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JURISPRUDÊNCIA EM TESES DO STJ

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Márcio André Lopes Cavalcante

EDIÇÃO N. 184: DO PACOTE ANTICRIME


Os entendimentos foram extraídos de julgados publicados até 19/11/2021.

1) Após a entrada em vigor do Pacote Anticrime, reconhece-se a retroatividade do patamar estabelecido


no art. 112, V, da Lei nº 7.210/84, àqueles apenados que, embora tenham cometido crime hediondo ou
equiparado sem resultado morte, não sejam reincidentes em delito de natureza semelhante.

A situação concreta, com adaptações, foi a seguinte:


Em 2014, João foi condenado definitivamente pela prática de furto, delito que não é hediondo.
Em 2015, João praticou o delito de estupro (art. 213 do CP), crime hediondo (art. 1º, V, da Lei nº 8.072/90).
Desse modo, João é reincidente genérico (não é reincidente específico).

Reincidência genérica x reincidência específica


• Reincidência genérica: ocorre quando o crime anterior e o novo delito são de espécies diferentes. Ex:
cometeu um roubo e, depois, praticou o delito do art. 28 da Lei de Drogas.
• Reincidência específica: ocorre quando o crime anterior e o novo delito praticado são da mesma espécie.
Ex: praticou um roubo e, depois, um novo roubo.

Voltando ao caso concreto:


João foi condenado pelo estupro e teria direito à progressão de regime após o cumprimento de 3/5 da pena,
nos termos do revogado art. 2º, § 2º, da Lei nº 8.072/90:
Art. 2º (...)
§ 2º A progressão de regime, no caso dos condenados pelos crimes previstos neste artigo, dar-se-á
após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se o apenado for primário, e de 3/5 (três quintos),
se reincidente, observado o disposto nos §§ 3º e 4º do art. 112 da Lei nº 7.210, de 11 de julho de
1984 (Lei de Execução Penal).

Obs.: esse dispositivo estava em vigor na época em que João praticou o crime e iniciou o cumprimento da
pena, no entanto, ele foi revogado pela Lei nº 13.964, que entrou em vigor no dia 23/01/2020.

Como dito, em 23/01/2020, a Lei 13.964/2019 (Pacote Anticrime) entrou em vigor e revogou o § 2º do art.
2º da Lei 8.072/90, alterando as regras de progressão de regime. Agora, todas as regras são previstas no art.
112 da LEP, inclusive para os crimes hediondos. Veja:
Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva com a transferência
para regime menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos:

1
“Jurisprudência em Teses” é um serviço produzido e oferecido pelos servidores da Secretaria de Jurisprudência do Superior Tribunal
de Justiça e disponível no endereço eletrônico: http://www.stj.jus.br/SCON/jt/
Minha atividade aqui foi apenas a de organizar e explicar as teses condensadas e divulgadas no site do STJ. Recomendo a visita à
página do STJ para conhecer este e outros excelentes serviços produzidos pela Secretaria de Jurisprudência do Tribunal.
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I - 16% (dezesseis por cento) da pena, se o apenado for primário e o crime tiver sido cometido sem
violência à pessoa ou grave ameaça;

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II - 20% (vinte por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime cometido sem violência à
pessoa ou grave ameaça;
III - 25% (vinte e cinco por cento) da pena, se o apenado for primário e o crime tiver sido cometido
com violência à pessoa ou grave ameaça;
IV - 30% (trinta por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime cometido com violência
à pessoa ou grave ameaça;
V - 40% (quarenta por cento) da pena, se o apenado for condenado pela prática de crime hediondo
ou equiparado, se for primário;
VI - 50% (cinquenta por cento) da pena, se o apenado for:
a) condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado, com resultado morte, se for primário,
vedado o livramento condicional;
b) condenado por exercer o comando, individual ou coletivo, de organização criminosa estruturada
para a prática de crime hediondo ou equiparado; ou
c) condenado pela prática do crime de constituição de milícia privada;
VII - 60% (sessenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente na prática de crime hediondo
ou equiparado;
VIII - 70% (setenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime hediondo ou
equiparado com resultado morte, vedado o livramento condicional.

Leia novamente o dispositivo acima e responda: em qual inciso do art. 112 se enquadra o réu condenado
por crime hediondo, sem resultado morte, e que é reincidente não específico (reincidente genérico)?
Essa situação não foi contemplada na lei.

E o inciso VII?
O inciso VII do art. 112 exige a reincidência específica (crime hediondo + novo crime hediondo).
A situação acima narrada é de um reincidente genérico.

O que fazer, então?


Diante da ausência de previsão legal, deve-se fazer analogia in bonam partem e ao reeducando será aplicada
a mesma fração do condenado primário, ou seja, a regra do inciso V, do art. 112 (40%):
Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva com a transferência
para regime menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos:
(...)
V - 40% (quarenta por cento) da pena, se o apenado for condenado pela prática de crime hediondo
ou equiparado, se for primário;

Sendo a lei omissa, o juiz deve decidir de acordo com a analogia, nos termos do art. 4º da LINDB:
Art. 4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os
princípios gerais de direito.

Também se pode mencionar o art. 3º do CPP:


Art. 3º A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o
suplemento dos princípios gerais de direito.

Em Direito Penal incriminador não se admite a analogia in malam partem. Diante disso, não resta outra
alternativa ao julgador, a não ser a aplicação aos reincidentes genéricos dos patamares de progressão
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referentes aos sentenciados primários, uma vez que, ainda que não sejam primários, reincidentes específicos
também não o são.

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Aplica-se, nesse caso, o art. 5º, XL, da CF:
Art. 5º (...)
XL – a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu; (...)

O STJ firmou a seguinte tese a respeito do tema:


É reconhecida a retroatividade do patamar estabelecido no art. 112, V, da LEP, incluído pela Lei nº
13.964/2019, àqueles apenados que, embora tenham cometido crime hediondo ou equiparado sem
resultado morte, não sejam reincidentes em delito de natureza semelhante.
STJ. 3ª Seção. REsp 1.910.240-MG, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 26/05/2021 (Recurso
Repetitivo – Tema 1084) (Info 699).

No mesmo sentido, veja a tese fixada pelo STF:


Tendo em vista a legalidade e a taxatividade da norma penal (art. 5º, XXXIX, CF), a alteração promovida pela
Lei 13.964/2019 no art. 112 da LEP não autoriza a incidência do percentual de 60% (inc. VII) aos condenados
reincidentes não específicos para o fim de progressão de regime. Diante da omissão legislativa, impõe-se a
analogia in bonam partem, para aplicação, inclusive retroativa, do inciso V do artigo 112 da LEP (lapso
temporal de 40%) ao condenado por crime hediondo ou equiparado sem resultado morte reincidente não
específico.
STF. Plenário. ARE 1327963/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 17/09/2021 (Repercussão Geral – Tema
1169) (Info 1032).

Nas palavras do Min. Gilmar Mendes:


“A reforma da sistemática da progressão de regime de condenados promovida pela Lei nº
13.964/2019 (Pacote Anticrime) não disciplinou, de forma expressa, a circunstância para progressão
de pessoa condenada anteriormente por crime não hediondo e, em seguida, por crime hediondo, ou
seja, reincidente não específico em crime hediondo.
Inexistindo a previsão exata na norma regente, impõe-se a interpretação mais favorável à defesa.
Trata-se de imposição decorrente da presunção de inocência, base fundamental ao sistema penal de
um Estado Democrático de Direito.”

2) Após a entrada em vigor do Pacote Anticrime, o condenado por crime hediondo ou equiparado com
resultado morte, que seja reincidente genérico, deverá cumprir ao menos 50% da pena para a progressão
de regime prisional, pelo uso da analogia in bonam partem.

Seguindo o exemplo dado na tese acima, se o crime hediondo praticado por reincidente genérico tivesse
resultado em morte? Suponhamos que João, em vez de ter praticado estupro, tivesse cometido homicídio
qualificado em 2015. Qual seria a regra aplicável?
A regra do inciso VI, “a”, do art. 112 (50%):
Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva com a transferência
para regime menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos:
VI - 50% (cinquenta por cento) da pena, se o apenado for:
a) condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado, com resultado morte, se for primário,
vedado o livramento condicional;
(...)
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Resumindo:

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• art. 2º, § 2º, da Lei nº 8.072/90: a fração mais grave deveria ser aplicada tanto ao reincidente específico
como genérico. A Lei de Crimes Hediondos não fazia distinção entre a reincidência genérica e a específica
para estabelecer o cumprimento de 3/5 da pena para fins de progressão de regime.
• incisos VII e VIII do art. 112 da LEP: a fração mais grave só se aplica para o reincidente específico. O
condenado pela prática de crime hediondo com resultado morte, mas reincidente em crime comum irá
progredir como se fosse primário.

No exemplo dado, a Lei nº 13.964/2019 foi mais favorável porque o réu progredia com 3/5 (= 60%) e agora
a fração é de 50% (art. 112, VI, “a”, da LEP). Logo, ela se aplica, neste ponto, aos fatos ocorridos antes da sua
vigência.
Nesse sentido:
A progressão de regime do reincidente não específico em crime hediondo ou equiparado com resultado
morte deve observar o que previsto no inciso VI, “a”, do art. 112 da LEP.
STJ. 6ª Turma. HC 581.315-PR, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 06/10/2020 (Info 681).

3) O requisito previsto no art. 83, III, “b”, do Código Penal, inserido pela Lei nº 13.964/2019 (não
cometimento de falta grave nos últimos 12 meses) é pressuposto objetivo para a concessão de livramento
condicional, e não limita a valoração do requisito subjetivo, inclusive quanto a fatos anteriores à vigência
do Pacote Anticrime, de forma que somente haverá fundamento inválido quando consideradas faltas
disciplinares muito antigas.

O que é livramento condicional?


Livramento condicional é...
- um benefício da execução penal
- concedido ao condenado preso,
- consistindo no direito de ele ficar em liberdade,
- mesmo antes de ter terminado a sua pena,
- assumindo o compromisso de cumprir algumas condições,
- desde que preencha os requisitos previstos na lei.

O indivíduo que está no gozo do livramento condicional desfruta de uma liberdade antecipada condicional
e precária. Entenda:
• antecipada: porque o condenado é solto antes de ter cumprido integralmente a pena.
• condicional: uma vez que, durante o período restante da pena (chamado de período de prova), ele terá que
cumprir certas condições fixadas na decisão que conceder o benefício.
• precária: tendo em vista que o benefício poderá ser revogado (e ele retornar à prisão) caso descumpra as
condições impostas.
(MASSON, Cleber. Direito Penal. 14ª ed., São Paulo: Método, 2020, p. 691).
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Requisitos
Para que seja concedido o livramento condicional, o juiz deverá verificar se o condenado preenche os

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requisitos subjetivos e objetivos previstos no art. 83 do Código Penal:

REQUISITOS DO LIVRAMENTO CONDICIONAL

OBJETIVOS SUBJETIVOS

1) Pena igual ou superior a 2 anos 1) Bom comportamento durante a


execução da pena
O indivíduo deve ter recebido uma pena privativa de liberdade
igual ou superior a 2 anos.
Obs1: se a pessoa foi condenada por dois ou mais crimes, as
penas devem ser somadas para fins de livramento.
Obs2: não cabe para penas restritivas de direitos nem para
multa isolada.

Não reincidente em crime doloso 2) Bom desempenho no trabalho que lhe


e com bons antecedentes: 1/3 foi atribuído.
(livramento condicional SIMPLES)
Se o condenado não for reincidente em crime
doloso e tiver bons antecedentes deverá cumprir
1/3 (um terço) da pena.
Segundo o STJ, aplica-se a fração de 1/3 para os
seguintes casos:
• primário com maus antecedentes;
• reincidente em crime culposo;
• tráfico privilegiado (art. 33, § 4º, LD).

Reincidente em crime doloso: 1/2 3) Aptidão para prover a própria


2) Qual (livramento condicional QUALIFICADO) subsistência mediante trabalho honesto.
tempo de Se o condenado for reincidente em crime doloso,
pena ele deverá cumprir mais da metade (1/2) da pena.
terá que
cumprir? Crime hediondo, tortura, terrorismo, tráfico de 4) Para o condenado por crime doloso,
drogas, tráfico de pessoas: mais de 2/3 cometido com violência ou grave
(desde que não seja reincidente específico) ameaça à pessoa, a concessão do
(livramento condicional ESPECÍFICO) livramento condicional ficará também
subordinada à constatação de condições
Nos casos de condenação por crime hediondo,
pessoais que façam presumir que o
prática de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes
liberado não voltará a delinquir.
e drogas afins, tráfico de pessoas e terrorismo, se
o apenado não for reincidente específico em
crimes dessa natureza (art. 83, V, do CP), terá que
cumprir mais de 2/3 (dois terços) da pena.

Crimes dos arts. 33, caput e § 1º, art. 34, art. 35,
art. 36 e art. 37 da Lei de Drogas: mais de 2/3
(desde que não seja reincidente específico)
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Este requisito mais gravoso está previsto não no

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CP, mas sim no art. 44, parágrafo único, da LD.

3) Reparação do dano, salvo impossibilidade


Regra: em regra, o condenado só poderá ser beneficiado com
o livramento, se reparou o dano causado pela infração.
Exceção: não será necessária a reparação se o condenado
comprovar a impossibilidade de fazê-lo (art. 83, IV, do CP).

4) Sem falta grave nos últimos 12 meses

Para condenado por integrar organização criminosa ou por crime praticado por meio de organização
criminosa: é requisito específico para concessão do livramento condicional a inexistência de elementos
probatórios que indiquem a manutenção do vínculo associativo (§ 9º do art. 2º da Lei 12.850/2013)

VEDAÇÕES:
• condenado por crime hediondo ou equiparado, se for reincidente específico em crimes dessa natureza:
não terá direito a livramento condicional.
• condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado, com resultado morte: não terá direito a
livramento condicional (não importando se primário ou reincidente). Hediondo/equiparado + morte = sem
livramento.

Qual a diferença entre o “bom comportamento durante a execução da pena” (requisito subjetivo) e o “não
cometimento de falta grave nos últimos 12 (doze) meses” (requisito objetivo)?
O “bom comportamento durante a execução da pena”, requisito subjetivo para fins de livramento
condicional, deve ser verificado durante todo o período da execução da pena. Não existe um limite temporal
para aferição desse requisito subjetivo.
A ausência de falta grave nos últimos 12 meses não interfere na verificação do requisito subjetivo. Assim,
caso haja uma falta grave anterior aos 12 últimos meses, o livramento condicional poderá ser indeferido pelo
não atendimento do requisito subjetivo (bom comportamento), mesmo que preenchido o requisito objetivo
(ausência de falta grave nos últimos 12 meses). Somente haverá fundamento inválido quando consideradas
faltas disciplinares muito antigas.
Nesse sentido entende o STJ:
A inclusão da alínea b no inciso III do art. 83 do Código Penal pela Lei n. 13.964/2019, não significa que a
ausência de falta grave no período de doze meses seja suficiente para satisfazer o requisito subjetivo exigido
para a concessão do livramento condicional, tampouco que eventuais faltas disciplinares ocorridas
anteriormente não possam ser consideradas pelo Juízo das Execuções Penais para aferir
fundamentadamente o mérito do Apenado.
(AgRg no HC 666.504/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, Sexta Turma, julgado em 1°/6/2021, DJe 16/6/2021).

A prática de falta disciplinar grave, muito embora não interrompa a contagem do prazo para fins de
livramento condicional (Súmula nº 441 do STJ), impede a concessão do benefício por ausência do requisito
subjetivo relativo ao comportamento satisfatório durante a execução da pena, nos termos do que exige o
art. 83, inciso III, do CP.
(AgRg no REsp 1617279/SC, Rel. Ministro JORGE MUSSI, Quinta Turma, julgado em 19/4/2018, DJe
27/4/2018).

Ademais, o comportamento satisfatório é requisito previsto no art. 83, III, do CP desde a reforma de 1984.
Por isso, antes da entrada em vigor do Pacote Anticrime as faltas graves já serviam de fundamento para o
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indeferimento do livramento condicional, por configurarem comportamento insatisfatório durante a


execução da pena e, por conseguinte, demonstrarem a falta do atendimento do requisito subjetivo.

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Já o requisito objetivo do art. 83, III, b, do CP aplica-se apenas às infrações penais praticadas a partir de
23/01/2020, quando entrou em vigor a Lei nº 13.964/2019 (Pacote Anticrime).
Dessa forma, a partir de 23/01/2020, o apenado deve preencher os requisitos de natureza objetiva (lapso
temporal) e subjetiva (bom comportamento) durante a execução da pena para a concessão do livramento
condicional.
Conforme entende o STJ:
O requisito previsto no art. 83, III, b, do Código Penal, inserido pela Lei n. 13.964/2019 (não cometimento de
falta grave nos últimos 12 meses) é pressuposto objetivo para a concessão de livramento condicional, e não
limita a valoração do requisito subjetivo, inclusive quanto a fatos anteriores à vigência do Pacote Anticrime,
de forma que somente haverá fundamento inválido quando consideradas faltas disciplinares muito antigas.

4) O Pacote Anticrime estendeu o prazo inicial de permanência do custodiado em presídio federal de 360
dias para 3 anos, sem alterar o disposto na Lei nº 11.671/2008, que não prevê limite temporal para
renovação de permanência de preso em estabelecimento penal federal de segurança máxima.

Imagine a seguinte situação hipotética:


Imagine que um custodiado estava recolhido no Sistema Penitenciário Federal, antes das modificações
realizadas pelo Pacote Anticrime nas Execuções Penais.
Diante das alterações legislativas, a Defensoria Pública da União impetrou habeas corpus afirmando que o
legislador tornou mais gravosa a permanência no Sistema Penitenciário Federal, já que o prazo máximo de
permanência aumentou de 360 (trezentos e sessenta) dias para 3 (três) anos, permitindo a renovação por
iguais períodos, o que, portanto, não poderia ter aplicação retroativa.

O STJ concordou com a tese defensiva?


NÃO.
O Pacote Anticrime estendeu o prazo inicial de permanência do custodiado em presídio federal de 360 dias
para 3 anos, sem alterar o disposto na Lei nº 11.671/2008, que não prevê limite temporal para renovação de
permanência de preso em estabelecimento penal federal de segurança máxima.
Em outras palavras, a Lei nº 11.671/2008 não estabeleceu qualquer limite temporal para a renovação de
permanência do preso em estabelecimento penal federal de segurança máxima.
Desse modo, não houve agravamento na lei quanto ao prazo máximo, ou seja, prazo de renovação do
executado na penitenciária federal, não havendo que falar, portanto, em (i)retroatividade da nova lei. Com
isso, desde que persistam os motivos para a permanência do recorrente na penitenciária federal de
segurança máxima, não há ilegalidade na renovação da permanência do preso por mais 3 anos.
STJ. 5ª Turma. AgRg no RHC 154.361/PR, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 26/10/2021.

O entendimento do STJ, antes mesmo da alteração promovida pelo Pacote Anticrime, já era de que não havia
limite temporal para a renovação de permanência do preso em estabelecimento penal federal de segurança
máxima:
A Lei nº 11.671/2008 não estabeleceu qualquer limite temporal para a renovação de permanência do preso
em estabelecimento penal federal de segurança máxima.
STJ. 5ª Turma. RHC 44.915/PR, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 3/2/2015.

Assim, não houve agravamento na lei quanto ao prazo máximo, ou seja, prazo de renovação do recorrente
na penitenciária federal, não havendo que falar, portanto, em retroatividade gravosa da nova lei.
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Desse modo, desde que persistam os motivos para a permanência do executado na penitenciária federal de
segurança máxima, não há ilegalidade na renovação da permanência do preso por mais 3 anos.

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Em outras palavras, a superveniência da Lei nº 13.964/2019, em vigor desde 23/1/2020, não modificou o
entendimento do prazo máximo, na medida em que, ao modificar a redação do art. 10 da Lei nº 11.671/2008,
estendeu o prazo inicial de permanência do preso em presídio federal de 360 (trezentos e sessenta) dias para
3 (três) anos, sem, contudo, estipular limite de renovação, pois fala em possibilidade de renovação “por iguais
períodos”, no plural.
Confira-se o exato teor da norma:
Art. 10. A inclusão de preso em estabelecimento penal federal de segurança máxima será excepcional
e por prazo determinado.
§ 1º O período de permanência será de até 3 (três) anos, renovável por iguais períodos, quando
solicitado motivadamente pelo juízo de origem, observados os requisitos da transferência, e se
persistirem os motivos que a determinaram. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)

LEI DE TRANSFERÊNCIA E INCLUSÃO DE PRESOS EM ESTABELECIMENTOS PENAIS FEDERAIS DE


SEGURANÇA MÁXIMA
Antes da Lei nº 13.964/2019 ATUALMENTE
Art. 10. (...) Art. 10. (...)
§ 1º O período de permanência não poderá ser § 1º O período de permanência será de até 3
superior a 360 (trezentos e sessenta) dias, (três) anos, renovável por iguais períodos,
renovável, excepcionalmente, quando solicitado quando solicitado motivadamente pelo juízo de
motivadamente pelo juízo de origem, origem, observados os requisitos da
observados os requisitos da transferência. transferência, e se persistirem os motivos que a
determinaram.

Elaboração: Felipe Duque e Emanuella Melo.

5) O prazo de 90 dias previsto no parágrafo único do art. 316 do CPP para revisão da prisão preventiva não
é peremptório, de modo que eventual atraso na execução do ato não implica reconhecimento automático
da ilegalidade da prisão, tampouco a imediata colocação do custodiado cautelar em liberdade.

Revisão periódica da necessidade da prisão preventiva


A prisão preventiva é decretada sem prazo determinado. Contudo, a Lei nº 13.964/2019 (Pacote Anticrime)
alterou o CPP para impor a obrigação de que o juízo que ordenou a custódia, a cada 90 dias, proferira uma
nova decisão analisando se ainda está presente a necessidade da medida.
Trata-se da revisão periódica e de ofício da prisão preventiva trazida no novo parágrafo único do art. 316 do
CPP:
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL
Antes da Lei nº 13.964/2019 ATUALMENTE
Art. 316. O juiz poderá revogar a prisão Art. 316. O juiz poderá, de ofício ou a pedido das
preventiva se, no correr do processo, verificar a partes, revogar a prisão preventiva se, no correr
falta de motivo para que subsista, bem como de da investigação ou do processo, verificar a falta
novo decretá-la, se sobrevierem razões que a de motivo para que ela subsista, bem como
justifiquem. novamente decretá-la, se sobrevierem razões
que a justifiquem.
Não havia parágrafo único do art. 316. Parágrafo único. Decretada a prisão preventiva,
deverá o órgão emissor da decisão revisar a
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necessidade de sua manutenção a cada 90


(noventa) dias, mediante decisão

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fundamentada, de ofício, sob pena de tornar a
prisão ilegal.

Imagine agora a seguinte situação hipotética:


O juiz decretou a prisão preventiva do réu. Passaram-se os 90 dias e o magistrado não proferiu nova decisão
analisando a necessidade, ou não, de manutenção da custódia cautelar. Diante disso, a defesa impetrou
habeas corpus afirmando que a prisão se tornou ilegal, conforme prevê expressamente a parte final do
dispositivo. Isso significa que o réu deverá, obrigatoriamente, ser colocado em liberdade?

O descumprimento da regra do parágrafo único do art. 316 do CPP gera, para o preso, o direito de ser posto
imediatamente em liberdade?
NÃO. A inobservância do prazo de 90 dias do parágrafo único do art. 316 do CPP não implica automática
revogação da prisão preventiva.
O art. 316, parágrafo único, do CPP insere-se em um sistema, que deve ser interpretado harmonicamente,
sob pena de se produzirem incongruências deletérias à processualística e à efetividade da ordem penal.
O parágrafo único precisa ser interpretado em conjunto com o caput. Logo, para que o indivíduo seja
colocado em liberdade, o juiz precisa fundamentar a decisão na insubsistência dos motivos que
determinaram a decretação da prisão preventiva, e não no mero decurso de prazos processuais.

O simples fato de ter passado o prazo não significa que a prisão se tornou ilegal
O STF e o STJ não concordam com interpretações que associam, automaticamente, o excesso de prazo ao
constrangimento ilegal da liberdade. Isso porque:
a) deve-se analisar a razoabilidade concreta da duração do processo, aferida à luz da complexidade de cada
caso, considerados os recursos interpostos, a pluralidade de réus, crimes, testemunhas a serem ouvidas,
provas periciais a serem produzidas etc.;
b) a Constituição Federal impõe o dever de motivação das decisões judiciais (art. 93, IX), que devem sempre
se reportar às circunstâncias específicas dos casos concretos submetidos a julgamento, e não apenas aos
textos abstratos das leis.
c) O prazo de 90 dias para revisão da prisão preventiva não é peremptório, ou seja, não implica
reconhecimento automático da ilegalidade da prisão, tampouco a imediata colocação do custodiado cautelar
em liberdade eventual descumprimento do prazo.

À luz desta compreensão jurisprudencial, o disposto no art. 316, parágrafo único, do CPP não conduz à
revogação automática da prisão preventiva.

O que o dispositivo exige é uma fundamentação periódica


Ao estabelecer que “Decretada a prisão preventiva, deverá o órgão emissor da decisão revisar a necessidade
de sua manutenção a cada 90 (noventa) dias, mediante decisão fundamentada, de ofício, sob pena de tornar
a prisão ilegal”, o dispositivo não determina a revogação da prisão preventiva, mas apenas a necessidade de
fundamentá-la periodicamente.

Não se trata de prazo prisional, mas sim prazo para prolação da decisão judicial
O parágrafo único do art. 316 não fala em prorrogação da prisão preventiva, não determina a renovação do
título cautelar. Apenas dispõe sobre a necessidade de revisão dos fundamentos da sua manutenção. Logo,
não se trata de prazo prisional, mas sim de prazo fixado para a prolação de decisão judicial, não peremptório
(ou seja, dilatório).
Desse modo, a ilegalidade decorrente da falta de revisão a cada 90 dias não produz o efeito automático da
soltura, porque a liberdade, à luz do caput do dispositivo, somente é possível mediante decisão
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fundamentada do órgão julgador, no sentido da ausência dos motivos autorizadores da cautela, e não do
mero transcorrer do tempo.

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Em suma
O prazo de 90 dias previsto no parágrafo único do art. 316 do CPP para revisão da prisão preventiva não é
peremptório, de modo que eventual atraso na execução do ato não implica reconhecimento automático da
ilegalidade da prisão, tampouco a imediata colocação do custodiado cautelar em liberdade.

Nesse sentido, o STF também já entendeu:


A inobservância do prazo nonagesimal previsto no parágrafo único do art. 316 do Código de Processo Penal
não implica automática revogação da prisão preventiva, devendo o juízo competente ser instado a reavaliar
a legalidade e a atualidade de seus fundamentos.
STF. Plenário. SL 1395 MC Ref/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 14 e 15/10/2020 (Info 995).

A complexidade da causa penal e o caráter multitudinário do feito (dezoito réus, no caso), justificam uma
maior duração do processo, salvo quando eventual retardamento se dê em virtude da inércia do Poder
Judiciário, fato já afastado no presente caso.
Ausência, no caso, de irrazoabilidade evidente na duração do processo apta a autorizar o reconhecimento de
constrangimento ilegal decorrente de excesso de prazo da prisão preventiva.
STF. 2ª Turma. AgRg no HC 199.238, Rel. Min. Nunes Marques, julgado em 14/06/2021.

6) A revisão periódica e de ofício da legalidade da prisão preventiva disciplinada no parágrafo único do art.
316 do CPP, incluída pela Lei n. 13.964/2019, não se aplica aos tribunais, quando em atuação como órgão
revisor.

Imagine a seguinte situação hipotética:


No dia 02/02/2020, o juiz decretou a prisão preventiva do réu.
No dia 15/04/2020, o juiz prolatou sentença condenando o réu a 8 anos de reclusão, mantendo a prisão
cautelar.
O réu interpôs apelação.
No dia 15/09/2020, ou seja, mais de 90 dias depois da prolação da sentença, o Tribunal de Justiça ainda não
julgou o recurso.
Diante disso, a defesa impetrou habeas corpus afirmando que não foi revista de ofício pelo TJ a necessidade
de manutenção da segregação preventiva, conforme determina o art. 316 do CPP. Logo, deve ser
reconhecido que a prisão se tornou ilegal e que o réu deverá ser colocado em liberdade.

A argumentação da defesa é acolhida pelo STJ?


NÃO.
A obrigação de revisar, a cada 90 (noventa) dias, a necessidade de se manter a custódia cautelar (art. 316,
parágrafo único, do Código de Processo Penal) é imposta apenas ao juiz ou tribunal que decretar a prisão
preventiva (julgador que a decretou inicialmente).
A norma contida no parágrafo único do art. 316 do CPP não se aplica aos Tribunais de Justiça e aos Tribunais
Regionais Federais, quando em atuação como órgão revisor.
STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 569.701/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 09/06/2020.
STJ. 6ª Turma. HC 589.544-SC, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 08/09/2020 (Info 680).
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Assim, considerando que, neste caso, não existe obrigação legal imposta ao Tribunal de Justiça de revisar, de
ofício, a necessidade da manutenção da custódia cautelar, não há nenhuma ilegalidade a ensejar a ingerência

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do STJ.
No exemplo concreto acima explicado, poderia ser invocado outro entendimento do STJ para se negar a
liberdade pleiteada pelo réu. Isso porque o STJ possui julgados afirmando que depois da sentença
condenatória, não deveria mais ser aplicado o art. 316 do CPP:

O dever de reavaliar periodicamente, a cada 90 dias, a necessidade da prisão preventiva cessa com a
formação de um juízo de certeza da culpabilidade do réu, declarado na sentença
Com o fim de assegurar que a prisão não se estenda por período superior ao necessário, configurando
verdadeiro cumprimento antecipado da pena, a alteração promovida pela Lei nº 13.964/2019 ao art. 316 do
CPP estabeleceu que o magistrado revisará a cada 90 dias a necessidade da manutenção da prisão, mediante
decisão fundamentada, sob pena de tornar a prisão ilegal.
A norma estabelece expressamente que a revisão da prisão, a cada 90 dias, cabe apenas ao órgão emissor
da decisão, procedimento cabível, portanto, nas fases de investigação e persecução penal.
Encerrada a instrução e formada a culpa, com prolação da sentença, o §1º do art. 387 do CPP determina que
“O juiz decidirá, fundamentadamente, sobre a manutenção ou, se for o caso, a imposição de prisão
preventiva ou de outra medida cautelar, sem prejuízo do conhecimento de apelação que vier a ser
interposta”. Trata-se de uma imposição legal para uma última atuação do Magistrado, a qual representa o
marco final para a revisão, de ofício, da prisão preventiva do condenado.
Assim, em uma interpretação sistemática, buscando manter a harmonia entre as duas regras do CPP -
parágrafo único do art. 316 e §1º do art. 387 - o dever de reavaliar periodicamente, a cada 90 dias, a
necessidade da prisão preventiva cessa com a formação de um juízo de certeza da culpabilidade do réu,
declarado na sentença, e ingresso do processo na fase recursal. A partir de então, eventuais inconformismos
com a manutenção da prisão preventiva deverão ser arguidos pela defesa nos autos do recurso ou por outra
via processual adequada prevista no ordenamento jurídico.
STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 601.151/PB, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 17/11/2020.

7) Não é possível a decretação da prisão preventiva de ofício em face do que dispõe a Lei nº 13.964/2019,
mesmo se decorrente de conversão da prisão em flagrante.

Depois das alterações promovidas pelo Pacote Anticrime (Lei nº 13.964/2019), permanece a possibilidade
de o juiz converter, de ofício, a prisão em flagrante em prisão preventiva?
A maioria da doutrina que comentou o Pacote respondeu que não.
Para a doutrina majoritária, esse entendimento estaria superado com a Lei nº 13.964/2019 (Pacote
Anticrime), que teria proibido qualquer prisão decretada de ofício pelo magistrado. Veja:
“De acordo com a nova redação do art. 310, II, do CPP, verificada a legalidade da prisão em flagrante,
o juiz poderá fundamentadamente converter a prisão em flagrante em preventiva, quando presentes
os requisitos constantes do art. 312 do CPP, e se revelarem inadequadas ou insuficientes as medidas
cautelares diversas da prisão, hipótese em que deverá ser expedido um mandado de prisão. Para
tanto, é indispensável que seja provocado nesse sentido, pois jamais poderá fazê-lo de ofício, sob
pena de violação aos arts. 3º-A, 282, §§2º e 4º, e 311, todos do CPP, com redação dada pela Lei n.
13.964/19.” (LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. 8ª ed., Salvador: Juspodivm,
2020, p. 1052).

E a jurisprudência?
Também seguiu no mesmo caminho:
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Após o advento da Lei nº 13.964/2019, não é mais possível a conversão da prisão em flagrante em preventiva

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sem provocação por parte ou da autoridade policial, do querelante, do assistente, ou do Ministério Público,
mesmo nas situações em que não ocorre audiência de custódia.
A Lei nº 13.964/2019, ao suprimir a expressão “de ofício” que constava do art. 282, § 2º, e do art. 311, ambos
do CPP, vedou, de forma absoluta, a decretação da prisão preventiva sem o prévio requerimento das partes
ou representação da autoridade policial.
Logo, não é mais possível, com base no ordenamento jurídico vigente, a atuação ‘ex officio’ do Juízo
processante em tema de privação cautelar da liberdade.
A interpretação do art. 310, II, do CPP deve ser realizada à luz do art. 282, § 2º e do art. 311, significando que
se tornou inviável, mesmo no contexto da audiência de custódia, a conversão, de ofício, da prisão em
flagrante de qualquer pessoa em prisão preventiva, sendo necessária, por isso mesmo, para tal efeito,
anterior e formal provocação do Ministério Público, da autoridade policial ou, quando for o caso, do
querelante ou do assistente do MP.
Vale ressaltar que a prisão preventiva não é uma consequência natural da prisão flagrante, logo é uma
situação nova que deve respeitar o disposto, em especial, nos arts. 311 e 312 do CPP.
STJ. 3ª Seção. RHC 131.263, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 24/02/2021 (Info 686).
STF. 2ª Turma. HC 188888/MG, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 6/10/2020 (Info 994).

Deve-se considerar o disposto no art. 3º-A do CPP, que reafirma o sistema acusatório em que o juiz atua,
vinculado à provocação do órgão acusador.
No mesmo sentido, o art. 282, § 2º, do CPP vincula a decretação de medida cautelar pelo juiz ao requerimento
das partes ou quando, no curso da investigação criminal, à representação da autoridade policial ou a
requerimento do Ministério Público.
Por fim, o art. 311, também do CPP, é expresso ao vincular a decretação da prisão preventiva a requerimento
do Ministério Público, do querelante ou do assistente, ou à representação da autoridade policial.

O inciso II do art. 310 do CPP poderia ser invocado como sendo um dispositivo que autorizaria a decretação
de ofício da prisão preventiva?
NÃO. O inciso II do art. 310 do CPP prevê a possibilidade de o juiz converter a prisão em flagrante em
preventiva quando presentes os requisitos do art. 312 e se revelarem inadequadas ou insuficientes as
medidas cautelares diversas da prisão. Esse dispositivo, contudo, deve ser interpretado em conjunto com os
demais que cuidam da prisão preventiva.
Dessa forma, o que o art. 310, II, do CPP afirma é que o juiz pode sim converter a prisão em flagrante em
preventiva desde que, além de presentes as hipóteses do art. 312 e ausente a possibilidade de substituir por
cautelares outras, haja o pedido expresso por parte ou do Ministério Público, ou da autoridade policial, ou
do assistente ou do querelante.

A não realização da audiência de custódia autoriza a decretação da prisão preventiva de ofício?


NÃO. A não realização da audiência de custódia (qualquer que tenha sido a razão para que isso ocorresse ou
eventual ausência do representante do Ministério Público quando de sua realização) não autoriza a prisão,
de ofício, considerando que o pedido para tanto pode ser formulado independentemente de sua ocorrência.
O fato é que as novas disposições legais trazidas pela Lei nº 13.964/2019 impõem ao Ministério Público e à
Autoridade Policial a obrigação de se estruturarem de modo a atender os novos deveres que lhes foram
impostos.

8) A posterior manifestação do órgão ministerial ou da autoridade policial pela conversão ou decretação


de prisão cautelar supre o vício de não observância da formalidade do prévio requerimento para a prisão
preventiva decretada de ofício.
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Impossibilidade de decretação da prisão preventiva pelo juiz de ofício

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Antes da Lei nº 13.964/2019 (Pacote Anticrime), a jurisprudência entendia que o juiz, após receber o auto de
prisão em flagrante, poderia, de ofício, converter a prisão em flagrante em prisão preventiva. A conclusão
era baseada na redação do art. 310, II, do CPP:
Art. 310. Ao receber o auto de prisão em flagrante, o juiz deverá fundamentadamente:
(...)
II - converter a prisão em flagrante em preventiva, quando presentes os requisitos constantes do art.
312 deste Código, e se revelarem inadequadas ou insuficientes as medidas cautelares diversas da
prisão; ou

Ocorre que a Lei nº 13.964/2019 revogou os trechos do CPP que previam a possibilidade de decretação da
prisão preventiva ex officio.
Diante disso, tanto o STJ como o STF passaram a entender que não é mais possível que o juiz ou Tribunal
decretem, de ofício, a prisão preventiva. É sempre necessário o requerimento:
Após o advento da Lei nº 13.964/2019, não é mais possível a conversão da prisão em flagrante em preventiva
sem provocação por parte ou da autoridade policial, do querelante, do assistente, ou do Ministério Público,
mesmo nas situações em que não ocorre audiência de custódia.
STJ. 3ª Seção. RHC 131.263, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 24/02/2021 (Info 686).
STF. 2ª Turma. HC 188888/MG, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 6/10/2020 (Info 994).

O que acontece se o juiz decretar a prisão preventiva de ofício (sem requerimento)?


• Regra: a prisão deverá ser relaxada por se tratar de prisão ilegal.
• Exceção: se, após a decretação, a autoridade policial ou o Ministério Público requererem a manutenção da
prisão, o vício de ilegalidade que maculava a custódia é suprido (convalidado) e a prisão não será relaxada.
Foi o que decidiu a 5ª Turma do STJ:
O posterior requerimento da autoridade policial pela segregação cautelar ou manifestação do Ministério
Público favorável à prisão preventiva suprem o vício da inobservância da formalidade de prévio
requerimento.
STJ. 5ª Turma. AgRg RHC 136.708/MS, Rel. Min. Felix Fisher, julgado em 11/03/2021 (Info 691).

Exemplo:
Em 11/09/2020, João foi preso em flagrante pela prática de tráfico de drogas.
Em razão da pandemia, não foi realizada a audiência de custódia.
No mesmo dia, o juiz, de ofício, decretou a prisão preventiva.
Em 15/09/2020, a autoridade policial representou pela decretação da prisão preventiva de João, tendo o
Ministério Público emitido parecer em sentido favorável.
O magistrado manteve a prisão.
A defesa impetrou habeas corpus alegando que o juiz não poderia ter decretado a prisão de ofício antes do
requerimento e que o fato de, posteriormente, ter havido a representação da autoridade policial e a
manifestação favorável do Ministério Público não supre o vício relacionado com a decretação cautelar.
Diante disso, a defesa pediu o reconhecimento da nulidade da prisão e a soltura do preso.

O pedido foi acolhido pelo STJ?


NÃO.
O desrespeito das normas relacionadas com devido processo legal implica, em regra, a nulidade do ato. Para
isso, no entanto, é necessário que fique demonstrado que esse descumprimento gerou efetivo e comprovado
prejuízo. Isso porque em matéria de nulidades vigoram os princípios do pas de nullité sans grief e da
instrumentalidade. Nesse sentido:
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O reconhecimento de nulidades no curso do processo penal reclama uma efetiva demonstração do prejuízo

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à parte, sem a qual prevalecerá o princípio da instrumentalidade das formas positivado pelo art. 563 do CPP
(pas de nullité sans grief).
STJ. 5ª Turma. AgInt no AREsp 442.923/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, DJe 11/05/2018.

O vício decorrente do fato de a prisão ter sido decretada de ofício foi superado pelo posterior requerimento
da autoridade policial pela prisão preventiva. Ficou, assim, garantida a higidez do feito, de modo que não se
configura nenhuma nulidade passível de correção, tendo sido observado o devido processo legal.
Vale ressaltar que a eventual concessão da ordem no sentido de revogar a prisão preventiva seria inócua,
considerando que tanto a autoridade policial, como o Ministério Público entendem que é caso de prisão
preventiva. Assim, haveria novamente o requerimento, sendo, então, mais uma vez decretada a custódia
cautelar.

9) A exigência de representação da vítima como condição de procedibilidade para a ação penal por
estelionato, inserida pela Lei nº 13.964/2019, não alcança os processos cuja denúncia foi apresentada
antes da vigência de referida norma.

Obs: a 2ª Turma do STF possui entendimento diverso, conforme se verá mais abaixo.

Estelionato
O crime de estelionato está tipificado no art. 171 do CP:
Art. 171. Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo
alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos mil réis a dez contos de réis.

Qual é a ação penal no caso do crime de estelionato?


O tema foi recentemente alterado pela Lei nº 13.964/2019, que ficou conhecida como “Pacote Anticrime”.
Compare:

QUAL É A AÇÃO PENAL NO CASO DO CRIME DE ESTELIONATO?


Antes Depois da Lei nº 13.964/2019
Regra geral: Regra geral: ação pública CONDICIONADA à representação.
Ação penal pública Exceções:
INCONDICIONADA Será de ação penal incondicionada quando a vítima for:
a) a Administração Pública, direta ou indireta;
Exceções: b) criança ou adolescente;
art. 182 do CP c) pessoa com deficiência mental; ou
d) maior de 70 (setenta) anos de idade ou incapaz.

Veja o § 5º inserido no art. 171 do CP pela Lei nº 13.964/2019:


Art. 171. (...)
§ 5º Somente se procede mediante representação, salvo se a vítima for:
I - a Administração Pública, direta ou indireta;
II - criança ou adolescente;
III - pessoa com deficiência mental; ou
IV - maior de 70 (setenta) anos de idade ou incapaz.
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Essa mudança é mais favorável ou prejudicial aos autores do crime de estelionato?


Mais favorável, considerando que agora existe, como regra, uma nova condição para que o Ministério Público

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possa ajuizar a ação penal contra o autor do estelionato: a representação da vítima.

A norma que altera a espécie de ação penal de um crime é norma de direito material ou processual? (ex: a
lei determina que o crime “X” deixará de ser de ação penal pública condicionada e passará a ser de ação
pública incondicionada)
As normas que tratam sobre a “ação penal” possuem natureza híbrida, ou seja, são normas de direito
processual penal que, no entanto, também apresentam efeitos materiais (influenciam no direito penal).
A lei que dispõe sobre o tipo de ação penal aplicável a cada crime possui influência direta no jus
puniendi (direito de punir do Estado), pois interfere nas causas de extinção da punibilidade, como a
decadência e a renúncia ao direito de queixa. Logo, a lei que disciplina a espécie de ação penal possui também
efeito material.

As normas processuais são retroativas?


NÃO. As leis processuais possuem aplicação imediata (tempus regit actum - art. 2º do CPP), não retroagindo
para alcançar fatos anteriores à sua vigência e regulando os atos processuais a serem realizados após entrar
em vigor.

As normas penais são retroativas?


NÃO, salvo para beneficiar o réu (art. 5º, XL, da CF e art. 2º, parágrafo único, do CP).
Assim, temos o seguinte:
• Se a lei penal posterior é favorável ao réu: retroage.
• Se a lei penal posterior é contrária ao réu: não retroage.

E as normas híbridas?
As leis híbridas, como possuem reflexos penais, recebem o mesmo tratamento que as normas penais no que
tange à sua aplicação no tempo.
Logo, as normas híbridas não retroagem, salvo se para beneficiar o réu.
Desse modo, a norma que altera a espécie de ação penal de um crime não retroage, salvo se for para
beneficiar o réu.
Ex: antes da Lei nº 9.099/95, o crime de lesão corporal leve era de ação penal pública incondicionada; depois
da Lei, esse delito passou a ser de ação penal pública condicionada. Isso é mais benéfico para o réu que
responde ao processo? Sim, porque na ação penal pública condicionada existe a possibilidade de renúncia e
de decadência, que não são permitidas na ação pública incondicionada. Logo, a lei foi retroativa nesse ponto.
Ex2: o crime de injúria racial era de ação penal privada e, por força da Lei nº 12.033/2009, passou a ser de
ação penal pública condicionada à representação. Essa Lei é mais benéfica para o réu? Não, porque limita as
causas de extinção da punibilidade. Logo, para as pessoas que cometeram o delito antes da Lei nº
12.033/2009, a ação continua sendo privada, não retroagindo a lei.

Isso significa que essa alteração irá retroagir para alcançar fatos anteriores à sua vigência?
SIM. O § 5º do art. 171 do CP apresenta caráter híbrido (norma mista) e, além disso, é mais favorável ao autor
do fato. Logo, tem caráter retroativo.
A dúvida, no entanto, reside na extensão dessa retroatividade:

A mudança na ação penal do crime de estelionato, promovida pela Lei 13.964/2019, retroage para alcançar
os processos penais que já estavam em curso? Mesmo que já houvesse denúncia oferecida, será necessário
intimar a vítima para que ela manifeste interesse na continuidade do processo?
• NÃO. É o entendimento do STJ e da 1ª Turma do STF:
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A exigência de representação da vítima no crime de estelionato não retroage aos processos cuja denúncia já

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foi oferecida.
STJ. 3ª Seção. HC 610201/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 24/03/2021 (Info 691).

Tese nº 9: A exigência de representação da vítima como condição de procedibilidade para a ação penal por
estelionato, inserida pela Lei n. 13.964/2019, não alcança os processos cuja denúncia foi apresentada antes
da vigência de referida norma.

Em face da natureza mista (penal/processual) da norma prevista no §5º do artigo 171 do Código Penal, sua
aplicação retroativa será obrigatória em todas as hipóteses onde ainda não tiver sido oferecida a denúncia
pelo Ministério Público, independentemente do momento da prática da infração penal, nos termos do art.
2º, do CPP, por tratar-se de verdadeira “condição de procedibilidade da ação penal”.
Assim, é inaplicável a retroatividade do §5º do art. 171 do Código Penal, às hipóteses onde o Ministério
Público tiver oferecido a denúncia antes da entrada em vigor da Lei nº 13.964/2019; uma vez que, naquele
momento a norma processual em vigor definia a ação para o delito de estelionato como pública
incondicionada, não exigindo qualquer condição de procedibilidade para a instauração da persecução penal
em juízo.
Em suma, a nova legislação não prevê a manifestação da vítima como condição de prosseguibilidade quando
já oferecida a denúncia pelo Ministério Público.
STF. 1ª Turma. HC 187341, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 13/10/2020.

• SIM. É a posição da 2ª Turma do STF:


A alteração promovida pela Lei nº 13.964/2019, que introduziu o § 5º ao art. 171 do Código Penal, ao
condicionar o exercício da pretensão punitiva do Estado à representação da pessoa ofendida, deve ser
aplicada de forma retroativa a abranger tanto as ações penais não iniciadas quanto as ações penais em curso
até o trânsito em julgado.
STF. 2ª Turma. HC 180421 AgR/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 22/6/2021 (Info 1023).

10) A retroatividade da representação da vítima no crime de estelionato, inserida pelo Pacote Anticrime,
deve se restringir à fase policial, pois não alcança o processo.

Considerando o que foi visto na tese anterior, a retroatividade da representação prevista no § 5º do art. 171
do CP deve se restringir à fase policial.
A exigência de representação no crime de estelionato, trazida pelo Pacote Anticrime, não afeta os processos
que já estavam em curso quando entrou em vigor a Lei nº 13.964/2019.
Assim, se já havia denúncia oferecida quando entrou em vigor a nova Lei, não será necessária representação
do ofendido.

O § 5º do art. 171 é uma condição de procedibilidade (e não de prosseguibilidade)


O novo comando normativo apresenta caráter híbrido, pois, além de incluir a representação do ofendido
como condição de procedibilidade para a persecução penal, apresenta potencial extintivo da punibilidade,
sendo tal alteração passível de aplicação retroativa por ser mais benéfica ao réu.
Contudo, além do silêncio do legislador sobre a aplicação do novo entendimento aos processos em curso,
tem-se que seus efeitos não podem atingir o ato jurídico perfeito e acabado (oferecimento da denúncia), de
modo que a retroatividade da representação no crime de estelionato deve se restringir à fase policial, não
alcançando o processo. Do contrário, estar-se-ia conferindo efeito distinto ao estabelecido na nova regra,
transformando-se a representação em condição de prosseguibilidade e não procedibilidade.
Jurisprudência em Teses
EDIÇÃO N. 184: Pacote Anticrime
DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL

Assim, pode-se afirmar que a irretroatividade do art. 171, §5º, do CP decorre da própria mens legis,
considerando que, mesmo podendo, o legislador previu apenas a condição de procedibilidade, nada

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dispondo sobre a condição de prosseguibilidade.

Segurança jurídica e ato jurídico perfeito


Ademais, é importante registrar que essa conclusão pela não-retroatividade resguarda a segurança jurídica
e o ato jurídico perfeito (art. 25 do CPP), quando já oferecida a denúncia.
Prevalece, tanto neste STJ quanto no STF, o entendimento no sentido de que “a representação, nos crimes
de ação penal pública condicionada, não exige maiores formalidades, sendo suficiente a demonstração
inequívoca de que a vítima tem interesse na persecução penal. Dessa forma, não há necessidade da
existência nos autos de peça processual com esse título, sendo suficiente que a vítima ou seu representante
legal leve o fato ao conhecimento das autoridades” (STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 435.751/DF, Rel. Ministro
Nefi Cordeiro, DJe 04/09/2018).

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