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De acordo com a nossa legislação, mais especifica-


mente de acordo com o Código de Processo Civil, a re-
gra é que o salário é impenhorável. Talvez você tenha 1
ouvido falar disso na faculdade ou nos seus estudos
pós-faculdade, que a regra é a impenhorabilidade do
salário. Recebeu o salário, provento de aposentadoria
ou qualquer tipo de subsídio, a regra é a impenhora-
bilidade.
Onde isto está previsto? Onde está fundamen-
tado? Isto está fundamentado no artigo 833, inciso IV,
do CPC, que diz: “são impenhoráveis os vencimentos,
os subsídios, os soldos, os salários, as remunerações,

Quando e como conseguir penhora de salário · José Andrade


os proventos de aposentadoria, as pensões, os pecú-
lios e os montepios, bem como as quantias recebidas
por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento
do devedor e de sua família, os ganhos de trabalha-
dor autônomo e os honorários de profissional liberal,
ressalvado o § 2º.”
Então a regra legal é a impenhorabilidade. Contu-
do, advirto que o CPC anterior também trazia a regra
da impenhorabilidade, mas trazia uma palavra que
não existe mais no texto legal. No CPC antigo, no ar-
tigo 649, inciso IV, havia a afirmação que o salário era
ABSOLUTAMENTE impenhorável. Isso fazia com que 2

a jurisprudência nem pensasse em estabelecer exce-


ções, pois uma vez que a própria lei afirmava que o
salário era absolutamente impenhorável, como que
um juiz poderia interpretar diferente?
O CPC atual excluiu a palavra ABSOLUTAMENTE
e deu margem para que a jurisprudência e a doutri-
na caminhassem para o seguinte sentido: se o salário
não é mais absolutamente impenhorável, quer dizer
que podemos fazer um raciocínio no sentido de que

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em algumas hipóteses ele é penhorável. Logo, temos
as exceções.
Veremos agora dois tipos de exceções, duas
hipóteses em que é possível penhorar o salário.
A primeira é uma exceção legal, pois o próprio artigo
833, § 2º, do CPC, traz uma exceção, pois fala que o
salário é impenhorável, mas que é possível penhorá-
-lo em algumas circunstâncias, como para pagamen-
to de prestação alimentícia, independentemente de
qual origem adveio a obrigação de prestar alimentos.
Talvez isto não seja uma novidade para você. Tal-
vez você já tenha tido uma Ação de Alimentos, que 3

depois se transformou em um Cumprimento de Sen-


tença de Alimentos, e, neste caso, você precisou pe-
dir para o juiz oficiar ao empregador para descontar
os alimentos direto do salário. Isso não é a penhora
direta do salário do devedor? Então temos aí uma hi-
pótese em que a lei autoriza a penhora de salário: no
caso de prestação alimentícia.
O que tenho que entender como prestação ali-
mentícia? Que podemos ter três tipos de prestação

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alimentícia: as decorrentes do vínculo familiar, da dis-
solução do casamento ou união estável e as decor-
rentes de atos ilícitos.
Aquelas prestações alimentícias que decorrem
do vínculo familiar é porque o Código Civil alega que
é obrigação entre os familiares o auxílio mútuo, ou
seja, um deve ajudar o outro financeiramente. Posto
isso, qual é a prestação alimentícia mais popular no
nosso cenário nacional? É a pensão alimentícia paga
de pai para filho, de mãe para filho, ou, às vezes, ao
contrário, quando o filho tem que pagar pensão para
os pais, por exemplo. 4

Essa prestação alimentícia decorrente do víncu-


lo familiar/vínculo de parentesco, está prevista como
uma das exceções onde cabe a penhora de salário.
Então se foi realizado um acordo ou houve senten-
ça estabelecendo a obrigação de pagar uma pensão
alimentícia de pai para filho, por exemplo, e esse pa-
gamento não foi feito voluntariamente, o advogado
pode pedir a penhora do salário do devedor.
Outra forma de obrigação de prestação alimentí-

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cia é a decorrente da dissolução do casamento ou da
união estável. Por exemplo: há um acordo no divór-
cio em que o marido se comprometeu em pagar uma
prestação alimentícia para a esposa, ou o contrário, e
esta prestação não é paga. Se você, como advogado,
for executar esta sentença ou acordo, você já pode
pedir diretamente a penhora do salário, uma vez que
está dentro da exceção que a própria lei traz no artigo
833, § 2º, do CPC.
Uma terceira hipótese em que a obrigação ali-
mentar pode ensejar a penhora de salário são aque-
las verbas alimentares que surgiram por causa de um 5

ato ilícito. Por exemplo: você entrou com uma ação


defendendo os herdeiros de uma pessoa que foi víti-
ma de um acidente de trânsito. Você entrou pedindo
indenização por danos morais, por danos materiais e
uma pensão vitalícia, pois o réu acabou atropelando
e matando o pai dos seus clientes. Os seus clientes
eram sustentados pelo pai. O pai estava trafegan-
do de bicicleta por uma pista e o carro do réu surgiu,
atropelou e matou o pai dos seus clientes, que ainda

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são menores de idade. Então você vai fazer um pedi-
do de indenização que vai incluir uma pensão mensal
pela prática de um ato ilícito. Se o juiz acolher o seu
pedido, o réu será devedor de prestação alimentícia.
Esta forma de obrigação de pagar prestação alimen-
tícia também está abarcada pela exceção e pela pos-
sibilidade de fazer penhora do salário do devedor.
Resumindo: obrigação alimentar decorrente do
parentesco, obrigação alimentar decorrente da rela-
ção conjugal, ou melhor, do término da relação conju-
gal/união estável e a prestação alimentar decorrente
da prática de um ato ilícito, um homicídio, por exem- 6

plo, quando uma pessoa assassinou a outra e aque-


le que morreu sustentava uma família, aquele que
matou vai ser obrigado a pagar um valor mensal por
toda a vida daquelas pessoas que eram sustentadas
ou até que elas atinjam a idade suficiente para traba-
lhar. Todas essas obrigações vão depender do caso
concreto.
Existe ainda uma quarta hipótese, que a lei reco-
nhece e a jurisprudência tem reconhecido cada vez

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mais, sobre a afirmação de que os honorários advo-
catícios têm caráter alimentar, ou seja, se o seu cliente
deixou de te pagar os honorários advocatícios e você
tiver que entrar com a execução do contrato de hono-
rários, será possível a penhora do salário do devedor
para pagar esses honorários.
Onde está prevista esta exceção de que os ho-
norários advocatícios são suficientes para pedir a
penhora de salário do devedor? No julgado do STJ. É
o Recurso Especial n. 1.732.927. Você deve procurar
o julgado do STJ, onde você encontrará todos os fun-
damentos para pedir a penhora de salário do devedor 7

de prestação de honorários advocatícios.


Aprofundando, é muito importante que você faça
um outro ângulo de visão. E os honorários do médi-
co? E os honorários do engenheiro? Do arquiteto?
Eles não têm caráter alimentar? Qual a diferença
dos honorários do advogado para os honorários do
médico, do perito e do engenheiro? Os honorários de
outros profissionais não têm caráter alimentar?
Temos aqui a nossa primeira dica prática: já que

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a nossa jurisprudência reconhece o caráter alimentar
dos honorários advocatícios, se você tem um clien-
te que está cobrando honorários médicos, periciais,
ou de qualquer profissional liberal, você pode fazer o
mesmo raciocínio paralelo e pedir a penhora do salá-
rio do devedor. Baseie-se nessa decisão do STJ para
fazer uma sustentação lógica semelhante. Ora, se os
honorários do advogado têm caráter alimentar, por
que o do médico não tem? Afinal, o médico também
vive dos honorários que são pagos pelo trabalho dele.
Então comece a fazer este tipo de sustentação
na prática que você vai aumentar as possibilidades 8

de penhorar o salário do devedor. É claro que isso


depende do seu poder de persuasão de convencer o
magistrado, o qual você deverá usar ao fazer o seu
peticionamento.
Essas são exceções previstas na própria lei, po-
rém, a cereja do bolo não é o que está na lei, pois isto
você poderá descobrir lendo a lei, e sim as exceções
criadas pela jurisprudência.
A segunda exceção bem clara no § 2º, do arti-

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go 833, do CPC, afirma que é possível a penhora de
salário quando a importância que o devedor recebe
ultrapassa cinquenta salários mínimos mensais, ou
seja, o que a lei sugere é que não tem sentido afirmar
que um salário acima de cinquenta salários mínimos é
impenhorável, pois excede o que uma pessoa neces-
sita para viver, e aquilo que excede é perfeitamente
penhorável. E isto vale para pagamento de qualquer
tipo de dívida.
Imagina que se o seu cliente fez um contrato e o
devedor não cumpriu. Logo, isso gerou uma obrigação
de pagar ao credor um valor de cem mil reais. O deve- 9

dor tem um salário muito bom, que supera cinquenta


salários mínimos. Assim, você pode pedir imediata-
mente a penhora do salário, independentemente da
natureza da dívida, possuindo ela caráter alimentar
ou não. Isso também é exceção prevista na própria lei.
É claro que na realidade brasileira será muito di-
fícil você encontrar um devedor que ganhe mais do
que cinquenta salários mínimos, mas é um ponto de
partida para você raciocinar e começar a fazer ana-

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logias com este dispositivo legal, como, por exemplo,
se uma empresa tem faturamento mensal que supe-
ra cinquenta salários mínimos, por que não se pen-
sar em penhora do faturamento mensal da empresa?
Isso é um ponto muito descuidado na prática, porém
pode ser uma possibilidade de penhora.
Agora que já falamos sobre as duas exceções le-
gais por meio das quais é possível fazer a penhora de
salário, veremos, agora, como conseguir isto na prá-
tica.
Logo no começo da execução ou no início do cum-
primento da sentença você deverá esclarecer para o 10

juiz que o réu é devedor de tal quantia e que ele é as-


salariado de tal empresa, e por isso você requer que
seja oficiado ao empregador para que ele desconte
uma determinada quantia do salário do seu devedor.
Costuma-se descontar do salário até 30% para pa-
gamento da dívida.
Recomendo cautela neste momento, pois embo-
ra a lei preveja um desconto do salário, costuma-se,
quando não se sabe o salário, penhorar até 30%. Não

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vá com muita sede ao pote e peça um valor exorbi-
tante para a penhora de salário.
O que pode ocorrer, também, é a impugnação do
devedor quanto ao valor da penhora. Ele pode alegar
que afetará a sua subsistência digna se o valor plei-
teado permanecer penhorado. Todavia, isso era uma
alegação que deveria ser ventilada no processo de
conhecimento, antes do juiz fixar o valor ou o percen-
tual que agora você está requerendo que se penhore.
Preste atenção nisso!
Para o caso de não saber quem é o empregador
ou não saber o endereço da empresa, você poderá 11

pedir ao juiz que faça o desconto no SISBAJUD, logo


no começo do mês, até o dia dez, pois provavelmente
o executado deverá ter recebido o salário até o quinto
dia útil e você vai encontrar dinheiro na conta salário
dele. Claro, também, que por dever de lealdade pro-
cessual, você pode pedir para que o devedor seja in-
timado e apresente o endereço do empregador, bem
como o nome do empregador. Em último caso, você
poderá procurar o Ministério do Trabalho para confe-

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rir se a carteira do réu está assinada.
Nesta hora você precisará ser um pouco investi-
gador. É claro que tudo que você puder contar com o
auxílio do juiz será de grande valia. Mas antes de pe-
dir alguma remessa de ofício para o juiz, você deverá
fazer um trabalho de investigação, que envolve peti-
cionar administrativamente. Por exemplo, mande um
ofício ao Ministério do Trabalho solicitando que envie
informações sobre a carteira de trabalho do executa-
do, mesmo sabendo que eles não irão responder ou
que avisem que não poderão dar a informação, mas
mesmo assim envie o ofício, para que quando você 12

for pedir para o juiz, você possa alegar que já tentou


adquirir administrativamente essa informação e não
conseguiu. Isto será muito importante e lhe auxiliará
muito.
As exceções criadas pela jurisprudência servem
para pagamento de qualquer tipo de dívida, mas a
aproximadamente um ano atrás, a jurisprudência vi-
nha caminhando em sentido contrário, de que o sa-
lário só poderia ser penhorado naquelas hipóteses

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previstas em lei, que são as hipóteses citadas ante-
riormente. Quando a dívida não fosse de caráter ali-
mentar, o salário seria impenhorável. Neste sentido
que vinha caminhando a jurisprudência do STJ.
No entanto, no final de 2018, no julgamento dos
Embargos de Divergência, dentro de um Recurso Es-
pecial, lá no STJ, a ministra Nancy Andrighi começou a
mudar este jogo. A ministra Nancy Andrighi foi o voto
divergente no julgamento desses Embargos de Diver-
gência.
Se você não sabe como funciona a dinâmica do
STJ, é aproximadamente da seguinte maneira: quan- 13

do alguns decidem de uma forma e outro lado decide


de maneira diferente, o advogado poderá interpor o
que chamamos de Embargos de Divergência, caso em
que a corte deverá resolver como será o seu entendi-
mento.
Isto foi o que aconteceu neste caso. A partir
deste julgamento de Embargos de Divergência n.
1.518.169, a ministra Nancy Andrighi começou a afir-
mar que seria permitida a penhora de salário para pa-

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gamento de qualquer tipo de dívida, não apenas para
as dívidas de caráter alimentar.
Mas ela estabeleceu alguns requisitos para que
você consiga este tipo de penhora de salário. Antes
disso, é importante você saber que a jurisprudência
do STJ, até bem pouco tempo atrás, era em um senti-
do e agora ela foi para outro. Porque você pode estar
dizendo: “Ah, mas eu já tentei a penhora de salário de
dívida que não tinha caráter alimentar e foi negado.”
Você tentou depois desse entendimento do STJ? Se
você não tentou, talvez seja a hora de você tentar.
A ministra Nancy Andrighi disse o seguinte: “é 14

possível sim, a penhora de salário para pagamento de


qualquer tipo de dívida, não só para pagamento das
dívidas de caráter alimentar, mas quando o bloqueio
de parte do salário não prejudicar a subsistência dig-
na do devedor e da sua família.”
O que a ministra quis dizer? Ora, se na prática eu
conseguir visualizar que se penhorar parte do salário
do devedor não irá prejudicar o sustento dele, nem da
família dele, a penhora pode ocorrer. Ela derrubou a

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barreira que antes existia na lei, que falava que o sa-
lário é impenhorável. A nova regra, de acordo com o
STJ, é o salário penhorável, desde que não prejudique
a subsistência digna do devedor, nem da sua família.
Vamos entrar agora na prática de como que você
vai fazer para conseguir no seu caso concreto a pe-
nhora do salário. Primeira dica que eu vou te dar é que
se a dívida que você está executando ou pedido por
meio de sentença não tem caráter alimentar, nesse
caso você já sabe que a penhora de salário vai ser ex-
ceção. Então nunca você vai ajuizar o seu pedido de
sentença pedindo de imediato a penhora de salário. 15

Você precisará mostrar para o juiz que está tentando


outras formas menos onerosas para o devedor.
Você vai procurar, primeiramente, casa, carro,
créditos a receber… Vai tentar todas as formas de
penhora, sem ser a penhora de salário. Pode tentar
penhorar fundo de investimento, caderneta de pou-
pança com um valor que supera o valor previsto na
lei, tudo para mostrar a sua boa-fé, que você está
tentando receber o crédito do seu cliente, mas você

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não quer ao mesmo tempo impingir um castigo para
o devedor.
Se você fizer e mostrar a boa-fé, você já começa
a dar um passo para ter o seu pedido de penhora de
salário deferido. Essa é mais uma dica prática: não
peça a penhora de salário imediatamente no caso
dessa exceção.
Nos casos anteriores, que estão previstos por lei,
você poderá pedir logo no início, pois eles são exce-
ções legais. Mas no caso da dívida que não tem cará-
ter alimentar, você não deve pedir logo no início.
É muito importante você olhar para a situação 16

concreta do processo, pois é o que o juiz e o Tribunal


irão fazer. Quando o juiz falar que penhorar parte do
salário causará prejuízo ao devedor ou a família dele,
você precisará analisar quanto esse devedor ganha e
quais são as despesas dele para poder falar olhando
para o caso concreto. Você, como advogado, também
tem que saber que se o devedor ganha um salário mí-
nimo, é claro que o juiz não vai conceder a penhora de
salário, pois qualquer coisa que se penhore de quem

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ganha um salário mínimo, vai prejudicar a sobrevi-
vência digna do devedor e da família dele.
Por isso, você precisa olhar para a situação con-
creta dos autos. Quem deve falar para o juiz que pode
penhorar o salário, pois não vai prejudicar a vida do
devedor, é o exequente. Você precisa fazer um ra-
ciocínio lógico na sua petição partindo daquilo que o
devedor ganha. Então você precisará saber o salário
do devedor. Há várias formas de você descobrir isso,
especialmente pedindo a expedição do ofício para o
empregador, para que ele informe qual é o salário que
o funcionário recebe. Se for funcionário público é mais 17

fácil ainda, pois é só entrar no Portal de Transparên-


cia e você saberá quanto que o funcionário público,
seu devedor, ganha e você vai fazer o raciocínio ma-
temático para verificar se seu devedor recebe acima
da média da renda per capita do brasileiro.
Então você poderá formular um raciocínio de que
se o seu devedor ganha acima da média, pelo que é
justo que se penhore, então, parte daquilo que ele ga-
nha, mas é claro que tudo vai depender do caso con-

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creto. Você concorda que é diferente o devedor que
ganha cinco mil reais, mas que tem cinco filhos para
sustentar, do devedor que ganha cinco mil reais, mas
que só sustenta a si mesmo?
Tudo dependerá dessas circunstâncias: quantos
filhos o devedor tem e quais são as obrigações que ele
tem que pagar mensalmente. É muito importante que
você saiba que não é apenas pedir a penhora de sa-
lário, você precisa analisar o caso concreto. E se você
não tiver todas estas informações prévias para pedir
a penhora, mesmo assim você pode pedi-la, mas eu
sempre recomendo que você tente se adiantar para 18

descobrir estas informações, pois você vai facilitar o


deferimento pelo magistrado.
Na decisão da ministra Nancy Andrighi, ela afir-
ma que para decidir é preciso colocar em confronto
dois princípios, que têm origem constitucional. Um é
o princípio baseado na teoria do mínimo existencial e
outra é o princípio da satisfação executiva. Trazendo
para uma linguagem mais clara, existe uma doutrina
no sentido que para toda pessoa a legislação e o judi-

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ciário devem garantir aquilo que é minimamente su-
ficiente para que ela possa sobreviver. De outro lado,
existe uma outra doutrina e princípios constitucionais
no sentido de que a execução tem que existir para dar
resultado. Não tem sentido criarmos o Poder Judiciá-
rio e os mecanismos de execução para chegar no final
de todo o esforço e não haver resultado algum.
Você consegue ver o confronto? O exequente ten-
tando receber e a lei tentando garantir ao executado
o mínimo para sobreviver. O STJ diz que sempre de-
vemos olhar com razoabilidade para a análise deste
confronto, nunca puxar muito para um lado, tampou- 19

co para o outro. Nunca sacrificar demais o devedor e


nem deixar o exequente de “mãos abanando”. A chave
está na razoabilidade.
Por isso que nas hipóteses de penhora do salá-
rio em uma dívida não alimentar, você não vai pedir a
penhora de 30%, 50% do salário. Comece pedindo um
pouquinho, por exemplo, 10% do salário.
Na prática da magistratura, eu tenho deferido a
penhora inicial de 10% do salário, lógico que sempre

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olhando a situação concreta. Eu sei que muitos Tribu-
nais têm definido assim também. Se você pedir muito
mais do que isso, a chance do indeferimento é muito
maior. Ademais, tenha razoabilidade se o salário do
devedor for pequeno. Nesse caso, nem peça.
Tenha razoabilidade!
Sempre que você mostra para o juiz que você tem
razoabilidade, ainda que essa razoabilidade possa
representar “prejuízo” para o seu cliente, você ganha
pontos com o magistrado, pois ele começa a olhar
para você como alguém que tem um compromisso
com a realização da justiça, pois não é alguém que 20

quer conseguir ganhar a causa a qualquer custo, não


quer acabar com a vida do devedor, deixar o devedor
em uma situação de miséria. Você não pode esque-
cer que você, como advogado, vai ter várias causas
perante aquele mesmo juiz e aquele mesmo Tribu-
nal. Então é muito bom que você seja visto como uma
pessoa razoável.
Como você vai operar, na prática, esse tipo de
penhora? Você vai pedir para que a penhora, na folha

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de pagamento do salário do devedor, seja feita pelo
próprio empregador, assim como você faz na execu-
ção de uma pensão alimentícia. O juiz deferindo a pe-
nhora de 10% do salário do devedor, você pede para
oficiar ao empregador para que ele desconte e depo-
site. Não deixe que o devedor faça este desconto, pois
a chance de ele falhar é muito grande. Pedindo para
o empregador, tem até sanções penais caso ele não o
faça.
Lembre-se: se você não possui informações do
emprego, empregador, endereço e valor do salário,
peça na sua petição que a pesquisa no SISBAJUD se 21

dê também em conta-salário. Ressalte que para tan-


to, o magistrado, ao enviar a ordem no sistema, deve
marcar a opção de pesquisar em conta-salário, para
que o sistema dê a informação correta, caso contrá-
rio, o SISBAJUD não pesquisará em conta-salário, pois
isso não é automático do sistema.
Eu não sei se você sabe, mas com o novo CPC,
passou-se a adotar a teoria da distribuição dinâmica
do ônus da prova. Ou seja, deve fazer a prova aquela

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pessoa que tem mais facilidade para ter acesso a ela.
Portanto, quem tem mais facilidade para provar que
o salário está integralmente comprometido? É o exe-
quente ou é o executado? É lógico que é o executado.
Então, você, nos seus peticionamentos, sempre
vai pedir para que o juiz distribua o ônus da prova ao
executado, pois ele será capaz, por meio de embargos,
alegar que o valor constrito afeta a sua subsistência
digna e fazer a prova da sua alegação. Não pode mais
a carga e toda dificuldade de penhorar bens ficar nas
costas do exequente.
Eu te dou essa dica prática, estude a distribuição 22

dinâmica do ônus da prova, para que você saiba pe-


dir, no momento adequado, para o magistrado que o
executado prove, afinal é ele quem sabe das dívidas
dele. É ele quem tem os comprovantes de com o que
o salário dele é comprometido, porque a pessoa pode
ganhar cinco mil e ter o salário integralmente com-
prometido, bem como não ter gastos e ter este valor
para viver.
Assim, quem vai ter mais condições de compro-

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var é o executado. Essa é a exceção criada pela juris-
prudência.
Resumindo tudo que aprendemos até aqui: a re-
gra é que o salário é impenhorável, mas a lei fala que
ele pode ser penhorado para o pagamento de presta-
ção de caráter alimentar, onde entram os honorários
advocatícios, conforme a jurisprudência colacionada
acima. O salário também pode ser penhorado quan-
do ele excede o valor de cinquenta salários mínimos.
Essas duas são as exceções legais. O STJ trouxe mais
uma exceção, a de que o salário pode ser penhora-
do para pagamento de qualquer tipo de dívida, não só 23

para dívida alimentar, desde que a penhora de parte


de salário não prejudique a subsistência digna do de-
vedor e da sua família. Atente-se sempre quais são
os critérios exigidos na prática para sustentar diante
de um juiz que a penhora de um salário não irá preju-
dicar a subsistência digna do devedor.
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