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BIOQUÍMICA

HUMANA

Talita Giacomet de Carvalho


Água, pH e tampões
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Identificar as propriedades da água.


 Descrever a relação do pH com a acidez e a alcalinidade.
 Explicar qual é a função e como agem os tampões.

Introdução
A água é o principal constituinte dos organismos vivos e tem diversas
funções importantes para a manutenção da vida. Ela está envolvida
em praticamente todas as reações químicas da célula e tem ainda a
capacidade de influenciar as interações entre as moléculas hidrofóbicas.
A dissociação da água serve como base para entendermos os conceitos
relacionados ao pH e à sua manutenção por soluções tampão.
Neste capítulo, você vai estudar as propriedades da água, o cálculo
do pH de uma solução e sua relação com acidez e alcalinidade. Além
disso, você vai aprender como funcionam as soluções tampão e qual a
sua importância.

Propriedades da água
A água é a substância mais abundante nos organismos vivos, compondo apro-
ximadamente 70% da massa da maioria deles. Todos os aspectos de estrutura
e função das células estão adaptados às propriedades físicas e químicas da
água. À temperatura e pressão ambiente, ela é um líquido que não apresenta
sabor, cheiro e cor. Em temperaturas abaixo de 0 ºC ela solidifica, e acima de
100 ºC ela passa para o estado gasoso.
A molécula de água é formada por dois átomos de hidrogênio e um de
oxigênio. As propriedades especiais que a água apresenta existem devido à
maneira como estes átomos se ligam uns aos outros para formar uma molécula,
e à maneira como estas moléculas interagem. Os átomos de hidrogênio e de
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oxigênio estão ligados formando uma estrutura parecida com a de um tetraedro


(ângulo de 104,5° entre os dois hidrogênios). O átomo de oxigênio forma uma
ligação covalente com cada um dos átomos de hidrogênio, compartilhando
com cada um deles um par de elétrons. Há ainda nessa estrutura um par de
elétrons que não é compartilhado e que fica próximo ao oxigênio (Figura
1A). O resultado dessa distribuição desigual de elétrons é que o átomo de
oxigênio possui uma carga negativa parcial, e cada átomo de hidrogênio, uma
carga positiva parcial. A água é, portanto, uma molécula polar. As atrações
eletrostáticas entre as cargas negativas do átomo de oxigênio de uma molécula
com as cargas positivas dos átomos de hidrogênio de outra molécula de água
formam interações entre as moléculas, denominadas ligações de hidrogênio
(Figura 1B). Esse tipo de interação acontece quando um hidrogênio com
carga parcial positiva é atraído por um átomo eletronegativo (p. ex., F, O, N).
A natureza polar das moléculas de água e a forma como interagem com
outras moléculas de água por ligações de hidrogênio são responsáveis pelas
características incomuns da água. Apesar de as ligações de hidrogênio forma-
rem interações relativamente fracas quando comparadas às ligações covalentes,
elas ocorrem em grande quantidade na água. Essas ligações de hidrogênio
formadas entre as moléculas de água são constantemente rompidas, com novas
interações sendo formadas entre outras moléculas. Entretanto, em uma amostra
de água na forma líquida, a maioria das moléculas estará sempre interagindo
com outras por estas ligações. Isso é o que dá à água a propriedade de coesão,
quando as ligações de hidrogênio mantêm as moléculas muito próximas umas
das outras. Devido à sua polaridade, a água também tem como propriedade
a adesão, que é a capacidade de formar ligações de hidrogênio com outras
moléculas polares e não interagir com moléculas apolares. Por exemplo, sobre
uma superfície encerada, a água não se distribui igualmente e forma gotículas
separadas, pois a cera é apolar.
As temperaturas de fusão e ebulição relativamente altas da água também
são consequências dessas interações entre moléculas. Elas são resultantes
da grande quantidade de energia térmica necessária para romper as ligações
de hidrogênio. Além disso, a água possui um alto calor específico, que é a
quantidade de calor necessária por unidade de massa para elevar sua tempe-
ratura em 1º C. A energia necessária para aumentar a temperatura da água em
1 ºC é de 4,2 joules por grama (ou 1,0 cal/g. °C). A água também apresenta
calor de vaporização elevado, o que significa que ela suporta grande quan-
tidade de calor sem que sua temperatura se eleve muito rapidamente. Essas
características são importantes para os ecossistemas que vivem na água. Se a
água congelasse ou entrasse em ebulição muito rápido, as mudanças no meio
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ambiente seriam drásticas e, em oceanos ou lagos, todos os organismos que


ali habitam morreriam. É também por causa do calor de vaporização elevado
que o suor é capaz de resfriar nossos corpos.
A alta tensão superficial também é uma propriedade da água que é con-
sequência da sua polaridade e das ligações de hidrogênio. As moléculas de
água na superfície de um líquido interagem com outras, e essas interações são
tão fortes que conseguem suportar até objetos leves sem se desfazer. Alguns
insetos conseguem caminhar sobre a água devido a essa tensão superficial. É
isso que também faz pequenas quantidades de água permanecerem em gotas
sobre uma superfície, em vez de se espalharem em finas camadas. Essas
mesmas características dão à água outra de suas propriedades, a capilaridade.
Ela permite que a água se mova dentro de raízes e galhos de plantas, e dentro
de capilares muito finos. Isso acontece porque quando uma molécula de água
se move para dentro das raízes, galhos ou capilares, ela “puxa” as outras que
estão ligadas em sequência.
Outra característica muito importante da água é a dissolução, a capacidade
de dissolver outros compostos polares ou iônicos para formar soluções aquosas.
As ligações de hidrogênio não se formam somente entre moléculas de água,
mas também com outras moléculas. Os íons negativos de uma substância
em solução aquosa atraem as extremidades positivas das moléculas de água
vizinhas, assim como os íons positivos atraem as extremidades negativas.
Essas interações fazem com que os íons fiquem circundados por moléculas
de água ligadas a eles, formando uma solução muito estável. Assim, as forças
existentes entre os cátions e ânions do soluto (e que os mantêm associados em
redes cristalinas) são substituídas pelas ligações de hidrogênio com a água,
ocasionando a dissolução.
O comportamento da água ao trocar de estado físico também é inco-
mum. Em geral as substâncias, incluindo a água, tornam-se menos densas
quando são aquecidas e mais densas quando são resfriadas. Então, se a água
é resfriada, torna-se mais densa e forma gelo. Entretanto, a água é uma das
poucas substâncias cujo estado sólido pode flutuar no seu estado líquido. Isso
acontece porque ela se torna cada vez mais densa até chegar a 4 °C; depois de
atingir 4 °C, torna-se menos densa. Ao congelar, suas moléculas começam a
se mover mais devagar, facilitando a formação de ligações de hidrogênio e,
eventualmente, se organizam em uma estrutura hexagonal cristalina aberta.
Devido a esta estrutura aberta, à medida que as moléculas de água estão sendo
separadas, seu volume aumenta cerca de 9%. Portanto, a água é mais densa
em estado líquido do que em estado sólido. Em estado gasoso as ligações de
hidrogênio são rompidas e a densidade diminui (Figura 1).
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Figura 1. Representações da molécula de água. A água é representada em modelo de esfera


e bastão: os átomos são representados por esferas ligadas por bastões, que representam as
ligações covalentes entre os átomos. As linhas tracejadas representam os orbitais não ligantes.
A: existe um arranjo quase tetraédrico dos pares de elétrons mais externos da camada ao
redor do átomo de oxigênio; os dois átomos de hidrogênio têm cargas parciais positivas
localizadas, e o átomo de oxigênio tem carga parcial negativa. B: duas moléculas de H2O
unidas por ligação de hidrogênio (indicada por três linhas) entre o átomo de oxigênio de
uma molécula e um átomo de hidrogênio da outra.
Fonte: Nelson e Cox (2014).

As propriedades da água permitem que organismos sobrevivam em condições climá-


ticas muito diferentes. O gelo congela à medida que se expande, o que faz com que
ele flutue na água líquida. Durante o inverno, quando os lagos começam a congelar,
a superfície da água congela primeiro e expande. Isso explica por que as pessoas
podem patinar sobre um lago congelado ou cair dentro dele. Se a água tivesse o
comportamento de outras substâncias, o lago congelaria de baixo para cima, matando
todos os ecossistemas que vivem no lago. No entanto, como isso não acontece, os
peixes podem sobreviver sob a superfície do gelo durante o inverno. A superfície do
gelo também protege os lagos da temperatura mais fria de fora e isola a água debaixo
dele, permitindo que o lago sob o gelo congelado permaneça líquido e mantenha
uma temperatura adequada para os ecossistemas que vivem nele.
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A relação do pH com a acidez e a alcalinidade


Para entender como se determina o pH de uma substância e qual a sua relação
com acidez ou alcalinidade, precisamos primeiro entender alguns cálculos que
são utilizados para determinar características de reações químicas. Passado
algum tempo do início de uma reação química, ela normalmente chega a um
equilíbrio, em que reagentes e produtos são formados na mesma velocidade e
se encontram na mesma proporção. A posição de equilíbrio de qualquer reação
química é determinada pela sua constante de equilíbrio (Keq). Para a reação
genérica A + B ⇋ C + D, a Keq é definida pelas concentrações dos reagentes
(A e B) e produtos (C e D) presentes no equilíbrio, conforme a equação:

A Keq define a composição de uma mistura em equilíbrio, independente


das quantidades iniciais de reagentes e produtos. Ela é fixa e específica para
cada reação química a uma determinada temperatura.
A reação de ionização da água (H2O) é representada por H2O ⇋ H+ + OH−.
As moléculas de água se ionizam reversivelmente produzindo um íon hidro-
gênio (próton H+) e um íon hidroxila (OH−). Portanto, a Keq para a ionização
reversível da água é:

Em água pura a 25 ºC e 1 atm, a concentração da água é 55,5M, e é cons-


tante em relação à concentração de íons H+ e OH-, que é extremamente baixa
(aproximadamente 1x10 -7M). Assim, essa concentração pode ser substituída
na equação:

Rearranjada, a equação passa a ser:

(55,5M) (Keq) = [H+][OH-] = Kw


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Kw designa o produto iônico da água a 25 °C. O valor de Keq é conhecido


e determinado por medidas de condutividade elétrica da água pura, e é 1,8x10-
-16
M. Assim, ele pode ser substituído na equação:

Kw = [H+][OH-] = (55,5M) (1,8x10 -16M) = 1x10 -14M2

Dessa forma, o produto [H+][OH-] em soluções aquosas a 25 ºC é sempre igual


a 1x10-14M2. A temperatura precisa ser especificada porque é capaz de alterar a
quantidade de íons no meio. Se ela for aumentada, por exemplo, a energia das
partículas também aumentará, o que resultará em uma maior quantidade de íons
sendo formados. Quando as concentrações de H+ e OH- são iguais, como na água
pura, o pH da solução é considerado neutro. Portanto, em pH neutro, as concentra-
ções de H+ e OH- são iguais entre si e são iguais a 1x10-7M, conforme a equação:

O produto iônico da água Kw é a base utilizada para determinarmos a escala


de pH (Figura 2). Por meio dela podemos identificar a concentração de H+ e,
consequentemente, de OH-, em qualquer solução aquosa que tenha no mínimo
1,0M de H+ ou OH-. Devido à dificuldade de trabalharmos com números muito
pequenos, tanto para expressarmos concentrações molares como constantes
de equilíbrio, os cálculos são feitos em escala logarítmica, em que p(x) = − log
x. Portanto, o pH de uma solução é definido pela expressão:

pH = − log H+

Para uma solução aquosa neutra a 25 ºC, a concentração de H+ é de 1x10-


-7
M, e o pH pode ser definido por:

pH = − log (1x10 -7) = log (1x107) = log 1 + log 107 = 0 + 7 = 7

Portanto, soluções neutras, que possuem as mesmas concentrações de H+


e OH-, têm pH = 7. As soluções com pH maior que 7 têm maior concentração
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de OH- em relação a H+, e são classificadas como alcalinas ou básicas. Já as


soluções que têm concentração de H+ maior que a de OH- são soluções ácidas,
e têm pH menor que 7 (Figura 2).
É importante ressaltar que a escala de pH é logarítmica, e não aritmética.
Portanto, quando duas soluções diferem em uma unidade na escala de pH,
significa que uma delas tem concentração de H+ 10 vezes maior que a outra.
Por exemplo, o suco de limão, que tem pH aproximadamente igual a 2, tem
concentração de H+ mil vezes maior que o café preto, que tem pH de aproxi-
madamente 5.
Determinar o pH de soluções é um dos procedimentos mais importantes
em bioquímica. A maioria das reações biológicas depende de um pH ótimo
para acontecer e é extremamente afetada quando este está alterado. Altera-
ções de pH alteram a estrutura e função de macromoléculas. Por exemplo, a
atividade catalítica de enzimas é fortemente dependente de pH. Os fluidos
biológicos, como sangue e urina, também têm pH ideal, e sua medida é uma
prática rotineira em laboratórios de análises clínicas. O pH ideal do sangue
é 7,4, e sua medida é importante para diagnosticar patologias. Quando está
menor que esse valor, caracteriza uma acidose, condição que é comum em
pessoas com diabetes. Quando está aumentado, indica uma condição clínica
conhecida por alcalose.

Neutro
Ácido Alcalino

Escala de pH
Figura 2. Relação entre as concentrações de H3O e OH- na escala de pH.
Fonte: Robin Atzeni/Shutterstock.com.
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O ácido clorídrico é uma solução aquosa de cloreto de hidrogênio (HCl), não inflamável e
tóxica, obtida como subproduto da cloração do benzeno ou de outros hidrocarbonetos.
Esse ácido é muito utilizado na indústria e é um dos reagentes de vários produtos de
limpeza de pisos. Encontre o pH de uma solução 0,03 M de ácido clorídrico. Solução:
O ácido clorídrico é um ácido forte que se dissocia de acordo com uma razão molar
1 : 1 em hidrogênio e cloreto. Assim, a concentração de íons de hidrogênio é exatamente
a mesma que a concentração da solução ácida.

O que fazem os tampões e como eles atuam


A maioria dos processos biológicos é muito sensível a variações no pH. As
células e organismos precisam manter um pH constante e específico, de apro-
ximadamente 7,0, para manter íntegras as biomoléculas que as compõem. Os
responsáveis por essa regulação do pH nos organismos vivos são os tampões
biológicos. Tampões também são utilizados em laboratório para manter o pH
de soluções que serão utilizadas para análises ou experimentos com material
biológico e para estudar reações químicas.
Tampões são soluções aquosas que consistem geralmente em uma mistura
de um ácido fraco (doador de prótons H+) e sua base conjugada (aceptor de
prótons), ou de uma base fraca e seu ácido conjugado. Eles são capazes de
resistir a alterações em seu pH quando quantidades pequenas de ácidos ou bases
fortes são adicionadas a eles. São os responsáveis por manter o pH constante
em uma grande variedade de reações químicas. Isso acontece devido à manu-
tenção de um equilíbrio entre seus dois componentes principais (ácido e base).
Os ácidos têm tendência a doar prótons em solução aquosa e formar sua
base conjugada, conforme a reação HA ⇋ H+ + A−. Para esta reação, a constante
de equilíbrio (Keq) é:
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Em reações de ionização, as constantes de equilíbrio são também chamadas


de constantes de dissociação (Ka). Ácidos mais fortes têm maior tendência a
doar prótons ([H+] e [A−] aumentam, [HA] diminui) e, portanto, têm Ka maiores
que ácidos fracos. Devido à dificuldade de se trabalhar com números muito
pequenos, os valores dos cálculos de Ka são feitos em escala logarítmica, em
que p(x) = − log x. Neste caso, pKa é análogo ao pH e é definido pela equação
pKa = − log Ka. Portanto, quanto mais forte for um ácido, maior a tendência
de doar um próton, e menor o seu pKa.
Os ácidos que funcionam como tampão são ácidos fracos, que têm menor
tendência a doar prótons. O tamponamento é o resultado de uma reação
química reversível que tem quantidades quase iguais de um doador e de seu
aceptor de prótons conjugado. Quando H+ ou OH- é adicionado a uma solução
tampão, o equilíbrio da reação é desviado para o lado oposto. Ocorre uma
variação pequena das concentrações relativas do ácido fraco e de seu ânion
e, assim, uma variação também pequena no pH da solução. Dessa forma, o
que varia é apenas a relação entre os componentes da solução, e não a soma
da sua concentração.
Esse efeito pode ser exemplificado pelo tampão acetato. Ele é composto
de ácido acético (H3CCOOH) e acetato de sódio (H3CCOONa). O acetato
de sódio é um sal e, portanto, se dissocia totalmente em água, gerando íons
sódio e íons acetato, que é a base conjugada do ácido acético. A reação de
dissociação do sal em solução aquosa é a seguinte:

H3CCOONa + H2O → Na+ + H3CCOO−

A reação de ionização do ácido em solução aquosa é a seguinte:

H3CCOOH + H2O ⇋ H3CCOO− + H3O+

Quando adicionamos a essa solução uma pequena quantidade de um ácido


forte, a concentração de H+ aumenta. Como o ânion acetato tem grande afi-
nidade por H+, a reação é desviada no sentido de formação do ácido acético,
e o pH do meio praticamente não sofre alteração. Entretanto, se o ácido forte
continuar sendo adicionado, chegará o momento em que todo o acetato será
consumido e o efeito tampão cessará. Quando uma base forte é adicionada
a essa solução, a concentração de íons OH- aumenta. Esses íons são então
neutralizados pelos íons H3O+ liberados na ionização do ácido acético. Com a
diminuição dos íons H3O+, há o deslocamento da reação no sentido de ionização
do ácido acético, o que causará uma variação de pH muito pequena. Nesse
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caso também há um limite para adição de base sem alteração significativa do


pH. Se mais base for adicionada, a reação será cada vez mais deslocada no
sentido de sua ionização, até que todo o ácido seja consumido.
Cada par ácido-base tem uma zona específica e característica de pH na
qual ele consegue atuar como tampão. A Figura 3 representa as curvas de
distribuição do ácido acético e do íon acetato. No ponto de encontro das duas
curvas, a solução tem concentrações iguais de ácido acético e íon acetato. Seu
pH médio é 4,75, e a curva de titulação dessa reação se estende de maneira
relativamente pouco inclinada por uma unidade em ambos os lados de seu pH
médio. Essa zona é a região de tamponamento da solução ácido acético-acetato.
Se forem adicionadas nessa região pequenas quantidades de H+ ou OH-, o pH
da solução será pouco alterado. Em outras palavras, no ponto de encontro das
duas curvas, local em que a concentração do doador de prótons se iguala à do
aceptor, a capacidade tamponante do sistema é máxima e o pH é igual ao
pKa. Se a mesma quantidade de H+ ou OH- fosse adicionada à água pura ou a
uma solução não tamponante, a variação de pH seria muito mais significativa.

Figura 3. Curvas de distribuição do ácido acético e do íon acetato. A fração


das substâncias presentes na solução é dada pela razão das concentrações de
CH3COOH ou CH3COO - em relação à concentração total desses dois compos-
tos. A faixa de tamponamento efetivo está indicada pela região sombreada.
Fonte: Voet e Voet (2013).
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O plasma sanguíneo é um meio onde ocorrem inúmeras reações metabólicas essenciais à


vida, e, portanto, deve ter seu pH muito bem regulado. O sistema tampão bicarbonato-ácido
carbônico é o principal responsável por essa regulação. Ele é formado por ácido carbônico
(H2CO3) e pelo sal desse ácido, o bicarbonato de sódio (NaHCO3).
Quando íons H+ são liberados no sangue como resultado das inúmeras reações químicas
que ocorrem nesse meio, o bicarbonato do tampão prontamente reage a ele. Essa reação
resulta em um sal, formado com o sódio do bicarbonato, e em ácido carbônico. O ácido
carbônico produzido pela reação do bicarbonato se dissocia em CO2 e H2O. O CO2 é então
eliminado na respiração, e a relação da equação é recomposta. Quando íons OH- são
liberados no sangue, o ácido carbônico reage a eles produzindo bicarbonato e água. Assim,
a concentração de ácido carbônico diminui. Há aumento da liberação de bicarbonato em
vez do íon hidrogênio pelos rins, reduzindo a quantidade de bicarbonato no plasma e
preservando assim a relação da equação.

NELSON, D. L.; COX, M. M. Princípios de bioquímica de Lehninger. 6. ed. Porto Alegre:


Artmed, 2014.
VOET, D.; VOET, J. G. Bioquímica. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013.

Leituras recomendadas
ALBERTS, B. et al. Biologia molecular da célula. 5. ed. Porto Alegre; Artmed, 2011.
RODWELL, V. W. et al. Bioquímica ilustrada de Harper. 30. ed. Porto Alegre: AMGH, 2017.

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