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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA

CENTRO DE INTEGRAÇÃO ACADÊMICA - CIAC

DEPARTAMENTO DE LETRAS E ARTES – DLA


COMPONENTE CURRICULAR: PRÁTICA DE ENSINO DE LITERATURA
PROFESSORA: ANA LÚCIA
EQUIPE: EMANUEL POMPEU DE BRITO E ISABELLE DE OLIVEIRA GUEDES

ATIVIDADE – PRIMEIRA UNIDADE

COSSON, Rildo. Letramento Literário: teoria e prática. SÃO PAULO: EDITORA


CONTEXTO, 2009.

Desde os primórdios da civilização, ler é uma das atividades mais valorizadas dentro da
sociedade. No ato da leitura faz-se uso da palavra e consequentemente da linguagem. A
literatura consiste na exploração das potencialidades da linguagem, sendo ela essencial no
desenvolvimento e aprendizagem do indivíduo. Sendo também a responsável por formar e
influenciar na compreensão de mundo, “despadronizando” os preceitos impostos pela
sociedade.
Porém ao se tratar do ensino de literatura, ainda se enfrentam obstáculos que muitas
vezes impedem e/ou atrapalham na prática e ensino de literatura. Um desses obstáculos são as
delimitações quanto ao que se apresenta como leitura para os alunos. Tomando como parâmetro
as escolas particulares, há uma tendência de no ensino fundamental a preocupação ser com
textos que agradem a escola em primeiro lugar, ao professor e só então ao leitor em potencial,
o aluno. Enquanto no ensino médio, o foco é a literatura brasileira ou os clássicos de maior
prestígio, sem dar tanta atenção ao que de fato os alunos gostariam de ler ou a outras
possibilidades de leitura que pra eles podem ser interessantes.
Dessa forma se faz necessário traçar estratégias para o ensino de literatura nas escolas.
E é onde o letramento literário vai atuar, como um processo de apropriação da literatura. Rildo
Cosson (2006), afirma que “Em primeiro lugar, o letramento literário é diferente dos outros
tipos de letramento porque a literatura ocupa um lugar único em relação à linguagem, ou seja,
cabe à literatura “[...] TORNAR o mundo compreensível transformando a sua materialidade em
palavras de cores, odores, sabores e formas intensamente humanas”.
Sendo assim, a partir do letramento literário, torna-se possível proporcionar ao indivíduo
um modo privilegiado de inserção no mundo da leitura e da escrita, posto que conduz ao
domínio da palavra a partir dela mesma.
Por fim, Cosson (2006) ainda enfatiza que “o letramento LITERÁRIO precisa da escola
para se concretizar, isto é, ele demanda um processo educativo específico que a mera prática de
leitura de textos literários não consegue sozinha efetivar.”. Em outras palavras, o letramento
depende da escola para ser possível em sua totalidade.

PROPOSTA DE SEQUÊNCIA

NÍVEL: 3° ano do ensino médio


ENCONTROS: Três encontros
DURAÇÃO: 1h30min cada

CONTEÚDOS DAS AULAS


Apreciação e dramatização do conto O cavalo imaginário, de Moacyr Scliar, presente
no Volume 2 do livro Crônica e Conto, da Coleção Literatura em Minha Casa. Que reúne
crônicas e contos de Moacyr Scliar, Rubem Fonseca e Ana Maria Miranda.

OBJETIVO GERAL
A presente proposta, objetiva estimular a leitura dramatizada do conto O cavalo
imaginário, de Moacyr Scliar, demonstrando compreensão global do texto, como também dos
elementos constituintes da narrativa.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Apresentar as características do gênero conto.


• Identificar, a partir da leitura, a temática do conto, analisando seus sentidos.
• Avaliar a capacidade dos alunos de representar cenas, reproduzindo as falas das
personagens, de acordo com indicações do autor.

INTRODUÇÃO
Por meio da leitura, é possível trabalhar a compreensão global do texto e dos gêneros
propostos. A presente proposta, objetiva estimular a leitura dramatizada, instigando os alunos
a refletirem a leitura para suas realidades, tendo como parâmetro o gênero conto.
ENCONTRO I: Apreciação de Crônica

Recursos didáticos necessários:

➢ Moacyr Scliar. In: Pipocas / Moacyr Scliar, Rubem Fonseca, Ana Miranda. 1ª ed. São
Paulo: Companhia das Letras, 2003, p. 10-13. Coleção Literatura em minha casa; v.2
Crônica e conto.
➢ Computador; / Celular; / Tablet;
➢ Eslaides;

DESCRIÇÃO DAS AÇÕES

• Nessa aula, iremos dar início a discussão sobre contos a partir da leitura do conto O
Cavalo Imaginário, de Moacyr Scliar. Realizaremos dois momentos de leitura, a
primeira individual, silenciosa, já a segunda, uma leitura compartilhada, afim de que
todos possam participar e compreender o conto. Em seguida, indagaremos os alunos
sobre possíveis dúvidas quanto à compreensão de leitura e ao vocabulário do texto e
sana-las a partir da análise. A seguir, explicar sobre o gênero textual conto, que tem
como característica uma narrativa curta, que aborda temas fantasiosos, épicos, entre
outras.
• Prosseguindo a análise, instigar os alunos a levantarem reflexões quanto as impressões
causadas pelo conto e qual a mensagem deixada para o leitor.
• Por fim, como atividade, será proposta a releitura do conto de Scliar, a fim de extrair
trechos com características desse gênero textual, como marcas de personagens, enredo
único, pouco espaço de tempo, final súbito, entre outros.

ENCONTRO II: Montando a dramatização

Recursos didáticos necessários:

➢ Moacyr Scliar. In: Pipocas / Moacyr Scliar, Rubem Fonseca, Ana Miranda. 1ª ed. São
Paulo: Companhia das Letras, 2003, p. 10-13. Coleção Literatura em minha casa; v.2
Crônica e conto.
➢ Computador; / Celular; / Tablet;
➢ Sala de aula;
➢ Figurino;

DESCRIÇÃO DAS AÇÕES

• Nesta aula, os alunos irão dividir-se em grupos para iniciar a montagem da dramatização
do conto. Inicialmente, deverão selecionar os personagens, a ambientação e as falas
presentes no conto trabalhado. Os grupos, farão essa seleção a partir da releitura,
identificando os sentidos transmitidos pelo autor, as emoções e expressões contidas nos
personagens, tirando eventuais dúvidas a respeito de palavras ou expressões
desconhecidas, podendo fazer uso de dicionários físicos ou digitais.
• Eles deverão delegar quem serão os personagens, reler, quantas vezes forem
necessárias, os textos que serão encenados. Ensaiar sem o uso de papel. Se for
necessário, podem fazer adaptações nas falas dos personagens a fim de que sejam
compreendidas por todos que posteriormente irão assistir.
• Se possível, criar um cenário simples para unir aos figurinos que também devem ser
montados pelos alunos.

ENCONTRO III: Dramatização

Recursos didáticos necessários:

➢ Moacyr Scliar. In: Pipocas / Moacyr Scliar, Rubem Fonseca, Ana Miranda. 1ª ed. São
Paulo: Companhia das Letras, 2003, p. 10-13. Coleção Literatura em minha casa; v.2
Crônica e conto.
➢ Cenário;
➢ Figurino;

DESCRIÇÃO DAS AÇÕES

• Direcionar os alunos para o ambiente confeccionado por eles, o cenário. Verificar


figurinos, falas e materiais necessário e assim, dar início as apresentações de cada um
dos grupos.
ANEXOS

Conto:
O cavalo imaginário

Nós todos frequentávamos o mesmo colégio, naquela pequena cidade do interior. Um colégio
privado, e muito caro, o que, para nossos pais, não chegava a ser problema: éramos, meus
amigos e eu, filhos de fazendeiros. Nossos pais tinham grandes propriedades. E tinham muito
dinheiro. Nada nos faltava. Andávamos sempre muito bem-vestidos, comprávamos o que fosse
necessário para o colégio e gastávamos bastante no bar da escola.

Aos domingos nos reuníamos para andar a cavalo. Cavalos não faltavam nas fazendas de nossos
pais, animais de puro-sangue e bela estampa. Cada um de nós tinha a sua própria montaria, e
não estou falando de pôneis, aqueles cavalinhos mansos; não, estou falando de cavalos de
verdade, cavalos que corriam muito e saltavam obstáculos. Estou falando de equitação, aquele
nobre esporte. Nossos pais faziam questão de que fôssemos excelentes ginetes. Tínhamos até
um professor, que nos treinava na arte de cavalgar.

Eu disse que cada um de nós tinha um cavalo, mas isso não é verdade. Havia um que não tinha
cavalo. O Francisco.

O Francisco não era filho de fazendeiro. O pai dele tinha uma profissão humilde, era sapateiro.
Na verdade, o Francisco só estava em nossa escola porque havia recebido uma bolsa de estudos
– era um garoto muito inteligente e muito dedicado. Mas o que fazia em nosso grupo?

Boa pergunta. Acho que nenhum de nós saberia como responder. Diferente dos outros garotos
da escola – a maioria dos quais nos detestava –, ele tinha por nós uma admiração que beirava a
reverência. Sempre que podia estava por perto. Mais do que isso, oferecia-se para prestar
pequenos serviços. Se um de nós queria um refrigerante, o Francisco ia buscar. Se um de nós
deixava de apresentar o trabalho solicitado pelo professor, Francisco se encarregava de fazê-lo.
Por isso, e só por isso, nós o tolerávamos. Por isso, e só por isso, permitíamos que andasse
conosco. Durante a semana, bem entendido; porque no domingo as coisas mudavam. No
domingo ele voltava para o seu lugar. Domingo era o dia de cavalgar, e, do alto de nossas selas,
nós contemplávamos, altaneiros, o mundo a nosso redor. Como eu disse, Francisco não tinha
cavalo. Isso não impedia que cedo já estivesse no clube hípico, esperando por nós. Ficava a
olhar-nos, enquanto galopávamos de um lado para o outro. E nós gostávamos de tê-lo como
plateia, porque nos aplaudia entusiasticamente. Mais do que isso, procurava imitar-nos:
galopava de um lado para o outro, como se estivesse montando um cavalo imaginário. Nós na
pista, cavalgando – ele, ao lado da pista, trotando de um lado para outro e gritando como nós
gritávamos, aqueles brados que os cavaleiros soltam quando se entregam ao esporte das rédeas.

De um modo geral, achávamos engraçado aquilo. Não Rodrigo.


Era um cara desagradável, aquele Rodrigo. Mesmo nós, que éramos amigos dele, tínhamos de
reconhecer: um garoto intratável, agressivo com os colegas e até com os professores. A má
fama que o nosso grupo tinha devia-se sobretudo a ele. Mas a verdade é que tínhamos de aceitá-
lo: seu pai não apenas era o maior fazendeiro da região, como também ocupava o cargo de
prefeito da cidade. Rodrigo era seu filho caçula – e o mais mimado. Um garoto estragado, como
dizia meu pai.

Rodrigo não gostou nada daquela história. E nos disse:

– Não quero mais saber desse tal de Francisco nos imitando.

Procuramos convencê-lo de que se tratava apenas de uma brincadeira. Inútil: Rodrigo estava
furioso mesmo.

– Vou resolver essa coisa à minha maneira – garantiu.

Foi o que fez. Num domingo, enquanto Francisco cavalgava seu cavalo imaginário, Rodrigo se
aproximou dele. Apeou e comandou:

– Desça de seu cavalo.

Francisco obedeceu: desceu do fictício cavalo.

Nós vamos fazer uma aposta – disse Rodrigo. – Se eu perder, entrego-lhe o meu cavalo. Se
você perder, entrega-me o seu.

– Que aposta é? – indagou Francisco, numa voz trêmula.

– Uma corrida – disse Rodrigo. Apontou umas árvores, a uns duzentos metros de distância: –
Até ali, e voltamos. Quem chegar aqui primeiro, ganha.

Lembro-me de que o sangue me subiu à cabeça.

– Olha aqui, Rodrigo – comecei a dizer –, você não pode –

Francisco me interrompeu:

– Eu aceito a aposta – disse, com voz firme, ainda que meio embargada. – Quero correr.

Foi uma coisa patética de se ver. Os dois se colocaram lado a lado e, a um sinal, começou aquela
coisa maluca. Rodrigo simplesmente trotava em seu magnífico cavalo, Francisco corria atrás –
sem conseguir alcançá-lo. Rodrigo foi até as árvores, voltou. Minutos depois Francisco,
ofegante. Rodrigo mirou-o com arrogância:

– Parece que eu ganhei, não é mesmo?

Francisco, ainda ofegante, permanecia calado.

– Seu cavalo agora é meu – continuou Rodrigo. – E sabe o que vou fazer com ele? Vou soltá-
lo no campo. Ele agora está livre, você não pode mais montar, entendeu?

Francisco, quieto. Rodrigo apanhou as rédeas imaginárias e foi até o portão do clube. Ali,
espantou o suposto cavalo aos gritos. Feito isso, montou em seu próprio cavalo e foi embora.

Francisco nunca mais foi ao clube. Aliás, ele nem ficou na cidade. Segundo o pai, tinha ido
morar com os avós num lugar bem distante.

Nunca mais o vi. Não sei o que foi feito dele. Dizem que vende automóveis, não sei. Mas tenho
certeza de que sei com o que sonha: com um belo cavalo, no qual, montado, galopa à vontade
por um imenso campo que não tem limites.

Moacyr Scliar. In: Pipocas / Moacyr Scliar, Rubem Fonseca, Ana Miranda. 1ª ed. São Paulo:
Companhia das Letras, 2003, p. 10-13. Coleção Literatura em minha casa; v.2 Crônica e conto.

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