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Gratuidade da justiça

Art. 98 ao 102

O Art. 98 atribui o direito à gratuidade da justiça a toda pessoa natural ou


jurídica, brasileira ou estrangeira, com insuficiência de recursos para
pagar as custas, as despesas processuais e os honorários advocatícios.
Em relação às pessoas naturais, há uma presunção de veracidade da alegação
de insuficiência de recursos, que só será afastada se houver nos autos
elementos que evidenciem o contrário.
Com relação às pessoas jurídicas, não há essa presunção, cumprindo-lhes
provar a insuficiência econômica, necessária para o deferimento da gratuidade.
Deve-se aplicar a Súmula 481 do Superior Tribunal de Justiça, que assim
estabelece: “Faz jus ao benefício da justiça gratuita a pessoa jurídica com ou
sem fins lucrativos que demonstrar sua impossibilidade de arcar com os
encargos processuais”.
Cabe à pessoa jurídica demonstrar a impossibilidade financeira, não bastando
simplesmente que a alegue, como ocorre com as pessoas naturais. E, mesmo
em relação a essas, embora haja a mencionada presunção de veracidade, se o
juiz entender que as circunstâncias são tais que indiquem que ela tem
condições de suportar as despesas do processo, deverá dar a ela condições de
fazer prova da alegada necessidade, indeferindo o benefício se a prova não for
feita (Art. 99, §§ 2º e 3º).
A gratuidade da justiça compreende tudo aquilo que está enumerado nos
incisos do Art. 98, § 1º, incluindo os emolumentos devidos a notários e
registradores em decorrência da prática de atos de registro ou averbação, bem
como atos notariais necessários para a efetivação de decisão judicial ou à
continuidade do processo judicial no qual o benefício tenha sido concedido.
Mas ao notário ou registrador é dado solicitar a revogação do benefício, se
houver dúvida sobre o preenchimento do requisito, na forma do Art. 98, § 8º.
A gratuidade da justiça não afasta a responsabilidade do beneficiário pelo
pagamento das multas impostas no curso do processo, como aquelas relativas
à litigância de má-fé, ato atentatório à dignidade da justiça e às multas
cominatórias (“astreintes”).
Se o beneficiário da gratuidade for sucumbente, o juiz o condenará no
pagamento das custas, despesas e honorários advocatícios. Mas a
condenação não poderá ser executada e ficará sob condição suspensiva
durante o prazo de cinco anos, a contar do trânsito em julgado. Se nesse
ínterim o credor demonstrar a alteração da situação econômica do devedor,
que agora tem condições de arcar com as verbas de sucumbência a que foi
condenado, o juiz determinará a execução delas. Mas, passados os cinco anos
sem que isso ocorra, extinguem-se as obrigações.
A gratuidade da justiça pode ser requerida a qualquer momento no
processo.
Poderá ser requerida pelo autor na inicial, pelo réu na contestação e pelo
terceiro quando solicitar seu ingresso. Portanto, na primeira manifestação de
cada um deles no processo. Também pode ser requerida em recurso, ou, em
qualquer outro momento do processo, caso em que o pedido será formulado
por simples petição. Se ela for deferida, a parte contrária poderá apresentar
impugnação, pedindo ao juiz que a revogue. Se ela foi requerida na inicial e
deferida pelo juiz, a impugnação deve ser formulada como preliminar em
contestação; se requerida na contestação, e deferida pelo juiz, deve ser
impugnada na réplica; se requerida em recurso, deve ser impugnada nas
contrarrazões. E se requerida por simples petição e deferida, poderá ser
impugnada no prazo de 15 dias. A impugnação será sempre nos mesmos
autos e não suspenderá o curso do processo. Caso haja a revogação, e o juiz
entenda que houve má-fé, a parte não só terá de recolher as despesas que
tiver deixado de adiantar, mas pagará até o décuplo de seu valor a título de
multa, em benefício da Fazenda Pública estadual ou federal, conforme a ação
corra pela justiça estadual ou federal
Da decisão judicial que indeferir ou revogar o pedido de gratuidade, cabe
agravo de instrumento (salvo se a questão for apreciada na sentença, caso em
que caberá apelação). Se o recurso não for interposto, a matéria preclui, a
menos que se evidencie a existência de novas circunstâncias fáticas que
demonstrem a alteração da condição financeira da parte. Enquanto não houver
decisão do relator sobre a questão, preliminarmente ao julgamento do recurso
de agravo de instrumento, o recorrente fica dispensado do recolhimento das
custas necessárias à continuidade do processo. E se a decisão de
indeferimento ou revogação for mantida, ela será intimada a fazer o
recolhimento em cinco dias. Da decisão que concede a gratuidade não cabe
recurso, mas apenas a impugnação prevista no art. 100.

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