÃO E MATURAÇÃO | SOVINA | SIMBIOSE
PORTAL | PATO BREWING | 50 ANOS DA CERVEJEIRA DE VIALONGA | SELECÇÃO 1927 PORTUGUESE BLOND ALE
2 • PAIXÃO PELO CERVEJA • EDIÇÃO 3
purple EDITORIAL

purple
proprietário e editor
PurpleSummer Media & Events, Unip. Lda
NPC 513 091 378 • Capital Social € 5 000
Rua Manuel da Silva, n.º 2, 1º Frente
2700-552 Amadora | Portugal
T. +351 211 352 336

purple
diretora editorial
Susana Marvão
editorial.purplemedia@gmail.com
T. +351 938 762 939
diretora executiva
Maria Helena Duarte
purplesummer.mhd@gmail.com
T. +351 969 105 600
assessora da direção
Cristina Ribeiro
purplesummer.media@gmail.com

editor on-line e multimédia


Ricardo Barrelas
redatores
António Mendes Nunes, Aquiles Pinto,
Augusto Lopes, Bruno Aquino, Carlos Ramos,
Cláudia Pinto, João Pereira Santos, João Durães,
Manuel Baiôa, Maria Helena Duarte,
Paulo Pimenta, Pedro Moura, Sérgio Costa Lopes,
Susana Marvão, Tito Santos
fotografia
Carlos Figueiredo, Ernesto Fonseca,
Nuno Belo, D.R.
brand ambassador
Sónia Rebelo SUSANA MARVÃO
purplesummer.sonia@gmail.com diretora editorial
T. +351 910 500 780

Paixão Pela Cerveja


tem o apoio da
Associação Cervejeiros de Portugal

impressão
LusoImpress, S.A.
R. Venceslau Ramos, 28
Longa vida às lager
4430-929 Avintes VNG

distribuição te dominante no mercado. “Optar” por este tipo de cervejas está-nos no “sangue”,
VASP, MLP – Media Logistics Park
Quinta do Grajal, Venda Seca
às vezes demasiado literalmente, pelo que é complicado inverter esta tendência.
2739-511 Agualva Cacém É claro que não fomos propriamente “nós” que assim o escolhemos. Até “agora”,
Registo ERC | 127067 a oferta disponível não era muito alargada, pelo que a “loirinha”, “fresquinha” e de
Depósito Legal | 435346/17 “espuma clara” é, mesmo em termos de imagem visual, como definimos, per si, a
siga-nos on-line cerveja, não só em Portugal mas um pouco por todo o mundo.
Revista Paixão Pela Cerveja
revistapaixaopelacerveja
No tema de capa desta edição arriscamos falar das lager. E uso a palavra “arrisca-
#paixãopelacerveja mos” porque sabemos que cada vez mais os cervejeiros, os mestres, os somme-
www.revistapaixaopelacerveja.pt
liérs evitam “alocar” determinado tipo de cerveja a uma época específica do ca-
A reprodução de textos e imagens tem de ser lendário. Os especialistas tentam que o consumidor perceba que as cervejas são
solicitada e autorizada.
estatuto editorial
para todo o ano e, tal como o vinho, devem ser escolhidas consoante a comida, o
Disponível on-line estado de espírito e, porque não, a companhia. É um desafio, todos concordaram.
periodicidade quadrimestral Nenhum deles quis propriamente arriscar prognósticos antes do jogo. E, por isso,
PPC #03
agosto / setembro / outubro / novembro quando lhes perguntamos qual a tendência de crescimento, ou decréscimo, das
lager as respostas variaram. Há quem defenda que as novas tendências de con-
sumo e o alargar do portfólio disponível vai despertar curiosidade e “roubar” cota
as lager, mas há quem também defenda que a procura por cervejas mais leves e
menos alcoólicas vai dar longa vida às lager.
Do nosso lado, para além de estarmos entusiasmados com toda esta dinâmica de
mercado... estamos com sede. E, com este calor, admito que uma lager fresquinha
vai tender a ser a minha escolha!

Cheers.

capa: fotografia por Halfpoint

EDIÇÃO 3 • PAIXÃO PELO CERVEJA • 3


ÍNDICE

Í
26 46 Beer Lover: Colaborar é melhor
do que competir, mas com limites!
48 Sovina Amber Vintage
49 Post Scriptum Simbiose

26 Cerveja e Futebol
30 Cerveja e Ambiente
32 Bélgica e Inglaterra: 54
cervejas à prova
50 Portal Port Barrel Aged
52 3º Anivesário Dois Corvos
34 54 50 Anos da Cervejeira de Vialonga
58 Pato Brewing
em nova unidade de produção
60 Um pacto pela cerveja
6 Atualidade cervejeira 62 Dia da cerveja: 3 de agosto
13 Agenda cervejeira: 63 Educar para Prevenir
música e eventos
14 Nortada 64
15 Rafeira
16 Cerveja +351
17 Bohemia Hoppy Weiss
34 Tema de capa
18 Dan’s Finger Food & Drinks, Lager: a sedutora leveza do lúpulo
Guimarães 42 Cervejas lager: avaliação em
19 Peebz, Porto prova cega
20 Chef Jorge Peres: Limitações 44 Fermentação e maturação
face às cervejas estão a acabar 45 Os festivais de cerveja
24 Mesas Bohemias 64 The Brewers of Europe Forum
46 68 Selecção 1927 Portuguese Blond Ale
20
70 Coral Puro Malte,
Bastardô!, Gringo
72 Must have
74 Cerveja: o ingrediente secreto

Siga-nos on-line
Revista Paixão Pela Cerveja
revistapaixaopelacerveja
#paixãopelacerveja
www.revistapaixaopelacerveja.pt

4 • PAIXÃO PELO CERVEJA • EDIÇÃO 3


BEER CLIPPING

ESTRELLA DAMM
“A nossa sugestão”
Cada estilo de cerveja é único e deve ser harmonizado com
pratos adequados. A pensar nisso, as cervejas gastronómicas
que complementam a gama da Estrella Damm desafiaram
restauran-tes de norte a sul do país a criar pratos específicos
para cada tipo de cerveja. “A Nossa sugestão” é um conceito
de maridagens cervejeiras entre os pratos desenvolvidos pe-
los restaurantes e as quatro especialidades da gama DAMM.
Até novembro, 32 restaurantes selecionados participam no
programa constituído por quatro momentos, cada um deles
com a duração de um mês. Em cada um, estará em destaque
uma das especialidades Damm: Inedit (julho e agosto), Mal-
querida (setembro), Voll Damm (outubro), Bock Damm (no-
vembro). Consulte mais informações e a listagem de restau-
rantes aderentes do Porto, Aveiro, Coimbra, Lisboa, Setúbal e
Faro, em www.sumolcompal.pt/pt-pt/marca/damm.

Super Bock oferece


VIAGENS
Mais SAÚDE A nova campanha promocional de Super Bock para este ve-
rão é uma ode à amizade, às virtudes, mas sobretudo aos de-
nas mulheres feitos dos amigos, que vai fazer recordar situações que nos
irritam ou enervam e dão vontade de “mandar um amigo para
Uma única caneca de cerveja pode conter milhares de compo- um certo sítio”. Quem partilhar essas histórias em www.su-
nentes e a maioria deles são benéficos. Principalmente para as perbock.pt habilita-se a ganhar uma das nove viagens duplas
mulheres! Deve bebê-la sem álcool durante a gravidez: é benéfica que a marca está a oferecer para destinos como Punta Cana,
por ser rica em ácido fólico. Melhora a qualidade do leite materno: Cambodja, Nova Iorque ou Rio de Janeiro, “embora tenha de
o consumo habitual de cerveja sem álcool melhora em 30% a ca- ir com esse mesmo amigo – sem o qual, afinal, não consegue
pacidade antioxidante do leite materno e protege contra doenças viver!” Os interessados podem candidatar-se até 10 de setem-
cardiovasculares. Atrasa os efeitos da menopausa: a presença de bro em www.superbock.pt/pt/pt/um-certo-sitio/ partilhando
fitoestrógenos na cerveja ajuda a prevenir patologias que costu- uma história real, com a mesma a incluir o “defeito” do amigo
mam surgir na menopausa e chega mesmo a atrasar os efeitos do com quem se viveu essa situação e a explicar o motivo para
processo. > Fonte www.delas.pt querer “mandar o amigo para um certo sítio” (destino).

6 • PAIXÃO PELO CERVEJA • EDIÇÃO 3


Sabe quais são as 10 cervejas
MAIS VENDIDAS no mundo?
Sabia que cervejas mais vendidas no mundo são maioritariamen-
te chinesas e norte-americanas? Estes mercados possuem uma
importante percentagem de “market share” e, muitas delas, têm
registado um aumento significativo no número vendas, durante
os últimos dez anos. Se não as conhece ou, pelo menos, ainda
não as provou a todas, tome nota dos nomes das cervejas mais
vendidas no mundo, organizadas em Top 10, e avalie por si pró-
prio a qualidade das mesmas: Snow (China); Tsingtao (China);
Bud Light (Eua); Budweiser (EUA); Skol (Brasil); Yanjing (China);
Heineken (Holanda); Harbin (China); Brahma (Brasil); Coors Light
(Eua).
As cervejas mais vendidas no mundo podem não ser as que mais
qualidade e sabor têm mas são, seguramente, as mais consumidas
à volta do globo. No geral, são produzidas em países com grande
densidade populacional, o que naturalmente contribui para que
atinjam grandes números em termos de vendas e consumo. Em
todo o caso, deixamos-lhe o desafio de tentar experimentar todas
elas e dar o seu veredito. Será que trocava uma cerveja lusa por
alguma destas? > Fonte www.e-konomista.pt

PUB PUB

Produzida em
RUA SÁ DA BANDEIRA
PORTO • PORTUGAL

BOR
UM VENDAVAL DE SA
• CRAFT BEER
CERVEJA ARTESANAL
segue-nos em
cervejanortada
cervejanortada
CERVEJANORTADA.PT
SEJA RESPONSÁVEL. BEBA COM MODERAÇÃO

EDIÇÃO 3 • PAIXÃO PELO CERVEJA • 7


BEER CLIPPING

Projeto RENASCER
foi um sucesso
O ano de 2017 ficará marcado no coração dos portugueses, como
um dos anos mais negros da história através de diversos incên-
dios que assolaram este país e destruíram largos hectares de flo-
resta. A cerveja artesanal pode ser também solidariedade. Assim,
a cerveja Letra e a cerveja Rapada convidaram alguns dos seus
parceiros para construir uma campanha solidária com o objetivo
único de ajudar na reflorestação das zonas mais afetadas por estas
catástrofes. Nasceu a cerveja artesanal Renascer, que foi comer-
cializada até ao final de janeiro num pack solidário, composto por
uma garrafa de cerveja do estilo American Amber Ale (6%) e uma
pequena árvore. Por cada mil garrafas as cervejas compromete-
ram-se a plantar cinco árvores (espécies autóctones, como cas-
tanheiros e carvalhos) nas zonas mais afetadas da área geográfica
da Rapada, em Oliveira do Hospital. O pack solidário, garrafa de 33
cl mais de uma árvore para plantar, teve um custo de 5 euros, para
uso direto na compra de árvores para plantação. Foram angaria-
das cerca de 24 mil árvores e nesta fase já estão plantadas três mil,
sendo que até ao final do ano estarão todas plantadas.
A campanha foi um sucesso, garante Rui Figueiredo, da Rapada,
referindo que: “apesar de serem muitas árvores, temos intenção
de relançar a campanha Renascer no inicio de 2019, porque a
mancha ardida foi imensa”.

SUPER BOCK EM STOCK


dá música em Lisboa
Nos dias 23 e 24 de novembro, a icónica Avenida da Liberdade
volta a receber o festival de Inverno que revolucionou o pa-
norama musical nacional em 2008, pelo seu conceito e fun-
cionamento inovador. Super Bock volta a ser naming sponsor
deste festival, numa colaboração com a Música no Coração.
No âmbito deste patrocínio, Super Bock vai promover também
a melhor experiência de consumo, servindo, ao público, a cer-
veja em copos reutilizáveis, conceito igualmente inovador in-
troduzido pela marca em Portugal em 2016. Estão já confirma-
dos os primeiros nomes para esta edição: Johnny Marr, Elvis
Perkins, Charles Watson, The Harpoonist and the Axe Murderer
e Conan Osiris. O bilhete único válido para os dois dias do Fes-
tival já se encontra à venda nos locais habituais, pelo preço de
40€ até 31 de agosto, passando para 45€ a partir do dia 1 de
setembro e 50€ nos dias do Festival.

8 • PAIXÃO PELO CERVEJA • EDIÇÃO 3


Super Bock apoia
SELEÇÃO PORTUGUESA DE RUGBY
A Super Bock vai manter-se como um dos principais Patrocinadores
da Federação Portuguesa de Rugby durante os próximos dois anos.
Com a renovação da parceria a marca assegura a presença nos jo-
gos e campeonatos que se disputam em Portugal e no estrangeiro.
A apoiar a Federação Portuguesa de Rugby há mais de 10 anos, Su-
per Bock tem contribuído para a Seleção Nacional de Rugby con-
quistar grandes resultados. Para além de continuar a ter visibilidade
nas camisolas de jogo da Seleção de XV e Sevens, a marca do Super
Bock Group é a patrocinadora oficial das competições oficiais Final
CN1, Final CN2, Final CN3 80, Taça Europcar Challenge (80), Final
da Taça de Portugal e Final do Circuito Nacional de Sevens. A con-
tinuação do vínculo com os “Lobos” deve-se ao facto do Rugby ser
um desporto que tem por base os valores que são comuns à Super
Bock como são a camaradagem, o espírito de equipa, a união e
a amizade. Neste contexto, Super Bock desenvolveu também um
vídeo, transmitido nas principais plataformas digitais da marca. A
parceria entre o Super Bock Group e a Federação Portuguesa de
Rugby decorre desde 2007, com a oficialização deste novo acordo
a refletir a filosofia de ambas as marcas, juntando um desporto de
valores ao compromisso da Super Bock em oferecer as melhores
experiências e a acompanhar os momentos de glória.

PUB

EDIÇÃO 3 • PAIXÃO PELO CERVEJA • 9


BEER CLIPPING

LUCROS
do Super Bock Group crescem 34%
A empresa liderada por Rui Lopes Ferrei- para a China, onde as vendas duplicaram
ra apresentou “os melhores resultados de e representaram um peso de 40%, classifi-
sempre”, no ano passado, tendo crescido cando-se como marca premium. O grupo
“significativamente” na China. criou mesmo uma cerveja especial para o
O Super Bock Group viu os lucros aumen- mercado chinês. A nível de mercado inter-
taram 33,6% para 51,3 milhões de euros no, destaque para o “crescimento muito
no ano passado, batendo recordes a ní- significativo das vendas de cerveja, sidras
vel de faturação, naquele que foi um ano e águas” e a “redução da área de vendas
marcado por um “ciclo de transformação diretas em Lisboa (alargando o território
iniciado há três anos” e pelos “melhores da rede), lê-se no documento. No ano
resultados de sempre“, afirmou o presi- passado, o número médio de funcionários
dente executivo, Rui Lopes Ferreira, no fixou-se em 1.351, mais 1,4% do que no
relatório de gestão de 2017. Conforme se exercício anterior, tendo a empresa gasto
lê no documento, publicado esta terça- cerca de 52,4 milhões de euros com pes-
-feira, o grupo faturou 520,9 milhões de soal e trabalhadores temporários.
euros no ano passado, o que representa Rui Lopes Ferreira referiu ainda o “ano
uma melhoria de 23,7% face ao ano an- marcante” em que o grupo assumiu “uma
terior (451,3 milhões de euros). O EBITDA nova identidade corporativa“. “Celebrámos
cresceu 19,5%, passando de 85,8 milhões o 90º aniversário da Super Bock e tivemos
para 102,5 milhões. E a cervejeira aumen- os melhores resultados de sempre, com
tou o capital próprio — passou de 171,7 um volume de vendas de 521 milhões de
para 187,6 milhões de euros, um cresci- euros. Reforçámos lideranças no merca-
mento de 9,3%. A empresa com sede em do interno, crescemos significativamente
Leça do Balio, no concelho de Matosinhos, na China, hoje o nosso segundo mercado,
produziu 573 milhões de litros de cerveja, e prosseguimos o investimento noutras
tendo superado os 100 milhões de litros geografias“, lê-se no documento.
exportados. Destaque para as exportações > Fonte www.eco.pt

Heineken lança MÁQUINA DE CERVEJA


de pressão revolucionária
Chega agora a Portugal a THE SUB, a inovadora máquina de cer-
veja de pressão da Heineken e da Krups, concebida pelo aclamado
designer industrial Marc Newson. A máquina oferece a possibilida-
de aos consumidores portugueses de saborearem a melhor cerveja
de pressão, no conforto das suas casas. A THE SUB, utiliza barris de
dois litros de cerveja, chamados The Torp, o que permite uma cerveja
com a temperatura e pressão ideais por muito mais tempo. Para além
da cerveja Heineken, os consumidores dispõem de uma seleção de
marcas de todo mundo, como Brand, Pelforth, Birra Moretti, Wieck-
se, Desperados, entre outras. A THE SUB está disponível nas edições
de preto, cinza, vermelho e edição Heineken. Esta última, com um
design em alumínio polido e uma gravação do icónico logótipo
da marca, oferecendo um acabamento de qualidade premium. Os
consumidores também têm ao seu dispor uma seleção de copos e
acessórios. A máquina e os barris de dois litros de cerveja podem ser
adquiridos exclusivamente online no site http://pt.the-sub.com/.

10 • PAIXÃO PELO CERVEJA • EDIÇÃO 3


Cervejas VADIA elogiam gastronomia
Já está no mercado a primeira gama de
cervejas criadas a pensar nas harmoni-
zações perfeitas com a gastronomia. E
são quatro tipos distintos para diferen-
tes momentos de consumo e sugestões
de foodpairing: Vadia Extra, Vadia Orgâ-
nica, Vadia Ginja e Vadia Thartaruga.
“Queremos que o consumidor perceba
que a cerveja de qualidade não é ape-
nas para consumo nos dias quentes.
Existe uma panóplia de estilos de cerve-
ja destinados a momentos de consumo
distintos, em que as combinações com
determinados pratos elevam a degus-
tação a outros patamares, enaltecendo
tanto a cerveja como o prato.” afirmou
Nicolas Billard, Mestre Cervejeiro e Beer
Sommelier da Cerveja Vadia.

PUB

Cerveja Sagres patrocina


FESTAS DE LISBOA

A Central de Cervejas e a EGEAC assinaram o contrato de patro-


cínio e parceria no âmbito da programação da atividade Cultural
da EGEAC em espaço público, que integra as Festas de Lisboa,
Lisboa na Rua e pela primeira vez, no âmbito deste contrato, a
Festa de Passagem de Ano. Este acordo, para os anos de 2018,
2019 e 2020, abrangerá o portefólio de cervejas, águas e sidras da
SCC. Este acordo irá criar uma parceria que procurará, de forma
bastante positiva, conjugar e potenciar sinergias de reconhecido
interesse público para as vivências culturais da cidade de Lisboa,
perspetivando uma atividade conjunta alicerçada, entre outras na
sustentabilidade ambiental. Nuno Pinto de Magalhães, Diretor de
Comunicação e de Relações Institucionais da SCC, afirma que:
“Esta parceria, juntamente com todas as outras ações que temos
desenvolvido localmente, é mais um exemplo do nosso compro-
misso com Lisboa.”

EDIÇÃO 3 • PAIXÃO PELO CERVEJA • 11


CERVEJA EM FESTA

ArtBeerFest
Caminha 2018
> texto e otografias D.R.

Foi a melhor edição de sempre. Em Caminha vol-


taram a reunir-se cervejeiros e apaixonados por
cervejas, para provar 250 cervejas diferentes, entre
criações nacionais e de 11 países representados.
Num só espaço, reuniu-se o que de melhor se faz
em Portugal e novidades como o Extra Brut IPA,
hidromel, cervejas sem glúten e maturações em
barricas de vinhos portugueses. Não faltaram os
petiscos e a participação de chefes. Para os mais
energéticos foi possível participar na World Beer
Run, uma corrida de 10 quilómetros que convida a
socializar e beber cerveja enquanto se pratica exer-
cício físico.

12 • PAIXÃO PELO CERVEJA • EDIÇÃO 3


BEER & MUSIC

Cerveja e música
Na rota da animação

VAGOS METAL FEST SOL DA CAPARICA SUPER BOCK EM STOCK


Data: 9, 10, 11 e 12 de agosto Data: 16 a 19 de agosto Data: 23 e 24 de novembro
Local: Vagos Local: Costa de Caparica Local: 12 salas emblemáticas da Avenida da Liberdade
Principais nomes: Moonspell, Orphaned Land, Sonata, Principais nomes: Amor Electro, Alselmo Ralph, Ana e zona envolvente – como o Cinema São Jorge, o
Ratos de Porão, Converge, Ensiferum Bacalhau, Jorge Palma, Carminho, Linda Martini Capitólio, o Coliseu dos Recreios e o Teatro Tivoli BBVA;
Preço dos bilhetes: a partir de 20€; passe de 4 dias 80€. Cerveja Oficial: Super Bock Lisboa
Cerveja oficial: Sagres Principais nomes: Johnny Marr, Elvis Perkins, Charles
FESTAS DO MAR Watson, The Harpoonist and the Axe Murderer e Conan
BONS SONS Datas: 17 a 26 de agosto Osiris
Data: 9 a 12 de agosto Local: Cascais Preço dos bilhetes: 40€ até 31 de agosto, passando para
Local: Aldeia de Cem Soldos Preço dos Bilhete: entrada livre 45€ a partir do dia 1 de setembro e 50€ nos dias do
Principais nomes: a dupla Ed Rocha Gonçalves e Catarina Cerveja Oficial: Sagres Festival.
Salinas, os Best Youth, s Sensible Soccers e as irmãs Pega Cerveja Oficial: Super Bock
Monstro KAMALA
Cerveja oficial: Super Bock Data: todas as quartas feiras, até final de agosto REVENGE OF 90’S
Local: Lisboa Data: Dia não definido
CALDAS SUMMER SESSIONS Preço dos Bilhetes: variável Local: Várias localidades do País
Data: 10 a 19 de agosto Cerveja Oficial: Sagres Preço dos Bilhetes: variável
Local: Praia da Foz do Arelho Cerveja Oficial: Sagres
Principais nomes: April Ivy, Mimi Froes, Rodrigo D’Orey, BYE BYE SUMMER WINE & CRAFT BEER PARTY
Meninos da Vadiagem, Fat Tom, José Cid, Diego Miranda Data: 7 de setembro > 17:00-23:00H
Cerveja oficial: Sagres Local: Marriott Hotel Lisboa
Principais destaques: Cerveja artesanal, vinhos e iguarias,
SOLARIS SUNSET EMPIRE música e animação
Data: 14 e 15 de agosto Preços bilhetes: 10€ em pré-venda e 15€ no dia, com
Praia da Rocha, Portimão oferta do copo.
Preço dos bilhetes: a partir de 15,99€ Cerveja oficial: Não tem
Cerveja oficial: Super Bock
LISBON BEER WEEK
VODAFONE PAREDES DE COURA Data: 16 a 24 de setembro
Data: 15 a 18 de agosto Local: Lisboa
Local: Praia fluvial do Taboão (Paredes de Coura) Principais destaques: 50 cervejas de 15 cervejeiras em 40
Principais nomes: Arcade Fire, Fleet Foxes, Skepta, restaurantes
Slowdive e The Legendary Tiger Man Preços bilhetes: 3€ em todos os restaurantes
Preços bilhetes: 100€ (bilhete único para os quatro dias) participantes.
Cerveja oficial: Super Bock Cerveja oficial: Não tem

PUB

EDIÇÃO 3 • PAIXÃO PELO CERVEJA • 13


LABEL & DESIGN

Nortada
Democratizar o acesso
à cerveja de qualidade
> texto Aquiles Pinto > fotografias D.R.

A Fábrica de Cervejas Portuense operou um rebranding à Cerveja Nortada. O objetivo é democratizar as


cervejas artesanais junto da nova geração de consumidores. Isto sem romper com o passado da marca.

O rebranding da Nortada, operado em ju- ligação entre o passado e o presente”, de


nho, nasceu do feedback dos consumido- acordo com Diogo Guerner.
res e por sentir-se a importância de rever o
posicionamento e tornar clara a sua pro- DOIS PATAMARES DE PRODUTO
posta de valor. “Com esta revisão, a Nor- Desenvolvida a identidade, foi altura de
tada passa a assumir-se como o vento da avançar para a criação dos rótulos. Em ter-
revolução cervejeira que pretende quebrar mos de portfolio, a estratégia da Fábrica de
paradigmas e verdadeiramente democra- Cervejas Portuense passou pela criação de
tizar o acesso a cerveja de qualidade em uma distinção clara entre dois segmentos
Portugal”, de acordo com Diogo Guerner, de produtos. Um é um patamar de acesso,
brand manager da marca. com a Lager e a Dark Lager, a um preço
Desenvolvido internamente pela equipa de mais reduzido. Outro segmento, com a
marketing da empresa, o rebranding fo- Vienna Lager, a Brown Porter, a Weiss Bier,
cou-se em reforçar a perceção de qualida- a IPA e a Imperial Stout, que são cervejas
de do produto e criar uma maior afinidade mais complexas, é proposto com um pre-
com a nova geração de consumidores de ço ligeiramente superior.
cerveja, apostando “na criação de uma lin- O desafio era, explica o brand manager
guagem que verdadeiramente refletisse os da Nortada, “criar dois estilos visuais dis-
atributos core da Nortada (qualidade, cul- tintos”, ao mesmo tempo que, simulta-
tura cervejeira, regionalidade) e tornasse neamente, se mantinha “um nível elevado
mais vincada a sua personalidade jovem e de consistência em todo o portfolio”. Esta
irreverente”. Contudo, sendo uma marca abordagem criou rótulos ricos em ele-
recente – foi lançada em abril de 2017 –, mentos visuais que depois foram aplicados
não houve rotura com o passado, manten- transversalmente a todo o restante packa-
do elementos que permitissem uma fácil ging e materiais de comunicação.
identificação da marca. “No final, com esta nova identidade, acre-
O processo criativo começou com o de- ditamos ter encontrado uma forma mais
senvolvimento da nova identidade, a qual assertiva de comunicar com o consumi-
foi intitulada de “carimbo”. O “N” tornou- dor, dando assim mais força à nossa am-
-se o elemento de destaque “como forma bição de ser o vento de mudança do mer-
de oferecer maior jovialidade à identidade, cado cervejeiro português”, indica Diogo
mas funcionando também como o elo de Guerner.

14 • PAIXÃO PELO CERVEJA • EDIÇÃO 3


Cerveja Simplicidade pode ser aquele ponto a
mais em várias situações. Mais direto do
que o “claim” da Rafeira, cerveja artesanal
do palato com ingredientes que, ao pri-
meiro trago, podem parecer estranhos,
por não serem usuais. Um exemplo dis-

Rafeira que nasce em S. Pedro de Penaferim, no


concelho de Sintra, mas que sai bem da
linha, não deve haver.
so é o manjericão na Blond Ale da “casa”.
Estranha-se, mas depois… depois o leitor
já sabe.
Casual chic A história da Rafeira começa no mar, com
um pasteleiro marinheiro, com um fraco COMUNICAÇÃO AO DETALHE
> texto Aquiles Pinto > fotografias D.R. por navios e por cevada estrangeira, que Voltemos, porém, ao processo criativo.
transmite a sua sede de aventura a uma Foi, então, precisamente, com base na
A simplicidade é o novo “cool”.
outra geração. A magia está no ingredien- história da Rafeira que uma equipa de de-
Sem grandes pretensões ou
te improvável que cada referência apre- signers desenvolveu o processo criativo
“parangonas” consegue-se
senta. “Uma chapada de sabor em cheio que esteve na base do logo desta marca
passar uma boa imagem. Não
no focinho”, como se pode no site da de cerveja.
é por acaso que o “casual chic”
marca. Para esse processo criativo, além da his-
é, cada vez mais, o vestuário
A Rafeira é “uma cerveja sem pretensões tória da marca, também o posicionamen-
recomendado em muitos
de produto gourmet, mas com um sabor to da Rafeira foi, naturalmente, impor-
eventos. Esse é o espírito da
e aroma distintos e de qualidade inques- tante, de acordo com Rogério Lopes. “O
cerveja Rafeira e que, sem
tionável”, como explicou à Paixão Pela posicionamento do produto foi essencial
surpresa, contribuiu para o
Cerveja Nuno Nascimento, que, em con- no processo criativo, pois, tratando-se de
processo criativo da imagem.
junto com Rogério Lopes, está ao ‘leme’ um produto com um valor de compra su-
da cervejeira. perior ao praticado, obriga a uma comu-
Nuno e Rogério já eram amigos e colegas nicação e imagem cuidada em todos os
de trabalho. Apreciavam cerveja. Estavam seus detalhes, desde o logotipo, desenho
os ingredientes reunidos para criarem e tipo de papel usado rótulos, textos e a
uma marca que nos “rói” os calcanhares forma como comunicamos”.

EDIÇÃO 3 • PAIXÃO PELO CERVEJA • 15


LABEL & DESIGN

Cerveja +351
Portugalidade
colada ao rótulo
> texto Aquiles Pinto > fotografias D.R.

Nem é preciso telefonar a ninguém a colocar a questão, porque a


designação é o indicativo perfeito do posicionamento da cerveja +351.
A portugalidade está no centro do posicionamento da marca e, como
não poderia deixar de ser, também no Label & Design.

Artesanal portuguesa, com certeza. Eis


como Duarte Cunha e Silva, CEO da cer-
veja +351, resume o posicionamento da
marca “sem regionalismos”, como que gri-
tando mesmo bem alto que “mais portu-
guesa é impossível”.
A prova do que Duarte Cunha e Silva afir-
ma está nos apontamentos de cor que
“constam” das garrafas e do material de
merchandise. Com efeito, são as cores
da bandeira portuguesa, verde, vermelho
e amarelo, a que se junta a cor dos ocea-
nos. “Não podemos esquecer o azul, ob-
viamente, do mar que faz parte de nós e
da nossa longa história”, acrescenta o CEO
da +351.
O próprio nome ou melhor, número, da
marca é o indicativo telefónico de Portu-
gal, que “liga ao país e o que de melhor fa-
zemos por cá, com jola fresquinha”.

CAUSA SOCIAIS
Inspirada para promover, desenvolver e
criar cultura, a cerveja artesanal +351,
além de promover o espírito cervejeiro no
mercado português, pretende promover
as causas sociais, de acordo com Duarte
Cunha e Silva. “É uma cerveja que irá mar-
car e atuar de forma responsável, cons-
ciente e apoiar causas sociais. Gera valor
ao consumidor porque tem muito a ensi-
nar. Vamos inspirar confiança e cumprir o
que prometemos, temos palavra. Suporta-
mos um estilo de vida apoiado na cultura,
amor, comprometimento e na arte”.

16 • PAIXÃO PELO CERVEJA • EDIÇÃO 3


Bohemia Hoppy Weiss
Experiência cervejeira à flor do rótulo
> texto Aquiles Pinto > fotografias D.R.

Pode beber-se uma cerveja só porque se tem sede. Qualquer razão é boa. Mas se esta for harmonizada com
gastronomia e degustada enquanto se tem uma conversa agradável, então o patamar a experiência eleva-se.
A Bohemia Hoppy Weiss está nesse nível e as equipas da Central de Cervejas tiveram isso mesmo em conta no
desenvolvimento da imagem da garrafa e do rótulo.

Enriquecer a experiência às refeições, en- de cores dos rótulos para fazer uma dis- e refrescante, de trigo e com notas aromá-
tre família e amigos, proporcionando mo- tinção clara das variedades e tentámos dar ticas de lúpulo. De aparência clara, utiliza
mentos gastronómicos únicos e memorá- mais destaque à marca Bohemia, que desde uma mistura de maltes de trigo, cevada e
veis, ao mesmo tempo que se continua a sempre assim foi chamada”, avançou à Pai- três lúpulos distintos adicionados a frio que
construção da cultura cervejeira e a trazer xão Pela Cerveja a gestora da marca Bohe- lhe conferem um carácter herbal: Haller-
novidades para uma categoria de cervejas mia, Sílvia Rebelo. tauer Mittelfruh, Mosaic e Citra.
que continua a crescer em Portugal e no A mesma fonte dá conta que, nas inova- Estas características tornam esta cerveja
mundo. Foi esta a base que a Sociedade ções, a empresa procura trazer uma ima- ideal para acompanhar com pratos leves
Central de Cervejas (SCC) teve para o de- gem onde enaltece o estilo da cerveja (o e petiscos de verão, como peixe, marisco
senvolvimento da Bohemia Hoppy Weiss nome do estilo aparece numa escala maior e saladas. De acordo com Sílvia Rebelo,
em termos de produto, incluindo, como do que nome Bohemia) e traz “uma ima- “trata-se de uma inovação que pretende
não poderia deixar de ser o Label & Design gem com mais elementos cervejeiros e promover qualidade e prazer no dia a dia,
da garrafa e do rótulo. assim mais informação sobre cerveja num durante as refeições”.
“É uma gama de cervejas especialmente papel de dinamizar a cultura e oferta cer- Quanto ao público-alvo, inclui, de acordo
desenvolvidas para harmonizar diferentes vejeira”. com a gestora da marca Bohemia, “todos
tipos de comida. Para reforçar o posiciona- os apreciadores e amantes de cerveja que
mento de Bohemia às refeições, procurá- CERVEJA IDEAL procuram novas experiências de sabor sur-
mos desenvolver uma garrafa mais elegan- PARA PRATOS DE VERÃO preendentes e que harmonizem os diferen-
te para ir à mesa, trabalhámos os códigos A Bohemia Hoppy Weiss é uma cerveja leve tes pratos à mesa”.

EDIÇÃO 3 • PAIXÃO PELO CERVEJA • 17


BEER GPS

Dan’s Finger Food and Drinks


Hambúrgueres de picanha
e cerveja artesanal
> texto Aquiles Pinto > fotografias D.R.

As hamburguerias gourmet são já uma incontornável realidade um pouco por todo o país. Um dos bons
exemplos está em Guimarães. Referimo-nos ao Dan’s Finger Food and Drinks.

A decoração é ao estilo industrial. Tem de alho, ketchup e mostarda com caril, o


apontamentos em preto, madeira, mesas que mais chamou a atenção da reporta-
Destaque para cervejas
em mármore e prateleiras em aço, onde gem da Paixão Pela Cerveja.
artesanais com marca
estão livros. Ao fundo, por cima da cozinha Para beber, o que não falta é escolha no
própria Dan’s, mas que são
aberta para que todos os visitantes possam Dan’s Finger Food and Drinks. Destaque
feitas pelo produtor local
ver como se cozinham as iguarias, brilha para cervejas artesanais com marca própria
Areias.
um néon em que se lê “Dan’s”. Dan’s, mas que são feitas pelo produtor
De acordo com os seus responsáveis, o local Areias. Pilsner, Bitter, India Pale Ale e
restaurante pretende dar uma boa expe- Stout. Valem muito a pena. No contrarró-
riência de degustação e convívio, com os tulo das cervejas pode ler-se: “Assim como DAN’S FINGER FOOD & DRINKS
melhores ingredientes. Pois bem, essa é em tudo o que fazemos, a dedicação, o Coordenadas GPS:
uma promessa mais do que cumprida. respeito pelos processos de confecção e 41.444015; -8.2983889
São dezenas os hambúrgueres de picanha a escolha dos melhores ingredientes são a Avenida de São Gonçalo, 171
que os visitantes podem escolher. Além base da nossa cerveja. Feita com água de 4810-525 Guimarães
disso, para quem preferir, também há ofer- nascente de montanha própria, 100% mal- Horário:
Terça-domingo
ta vegetariana. te, lúpulo e levedura e elaborada a partir de
12:00-14:45 | 19:00-22:45
Os hambúrgueres vêm acompanhados métodos artesanais, o nosso leque de cer-
Sexta e sábado até às 23h45
por um dos seguintes “siders” (acompa- vejas, criadas pela cervejeira Areias, casa Encerra à segunda
nhamento): “chips”, “coleslaw” (salada) ou na perfeição com a variedade de sabores www.facebook.com/dansfingerfood/
“finger cheeses” e uma seleção de molhos: dos nossos pratos. É boa... Não era?”

18 • PAIXÃO PELO CERVEJA • EDIÇÃO 3


Peebz
Hambúrgueres com nome de “fusão”
> texto Aquiles Pinto > fotografias D.R.

Nasceu no final de 2014 e é, hoje, uma das hamburguerias de créditos firmados no Porto. Ao contrário de boa
parte de outros exemplos na cidade, O Peebz, assim se designa, não está na “fervilhante” Baixa, mas na mais
calma zona da Foz.

Se todas as casas têm boas histórias para Ao jantar, a carta permite escolha entre
contar, a do Peebz começa logo pelo pró- opções mais clássicas e os especiais Pee- Peebz significa “uma das
prio nome. Fernando Santiago pediu ajuda bz e do mês. O de abril, escolhido pela pessoas mais porreiras que
à filha na tarefa. A filha, por sua vez, falou PPC juntava aos 160 gramas de novilho alguma vez conhecerá”
com vários amigos e uma amiga, curio- queijo de cabra, nozes picadas, mix de
samente hoje funcionária do restaurante, alfaces e mostarda. É uma “bomba” de
deu a sugestão de Peeps, que significa, na sabores que funciona bem, mas, claro, só
gíria urbana jovem, “pessoas e amigos pró- para quem aprecia o intenso paladar do
ximos”. queijo usado.
O ‘brainstorming’ evoluiu, depois, para
Peebz, ou “uma das pessoas mais porreiras LETRA E MUSA
que alguma vez conhecerá”, numa tradu- No campo das bebidas, há opções de cer-
RESTAURANTE PEEBZ
ção mais ou menos livre. “O nome entra vejas artesanais de duas casas produtoras: Coordenadas GPS:
no ouvido. Ficou”, disse à Paixão Pela Cer- a minhota Letra e a lisboeta Musa. Na Le- 41.1527327; -8.6780075
veja o fundador da hamburgueria. tra, a escolha pode recair na A (Weiss), B Rua da Senhora da Luz 448
Nos hambúrgueres, no prato ou em pão, (Pilsner), C (Stout) e E (Belgian Dark). Já na 4150-274 Porto
a base são 160 gramas de novilho, haven- Musa, Hoppy Lager, Red Session IPA e IPA Horário:
do ainda opção de salmão ou vegetaria- são a opção. Terça-sexta: 12:00-15:00 | 19:00-22:45
no. Ao almoço, o restaurante tem menus, De referir que o Peebz tem ‘takeaway’ e Sábado: 12:30-15:30 | 19:00-22:45
domingo: 12:30-15:30
que incluem, além do hambúrguer, bata- trabalha com várias empresas de entre-
Encerra à segunda
tas, bebida e café (6,5 euros na carne e no ga de refeições ao domicílio na zona do
facebook.com/restaurantepeebz/
‘veggie’ e 7,8 euros no salmão). Grande Porto.

EDIÇÃO 3 • PAIXÃO PELO CERVEJA • 19


CHEF’S, CERVEJAS & PETISCOS

Para o menu selecionado,


Jorge Peres escolheu cervejas
artesanais do norte e ousou
desafiar os sentidos.

20 • PAIXÃO PELO CERVEJA • EDIÇÃO 3


Chef Jorge Peres
Limitações face à cerveja
estão a acabar
> texto Aquiles Pinto > fotografias Ernesto Fonseca

Ligar a cerveja à gastronomia e à escolha de uma refeição em concreto já não é algo de estranho em Portugal,
ao contrário do que sucedia há não muitos anos. Jorge Peres, chef de 57 anos de créditos firmados por uma
história na cozinha internacional, realça e aplaude o fim das limitações em relação à cerveja na degustação. É
isso que faz no seu mais recente projeto, o Lab253, em Braga.

“O Lab253 é pequeno e, infelizmente, não perfeita harmonização com o rodovalho O Lab253 tem, ao almoço, menus pré-de-
temos muita disponibilidade para fazer- assado. Para o delicioso bife angus gre- finidos pelo chef e à noite o cenário não é
mos tantas atividades como desejaríamos lhado foram escolhidas duas cervejas: a tão diferente como se possa pensar, dado
em termos de combinação de comida American Pale Ale by Vadia, uma cerveja que Jorge Peres propõe após uma breve
com cerveja. Mas não é a primeira vez que, artesanal orgânica; e a Burguesa Imperial conversa com o cliente. “Nunca consi-
à mesa, o tema da cerveja vem à baila”, re- Stout (whiskey oak). go cozinhar para alguém sem falar com a
fere o chef. pessoa. Tenho de saber do que gosta ou se
Jorge Peres recorda que, há uns anos, ha- MENU É CONVERSA COM CLIENTE é intolerante a algo. Muito mais importante
via a restrição “de para comer um cachorro Aberto desde o início do ano, o Lab253 é do que o menu é eu poder cozinhar para a
ou uma francesinha se bebia uma cerveja, um projeto muito diferente daqueles a que pessoa o que ela gosta”.
mas que para comer um bife tinha de ser Jorge Peres está habituado. Com apenas A frescura dos ingredientes é, portanto,
vinho a acompanhar. Hoje, a perspetiva é 22 lugares, é, indica o próprio nome, um pedra basilar da casa. “Compro carne de
diferente. Tal como os vinhos, os diferen- autêntico espaço de cozinha laboratório. dois em dois dias, vou todos os dias ao
tes tipos de cerveja podem conjugar com O oposto de alguns grandes “empreendi- peixe e todos os dias ao mercado. Todos
diferentes pratos”. mentos” que o cozinheiro liderou ao lon- os vegetais são de pequenos produtores
Felizmente, indica, “há cada vez menos go da carreira, tanto em Portugal como no aqui à volta de Braga que vendem na pra-
divisões e a grande parte das pessoas já Reino Unido ou na Suíça. ça. Por isso é que explico às pessoas que
gosta tanto de vinho como de cerveja, de- No dia em que visitámos o restaurante nos visitam que não adianta pedirem-me o
pende do estado de espírito, da atmosfera, bracarense, experimentámos o ‘apetizer’ menu, porque eu vou ao peixe e escolho o
etc”. do chefe (creme de cenoura com gelado que eu acho que está melhor”.
Para o menu selecionado, Jorge Peres es- de lima e mousse de espinafre), risoto de O cozinheiro explica há dias em que colo-
colheu cervejas artesanais do norte e ou- camarão, robalo braseado, rodovalho as- ca no menu de almoço pescada, mas de-
sou desafiar os sentidos. A Lumber Jane sado, bife angus grelhado e, para sobre- pois muda de ideias e compro outro peixe.
Oak Double India Pale Ale, cerveja cola- mesa, torre de framboesa. “A pessoa entende isso, depois de levar o
borativa produzida na Letra com a Colos- Com exceção, do ‘apetizer’ e da sobreme- peixe à boca. E com as carnes é igual”.
sus, acompanhou muito bem o risoto de sa, que são imagens de marca de Jorge Em seis meses, o restaurante do chef Jor-
camarão. Depois seguiu-se uma Portu- Peres, tudo o resto pode não voltar a en- ge Peres já cimentou essa relação com
guese Grape Ale, elaborada com a casta contrar-se no Lab253. A razão é simples: quem o visita e os clientes mais frequentes
Alvarinho, Esta Cerveja é Mesmo Boa, em não tem menu. já “fazem questão de não quererem saber

EDIÇÃO 3 • PAIXÃO PELO CERVEJA • 21


22 • PAIXÃO PELO CERVEJA • EDIÇÃO 3
“Muito mais importante
do que o menu é eu poder
cozinhar para a pessoa o que
ela gosta”

o que vão comer. ‘A melhor coisa que há o Ferran Adrià, do El Bulli. Aí estive com
FAMOSOS “FOTOGRAFADOS” é não estar preocupado com escolher. Ó um senhor chamado Michael Hassler, um
NA MEMÓRIA chef, traga’. De resto, as críticas de espe- judeu de origem polaca, que tinha fugido
Jorge Peres hoje está em Braga a
cialistas que já fizeram aconselhavam os para Inglaterra em criança. Esse senhor
fazer cozinha de laboratório, mas o
percurso desde chef de 57 é longo e leitores a deixaram-se guiar”. disse-me que eu tinha um dom que de-
muito rico. Além de Portugal, Reino via explorar. Trata-se do dom da alquimia,
Unido e Suíça foram paragens. LEVAR COZINHA DE AUTOR A BRAGA a capacidade de pensar em ingredientes,
Nesse caminho, foram muitos os no- Resultado, o Lab253 tem permitido levar misturá-los na cabeça e ter o paladar na
mes “grandes” para quem Jorge Peres à cidade dos Arcebispos uma realidade garganta. Ou seja, quando vou cozinhar, já
cozinhou. A rainha de Inglaterra, o rei de cozinha de autor que não era muito sei o que pretendo e qual vai ser o resul-
da Jordânia, os artistas Sting, Madon- presente antes. “Braga tem restaurantes tado”.
na e Kylie Minogue ou o ator Anthony ótimos, mas que todos fazem o mesmo.
Hopkins são apenas de alguns dos
Há pratos que são comuns desde que me PAIXÃO COM PREJUÍZOS SOCIAIS
exemplos. “Tudo isso vale o que vale.
O que importa é que as pessoas co- lembro nos meus 57 anos de idade. O ba- Jorge Peres salienta que teve a oportu-
mam e gostem, independentemente calhau à Braga, o cabrito, as papas, o pica nidade e agarrou-a com unhas e dentes,
de quem sejam. Portanto, nesse as- no chão, a feijoada, a vitela assada. Isto é o com muito esforço. “Durante quase 20
peto não sobrevalorizo ter cozinha- que encontra em todos os restaurantes. Eu anos, o dia em que trabalhei menos, tra-
do para a rainha de Inglaterra, ter um tomei um caminho diferente. Eu não abro balhei 14 horas. Nunca perguntei qual era
menu assinado pelo Anthony Hop- ao domingo porque a maioria dos clien- o horário, nunca perguntei qual era o meu
kins a dizer que foi a melhor coste- tes minhotos desses dias vai comer um ordenado. A hora de entrada é certa, a
leta de cordeiro que comeu na vida daqueles pratos. E muito. Tenho de primar hora de saída é quando for. Enquanto es-
dele, entre outros exemplos. Aliás, eu
pela diferença”. tiverem pessoas na sala, temos de esperar.
não tenho fotografias com nenhum
famoso para quem cozinhei”. Este “mimar” do cliente é feito por alguém Quem vem trabalhar para esta área, tem
Alguém falou em fotos ou ‘selfies’? que não pretende visar o lucro a todo o de ter essa noção. É preciso saber que a
Sim, até para Marcelo Rebelo de Sou- custo, mas antes partilhar o talento e a vida pessoal é afetada em grande escala”.
sa o chef já cozinhou. “Ainda não era paixão pela gastronomia. O preço médio A maior parte dos dias nem a família se vê,
Presidente da República, mas já era das refeições no Lab253 é de 25 euros à avisa. “A minha mulher sai, eu saio a seguir
um ilustre sócio do Sporting de Braga noite, havendo, ainda menus definidos ao e quando chego a casa ela já está a dormir,
e eu cozinhei para um grupo VIP no almoço por dez euros. Uma forma de de- porque já passa da meia-noite. Ou seja, em
clube e ele foi o único que se pôs a mocratizar a cozinha de autor, portanto. termos sociais, eu vivo mais tempo com os
pé, depois de comer, para agradecer
clientes do que com a minha própria fa-
e elogiar a refeição”.
A ESCOLHA DA COZINHA NOS ANOS 80 mília. Chega a passar-se uma semana sem
Jorge Peres estudou no Reino Unido. “Se ver a minha filha mais nova. A minha filha
LAB253 fosse para cozinha em Portugal, o meu pai mais velha, que é metade portuguesa, me-
Largo 12 de Dezembro, 8 dizia que eu era homossexual. Havia esse tade jamaicana e vive em Inglaterra, dos
Lomar, Braga tabu. Estávamos nos anos 1980”, explica o três aos seis anos, vi-a duas vezes”.
Horário chef que sempre teve “uma aptidão natu- A compensação, explica o chef, surge o
12:30-14:30 | 20:00-23:00
ral” para cozinhar. brilho nos olhos das pessoas no fim das
Encerrado às terças-feiras
Preço médio: 25,00 € O cozinheiro indica, com efeito, ter o refeições que confeciona. “Isso vale muito
T. +351 938 623 874 dom da alquimia. “Fiz uma formação em mais do que o dinheiro. Isso é o que me
facebook.com/pg/lab253 Barcelona sobre cozinha molecular, com move e o que me realiza”.

EDIÇÃO 3 • PAIXÃO PELO CERVEJA • 23


CINCO SENTIDOS

24 • PAIXÃO PELO CERVEJA • EDIÇÃO 3


MESAS BOHEMIA DISTINGUIDA

Bohemia COM OURO NOS PRÉMIOS


DE CRIATIVIDADE
MEIOS&PUBLICIDADE

A melhor experiência As Mesas Bohemia, um evento pro-


movido pela Bohemia, foi distinguido,

à mesa este verão juntamente com a agência J. Walter


Thompson, com três Ouros, na 7ª edi-
ção dos Prémios Criatividade Meios &
> texto e fotografias D.R.
Publicidade, nas categorias “Eventos:
Grande Público”, “Ativação: Eventos/Pa-
Mesas Bohemia dão a conhecer mais de trezentos restaurantes
trocinios” e “Ativação-Ponto de Venda”.
embaixadores, de norte a sul do País. Dos 230 trabalhos inscritos, 101 chega-
ram à “shortlist”. Desses, 25 obtiveram
Ouro, 27 Prata e 32 Bronze.
Evento incontornável do calendário gas- Os Prémios de Criatividade M&P, pro-
Aproveite os dias mais
tronómico nacional, as Mesas Bohemia movidos pelo jornal Meios & Publicida-
quentes, sente-se à mesa
têm dado a conhecer alguns dos melhores de, pretendem distinguir a melhor pu-
e saboreie a cultura blicidade nacional, o planeamento, as
representantes da cozinha tradicional por-
cervejeira de Bohemia, ações de ativação de marca, de relações
tuguesa, numa viagem de sabores e sabo-
porque é à mesa que públicas, os eventos e as autopromo-
res sem ter de sair de Lisboa ou do Porto,
acontecem muitos dos ções. São dirigidos a todas as empresas
proporcionando uma experiência gastro-
melhores momentos. e profissionais que, a título individual
nómica e cervejeira memorável. ou integrados em empresas, tenham
Sendo julho e agosto, por excelência, me- apresentado trabalhos em Portugal ou
ses em que os Portugueses arumam para res e as mais de 300 Mesas Bohemia es- que, tendo apresentado trabalhos no
outros destinos para as merecidas férias palhadas de norte a sul do País no sitio exterior, exerçam a sua atividade em
de verão, as Mesas Bohemia alargam a na internet: www.mesasbohemias.pt. Mal Portugal. São atribuídos três prémios
sua oferta de eventos ao longo de todo o entra neste website pode de imediato ler: por categoria – Ouro, Prata e Bronze -,
ano e dão agora a oportunidade a todos “As melhores experiências gastronómico- existindo este ano 53 categorias a con-
curso. Estas, por sua vez, integram-se
de usufruírem desta experiência gastronó- -cervejeiras. Porque acreditamos nas co-
em 15 grandes categorias (Televisão /
mica e cervejeira através de uma rede de zinheiras de sempre e nos chefs de agora, Cinema, Rádio, Imprensa, Outdoor, Di-
mais de 300 restaurantes oficiais. na comida de conforto e naquela que cau- gital, Ativação, Eventos, Relações Públi-
Estes embaixadores gastronómicos, re- sa algum desconformo, nas tascas e nos cas, Marketing Relacional, Planeamento
presentantes da cozinha tradicional e tam- restaurantes estrelados, reunimos todos os de Media, Responsabilidade Social, Su-
bém das novas tendências, estão situados restaurantes onde é possível usufruíres de porte Alternativo / Inovação, Mercados
a Norte, Centro, Grande Lisboa e Sul, ofe- uma experiência gastronómico-cervejeira Internacionais, Autopromoções e Mer-
recendo propostas de harmonização das única. Vem sentar-te à mesa e saborear a cados Lusófonos) podendo ainda existir
cervejas Bohemia com os pratos mais cultura cervejeira de Bohemia, porque é à um Grande Prémio por cada uma destas
grandes áreas. A existência deste Gran-
emblemáticos de cada região. Aproveite mesa que acontecem muitos dos nossos
de Prémio depende da apreciação do
os dias mais quentes, sente-se à mesa e melhores momentos”. júri. Em sentido contrário, mediante a
saboreie a cultura cervejeira de Bohemia, Ainda no website Mesas Bohemia é pos- avaliação das peças a concurso, os jura-
porque é à mesa que acontecem muitos sível descarregar o guia de restaurantes dos podem entender não atribuir os três
dos melhores momentos. aderentes e reservar antecipadamente o troféus nas 53 categorias.
Fique a conhecer a rede de embaixado- lugar no restaurante selecionado.

EDIÇÃO 3 • PAIXÃO PELO CERVEJA • 25


GRANDE REPORTAGEM

26 • PAIXÃO PELO CERVEJA • EDIÇÃO 3


Cerveja e futebol
Retorno em forma
de emoção
> texto Susana Marvão > fotografias D.R.

Esforço, dedicação, amor, amizade, convívio, trabalho, suor, lágrimas,


comemoração, vitórias, amigos. E emoção, muita emoção. Desde
sempre o futebol esteve associado a estes valores. Valores com os quais
as cervejeiras se identificam e insistem em apoiar.

Pedro Tavares, sponsorship and brand ma- do adepto, do convívio e da paixão pelo
nager do Super Bock Group, admite que futebol”.
os grandes eventos futebolísticos, como Para enaltecer ainda mais esta “veia”, a
um Mundial ou um Europeu de futebol marca criou o conceito de Super Adepto,
tem algum impacto no consumo de cer- no qual, junto com os clubes, proporciona
veja, mas também esclarece que normal- experiências que o dinheiro simplesmente
mente “já decorrem em alturas de grande não consegue comprar, como “ir ao relva-
consumo”. Ou seja, o Super Bock Group do ver o aquecimento da equipa”. Ou seja,
sente esse acréscimo, mas “não é por essa o apoio extravasa em muito um logotipo
razão que estamos no futebol”. estampado numa camisola suada. “Tenta-
Estão, sim, porque é um tema transversal mos ativar aquilo que é a nossa ligação aos
aos portugueses para além de a ele esta- adeptos. Cada adepto tem a sua história e
rem ligados valores como a amizade. Aliás, tentamos, com esta ativação e com esta
a imagem de um grupo de amigos a as- comunicação, para além destas experiên-
sistirem a uma partida de futebol acom- cias únicas, ir buscar as histórias únicas de
panhados pela fiel-companheira cerveja é cada clube”.
um clássico. “É um tema estruturante da
sociedade portuguesa ao qual também O HISTÓRIA DO MARCELO
queremos estar ligados”. Marcelo é um dos exemplos de um adepto
Em termos de Super Bock Group, a estra- com uma história. Este brasileiro que gere
tégia passa por apoiarem dois dos princi- a página do Facebook do Sporting no Bra-
pais clubes, o F.C. Porto e o Sporting, para sil sonhava vir a Alvalade mas simplesmen-
além de acordos com o Setúbal e Paços te não conseguia. “Proporcionamos essa
de Ferreira, com uma dimensão mais pe- visita ao Marcelo e foi um momento muito
quena. “Com estes patrocínios visamos importante para ele e marcou a nossa pró-
também ativar aquilo que é esta vertente pria relação com o clube. Temos tentado

EDIÇÃO 3 • PAIXÃO PELO CERVEJA • 27


procurar estas histórias únicas que desper- sponsorship and brand manager, nomea- timonense e, da Segunda Liga, o Estoril
tam paixão”. damente nos ativos F.C. Porto e Sporting. Praia. Estes são os clubes que ostentam
O investimento nesta área não é divul- “Queremos ativar ainda mais estes dois pa- nas suas camisolas as quinas da Sagres.
gado pelas cervejeiras que, apesar de trocínios e arranjar formas de as potenciar, Aliás, a marca de Vialonga há 25 anos que
garantirem haver retorno financeiro, nomeadamente através da plataforma que apoia a Seleção Nacional, um contrato re-
“procuram um retorno intangível ao ní- são os Super Adeptos”. centemente renovado por mais seis anos
vel emocional”. Outro dos valores que A consistência no apoio - porque no des- e que inclui a Taça de Portugal, a equipa
Pedro Tavares mencionou foi a consis- porto ganha-se mas também se perde - feminina e a Super Taça Cândido de Oli-
tência. O apoio aos clubes não é algo é fundamental. O caso do Sporting, que veira. “Fomos o primeiro patrocinador da
a curto prazo, sendo o exemplo do F.C. passou por momento complicado que até Seleção Nacional. E há 25 anos que esta-
Porto marcante já que há quase 30 anos extravasavam as quatro linhas foi notório. mos juntos, nos bons e maus momentos”,
que a Super Bock o apoia. “Por muito que “Estamos com o clube, com a instituição e disse à Paixão Pela Cerveja Nuno Pinto
tentemos medir o quanto as campanhas com os sportinguistas, independentemen- Magalhães, diretor de comunicação e de
ou os patrocínios têm de retorno, há um te dos resultados desportivos ou mesmo relações institucionais da Sociedade Cen-
impacto que é quase impossível medir, da vida do clube”. tral de Cervejas e Bebidas.
fruto desta parte mais qualitativa e muito Claro que a cereja em cima de todos os
emocional”. PORTUGALIDADE AO RUBRO bolos possíveis foi o Campeonato Europeu
A estratégia de apoio ao desporto, nomea- Benfica, Vitória SC, SC Braga, Rio Ave FC, em 2016, com Portugal a deixar em casa
damente ao futebol, é para continuar, diz o CD Feirense, CF Os Belenenses, SC Por- o troféu.

28 • PAIXÃO PELO CERVEJA • EDIÇÃO 3


“Estamos a falar de portugalidade, nomea- de proximidade com os consumidores e IMPACTO DAS REDES SOCIAIS
NO CONSUMO DE DESPORTO
damente no apoio à Seleção Nacional, de clientes locais, “cruzando ações de levar
Segundo a Nielsen, se as gerações
resto o ADN da Sagres. Por isso, quando pessoas aos estádios para ver futebol”. mais novas recorrem maioritariamen-
apoiamos os nossos melhores estamos Quanto ao aumento do consumo de cer- te às plataformas digitais, o Whatsapp
precisamente a apoiar a portugalidade, veja em épocas de futebol, Nuno Pinto foi a plataforma mais escolhida como
estamos a apoiar aqueles que transversal- de Magalhães admite que existe, que tem segundo ecrã, quando analisada a liga
mente todos apoiamos”. Daí que a marca peso, mas não é por aí que vai ajustar as espanhola. Em Portugal, analisando
comunique que apoiam a Seleção de for- vendas. “É importante, é um investimen- os meses de abril, maio e junho, veri-
ma “incondicional”. to em termos de marca, de proximidade ficou-se que os três principais clubes
E apesar da Seleção Nacional ser o ex- e dos valores que comunica com os seus de futebol em Portugal geraram mais
de 9 milhões de interações no Face-
poente máximo da portugalidade, o fute- consumidores, mas o volume não é assim
book, tendo os vídeos alcançado 71
bol em geral rege-se por um código de tão relevante”. milhões de visualizações. A mesma
comunicação e valores que cruza com a E para serem coerentes com a inclusão força para plataformas como o Twit-
marca Sagres: convivialidade, inclusão, social, a Central de Cervejas patrocinou, ter, com mais de 4 milhões de intera-
transversalidade social, celebração e emo- pelo 13.º ano, a final do Torneio Nacional ções e um crescimento de 3% no que
ção. “Atributos que o futebol tem e que de Futebol de Rua – parte do Projeto Fute- se refere ao número de seguidores. O
nós também temos”. bol de Rua desenvolvido pela CAIS – uma Instagram cresceu 6% e foi responsá-
No que diz respeito aos clubes, o apoio competição inclusiva que decorre a nível vel por mais de 25 milhões de intera-
é numa perspetiva regional, no sentido nacional. ções.

PUB PUB

CM

MY

CY

CMY

EDIÇÃO 3 • PAIXÃO PELO CERVEJA • 29


CERVEJA E AMBIENTE

Reciclar
Missão a cumprir
> texto Susana Marvão > fotografias D.R.

Portugal comprometeu-se, através do Plano Nacional de Gestão de Resíduos, a alcançar 50% na reciclagem
até 2020. E apesar de ser um objetivo que muitos consideram arrojado e de difícil alcance, as medidas para o
alcançar vão sendo tomadas, com a indústria cervejeira a dar a sua contribuição.

Os dados da Agência Portuguesa do Am- MENOS 3 MILHÕES DE COPOS Os copos “amigos do ambiente” da Super
biente indicam que a produção de resí- Com a introdução de copos reutilizáveis Bock são um gesto simples para o consu-
duos aumentou de 4,47 milhões de to- em eventos de grande dimensão em 2016, midor com claros benefícios ambientais,
neladas em 2005 para 4,52 milhões em a Super Bock conseguiu eliminar três mi- mas também económicos. São, de facto,
2015, o que significa que cada cidadão lhões de copos descartáveis em dois anos. uma alternativa sustentável aos descar-
produz por ano, ou pelo menos produ- Para além dos festivais de música, a marca táveis, pelo contributo para a diminuição
zia em 2015, 58 quilogramas de resíduos. de Leça do Balio o ano passado resolveu significativa destes resíduos nos eventos
Portugal, através do Plano Nacional de adotar esta boa prática ambiental nas Fes- que juntam milhares de pessoas e para as
Gestão de Resíduos, criou o compro- tas de Lisboa, disponibilizando os copos quantidades enviadas para reciclagem, já
misso de alcançar 50% na reciclagem até descartáveis na cerimónia de abertura, de que podem ser usados, lavados e reutiliza-
2020, um objetivo arrojado para o qual a encerramento e na passagem-de-ano. dos, sempre com a garantia de qualidade e
indústria cervejeira está a dar a sua con- Este ano, colocou-os nas Queimas das Fi- da melhor experiência de consumo.
tribuição. tas de Coimbra e do Porto. Também fruto do pioneirismo e conheci-

30 • PAIXÃO PELO CERVEJA • EDIÇÃO 3


A Sagres, cerveja
oficial do Nos Alive
2018, utilizou, uma vez
mais, copos de origem
vegetal, uma prática que
a empresa “insiste” em
manter desde 2008, ou
seja, uma década.

Com o objetivo de ter um festival Nos Ali-


ve cada vez mais sustentável e com menor
pegada ambiental, a Sagres e a Everything
is New utilizaram copos biodegradáveis
nos formatos de 25 e 50 cl.
Inteiramente de origem vegetal, os copos
fabricados com base em ácido poliláctico
(PLA) requerem baixo consumo energético
na sua produção e, após utilização, podem
ser reciclados ou decompostos, num pe-
ríodo entre 45 a 60 dias, versus os copos
de plástico genericamente utilizados que
resistem, quando não colocados nos eco-
pontos, mais de 300 anos.
A empresa explica que dadas as suas ca-
racterísticas, estes novos copos são certi-
ficados internacionalmente pela EN 13432,
que atesta que a embalagem plástica é to-
talmente biodegradável, e quatro estrelas
da OK Biobased, o valor mais elevado da
certificação internacional para plásticos
com base biológica.
“A Cerveja Sagres preocupa-se com a
utilização de materiais que minimizem o
impacto ambiental sem pôr em causa a
mento da Super Bock no uso deste mo- dade, autarquias e parceiros de negócio, qualidade perfeita do produto que o Con-
delo de copo, a marca anunciou estar a na procura de melhores soluções, também sumidor está a beber e as condições de
desenvolver um projeto-piloto em par- na área ambiental. A adoção das melho- higiene dos copos utilizados. Os eventos
ceria com a Câmara Municipal de Lisboa, res práticas está presente, de forma con- musicais são uma boa oportunidade de
para avaliar a sua adaptabilidade em bares sistente, em toda a atividade da empresa”, comunicar e promover boas práticas da
e restantes pontos de venda da cidade. É lê-se no comunicado enviado à imprensa. Central de Cervejas e das suas marcas, em
ainda em Lisboa, mais precisamente no termos de sustentabilidade, e esta opção,
Arraial de Santa Catarina, que também se 100% VEGETAL que tem sido seguida nos Nos Alive, é uma
encontram os copos reutilizáveis da Super Do lado de Vialonga, a Sagres, a cerveja delas, razão pela qual até na campanha
Bock, disponíveis para as várias bebidas do oficial do Nos Alive 2018, utilizou, uma vez publicitária utilizarmos copos de PLA”, afir-
grupo. mais, copos de origem vegetal, uma práti- ma Nuno Pinto de Magalhães, diretor de
“A marca do Super Bock Group tem um ca que a empresa “insiste” em manter des- comunicação e relações institucionais da
histórico de colaboração com a comuni- de 2008, ou seja, uma década. SCC.

EDIÇÃO 3 • PAIXÃO PELO CERVEJA • 31


BEER LIFESTYLE

32 • PAIXÃO PELO CERVEJA • EDIÇÃO 3


Cerveja e futebol
Paixões do mundo
> texto Pedro Moura > fotografias Ernesto Fonseca

A paixão pelo futebol chega ao seu expoente máximo aquando da realização do Mundial, o sinónimo de
alegria, amizade, convívio e claro muita cerveja a acompanhar.

O mote estava dado, no final de tarde tura social e ligação desta à inter-relação
do passado mês de junho, a Confraria da entre nações e pessoas”.
“Estes momentos
Cerveja juntou confrades e outros con- Os momentos a bordo foram de des-
registam a importância
vidados para assistir a uma partida do contração, convívio e claro de prova de
da cerveja na cultura
Mundial de Futebol e para uma prova de cerveja, esta foi comentada por forma a
social e ligação desta
cervejas. A Revista Paixão Pela Cerveja partilhar com todos os presentes as ca-
à inter-relação entre
também marcou presença. racterísticas e as diferenças entre as cer-
nações e pessoas”
O jogo era o Bélgica-Inglaterra, jogo de vejas provadas. O Grão-Mestre comentou
povos apaixonados por futebol mas tam- que esta era “a oportunidade para todos
bém produtores de cervejas, há já muito sairmos daqui mais enriquecidos, com
tempo. Nada melhor do que aproveitar o conhecimento de algumas cervejas, e
o dia do jogo para colocar também “em com a perceção do que é hoje a diversi-
prova” uma seleção de cervejas de ambos dade e sofisticação da cerveja”. CONFRARIA DA CERVEJA
Criada em abril de 2003 a Confraria da
países. Prova, essa, elevada a um outro O ambiente a bordo não podia ser me-
Cerveja é uma entidade sem fins lucra-
nível, pois foi feita a bordo de uma em- lhor, o cenário de um final de tarde nas
tivos. Conta já com mais de 500 con-
barcação em pleno rio Tejo. Eram oito águas do Tejo, com vista privilegiada so- frades, promove a paixão pela cerveja
cervejas, quatro de cada país. Mas aqui bre a Lisboa ribeirinha, da ponte sobre o em Portugal, entronizando anualmente
não estava nada em jogo, ao contrário da rio, com cerveja e pessoas felizes. colaboradores das Cervejeiras (Confra-
partida de futebol, conforme comentado Já com os pés em terra, foi a vez de as- des Mestres), personalidades/líderes de
pelo Grão-Mestre da Confraria da Cer- sistir ao jogo de futebol, que foi, claro opinião (Confrades de Honra) e parcei-
veja, Rui Lopes Ferreira, “nesta prova de está, acompanhado por cerveja, petiscos, ros do setor cervejeiro português (Con-
cervejas inglesas e belgas não vai haver muita conversa e animação entre os pre- frades Protetores).
O intuito da entronização é tornar os
vencidos nem vencedores”. Na receção sentes.
novos confrades, Embaixadores da Cer-
a bordo dos confrades e convidados, foi Ressalvamos também a intenção de Rui
veja em Portugal, contribuindo para a
também referido que “estes momentos Lopes Ferreira para “repetir momentos sua divulgação, prestígio e dignificação.
registam a importância da cerveja na cul- como este ao longo do ano”.

EDIÇÃO 3 • PAIXÃO PELO CERVEJA • 33


TEMA DE CAPA

Lager
A sedutora leveza do lúpulo
> texto Susana Marvão > fotografias Shutterstock

Dominam claramente o mercado. As lager, onde as pilsner ganham particular relevância, rondam os 90% da
produção mundial, uma tendência à qual Portugal não foge à regra. Às lager são atribuídos “adjetivos” como
refrescância, leveza, convívio, verão, amigos e uma declarada subtiliza do lúpulo, conferindo-lhe um amargo
suave. Qual a tendência desta “família” num mercado que começa agora a despoletar para outros tipos de cerveja?

34 • PAIXÃO PELO CERVEJA • EDIÇÃO 3


EDIÇÃO 3 • PAIXÃO PELO CERVEJA • 35
O consumidor está
a colocar-se numa
posição em que quer
saber, quer fazer
uma escolha em
consciência.

A culpa pode muito bem ser delas. Das fermentação, fermenta a temperaturas ha- bock ou as dark lager e que “acabam por
lager. Quando chamamos “loirinha” à cer- bitualmente mais baixas que a levedura do se adaptar a estações mais frias e a pratos
veja, a probabilidade de estarmos a pensar tipo ale e acaba por originar cervejas com de carne mais ricos, como estufados ou
num copo alto, com líquido dourado, uma um perfil muito diferente – enquanto que guisados”, esclareceu o responsável.
espuma clara e uma frescura só de olhar, é as ales tendem a ser mais frutadas, as la- De resto, a Sociedade Central de Cervejas
imensa. É claro que estamos a generalizar. gers têm um sabor mais “limpo” e “fresco”. explora muitas das latitudes de aroma e
Os especialistas bem nos tentam clarificar A verdade é que existem muitos estilos di- sabor que é possível alcançar com as la-
que a cor e o teor alcoólico de uma cerveja ferentes de lager – amber lager, dark lager, ger. “A cerveja pilsner Sagres é a principal
não indicam se é lager ou ale, pois existem bock, etc.... – mas, tal como já referimos, a bandeira da empresa, mas o recente lan-
tanto lager quanto ale escuras e alcoólicas. pilsner acabou por se tornar predominan- çamento da Sagres Cascade mostra como
Mas é aqui, dentro das lager, que as pilsner te. Aliás, claramente as principais marcas é possível ter cervejas bastante distintas
– também se pode dizer e escrever pilsen portuguesas e internacionais são pilsner e dentro do mesmo estilo: o amargo mais
– ganham claramente terreno. E dão sen- a sua frescura, amargo suave, cor doura- suave e notas de lúpulo da Sagres Cas-
tido a uma das mais conhecidas frases do da e espuma clara é, para muitos, o que cade contrastam com o aroma a cereais
mundo cervejeiro: “toda a pilsner é uma caracteriza uma cerveja. “As pilsner são da Sagres”. Para Pedro Vicente, a Sagres
lager, mas nem toda a lager é uma pilsner”. cervejas muito associadas ao verão, so- Preta, uma dark lager, caracteriza-se pelo
Vamos ser rigorosos: as lager são uma fa- bretudo pela sua refrescância derivada da seu aroma a café, derivado da utilização de
mília muito ampla, que tem como carac- combinação do sabor subtil e limpo com maltes especiais, enquanto a Bohemia Ori-
terística comum o tipo de levedura utili- um amargo suave e muita frescura”, disse- ginal, uma cerveja estilo marzen, apresenta
zada, explicou-nos Pedro Vicente, R&D -nos Pedro Vicente uma maior doçura e aroma frutado, com-
Technical Project Manager da Central de Contudo, existem lager para todos os mo- binando a cor rubi com um corpo mais
Cervejas. A Saccharomyces Pastorianus, mentos: cervejas mais encorpadas e com acentuado. Já “a Bohemia Puro Malte,
também designada por levedura de baixa notas de malte mais acentuadas, como as uma amber lager, tem um aroma intenso

36 • PAIXÃO PELO CERVEJA • EDIÇÃO 3


Quando chamamos “loirinha”
à cerveja, a probabilidade
de estarmos a pensar num
copo alto, com líquido
dourado, uma espuma clara
e uma frescura só de olhar, é
imensa.

*****

a frutos tropicais, derivado do dry hopping.


A Bohemia Bock apresenta notas tostadas
e uma sensação suave de calor”.

DISPONIBILIDADE
VS ESCOLHA CONSCIENTE
Marta Fraga, beer sommelière do Super
Bock Group, corrobora que Portugal se-
gue a tendência para o consumo das lager,
sendo que a própria produção da empresa
de Leça do Balio inclui mais lager que ale.
Isto apesar de, em termos históricos, as ale
serem antecessoras. “Podemos ver as lager
como um fruto da modernidade e talvez
do próprio consumo. As tendências hoje
são de cervejas menos alcoólicas, mais
bebíveis” e isso reflete um pouco a história
da cerveja.
Quando ao futuro, Marta Fraga admite que
não sabe se continuará a haver primazia das
lager em detrimento das ale, sendo que, até
agora, mais do que uma escolha, o consu-
mo das lager era baseado na disponibilida-

EDIÇÃO 3 • PAIXÃO PELO CERVEJA • 37


Existem lager para todos os
momentos: cervejas mais
encorpadas e com notas de
malte mais acentuadas, como
as bock ou as dark lager.

do nacional com as lager de “muito boa”


e avança que provavelmente entre os 95%
e os 97% das cervejas vendidas no nosso
país são dentro deste estilo. “A relação é
tão exclusiva que para a maior parte dos
portugueses uma cerveja que não é lager
não é considerada uma ´verdadeira´ cer-
veja”. São décadas e décadas de hábitos
que fazem com que o estilo lager (em ver-
são pale ou dark) seja, sem dúvida, o estilo
“ultra-dominante” do mercado.
O cervejeiro avança que seria interessante
tentar analisar as causas desta “suprema-
cia” no mercado português. E deu algu-
mas explicações, centradas no consumo
das pale lager tradicionais: uma cerveja
geralmente leve em álcool (5% álc); com
de das mesmas no mercado, que apresen- começar a acontecer e é importante que amargor médio (25 a 35iBU); com aspe-
tava cervejas com sabores pouco intensos, possamos ajudar o consumidor”. to atrativo: cor dourada, brilhante, com
como é o caso das pilsner. Mas isso tem A produção diversificada e a existência das espuma branca; textura suave e redon-
vindo a mudar. Porque, mesmo dentro das próprias microcervejeiras vem, no enten- da (dada pelos açúcares complexos não
lager, a oferta é já mais diversificada. “A der de Marta Fraga, precisamente colma- fermentados que subsistem na cerveja;
nossa Selecção 1927 Munich Dunkel ou a tar essa necessidade. “O consumidor está aroma subtil (pouco presente), que não
Coruja, que é uma amber lager, já apresen- a colocar-se numa posição em que quer a torna enjoativa; paladar equilibrado en-
ta sabores mais intensos ao nível da cara- saber, não quer apenas fazer uma escolha tre a “doçura do malte” e a “frescura” da
melização e uma maior presença de lúpulo consoante o que está disponível, quer fa- resinas dos “lúpulos”; conotação “refres-
no sabor”. Ou seja, vai atrair outro tipo de zer uma escolha em consciência”. cante” ideal para um consumo nos dias
consumidor. “Sendo as lager uma catego- E apesar de evitar categorizar o estilo de de mais calor; e cerveja com ausência
ria tão ampla, vimos necessidade na nossa cerveja de forma sazonal ou para um de- de sabor e aromas frutados. “Todos estes
produção de fazer mais do que a lager que terminado público, Marta Fraga diz não aspetos fazem que este estilo de cerve-
sempre produzimos desde 1927”. poder negar “que é uma cerveja produzida ja deve representar hoje mais de 80% do
Marta Fraga admite que, neste momen- para ser bebida uma cerveja agora e outra consumo mundial”.
to, o consumidor passa por uma fase de seguida sem que haja cansaço do palato e Para Nicolas Billard existe um “abuso” de
curiosidade e descoberta, de resto algo grande efeito alcoólico”. linguagem relativamente ao uso da deno-
que quase todos os entrevistados men- minação pilsner. “Em todo rigor, o termo
cionaram. “O mesmo se passou com os DOMÍNIO SUPREMO pilsner deveria aplicar-se apenas as cerve-
colegas dos vinhos, um trabalho feito há Nicolas Billard, cervejeiro da Vadia, vai jas de tipo lager com as caraterísticas mais
mais de 40 anos. Aqui, as coisas estão a mais longe. Classifica a relação do merca- especificas das lager produzidas na cidade

38 • PAIXÃO PELO CERVEJA • EDIÇÃO 3


de Pilzen na República Checa desde de LAGER NÃO DEVERÃO LAGER SÃO ESSENCIAIS
1846, pelo famoso mestre cervejeiro bá- “SOFRER” QUEBRA NO PORTFÓLIO
varo Joseph Groll, com uma cor dourada Patrícia Nunes, cervejeira na Font Salem, António Ramalho, brand builder na Hoppy
bastante escura (quase cobre), aromas de detentora das marcas Cintra e Tagus, ad- House, casa da Onyx e da Topázio, vai ter
lúpulos muito presentes balanceados com mite que o verão é o “terreno” perfeito novidades para breve, com a introdução
aromas de caramelo resultantes do pro- para as lager, um estilo que “o consumidor de mais uma marca e que irá contemplar
cesso único dito de tripla decocção (ainda se habituou a gostar”. Mas isto tudo muda, o estilo lager. “É essencial termos lagers no
em vigor na República Checa) e uma car- diz Patrícia Nunes. nosso portfólio. Apesar de existirem mui-
bonatação moderada”. No entanto, apesar de toda esta nova di- tos estilos, e agora estarem na moda por
Porém, explica Nicolas Billard, hoje em dia nâmica em termos de oferta de diferentes exemplo as IPA, são as lager que dão rota-
a denominação pilsner está a ser utilizada tipos de cerveja, a especialista acredita que ção, sendo as cervejas mais acessíveis de
no mundo inteiro para cervejas mais próxi- o consumo das lager não vai diminuir, até beber e as que geram mais volume. Todos
mas da adaptação alemã da famosa pilsner pelo facto de conseguirem ter um preço os consumidores bebem lager, sobretudo
de Pilzen, ou seja, uma versão mais pálida, mais competitivo que os outros géneros. “Na pilsner”. E mesmo os considerados beer
com menos aroma a lúpulo. Font Salem trabalhamos com marcas de dis- “geeks”, que gostam das tais IPA e de esti-
Quanto às tendências de consumo, das tribuição e conseguimos produzir lager a um los de cerveja mais complexos, “se tiverem
quatro cervejas originais da marca Vadia, preço muito convidativo”. Dito isto, conside- uma boa lager em mão não a vão rejeitar”.
três são lager (Vadia Loira, Preta e Rubi) e ra haver nichos de mercado para as cervejas Ou seja, “todos” somos consumidores de
uma é ale (Vadia Trigo). “Existe um equilí- artesanais que vieram dar um dinamismo in- lager, havendo depois quem cada vez mais
brio de vendas destas quatro referências, teressante ao mercado. “O seu potencial de alargue a sua escolha e preferência a ou-
mas ultimamente, principalmente na altura crescimento é muito grande”. tros tipos de cerveja.
de verão, temos bastante mais pedidos das No caso das lager, Patrícia Nunes salien- Em termos de tendências de consumo,
lager mais tradicionais (Loira e Preta). Estas tou a “arte” do equilíbrio organolético, até António Ramalho diz que a nível mundial
quatro referências continuam a represen- pelo facto de ser uma cerveja que não tem o consumo de cerveja lager estabilizou,
tar 75% das vendas da empresa, “mas os tantos aromas para mascarar “alguma de- tendo crescido nos últimos cinco anos
novos estilos que temos no nosso portfó- ficiência”. Assim, subtileza no lúpulo é algo apenas 1%. Em contraponto, as IPA são já
lio têm vindo a aumentar em volume”. a ter claramente em conta. o segundo estilo de cerveja mais consu-
AF_ED_IMPRENSA_193x115mm.pdf 1 27/07/18 16:16

PUB

EDIÇÃO 3 • PAIXÃO PELO CERVEJA • 39


mais concretamente uma pilsner, é uma
cerveja pautada pela sua frescura e pela
subtileza do lúpulo. “O lúpulo aparece
quase num fim de boca, um ligeiro amar-
gor quando se acaba de dar um gole”.

UM LUXO ACESSÍVEL
João Pedro Montes, CEO da Wine With
Spirit, empresa produtora de vinho, aven-
turou-se no mundo das cervejas, uma
ousadia materializada na Bastardô!, uma
lager Bohemian Pilsner. “A nossa lógica
enquanto empresa é centrarmo-nos no
consumidor e não tanto no enólogo, na
quinta e na herdade. Através da etnogra-
fia identificamos momentos de consumo,
produzindo depois os blends dos vinhos
que melhor se adequam”. Ora, uma dessas
tendência que a empresa captou foi a das
cervejas artesanais. “Na Bélgica, da mesma
maneira que aqui nos dão uma carta com
30 vinhos, lá dão-nos com 30 cervejas”.
Estava o terreno preparado para o nasci-
mento da Bastardô!
“Acredito que este movimento e tendência
veio para ficar. As pessoas estão a adorar
descobrir que podem ter o mesmo com-
portamento com as cervejas do que com
mido no mundo inteiro, tendo crescido duas lager -, diz que, no caso desta mar- os vinhos. Descobrir sensações e sabores”.
cerca de 125%. “As lager já percorreram o ca, e contrariando as opiniões anteriores, Assim, a Wine With Spirit aproveitou o
seu caminho, tendo naturalmente o cres- o consumo deste estilo é dos que regista mosto da uva do vinho Bastardô! e resol-
cimento estagnado”. No entanto, António maior crescimento. veu fazer uma cerveja vínica. “Ouvimos o
Ramalho admite não ter a certeza se os “Não é das mais consumidas, mas prova- mercado, vimos as tendências e fizemos
consumidores dos novos estilos de cer- velmente virá a ser”. Isto porque, explica, uma experiência. Não somos cervejeiros,
veja vão conquistar espaço aos que con- as características que o consumidor atribui mas quisemos fazer uma coisa diferente:
somem lager. “Diria que sim, mas isso é a a uma cerveja artesanal não são propria- uma cerveja em garrafa de champanhe e
minha opinião. Pessoalmente, gosto mui- mente as atribuídas a uma lager, daí que com rolha, sendo basicamente um luxo
to de IPA, apesar de uma lager me saber nos produtores artesanais este estilo tenha acessível”.
lindamente. Mas a verdade é que antes demorado mais a “vingar”. Mas a tendên- João Pedro Montes diz estar a sentir com
sempre que bebia uma cerveja era lager cia será para que o consumo se intensifi- o mercado da cerveja o mesmo que sentiu
e agora, com esta oferta, já vou optando que, captando não só o público masculino, quando a empresa avançou para o mer-
por outros estilos”. mas o feminino que, muitas vezes, procura cado polaco com os vinhos. “O consumo
uma cerveja mais leve, sem perder aroma per capita era baixo por isso tem um cres-
É PARA O MENINO E PARA A MENINA ou sabor. “Acredito que as cervejas de bai- cimento ao ano elevado. Hoje a cerve-
Ainda não há muito tempo, havia as lager... xo teor alcoólico ou mesmo sem álcool ja artesanal ainda é residual pois existem
e as lager, pelo que a escolha era simples. vai ter grande desenvolvimento no futuro. comportamentos com 30 e 40 anos que
Arménio Martins, mestre cervejeiro da tra- E vai passar muito pelas lager”. é preciso alterar. Mas está em forte cres-
dicional Sovina - que tem no seu portfólio Para Arménio Martins, uma boa lager, ou cimento”.

40 • PAIXÃO PELO CERVEJA • EDIÇÃO 3


EDIÇÃO 3 • PAIXÃO PELO CERVEJA • 41
37 BOHEMIA PURO MALTE
35 ONIX

PILSENER %Alc: 6,00 DARK LAGER %Alc:4,50


MESTRE CERVEJEIRO MESTRE CERVEJEIRO
MANUEL GALVÃO MÁRCIO FERREIRA

INGREDIENTES Água, malte de cevada, extrato de lúpulo INGREDIENTES Água, malte de cevada e extrato de lúpulo.
e lúpulo.
Intensamente dourada, tem espuma APARÊNCIA Castanho muito escuro, espuma
APARÊNCIA consistente, creme.
cremosa e persistente.
AROMA Frutado, fresco e envolvente, notas de cereais. AROMA Intenso em aromas de cereais maltados
torrados.
SABOR Muito bom, com excelente corpo e volume, muito
equilibrado, com boas notas do lúpulo, amargor SABOR Mantém o perfil, acrescem notas de café e
final que vai balancear o doce, persistente. cevada, final seco de elegante amargor.

SOCIEDADE CENTRAL DE CERVEJAS HOPPY HOUSE BREWING

36 SOVINA
35 SELECÇÃO 1927

MAI BOCK %Alc:7,50 MUNICH DUNKEL %Alc:6,00


MESTRE CERVEJEIRO MESTRE CERVEJEIRO
ARMÉNIO MARTINS MIGUEL CANCELA

INGREDIENTES Água, malte de cevada, lúpulo e levedura. INGREDIENTES Água, malte de cevada e lúpulo.
APARÊNCIA Com boa carbonatação e espuma, aspeto De cor castanha, limpa, espuma bege,
APARÊNCIA
limpo. muito cremosa e persistente.
AROMA Intensa em notas de cereais, pão, AROMA Intenso em notas maltadas, frutos secos e
caramelo, frutos secos e toque de mel. tostados, elegante.
SABOR Envolvente, guloso, mantém o caramelo, SABOR Harmonioso, com evidentes tostados,
tostados, ligeiramente condimentado. aliados a notas de chocolate e toque
Uma cerveja encorpada e gulosa no final. fumado, deixa um final prolongado.

OS TRÊS CERVEJEIROS SUPER BOCK GROUP

36 SELECÇÃO 1927
34 CRESMINA

JAPANESE RICE LAGER %Alc:5,10 HOPPY PILS %Alc:5,00


MESTRE CERVEJEIRO MESTRE CERVEJEIRO
MIGUEL CANCELA JOÃO PISCO
INGREDIENTES Água, malte de cevada, cereais não maltados, Água, malte de cevada e trigo, levedura e
INGREDIENTES
lúpulos, flor de sal de Tavira, kombu. lúpulo.
APARÊNCIA Dourada, límpida, com espuma branca e APARÊNCIA Amarelo palha, boa espuma, cremosa,
cremosa de boa intensidade. ligeiramente turva.
AROMA Equilibrado, com evidentes notas a cereais,
milho, arroz, malte. AROMA Frutada, com notas frescas, cereais.
SABOR Bom corpo e volume, toque salgado, subtil, SABOR Bom corpo e volume, mantém a fruta,
mantém o perfil, tem bom amargor e deixa associada a notas maltadas, lúpulo, amargor
um final persistente. cativante, termina persistente.

SUPER BOCK GROUP DECK BEER

36 BASTARDO ROYALE
33 CORUJA

BOHEMIAN PILSENER %Alc: 4,50 AMERICAN AMBER LAGER %Alc: 5,30


MESTRE CERVEJEIRO MESTRE CERVEJEIRO
NICOLAS BILLARD MIGUEL CANCELA
INGREDIENTES Malte de cevada, lúpulo checo, água e Dourada, límpida, com boa espuma,
leveduras. INGREDIENTES
persistente.
APARÊNCIA Dourada, com espuma cremosa e APARÊNCIA Palha, espuma branca e persistente.
persistente.
AROMA Distinto, intenso, com notas de fruta madura, Notas florais em destaque, ligeiro
AROMA
frutos secos caramelizados, melados, cereais. herbáceo, tostados.
SABOR Cativante, mantém o perfil, ligeiras notas Maltado, com boa presença de lúpulo,
SABOR
florais, lúpulo em evidência, maltado, harmonioso, deixa um final seco e de
termina persistente. bom amargor.

WINE WITH SPIRIT SUPER BOCK GROUP

42 • PAIXÃO PELO CERVEJA • EDIÇÃO 3


33 HARMONIAS PORTWOOD
30 VADIA LOIRA

MAY BOCK %Alc:10,00 GERMAN PILSENER %Alc:4,50


MESTRE CERVEJEIRO MESTRE CERVEJEIRO
ARMÉNIO MARTINS NICOLAS BILLARD

INGREDIENTES Água, malte de cevada, lúpulo e levedura. INGREDIENTES Malte de cevada, lúpulo, água e levedura.
APARÊNCIA Amarela, límpida, com boa espuma,
APARÊNCIA Acastanhada, com espuma bege, persistente. persistente.
AROMA Intenso em notas de frutos secos, uvas AROMA Equilibrado, com distintas notas frutadas,
passas, madeira, licorados. melados, cereais.
SABOR Evidentes notas madeiradas, caramelo, SABOR É um conjunto harmonioso e refrescante,
Vinho do Porto, molho de soja, bom com grande equilíbrio entre o amargor
amargor, termina ousada. e a doçura, deixa um final cativante.

OS TRÊS CERVEJEIROS ESSÊNCIA D’ALMA

33 TOPÁZIO
30 PRAXIS

PILSENER %Alc:5,60 PILSENER %Alc:5,20


MESTRE CERVEJEIRO MESTRE CERVEJEIRO
MÁRCIO FERREIRA MÁRCIO FERREIRA

Água de Coimbra, cevada maltada,


INGREDIENTES Água, malte de cevada e extrato de lúpulo. INGREDIENTES
levedura e lúpulo.
APARÊNCIA Dourada, clara, com espuma branca de Límpida, cor de ouro, com espuma branca
APARÊNCIA
média consistência. e persistente.
AROMA Equilibrado e harmonioso, com evidentes AROMA Pão e cereais, frutos citrinos, doce,
notas de malte, leve e fresco. com nuances meladas.
SABOR Envolvente, com boa acidez e frescura, cevada
SABOR Com bom corpo e volume, é equilibrado, doce mas
e cereais, com bom amargor, final longo.
fresco, com notas frutadas, deixa um final apelativo.
HOPPY HOUSE BREWING
PRAXIS CERVEJA DE COIMBRA

33 CORAL PURO MALTE


Outras cervejas provadas
PILSENER %Alc:5,00
21-29 BOA, EQUILIBRADA E HARMONIOSA
MESTRE CERVEJEIRO
NUNO BRANCO 29 SOVINA HELLES MUNICH

INGREDIENTES Água, malte de cevada e lúpulo. 29 LETRA B PILSENER

APARÊNCIA Amarelo dourado, claro, com boa espuma, 29 KENGA PILSENER PREMIUM
persistente. 28 VADIA RUBI MARZEN
AROMA Harmonioso, com evidentes notas a 26 KENGA RED LAGER
cereais maltados, toque frutado.
26 KORISCA RED LAGER
SABOR Bom corpo e volume, estrutura equilibrada,
tem um sabor delicado e envolvente, com
bom amargor.

EMPRESA DE CERVEJAS DA MADEIRA

32 BAUER LOPES

INDIA PALE LAGER %Alc: 5,90


MESTRE CERVEJEIRO
BAUER LOPES

INGREDIENTES Água, malte de cevada, lúpulo e levedura.


APARÊNCIA Amarelo dourado, turva, com espuma
cremosa e persistente.
Harmonioso, com distintas notas frutadas,
AROMA
cítricos, fresca.
Bom corpo e volume, lúpulo bem presente
SABOR
a deixar frescura e sedutor amargor,
persistente no final.
BAUER LOPES / MAJOR ROÇADAS
DISTRIBUIÇÃO
Seja responsável! Beba com moderação.

EDIÇÃO 3 • PAIXÃO PELO CERVEJA • 43


CERVEJA
PASSO A PASSO

A fermentação
e maturação
> texto Tito Santos • Fizzlab.pt > fotografias Sam Hetterich / o autor escreve ao abrigo do anterior AO

É comum ouvir-se dizer que o cervejeiro faz mosto e a levedura faz cerveja. A verdade é que não existe cerveja
sem fermentação e não existe fermentação sem leveduras.

Com a transferência do mosto fervido e riados desde banana a laranja ou limão, sendo filtrada ou não neste processo. No
convenientemente arrefecido para a cuba cravinho, pastilha elástica, rebuçado de tanque de maturação (ou de laggering no
de fermentação, dá-se início à fase da pera, etc. A sua produção depende da es- caso de lagers) e de forma geral, a cerveja
conversão dos açúcares fermentáveis em, tirpe utilizada, da temperatura do mosto e, é arrefecida a temperatura adequada para
principalmente, álcool. Este processo é também, dos seus constituintes. que o seu sabor e aroma estabilize e fi-
realizado pelos microrganismos do género Por outro lado, a levedura de lager tem me- quem mais equilibrados, altura na qual se
“saccharomyces”, que pertencem ao reino nos tendência a produzir estes compostos, realiza, também, a sua carbonatação. Para
dos fungos. também devido à sua baixa temperatura de isso é injectado CO2 a pressão controlada,
Conforme o tipo de cerveja a fermentar fermentação. As cervejas resultantes são conforme o nível de carbonatação dese-
(ale ou lager), a temperatura é convenien- mais limpas em termos de aroma e sabor, jado e a temperatura a que se encontra a
temente ajustada, sendo de cerca de 21º realçando mais a base que é o malte. cerveja.
C para as ales, que são, em regra, fermen- Assim, como se depreende, existirá uma Um método mais expedito de maturar
tadas pela “saccharomyces cerevisae”. Já combinação própria entre a estirpe e tem- e carbonatar em simultâneo, passa por
as lagers apresentam uma temperatura de peratura de fermentação para que seja realizar estas operações no final da fer-
fermentação que ronda os 10º C sendo, produzido um determinado estilo de cer- mentação na própria cuba, utilizando-se
tipicamente, fermentadas por outra espé- veja, que apresente estas ou aquelas ca- o próprio CO2 libertado pelas leveduras
cie de levedura, a “saccharomyces pasto- racterísticas produzidas pela levedura. para colocar o recipiente sobre pressão
rianus”. Estas leveduras são inoculadas no Um dos parâmetros fundamentais na pro- e, assim, se obter cerveja carbonatada. A
fermentador, em quantidade de células dução consistente de cerveja passa pela vantagem do tanque de maturação face a
suficiente para a concentração de açúca- fermentação a temperatura controlada, este método é que a cuba de fermentação
res presente, dando-se início ao processo utilizando estirpes saudáveis e em quan- é imediatamente libertada para fermentar
que leva, em regra, 7 a 14 dias. tidade suficiente. Variações bruscas de outro lote.
Como referido acima, os tipos distintos temperatura durante a fermentação, con- O período de maturação depende do es-
de fermentação conduzem, também, a duzem à formação de diversos compostos tilo da cerveja, podendo ser de apenas
diferentes produtos de fermentação ex- indesejáveis, como é o caso de compos- alguns dias ou atingir vários meses, como
cretados pelas leveduras. Além do etanol tos ricos em enxofre e álcoois de grupos no caso da Doppelbock. Quando este pe-
e dióxido de carbono (CO2), a levedura de superiores ao etanol. Este aspecto é ainda ríodo termina, procede-se à transferência
ale é propícia a produzir compostos quí- mais crítico na produção de lagers, onde a do produto acabado para o respetivo va-
micos chamados de ésteres e fenóis, entre estirpe utilizada tem mais tendência à pro- silhame, sempre em condições assépticas
outros. Estes ésteres e fenóis, podem ser dução de compostos sulfurosos. e, normalmente, sobre pressão de forma a
entendidos como fragrâncias aromáticas, Finda a fermentação, normalmente a cer- manter o CO2 em solução e o respectivo
caracterizadas por aromas ou sabores va- veja passa para um tanque de maturação, nível de carbonatação.

44 • PAIXÃO PELO CERVEJA • EDIÇÃO 3


Os festivais
de cerveja
> texto João Durães • Juiz certificado Beer Judge Certification Program / o autor escreve ao abrigo do anterior AO > fotografias Shutterstock

Com a chegada do Verão e independentemente do calor ou não, surgem com normalidade os festivais de
cerveja, de norte a sul, com apenas um cervejeiro ou vários nacionais e estrangeiros.

Nos festivais de cerveja, o objectivo é co-


mum: dar a conhecer o produto e fazer
negócio.
O seu formato é, de certa forma, transver-
sal e com os mesmos ingredientes base:
cerveja, comida de rua e animação.
Os festivais representam uma excelente
oportunidade para os cervejeiros apresen-
tarem as suas cervejas regulares e as no-
vidades aos aficionados, testar a sua acei-
tação no meio e até saber o seu feedback
em tempo real.
Para o consumidor, mais do que ter a
oportunidade de, no mesmo local, ter
acesso ao que se produz a nível nacional e
internacional, ainda tem a chance de saber
mais sobre a cerveja nas próprias palavras
do cervejeiro ou de quem a representa.
Bom, tudo isto parece muito bem, mas o
que se tem vindo a assistir cada vez mais é
que os festivais usam o chavão da cerve-
ja artesanal para “bombardear” os visitan-
tes com música em altos decibéis, tendo
os cervejeiros de delegar estes eventos a
terceiros por falta de tempo. E, no final, a
cerveja é vendida a preços bem mais caros
que nos meios de consumo usuais.
Um evento por excelência que reúne pro-
dutores, distribuidores e consumidores
deveria ser um acontecimento de celebra-
ção da cerveja e não da sua banalização.
É óbvio que o factor negócio deve existir,
mas não é preciso canibalizar a estrela do
festival.

EDIÇÃO 3 • PAIXÃO PELO CERVEJA • 45


BEER LOVER

Colaborar é melhor do que competir


Mas com limites > texto Bruno Aquino > fotografias karolina Szczur

A cerveja artesanal é um universo em constante mutação, que atrai cada vez mais negócios, dinheiro e
consumidores o que, consequentemente, gera novas tendências e efeitos de modismo.

Uma corrente relativamente recente – juntam num local para elaborar uma cer- AS VANTAGENS DESTE PROCESSO
pelo menos ao nível atual – é o das cer- veja, a qual é provável que seja produzi- PARA AS MARCAS SÃO APRECIÁVEIS
vejas colaborativas. O que significa isso? da uma única vez. No papel a ideia parece No caso de uma cervejeira menos conhe-
Basicamente são duas ou mais marcas magnífica. Contudo, questiona-se o moti- cida, conseguir fazer uma colaboração
diferentes e independentes que juntam vo pelo qual, na maioria das vezes, o resul- com uma marca já com nome abre-lhe
esforços para elaborar em conjunto uma tado final parecer ficar um pouco aquém novos mercados e chama a atenção de
cerveja, algo que, em termos de vinhos, daquilo que cada um desses cervejeiros consumidores que, de outro modo, po-
seria praticamente impensável. Mas, como aparenta conseguir fazer. Pegando no deriam nem saber da sua existência. Gera
é fácil de perceber e compreender, o Top50 do Ratebeer, uma das mais conhe- sempre muitas “selfies” e publicações no
mundo da cerveja artesanal, e não só em cidas páginas internacionais de avaliação Facebook ou Instagram.
Portugal, é significativamente diferente do de cervejas, apenas uma cerveja colabo- Possibilita a troca de experiências, técnicas
mundo dos vinhos, imperando um forte rativa consta dessa lista, no caso entre a e conhecimentos entre cervejeiros.
espírito de camaradagem, a troca voluntá- sueca Omnipollo, a inglesa Siren e o cer- É um momento de confraternização en-
ria de conhecimentos e experiências e um vejeiro caseiro David Strachan. Não é um tre cervejeiros e funcionários das marcas
sentimento geral de partilha. número muito significativo, perante a linha o que, num mercado onde a média de
Temos, portanto, um conceito onde dois de produção constante de colaborações idades dos trabalhadores é relativamente
ou mais cervejeiros de marcas distintas se cervejeiras. baixa, é amplamente atrativo, pois signifi-

46 • PAIXÃO PELO CERVEJA • EDIÇÃO 3


ca viagens ao estrangeiro, alguns copos a que, no final, não são a visão nem de um, sumidores, aconselha alguma parcimónia
mais e bonitas recordações para o futuro. nem de outro. na imediata opção por cervejas colabo-
E, por norma, são cervejas que vendem rativas. É a mesma abordagem que, creio,
bem. Todavia, não nos devemos esquecer O RESULTADO DE UMA COLABORAÇÃO devemos ter em relação à música: quando
que os mercados existem em função de NUNCA É UMA CERVEJA… SIMPLES. vemos a expressão “feat.” ou “featuring”, há
um denominador comum: o consumidor. A ideia base pode até começar numa Mu- que constatar se aquele convidado trouxe,
É deveras interessante termos produtores nich Dunkel, mas isso toda a gente faz, de facto, alguma mais-valia à canção, caso
de um qualquer bem que referem só ela- não é?! Para demonstrarem quão criativos contrário é preferível ficarmos com a ver-
borar aquilo que apreciam, quer o consu- e conhecedores são, cada um vai deitar são original da banda.
midor goste ou não. É uma argumentação uma ideia diferente para a fogueira, pelo Permitam-me que cite um cervejeiro nor-
muito pertinente mas que coloca sérias que no final teremos uma Munich Dunkel te-americano, Brandon Proff, da Our Mu-
questões relativamente ao posicionamen- Brett Wood-Aged com infusão de belado- tual Friend Malt & Brew, que respondeu,
to desse negócio. O foco tem sempre de na e bílis de salamandra… quando questionado sobre a importância
ser o consumidor, ainda que se houver Há receitas colaborativas muito bem pen- de uma cerveja colaborativa:
um emparelhamento entre aquilo que se sadas e delineadas. Mas muitas das vezes “A) have an excuse to hang out with people
produz e aquilo que o consumidor gosta, apenas se aproveita a vinda de um cerve- we really like, B) pick the brains of our peers
tanto melhor. jeiro famoso para fazer algo e esperar que and (more often than not) learn something
Portanto, para o consumidor, onde se re- resulte bem, tendo por base um planea- new, and C) if being brewed at our place,
fletem as vantagens das inúmeras cerve- mento mínimo. host a brewery we love and shower them
jas colaborativas que cada vez mais estão Não subsistam dúvidas que já foram cria- with ridiculous amounts of hospitality.”
à sua disposição? Essencialmente, cria a das ótimas cervejas colaborativas. Em São, naturalmente, justificações válidas e
possibilidade de experienciar uma cerveja Portugal, os exemplos não faltam: a Cer- plausíveis. Mas faltou uma alínea D), pro-
nova e, muitas das vezes, única e irrepe- veja Letra/Cevada Pura Nanquim, a Mean vavelmente a mais importante e que eu
tível. No entanto, e como referimos, os Sardine/To Ol Blommer I Madeira, a Dois acrescento: “Porque queremos criar cer-
resultados ficam, por vezes, abaixo das ex- Corvos/Passarola Brewing Periscope ou vejas inovadoras e que tragam algo dife-
pectativas. E isso acontece porque: a Post Scriptum/Cervejaria Heroica Cryo rente ao consumidor”. Se fosse consu-
As cervejas colaborativas tendem a ser, na- Hoperation. Estas são referências de so- midor das cervejas da Our Mutual Friend,
turalmente, soluções de compromisso en- luções pensadas e bem executadas, que ficaria muito desiludido com a resposta do
tre os cervejeiros, numa ótica de não ofen- trouxeram mais-valias aos produtores, aos Sr. Proff. Para ele, notoriamente, estar na
der o colega ao tomar uma determinada consumidores e ao mercado. indústria cervejeira não é uma profissão, é
opção, acabando por fazer-se concessões Ainda assim, o bom senso, enquanto con- um hobby.

EDIÇÃO 3 • PAIXÃO PELO CERVEJA • 47


FERMENTAÇÕES CRIATIVAS

Sovina
Casamento
perfeito
> texto Aquiles Pinto > fotografias D.R.

Ainda rara e para consumidores mais


experimentados, a ligação das cervejas artesanais
ao vinho já existe e tem potencial futuro, de
acordo com o mestre cervejeiro da Sovina,
Arménio Martins. No caso desta marca, a recente
integração no Esporão torna esse casamento
ainda mais premente.

Envelhecer cerveja numa pipa com borras muito limitada e existe apenas em alguns lo- Porto velho”, explica Arménio Martins. Estão,
de Vinho do Porto é a proposta da Sovina cais onde sabemos que o consumidor pede além disso, em curso outras experiências
Amber Vintage. A conjugação da cerveja e entende estas novas experiências”. com diferentes estilos de cerveja, de acordo
com vinho pode parecer, para alguns, algo O mestre cervejeiro salienta, porém, que o com a mesma fonte.
estranho, mas Arménio Martins, mestre cer- vinho tem um processo de evolução ex-
vejeiro da marca portuense, considera que traordinário e que aporta muito à cerve- EXPERIÊNCIAS A MANTER
se trata de “um passo natural” num país com ja. “Se pensarmos na herança genética em O mestre cervejeiro da Sovina acredita, de
tradição vinícola. termos de variedades de castas e o tipo de resto, que a interação com os vinhos na
Este ensaio foi produzido pela primeira vez madeira em que envelhecem, conseguimos fermentação de cervejas é algo que todo o
em 2012, quando ainda não se falava de obter um sem número de aromas diferentes mercado vai continuar a explorar. “Se pen-
cervejas maturadas em cascos. “Esta ideia para conjugar com a estrutura maltada que sarmos nas diferentes variedades, regiões,
surge da vontade de voltar às nossas tradi- está na origem da cerveja”, indica o entrevis- mostos, climas e a proveniência das ma-
ções e acrescentar essa história à cerveja. tado, que explica que há ainda a acrescentar deiras, temos à nossa frente um mundo de
A complexidade de aromas do Vinho do a todos estes aromas os diferentes tipos de hipóteses, conjugações e aromas que vão,
Porto, consequentes do longo processo de lúpulos utilizados na produção das cervejas. sem dúvida, acrescentar às cervejas uma ri-
envelhecimento dá à cerveja uma cor única A Amber Vintage não foi a primeira incursão queza única que o nosso país nos oferece”.
e uma explosão de aromas que a torna tão da Sovina ao mundo do vinho. Antes já ha- No caso da Sovina, após a aquisição, há pou-
especial. Desenvolveu-se uma cerveja ave- via realizado experiências semelhantes com cos meses, pelo Esporão isso é ainda mais
ludada, com profundidade de aromas, sem a Mai Bock, que estagiou seis meses em verdade. “Esta nova etapa é uma conjugação
perder a leveza natural de uma cerveja”. cascos de carvalho francês com borras de perfeita para aproveitar todas as sinergias e
Arménio Martins indica que esta cerveja tem Vinho do Porto. “Esta cerveja é mais leve a experiência entre estes dois mundos tão di-
características únicas, que se enquadram nível de corpo, tem dez volumes de álcool. ferentes e tão próximos. A leveza da cerveja
melhor com um consumidor mais exigente. Tem cor de conhaque, aromas de madeira com a riqueza histórica dos vinhos em Por-
“A cerveja, aliás, foi produzida numa escala e uma presença inconfundível de vinho do tugal”.

48 • PAIXÃO PELO CERVEJA • EDIÇÃO 3


Simbiose
Cerveja aguça curiosidade
dos produtores de vinho
> texto Aquiles Pinto > fotografias D.R.

Fenómeno mais recente, em Portugal, do que a produção vinícola, a produção de cerveja artesanal tem
levado vários enólogos a sentirem curiosidade sobre os métodos produtivos, segundo o mestre cervejeiro
da Post Scriptum Brewery, Pedro Sousa. Esta realidade leva a produções cruzadas que fazem as delícias de
consumidores nacionais e, sobretudo, no caso desta cervejeira, internacionais.

A produção e culto da cerveja e do vinho na experiência organoléptica vai sentir-se treou a linha Oak Series. Foi pensada pre-
têm, não é novidade para quase ninguém, na cerveja, dependendo de tempo, tempe- cisamente com o objetivo de educar o
bastantes pontos em comum. Isso tem le- ratura, etc. Podem extrair-se aromas, sabor, consumidor para este mundo de sabores e
vado a que alguns cervejeiros vão ‘beber’ acidez, cor ou sabores e aromas secundá- aromas. Para isso, o lote de cerveja foi di-
detalhes de desenvolvimento aos vinhos rios por combinação com os da cerveja”. vidido na maturação para quatro ‘madeiras’
e, em sentido contrário, enólogos também distintas. Essas quatro maturações distintas,
aprendam na forma como ‘nascem’ as cer- OAK SERIES APRECIADA NA BÉLGICA foram engarrafadas separadamente e ven-
vejas artesanais. As ‘incursões’ da Post Scriptum Brewery didas numa caixa de madeira, permitindo
Como estas ainda são, de resto, relativa- pelo universo do vinho já têm alguma his- que o consumidor provasse a mesma cer-
mente novas em Portugal vários produto- tória. O mais recente produto é a Simbiose, veja com quatro envelhecimentos distintos
res vinícolas têm contactado, “com muita uma cerveja produzida com uma percenta- (cognac, armagnac, moscatel e whiskey).
curiosidade”, os cervejeiros, de acordo com gem de mosto de uva loureiro. Esta cerveja Talvez porque as cervejas especiais ainda
Pedro Sousa, da Post Scriptum Brewery. não estagiou em barricas, ao contrário de estão a fazer um caminho inicial no nosso
“Podemos todos aprender uns com os ou- outras saídas do ‘laboratório’ de Pedro Sou- país, foram os clientes internacionais que
tros”, vinca. sa . Essas estagiaram entre um mês a mais mais apreciaram esta linha da Post Scriptum
O mestre cervejeiro da marca da Trofa de um ano em barricas tão distintas como Brewery. “Resultou muito bem... no estran-
realça a produção de cerveja “é bem mais de vinho tinto, armagnac, cognac, vinho do geiro! Em Portugal, não entenderam este
complicada do que aparenta”. porto, whiskey, bourbon e moscatel. fado! Foi assim que iniciámos a exportação,
São vários os atributos que o vinho ‘impri- A primeira cerveja envelhecida em barrica para a Bélgica)”. Um cenário que, “felizmen-
me’ à cerveja. “Dependendo do vinho ou pela cervejeira dos arredores do Porto foi te”, é compensado por outros produtos
destilado, aquilo que é a dimensão maior uma ‘barley wine’ com 10% ABV que es- “com muito boa aceitação”.

EDIÇÃO 3 • PAIXÃO PELO CERVEJA • 49


FERMENTAÇÕES CRIATIVAS

Quinta do Portal
e Letra
Complementaridade
de A a Z
> texto Aquiles Pinto > fotografias D.R.

A complementaridade produtiva entre vinhos e cervejas não é algo


massificado, mas existem bons exemplos há algum tempo. É o caso
da Quinta do Portal e da Letra que criaram, já em 2015, uma cerveja
maturada em cascos de Vinho do Porto. A parceria é para continuar.

A criação conjunta de uma cerveja matu- PARCERIA VINHOS-CERVEJA DEVEM


rada em cascos de Vinho do Porto acon- CONTINUAR
teceu pela complementaridade das visões Esta parceria entre a Quinta do Portal e a
das duas empresas, segundo Paulo Couti- Letra poderá repetir-se no futuro para ou-
nho, enólogo da Quinta do Portal. “Surgiu tras cervejas. “Mantemos com a Letra uma
no seguimento de necessidade por parte relação de parceria. Claro que sim”, salien-
da Letra de desenvolver cervejas matu- ta o enólogo da Quinta do Portal.
radas em barricas, seja barricas de Porto, Paulo Coutinho considera, de resto, no que
Moscatel ou aguardentes. Por outro lado se refere à generalidade do mercado, que
a nossa experiência no envelhecimento e “só faz sentido” que a interação, produtiva
disponibilidade das ditas barricas, além da e não só, entre cervejas e vinhos continue.
nossa habitual abertura para parcerias e “O mundo da cerveja tem a ganhar com o
desenvolvimento de novos produtos”. mundo do vinho, mas o contrário também
As partes desenvolveram, então, em con- é válido. Penso até que comercialmente e
junto com a FermentUM, uma “spin-off” da em termos de desenvolvimento de marca
Universidade do Minho, algumas cervejas o mundo do vinho tem mesmo que apren-
de onde resultaram o lançamento de várias der”, admite. O enólogo destaca que esta
“editions on Oak”. Desses lançamentos, vi- relação se trata da criação de parcerias e
ria a surgir a Belgian Dark Ale, maturada em fala numa “relação win-win” entre produ-
cascos de Vinho do Porto, “que se adapta tores de vinhos e cervejeiros.
bem” ao consumidor da Quinta do Portal,
mais direcionado para o consumo de vi- VINHOS E CERVEJAS: AS DIFERENÇAS
nho. Instado pela Paixão Pela Cerveja, enquanto
“Por parte dos nossos consumidores regu- enólogo, a enumerar as principais diferenças
lares, tem havido um acolhimento fantás- entre os produtores de vinhos e os de cer-
tico”, refere Paulo Coutinho, que explica veja, Paulo Coutinho salienta que “são dois
tratar-se de uma cerveja muito gastronó- mundos distintos” e que não é fácil enu-
mica, em que as notas de barrica de Por- merar. A nossa fonte destaca que os pro-
to trazem uma maior amplitude de prova. fissionais “da cerveja gostam mais de trocar
“Não só alguma sucrosidade como uma experiência com outros pares” e que, pelo
riqueza aromática plena de especiarias”. contrário “os do vinho fecham-se entre si”.

50 • PAIXÃO PELO CERVEJA • EDIÇÃO 3


CERVEJA ARTESANAL

52 • PAIXÃO PELO CERVEJA • EDIÇÃO 3


Dois Corvos
Esforço, suor e dedicação
> texto Susana Marvão > fotografias D.R.

Há três anos que a Dois Corvos entrou no mundo das cervejas artesanais. Susana Cascais, que juntamente
com o marido Scott Steffens fundaram a empresa de cerveja artesanal, acredita que este é um momento único
no mercado cervejeiro, impulsionado pela curiosidade dos consumidores face a novos desafios.

Há três anos que Susana Cascais e o mari- tão Leitão, 94 - continuará a ser o coração A responsável admite que só agora os con-
do Scott Steffens, mestre cervejeiro, deram da cervejeira, estando prevista a expansão sumidores começam a entender que, tal
corpo e, sobretudo, alma há Dois Corvos, deste espaço para albergar mais cervejas, como o vinho, também as cervejas podem
dedicada à cerveja artesanal. Esforço, suor mais comida e mais lugares sentados. ser consumidas com diferentes tipos de co-
e muita dedicação à causa foram motivo Susana Cascais admite que este é um mo- mida ou em alturas específicas”. Outra das
de festejos no novo espaço desta cervejei- mento positivo para a cerveja artesanal. barreiras a derrubar é o facto da generali-
ra, que em 2019 irá albergar a unidade de Porque se antes a cultura cervejeira em dade dos consumidores ver a cerveja como
produção no Vale Formoso, em Marvila. A Portugal não abarcava o contacto e o aces- algo barato e que deve ser servida a uma
poucos minutos da estação de Braço de so aos diferentes estilos de cerveja, hoje temperatura muito baixa. “Esta percepção
Prata, este novo local irá facilitar o acesso tudo mudou. “Para além de termos um ‘bi- do produto tem de mudar”.
de matérias-primas e produto acabado, pólio’, era de um estilo muito específico, A experiência da Dois Corvos é que uma
bem como permitirá transferir uma parte da basicamente lager industrial”. vez que os consumidores experimentam,
produção para este local. Assim, a responsável pela Dois Corvos acre- gostam. “Pelo menos a nossa experiên-
“O balanço destes três anos tem sido ex- dita que atualmente o momento da cerve- cia é essa. As nossas portas estão abertas
tremamente positivo. Temos vindo a cres- ja artesanal pode ser classificado como de aos clientes que procuram repetir sema-
cer e a aumentar de ano para ano a nossa “extrema curiosidade” por parte dos con- nalmente a experiência de beber cerveja e
base de clientes”, disse Susana Cascais. Para sumidores. E mesmo que não saibam dis- o que isso enriquece o seu dia-a-dia”. Ou
isso a Dois Corvos tem vindo a diversificar tinguir uma pale ale de uma IPA, ou o que seja, é um produto que deixa de ser uma
os seus canais de distribuição para chegar é uma stout ou uma porter, o consumidor “commodity”, como a cerveja industrial,
a cada vez mais clientes. O canal HORECA começa agora a ter uma curiosidade bas- para fazer parte do nosso discurso.
continua a ser onde têm mais força, repre- tante aguçada, garante Susana Cascais. “E “Mas hoje admitiríamos chegar a um restau-
sentando as exportações cerca de 10% da é este um pouco o papel dos cervejeiros rante e o espaço só ter por exemplo, vinho
produção. A empresa produz uma média de artesanais: criar, fomentar e trabalhar para branco ou tinto da casa? Não, pois, não?
25 mil litros por mês. desenvolver esta cultura da cerveja em Por- Vamos chegar um dia em que essa será
O Tap Room da Dois Corvos - na Rua Capi- tugal”. igualmente uma realidade para as cervejas”.

EDIÇÃO 3 • PAIXÃO PELO CERVEJA • 53


EM DESTAQUE

50 anos da Cervejeira
de Vialonga
“Foi o consumidor que marcou todas as
inovações ao longo dos anos”
> texto Claúdia Pinto > fotografias D. R. / Sociedade Central de Cervejas e Bebidas

É um meio século de história desde a inauguração da fábrica de Vialonga que mistura o passado com
a perspetiva de futuro. O projeto, na altura, visionário, manteve o “layout” e foi-se adaptando às novas
necessidades dos consumidores. Algumas iniciativas realizadas este ano têm assinalado a efeméride
culminando com uma exposição dedicada aos marcos mais importantes, por década, com o objetivo de
prestar um tributo aos fundadores, acionistas, colaboradores, parceiros e consumidores.

54 • PAIXÃO PELO CERVEJA • EDIÇÃO 3


Registe esta data: 22 de junho. É que a abastece Lisboa e que tem uma compo-
mesma é emblemática na viagem histórica sição ideal para o fabrico de cerveja não
da Sociedade Central de Cervejas e Bebi- deixava dúvidas. “Este foi um projeto racio-
das (SCC), criada em 1934, mas também nal e planificado dos acionistas. Esta fábri-
pela inauguração da Cervejeira de Vialon- ca foi-se modernizando mas quem fez isto Este evento foi também
ga, em 1968. A SCC resultaria então da fu- pensou num ‘layout’ que se manteve até um tributo às pessoas
são de três empresas independentes que aos dias de hoje. Já havia, na época, uma que aqui trabalharam, e
concorriam entre si: a Portugália, a Jansen perspetiva de futuro. Era gente de grande antes de tudo, aos nossos
e a Estrela, às quais se juntou, a Coimbra. visão, o que até era um pouco contradi- fundadores.
No início da década de 30, o consumo na- tório face ao Portugal pequenino existente
cional de cerveja não ultrapassava o litro na altura”, explica o responsável. O fabri-
por habitante e a resposta dos cervejeiros co de cerveja, esse, é milenar, mas houve
foi a concentração. “Na altura, era possí- necessidade de modernizar as instalações
vel as empresas juntarem-se para ganhar fabris, não só ao nível de equipamentos dicionou a escolha de Vialonga”, conta o
massa crítica, o que hoje, a Autoridade da como também dos barris, das grades e das diretor de comunicação.
Concorrência não acharia muita graça”, embalagens. Em 1968, a unidade contava com 570 co-
começa por revelar Nuno Pinto de Maga- Este projeto integrado, que resultou de laboradores e tinha uma capacidade anual
lhães, diretor de comunicação e relações um investimento inicial de 360 mil con- de produção de 110 milhões de litros de
institucionais da SCC. O objetivo passava tos foi reconhecido internacionalmente cerveja. Passado meio século, o número
por criar sinergias no mercado de Lisboa. sendo a cervejeira considerada como um de colaboradores desceu para 400 mas a
Foi há precisamente 50 anos que esta uni- dos complexos mais evoluídos e moder- capacidade de produção foi ampliada para
dade foi criada e seguida da desativação nos do setor, ao nível da Europa. Jornais 320 milhões de litros.
das três fábricas originais situadas na Rua como o Herald Tribune e o The New York Registaram-se ainda outras mudanças:
Almirante Reis, na Avenida Sacadura Cabral Times publicaram notícias alargadas so- “os formatos de embalagens foram altera-
e na Rua do Alecrim, em Lisboa. bre a inauguração da fábrica. “Estamos dos consoante as necessidades dos con-
As obras da Cervejeira de Vialonga come- fora de Lisboa, numa zona bem localiza- sumidores e a empresa teve de se adap-
çariam em setembro de 1966, tendo sido da, de acessos fáceis, com boa água, bom tar numa necessidade de modernização
mobilizadas 25 empresas de construção afluente, numa zona que não impacta constante. Não havia garrafas ‘one way’, a
com mais de mil operários em atividade. com zonas urbanas (as antigas unidades mini só apareceu em 1970, e não havia ró-
A escolha do terreno não foi inusitada: a ficavam dentro das cidades) e num ponto tulos em papel pois era tudo pirogravado.
proximidade do canal do rio Alviela que equidistante de Lisboa. Foi isto que con- Em termos logísticos, antigamente as car-

EDIÇÃO 3 • PAIXÃO PELO CERVEJA • 55


Em 1968, a Cervejeira de
Vialonga contava com
570 colaboradores e tinha
uma capacidade anual de
produção de 110 milhões
de litros de cerveja. Passado
meio século, o número de
colaboradores desceu para
400 mas a capacidade de
produção foi ampliada para
320 milhões de litros.

56 • PAIXÃO PELO CERVEJA • EDIÇÃO 3


gas não eram feitas aqui pois iam para en- crescimento das nossas marcas e serviços, Magalhães. Relativamente a novidades de
trepostos, não havia autoestradas… Tudo na adaptação e abertura à mudança, no di- produto, o responsável destaca que “foi o
mudou nessa matéria”, explica Nuno Pinto namismo e capacidade de inovação desta consumidor que marcou todas as inova-
de Magalhães. companhia e das suas marcas”, assinalou, ções ao longo dos anos”.
No interior da cervejeira é possível admi- no momento, François-Xavier Mahot, CEO 0 50º aniversário fica ainda marcado pelo
rar a fachada e os pavimentos a preto e da SCC. desenvolvimento de um logótipo que as-
branco, resultado de intervenções artísti- Através de imagens, factos e notícias, bem sinala a data e passa a integrar os dife-
cas que contaram com a colaboração do como testemunhos de alguns profissio- rentes momentos de comunicação desta
artista plástico Eduardo Nery. nais, a exposição está aberta ao público, celebração. A cor dourada e as espigas
mediante marcação, até outubro próximo, compõem o grafismo, remetendo para
UMA EXPOSIÇÃO QUE É UM TRIBUTO estando incluída também nas visitas gra- elementos que caracterizam a cerveja pro-
ÀS ORIGENS tuitas à fábrica (a SCC regista 6000 a 7000 duzida na Cervejeira de Vialonga. De notar
Como forma de assinalar este marco da visitas por ano) que podem ser realizadas que este logótipo contém ainda a repre-
Cervejeira de Vialonga, no mesmo dia e por qualquer pessoa com mais de 18 anos sentação do emblema que foi oferecido a
hora de inauguração da unidade, 50 anos que assim manifeste interesse, também alguns convidados no dia da inauguração
depois, a SCC organizou um evento (no mediante agendamento prévio. da unidade, em 1968, e que inclui as cal-
passado dia 22 de junho, às 16h00) que Ao longo do ano, a SCC tem enviado algu- deiras de fabrico onde o mestre cervejeiro
juntou colaboradores, autarcas locais e al- mas newsletters internas aos colaborado- usa a sua arte para dar vida às diferentes
guns stakeholders externos ligados à cer- res para partilhar alguns marcos e curiosi- cervejas que idealizou.
vejeira e que foi o pontapé de saída para dades destes 50 anos. “Eu costumo dizer “É pública a importância, o contributo e
a inauguração de uma exposição alusiva que quem não tem história, não tem futu- o impacto da SCC no país e nas comu-
aos momentos mais marcantes, divididos ro. Por outro lado, consideramos que não nidades onde está inserida, quer ao nível
por décadas. “Este evento foi também um há ruturas, há legados”, salienta o diretor de inovação, de investimento, de empre-
tributo às pessoas que aqui trabalharam, e de comunicação. A efeméride destacou gabilidade, da promoção da agricultura
antes de tudo, aos nossos fundadores. Tão ainda os parceiros de negócio, os fornece- nacional, da preocupação com os pilares
importantes como as unidades e as mar- dores, os clientes e consumidores. da sustentabilidade e do consumo mode-
cas, são os acionistas, os colaboradores e O meio século foi marcado também por rado e responsável, e ainda, do seu papel
as suas famílias. Não podemos esquecer as algumas inovações, como por exemplo, exportador, da sua ligação à cultura, des-
pessoas e as sucessivas gerações que aqui “toda a automatização de cargas e des- porto e lazer, e da sua identificação com
trabalharam”, explica Nuno Pinto de Ma- cargas por cais que resultou de um grande a identidade portuguesa, sendo a cerveja
galhães. “Todos e cada um dos colabora- investimento. A inovação mais fantástica e Sagres disso exemplo”, remata o diretor de
dores que constituíram a SCC desde a sua recente consistiu na climatização da linha comunicação e relações institucionais.
fundação, deixaram-nos um legado, que de enchimento que permitiu proporcionar A comemoração dos 50 anos ainda vai a
nos orgulha e inspira, mas que também melhores condições aos colaboradores meio caminho. Outras iniciativas estão
nos responsabiliza e desafia em termos de que cá estão a trabalhar pois a cervejeira programadas até final do ano, sobretudo a
futuro, a ter uma atitude de contínua apos- era muito quente no verão e demasiado nível interno, mas que Nuno Pinto de Ma-
ta, de forma responsável e sustentada, no fria no inverno”, explica Nuno Pinto de galhães prefere não revelar.

UMA CADERNETA COM HISTÓRIA


A SCC, numa parceria com a Colara (plataforma de cadernetas
digitais), dão agora a oportunidade aos consumidores e aman-
tes de cerveja, de ficar a conhecer os principais marcos histó-
ricos da empresa que se confundem com as origens do setor
cervejeiro em Portugal, até ao ano de 1975.
Através de uma caderneta gratuita, disponível em www.colara.
pt/SCC1975, mediante registo na plataforma, é possível rece-
ber automaticamente saquetas gratuitas, de forma online. “É
com grande satisfação que nos associamos à Colara através
desta caderneta que recorda parte da história da SCC e das
suas marcas. Uma forma original de partilhar a história desta
empresa de referência, especialmente com os fãs do colecio-
nismo, através de uma coleção inédita e exclusiva”, destaca
Nuno Pinto de Magalhães.

EDIÇÃO 3 • PAIXÃO PELO CERVEJA • 57


A ESTREAR

58 • PAIXÃO PELO CERVEJA • EDIÇÃO 3


Pato Brewing
Tem nova unidade de produção
em Cascais
> texto Susana Marvão > fotografias D.R.

A Pato Brewing tem apenas ano e meio mas sabe muito bem o que quer do mercado. Investiu
250 mil euros numa nova unidade de produção e quer atingir, a dois anos, uma produção de
100 mil litros por ano. A estratégia da empresa passa por abraçar o seu lado artesanal mas
dando-lhe alguma “leveza” por forma a permitir que um consumidor habituado às cervejas
industriais mais facilmente se identifique com a marca.

Em 2016 nascia uma nova marca de cer- litros, estando previsto para este ano o à Super Bock e à Sagres pudesse mais fa-
veja artesanal. A Pato Brewing produz dobro, chegando aos 50 mil litros. “Que- cilmente compreender a nossa cerveja”.
hoje quatro cervejas distintas - american remos a dois anos atingir os 100 mil litros Aliás, a Pato Brewing tem uma “respon-
pale ale, india pale ale, belgian amber ale por ano”. sabilidade” acrescida já que em muitos
e brown ale - que, garante a empresa, O atual dinamismo do mercado cervejei- restaurantes onde está presente é a úni-
apresentam “altos padrões de qualidade ro é, no entender de Grimoalda Soares ca marca de cerveja do menu. “No iní-
e totalmente naturais, sem pasteurização Botelho, muito positivo e poderá ajudar a cio, e repare que foi apenas há um ano e
e sem conservantes”. alavancar o crescimento da empresa. meio, os próprios donos dos restaurantes
E parece estar a correr bem. Tanto assim A responsável explicou que a estratégia não sabiam muito bem o que era a cer-
que recentemente a empresa fez um in- da Pato Brewing difere um pouco das veja artesanal. Hoje já falamos a mesma
vestimento de 250 mil euros em novas restantes cervejeiras artesanais já que o língua e os clientes já pedem as nossas
instalações preparadas para aumentar a seu público-alvo não é propriamente os cervejas”.
capacidade de produção para 16 mil litros ‘beer geek’ mas antes “queríamos produ- A cerveja de bandeira da Pato Brewing,
por mês. “Mas para já só estamos a produ- zir uma cerveja que os portugueses apre- a Patinho, uma APA “mas menos amar-
zir cinco mil”, disse à Paixão Pela Cerveja ciassem num restaurante ‘normal’, para ga que a americana”, foi a primeira a
a responsável Grimoalda Soares Botelho. acompanhar a comida”. ser introduzida nos restaurantes e, diz
A estratégia para a nova unidade de pro- Assim, as cervejas da Pato Brewing, ape- Grimoalda Soares Botelho, foi compli-
dução de Cascais - cujo espaço é três sar de apelarem aos sabores típicos da cado. “Só estavam habituados à cerveja
vezes maior do que o anterior - passa produção artesanal, ou seja, fortes, sem- de pressão, não aceitavam cervejas dife-
obviamente por crescer. No ano de ar- pre primaram por alguma “leveza” para rentes. Agora são os próprios donos que
ranque a Pato Brewing produziu 24 mil “que o português que estava acostumado pedem cervejas mais arrojadas”.

EDIÇÃO 3 • PAIXÃO PELO CERVEJA • 59


CERVEJEIROS DE PORTUGAL

Um pacto
pela cerveja
> texto Associação Cervejeiros de Portugal > fotografia Shutterstock

Até 2020, os Cervejeiros de Portugal pretendem realizar um trabalho conjunto com todos os parceiros e
stakeholders a fim de ser alcançada uma maior justiça fiscal, tratando de forma igual o que é estratégico para
a economia nacional e diferenciadamente o que não é estratégico ou que não possui fileira integrada em
território nacional.

A fiscalidade deve atender ao potencial de des produtores. O primeiro passo é o con- abertura para, mediante o não agravamen-
crescimento do setor da cerveja nacional, gelamento do valor do IABA/IEC já no pró- to da carga fiscal sobre o setor, estudar em
contribuindo de forma progressiva para o ximo OGE mantendo o nível deste ano. parceria com o Ministério da Agricultura
aumento da competitividade e para o estí- Para o futuro, o objetivo é a convergência formas de canalizar parte dessa receita fis-
mulo do setor agrícola que fornece as uni- fiscal na Península Ibérica com a redução cal para ações de apoio e promoção à pro-
dades de produção de malte e de cerveja progressiva do diferencial de tributação da dução de cevada e lúpulo, matérias-primas
nacional, tendo em consideração a mani- cerveja em sede de IABA/IEC entre Por- totalmente escoadas pela nossa indústria.
festa necessidade de incorporação de mais tugal (2018: 20,87 €/Hl) e Espanha (2018: De igual forma, comprometem-se a estu-
cevada e lúpulo de origem nacional no seu 9,96 €/Hl). dar com o Ministério da Economia, formas
processo produtivo. A prioridade fiscal nos impostos sobre be- de incremento do VAB do setor, no míni-
Pretende-se uma efetiva equidade fiscal e bidas alcoólicas deverá estar na defesa dos mo de 20% nos próximos 5 anos (ano de
que o Orçamento Geral do Estado – 2019 setores económicos que possuam cadeias comparação: 2014).
mantenha inalterável o valor do imposto de valor integradas e sediadas em território Atualmente, a carga fiscal em termos de
especial de consumo (IABA/IEC) da cerveja nacional, e que contribuam para a criação IABA/IEC da cerveja é demasiado eleva-
atualmente em vigor. A Fig. 1 mostra que de novos empregos, para o crescimento da e encontra-se na parte descendente
este setor sofre um aumento anual de im- do VAB e para as Exportações nacionais. da curva de Laffer, ou seja, os sucessivos
postos mesmo em períodos económicos Não diferenciação do que é igual em ter- aumentos de IEC anuais sobre a Cerveja
de crescimento (fim da austeridade). O se- mos económicos, isto é, setores económi- entre 2010 e 2017 (Figura abaixo) condu-
tor cervejeiro é provavelmente o único se- cos estratégicos e vitais para a economia ziram a decréscimos na arrecadação deste
tor económico de fileira nacional que sofre nacional e com um potencial de cresci- imposto em todo este período temporal,
agravamento anual de impostos! mento comprovado (caso da cerveja e com exceção do ano de 2017. Neste ano o
Entre 2008 e 2018 este imposto agravou- vinho) devem ter idêntico tratamento po- aumento da arrecadação fiscal do Estado
-se 24%. Urge pôr termo a esta situação lítico no âmbito da política fiscal governa- (87,45 Milhões de euros) deveu-se ao cres-
que afeta todos os produtores nacionais mental. cimento do setor, em termos de volume de
de cerveja, desde os artesanais aos gran- Os Cervejeiros de Portugal mostram total vendas, em 8%, o que prova que a receita

Fig. 1 – Valor do IABA/IEC sobre a cerveja entre 2010 e 2017 em euros por hectolitro de cerveja introduzida no mercado nacional

60 • PAIXÃO PELO CERVEJA • EDIÇÃO 3


fiscal do Estado só aumenta quando o se- jeiro no conjunto da UE-28. Os atuais 51
tor está de boa saúde e em crescimento. Litros, fruto da recuperação do setor em
Não existe uma relação direta per si, entre 2017, são ainda bastante inferiores à média
aumento de imposto sobre álcool e con- da EU-28 (69 litros per capita). De facto o
sequente aumento de receitas do estado, consumo nacional de cerveja encontra-se
como se provou entre 2010 e 2016 (Fig. 2). ainda 15,4% abaixo do seu valor pré-crise
Convém aqui igualmente recordar que, ao (2008), o que permite inferir que existe um
nível da produção, a Cerveja possui uma potencial de crescimento do setor que se
taxa de IVA de 23% enquanto outras be- encontra por dinamizar, nomeadamente o
bidas alcoólicas em Portugal (com teor regresso aos níveis de 2008 no consumo
muito superior de álcool) pagam IVA na nacional de Cerveja.
produção a 13%. A formação do custo to- O setor Cervejeiro é o 15º Setor mais re-
tal para um produtor de cerveja quando levante da economia portuguesa, contri-
introduz uma garrafa de cerveja no mer- buindo com mais de 80 mil postos de tra-
cado é a seguinte: custo de produção + balho diretos e indiretos (cerca de 90% no
IVA a 23% + IEC a 20,87€/Hl. Esta situação canal fora-de-casa (HoReCa). Nos anos
representa uma descriminação negativa da crise – 2008-2012 – o decréscimo do
do setor cervejeiro em relação ao nosso consumo de cerveja impactou toda a filei-
maior concorrente no consumo de bebi- ra com a Consultora REGIOPLAN (2014) a
das alcoólicas. estimar uma perda de 14.000 empregos
Entre 2008 e 2016, o consumo de cer- em Portugal unicamente devido à quebra
veja em Portugal baixou dos 61 litros per de consumo de cerveja. Ou seja, o con-
capita para 47 litros, ou seja, uma quebra sumo da Cerveja significa crescimento
de 23%. Este decréscimo em Portugal da Economia e novos empregos gerados.
constitui a maior quebra do setor cerve- Apelamos para uma maior justiça fiscal.

Fig. 2 – Esq: Receita do Estado em IABA/IEC sobre a cerveja entre 2010 e 2017 em função dos aumentos anuais
deste imposto (em %); Dir: Comparação entre a carga fiscal Espirituosas/Cerveja em Portugal, Espanha, Alemanha e
Bélgica. Portugal é o país que mais favorece fiscalmente as bebidas espirituosas em detrimento da cerveja.

EDIÇÃO 3 • PAIXÃO PELO CERVEJA • 61


CERVEJEIROS DE PORTUGAL

Cervejeiros de Portugal
assinalam
Dia internacional de cerveja
> texto e fotografia Associação Cervejeiros de Portugal

O Dia Internacional da Cerveja é comemora- todos os que produzem, comercializam, SOBRE OS CERVEJEIROS DE PORTUGAL
do na primeira sexta-feira de agosto, que este distribuem e apreciam Cerveja em todo o Com mais de 30 anos, a APCV – Cerve-
ano será assinalado no dia 3. Esta efeméride mundo, contribuindo para a sua diversida- jeiros de Portugal é uma Associação de
foi inventada em 2007, em Santa Cruz da Ca- de e expansão cultural”, enaltece François- setor, sem fins lucrativos, que representa
as empresas que, em território nacional,
lifórnia, e começou por ser uma celebração -Xavier Mahot, Presidente dos Cervejeiros
exerçam a indústria da produção e/ou
apenas no bar dos fundadores, que depois de Portugal. enchimento de cerveja. Os Cervejeiros
se expandiu até se transformar num evento de Portugal têm como principais objeti-
mundial, assinalado em mais de 50 países. DADOS SOBRE SETOR vos ser a voz da Indústria Cervejeira Na-
Os Cervejeiros de Portugal associam-se a CERVEJEIRO EM PORTUGAL cional em Portugal, junto da União Euro-
esta data comemorativa que consideram √ Este é o 15º setor mais relevante da eco- peia e de organizações internacionais e
uma oportunidade para estar com amigos nomia portuguesa. apoiar política e legislativamente o setor
e saborear uma cerveja, celebrar aqueles √ Contribui com 80 mil postos de trabalho em todas as suas vertentes, incrementar
que a produzem e os que a servem, ter o diretos e indiretos. e fortalecer a produção sustentada de
cerveja, garantir à Indústria Cervejeira
sentido de união mundial com os produ- √ Gera mais de mil milhões de euros por
Portuguesa o direito de ser competitiva
tores de várias nações e culturas e, ainda, ano, assente numa cadeia de valor quase e inovadora e promover a responsabili-
realçar a importância da cerveja para eco- totalmente nacional dade do setor em relação ao Ambiente,
nomia nacional. √ 1/3 da produção total nacional de cerve- Segurança Alimentar, Saúde & Nutrição e
“Este dia celebra a paixão e a dedicação de ja é exportada para 50 países. Comunicação Comercial.

62 • PAIXÃO PELO CERVEJA • EDIÇÃO 3


RESPONSABILIDADE SOCIAL

Educar para prevenir > texto Francisco Gírio > fotografias Unsplash

Educar é a melhor política para prevenir comportamentos de risco no consumo de bebidas alcoólicas em
particular nos jovens maiores de idade.

Todos os Governos, em particular as auto- cer um conjunto de valores que ajudem como um fator de proteção em relação ao
ridades de saúde pública, têm tendência a o jovem a desenvolver a sua maturidade abuso do álcool. O projeto de responsa-
adotar medidas restritivas ou proibicionis- emocional e o seu sentido de moralidade bilidade social “Falar Claro” dos Cervejei-
tas no consumo geral de bebidas alcoóli- (em relação ao álcool)”. Neste aspeto as ros de Portugal ajuda os pais, em contexto
cas porque acreditam que as mesmas re- relações entre pais e filhos são fundamen- familiar, a melhor saberem relacionar-se
presentam uma “via verde” para redução tais para a educação no jovem da perce- com os seus filhos e interagirem da forma
dos problemas ligados ao álcool. Nada ção do risco. Se um risco não é percebido correta com os mesmos sobre o tema dos
mais errado!... O consumo de bebidas al- como tal pelo jovem, então a probabilida- riscos associados ao consumo abusivo de
coólicas encontra-se associado a perfis de desse jovem assumir comportamentos bebidas alcoólicas proporcionando uma
de comportamento enraizados nas socie- de risco aumenta, pois ele não vai ter a educação aberta num ambiente relacio-
dades e a alteração de perfis comporta- noção da sua própria vulnerabilidade pe- nal afetivo e empático, aberto ao dialogo
mentais de consumo abusivo ou que evi- rante o álcool. Vários autores referem que que fomente sentimentos de segurança e
tem tendências de consumo abusivo nos as experiências anteriores, as preferências minimize riscos. Educar, seja em ambiente
jovens que atingem a maioridade, neces- pessoais de cada jovem e as suas interpre- familiar, ou em ambiente escolar ou atra-
sitam de políticas de longo prazo na pre- tações do risco são fatores determinantes vés de políticas públicas de sensibilização
venção e na educação. Não é o caminho na perceção do mesmo. A relação entre para os efeitos profundamente nefastos
mais fácil, mas é seguramente aquele que pais e filhos possui uma importância deci- dos problemas ligados ao álcool na sua
dá melhores resultados no longo prazo. siva no desenvolvimento da inteligência ou vida futura enquanto jovem adulto e au-
O Dr. António Lorena Trigueiros, médi- maturidade emocional do jovem, criando tónomo é fundamental para a prevenção
co psiquiatra da infância e adolescência, importantes ferramentas relacionais que e minimização dos riscos associados ao
realça que “a família é a primeira estrutura ajudam os jovens na sua relação com os consumo de bebidas alcoólicas.
educativa e socializadora, devendo forne- outros e consigo mesmos, podendo atuar Seja responsável. Beba com moderação.

EDIÇÃO 3 • PAIXÃO PELO CERVEJA • 63


MUNDO DA CERVEJA

64 • PAIXÃO PELO CERVEJA • EDIÇÃO 3


The Brewers of Europe Forum
Da Bélgica, com amor
> texto Susana Marvão, em Bruxelas > fotografias D.R.

Proclamada o “berço da cerveja moderna”, a Europa “alberga” cerca de 80 estilos de cerveja e 50 mil marcas.
E como uma infinidade de estilos, novidades e inovações continuam a despoletar, a The Brewers of Europe
organizou em Bruxelas o seu primeiro fórum, um evento de dois dias que olhou para o futuro do setor. “Beer and
Beyond” foi o lema do congresso.

O aumento das microcervejeiras, as ino- comitiva portuguesa, um dos países mais


vações em cervejas com pouco álcool ou representados no evento com 50 elemen-
mesmo isentas de álcool e a diversificação tos de dez empresas associadas.
de estilos e sabores são apenas algumas “Com a duplicação do número de cerve- O primeiro fórum do
das tendências que a The Brewers of Eu- jeiras em toda a Europa e o aumento de The Brewers of Europe
rope – que representa as 8500 cervejeiras marcas e estilos disponíveis, houve um aconteceu sob o mote
europeias e 29 associações nacionais, en- movimento bem-sucedido para relançar “Beer and Beyond” e reuniu
tre elas a Cervejeiros de Portugal – destaca o amor da Europa à cerveja”, disse Jan cervejeiros de todas as formas
para os próximos anos. de Grave, diretor de comunicação da The e tamanhos, assim como
O primeiro fórum desta associação acon- Brewers of Europe. outras partes interessadas do
teceu em Bruxelas sob o mote “Beer and “A categoria cerveja está mais vibrante e setor.
Beyond”, no qual, durante dois dias, cerca com mais saúde devido a este ‘renasci-
de 800 representantes do setor cervejei- mento’. Um movimento impulsionado por
ro, de todo o mundo, discutiram o futuro todo o setor que levou as pessoas a pensa-
da atividade cervejeira, nomeadamente a rem na cerveja”. Um incremento no consumo de cervejas
inclusão do setor entre artesanais, peque- especiais foi observado em toda a Europa
nas, médias e grandes empresas cervejei- DA TRADIÇÃO À INOVAÇÃO por fabricantes de cerveja e associações
ras e exploraram áreas como a qualidade A Europa é o lar de 8500 cervejeiras, pro- nacionais no último inquérito europeu. A
na produção da cerveja, mercados e ino- duz mais de 40 mil milhões de litros de proposta de valor dessa diversidade para
vação, cerveja e food-paring, mudanças cerveja por ano e suporta 2,3 milhões de os consumidores está igualmente a inten-
comportamentais nos consumidores e empregos. É, hoje, o segundo maior pro- sificar-se. “O aumento da variedade de es-
suas expectativas. dutor de cerveja do mundo, depois da tilos de cerveja também inclui um número
O Fórum também teve uma componente China. O “velho continente” é conside- crescente de versões de mais baixo teor
mais técnica, onde se destacou o Simpósio rado o “berço da cerveja”, onde a bebida alcoólico ou sem álcool. Para além de que
paralelo sobre “Filtração de Cerveja” orga- atinge culturalmente particular relevância a cerveja é única entre as principais cate-
nizado pela European Brewery Convention em países como a Bélgica, a Alemanha e gorias de bebidas alcoólicas precisamente
(EBC), onde cervejeiros e investigadores a República Checa. Mas assim como a tra- pela sua variedade de qualidades alcoóli-
apresentaram o estado-da-arte bem como dição é importante para o setor, também cas”.
perspetivas tecnológicas futuras para os é a inovação – e a indústria está a evoluir Diz Jan de Grave que dentro do espectro
próximos desenvolvimentos em técnicas rapidamente. de escolha que o setor oferece aos con-
de filtragem. “Uma tendência nos países mais maduros sumidores, o mercado de cervejas sem ál-
Entre os palestrantes estiveram Carlos Bri- produtores de cerveja é que os consu- cool e com baixo teor alcoólico dobrou de
to, CEO da AB InBev, Cees ‘t Hart, CEO da midores estão a procurar mais variações, 2000 a 2015. Cervejas com menos de 3%
Carlsberg e Steve Hindy, cofundador e pre- sabores diferentes e aromas específicos”, de álcool por volume representam cerca
sidente da Brooklyn Brewery, para além da disse Jan de Grave. de 6% do mercado europeu de cerveja. Em

EDIÇÃO 3 • PAIXÃO PELO CERVEJA • 65


alguns países esse valor chega aos 14%. entre a velocidade da inovação em relação sumidores de hoje, disse na conferência o
“Enquanto isso, as credenciais de susten- aos EUA”. O que acaba por ser “injusto”, já CEO da AB InBev, Carlos Brito.
tabilidade, moderação e responsabilidade que a inovação na cerveja sem álcool está O responsável salientou na sua interven-
corporativa são mais vitais do que nunca”. a desenvolver-se mais rapidamente na Eu- ção que o setor da cerveja precisa apren-
As exportações também são outra oportu- ropa, diz o diretor de comunicação da The der com o do vinho e destacar as suas li-
nidade fundamental para o setor europeu Brewers of Europe. gações à terra e à agricultura. Em forma de
de cerveja. Mercados emergentes borbu- conselho para os fabricantes de cerveja,
lham de potencial: de acordo com a Co- FÓRUM COM FOCO NO FUTURO Carlos Brito enfatizou três palavras-chave
missão Europeia, a cerveja está entre os Com o setor da cerveja europeu em cres- que poderão ser fundamentais para o fu-
principais produtos de exportação da Eu- cimento, a The Brewers of Europe diz que turo do setor: o apelo ao natural, premiu-
ropa, com crescimento de dois dígitos (+ este é um momento emocionante para a nização e diversidade.
18%) entre 2014 e 2015. indústria e para promover uma “cultura de De resto, a atração pelo “natural” tem vin-
“Os principais destinos são os EUA, a Chi- união” dentro da cadeia de valor da cerveja do a ganhar espaço em toda a indústria de
na e o Canadá, mas nos últimos 20 anos na Europa. “Cervejas e cervejeiras estão a Alimentos e Bebidas, impulsionada pelo
as cervejeiras da União Europeia expandi- provar ser cada vez mais bem-sucedidas e aumento do foco na saúde e bem-estar,
ram o comércio para 123 países em todo queríamos uma conferência em que todo com os consumidores a afastarem-se dos
o mundo e estão entre os três principais o setor europeu de cervejas e cervejeiras ingredientes artificiais, procurando produ-
parceiros de importação de 97 países fora pudesse unir-se para intercambiar e ferti- tos de “rótulo simples” com listas de ingre-
da UE”. lizar conhecimento, expertise, experiência dientes reconhecíveis.
O dinamismo do mercado cervejeiro eu- e ideias”, disse de Grave. Assim, ficou patente na conferência que
ropeu às vezes é ofuscado pelo sucesso Fabricado a partir de quatro matérias bási- um dos principais desafios para o mercado
do movimento de cervejas artesanais dos cas – lúpulo, cevada (ou outros grãos), da cerveja sempre foi a sua imagem insa-
Estados Unidos da América. Daí que todos levedura e água –, a cerveja é geralmen- lubre e altamente calórica, a tal “barriga de
os intervenientes no fórum parecem ser te considerada como um produto de “ró- cerveja”. Na verdade, a sua simples lista de
unânimes: urge destacar que níveis simila- tulo simples” - livre de adição de açúcar, ingredientes significa que tem o potencial
res de inovação e desenvolvimento estão aditivos ou outros ingredientes adicionais de se posicionar como um produto de “ró-
a ocorrer na Europa, contribuindo para um encontrados em outras categorias de be- tulo simples” e natural. “Acho que temos
importante avanço da indústria. “A Europa bidas. Assim, sendo a cerveja identificada que jogar mais essa carta”, disse o CEO da
é o berço da cerveja, mas de alguma for- com ingredientes naturais, é algo que a in- AB InBev ao auditório repleto.
ma parece haver uma diferente perceção dústria precisa enfatizar para atrair os con- Aliás, o responsável relembrou que a

66 • PAIXÃO PELO CERVEJA • EDIÇÃO 3


equipa olímpica de inverno da Alemanha ninguém sabe disso. Temos mais empre- mentos-chave que entram em jogo: signi-
fez manchete em vários jornais ao levar gos, mas ninguém sabe disso. O vinho está ficado, saúde e sustentabilidade. “Essas são
para Pyeongchang 3500 litros de cerveja ligado aos agricultores – assim somos nós as coisas que realmente irão definir o futu-
de trigo não alcoólica da cervejeira priva- – e precisamos direcionar essa mensa- ro da nossa categoria”, disse. “Destacar a
da Krombacher, pela sua natureza isotó- gem”. qualidade da cerveja ajudará o setor a des-
nica. Abraçar a premiumização ou seja, a apos- tacar-se”. O CEO da Carlsberg admite que
“Levaram cerveja sem álcool alemã para ta nas cervejas premium, e a diversidade se esta categoria quiser ser bem-sucedida
reabastecer a energia dos atletas – não de estilos são outras duas maneiras pelas no futuro, há que manter a qualidade real
bebidas desportivas ou qualquer outra coi- quais os cervejeiros podem abraçar o futu- dos produtos. “A qualidade é muito im-
sa - porque é natural e vai reabastecer o ro da cerveja, disse Carlos Brito. portante, assim como falar positivamente
que é necessário reabastecer”, disse Brito. sobre cerveja é fundamental. “Promover
“Isso é muito encorajador”. FORTE HERANÇA CULTURAL a cerveja de uma forma positiva ajudará a
A cerveja tem uma forte herança cultural e impulsionar a categoria face aos concor-
SETOR TEM DE APRENDER os fabricantes desenvolveram modelos de rentes, como vinho ou bebidas espirituo-
COM O DO VINHO negócios de sucesso para permitir cresci- sas”, acrescentou.
Destacar as credenciais naturais da cer- mento e prosperidade – mas isso não será Mas não basta um bom produto. Os de-
veja não é importante apenas para vender suficiente para garantir o futuro da catego- nominados millennials também procuram
esta bebida aos consumidores. A categoria ria. “Os fabricantes de cerveja precisam de marcas e empresas que tenham um pro-
também precisa enfatizar a sua ligação e se concentrar cada vez mais nas principais pósito e valores claros. “Os millennials pe-
contribuição para a indústria agrícola, de tendências valorizadas pelos millennials, a dem um propósito: isso é muito diferente
onde vêm seus ingredientes, disse Carlos fim de obter sucesso contínuo”, disse no do passado. Há 30 anos ninguém pedia
Brito. Fórum o CEO da Carlsberg, Cees‘t Hart. valores ou significados, mas os millennials
Isso é algo que – e parece opinião comum “Ter orgulho no nosso passado não signifi- articulam muito bem o que querem de
aos vários palestrantes –, este setor pode ca que temos um grande futuro”. uma empresa. Acho que para nós é muito
aprender com o do vinho, que se ligou Em vez disso, o responsável diz que o setor importante envolvermo-nos com esta ge-
com sucesso à agricultura e é reconheci- terá que se concentrar em três principais ração, entendê-la e garantir que as nossas
do, nomeadamente quando se discutem tendências particularmente valorizadas empresas tenham um objetivo”.
impostos ou subsídios. pelos millennials para ter sucesso: signifi- E por falar em objetivos e propósitos, o pri-
“Acho que nós, cervejeiros, precisamos cado, saúde e sustentabilidade. meiro fórum da “The Brewers of Europe”
aprender com o vinho”, disse Brito. “Está Tradicionalmente, a Carlsberg sempre apli- parece ter terminado com balanço posi-
estabelecido que esse setor está realmen- cou o triângulo mágico “volume, margens tivo, apesar de, obviamente, haver lugar
te ligado à agricultura e aos agricultores. de lucro operacional e crescimento” aos para melhorias, nomeadamente no que
Mas nós também”, disse aos presentes. “Na seus negócios, equilibrando todas as de- diz respeito ao espaço de exposição que
maioria dos países onde operamos, temos cisões face a estes indicadores para que a complementava o fórum. A provar o su-
mais hectares dedicados à cevada e grãos empresa cresça. cesso, a segunda edição está já agendada
associados à cerveja do que às uvas. Mas Mas Hart agora vê outro triângulo de ele- para o mês de junho, em Antuérpia.

EDIÇÃO 3 • PAIXÃO PELO CERVEJA • 67


ACABADAS DE CHEGAR

68 • PAIXÃO PELO CERVEJA • EDIÇÃO 3


Selecção 1927
Portuguese Blond Ale
100% nacional e ideal para o verão
> texto e fotografias D.R.

A nova Portuguese Blond Ale é a mais recente edição limitada da gama Super Bock Selecção 1927.

Doce e encorpada na boca, é uma cerveja supermercados e em bares e restaurantes


inspirada na sabedoria guardada nas aba- selecionados de norte a sul do país, até ao
Produzida com ingredientes
dias belgas, reinventada pela história, aro- final dos dias quentes de verão.
nacionais, é portuguesa
mas e sabores portugueses. Cerveja dou- Já está disponível nas plataformas digitais
na sua totalidade: nasce
rada e luminosa como um longo verão, é da marca e, nomeadamente, em http://su-
em Leça do Balio, com
ideal para acompanhar os melhores pratos perbock.com/pt/pt/selecao1927-blond-
cevada nacional, maltada
da gastronomia portuguesa. -ale/ um vídeo que mostra as caraterísticas
na minimalteria da Oficina
Produzida com ingredientes nacionais, é da nova Selecção 1927 Portuguese Blond
da Cerveja, e adquire o seu
portuguesa na sua totalidade: nasce em Ale e a sua cuidadosa produção manual
rústico amargor devido ao
Leça do Balio, com cevada nacional, mal- desde o campo até à mesa.
lúpulo Nugget transmontano.
tada na minimalteria da Oficina da Cerveja, A gama Super Bock Selecção 1927 com-
e adquire o seu rústico amargor devido ao posta atualmente por três cervejas de for-
lúpulo Nugget transmontano. Com aro- ma permanente - Munich Dunkel, Bavaria
mas a banana e cravinho, revela-se cítri- Weiss, Bengal Amber IPA - é desenvolvida
ca e frutada, destinando-se a harmonizar pelos Mestres Cervejeiros do Super Bock
com pratos condimentados, peixes gordos Group em pequenos lotes na Casa da Cer-
e queijos. veja (uma pequena unidade de produção
A cerveja Portuguese Blond Ale reforça a independente) com matérias-primas de
tendência artesanal a que se tem assistido qualidade e da melhor proveniência. A
nos últimos anos e combina perfeitamente Casa da Cerveja é um circuito de visitas
com pratos típicos do imaginário gastro- aberto ao público num espaço verdadei-
nómico português. É uma edição limitada ramente único situado no Centro de Pro-
que estará disponível em garrafas de 75 cl dução do Super Bock Group, em Leça do
e 33 cl e em barril, nos hipermercados e Balio.

EDIÇÃO 3 • PAIXÃO PELO CERVEJA • 69


CORAL
Com vista a celebrar os 600 anos do
descobrimento do arquipélago da Ma-
deira, a Empresa de Cervejas da Ma-
deira lançou uma edição especial e
limitada da Coral, alusiva aos 600 anos
do descobrimento da Madeira e Porto
Santo. Esta Coral é elaborada 100% de
malte e “todo o processo de fabrico é
diferenciado”, como explicam em co-
municado.
“Para além de ser produzida através de
uma estirpe de levedura reproduzida
e exclusiva da ECM, utilizaram-se in-
gredientes de alta qualidade (malte de
cevada e lúpulo especial) - sem con-
servantes ou adjuntos – associados a
exclusivos métodos de fabrico, o que
lhe confere um sabor refinado como

GRINGO a nossa natureza, marcante como a


nossa história e consistente como a
nossa cultura”, garantem.
Foram produzidas 268 mil garrafas de
“Gringo” é a história de um encontro. O encontro entre dois estrangeiros recém-che- 0,33 cl desta cerveja, uma quantidade
gados a Lisboa, vindos de Paris e Berlim, ambos com uma grande paixão pelas cervejas. que é aproximada ao número de ha-
Após algumas rodadas no bar, nasceu o projeto Gringo: “Que tal fazermos a nossa pró- bitantes do arquipélago da Madeira.
pria cerveja?” A ideia foi lançada e validada. Alguns meses mais tarde, a primeira Gringo A imagem contempla um elemento
saiu da cuba. E existem três: Gringo 99 Problemas Blonde Ale, Frágil Pilsner e Summer característico desta edição limitada,
98 Victory Ale. a cruz da ordem de Cristo (elemento
“Operamos como Gypsy Brewers oferecendo uma série de cervejas artesanais para aque- intrínseco na história de Portugal usa-
les que gostam da qualidade”, garantem. Atualmente já pode desfrutar destas cervejas em do nas velas das naus no tempo dos
pontos de venda selecionados de Lisboa, como: Tambarina, Castro Beer, Sobe e Desce, descobrimentos), pretende transmitir
Crafty Corner ou Beer Station. a força e a garra do povo português.
Para mais informações visite o website gringocraftbeer.com.

70 • PAIXÃO PELO CERVEJA • EDIÇÃO 3


BASTARDÔ!
A família cresceu! Nasceu a cerveja artesanal Bas-
tardô! Royale Beer Bohemian Pilsner, para tornar a
sua vida ainda mais inesquecível.
Mantendo o mesmo espírito e conceito da marca,
esta cerveja foi criada para celebrar a vida! Passo a
passo, dia a dia, em cada momento. Surpreenda e dei-
xe-se surpreender pela cerveja Bastardô! Royale Beer.

PUB PUB

EDIÇÃO 3 • PAIXÃO PELO CERVEJA • 71


must
72 • PAIXÃO PELO CERVEJA • EDIÇÃO 3
have
EDIÇÃO 3 • PAIXÃO PELO CERVEJA • 73
AS MINHAS PAIXÕES

Maria Helena Duarte


fundadora Paixão Pela Cerveja

Cerveja
O ingrediente secreto
> fotografia Nahuel Hawkes

Cozinhar é partilhar afetos através de aromas e sabores. Na minha cozinha pratico-o e adoro explorar os
sentidos, os meus e os dos que me rodeiam, numa descoberta contínua de novas sensações.

Todas as nossas decisões trazem conse- utilização do vinho, prática mais corrente, pois vai refletir-se no resultado final.
quências. E a escolha de uma cerveja, não explorando todo o potencial das cervejas. Tome nota: a cerveja é uma base fantástica
é diferente. Seja para beber ou para cozi- E também pode usá-la para beber en- para marinar a carne, especialmente se a
nhar! Gosto muito de provar cervejas, mas quanto cozinha! quiser assar no forno, e a cerveja é uma
também gosto de explorar esta bebida de É muita vezes o meu ingrediente secreto. excelente opção para neutralizar a acidez
uma forma mais abrangente: na confec- Não sou uma “cozinheira de mão cheia” de alimentos, como o tomate. Pode facil-
ção dos alimentos. mas, entre “as minhas paixões” está, sem mente ser integrada em todos os pratos
Há muitos tipos de cervejas, com múltiplas dúvida, cozinhar. Não pela necessidade de italianos com molho ou base de tomate,
características e cada uma pode emprestar transformar alimentos para usufruto em como lasanhas, ou alguns pratos alenteja-
riqueza a um prato, seja um delicado pe- modo de sobrevivência, mas para explo- nos, ensopados e estufados.
tisco, um elaborado assado ou uma sabo- rar sensorialmente os sabores e entregar Não se esqueça que quanto mais alto for
rosa sobremesa. um pouquinho de mim, em cada prato o teor de álcool, mais forte será o sabor fi-
A cerveja é especialmente eficaz quando de- confecionado e partilhado com a família nal. Por isso, será melhor começar por ex-
sejamos cozinhar carnes, já que o álcool vai e amigos. E, acreditem, que assim a vida perimentar cozinhar com as cervejas mais
permitir que as fibras absorvam muito bem também tem outro sabor. suaves, com bom sabor e que seguramen-
todo o sabor do lúpulo, da cevada e dos ou- A cerveja pode, efetivamente, ser utiliza- te não vão alterar os alimentos.
tros elementos que eventualmente possam da em inúmeras situações, contribuindo Por fim, uma última dica. Como a cerve-
existir na cerveja durante a confecção. sempre como elemento diferenciador: ja contém levedura, é uma boa aliada na
Com a cerveja vai conseguir intensificar massas, pães, carnes, aves, peixes, maris- confecção de bolos, massas e pães. Tam-
sabores, mas também conseguir criar mo- cos e até em massas e doces. bém fica muito bem quando integrada
lhos saborosos, cremes aveludados, cores A primeira recomendação é essencial: não numa polme para fazer, por exemplo, pei-
mais brilhantes. Está na altura de arriscar cozinhe com uma cerveja que não gos- xinhos da horta.
a segurança que habitualmente sente na ta de beber. Opte sempre pela qualidade, Experimente! Vai ver que será um sucesso.

74 • PAIXÃO PELO CERVEJA • EDIÇÃO 3


EDIÇÃO 3 • PAIXÃO PELO CERVEJA • 75
76 • PAIXÃO PELO CERVEJA • EDIÇÃO 3

Você também pode gostar