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Resumo:
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O conceito de paisagem convive desde sua gênese com a difícil e delicada situação
de não ter nem um marco definitivo quanto à data de sua origem nem um local preciso
de início. Estabelecer um conceito que o defina se torna outro problema tal o grau da
abrangência dos grupos de saber que utilizam o termo. Contudo, a paisagem tem uma
história que vem através de evoluções e transformações, estabelecendo referências
que na contemporaneidade entram em uma crise que, tentamos neste artigo refletir o
contexto, além dos possíveis caminhos de continuidade.
Abstract:
The concept of landscape lives since its genesis with the difficult and delicate situation
of not having even a definite mark on the date of its origin nor a precise start site.
Establish a concept that the set becomes another problem as the degree of coverage
of the groups know they use the term. However, the landscape has a history that comes
through evolutions and transformations, establishing the contemporary references that
go into a crisis that, in this article we try to reflect the context, as well as possible
ways of continuity.
Mas também há os que defendem que este conceito apareceu pela primeira vez
na história da humanidade na China, no século IV da nossa era. (BERQUE, 1997) E ainda
os que defendem que as pinturas rupestres, com mais de 30 mil anos A.C. não deixariam
de ser referências às expressões de observação e memória ao retratarem elementos
ritualísticos de caçadas, danças, alimentação, rios, conjunto de montanhas e habitação
(JELLYCOE. G, JELLYCOE, 1995). Do mesmo modo, podemos remontar ao Egito, na
IV dinastia, em 2000 A.C, quando se organizavam jardins ornados com apertes de água
e varandas, “a relação dos povos da Mesopotâmia com a paisagem se evidencia, por
exemplo, no aproveitamento do regime de cheias dos rios, na observação do céu e estrelas,
na construção de jardins.” (MAXIMINIANO, 2004, p. 84).
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Il est vrai que Le paysage occidental, em tant que schéma de vision, est originairement pictural [...] Ce
n’est pás le peinture qui a induit le paysage, mas cette peinture-là qui, inventant um nouvel espace au
Quatroccento, y a inscrit, progressivement et labourieusement, ce paysage-là. Court traité Du paysage
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De fato, frente à imagem de todas as ilhas gregas com o mar mediterrâneo em seu
entorno, suas colinas, seus rochedos e templos reunidos com apuro estético e harmonia,
se torna difícil entender o porquê de não se ter o termo paisagem presente já que
teoricamente estamos imersos em um dos mais belos da história. Mas como sempre é
possível levantar hipóteses, podemos sugerir que no universo da beleza grega, era a razão
e não a emoção que comandava o destino geral de uma sociedade tão inspiradora e
harmônica em sua estrutura e ideal. Portanto, a partir desta premissa podemos suspeitar
de que talvez possa estar na dificuldade em perceber, analisar e interpretar determinadas
cores a inexistência do termo paisagem.
Afinal, é preciso lembrar que cor é cor para cada retina, que cada uma sensibiliza
de um modo ligeiramente diferente em relação à outra, e não à toa, aí reside um dos
grandes problemas ainda existentes com a tecnologia digital das imagens – transferir para
o papel o que vemos na tela. E não podemos esquecer que na Grécia antiga ainda não
havia a amostra da cor azul, a cor predominante entre o céu e o mar em meio às ilhas
paradisíacas.
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Chegamos então à hipótese, plausível, que o mundo grego antigo com toda sua
erudição e harmonia mantinha sua unidade em uma forte estrutura organizacional que não
necessitava de nenhuma paisagem sensível para delinear seus sentidos.
Consequentemente, a pureza de suas ideais era bem traduzida pelo preto, o branco e suas
misturas. E o azul, que apenas surgiria vindo do Oriente, traria junto consigo uma ideia
de decomposição dessa pureza, assim como a de uma nova composição. E a partir da
amostra do azul presente, toda uma nova gama de cores viria a dispersar e fragmentar as
linhas dos desenhos e convocar novos conjuntos de significantes e significados para
ajudarem a cruzar e misturar os novos destinos que fariam surgir enfim o termo paisagem.
Portanto, apesar das inúmeras possibilidades de marco inicial, nos deparamos com
o fato de que a noção de paisagem é um daqueles conceitos que escapam de uma
referência temporal precisa por parecer existir desde sempre. Deste modo a questão do
como a paisagem é compreendida passa a ser o fator decisivo para se estabelecer uma
data de referência inicial de acordo com os estudos e objetivos de cada pesquisa.
cidade esta sempre em movimento, com construções, andaimes, as relações entre trabalho
e o ócio que revela também as relações de poder como descrito por Le Goff, “... a cidade
está crescendo, o trabalho não para. A cidade é o reino da construção. São casas dos
poderosos e ricos.” (GOFF, 1988, p. 41).
Fig 1. Allegoria del Buono e del Cattivo Governo, 1337-1340. A vida na cidade. Os efeitos do Bom
Governo. Afresco (detalhe). Siena, Palazzo Publico. Lorenzetti, Ambrogio.
Mas como se sabe, toda origem somente pode ser analisada e estudada depois de
sua sedimentação e reavaliação histórica. E foi o historiador de arte alemão Erwin
Panofsky, alguns séculos mais tarde, quem melhor teve a consciência do valor histórico
e social da profunda transformação que a perspectiva introduziu no ocidente para então
nomeá-la como uma forma simbólica2 - “forma” por ela estabelecer um novo padrão de
naturalidade para o conteúdo visual geral ocidental; e “simbólica” por saber que ela unia
a base cultural da renascença e o plano de fundo de toda a modernidade.
Este ponto é decisivo não apenas para o conceito de paisagem, pois não foi apenas
uma nova técnica de pintura que estava sendo introduzida. A técnica propiciou não apenas
uma nova estrutura para a ideia de profundidade, mas estabeleceu também um corte
espacial e temporal na estrutura mental de uma época. Afinal com a ampla visão que
distância que o tempo permite, não é difícil perceber que o que de fato ocorreu com a
invenção da perspectiva exata foi uma profunda mudança de paradigma na forma do olhar
ocidental. Um corte de como o mundo era visto até aquele momento, e, o que não pode
deixar de ser relembrado com ênfase, de como ainda vemos nos dias atuais.
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O ensaio A perspectiva como forma simbólica sustenta a tese de que todos os sistemas perspectivos são
historicamente plurais e demonstram como cada um deles se efetua a partir de uma concepção interligada
entre tempo, espaço e visão”. Para tanto o autor reconstrói a história da perspectiva desde o mundo antigo
até o século XVII.
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Região norte da Bélgica, cuja língua praticada era o holandês e o dialeto flamengo.
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A quantidade de nomes representativos na pintura de paisagem é extensa e qualquer lista sempre deixará
de fora vários outros nomes importantes. Sendo assim é importante ressaltar que os nomes que aparecem
neste artigo não elimina a importância histórica de tantos outros. Mas uma extensa lista com explicação
de cada nome provocaria uma fuga do objetivo central do artigo.
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ter na paisagem seu tema principal. Esta característica será rebuscada e exagerada no
Rococó com Jean-Antoine Wateau, séc. XVI, mas encontrará seu ápice na era romântica,
sécs. XVI / XVII quando a abordagem subjetiva e emocional aliada a uma visão de mundo
que destaca a imensidão e a natureza caótica do universo passa a estar presente nas
imagens feitas por nomes como John Constable, Caspar David Friedrich e William
Turner. Este processo de evolução técnica e modulações de representação expressiva
casado com a expansão das ferrovias e a invenção dos tubos de metal para tinta a óleo e
dos cavaletes portáteis vai permitir uma nova visão de mundo no universo impressionista,
séc. XVIII, com Monet, Degas, que se desgarram das instituições acadêmicas e expõem
diretamente ao público um universo que lida com a luz e com as sensações da luz nos
objetos, reunindo os costumes e paisagem urbana assim como dos subúrbios e do interior
da França, quando vai encontrar um extremo de expressividade em Cezánne e Van Gogh.
E a partir de então, abre-se espaço para novas possibilidades de se pensar, imaginar e
representar a paisagem que ecoam até a contemporaneidade, revelando tanto a
popularização do uso deste termo como também, passaram a dar sinais de uma crise.
Contudo, não se pode falar de crise da paisagem isolando-a. Afinal, tudo muda.
Mudam-se os tempos, mudam-se as sociedades e com elas também mudam as paisagens.
Vivemos uma era marcada por grandes avanços e grandes perdas que nos situa em um
momento de certa sensação de insegurança identitária (HALL, 1992, p. 13). Tanto em
função da diluição do sentido de fronteiras como também pelo aumento de desemprego e
empregos precários, atípicos e apenas temporários em vários países. Mas, sobretudo uma
época onde todas as referências foram embaralhadas, pois não se estabeleceu uma clara
ruptura com o que foi, mas também não se estabeleceu uma nova referência com o que se
apresenta como novidade. (HARVEY, 1994, p.43)
acontecimentos embaralhados e, ainda nos falta a distância do tempo para que se possa
proceder uma análise crítica mais abrangente. O que se desenvolve nesta passagem,
segundo o filósofo Gilles Lipovetsky, é o que se pode chamar de uma hipercultura, ou
cultura-mundo:
Ou talvez não seja bem a questão de homogeneização da paisagem, mas sim que
todas se encontram em um processo onde é muito difícil de distinguir o que é natural do
que é artificial nelas, tendo-se como premissa o fato de que a paisagem artificial é a
paisagem transformada pelo homem, enquanto a paisagem natural é a que não foi mudada
pelo homem, como descrito pelo geógrafo Milton Santos:
Sob este aspecto preferimos observar o termo paisagem não sob a ótica de uma
transformação, mas sim sob a ideia de reinvenção, pois na primeira existe uma vaga ideia
de que algo permanece do que antes havia, enquanto que na reinvenção há efetivamente
uma mudança essencial. Mudança essa que acompanha a ideia de que esta era pós-
moderna padece de concretizações sobre o porquê de sua existência para além de ser uma
alta modernidade, ou seja, uma espécie de continuidade histórica, como alguns autores
como Harvey a criticam. Afinal, já estamos em tempo de fazer a curva de abandono dos
meios-termos e assumir a reinvenção em função do que de novo que já se desenhou e
estabeleceu. E neste sentido a cultura também pede por definições para além da ideia –
incompleta, de que esta é uma era de colagens, pois esta permite apenas situá-la em seu
início de descolamento da modernidade, mas não a traduz em suas complexidades e
contradições.
dos grandes arranha-céus envidraçados e das grandes arquiteturas sem personalidade dos
enormes shopping-centers das grandes cidades contemporâneas.
Fig 6. Rhein II_Gursky, 1999. Na imagem original haviam vários prédios que o artista optou por
apagá-los para que melhor traduzisse a sensação desta paisagem de sua infância.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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HARVEY, David. A condição pós-moderna. São Paulo: Alfaya. 1994
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JELLYCOE. G, JELLYCOE, S. El paysaje Del hombre; La conformacion Del entorno desde La
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LE GOFF, Jacques. Por amor as cidades. São Paulo: Ed. Unesp. 1997
LIPOVETSKY, Gilles SERROY, Jean. A cultura-mundo – resposta a uma sociedade
desorientada. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
MAXIMINIANO, Liz Abadi. Considerações sobre o conceito de paisagem. In:______ Revista
RA E GA. Curitiba: Ed. UFPR, 2004.
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SANTOS, Milton. Metamorfoses do espaço habitado. São Paulo: Hucitec, 1997.