Você está na página 1de 1

MALFORMAÇÕES

CONGÊNITAS ASSOCIADAS AO USO DA


TERAPIA ANTIRRETROVIRAL EM GESTANTES INFECTADAS
PELO VÍRUS DA IMUNODEFICIÊNCIA HUMANA SEGUIDAS NO
CAISM DE 2016 A 2020
Renata Berlinger Saraiva; Dr.ª Dafny Soares Leitão; Profa. Dr.ª Adriane Maria Delicio; Prof.ª Dr.ª Helaine
Maria Besteti Pires Mayer Milanez
INTRODUÇÃO - A terapia antirretroviral (TARV) na gestação mudou muito nas últimas décadas, focando
segurança materna e fetal e redução da transmissão vertical (TV). Existem atualmente diferentes esquemas que
podem ser utilizados no tratamento de gestantes vivendo com HIV/AIDS. Embora a utilização de TARV na
gravidez seja frequente, efeitos referentes a possíveis consequências da exposição materno-fetal a esses
medicamentos ainda não estão plenamente elucidados, principalmente no que diz respeito às malformações
congênitas. Nesse contexto, diversos estudos clínicos têm sido conduzidos para analisar a teratogenicidade
relacionada à exposição de gestantes à TARV.
OBJETIVO - Avaliar ocorrência de malformações fetais em uma coorte de gestantes HIV positivas em uso de
TARV acompanhadas no Serviço de Obstetrícia do CAISM/UNICAMP entre 2016 e 2020.
METODOLOGIA - Estudo observacional de coorte retrospectivo. Os dados foram retirados dos prontuários das
pacientes e seus respectivos recém-nascidos. Foi feita uma análise descritiva das características sócio-
demográficas, pré-natal, tipo de TARV, ocorrência de malformações fetais e possível interferência da TARV.

RESULTADOS - Casuística de 147 pares mãe-filho, com 152 recém-nascidos. Iniciaram TARV pela primeira vez na
gravidez 28% das pacientes. Engravidaram em uso de TARV 56% das mulheres. O uso de TARV durante a
gravidez aconteceu em todos os casos; 78% dos casos possuíam boa adesão. Apresentaram pelo menos uma
infecção no decorrer da gravidez 120 gestantes e em 107 houve alguma complicação. 79% das gestantes
realizaram o Pré-Natal no CAISM e 20% em outro local. A carga viral no último exame antes do parto foi
indetectável em 81% dos casos e o tempo médio de exposição à TARV durante a gravidez foi de 30 semanas.
Houve transmissão vertical confirmada em 1.3% das crianças nascidas, correspondendo a dois casos. Dentre os
recém-nascidos, 22% nasceram prematuros, 18% eram pequenos para a idade gestacional, 18% apresentaram
patologia neonatal, 17% malformação congênita e 1% foi a óbito.
Terapia Antirretroviral na gestação
TOTAL (n=147)
EFEITO COLATERAL IP (n=62) II (n=33) ITRNN (n=43) IP + II (n=9)
N % N % N % N % N %
Pequeno idade gestacional 10 16 6 17 10 22 1 11 27 18
Prematuridade 12 19 9 26 13 29 - - 34 22
Patologia neonatal 8 13 7 20 9 20 3 33 27 18
Malformação congênita 15 24 3 9 5 12 1 11 25 17
Óbito neonatal - - 1 3 - - - - 1 1

Foram observadas 25 malformações correspondendo a uma taxa de 17% dos nascidos vivos: 7 neurológicas
(microcefalia, macrocrania, hidrocefalia), 2 osteoarticulares (artrogripose de membros superiores, pé torto
congênito), 3 cardiovasculares (comunicação interventricular), 2 gastrointestinais (atresia de esôfago, ânus
imperfurado) e 11 malformações menores. Houve 1 caso de óbito neonatal.
Terapia Antirretroviral na gestação
TIPO PATOLOGIA NEONATAL E TOTAL (n=147)
MALFORMAÇÃO CONGÊNITA IP (n=62) II (n=33) ITRNN (n=43) IP + II (n=9)
N % N % N % N % N %
Patologia neonatal 8 13 7 20 9 20 3 33 27 18
Neurológica 2 3 2 6 2 4 1 11 7 5
Osteoarticular - - 1 3 - - - - 1 1
Pulmonar 4 6 2 6 6 13 1 11 13 9
Cardiovascular 1 2 - - 2 4 - - 3 2
Gastrointestinal 2 3 - - 1 2 - - 3 2
Endócrina 2 3 2 6 1 2 - - 5 3
Infeccciosa - - 2 6 4 9 1 11 7 5
Genética 1 2 1 3 - - - - 2 1
Malformação congênita 15 24 3 9 5 12 1 11 25 17
Neurológica 3 5 1 3 3 7 - - 7 5
Osteoarticular - - 2 6 - - - - 2 1
Cardiovascular 2 3 - - - - 1 11 3 2
Gastrointestinal 2 3 - - - - - - 2 1
Mallformação menor 8 13 - - 2 5 - - 11 7

CONCLUSÃO - A taxa de malformações nessa coorte de mulheres foi 17%, porém a maioria sem maior
gravidade. Não foi encontrada relação entre os diferentes esquemas de TARV e patologias neonatais.
Também não se encontrou associação entre uso de um determinado esquema de TARV e seu tempo
exposição com malformações congênitas. A terapia antirretroviral durante o período gestacional, apesar de
efeitos como restrição de crescimento e prematuridade, melhora de maneira significativa o risco de TV e a
qualidade de vida dessas mulheres, reforçando a necessidade de sua utilização.

REFERÊNCIAS: 1. UNAIDS/WHO (JOINT UNITED NATIONS PROGRAMME ON HIV/AIDS / WORLD HEALTH ORGANIZATION). Global
factsheets 2018. Available at [http://aidsinfo.unaids.org/], 2020. 2.CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION. HIV and Pregnant
Women, Infants, and Children. Available at [https://www.cdc.gov/hiv/group/gender/pregnantwomen/index.html], 2020.œ. 3. Brasil.
Ministério da Saúde. Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Prevenção da
Transmissão Vertical do HIV, Sífilis e Hepatites Virais. Brasília. 2018.

Você também pode gostar