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TEIXEIRA, Régis Alexsandro Taveira.

GINÁSTICA ARTÍSTICA E O MUNDO DO CIRCO NA ESCOLA

Artistic Gymnastics and the circus world at school

Régis Alexsandro Taveira Teixeira


CIEP Thomas Jefferson1

RESUMO
O artigo traz os conteúdos de Ginástica Artística e Rítmica como possibilidade de
serem trabalhadas nas aulas de Educação Física, de maneira que as experiências
dos movimentos naturais da criança se expressem, tendo como objetivo analisar se
as experiências, sensações e emoções conseguiram conversar entre si nas falas
verbais e corporais dos 250 estudantes, dos primeiros, segundos e terceiros anos do
Ensino Fundamental, além da classe especial. A escola escolhida foi um CIEP do
Município do Rio de Janeiro, Realengo, tendo ao redor três comunidades “carentes”.
Estas sofrem com questões de facções e brigas verbais, e às vezes físicas, entre as
mesmas ligadas ao baixo conhecimento e consciência cultural e por descaso
político. A metodologia baseia-se na pesquisa participativa que prevê o
acompanhamento e registros do trabalho. Os resultados indicam que as atividades
executadas trazem as diversas expressões corporais e memórias relacionadas às
suas experiências do mundo da criança, principalmente, quando ligadas ao circo.

Palavras-chave: Movimentos Naturais; Criança; Lúdico; Práticas Corporais;


Sensações e Experiências.

Abstract
The article brings the contents of Artistic and Rhythmic Gymnastics as a possibility to
be worked in Physical Education classes, so that experiences of the child's natural
movements express themselves, thus aiming to analyze if the experiences,
sensations and emotions were able to talk to each other in verbal and body speech
of the 250 students, first, second and third years of elementary school, as well as the
special class. The school chosen was a CIEP from Rio de Janeiro Municipality,
Realengo, with around three “needy” communities. They suffer from faction issues
and verbal quarrels and sometimes get caught up in the low knowledge and cultural
awareness and political neglect. The methodology is based on participatory research
that provides monitoring and work records. The results indicate that the activities
performed bring the various body expressions and memories related to their
experiences of the child's world, especially when linked to the circus.

Keywords: Natural Movements; Kid; Ludic; Body Practices; Sensations and


Experiences.

1
Mestre; regisalexsandro.ufrural.rj@gmail.com; Professor.

Temas em Educação Física Escolar, Rio de Janeiro, v. 4, n. 2, ago./dez. 2019, p. 60-76.


Recebido em: 15/08/2019
Publicado em: 30/12/2019

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ARTIGOS ORIGINAIS

INTRODUÇÃO

A ginástica artística e rítmica tem sido uma possibilidade de ser vista com
outros olhares pedagógicos dentro do cotidiano escolar, e as mesmas quando
trabalhadas na escola pode sofrer uma repercussão do conteúdo muito bem aceita
pelos estudantes, que em sua maioria preferem atividades com bola, principalmente,
o futebol e o queimado. Pois até uma década atrás a ginástica artística e rítmica
eram pouco difundidas em nossa sociedade, mas com os Jogos de Inverno de
Ginásticas e as Olimpíadas tornou as mesmas mais populares e com agrado social.
Schiavon & Nista-Piccolo (2007) nos mostram em pesquisas que o desconhecimento
sobre como aplicar a Ginástica pelos professores dificulta o seu desenvolvimento em
ambiente escolar, pois os mesmos possuem dificuldades em visualizar como a
modalidade pode contribuir em meio a vida dos estudantes. As atividades com bolas
é uma das grandes problemáticas com relação à Educação Física Escolar,
desmitificar que a mesma é somente trabalhar com esportes e estes com bola, mas
sim possibilitar aos estudantes vivências e experiências corporais diversas, mostrar
novas possibilidades de se expressarem e o prazer em praticar algo novo.

Correr, saltar, pular e até mesmo rolar, são movimentos naturais que já fazem
parte do vocabulário corporal de cada criança. O ambiente no qual se realizou as
atividades propiciou uma boa desenvoltura de tais movimentos, pois os alunos estão
acostumados a subir nas árvores da escola, explorar o gramado com suas piruetas,
giros, corridas, saltos e até mesmo aberturas de pernas, sem, contudo, um
acompanhamento pedagógico ou direcionamento profissional. Porém, o mais
importante era juntar tais expressões pré-conhecidas e desenvolvidas pelos
estudantes em ambiente do brincar, do lúdico e da infância ao educacional, com
técnicas de execução no qual pudessem todos e todas se expressarem, sem se
machucar ou ser excluído pela execução dos movimentos.

Pensou-se, ao trazer a ginástica como conteúdo escolar, nas diferentes


possibilidades de se expressar, porém com respeito aos diversos corpos, e não a
busca da perfeição e das execuções polidas, pois a escola atualmente com
pensamento de inclusão e respeito à diversidade não é o local para treinamento,
mas sim o do se deixar participar de forma lúdica como troca de experiências e
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conhecimentos. É o aprender na diversidade, no tolerar e respeitar o outro, o do


saber escutar e ser escutado.

Ao executar a pesquisa de campo ao longo dos anos de 2017, 2018 e 2019, e


perceber como era feita a apresentação aos alunos do conteúdo ginástica artística e
rítmica, foi necessário trazer-lhes um pouco da história do circo e sua ludicidade e
cooperação no mundo das crianças. Pois no circo diversos elementos artísticos e
ginásticos são trabalhados diariamente, mas sempre com segurança e com
experiências de vida.

Logo não podíamos deixar de mostrar-lhes que nas brincadeiras de crianças


tais elementos também se mostravam presentes, mas sem um acompanhamento.
Sendo assim, contar-lhes por que o brincar é tão importante era fundamental, mas
que o mesmo precisa ser direcionado no ambiente escolar de maneira que
possibilite a experiência para todos e não só para os que têm um desenvolvimento
psicomotor mais apurado.

Sendo assim, começou-se em 2017 a intervenção contando-lhes sobre a


infância de um menino que tinha ao anexo de sua casa um enorme terreno, local
que viveu até os sete anos de idade, com contato direto ao mundo do circo. Menino
de uma cidade do interior do Rio Grande do Sul, Rio Grande, que fica
aproximadamente a quatro horas de Porto Alegre, na qual ficou até os dezoito anos
de idade antes de me mudar pro Rio de Janeiro, cidade grande, tal história que nos
anos seguintes foi relembrada pra alguns e contada pela primeira vez para outros.

Neste terreno sempre havia um Parque de Diversões, com seus brinquedos


infantis e radicais, além das brincadeiras de tiro ao alvo, de palhaços e outras que
lembravam o circo, aos seus espetáculos que remetiam muito aos elementos de
ginástica artística e rítmica. Circo este que dividia espaço com o parque e que
possuía muitas coisas divertidas, como: o Globo da Morte, o Mágico, “os Palhaços”,
os Malabaristas, e na época os belos animais (elefante, leão, girafa e macacos).

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ARTIGOS ORIGINAIS

A proposta de trazer a história do circo para as crianças foi por questão de


estar próximo ao mundo da criança e que dentro do mesmo poderia servir de
espelho com a modalidade de ginástica apresentada e explorada pelos artistas.

Os estudantes do CIEP Thomas Jefferson, do primeiro ano do ensino


fundamental até o terceiro ano ficaram encantados, pois os circos atuais não
possuem animais devido às leis de proteção aos mesmos. Alguns deles nunca viram
animais tão grandes como o elefante ou tão poderoso como o leão, e outros já
tiveram tais possibilidades no Jardim Zoológico, porém atrás de grades e a uma boa
distância.

No início de cada ano letivo de 2017, 2018 e 2019 propôs-se aos estudantes
os conteúdos Ginástica Artística e Rítmica e agregaram-se os elementos
trabalhados no circo, para que as atividades fossem vividas de maneira lúdica e
prazerosa, o que acabou culminando em um dia de apresentações dos trabalhos
realizados pelos mesmos para a escola inteira em cada ano letivo.

Sendo assim pensou-se em não deixar tais vivências e trabalho pedagógico


perdido nas memórias dos professores, comunidade escolar e de nossos
encantadores estudantes, mas sim escrever sobre o assunto, até mesmo como
forma de incentivar novas possibilidades a serem trabalhadas em aulas de educação
física escolar.

Logo, se propôs analisar se as experiências, sensações e emoções


conseguiram conversar entre si nas falas verbais e corporais dos 250 estudantes
com a proposta de prática pedagógica das Ginásticas Artística e Rítmica na escola.

No que se refere à seleção dos sujeitos ocorreu por critérios de conveniência


e particularidade, os quais se caracterizam: (a) na existência de uma relação prévia
com os envolvidos na pesquisa; e (b) de consentirem com o procedimento da
pesquisa participativa.

A pesquisa participativa é descrita como um “conhecimento coletivo do Mundo


e das condições de vida de pessoas, grupos e classes populares.” (BRANDÃO,
1990, p.10). Logo, foi necessário ao professor da pesquisa se colocar no ambiente a
ser pesquisado, de maneira que possibilitasse a vivência dos sujeitos, mas que
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desse a oportunidade das expressões corporais e falas serem vistas e ouvidas,


assim tornando as mesmas relevantes para a sociedade.

Isto facilitou o relacionamento com os sujeitos da pesquisa e representou um


ganho quanto ao processo de ambientação ao espaço de trabalho. Dessa forma, a
amostra se constituiu assim: por sala de aula/pátio escolar do professor de
Educação Física do Ensino Fundamental, com as turmas de primeiro, segundo,
terceiro ano escolar e classe especial; inserido no contexto da rede pública de
ensino do Município do Rio de Janeiro; contando com aproximadamente duzentos e
cinquenta (250) alunos/as, sendo (110) do gênero masculino e (140) do gênero
feminino; aplicando e desenvolvendo práticas de Ginástica Artística e Rítmica e
experiências vividas ligadas aos movimentos naturais.

Para a dimensão qualitativa da pesquisa baseou-se em uma busca


bibliográfica, uma análise de comportamentos no cotidiano e prática escolar, além
de observação das aulas, notas de campo e registro fotográfico. Os instrumentos
trabalhados foram construídos tendo como base a revisão teórica referente à
Ginástica na escola, o lúdico, a cooperação, as experiências e as vivências como
meio de aprendizagem.

Sendo assim, buscou-se perceber também como as atividades de Ginástica


Artística e Rítmica são vivenciadas por todos os estudantes do primeiro ano ao
terceiro do Ensino Fundamental. Desta maneira pensaram-se várias questões que
poderiam estar presente em nossas práticas e cabíveis de serem descritas e
analisadas, como: se existem diferenças de percepções entre os gêneros masculino
e feminino; se os estudantes em sua maioria conseguiram desenvolver as atividades
artísticas e rítmicas até o final; se as experiências, sensações e emoções
conseguiram conversar entre si nas falas verbais e corporais dos estudantes.

Com o avanço das práticas e interações em meio ao ambiente escolar tanto


pelos estudantes quanto pelos demais professores e corpo escolar é que
percebemos a relevância do trabalho e pesquisa. Esta que está na possibilidade de
se produzir conhecimentos sobre as ações tomadas para com a educação, dentro
de uma perspectiva lúdica, a do brincar, levando em consideração a inclusão social,
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o respeito ao próximo, a aceitação aos diferentes tipos de sujeitos. Saber o que


realmente se efetiva no ambiente escolar, como: o ensino que é passado, como se
abordam determinados temas e como a reflexão dos alunos é feita por meio do
processo ensino-aprendizagem, dentre outras é de suma importância para a
formação dos nossos estudantes e para reconstrução do professor.

Nosso trabalho de campo, tendo como base a inspiração na metodologia da


pesquisa participante, realizou-se, durante um período de um ano aproximadamente,
observações de campo. Tiveram como registro de campo as fotografias e as
anotações de desenvolvimento das atividades, que registraram as sensações e
emoções de alguns estudantes, dificuldades e sucessos dos mesmos na
transposição de suas barreiras, que possibilitaram análises para o artigo.

O período no qual se desenvolveram as atividades foi entre os meses de


Fevereiro, Março, Abril e Maio de 2017, Março, Abril, Maio e Junho de 2018, e
Fevereiro, Março, Abril e Maio de 2019, abrangendo dez (10) turmas completas de
Educação Física do Ensino Fundamental do primeiro, segundo e terceiro ano
escolar, além da classe especial, escolhidas por serem as turmas do professor em
questão.

O conteúdo de Ginástica Artística e Rítmica na escola busca a possibilidade


de novos conhecimentos, exploração da criatividade e do pensamento, a
consciência e expressão corporal, em busca de cidadãos críticos. Pois educar é
assumir um compromisso com a formação de um sujeito em sua integralidade,
respeitando os fatores cognitivos, afetivos, sociais, econômicos, culturais e físicos.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Ludicidade por meio das expressões corporais, emoções e experiências tendo


como base estudos de Larrosa
Para Larrosa (2002) a ludicidade reafirma a essência de integração e
sociabilidade do ser com outros seres.

Sendo assim, em nossa prática escolar com a ginástica artística e rítmica


trabalhou-se várias questões sociais, como: a capacidade do indivíduo lidar com
problemas de seu cotidiano, adaptar-se a mudanças, superar obstáculos ou resistir à

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pressão de situações adversas, pensar o corpo em seus variados movimentos como


maneira de educar na escola e a busca de um ser integral. Ser humano integral
constituído de corpo e mente e influenciado por agentes sociais, como: religioso,
econômico, variados pensamentos e crenças, e afetividade.

Por meio de atividades de Ginástica Artística e Rítmica percebe-se uma visão


diferente da educação, visão que tem os movimentos naturais humanos como ponto
de partida para novas possibilidades de expressões corporais das mais diversas.

As práticas de Ginásticas Artística e Rítmica a partir de novas vivências


propõem a ludicidade e a exploração da movimentação do corpo, construindo novas
reflexões, que buscam ampliar horizontes e análises, chegando a respeitar o
indivíduo como ser integral que possibilita novos olhares e pensamentos sobre os
mesmos.

Larrosa (2002) acredita que o lúdico, um dos integrantes fundamentais do


universo da criança, é pensado de forma a respeitar a sua presença na prática
docente. Logo, é necessário perceber a importância da vivência lúdica no
desenvolvimento da criança.

Para Mattos e Neira (2003) as expressões corporais nas aulas de Educação


Física se dão pela diversidade de nossos estudantes, sabendo que os movimentos
são construídos desde a Educação Física Infantil e vem ganhando formato ao longo
dos anos escolares.

Os autores acima acreditam que a cultura de cada sociedade, na qual nossos


estudantes estão inseridos, contribui para a construção dos pensamentos e das
expressões corporais.

Na presente pesquisa sobre os elementos de ginásticas tem a ver com as


percepções, elementos naturais, emoções, experiências, expressões corporais e
vivências. Sendo assim, segundo Larrosa (2002), o educador deve ter um olhar
diferenciado para essas questões, razão pela qual se buscou explorar os
movimentos do corpo, os sentidos humanos e vivências diferenciadas da prática

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pedagógica das aulas de Educação Física Escolar, por meio de atividades e


elementos das Ginásticas Artística e Rítmica.

Para Larrosa (2002) é importante a consciência do seu próprio corpo, de suas


possibilidades por meio do movimento e sentidos, ultrapassando a ideia apenas de
movimento repetitivo, que é ampliada para os domínios relativos à percepção sobre
o corpo em movimento, que supõe suas relações com a dimensão da vida e o
desenvolvimento do ser humano por meio das emoções, sensações e sentidos.

Cooperatividade em atividades artísticas e rítmicas na Educação Física

Alianças das sociedades escravizadas, as quais tinham comum desejo, a


sobrevivência em terras desconhecidas. Resistência afirmada pela cultura negra em
seus atos para se manter firme. Pensar em cooperatividade é pensar em
comunidade, em diversidade, em grupo, em resistir para permanência de seus
pares.

Sendo assim, para desenvolver uma prática pedagógica de Educação Física


com atividades artísticas e rítmicas é necessário pensar em cooperatividade. Logo
os jogos cooperativos são base para tal pedagogia.

Alguns estudiosos, como Ted Lentz na década de 1950, nos Estados Unidos,
Terry Orlick, no Canadá, no final da década de 1970 e Fábio Otuzi Brotto, no Brasil,
na década de 1980, pensaram na possibilidade de ser trabalhado em sociedade a
cooperatividade, principalmente, para se contrapor ao avanço da competição social
e de mercado de trabalho, nas sociedades de economia capitalista.

Desta forma, valores que são necessários para a prática das ginásticas, como
pensar no próximo, disponibilizar a vez, companheirismo, o trabalho em equipe e
outros, acabam se perdendo por causa da necessidade da produção de mercado, de
mostrar serviço, competência, ser e estar melhor que os demais em sociedade,
contribuindo para a degradação de valores em sociedade.

Sendo assim, tais pensadores perceberam que a educação estava e é


utilizada como meio para construção de pensamento social ou manipulação da
mesma, de forma a atenderem as necessidades vigentes de tal economia.

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Corroborando, Brotto (2001) afirma que cooperar e competir são comportamentos


ensinados-aprendidos culturalmente, logo é papel do professor atuar no sentido de
modificar a realidade competitiva no interior da escola.

Utilizar a cooperação e/ou os jogos cooperativos em meio ao ambiente


escolar, nas aulas de Educação Física, como nas práticas de Ginástica Artística e
Rítmica, é dar novas possibilidades de expressões corporais, de novas construções
de pensamentos que não sejam impostas por uma política capitalista.

Segundo Orlick (1987) pensar em cooperatividade nas aulas é pensar em


uma sociedade que caminha em prol do coletivo, da ajuda mútua, é pensar em todos
cooperarem para que todos cheguem a ganhar, todos consigam atingir um objetivo
em comum de sociedade ou de seus pares. Desta maneira, o medo e o sentimento
de fracasso acabam sendo eliminados.

De acordo com Soler (2005) quando se faz um trabalho cooperativamente,


cada indivíduo é responsável por contribuir com o resultado bem-sucedido da
atividade e assim, cada um passa a ser co-responsável e co-participante.

Brotto (2001) diz que pensar em cooperatividade é possibilitar que não só os


que sempre participam sejam escutados, mas principalmente aqueles que nunca
são vistos. Nesta nova dinâmica, novas mentes e contribuições podem surgir, ser
ouvidas e expostas, pois tal atividade ou jogo não dependerá de uma mente
específica, uma específica habilidade, mas sim da contribuição de todos os que
fazem parte do grupo, mesmo que não ativamente no dia a dia.

Ainda Brotto (2001) afirma que trabalhar com atividades educativas com o
intuito de cooperação é trabalhar as competências compartilhadas, necessárias para
a melhoria da qualidade de vida, pois desenvolvem atitudes de empatia, de
cooperação, de estima e de comunicação.

Sendo assim, trabalhar com a Ginástica Artística e Rítmica na escola


possibilita que a cooperatividade esteja mais presente no cotidiano dos estudantes,
de maneira que pensem no coletivo para objetivos em comum, que trabalhem em
grupo e ajudem os que possuem maiores dificuldades nas atividades.
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Segundo Brotto (2001) a cooperação possibilita o processo de interação


social, no qual os objetivos são comuns, as ações são compartilhadas e os
benefícios são distribuídos para todos. Enquanto a competição possibilita o processo
de interação social, no qual os objetivos são mutuamente exclusivos, as ações são
isoladas ou em oposição umas às outras, e os benefícios são concentrados somente
para alguns.

Ainda de acordo com Brotto (2001) algumas diferenças são estabelecidas


entre situações cooperativas e situações competitivas, que seguem abaixo:

Nas situações Cooperativas os indivíduos acreditam que a realização de seus


objetivos é, em parte, consequências das ações dos outros participantes; os
mesmos são mais sensíveis às solicitações dos companheiros; valorizam mais as
ações dos companheiros e a ajuda mútua é mais frequente.

Já nas situações Competitivas os indivíduos consideram que a realização de


seus objetivos é incompatível com a realização dos objetivos dos demais membros;
os mesmos são menos sensíveis às solicitações dos companheiros; não estão
preocupados em produzir efeitos positivos sobre seus companheiros de grupo, mas
de mostrarem-se bons para seu próprio benefício e/ou ego.

Em situações de atividades competitivas, a coordenação de esforços é


menor, pois se joga contra os outros, executa-se as atividades de maneira mais
individualista, logo o percentual de funções coletivas é menor. O jogo tem por
objetivo de vencer e eliminar o adversário, portanto os menos habilidosos
normalmente são excluídos e apenas os mais habilidosos são vistos. Sendo assim,
as atividades ginásticas são uma estratégia para quebrar um pouco o pensamento
de competição e o de ganhar o tempo todo.

Deste modo, pensar em atividades que explorem as diversidades existentes


em meio escolar e em nossa sociedade é pensar no coletivo, no bem comum, onde
todos participam e todos ganham de maneira inclusiva e integradora. Sendo assim,
a intercomunicação de ideias, a coordenação de esforços, a amizade e o orgulho de
pertencer a um determinado grupo podem desaparecer em situações competitivas,

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pois acaba priorizando a exclusão dos menos habilidosos ou os que não possuem
as mesmas características físicas e motoras.

Ao trabalharmos com a Ginástica Artística e Rítmica na escola de forma lúdica


e com pensamento cooperativo, podemos é possível desenvolver habilidades
intelectuais – imaginar, perguntar, concentrar, decidir e adivinhar; habilidades
interpessoais – encorajar, explicar, entender, retribuir e ajudar; habilidades físicas –
falar, ouvir, observar, coordenar e escrever; habilidades pessoais – alegria,
compreensão, discrição, entusiasmo e sinceridade; por fim em relação aos outros –
respeito, apreciação, paciência e o apoio.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

As dificuldades dignas de relato dizem respeito ao organizar e ter a atenção


inicialmente das crianças e suas colaborações, pois a princípio as crianças,
principalmente as maiores, acreditam que a disciplina de Educação Física escolar é
apenas futebol e atividades com bolas. Contudo, ao decorrer da introdução dos
elementos artísticos – rolamento de frente e trás (cambalhotas), estrela (estrelinhas),
parada de dois apoios no chão (bananeira), parada de três apoios no chão, ponte,
rondada, abertura de pernas, a vela e pirâmides diversas, além da utilização de
bolas de meia, bastões e arcos da ginástica rítmica – fizeram com que a proposta
fosse bem aceita.

Tentou-se absorver ao máximo como tais questões relativas às vivências,


experiências, emoções, sentimentos, conhecimentos e consciência do próprio corpo
eram desenvolvidas e percebidas pelos estudantes e/ou pelo professor por meio dos
elementos ginásticos.

Encontrou-se ainda algumas dificuldades de alguns estudantes em suas


participações, principalmente, decorrido as faltas – estes que diariamente convivem
com as dificuldades que englobam a vida social dos mesmos. Alguns poucos
estudantes por realmente quererem ir contra ao que o professor propõe por este não
atender as suas “vontades”, como a de jogar futebol, se opuseram, fazendo
“pirraça”. Apesar de um quantitativo mínimo de estudantes não participativos, que às

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vezes desestabilizavam o andar e desenvolvimento das atividades, não gerou


prejuízo durante a coleta de dados.

Sendo assim, buscou-se na proposta das ginásticas possibilidades de novas


vivências e ou experiências as quais trabalhassem não somente as expressões
corporais pela ludicidade, mas que trouxesse à tona as emoções e sensações nos
conhecimentos já existentes e seu aperfeiçoamento.

Nas práticas com a Ginástica Artística e Rítmica nas aulas de Educação


Física e na culminância com a temática de circo na Escola, possibilitou certificar-se
que o indivíduo se constrói dia a dia, que o estudante toma a consciência do ser
integral em meio à sociedade, por meio de suas práticas, vivências e interações.

Os elementos artísticos foram divididos a princípio em cinco aulas, desta


maneira cada estudante poderia explorar os elementos de forma agradável e sem
causar danos ao corpo ou desânimo. O professor poderia trabalhar de maneira
pedagógica cada elemento, primeiramente em grupos de cinco estudantes em cada
tatame e depois individualmente, inclusive com os que tivessem mais dificuldades
em participação e execução.

Na primeira aula foi passado o rolamento para frente e atrás e o avião, na


qual os estudantes em pequenos grupos de cinco fariam os elementos após
demonstração do professor. Ao montar os grupos foram trabalhadas algumas regras
sociais: como não bater, empurrar, trapacear e principalmente respeitar o outro, dar
oportunidades de novas amizades e de não excluir nenhum colega.

Os rolamentos muitas vezes eram executados de forma lúdica, agradável e


com sorrisos nos lábios das crianças, mas o professor precisava ficar muito atento
para não se machucarem, pelos empurrões, puxões de pés ou mãos pelos demais
colegas. O rolamento pra frente foi um elemento demonstrado pelo professor e
executado pelos alunos, já o rolamento para trás somente foi demonstrado, mas o
professor achou melhor que não fosse praticado por segurança.

Na segunda aula o professor retomou os elementos antes trabalhados e


introduziu outros elementos, a saber: a ponte e a vela. Os novos elementos formam

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praticados de forma mais agradável que os rolamentos, pois os mesmos são um


pouco perigosos e alguns estudantes possuem medo de executá-los.

A vela e a ponte foram elementos sequenciais de forma pedagógica, pois


ambos praticados no chão facilitaram a base e sustentabilidade pelos estudantes.

As aulas normalmente eram pensadas no pátio fechado, mas às vezes os


estudantes pediam pra que as mesmas fossem feitas na quadra ou na grama, pois
isto facilitaria seus momentos livres após a prática de ginástica. Após os elementos
serem executados pelos grupos de maneira adequada, prazerosa e sem nenhum
dano aos colegas, o professor deixava as crianças um pouco mais livres para
subirem nas árvores, brincarem com bolas, correrem na grama com seus piques ou
até mesmo demonstrarem elementos que ainda não tinham sido trabalhados como a
estrela.

Na terceira aula pode-se aproveitar que as crianças vinham já executando a


estrela e apresentou-se pra turma de maneira pedagógica, mostrando que todas
elas tinham a possibilidade de aprender e executar brincando. Após isto foi
apresentado a rondada, que é uma sequência da estrelinha, mas a mesma só foi
praticada pelos alunos que o professor teve confiança em não se machucarem por
imprudência.

Na quarta aula o professor já começou a introduzir músicas nas aulas para


tornar as atividades mais agradáveis e lúdicas, além de possibilitá-los a vivência das
músicas que provavelmente estariam presentes em futuras coreografias no dia da
culminância, com a temática de circo. Nesta, o professor demonstrou a parada de
dois apoios no chão (bananeira) e a parada de três apoios no chão, coisas que
algumas crianças já tinham noção de como fazer, porém precisavam ter mais
concentração e conhecimento de seus próprios corpos.

Por fim, passou-se aos estudantes a abertura de pernas e pirâmides diversas,


nas quais os estudantes puderam brincar de forma lúdica e aprender por meio dos
movimentos e criatividades, sem agressividade de forma cooperativa, dando espaço

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para que todos tivessem participação sem acusações ou xingamentos. Incentivando


até aos que normalmente ficam isolados e aos que não tinham tanto contato.

Ao longo das atividades educativas e elementos de ginástica artística e


rítmica podemos perceber que os corpos se comportam das mais diversificadas
maneiras, principalmente, quando comparado aos gêneros masculino e feminino. As
percepções e possibilidade de aprendizado e execução dos elementos são
múltiplos, por exemplo: a flexibilidade pelas meninas em executarem aberturas de
pernas e a ponte e ou rondada quando em posição de quatro apoios invertido; já os
meninos mostraram-se com maior força que as colegas na parte superior do corpo,
com sustentações do seu próprio corpo ou até mesmo ao levantarem os demais
colegas. Isto indica que nossos estudantes são seres sociais e culturais que sofrem
influências a todo o momento do ambiente, pois com treino ambos poderiam chegar
próximos aos movimentos do outro grupo, que os conteúdos são possíveis a todas
as crianças desde que as possibilidades lhes sejam dadas de forma igual.

Após dois meses aproximadamente das atividades pode-se construir algumas


coreografias e ensaiá-las como parte do conteúdo Ginástica Artística e Rítmica,
Dança e Expressões Corporais que fizeram parte do planejamento anual do
professor em 2017, 2018 e 2019. Todas as músicas e coreografias fizeram parte de
um dia de culminância na escola nos respectivos anos letivos, nos quais puderam
apresentar seus trabalhos para os próprios colegas de mesmo ano, assim como
para toda a escola, de forma a ter uma interação com todos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É importante ser dito que durante as atividades as crianças brincaram de


forma lúdica, prazerosa, sem agressividade, em grande maioria de forma
cooperativa, dando espaço para que todos tivessem participação sem acusações ou
xingamentos. Buscavam dar incentivo até mesmo aos que normalmente ficam
quietos, a parte dos grupos ou mesmos excluídos, e que no final todos brincaram,
deram-se a oportunidade de novas experiências e vivências de novos
conhecimentos e se divertiram.

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Podemos ver atualmente as atividades físicas, a própria educação física e os


elementos de ginástica artística e rítmica como uma fonte de vivências culturais e
corporais, que de acordo com as diversidades de corpos de nossos estudantes
resultam em variadas percepções de imagens corporais.

A leitura do referencial teórico possibilitou uma interação maior com nossos


estudantes, podendo ver características e evolução dos corpos em suas expressões
corporais postos em movimento, nas práticas de ginástica artística e rítmicas nas
aulas de educação física.

O objetivo principal da pesquisa foi possibilitar experiências de movimentos


naturais da criança por meio da Ginástica Artística e Rítmica em todos os estudantes
do primeiro ano ao terceiro do Ensino Fundamental e da classe especial. Sendo
assim, uma possibilidade pedagógica a ser trabalhada em nosso cotidiano escolar.

Todas as atividades estavam relacionadas aos elementos naturais do ser


humano desenvolvidas em aula por meio dos elementos das ginásticas. As
atividades de elementos de ginásticas, como rolamentos, vela, ponte, estrela, avião
e pirâmides, puderam ser executados por todos os estudantes envolvidos com boa
coordenação motora e de forma lúdica.

Como dito anteriormente, podemos ter diversas percepções pelo público


executor das atividades ou elementos artísticos, principalmente, quando comparado
aos gêneros, como, por exemplo: a flexibilidade pelas meninas em executarem
aberturas de pernas e a ponte e ou rondada quando em posição de quatro apoios
invertido; já os meninos mostraram-se com maior força que as colegas na parte
superior do corpo, principalmente, quando faziam a parada de dois apoios com as
duas mãos no chão e as pernas esticadas para o alto. Isto indica que nossos
estudantes são seres sociais e culturais que sofrem influências do meio ao qual
estão inseridos e capazes quando lhes dado o incentivo e oportunidades iguais.

É interessante dizer que todos os estudantes puderam se envolver com as


atividades ginásticas, trocar experiências, compartilhar ideias, organizar as

Temas em Educação Física Escolar, Rio de Janeiro, v. 4, n. 2, ago./dez. 2019, p. 60-76.


Recebido em: 15/08/2019
Publicado em: 30/12/2019

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ARTIGOS ORIGINAIS

estruturas psicomotoras para melhor desenvolvimento dos elementos artísticos e de


forma lúdica.

Conseguiu-se atingir a proposta da pesquisa, pois os elementos naturais do


ser humano puderam ser explorados nas práticas e vivências dos elementos de
Ginástica Artística e Rítmica em meio ao cotidiano escolar. Além disto, a ludicidade e
o prazer em praticar as atividades foram presente nas falas e corpos de nossos
estudantes, podendo trabalhar entre outras questões a cooperatividade e o trabalho
em equipe, regras sociais, criatividade e estratégias para construção ou solução de
problemas de nosso cotidiano, elementos de psicomotricidade, o companheirismo e
o aprender por meio do brincar.

Por fim, os estudantes tiveram uma grande festa escolar com o tema circo e o
mundo das ginásticas, na qual puderam apresentar seus elementos, treinos,
criatividades e coreografias em belíssimas danças e coreografias. Neste dia os
estudantes puderam apreciar fantasias, enfeites, arcos, bambolês, cenários,
perucas, dentre outras coisas presentes no circo e que alegraram um pouco mais a
vida da criançada.

REFERÊNCIAS

BRANDÃO, C. R. Repensando a pesquisa participante. 8. ed. São Paulo:


Brasiliense, 1990.

BROTTO, F. O. Jogos Cooperativos: Se o importante é competir, o fundamental é


cooperar. Santos: Projeto Cooperação, 2001.

LARROSA, Jorge. Leitura e discussão dos textos: Notas sobre a experiência e o


saber da experiência. Revista Brasileira de Educação. Rio de Janeiro, v. 11.
jan./abr. 2002. Disponível em: <
http://www.anped.org.br/rbe/rbedigital/RBDE19/RBDE19_04_JORGE_LARROSA_B
ONDIA.pdf>. Acesso em 13/07/2018.

MATTOS, M. G.; NEIRA, M. G. Educação Física Infantil: construindo o


movimento na escola. 4. ed. Guarulhos: Phorte, 2003.

ORLICK, T. Libres para cooperar, libres para crear. Espanha: Editorial Paidotribo,
2ª ed, 1987.

SCHIAVON, L.; NISTA-PICCOLO, V.L. A ginástica vai à escola. Movimento, vol.13,


núm.3, setembro-dezembro, 2007, pp.131-150. Escola de Educação Física, Rio
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SOLER, Reinaldo. Brincando e Aprendendo com os Jogos Cooperativos. São


Paulo: Sprint, 2005.

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Recebido em: 15/08/2019
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