Você está na página 1de 22

Joana Tavares, 46137

Medicina Geral e Familiar UP4


Conceito de família
O que é a família ?

 Dinâmica = Chuva de ideias + Definição por consenso

O homem é um ser gregário e social e o estabelecimento de relacionamentos favorece a estruturação das redes
neuronais de inteligência.

O núcleo familiar permite o desenvolvimento até que se estabeleça a autonomia. É na família que se
processam mecanismos reprodutivos, padrões de socialização e organização dos papéis e relações na
comunidade.

Em 1948, definiu-se que a família é a unidade básica de agrupamento da comunidade.

Definições de família

Em latim, família significa conjunto de pessoas que vivem sob o mesmo teto, incluindo os que se encontram
unidos por laços de matrimónio ou de sangue, mas também os criados e servos – definição desatualizada.

Há várias definições de família que se focam em questões de estrutura (vinculação biológica ou legal), de
função (apoio financeiro, objetivos e tarefas comuns) e de transação (vínculos afetivos e comunicação
simbólica).

 A família é a unidade básica de crescimento e experiência, de desempenho ou falha, e também de


saúde e de doença. (Ackerman, 1958)

 A família é um grupo de pessoas íntimas com um passado é um futuro em comum. (Ransom &
Vandervoort, 1973)

 Teto comum e laços: grupo de pessoas frequentemente, mas não necessariamente, unidas pelo sangue
ou casamento, com o compromisso de viver juntas e cuidarem-se mutuamente ao longo do tempo.
(Christie-Seely, 1984)

 Objetivos comuns e interação: a família é composta por membros em interacção, com determinados
papéis, cujo fim último é promover o desenvolvimento biopsicossocial dos seus membros e transmitir
os padrões culturais específicos da família. Uma mudança num dos membros da família produz
modificações nos outros, levando a um novo equilíbrio, distinto do anterior. (Minuchin & Fishman,
1990)

 Contexto social com o qual troca influências: Grupo de elementos ligados por um conjunto de
relações em contínua interacção com o exterior, que mantém o seu equilíbrio ao longo de um processo
de desenvolvimento, com diversos estádios de evolução diversificada. (Daniel Sampaio)

Evolução histórica

1
Joana Tavares, 46137

É importante perceber a influência da família na saúde e a influência da saúde na família.

A classificação das famílias ajuda a perceber o contexto, a antecipar os acontecimentos e a orientar na


necessidade. Atualmente, existem vários contextos que implicam uma especificidade na interpretação e
avaliação de cada caso.

 Família nuclear: progenitor + descendentes; é a tipologia clássica e começa no momento do


casamento e prolonga-se até à dissolução (morte/divórcio).
 Família alargada: duas gerações.
 Família monoparental: composição vertical, onde um progenitor acumula dois papéis.
Ex.: casais divorciados, em que por vezes a estrutura é monoparental, mas funcionalmente são
nucleares.
 Família reconstruída: união de duas famílias previamente constituídas, onde há um reajuste dos
papéis.
 Família unitária: um elemento que vive sozinho.
Ex.: viuvez, perda de autonomia, motivo de trabalho ou opção pessoal.
 Família institucional: ordem religiosa ou militar

Influência da família na saúde e doença dos seus membros

 carga genética hereditária: predispõe ou protege (atenção eu a estrutura genética é plástica com
aportes epigenéticos.
 incentivo a comportamentos de saúde ou de risco (consciente ou não)
 risco de doença por fatores psicossociais
 moldagem manifestações de doença
 conceito de saúde e de doença
 decisão quando procurar cuidados
 construção significado de uma doença
 definição do papel de doente
 adesão a prescrições médicas
 apoio e estratégias para lidar com a doença crónica

O ambiente sociocultural tem um impacto conhecido na saúde desde a teoria do materialismo de Engels do
século 19.
A família na consulta de MGF do dia-a-dia

 Antecedentes familiares
Alguém na sua família tem também esta doença?

2
Joana Tavares, 46137

 Crenças e valores familiares


Segundo a sua família, qual a causa/tratamento melhor para esta doença?

 Contexto do sintoma/motivo da consulta


Quem é que na sua família está mais preocupado com a sua doença?

 Stress e mudança familiar


Houve alguma mudança ou problema na sua família que possam estar relacionados com esta doença?

 Apoio da família
Como é que a sua família o pode ajudar/quem é que na sua família o pode ajudar?

É na família que se estruturam os comportamentos que se vão repetindo ao longo da vida, nos hábitos, nos
estilos de vida, nas crenças e expectativas e nas respostas aos fatores causadores de stress e conflitos.

White identifica como principais fatores sociais com impacto na saúde:


 Alimentação
 Habitação
 Condições de trabalho
 Poluição
 Organização dos espaços

Barltey acrescenta os serviços públicos como instrumento de equidade social.

Avaliação familiar
Quando avaliar a família?

 Primeira consulta
 Problema de saúde implica mudança de papéis na família
 Dificuldades de apoio aos doentes crónicos, má adesão
à terapêutica
 Ansiedade mudança de fase do ciclo de vida família
 Acontecimento negativo com sérias consequências afeta família
 Diagnóstico doença crónica
 Problemas conjugais e/ou sexuais (infertilidade, dependência...)
 Morte na família, acidente grave c/ desfiguração, amputação, divórcio, desemprego,
pobreza grave, emigração, dedicação excessiva trabalho
 Suspeita de disfunção familiar na etiologia do problema de saúde
 Sintomas indefinidos, grande frequência de consultas
 Sobre - utilização dos serviços de saúde
 Efeito mimético
 Doenças relacionadas com estilos de vida e ambiente (ex: adições)
 Problemas emocionais e/ou de comportamento graves
 Triangulação, negligência crianças
 Sempre que modelo biomédico inadequado ou insuficiente

Risco pessoal e familiar

3
Joana Tavares, 46137

As escalas de risco familiar procuram apontar um conjunto de características na família que poderão indicar
maior disfunção familiar. São úteis como instrumentos de rastreio e para identificar situações de
vulnerabilidade. A disfunção familiar é um fator de risco para doença.

A avaliação médica deve integrar fatores sociais como: pobreza, insucesso escolar, analfabetismo formal ou
funcional, precariedade de emprego e desemprego, comportamentos aditivos, instabilidade, gravidez na
adolescência, mãe solteira, doença crónica e incapacidade.

 Critérios anteriores
 Risco social e de saúde de famílias em cuidados primários
 Escala de Garcia Gonzalez e Segovia Dreyer -> sem validação e insuficientes
 Escala de Coelho e Savassi -> Brasil, não validada
 Idosos vulneráveis:
 Escala Gijón
 Pessoas com doença mental:
 Questionário de problemas familiares
 Crianças com doença crónica:
 Escala de Impacto na Família
 Acontecimentos de vida (stress social)

Escala de Readaptação Social de Holmes e Rahe


Exemplo: Escala de Readaptação Social de Holmes e Rahe (para Unidades de Mudança ou de Crise) avaliar
o stress social, determinando a probabilidade de vir a sofrer de doença psicossomática

Esta escala sugere que as mudanças de vida requerem um esforço para se adaptar e um esforço para recuperar
a estabilidade.

 Acontecimentos (existem 43 unidades de mudança vital) a que é atribuído um valor médio, desde 11 a
100, de acordo com o impacto intrínseco que cada um apresenta

 O score total é dado pela soma dos eventos causadores de stress

 Quando um indivíduo obtém mais de 150 pontos por ano, ficará predisposto com grande
probabilidade a algum tipo de doença física ou psíquica

 Significado do score:

 >/= 300 por ano – 80% de probabilidade de adoecer nos próximos 2 anos por algum tipo de
doença psíquica ou física (enfarte agudo do miocárdio, doença ulcerosa péptica, infeções,
perturbações psiquiátricas)
 150-299 – 50% de probabilidade
 <150 – 30% de probabilidade

 Existem versões para crianças e estudantes.

 Life experience survey: experiência/impacto

4
Joana Tavares, 46137

Vantagens da Escala de Holmes Desvantagens da Escala de Holmes


 Melhora o insight do doente  Não foi validade em português
 Útil como rastreio  É um raciocínio probabilístico

Para compreender a pessoa temos que integrar a história familiar e a função de de suporte da família. A
abordagem da família em MGF não pretende ter um caráter terapêutico, estando mais focada na sua
observação, acompanhamento, apoio à mudança e prevenção.

Indicações para a avaliação familiar (Quadro 10.1):

 Aparecimento de problemas específicos de saúde:


a. Com carga genética associada
b. Relacionados com o estilo de vida e ambiente
c. Doença mental ou comportamentos aditivos
d. Problemas conjugais e sexuais
e. Doença significativa nas crianças

 Problemas inespecíficos de saúde


a. Sintomas inexplicados
b. Grande consumo de consultas
c. Sintomas idênticos em vários membros da família
d. Má adesão terapêutica

 Mudanças de fase de ciclo de vida


a. Morte

5
Joana Tavares, 46137

b. Diagnóstico de doença crónica ou incapacidade


c. Primeira gestação
d. Separação ou divórcio
e. Mudança de fase

 Situações sociais
a. Desemprego
b. Diminuição significativa dos meios de subsistência
c. Stress e burnout profissional

Instrumentos de avaliação familiar


O que avaliar?

 Tipologia
 Ciclo de vida
 Nível socioeconómico
 Padrões e antecedentes
 Dinâmica/relações
 Funcionalidade

Porque avaliar?

 Problemas de saúde implicam mudança de papéis


 Acontecimentos negativos com sérias consequências afeta família
 Suspeitas de disfunção familiar na etiologia do problema de saúde

Tipologia monoparental

Parentificação = inversão de papéis entre pais e filhos.

Modelo de Duvall e Carter e McGoldrick


Ciclo de vida familiar

6
Joana Tavares, 46137

Modelo de Duvall Modelo de Carter e McGoldrick


(descreve a estrutura familiar, aplicando-se (McGoldrick popularizou o genograma
apenas a famílias nucleares e a sua evolução familiar no contexto de MGF)
do casamento até à dissolução)

Nucleares clássicas Nucleares e reconstruídas

Ciclo de vida de Duvall

No ciclo de vida de Duvall existem fases estáveis separadas por períodos de transição de curta duração com
maior instabilidade. Foi descrito após a segunda guerra mundial, onde o homem era o sustento da casa e a
mulher cuidava dos filhos, o que cria alguma dificuldade na adaptação à atualidade.

Neste modelo combinam-se quatro fatores:


 Número de pessoas na família;
 Idade do filho mais velho;
 Posição escolar do filho mais velho;
 Funções e estatuto das famílias antes das crianças nascerem e após estas saírem de casa.

Assim, associa a cada fase, tarefas que devem ser cumpridas para que haja sucesso familiar e permitindo a
introdução de cuidados antecipatórios nas fases de transição.

Estádios Delimitação Tarefas de desenvolvimento Fatores negativos


dos estádios
Jovem adulto Desde saída Diferenciação do eu em relação à família
solteiro de casa dos de origem;
pais até Desenvolvimento de relações íntimas
casamento com adultos iguais;
Estabelecimento do eu em relação ao
trabalho e independência financeira.
Casal sem Do Estabelecimento de um casamento mutuamente satisfatório; União logo após perda significativa;
filhos casamento Reajustamento das relações com as famílias alargadas e União movida pelo desejo de afastamento da
(formal ou amigos, de modo a incluir o cônjuge; família de origem;
informal) até Criação dum espaço próprio; Modelos familiares muito diferentes;
ao Preparação para a gravidez e nascimento do primeiro filho. Namoro recente ou muito longo;
nascimento Conflitos marcados com ou na família de
do primeiro origem.

7
Joana Tavares, 46137

filho
Família com Criança mais Educação dos filhos; Pais: experiência de infância insatisfatória com
filhos velha, do Adaptação da casa a contento, quer dos pais, quer dos filhos; os seus próprios pais; casamento precoce;
pequenos nascimento Reajustamento das relações com a família alargada, sendo imaturidade; doenças psiquiátricas; gravidez
aos 30 meses de realçar o papel dos avós; antes do casamento;
Adaptação dos pais ao desgaste físico e à falta de Filhos: prematuridade; deficiência; criança não
privacidade. desejada; criança chorona.
Família com Criança mais Satisfação das necessidades e interesses dos filhos, Infeções de repetição;
filhos em velha dos 30 estimulando a descoberta de novos horizontes; Tendência para acidentes;
idade pré- meses aos 6 Gestão do desgaste físico e da falta de privacidade. Enurese;
escolar anos Perturbações de comportamento;
Problemas de crescimento e de
desenvolvimento.
Família com Criança mais Encorajamento das crianças no seu desempenho escolar; Insucesso escolar;
filhos em velha dos 6 Integração na comunidade das famílias dos colegas de Problemas de comportamento na escola;
idade escolar aos 13 anos escola. Tendência para acidentes.
Família com Desde que a Equilíbrio da liberdade com a responsabilidade à medida Toxicodependência;
adolescentes criança mais que os adolescentes crescem; Insucesso escolar;
velha Procura de novas áreas de interesse e ou investimento Delinquência juvenil;
completa 13 acrescido nas carreiras profissionais. Tendência para acidentes.
anos até à
saída do
primeiro
filho de casa
Família com Desde que o Promoção da assistência adequada e dos rituais apropriados Relações fusionais com os filhos casados, não
adultos primeiro à saída dos filhos de casa – lança-los no trabalho, lhes permitindo algum distanciamento da
jovens filho sai até universidade, etc. família de origem;
que o último Estabelecimento de relações adulto-adulto entre filhos Conflitos marcados com noras ou genros.
deixe a casa crescidos e pais;
Reajustamento das relações de modo a incluir genros, noras
e netos.
Família de Desde que o Renegociação do sistema familiar como díade marital; Filho único, com as dificuldades inerentes de
meia-idade último filho Manutenção das relações intergerações: relações adulto- separação;
(ninho vazio) sai de casa adulto com filhos, incluir parentes por afinidade e netos; Mulheres focadas nos afazeres domésticos e
até à reforma Aceitação do papel mais central da geração do meio; que não construíram carreira ou cultivaram
Lidar com incapacidade e morte dos pais (avós); interesses sociais.
Interesse por novas opções sociais.
Família idosa Da reforma à Reagir bem à situação de reforma; Renegociação da díade marital disfuncional no
viuvez Adaptar-se à viuvez e a viver só; estádio 7;
Manter o funcionamento e interesses próprios ou de casal Ausência de passatempos e interesses sociais;
face declínio fisiológico; Isolamento;
Abrir espaço para sabedoria e experiência dos idosos, Centralidade da profissão na construção da
apoiando sem superfuncionar por eles; identidade.
Fechar a casa de família ou adaptá-la à velhice;
Lidar com a perda do cônjuge, irmãos e outros iguais;
Preparar-se para a própria morte.

Vantagens do modelo de Duvall Desvantagens do modelo de Duvall


 Modelo datado e descritivo de famílias  Falta de suporte às etapas de transição –
nucleares da classe média; famílias precisam de maior suporte;
 Descrição das tarefas de desenvolvimento,  Restrito a outras tipologias familiares e a
das competências interpessoais e dos mudanças sociais, como o papel das
objetivos de educação; mulheres na sociedade e a diminuição da
taxa de mortalidade;

Genograma familiar

8
Joana Tavares, 46137

O genograma descreve a estrutura familiar e permite o registo gráfico da composição da família integrando os
problemas biomédicos e biopsicossociais. Foi introduzido pelos geneticistas no estudo de doenças de
transmissão hereditária e adaptado à terapia familiar na década de 70.

O genograma tem especial indicação nas primeiras consultas ou quando o modelo biomédico falha por
dificuldade de diagnóstico, falta de adesão ao plano, alta frequência de doenças agudas ou crónicas.

A construção do genograma começa com um ou vários elementos e é completado ou modificado nas seguintes
consultas. Pode ser desenhado pelo médico, pelo paciente ou por ambos.

Vantagens do genograma Limitações do genograma


 Grande riqueza de informação  Tempo de execução, difícil de
(estrutura, história clínica e relações desenhar, suporte de registo
de família)  Não avalia dinâmica familiar nem
 Longitudinal (progressivo e funcionalidade
atualizável)  Despersonalizado/feito pelo médico,
 Objetivo e factual (valorizável por fiabilidade baixa (memória,
observador exterior) diagnósticos)
 Não permite fazer diagnóstico ou
extrair implicações clínicas ou
terapêuticas
 Depende da qualidade de construção
 Nem sempre reflete a verdade –
varias versões (Efeito Rashomon –
numa mesma família, um
acontecimento suscita várias versões)
 Não está integrado nos sistemas
informáticos.

Componentes do genograma:

 simbologia própria, estabelecida por Rakel (os símbolos não estandardizados devem ser anotados na
legenda);
 homem representado por quadrado e mulher por círculo;
 símbolos devem ter o mesmo tamanho;
 pelo menos 3 gerações numeradas (numeradas com número romano);
 os laços familiares devem ser representados por linhas;
 deve representar-se a família de origem de cada um dos cônjuges;
 primeiro filho à esquerda, por ordem decrescente de nascimento;
 agregado familiar é circundado por uma linha a tracejado;
 pessoas que vivam na mesma casa mas que não pertencem à família não estão ligadas por linhas
contínuas;
 homem à esquerda no casal;
 nomes e datas de nascimento;
 datas e causas de morte;
 datas de divórcios, separações, abortos, nados-mortos e adoção;
 data em que é feito
 elemento informante (símbolo duplo ou uma seta);

9
Joana Tavares, 46137

 elementos que coabitam


 problemas biomédicos, psicossociais, familiares (neoplasias, doenças com padrão de repetição –
alergias, diabetes, artrose, AR, GNA (glomerulonefrite aguda), DCV, glaucoma, asma, obesidade,
problemas de reprodução, problemas de saúde mental, problemas com a justiça, comportamentos
antissociais, violência, consumo de drogas ou álcool)
 podem registar-se outras que se considerem relevantes como datas de emigração, educação, profissão,
desemprego, serviço militar, religião;
 deve ser registado o padrão de interação familiar através da psicofigura de Mitchell: relações pobres,
escassas, boas, excelentes ou grau de dominância de um elemento.

Exemplo de genograma (ver figura 10.1 da Bibliografia recomendada):

10
Joana Tavares, 46137

Que informação tem um genograma?


A interpretação do genograma deve ser metódica e sistemática. McGoldrick & Gerson propuseram seis
categorias.

 Estrutura familiar
 Composição e tipo de família
 Descendência

 Ciclo de vida familiar


 Fase, crises

 Padrões de morbilidades, comportamentos, relação, estrutura

 Acontecimentos vitais, sociais e económicos

 Padrões de relacionamento familiar e equilíbrio, introduziu o contexto emocional  Psicofigura de


Mitchell

11
Joana Tavares, 46137

Avaliação socioeconómica

 1 pergunta
 Dificuldade em pagar as contas no final do mês?

 Índice SEDI (socioeconomic deprivation index) (0-3 pontos)


 Vive sozinho (=1)
 Ganha salário mínimo ou mais = 0 (menos =1)
 Escolaridade (1 se ≤4 anos, 0 se >4 anos)

 Escala Graffard adaptada


 Profissão
 Grau de Instrução
 Fonte Principal de Rendimento
 Tipo de Habitação
 Local de Residência
 Classes: alta (5 – 9), média alta (10 – 13), média (14 – 17), média baixa (18 – 21), baixa (22 –
25)

12
Joana Tavares, 46137

Fig. – Escala de Graffard adaptada

História familiar

 Biopatografia (medicina narrativa) narração história desde nascimento até presente 3ª pessoa
 História pré-natal e peri-natal: patologia, ambiente emocional, familiar, cultural,
socioeconómico…
 Infância: hábitos, desenvolvimento, comportamento, personalidade, sonhos/recordações,
aprendizagem, patologias...

 Linha de Vida Familiar de Medalie


 Lista de acontecimentos que sucedem a uma pessoa durante um determinado período de vida
familiar
 Simplifica a apresentação
 Demonstra etapas de crise
 Localiza-as no tempo

13
Joana Tavares, 46137

Círculo de Thrower
Dinâmica familiar

Círculo de Thrower

O circulo de Thrower permite caracterizar a funcionalidade da família, fornecendo informação sobre a relação
e a dinâmica familiar. Este método nasceu para identificar problemas psicossociais ou para ajudar doentes
mais complexos. Permite estabelecer metas para mudanças no sistema familiar. Em Portugal, é um dos
instrumentos mais utilizados para o estudo da funcionalidade familiar.

Este círculo é útil para enriquecer os dados clínicos e permite ter uma avaliação familiar atual, ao contrário do
genograma que é transgeracional (presente e passado). O circulo demora 5 minutos a ser feito e a sua
discussão pode durar até 30 minutos.

Vantagens Limitações
 fotografia da dinâmica familiar  difícil de estandardizar, difícil
 rápido, flexível, adaptável e eficiente valorização por observador exterior
 resposta às  datado
preocupações/necessidades paciente  só exprime a ideia/ótica do doente
 centrado no paciente e no presente sobre a sua família (subjetivo,
(auto-administração) emocional)
 permite perceber sistemas sociais de  só possível se boa
suporte (ex.: quem prepara as relação/colaboração
refeições numa família com diabetes)  qualitativo mas não quantitativo
 não é necessária a presença do
médico, após serem dadas as
instruções
 pode ser aplicado na adolescência e
ser obtido só de um individuo, de um
agregado ou de todos
individualmente

Instruções ao paciente para desenho do círculo de Thrower

 Introduzir o tema.
 Círculo grande (feito pelo médico): representa a sua família e os apoios sociais que tem no momento
presente
 Círculos mais pequenos (feito pelos pacientes): desenhe-se a si próprio em primeiro lugar e depois a
todas as pessoas e apoios que forem importantes para si, incluindo animais e objetos.
 As pessoas podem estar dentro ou fora do grande círculo, tocarem-se ou estarem afastadas
umas das outras
 Os círculos (pessoas) podem ser grandes ou pequenos, dependendo do seu significado e
influência
 Pode representar áreas importantes da sua vida como: perdas, férias, hobbies…
 Assinale cada círculo com uma inicial e date o desenho
 Não é um teste, não há círculos certos ou errados

Os tamanhos dos círculos representam a importância atribuída àquela pessoa e a distância entre círculos
representa o grau de proximidade emocional. A interpretação é subjetiva e envolve três níveis sequenciais:

1. Doente descreve e explica o que desenhou, o doente não deve ser interrompido e o médico deve
estar atento à comunicação não verbal.

14
Joana Tavares, 46137

2. Clarificação dos significados, evitando o “porquê?”.


3. Clarificação de papéis e regras familiares, para a intimidade ou distanciamento, para as
hierarquias de poder e de tomada de decisão, para padrões de coesão (subsistemas familiares) e
de comunicação, para os limites pessoais e espaços.

O circulo pode ser usado como facilitador de comunicação ou como estratégia para construir um plano
diagnóstico ou terapêutico da funcionalidade e da dinâmica familiar.

Discussão

 Paciente descrever e explicar o que desenhou


 Respeitar explicações e profundidade
 Clarificar “o quê”, “onde”, “quando, “como”, evitar “porquê”
 Relações: perceber proximidade, hierarquias, papéis, comunicação
 Questões para ajudar:
 Quando tem um problema, a quem pede ajuda?
 Acha que está dependente de alguém?
 Se um dia estiver mal, a quem quer que se peça ajuda?
 Faltou-lhe alguém na sua família muito importante para si?
 Se pudesse mudar o seu círculo, como o desenharia?
 Que consequências teria essa mudança? Tem algum plano para o conseguir?
 Círculo familiar pertence ao paciente e deve-lhe ser dada uma cópia

Este círculo de Thrower não é interpretável por avaliador externo.

15
Joana Tavares, 46137

Modelo da psicofigura de Mitchell


Dinâmica e relações familiares psicofigura de Mitchell

16
Joana Tavares, 46137

 Forma de demonstrar a relação da pessoa com outros membros da família, particularmente se a


mesma é nuclear, pequena e disfuncional

 Relações pobres, escassas, boas, excelentes, ...

 Grau de dominância

 Articula-se com o Genograma Familiar

Ligações e Apoios familiares - Ecomapa


 Dimensões da ligação:
 força (fraca; ténue / incerta; forte);
 impacto (sem; requerendo esforço / energia; fornecendo apoio / energia);
 qualidade (stressante ou não)

17
Joana Tavares, 46137

Apoios familiares

Funcionalidade familiar

Família funcional:

18
Joana Tavares, 46137

 promove o crescimento dos seus membros e mantém a coesão,


 prioriza necessidades,
 reconhece e concilia diferenças,
 tem flexibilidade para mudanças,
 face a uma crise, consegue adaptar-se à nova realidade
 Os seus membros encontram nela um espaço de liberdade e afirmação, um lugar estável de segurança
e bem-estar, onde se identificam e fazem valer os seus direitos

Modelo circumplexo de Olson: 4 dimensões

O modelo circumplexo de Olson retrata os laços emocionais que os membros da família têm entre si e o
equilíbrio dinâmico entre as necessidades de individualização/autonomia e as de afiliação/identificação.

Forte coesão (aglutinação): interações globais predominam sobre a autonomia individual.

Fraca coesão (desagregação): membros da família desligados.

Adaptabilidade: capacidade que a família tem para mudar a sua estrutura, o poder e as regras de relação
perante um stress.

Comunicação/satisfação: facilita ou dificulta o movimento das famílias na coesão e na mudança. As famílias


mais equilibradas têm aptidões positivas de comunicação do que as famílias extremas.

Como medir?
 Questionário FACES IV: 62 questões medem estas 4 dimensões

19
Joana Tavares, 46137

APGAR Familiar

Trata-se de um questionário padrão em que se avalia o modo como a pessoa se sente dentro da família.
Denominou-se APGAR devido à familiaridade que os médicos têm com o APGAR do recém-nascido. O score
permite classificar as famílias como funcionais ou disfuncionais. Este é um instrumento utilizado como
rastreio da disfunção familiar. Tem uma sensibilidade de 57% e uma especificidade de 86%.

Este instrumento pode abrir caminho à discussão de problemas familiares e à aplicação de outros métodos de
avaliação familiar. Mede melhor a satisfação do que a funcionalidade.

 APGAR Familiar de Smilkstein: satisfação com funcionalidade familiar

 5 perguntas fechadas: quantifica perceção que doente tem do funcionamento da sua família,
como se sente nela num determinado momento (satisfação que admite); respondidas numa
escala de Likert de 3 pontos, variando entre 0 e 2.

 Pontuação:
 7-10 sugere altamente funcional
 4-6 moderada disfunção
 0-3 disfunção acentuada

20
Joana Tavares, 46137

Vantagens do APGAR Desvantagens do APGAR

 fotografia da dinâmica familiar  difícil de standardizar, difícil


 rápido, flexível, adaptável e eficiente valorização por observador exterior
 resposta às (deve ser aplicado a vários membros
preocupações/necessidades paciente da família)
 centrado no paciente e no presente  datado
 auto-administrável  só exprime a ideia/ótica do doente
 aplicável a todos os tipos de família sobre a sua família (subjetivo,
(conjunto de elementos com quem emocional)
habitualmente vive)  só possível se boa
relação/colaboração (capacidade de
insight sobre família, nível
cultural/literacia)
 não aplicável a crianças pequenas
 momentâneo
 não avalia nem classifica família
quanto à funcionalidade familiar

21
Joana Tavares, 46137

Competências e atitudes do médico de família na intervenção familiar:

 Ouvir criticamente
 Observar e interpretar interações
 Empatia e facilitação de comunicação
 Evitar julgamento e alianças
 Ser agente terapêutico
 Perceber influências ambientais e sócio–profissionais
 Identificar fases do ciclo de vida
 Usar instrumentos de avaliação familiar
 Personalizar propostas
 Continuidade de cuidados

Intervenção e papel do médico de família?

22

Você também pode gostar