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3ª SÉRIE / CURSO TURMA: DATA: 29 / 09 / 2015

Professor: Adriano Alves


Trabalhou, assim como parnasianos e simbolistas, com sonetos e
Pré-Modernismo (1902 – 1922) verso decassílabo. Sua visão de mundo e a interrogação do mistério da
existência e do estar-no-mundo marcam esta nova vertente poética. Há
“Não há um só homem de coração bem formado que não se sinta uma aflição pessoal demonstrada com intensidade dramática, além do
confrangido ao contemplar o doloroso quadro oferecido pelas pessimismo. Constância da morte, desintegração e os vermes.
sociedades atuais com sua moral mercantil e egoísta” --Euclides da “A passagem dos séculos me assombra. / Para onde irá correndo
Cunha minha sombra / Nesse cavalo de eletricidade?! / Quem sou? Para onde
Esta época apresenta, na literatura, um entrecruzar de várias vou? Qual minha origem? / E parece-me um sonho a realidade.”
correntes estéticas. Por um lado, tem-se a queda da proposta realista- Obra Principal:
naturalista-parnasiana, e de outro uma afirmação da poesia simbolista.
Na mesma época, então, vai surgir uma prosa de ficção que, ligada à
 Poesias – Eu (1912)
tradição realista, vai revelar criticamente as tensões da sociedade
Versos Íntimos
brasileira.
Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Não pode ser considerada uma escola literária, mas sim um
Enterro de tua última quimera.
período literário de transição para o Modernismo.
Somente a Ingratidão — esta pantera —
Foi tua companheira inseparável!
Referências históricas
 Bahia – Rev. De Canudos Acostuma-te à lama que te espera!
 Nordeste – Ciclo do Cangaço O homem, que, nesta terra miserável,
 Ceará – milagres de Padre Cícero gerando clima de histeria Mora, entre feras, sente inevitável
fanático-religiosa Necessidade de também ser fera.
 Amazônia – Ciclo da Borracha
 Rio de Janeiro – Revolta da Chibata (1910) Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
 revolta contra a vacina obrigatória (varíola) – Oswaldo Cruz O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
 república do café-com-leite (grandes proprietários rurais) A mão que afaga é a mesma que apedreja.
 imigrantes, notadamente os italianos
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
 surto de urbanização de SP – greves gerais de operários Apedreja essa mão vil que te afaga,
(1917) Escarra nessa boca que te beija!
 contrastes da realidade brasileira – Sudeste em prosperidade --Augusto dos Anjos
e Nordeste na miséria
 Europa prepara-se para a 1ª GM – tempo de incertezas Euclides da Cunha (1866/1909)

Características Exerceu a função de engenheiro civil no meio militar. Foi membro


Na prosa, tem-se Euclides da Cunha, Graça Aranha, Lima Barreto da ABL, do Instituto Histórico e catedrático em Lógica pelo Colégio Dom
e Monteiro Lobato que se posicionam diante dos problemas sociais e Pedro II. Viajou muito e escreveu Os Sertões pela experiência própria
culturais, criticando o Brasil arcaico e negando o academicismo de ter testemunhado a Guerra de Canudos como correspondente
dominante. Na poesia, Augusto dos Anjos modifica o Simbolismo, jornalístico. Envolvido num grande escândalo familiar, foi assassinado
injetando-lhe traços expressionistas e revelando uma visão em duelo pelo amante da esposa.
escatológica (cenas de fim do mundo) da vida. Positivista, florianista e determinista, é seu estilo pessoal e
Quanto às características, percebe-se um individualismo muito forte, inconformismo caracterizam-no como um pré-modernista. Foi o
ainda assim pode-se destacar alguns pontos de aproximação desses primeiro escritor brasileiro a diagnosticar o subdesenvolvimento do
autores. país, diagnosticando os 2 Brasis (litoral e sertão).
 ruptura com o passado, principalmente em Augusto dos As passagens a seguir provém de Os Sertões, sendo cada uma de
Anjos que afronta a poesia parnasiana ainda em vigor uma parte da obra.
 denúncia da realidade brasileira, mostrando o Brasil não “Ao passo que a caatinga o afoga; abrevia-lhe o olhar; agride-o e
oficial do sertão, dos caboclos e dos subúrbios estonteia-o; enlaça-o na trama espinescente e não o atrai; repulsa-o
 regionalismo N e NE com Euclides; Vale do Paraíba e interior com folhas urticantes, com o espinho, com os gravetos estalados em
paulista com Lobato; ES com Graça Aranha e subúrbio carioca lanças; e desdobra-se lhe na frente léguas e léguas, imutável no
com Lima Barreto aspecto desolado: árvores sem folhas, de galhos estorcidos e secos,
revoltos, entrecruzados, apontando rijamente no espaço ou estirando-
 tipos humanos marginalizados (sertanejo, nordestino,
se flexuosos pelo solo, lembrando um bracejar imenso, de tortura, da
mulato, caipira, funcionário público)
flora agonizante...” A Terra
 apresentação crítica do real na ficção “Porque não no-los separa um mar, separam-no-los três
séculos...” O Homem
Autores “E volvendo de improviso às trincheiras, volvendo em corridas
para os pontos abrigados, agachados em todos os anteparos [...] os
Augusto dos Anjos (1884/1914) triunfadores, aqueles triunfadores memorados pela História,
compreenderam que naquele andar acabaria por devorá-los, um a um,
Formou-se em direito, mas foi sempre professor de Literatura. o último reduto combatido. Não lhes bastavam seis mil Mannlichers e
Nervoso, misantropo e solitário, este possível ateu morreu de forte seis mil sabres; e o golpear de doze mil braços [...] e os degolamentos,
gripe antes de assumir um cargo que lhe daria mais recursos. e a fome, e a sede; e dez meses de combates, e cem dias de canhoneio
Publicou apenas um único livro de poesias, Eu, mais tarde contínuo; e o esmagamento das ruínas; e o quadro indefinível dos
reeditado como Eu e outras poesias. Sua obra é cientificista, templos derrocados; e por fim, na ciscalhagem das imagens rotas, dos
profundamente pessimista. Sua visão da morte como o fim, o linguajar altares abatidos, dos santos em pedaços – sob a impassibilidade dos
e os temas usados por muitos são considerados como sendo de mau céus tranquilos e claros – a queda de um ideal ardente, a extinção
gosto, mas caracterizam sua poesia como única na literatura brasileira. absoluta de uma crença consoladora e forte...” A Luta
“Já o verme — este operário das ruínas — / Que o sangue podre
das carnificinas / Come e à vida em geral declara guerra,”

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Obras principais:  Vida e Morte de M. J. Gonzaga e Sá (1919)
 Os Sertões (1902)  Clara dos Anjos (1948)
 Contrastes e Confrontos (1906)  Conto:
 Peru Versus Bolívia (1907)  História e Sonhos (1956)
 Castro Alves e seu Tempo (1908)  Sátira Política e Literária:
 À Margem da História (1909)  Os Bruzundangas (1923)
 Canudos: Diário de uma Expedição (1939)  Coisas do Reino do Jambon (1956)
 Humorismo:
Graça Aranha (1866/1931)  Aventuras do Dr. Bogoloff (1912)
 Artigos e Crônicas:
Aluno de Tobias Barreto, seguiu a carreira diplomática depois de  Feiras e Mafuás (1956)
ser juiz no Maranhão e no Espírito Santo. Participou ativamente do  Bagatelas (1956)
movimento modernista, como doutrinador. Colaborou na fundação da
 Crônicas sobre Folclore Urbano:
ABL (mesmo sem ter livro publicado) e da Semana de Arte Moderna de
22, por isso sendo considerado por muitos um modernista. Não é  Matginália (1956)
considerado modernista porque sua única obra “modernista”, A  Vida Urbana (1956)
viagem maravilhosa, é feita em um estilo extremamente artificial.  Memórias:
Morreu logo antes de publicar sua autobiografia, O meu próprio  Diário Íntimo (1956)
romance, de 1931.  Cemitério dos Vivos (1956)
“Milkau estava sereno no alto da montanha. Descobrira a cabeça
de um louro de ninfa, e sobre ela, e na barba revolta, a luz do sol batia, Monteiro Lobato (1882/1948)
numa fulguração de resplendor. Era um varão forte, com uma pele
rósea e branda de mulher, e cujos poderosos olhos, da cor do infinito, Homem de diversas atividades (escritor, editor, relojoeiro,
absorviam, recolhiam docemente a visão segura do que iam passando. fazendeiro, promotor, industrial, comerciante, professor, adido
A mocidade ainda persistia em não o abandonar; mas na harmonia das comercial etc.). Tem por formação Direito e participa de grupos e
linhas tranquilas do seu rosto já repousava a calma da madureza que ia jornais literários, entre eles o Minarete.
chegando.” Torna-se editor com a instalação da Editora Monteiro Lobato, que
“Tudo o que vês, todos os sacrifícios, todas as agonias, todas as traz grandes inovações para o mercado editorial brasileiro. Ainda
revoltas, todos os martírios são formas errantes de Liberdade. E essas assim, Lobato acaba falido. No ano de 1925, funda a Companhia
expressões desesperadas, angustiosas, passam no curso dos tempos, Editora Nacional e começa a escrever sua vasta obra de literatura
morrem passageiramente, esperando a hora da ressurreição... Eu não infantil. Isso se dá por decepção com o mundo adulto, por isso começa
sei se tudo o que é vida tem um ritmo eterno, indestrutível, ou se é a investir no futuro do Brasil.
informe e transitório... Os meus olhos não atingem os limites Em 1917, publica, no jornal O Estado de São Paulo, o artigo contra
inabordáveis do Infinito, a minha visão se confina em volta de ti [...] Eu a pintora Anita Malfatti (estopim do Modernismo). A Propósito da
te suplico, a ti e à tua ainda inumerável geração, abandonemos os Exposição Malfatti, expressa uma postura agressiva contra as novas
nossos ódios destruidores, reconciliemo-nos antes de chegar ao tendências artísticas do século XX, que resultará no seu desligamento
instante da Morte...” dos principais participantes da Semana de Arte Moderna de 1922. Sua
Obras principais: crítica acalorada se dá porque ele não admitia a submissão da cultura
 Canaã (1902/romance) brasileira às ideias europeias, daí ser chamado de Policarpo Lobato.
 Estética da Vida (1921/ensaio) Faz campanhas nacionais favor da exploração das riquezas do
 Espírito Moderno (1925/ensaio) subsolo: petróleo e minérios. Funda a Companhia de Petróleo do Brasil,
acreditando no nosso desenvolvimento e denunciando o monopólio
 A Viagem Maravilhosa (1927/romance)
internacional.
Aproxima-se das ideias do Partido Comunista Brasileiro.
Lima Barreto (1881/1922)
Controvertido, ativo e participante, Lobato defende a modernização do
Brasil nos moldes capitalistas. Faz uma crítica fecunda ao Brasil rural e
Nascido de pai português e mãe escrava, era mulato e pobre.
pouco desenvolvido, como no Jeca Tatu (estereótipo do caboclo
Afilhado do Visconde do Ouro Preto, conseguiu estudar e ingressar aos
abandonado pelas autoridades governamentais) do livro Urupês.
15 anos na Escola Politécnica. Lá sofreu toda sorte de humilhações e
Curioso é que, na quarta edição de Urupês, o autor, no prefácio, pede
preconceitos e, quando estava no 3º ano, teve de trabalhar e sustentar
desculpas ao homem do interior, enfatizando suas doenças e
a família, pois o pai enlouquecera. Presta concurso para escriturário no
dificuldades.
Ministério da Guerra, permanecendo nessa modesta função até
Obras principais:
aposentar-se.
 Contos:
Socialista influenciado por autores russos, Lima Barreto vive
 Urupês (1919)
intensamente as contradições do início do século, torna-se alcoólatra e
 Ideias de Jeca Tatu (1918)
passa por profundas crises depressivas, sendo internado por duas
vezes. Em todos os seus romances, percebe-se traço autobiográfico,  Cidades Mortas (1919)
principalmente através de personagens negros ou mestiços que sofrem  Negrinha (1920)
preconceitos.  Mundo da Lua (1923)
Mostra um perfeito retrato do subúrbio carioca, criticando a  O Macaco que se Fez Homem (1923)
miséria das favelas e dos cortiços. Posiciona-se contra o nacionalismo  O Choque das Raças ou O Presidente Negro (1926)
ufanista, a educação recebida pelas mulheres, voltada para o  Jornalismo:
casamento, e a República com seu exagerado militarismo. Utiliza-se da  A Onda Verde (1921)
alta sociedade para desmacará-la, desmitificá-la em sua banalidade.  Problema Vital (1946)
Seus personagens são humildes funcionários públicos, alcoólatras  Epistolografia e crítica:
e miseráveis.. Sua linguagem é jornalística e até panfletária.  Mr. Slang e o Brasil (1929)
Triste Fim de Policarpo Quaresma é a obra que lhe garante  Ferro (1931)
notoriedade. Antes de falir, o editor Monteiro Lobato publica Vida e  América (1932)
Morte de M. J. Gonzaga de Sá e, pela primeira vez, Barreto é bem pago  Na Antevéspera (1932)
por algum original.  O Escândalo do Petróleo (1936)
Obras principais:  A Barca de Gleyre (1944)
 Romance:  Literatura Infantil:
 Recordações do Escrivão Isaías Caminha (tematiza  Reinações de Narizinho
preconceito racial e crítica ao jornalismo carioca – 1909)  Viagem ao Céu
 Triste Fim de Policarpo Quaresma (inicialmente publicado em  O Saci
folhetins – 1915)  Caçadas de Pedrinho
 Numa e Ninfa (1915)
2
 Hans Staden Textos
 Histórias do Mundo para Crianças
 Memórias de Emília Fragmentos do capítulo 1 de Urupês
 Peter Pan
 Emília no País da Gramática Nada o esperta. Nenhuma ferretoada o põe de pé. Social, como
 Aritmética de Emília individualmente, em todos os atos da vida, antes de agir, acocora-se.
 Geografia de Dona Benta Jeca Tatu é um piraquara do Paraíba, maravilhoso epítome de
 Serões de Dona Benta carne onde se resumem todas as características da espécie.
 História das Invenções Ei-lo que vem falar ao patrão. Entrou, saudou. Seu primeiro
movimento após prender entre os lábios a palha de milho, sacar o
 D. Quixote para as Crianças
rolete de fumo e disparar a cusparada d’esqguicho, é sentar-se
 O Poço do Visconde
jeitosamente sobre os calcanhares. Só então destratava a língua e a
 Histórias de Tia Nastácia
inteligência. (...) De pé ou sentado as ideias se lhe entramam, a língua
 O Pica-pau Amarelo
emperra e não há de dizer coisa com coisa. (...)Pobre Jeca Tatu! Como
 A Reforma da Natureza és bonito no romance e feio na realidade!
 O Minotauro (...) Seu grande cuidado é espremer todas as consequências da lei
 Fábulas do menor esforço — e nisto vai longe.
 Os Doze Trabalhos de Hércules Começa na morada. Sua casa de sapé e lama faz sorrir aos bichos que
 O Marquês de Rabicó moram em toca e gargalhar ao joão-de-barro. Pura biboca de
bosquímano. (...) Às vezes se dá ao luxo de um banquinho de três
Simões Lopes Neto (1865-1916) pernas — para os hóspedes. Três pernas permitem equilíbrio, inútil,
portanto, meter a quarta, que ainda o obrigaria a nivelar com o chão.
O Capitão publicou três livros em toda a vida, todos na cidade em Para que assentos, se a natureza os dotou de sólidos, rachados
que nascera, Pelotas, no RS. Foram eles Cancioneiro Guasca, Lendas do calcanhares sobre os quais se sentam?
Sul e Contos Gauchescos. Fez teatro e, apesar de suas obras terem Nenhum talher. Não é a munheca um talher completo — colher, garfo
sempre cunho tradicionalista, era um homem de hábitos urbanos. e faca a um tempo?
Acalentava grandes sonhos literários, mas seu reconhecimento só foi (...) Seus remotos avós não gozaram de maiores comodidades.
póstumo. Seus netos não meterão quarta perna ao banco. Para quê? Vive-se bem
“E do trotar sobre tantíssimos rumos; das pousadas pelas sem isso. (...) Remendo... Para quê? Se uma casa dura dez anos e
estâncias dos fogões a que se aqueceu; dos ranchos em que cantou, faltam “apenas” nove para que ele abandone aquela? Esta filosofia
dos povoados que atravessou; das coisas que ele compreendia e das economiza reparos. (...) Todo o inconsciente filosofar do caboclo grulha
que eram-lhe vedadas ai singelo entendimento; do pêlo-a-pêlo com os nessa palavra atravessada de fatalismo e modorra. Nada paga a pena.
homens, das erosões, da morte e das eclosões da vida, entre o Blau – Nem culturas, nem comodidades. De qualquer jeito se vive. --Monteiro
moço, militar – e o Blau – velho, paisano -, ficou estendida uma longa Lobato
estrada semeada de recordações – casos, dizia -, que de vez em
quando o vaqueano recontava, como quem estende no sol, para arejar, Vanguardas europeias
roupas guardadas ao fundo de uma arca.” Contos Gauchescos
“Foi assim e foi por isso que os homens, que quando pela Ao final do século XIX, o mundo, em especial a Europa, conheceu
primeira vez viram a boiguaçu tão demudada, não a conheceram mais. um grande avanço científico e tecnológico que fez crer que se realizara
Não conheceram e julgando que era outra, chamam-na desde então de a previsão dos Iluministas (século XVIII), em especial de Condorcet, que
boitatá, cobra de fogo, boitatá, a boitatá!” Lendas do Sul projetavam a felicidade suprema, ou quase, ao homem para quando
“Findava aqui o calhamaço de que a princípio se falou, quando ele se libertasse do irracionalismo, do obscurantismo e dominasse o
disse que recebi em certa hora de pleno dezembro, por véspera de conhecimento científico revertendo-o em tecnologia capaz de
Natal, quando eu estava, desesperado, a abanar mosquitos (...) Apenas melhorar as condições de vida. Todo esse processo, em um primeiro
ao canto da página, a lápis, havia uns dizeres que custei a decifrar, e momento, deu origem ao Naturalismo. Paris e Viena tornavam-se os
que eram estes: o 2º. Volume será o dos ‘Sonhos do Romualdo’” Casos centros culturais por excelência e, neste sentido, núcleos da Belle
do Romualdo Époque.
De fato, a ciência realizara grandes avanços que possibilitaram à
Raul de Leoni (1895-1926) indústria se expandir e lançar invenções que revolucionariam
radicalmente o mundo. Entre eles, pode-se citar, por exemplo, o rádio,
Foi um autor altamente independente de seu tempo, sem o automóvel, o cinema, o telégrafo e o aeroplano. Além destes, já se
filiações a movimentos literários. Amigo de Olavo Bilac, sua poesia dominava a eletricidade, enquanto que as locomotivas e os barcos a
continha muita influência parnasiana, mas também possuía vapor faziam o transporte de produtos e pessoas muito mais rápido
características simbolistas e uma bela simplicidade misturada a que as velhas carruagens ou caravelas. É o início da era da velocidade,
preocupações filosóficas. da pressa e da imagem. As conquistas e inventos davam ao homem a
doce ilusão de que ela já havia enfrentado seus grandes problemas e
Observação que agora seria o momento do desfrute.
Ensaístas Alberto Torres, Manuel Bonfim e Oliveira Viana O mundo, apesar de todas essas conquistas, não havia atingido
produziram estudos que se desdobraram em programas de ainda outra muito mais importante (como não atingiu até hoje): a da
organização sócio-política. Isto é, não só denunciaram as mazelas do divisão da renda. Esta situação ocasionou vários protestos e greves
Brasil da época, como também apresentaram soluções a esses fazendo que se expandissem ideias socialistas e anarquistas entre os
problemas. João Ribeiro passou de poeta parnasiano a crítico literário, operários. Com isto, o descontentamento não só atingia a relação
sendo um dos primeiros a problematizar a questão da língua capital/trabalho, mas também as relações comerciais entre as nações,
nacional. Atacava também a rigidez estética de simbolistas e e, em 1914, eclodia a 1ª Grande Guerra. Outro choque que abalaria a
parnasianos e proclamava a necessidade de destruição dos ídolos sociedade burguesa se daria em 1917: a Revolução Socialista na Rússia
caducos. czarista. Toda esta agitação fez cair por terra afinal a utopia da Belle
Époque e estremecer as verdades e crenças burguesas.
Sinopse No campo artístico, o Naturalismo (século XIX) foi a escola que
trouxe para a arte o racionalismo, o cientificismo. Para os naturalistas,
Marco inicial = publicação dos livros Os Sertões, de Euclides da a arte deveria ser uma extensão da ciência. Na poesia, o parnasianismo
Cunha e Canaã, de Graça Aranha em 1902. seguiu também as diretrizes do racionalismo procurando fazer uma
Marco final = Semana de Arte Moderna de 1922. arte mais ornamentária, por isto a preocupação maior residia na forma
não no conteúdo, é “a arte pela arte”. Por outro lado, o Simbolismo
anunciava a decadência do mundo burguês, propondo, ao contrário do
racionalismo-naturalista, a redescoberta do eu-poético, do eu-
metafísico.

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Na filosofia, o francês Henri Bergson lançava a teoria intuicionista, Quanto à maneira de se escrever um poema futurista, Marinetti,
pregando que o caminho para se determinar o que era o real era o da em outro manifesto, procurou determinar as “regras”. Uma delas é a
intuição e não o da razão. Enquanto isso, o psicanalista austríaco total destruição da sintaxe, ou seja, as palavras têm que ser escritas
Sigmund Freud desenvolvia pesquisas sobre o subconsciente humano. sem estarem sujeitas a uma ordenação pré-estabelecida. Aqui se
Tudo isto possibilitava o ressurgimento do subjetivismo, ou seja, a observa uma aproximação com as ideias do filósofo Henri Bergson, que
visão pessoal do artista. ressaltava a busca da liberdade do artista sem que este estivesse preso
Essa efervescência sócio-política, econômica e cultural a academismos.
possibilitou o aparecimento de movimentos artísticos que refletiram e Uma outra “regra” é a abolição tanto do advérbio quanto do
discutiram o caos e frenesi desses anos iniciais do século XX. adjetivo. É que as palavras que pertencem a estas classes gramaticais
Tais movimentos ficaram conhecidos como vanguardas europeias, que, têm como função qualificar ou modificar o verbo ou o substantivo,
de modo geral, representaram uma crítica às opressões causadas ao além de serem palavras utilizadas para se descrever uma cena, o que,
homem pela civilização industrial. Por outro lado, procuraram em linhas práticas, significa imobilidade de uma ação, não combinando
acompanhar a mudança do mundo trazendo para as manifestações com a agilidade e rapidez pretendida pelos futuristas.
artísticas a agitação da vida moderna, além de proclamar a necessidade É preciso destruir a sintaxe, dispondo os substantivos ao acaso,
de a arte tratar de temas modernos e não ficar preso, como fazia o como nascem. O adjetivo, tendo em si um caráter de esbatimento, é
Parnasianismo, ao mundo grego. As vanguardas se caracterizam pelo incompatível com nossa visão dinâmica. O advérbio conserva a frase
desejo de destruição do passado e pela visão crítica do presente. numa fastidiosa unidade de tom.
Marinetti propunha ainda o uso de símbolos matemáticos (+ - x :
Futurismo = ), menosprezo pela pontuação e a utilização de vários tipos e
tamanhos de letras (bastante usado na poesia concreta da década de
Nós declaramos que o esplendor do mundo se enriqueceu com 50) para a composição do poema.
uma beleza nova: a beleza da velocidade.(...) um automóvel rugidor,
que parece correr sobre a metralha, é mais belo que a ‘Vitória da Cubismo
Samotrácia’.
Para se ir contra uma literatura, uma arte considerada passadista, Embora o futurismo tenha sido o primeiro movimento de
nada mais comum que se faça outra voltada para o futuro. Daí a razão vanguarda a se apresentar através de um manifesto, o cubismo
de o primeiro movimento de vanguarda da Europa se chamar manifestara-se através do pintor espanhol Pablo Picasso em 1907 com
futurismo, embora, num primeiro momento, a vontade de seu grande a tela Les Demoiselles d’Avignon. Em 1908, Matisse, ao participar do
líder, Filippo T. Marinetti, tenha sido o de batizá-lo como dinamismo ou júri do Salão de Outono, comentando a tela Les Maisons à l’Estaque, de
eletricismo. Braque, qualificou-a como “caprichos cúbicos”, surgindo daí então o
É muito comum também que quando surge uma nova escola termo cubismo.
artística, ela apresentar-se através de manifestos. O futurismo não De qualquer modo, somente em 1913, quando o poeta francês
fugiu à regra, nem tampouco os demais movimentos que estudaremos Guillaume Apollinaire, procurando aproximar as técnicas da pintura
neste capítulo. No caso do futurismo, houve até um exagero, pois com as da poesia, lança um “Manifesto-Síntese”, é que são
foram lançados mais de 30 desses manifestos. O primeiro apareceu em apresentadas as bases que deram origem ao cubismo de modo oficial.
20/02/1909, no jornal francês Le Figaro. Neste primeiro manifesto, E é só em 1917 que o termo cubista passou a designar também um tipo
Marinetti procurou ser mais abrangente, nos demais tratou mais de poesia que procurava exprimir o mundo exterior utilizando-se de
especificamente de vários assuntos: literatura, música, mulher etc. uma linguagem própria e decomposta, em métrica ou versificação
Apesar de o primeiro manifesto ter sido publicado em um jornal tradicional.
francês é para a Itália que se dirigia: Assim como os demais movimentos que estamos estudando
É para a Itália que nós lançamos este manifesto de violência neste capítulo, o cubismo se configurou como uma reação à arte
agitada e incendiária, pela qual fundamos hoje o futurismo, porque acadêmica, à arte dissociada dos tempos modernos, da era da
queremos livrar a Itália de suas gangrena de professores, de velocidade, do cinema, da eletricidade. Veja, por exemplo, como se
arqueólogos, de cicerones e de antiquários. inicia o referido “Manifesto-Síntese”, escrito por Apollinaire:
Os movimentos de vanguarda possuem, em geral, um ABAIXO Opominir Aliminé Sskprsusu
pensamento destrutivo em relação ao passado. Porém, esta ideia Otalo ADIScramir Monigme
destrutiva não era fortuita. A intenção era colocar a arte em contato Quanto à técnica, a arte cubista procura decompor a realidade,
com o mundo moderno. O mundo da máquina, da velocidade, do ritmo ou a língua, para depois expressá-la através de planos superpostos e
frenético da cidade, tendo como objetivo construir uma literatura, uma geométricos criando assim uma nova realidade, filtrada pela visão
arte do futuro, por assim dizer. subjetivista do artista. Segundo Pierre Albert-Birot, um poeta francês,
Nós cantaremos as grandes multidões movimentadas pelo hoje esquecido, “para fazer uma obra, é preciso criar, e não copiar.
trabalho, pelo prazer ou pela revolta; as marés multicoloridas e Quando a nós procuramos a verdade na realidade pensada, e não na
polifônicas das revoluções nas capitais modernas. realidade aparente.” Isto demonstra o desejo de se criar
Esta visão destrutiva não se prendia somente às artes mas conscientemente um objeto de arte, embora a poesia ou tela, às vezes
também à sociedade burguesa, à sociedade da Belle Époque. seja de difícil compreensão. É que para o cubismo a arte deveria existir
Nós queremos demolir os museus, as bibliotecas, combater o por si só, ou seja, não lhe interessa a representação verdadeira da
moralismo, o feminismo e todas as covardias oportunistas e utilitárias. realidade, conforme faziam as escolas artísticas realista/naturalista e
Entretanto, ser antiburguês para um futurista italiano significava também a parnasiana.
ser contra uma burguesia fútil e fraca, e era esta justamente a que No caso específico da literatura, a poesia cubista, dentro daquele
estava no poder e nada fazia para deter os avanço das ideias socialistas espírito de ajustar a arte aos tempos modernos, procura ser
nem tampouco elevava à Itália à posição de destaque pretendida pelos fragmentária e elíptica, buscando com isto dar uma simultaneidade de
futuristas. fatos. Foge, pois, ao descritivismo detalhista da arte realista, dando
É a partir do primeiro manifesto que saem as ideias que uma maior rapidez e agilidade ao poema. Oswald de Andrade, mentor
aproximarão Marinetti do fascismo de Mussollini em 1919, mesmo dos movimentos Pau-Brasil e Antropofágico, aproveitou-se destas
porque o nacionalismo exacerbado tende a levar a um sentimento técnicas para compor alguns de seus poemas:
xenófobo, como é o caso do próprio fascismo ou do nazismo, de Adolf
Hitler. Traituba
Nós queremos glorificar a guerra – única higiene do mundo – o
militarismo, o patriotismo, o gesto destrutor dos anarquistas. O sobrado parecia uma igreja
É bom que se diga que o futurismo sucumbiu justamente quando Currais
se filiou ao fascismo. Futurismo passou a ser uma palavra não muito E uma e outra árvore
apreciada nos meios intelectuais. Tanto que Mário de Andrade Para amarrar os bois
procurou distanciar-se desse futurismo: “Não sou futurista (de O pomar de toda fruta? E a passarinhada
Marinetti). Disse e repito-o. Tenho pontos de contato com o futurismo. Juá na roça de milho
Oswald de Andrade, chamando-me de futurista, errou.” Carros de fumo puxados por 12 bois
Codorna tucano perdiz araponga
Jacu nhambu juriti
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São ainda características da arte cubista o humor, o ilogismo e o Quanto à literatura, os textos dadaístas mostravam-se agressivos,
antiintelectualismo, indo de encontro à arte acadêmica, que pregava a opondo-se a qualquer técnica tradicional, criando com isto um texto
racionalidade, a clareza e a objetividade. Este ilogismo é marcado pelo ilógico e antiracional. “abolição da lógica, dança dos impotentes da
descontínuo cronológico: passado e presente se interligam. Além disso, criação: DADÁ; (...) trajetória de uma palavra lançada como um disco
há na poesia preocupação com aspectos visuais, a exemplo do que fará sonoro grito” (Manifesto Dada – 1918).
a poesia concreta, na década de 1950. Veja como exemplo de ilogicidade dadá este poema de Tzara:
O cubismo, ao menos como movimento compacto, unido, se
estendeu até 1920 aproximadamente, sendo que uma das causas de As borboletas de 5 metros de comprimento se partem
sua dissolução foi a morte de seu grande líder, Apollinaire, ocorrida em como os espelhos, como o voo dos rios noturnos
1918. Além de Apollinarie, outros poetas se destacaram, como Max sobem com o fogo até à via-láctea.
Jacob, Jean Cocteau, Pierre Reverdy e Blaise Cendras, este último
exerceu uma boa influência em nossos escritores da 1ª fase Uma técnica dadaísta, aprofundada pelos surrealistas, é a da
modernista, que veremos adiante. Na pintura, os artistas que mais se escrita automática, que consiste em escrever sem qualquer
destacaram foram o já referido Picasso e mais ainda Fernand Léger, preocupação lógica, fazendo uma livre associação de ideias (conforme
Juan Gris e Delaunay. o poema acima). Dentro deste espírito desconcertante, Tzara dá até
mesmo a “técnica” de como se escrever um poema dadaísta:
Dadaísmo
Pegue um jornal.
Dadá é a vida sem pantufas nem paralelos: quem é contra e pela Pegue a tesoura.
unidade e decididamente contra o futuro; nós sabemos ajuizadamente Escolha no jornal um artigo do tamanho que você deseja dar a
que os nossos cérebros se tornarão macias almofadas, que nosso seu poema.
antidogmatismo é tão exclusivista como o funcionário e que não somos Recorte o artigo.
livres e gritamos liberdade; necessidade severa sem disciplina nem Recorte em seguida com atenção algumas palavras que formam
moral e escarramos na humanidade. esse artigo
Assim começa o “Manifesto do Senhor Antipirina”, o manifesto e meta-se num saco.
dadaísta, o mais radical de todos os movimentos de vanguarda. De Agite suavemente.
feições anarquistas, o dadaísmo nasceu em meio à 1ª Grande Guerra, Tire em seguida cada pedaço um após o outro.
em Zurique, onde ainda se podia respirar os ares da paz. Copie conscienciosamente na ordem em que elas são tiradas do
Em 1916, foi fundado o Cabaret Voltarie, por Hugo Ball, e logo saco.
tornou-se local de reuniões de intelectuais e foragidos da guerra. Neste O poema se parecerá com você.
cabaret, Tristan Tzara, o próprio Hugo Ball, Hans Harp, Marcel Janco e E ei-lo um escritor infinitamente original e de uma sensibilidade
Huelsembeck lançaram o Dadaísmo, tendo como intenção buscar uma graciosa, ainda que incompreendido do público.
liberdade de se exprimir, de agir; pregando e destruição do passado, o
passado cultural e sócio-político da humanidade, assim como dos O Dadaísmo conheceu seu apogeu em 1920 e, no ano seguinte,
valores presentes, e não vendo qualquer esperança ao futuro. seu declínio. No ano de 1920, várias peças teatrais, recitais de música e
Apesar de todo esse radicalismo, o dadaísmo foi na verdade um leitura de poemas dadaístas foram praticadas com até mesmo certa
movimento pacifista, pois este desejo, esta ânsia de destruição, era aceitação pública. Porém, o distanciamento pretendido se acentuou e,
motivado exatamente pela guerra, que gerou uma forte crise moral e em um outro manifesto, lido por Francis Picabia, “Manifesto Canibal na
política por toda a Europa. O Dadaísmo representou, portanto, uma Obscuridade”, há a seguinte passagem:
reação à sociedade decadente, sobretudo a alemã. Voltou-se inclusive Dada não quer nada, não pede nada. Move-se e gesticula para
contra uma possível vitória da Alemanha. E um das maneiras que os que o público diga: nós não compreendemos nada, nada, nada.
artistas encontraram para mostrar seu descontentamento com a Contudo, a Europa, após o término da 1ª Guerra, pedia uma
sociedade foi criando uma antiarte, uma antiliteratura, carregada de reconstrução, tanto física quanto cultural e moral; e este desejo de se
ilogismo, de deboche, de humor sendo antiintelectualista, seguindo manter distante, este aspecto destrutivo foi causa de discordâncias
com isto parte das ideias cubistas, embora se declarassem anticubistas internas, sendo a principal a entre Tzara e André Breton, dadaísta
também. francês que, em 1924, lançaria o movimento surrealista. De qualquer
O cubismo a penúria nas ideias. Os cubistas, os quadros dos modo, apesar de todo radicalismo peculiar, os dadaístas cumpriram
primitivos, as esculturas negras, as guitarras, e agora vão cubicar o seu papel ao se posicionarem contra uma sociedade decadente.
dinheiro. (Francis Picabia – Manifesto canibal na obscuridade)
Este niilismo, esta negação dadaísta, era tão forte que os artistas Expressionismo
procuravam negar-se até a si mesmos. “Os verdadeiros dadaístas são
contra dadá.”. Isto pelo fato de, uma vez destruídas a arte acadêmica e Se o Futurismo nasceu na França e se dirigiu à Itália, o
a moral burguesa, dadá seria o substituto natural. Entretanto, o Expressionismo nasceu alemão e quis ser um movimento
dadaísmo representou uma reação a qualquer sistema supranacional:
institucionalizado. No referido manifesto, Tzara diz: “eu sou contra os Esse tipo de expressão não é alemão nem francês. Ele é
sistemas, o mais aceitável dos sistemas é aquele que tem por princípio supranacional. Ele não é somente assunto da arte. É exigência do
não ter princípio nenhum.” espírito. Não é programa de estilo. É um problema da alma. Uma coisa
Quanto ao significado da palavra dadá, Tzara explica: “Dada não da Humanidade. (Expressionismo na Poesia – Kasimir Edschmid).
significa nada.” De qualquer modo, esta palavra foi encontrada no Um dos fatores determinantes para o seu aparecimento foi a
dicionário Petit Larousse pelo próprio Tzara. E um dos significados lá criação do grupo “Die Brucke” (A Ponte), em 1905, na cidade de
presentes era o de que se tratava de um sinal de ingenuidade, algo Dresden. A partir daí o grupo foi se fechando até sua fundação oficial
ligado à criança. O que ressalta a ideia de espontaneidade, de ilogismo em 1910, através da revista “A Tempestade”.
e humor da antiarte dadaísta. Por outro lado, a intenção maior ao O Expressionismo foi um movimento que teve como herança
nomear o movimento de dadaísmo foi a de ter uma expressividade e cultural o impressionismo dos fins do século anterior. O
uma força à própria palavra. impressionismo na linha de pintores como Van Gogh e Paul Cézanne.
O Dadaísmo teve como epicentro Zurique, na Suiça; porém houve Isto quer dizer que o expressionismo foi um movimento de espírito e
uma contemporânea internacionalização do movimento, indo de Nova da alma. Um movimento que procurou se opor ao objetivismo
York a Moscou, passando por Paris, Barcelona e Munique. Na naturalista, ao racionalismo capitalista burguês. O que importa é a
Alemanha, procurou-se ressaltar os aspectos críticos em relação à expressão do mundo interior do artista. Ao expressionismo interessam
sociedade e ao pós-guerra. Enquanto nos Estados Unidos, Francis as sensações provocadas no artista tanto por fatos internos quanto
Picabia, Marcel Duchamp e o americano Man Ray realizam algo como externos
um protodadaísmo. Duchamp utilizou-se da técnica do ready-made, Para os expressionistas, a humanidade se encontrava no caos
consistindo em se aproveitar de produtos industrializados para recriar devido ao progresso científico e à consequente submissão do homem
um novo objeto que desprezasse a arte acadêmico-burguesa. Segundo frente ao materialismo; além de que este progresso contracenava com
Georges Hugnet, Duchamp “pretendia exprimir a sua aversão à arte e a o proletariado, pobre e destituído de possibilidades de desfrutar de tal
admiração pelos objetos fabricados.” progresso, e isto precisava ser combatido.

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A ideia é a de mudar o mundo. Nega-se o passado burguês, Para fazerem tal revolução seguiram dois caminhos; o do estudo
científico e constrói-se um novo mundo, baseado em uma visão mais do sonho, uma vez que é nele que experimentamos as mais diferentes
espiritualista e humanista. Quanto à arte, esta seria renovada, fantasias e situações. E nele que são revelados nossos instintos; e
naturalmente, num segundo momento. através da já referida escrita automática, que consiste em escrever sem
Para tanto, o Expressionismo se apoiou na filosofia qualquer racionalidade, escrever conforme as imagens se apresentam
fenomenológica de Husserl, isto é, uma filosofia voltada ao espírito, à em nossa mente, instintivamente. Dizia Breton: “A imaginação está a
alma; passou também pela filosofia antiracionalista de Bergson e pelos ponto de recuperar seus direitos”. Neste sentido, podemos estabelecer
estudos psicológicos de Freud. certa ligação com o movimento romântico, apesar de o romantismo ter
Quanto à arte propriamente dita, o expressionismo quer ser sido a expressão da arte burguesa por excelência.
irracional, ou seja, a obra deve ser totalmente subjetiva, ser a Estes dois caminhos são baseados nos estudos psicanalíticos de
expressão subjetiva do artista, o que gera, às vezes a perda do controle Freud e na filosofia de Bergson; os dois estudiosos levantaram a
da expressão, uma espécie de automatismo psíquico mais bem importância do mundo interior do homem, o seu estado do
explorado pelos surrealistas. A obra deve nascer a partir do confronto subconsciente. Passando, portanto, para segundo plano, o mundo
entre o sujeito (o artista) e o objeto a ser descrito. Cada sujeito tem puramente racional dos positivistas e naturalistas. André Breton, no
naturalmente uma visão diferente de um mesmo objeto, isto significa Manifesto do Surrealismo, assim define o movimento:
antiracionalismo, subjetivismo total. Com isto perde-se também a Automatismo psíquico pelo qual alguém se propõe a exprimir seja
noção do belo e do feio institucionalizados. verbalmente, seja por escrito, seja qualquer outra maneira, o
A arte expressionista é marcada, como um todo, por um ar funcionamento real do pensamento. Ditado do pensamento, na
trágico, sendo um de seus temas principais a morte. Outro tema ausência de todo controle exercido pela razão, fora de qualquer
bastante desenvolvido, explorado, é o da religião. Por fim, há ainda os preocupação estético ou moral.
desequilíbrios causados ao homem que vive em cidade grandes. Leia- Esta interiorização e esta evasão do pensamento farão que os
se, a título de exemplo, este poema de Tralk: surrealistas busquem o homem primitivo, o homem destituído de
qualquer ligação social, o homem em sua essência pura a partir daí
Oh, la locura de la gran ciudad! construía um novo ser humano e uma nova sociedade, livre de
Al anochecer, árboles raquítivos miran miran absortos junto al repressões aos instintos humanos. E a arte, baseada no ocultismo e no
negro muro. humor negro, seria o meio de se atingir esse homem primitivo. É o
Desde um máscara de plata abre sus ojos el espíritu del maligo. retorno ao passado, (mais uma ligação como romantismo), o passado
do indivíduo, ou seja, sua infância.
Para os expressionistas o grito será meio legítimo de expressão, O espírito que mergulha no surrealismo revive com exaltação a
uma vez que nele há toda uma carga de irracionalismo e pressão melhor parte de sua infância. (...) a infância onde tudo concorria,
subjetiva autêntica. entretanto, para a posse, e sem acasos, de si mesmo. Graças ao
O Expressionismo se manifestou de modo mais acentuado nas surrealismo, parece que essas oportunidades voltam. (manifesto do
artes plásticas, entretanto, dentro de um espírito de aproximação de Surrealismo)
todas as manifestações artísticas, ele também se desenvolveu na Tal arte pode parecer sempre ilógica, absurda, o que era
literatura e no teatro. No campo literário, assim como nos demais justamente o pretendido pelos surrealistas. O surrealismo é carregado
movimentos, buscou-se uma economia de linguagem para fazer da arte de imagens insólitas e violentas, sendo que nos sonhos se produze o
uma manifestação mais moderna, mais ágil. O substantivo e o verbo maior número dessas imagens, pois o sonho é a realização pura da
serão a base de qualquer poema. Ao adjetivo caberia tão somente um imaginação. Para os estudos dos sonhos, Breton outros surrealistas
apoio discreto, sem muito descritivismo. Quanto à sintaxe, esta não abriram até mesmo um escritório de pesquisas oníricas.
precisaria apresentar com lógica, afinal tratava-se de um movimento Veja como exemplo de poesia surrealista “O Visionário”, de
antiracional. Murilo Mendes, poeta brasileiro da década de 30 que aderiu ao
Entre os artistas de maior destaque neste movimento figuram movimento:
nomes como: Kandinsky, Klee e Munch, na pintura; August Stramm e
Kasimir Edschmid, na literatura; e Kayser, no teatro. A mulher do fim do mundo
Dá de comer às roseiras,
Surrealismo Dá de beber às estátuas,
Dá de Sonhar aos poetas.
O surrealismo foi o último movimento de vanguarda deste A mulher do fim do mundo
primeiro quarto de século. Nascido ainda dentro daquele espírito de Chama a luz com um assobio,
renovação da arte, iniciado pelos primeiros grupos artísticos, o Faz a virgem virar pedra,
surrealismo procurou dar ênfase maior ao conteúdo do que à forma. Cura a tempestade,
Provindo do dadaísmo, herdou deste o objetivo de se fazer uma arte de Desvia o curso dos sonhos,
protesto. Contudo, enquanto o tom de protesto dadaísta ficou preso Escreve cartas ao rio,
mais ao sarcasmo em relação ao modo de viver burguês, criando uma Me puxa do sono eterno
anti-arte, sendo portanto a negação total, o surrealismo alcançou Para os seus braços que cantam.
implicações político-sociais, tendo como intenção reconstruir o homem
e a sociedade, recém-emergidos da guerra, sem direcionamento e com A partir de 1930, com a publicação do Segundo Manifesto do
uma forte crise de identidade. Caracterizou-se assim como um Surrealismo, o movimento aderiu de vez ao comunismo criando uma
movimento positivo, de afirmação, ligando-se, portanto, mais ao cisão entre os surrealistas, uma vez que para uns, entre eles Soupault,
expressionismo. Isto pelo fato de ambos possuírem uma preocupação a arte deveria permanecer à parte de partidarismos políticos. Esta cisão
com a formação de um novo homem, de uma nova forma de expressão precipitou o fim do surrealismo enquanto movimento, ocorrido em
artística. meio à 2ª Grande Guerra. Em 1946, Breton lança as bases para um
A data do primeiro manifesto é 1924; antes disto André Breton, terceiro manifesto do surrealismo, mais uma vez propondo uma
Louis Aragon e Philippe Soupault dirigiram a revista Littérature, onde se liberação do homem em relação a sua civilização, que de novo levara a
desenvolvia uma das técnicas surrealistas, preconizada pelos dadaístas: uma guerra.
a escrita automática. Por esta época, em 1920, Breton e Soupault O surrealismo não se prendeu somente à poesia, mas se
publicaram juntos o primeiro livro utilizando esta técnica: Os campos desenvolveu também no cinema, no teatro e na arquitetura. Na
magnéticos. pintura, seus maiores expoentes foram os espanhóis Salvador Dali e
Com a publicação do manifesto inicial, imediatamente Juan Miró.
substituíram aquela revista por A Revolução Surrealista, publicada de
dezembro de 1924 a dezembro de 1929. O título escolhido para a nova
revista não poderia ter sido outro, pois era justamente isto que eles
pretendiam fazer: uma revolução total do homem, libertando-o de
uma sociedade opressora, baseada no maquinismo e no racionalismo.
Mudar a vida, dizia Rimbaud; transformar o mundo, dizia Marx. Para
nós esses dois lemas foram um único. “É o que afirmava Breton.”

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