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2. PORTUGUÊS 

3. LINGUÍSTICA
Linguística
A Linguística é concebida como a ciência que se ocupa do estudo acerca
dos fatos da linguagem, cujo precursor foi Ferdinand de Saussure.

Ferdinand de Saussure – considerado o fundador da Linguística


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O termo “Linguística” pode ser definido como a ciência que estuda os fatos
da linguagem. Para que possamos compreender o porquê de ela ser
caracterizada como uma ciência, tomemos como exemplo o caso da
gramática normativa, uma vez que ela não descreve a língua como
realmente se evidencia, mas sim como deve ser materializada pelos
falantes, constituída por um conjunto de sinais (as palavras) e por um
conjunto de regras, de modo a realizar a combinação desses. 

Assim, a título de reforçarmos ainda mais a ideia abordada, consideremos


as palavras de André Martinet, acerca do conceito de Linguística:

“A linguística é o estudo científico da linguagem humana. Diz-se que um


estudo é científico quando se baseia na observação dos fatos e se abstém
de propor qualquer escolha entre tais fatos, em nome de certos princípios
estéticos ou morais. ‘Científico’ opõe-se a ‘prescritivo’. No caso da
linguística, importa especialmente insistir no caráter científico e não
prescritivo do estudo: como  o objeto desta ciência constitui uma atividade
humana, é grande a tentação de abandonar o domínio da observação
imparcial para recomendar determinado comportamento, de deixar de
notar o que realmente se diz para passar a recomendar o que deve dizer-
se”.

MARTINET, André. Elementos de linguística geral. 8 ed. Lisboa: Martins


Fontes, 1978.

O fundador destaciência foi Ferdinand de Saussure, um linguista suíço cujas


contribuições em muito auxiliaram para o caráter autônomo adquirido por
essa ciência de estudo. Assim, antes de retratá-las, constatemos um pouco
mais acerca de seus dados biográficos:

Ferdinand de Saussure nasceu em 26 de novembro de 1857 em Genebra,


Suíça. Por incentivo de um amigo da família e filólogo, Adolphe Pictet, deu
início aos seus estudos linguísticos. Estudou Química e Física, mas
continuou fazendo cursos de gramática grega e latina, quando se
convenceu de que sua carreira estava voltada mesmo para tais estudos,
ingressou-se na Sociedade Linguística de Paris. Em Leipzig estudou línguas
europeias, e aos vinte e um anos publicou uma dissertação sobre o sistema
primitivo das vogais nas línguas indo-europeias, defendendo,
posteriormente, sua tese de doutorado sobre o uso do caso genitivo em
sânscrito, na cidade de Berlim. Retornando a Paris passou a ensinar
sânscrito, gótico e alemão e filologia indo-europeia. Retornando a Genebra
continuou a lecionar novamente sânscrito e linguística histórica em geral.

Na Universidade de Genebra, entre os anos de 1907 e 1910, Saussure


ministrou três cursos sobre linguística, e em 1916, três anos após sua
morte, Charles Bally e Albert Sechehaye, alunos dele, compilaram todas as
informações que tinham aprendido e editaram o chamado Curso de
Linguística Geral – livro no qual ele apresenta distintos conceitos que
serviram de sustentáculo para o desenvolvimento da linguística moderna.  

Entre tais conceitos, tornam-se passível de menção alguns deles, tais como
as dicotomias:
Língua X Fala

Esse grande mestre suíço aponta que entre dois elementos há uma
diferença que os demarca: enquanto a língua é concebida como um
conjunto de valores que se opõem uns aos outros e que está inserida na
mente humana como um produto social, razão pela qual é homogênea, a
fala é considerada como um ato individual, pertencendo a cada indivíduo
que a utiliza. Sendo, portanto, sujeita a fatores externos.   

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Significante X Significado

Para Saussure, o signo linguístico se compõe de duas faces básicas: a do


significado – relativo ao conceito, isto é, à imagem acústica, e a do
significante – caracterizado pela realização material de tal conceito, por
meio dos fonemas e letras. Falando em signo, torna-se relevante dizer
acerca do caráter arbitrário que o nutre, pois, sob a visão saussuriana, nada
existe no conceito que o leve a ser denominado pela sequência de
fonemas, como é o caso da palavra casa, por exemplo, e de tantas outras.
Fato esses que bem se comprova pelas diferenças existentes entre as
línguas, visto que um mesmo significado é representado por significantes
distintos, como é ocaso da palavra cachorro (em
português); dog (inglês); perro  (espanhol); chien (francês) e cane (italiano). 

Sintagma X Paradigma

Na visão de Saussure, o sintagma é a combinação de formas mínimas numa


unidade linguística superior, ou seja, a sequência de fonemas se desenvolve
numa cadeia, em que um sucede ao outro, e dois fonemas não podem
ocupar o mesmo lugar nessa cadeia. Enquanto que o paradigma para ele se
constitui de um conjunto de elementos similares, os quais se associam na
memória, formando conjuntos relacionados ao significado (campo
semântico). Como o autor mesmo afirma, é o banco de reservas da língua. 

Sincronia X Diacronia

Saussure, por meio dessa relação dicotômica retratou a existência de uma


visão sincrônica – o estudo descritivo da linguística em contraste à visão
diacrônica - estudo da linguística histórica, materializado pela mudança dos
signos ao longo do tempo. Tal afirmação, dita em outras palavras, trata-se
de um estudo da linguagem a partir de um dado ponto do tempo (visão
sincrônica), levando-se em consideração as transformações decorridas
mediante as sucessões históricas (visão diacrônica), como é o caso da
palavra vosmecê, você, ocê, cê, vc...

Mediante os postulados aqui expostos, cabe ainda ressaltar que a


linguística não se afirma como uma ciência isolada, haja vista que se
relaciona com outras áreas do conhecimento humano, tendo por base os
conceitos dessas. Por essa razão, pode-se dizer que ela assim subdivide:

* Psicolinguística – trata-se da parte da linguística que compreende as


relações entre linguagem e pensamentos humanos.

* Linguística aplicada – revela-se como a parte dessa ciência que aplica os


conceitos linguísticos no aperfeiçoamento da comunicação humana, como
é o caso do ensino das diferentes línguas.

* Sociolinguística – considerada a parte da linguística que trata das


relações existentes entre fatos linguísticos e fatos sociais.

Por Vânia Duarte


Graduada em Letras

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico?


Veja:

DUARTE, Vânia Maria do Nascimento. "Linguística"; Brasil Escola. Disponível em:


https://brasilescola.uol.com.br/portugues/linguistica.htm. Acesso em 11 de outubro
de 2022.

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sem prévia autorização (Inciso I do Artigo 29 Lei 9.610/98)

A LINGÜÍSTICA TEXTUAL
E SEUS MAIS RECENTES AVANÇOS

Paulo de Tarso Galembeck (UEL)

Este texto apresenta os mais recentes avanços da Lingüística Textual, a partir do exame das etapas da
evolução dos estudos do texto. Para tanto, apresentam-se os três passos da evolução dos estudos do texto
(análises transfrásticas, gramáticas textuais, teorias de texto). Na última parte do trabalho, discute-se a
conceituação do texto como processo (e não como produto) , e o papel do contexto interacional na
depreensão dos sentidos do texto.

O percurso da Lingüística Textual

A adoção do texto e do discurso como unidade básica dos estudos lingüísticos não foi um processo unitário e
uniforme, já que houve várias orientações, às quais correspondiam propostas teórico-metodológicas
diversas. De forma genérica, essas propostas podem agrupadas em duas tendências: a Análise do Discurso
de linha francesa e a Lingüística Textual, oriunda, sobretudo dos países germânicos (Alemanha, Países-
Baixos) ou do Reino Unido. Na primeira, as preocupações dominantes são o sujeito da enunciação (um ser
situado num dado momento histórico) , os sentidos que ele produz e a ideologia que subjaz à sua
mensagem. A Lingüística Textual tinha por objeto específico os processos de construção textual, por meio
dos quais os participantes do ato comunicativo criam sentidos e interagem com outros seres humanos.

Na seqüência do texto, são expostos os três passos principais da evolução da Lingüística Textual: as análises
transfrásticas; a Gramática de Texto; a Teórica do Texto.

Análises transfrásticas

As análises transfrásticas ainda não consideram o texto como o objeto de análise, pois o percurso ainda é da
frase para o texto. Aliás, as análises transfrásticas surgiram a partir da observação de que certos fenômenos
não poderiam ser explicados pelas teorias vigentes na época (estruturalismo e gramática gerativa) , por
ultrapassarem os limites da frase simples e complexa: a co-referenciação (anáfora); a correlação de tempos
verbais (“consecutio temporum”); o uso de conectores interfrasais; o uso de elementos e indefinidos. Veja-
se o exemplo a seguir:

“O que os escândalos do governo Lula mostram é um antídoto à desculpa tipicamente nacional de que corrupção existe
em todo lugar. Afinal revelam um padrão que, como gosta de dizer o presidente, “nunca, em 500 anos de história”, foi
(01)
muito diferente do que é agora. Portanto, têm uma especificidade, e sem olhar para ela, o problema não será combatido
e atenuado” (Daniel Piza, “O labirinto da corrupção”, O Estado de S. Paulo, 3/7/05, D3, p. 03)

Verifique-se, no fragmento acima, a presença dos conectores interfrásticos (afinal, portanto); a presença de


relações anafóricas entre termos situados em frases diferentes (o presidente, retomando Lula; as elipses –
afinal Ø revelam; Ø têm – que remetem escândalos; o problema, referindo-se a corrupção); o emprego dos
tempos verbais (presente e futuro).

Se observados a partir de uma perspectiva textual, os elementos citados (anafóricos, conectores, tempos
verbais) passam a ser encarados a partir de uma perspectiva diferenciada. Com efeito, os anafóricos deixam
de ser considerados meros substitutos (termo que entra no lugar de outro) e passam a ser vistos como
termos que possibilitam a retomada do dado, para que a ele sejam acrescidas novas informações. Assim, a
retomada de Lula por o presidente indica que ele sabe da existência da corrupção. Os
conectivos afinal e portanto têm um nítido papel argumentativo: o primeiro introduz um fragmento que
retoma o que foi dito e, ao mesmo tempo, encaminha o leitor para uma conclusão. Já o portanto encaminha
o leitor para as conclusões desejadas pelo autor.

Os autores dessa fase valorizaram sobretudo o estudo dos vínculos interfrásticos (elementos coesivos).
Nesse sentido, HARWEG (1968) define texto como “uma seqüência pronominal ininterrupta” e menciona
como uma de suas (do texto) principais características o fenômeno do múltiplo referenciamento. ISENBERG
(1971) conceitua texto como uma “seqüência coerente de enunciados” e enfatiza que o papel dos elementos
coesivos no estabelecimento da coerência textual.

O papel atribuído aos elementos coesivos no estabelecimento do sentido global do texto, porém, foi
questionado quando se verificou que os citados elementos não são essenciais para a compreensão do sentido
global do texto. Vejam-se os exemplos a seguir:

(02)  
(2a) Não vi o acidente: não posso apontar o culpado.
(2b) Não vi o acidente: naquela hora, tinha acabado de entrar na / loja.
(2c) Não vi o acidente, contaram-me que ele não respeitou a preferencial.

Mesmo sem a ausência de conectivos; ouvinte/leitor tem a capacidade de construir o significado global da
seqüência, porque pode estabelecer as relações lógico-argumentativas entre as partes dos enunciados:

2a: relação conclusiva (portanto).

2b: relação explicativa (pois).

2c: relação adversativa (porém).

Em outros textos, verifica-se que a presença de elementos coesivos não basta para assegurar o sentido
global ao texto:

Ivo viu a uva.

A uva é verde.
(03)
A vagem também é verde.

Vovó cozinha a vagem.

A necessidade de considerar o conhecimento intuitivo do falante na construção do sentido global do


enunciado e no estabelecimento das relações entre as sentenças, e o fato de vínculos coesivos não
assegurarem unidade ao texto conduzem à construção de outra linha de pesquisa. Nessa nova linha,
procurou-se considerar o texto não apenas como uma lista de frases, mas um todo, dotado de unidade
própria.

Gramáticas de texto
De acordo com MARCUSCHI (1999) , as gramáticas textuais, pela primeira vez, propuseram o texto como o
objeto central da Lingüística e, assim, procuraram estabelecer um sistema de regras finito e recorrente,
partilhado (internalizado) por todos os usuários de uma língua. Esse sistema de regras habilitaria os usuários
a identificar se uma dada seqüência de frases constitui (ou não) um texto e se esse texto é bem formado.

Esse conjunto de regras constitui a competência textual de cada usuário e permite aos usuários diferenciar
entre um conjunto aleatório de palavras ou frases, ou um texto dotado de sentido pleno. Outras
manifestações dessa competência são a capacidade de resumir ou parafrasear um texto, perceber se ele está
completo ou incompleto, produzir outros textos a partir dele, atribuir-lhe um título, diferenciar as partes
constitutivas do mesmo e estabelecer as relações entre essas partes.

CHAROLLES (1983) admite que o falante possui três competências básicas:

Competência formativa: permite ao usuário produzir e compreender um número infinito de texto e avaliar,
de modo convergente, a boa ou má formação de um texto.

Competência transformativa: refere-se à capacidade de resumir um texto, parafraseá-lo, reformulá-lo, ou


atribuir-lhe um título, assim como de avaliar a adequação do resultado dessas atividades.

Competência qualificativa: concerne à capacidade de o usuário identificar o tipo ou gênero de um dado tipo,
bem como à possibilidade de produzir um texto de um tipo particular.

As gramáticas de texto tiveram o mérito de estabelecer duas noções basilares para a consolidação dos
estudos concernentes ao texto/discurso. A primeira é a verificação de que o texto constitui a unidade
lingüística mais elevada e se desdobra ou se subdivide em unidades menores, igualmente passíveis de
classificação. As unidades menores (inclusive os elementos léxicos e gramaticais) devem sempre ser
considerados a partir do respectivo papel na estruturação da unidade textual. A segunda noção básica
constitui o complemento e a decorrência da primeira noção enunciada: não existe continuidade entre frase e
texto, uma vez que se trata de entidades de ordem diferente e a significação do texto não constitui
unicamente o somatório das partes que o compõem.

Apesar dos avanços apontados, cabe reconhecer alguns problemas na formulação das Gramáticas Textuais.
O primeiro é a conceituação do texto como uma unidade formal, dotada de uma estrutura interna e gerada a
partir de um sistema finito de regras, internalizado por todos os usuários da língua. Esse sistema finito de
regras constituiria a gramática textual de uma língua, semelhante, em sua formulação, à gramática gerativa
da sentença, de Chomsky. Ora, fica difícil propor um percurso gerativo para o texto, pelo fato de ele não
constituir uma unidade estrutural, originária de uma estrutura de base e realizada por meio de
transformações sucessivas. Outro problema das gramáticas de texto é a separação entre as noções de texto
(unidade estrutural, gerada a partir da competência de um usuário idealizado e descontextualizado) e
discurso (unidade de uso). Essa separação é injustificada, pois o texto só pode ser compreendido a partir do
uso em uma situação real de interação. Foi a partir das considerações anteriores que os estudiosos iniciaram
a elaboração de uma teoria de texto, que discutisse a constituição, o funcionamento, a produção dos textos
em uso numa situação real de interação verbal.

Lingüística textual

Como lembra MARCUSCHI (1998) , no final da década de setenta, o enfoque deixa de ser a competência
textual dos falantes e, assim, passa-se a considerar a noção de textualidade, assim estabelecida por
BEAUGRANDE e DRESSLER (1981): “modo múltiplo de conexão ativado sempre que ocorrem eventos
comunicativos”. Outras noções relevantes da Lingüística Textual são o contexto (genericamente, o conjunto
de condições externas à língua, e necessários para a produção, recepção e interpretação de texto)
e interação (pois o sentido não está no texto, mas surge na interação entre o escritor / falante e o
leitor/ouvinte).

Essa nova etapa no desenvolvimento da Lingüística de Texto decorre de uma nova concepção de língua (não
mais um sistema virtual autônomo, um conjunto de possibilidades, mas um sistema real, uso em
determinados contextos comunicativos) e um novo conceito de texto (não mais encarado como um produto
pronto e acabado, mas um processo uma unidade em construção). Com isso, fixou-se como objetivo a ser
alcançado a análise e explicação da unidade texto em funcionamento e não a depreensão das regras
subjacentes a um sistema formal abstrato. A Lingüística Textual, nesse estágio de sua evolução, assume
nitidamente uma feição interdisciplinar, dinâmica, funcional e processual, que não considera a língua como
entidade autônoma ou formal (MARCUSCHI, 1998).

O texto como processo

A Lingüística Textual parte do pressuposto de que todo fazer (ação) é necessariamente acompanhado de
processos de ordem cognitivo, de modo que o agente dispõe de modelos e tipos de operações mentais. No
caso do texto, consideram-se os processos mentais de que resulta o texto, numa abordagem procedimental.
De acordo com KOCH (2004) , nessa abordagem “os parceiros da comunicação possuem saberes acumulados
quanto aos diversos tipos de atividades da vida social, têm conhecimentos na memória que necessitam ser
ativados para que a atividade seja coroada de sucesso”. Essas atividades geram expectativas, de que resulta
um projeto nas atividades de compreensão e produção do texto.

A partir da noção de que o texto constitui um processo, HEINEMANN e VIEHWEGER (1991) definem quatro
grandes sistemas de conhecimento, responsáveis pelo processamento textual:

Conhecimento lingüístico: corresponde ao conhecimento do léxico e da gramática, responsável pela escolha


dos termos e a organização do material lingüístico na superfície textual, inclusive dos elementos coesivos.

Conhecimento enciclopédico ou de mundo: compreende as informações armazenadas na memória de cada


indivíduo. O conhecimento do mundo compreende o conhecimento declarativo, manifestado por enunciações
acerca dos fatos do mundo (“O Paraná divide-se em trezentos e noventa e nove municípios”; “Santos é o
maior porto da América Latina”) e o conhecimento episódico e intuitivo, adquirido através da experiência
(“Não dá para encostar o dedo no ferro em brasa.”).

Ambas as formas de conhecimento são estruturadas em modelos cognitivos. Isso significa que os conceitos
são organizados em blocos e formam uma rede de relações, de modo que um dado conceito sempre evoca
uma série de entidades. É o caso de futebol, ao qual se
associam: clubes, jogadores, uniforme, chuteira, bola, apito, arbitro... Aliás, graças a essa estruturação, o
conhecimento enciclopédico transforma-se em conhecimento procedimental, que fornece instruções para agir
em situações particulares e agir em situações específicas.

Conhecimento interacional: relaciona-se com a dimensão interpessoal da linguagem, ou seja, com a


realização de certas ações por meio da linguagem. Divide-se em:

conhecimento ilocucional: referentes aos meios diretos e indiretos utilizados para atingir um dado objetivo;

conhecimento comunicacional: ligado ao anterior, relaciona-se com os meios adequados para atingir os
objetivos desejados;

conhecimento metacomunicativo: refere-se aos meios empregados para prevenir e evitar distúrbios na
comunicação (procedimentos de atenuação, paráfrases, parênteses de esclarecimento, entre outros).

Conhecimento acerca de superestruturas ou modelos textuais globais: permite aos usuários reconhecer um
texto como pertencente a determinado gênero ou tipo.

Contexto e interação

O processamento do texto depende não só das características internas do texto, como do conhecimento dos
usuários, pois é esse conhecimento que define as estratégias a serem utilizadas na produção/recepção do
texto. Todo e qualquer processo de produção de textos caracteriza-se como um processo ativo e contínuo do
sentido, e liga-se a toda uma rede de unidades e elementos suplementares, ativados necessariamente em
relação a um dado contexto sócio-cultural. Dessa forma, pode-se admitir que a construção do sentido só
ocorre num dado contexto.

Aliás, segundo SPERBER e WILSON (1986:109 e ss.) o contexto cria efeitos que permitem a interação entre
informações velhas e novas, de modo que entre ambas se cria uma implicação. Essa implicação só é possível
porque existe uma continuidade entre texto e contexto e, além do mais, a cognição é um fenômeno situado,
que acontece igualmente dentro da mente e fora dela.

O sentido de um texto e a rede conceitual que a ele subjaz emergem em diversas atividades nas quais os
indivíduos se engajam. Essas atividades são sempre situadas e as operações de construção do sentido
resultam de várias ações praticadas pelos indivíduos, e não ocorrem apenas na cabeça deles. Essas ações
sempre envolvem mais de um indivíduo, pois são ações conjuntas e coordenadas: o escritor / falante tem
consciência de que se dirige a alguém, num contexto determinado, assim como o ouvinte/leitor só pode
compreender o texto se o inserir num dado contexto. A produção e a recepção de textos são, pois, atividades
situadas e o sentido flui do próprio contexto.

Essa nova perspectiva deriva do caráter diálogo da linguagem: o ser humano só se constrói como ator e
agente e só define sua identidade em face do outro. O ser humano só o é em face do outro e só define como
tal numa relação dinâmica com a alteridade (BAKHTIN, 1992). A compreensão da mensagem é, desse modo,
uma atividade interativa e contextualizada, pois requer a mobilização de um vasto conjunto de saberes e
habilidades e a inserção desses saberes e habilidades no interior de um evento comunicativo.

O sentido de um texto é construído (ou reconstruído) na interação texto-sujeitos (ou texto-co-enunciadores)


e não como algo prévio a essa interação. A coerência, por sua vez, deixa de ser vista como mera propriedade
ou qualidade do texto, e passa a ser vista ao modo como o leitor/ouvinte, a partir dos elementos presentes
na superfície textual, interage com o texto e o reconstrói como uma configuração veiculadora de sentidos.
Cabe assinalar, em forma de conclusão, que essa nova visão acerca de texto, contexto e interação resulta,
inicialmente, de uma contribuição relevante, proporcionada pelos estudiosos das ciências cognitivas: a
ausência de barreiras entre exterioridade e interioridade, entre fenômenos mentais e fenômenos físicos e
sociais. De acordo com essa nova perspectiva, há uma continuidade entre cognição e cultura, pois esta é
apreendida socialmente, mas armazenada individualmente.

Ressalta-se, também, a evolução da noção de contexto. Para a análise transfrástica o contexto era apenas o
co-texto (segmentos textuais precedentes e subseqüentes, a um dado enunciado). Já para a Gramática de
Texto contexto é a situação de enunciação, conceito que foi ampliado para abranger, na Lingüística Textual,
o entorno sócio-cultural e histórico comum aos membros de uma sociedade e armazenado individualmente
em forma de modelos cognitivos. Atualmente, o contexto é representado pelo espaço comum que os sujeitos
constroem na própria interação.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BEAUGRANDE, Robert-Alain de e DRESSLER, Wolfgang U. Introduction to Text Linguistics. London: Longman,


1981.

BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992.

CHAROLLES, Michel. Coherence as a principle of Interpretability of Discourse. Text, 3 (1) , 1983, p. 71-98.

HEINEMANN, Wolfgang e VIEHWEGER, D. Textlinguistik: eine Einführung. Tübingen: Niemeyer, 1991.

HARWEG, Roland. Pronomina und Textkonstitution. München: Fink, 1968.

ISENBERG, Horst. Überlergungen zur Texttheorie. In: Jens 1 hwe (ed.). Literaturwissenschaft und


Limgustik. Frankfürt: Athenäum, 1971, p. 150-173.

KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. Introdução à lingüística textual.  São Paulo: Martins Fontes, 2004.

MARCUSCHI, Luiz Antônio. Aspectos lingüísticos, sociais e cognitivos da produção de sentido. 1998, (mimeo).

SPERBER, Dan e WILSON, Deidre. Relevance. Communication and Cognition. Oxford: Blackwell, 1986.

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Copyright © Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Lingüísticos

Teorias do Texto

Somos graduandos em Letras, pela Universidade Paulista / Brasília, e criamos este espaço para o
debate sobre as teorias do texto.

TERÇA-FEIRA, 5 DE ABRIL DE 2016

As três fases da Linguística Textual

A Teoria do Texto veio para estudar o que o Estruturalismo linguístico deixou de lado, sendo assim, a
Linguística Textual estabeleci um novo destino da Linguística que começou a desenvolver-se na
década de 60. Sua hipótese de trabalho reside em tomar como unidade básica, ou seja, como objeto
de investigação, não mais a palavra ou a frase, mas sim o texto, por serem os testos a forma
específica de manifestação da linguagem. Nessa concepção a Linguística Textual ultrapassa os limites
da palavra e frase e entende a linguagem como interação. Assim, justifica-se a necessidade de
descrever e explicar a língua dentro de um contexto, considerando suas condições de uso.

A Teoria Textual pegou alguns dos aspectos mais relevantes que foram reprovados na tradição
estruturalista e que serviram ponto de partida para o começo da Linguística textual, no sentido de
serem obstáculos a serem superados foram:

· a delimitação da frase (e não do texto) como unidade máxima de análise

· a desimportância relegada ao texto e sua organização global

· a desconsideração da Fala (do texto falado) e seus aspectos funcionais e organizacionais

· e por fim a total desconsideração do sujeito (falante) e da situação comunicativa na análise


linguística.

Na busca por alcançar as metas acima, a Teoria do Texto passou por três fases de desenvolvimento.
Conforme visam Bentes, 2007; Indursky, 2006; e Koch, 2009; 2007; 2006, não houve um
desenvolvimento exatamente homogêneo dessas três fases. Os estudos acerca do texto
desenvolveram-se e ampliaram-se em diferentes países dentro e fora da Europa (destaque-se a
produção norte-americana, germânica e anglo-saxã), mais ou menos à mesma época e com
preocupações teóricas variadas.

Assim, é importante perceber que não houve precisamente uma sucessão cronológica na
transposição de uma fase à outra. O que melhor caracteriza a mudança de uma fase para a outra é
muito mais a ampliação e aprofundamento gradual dos estudos da Teoria do Texto, marcando cada
vez mais fortemente o seu afastamento em relação à Linguística Estrutural. Cada nova fase busca
superar os limites e insuficiências da fase anterior. Conforme descrevem Bentes, 2007; Indursky,
2006; Marcuschi, 1983 e Koch, 2009; 2007; 2006.

ATENÇÃO!

É bom lembrar que apesar de não se poder levar em conta datas precisas quanto ao início e fim de
cada uma das fases, é possível contextualizar aproximadamente (e superficialmente) a Fase
Transfrástica na década de 1960, a Fase da Gramática Textual na década de 1970 e a Fase da Teoria
do Texto a partir da década de 1980 até os dias de hoje.
1a Fase Transfrástica.

À análise transfrástica, que tem como finalidade explicar os fenômenos sintático-semânticos, ou


seja, ela estuda as relações ocorrentes entre enunciados ou sequências de enunciados. A análise
transfrástica ainda não considerava o texto como objeto de análise, ou seja, os estudos partiam da
frase para o texto.

“na análise transfrástica, parte-se da frase para o texto. Exatamente por estarem preocupados com
as relações que se estabelecem entre as frases e os períodos, de forma que construa uma unidade
de sentido, os estudiosos perceberam a existência de fenômenos que não conseguiam ser explicados
pelas teorias sintáticas e/ou pelas teorias semânticas: o fenômeno da correferenciação, por
exemplo, ultrapassa a fronteira da frase e só pode ser melhor compreendido no interior do texto.”
(BENTES, 2007, p.247).

2a Fase da Gramática Textual.

Essa fase apoiou-se no propósito de gerar gramáticas textuais. Mesmo considerando-se já um bom
desenvolvimento nas investigações da Teoria do Texto,

Considerava-se ser o texto um sistema uniforme, sólido e impalpável e, nesse ponto, ainda se
aproximavam um pouco da forma como o estruturalismo descrevia a língua (sistema uniforme,
estável e abstrato). As gramáticas textuais refletiam acerca de fenômenos linguísticos não
explicáveis por uma gramática da frase.

“Neste período, postulava-se o “texto” como uma unidade teórica formalmente construída, em
oposição ao “discurso”, unidade funcional, comunicativa e intersubjetivamente construída.”
(BENTES, op.cit., p.249).

3a Fase da Teoria do Texto.


E na terceira fase, pode-se considerar o texto como evolutivo, uma vez que, percebe-se visivelmente
o texto como processo e não como produto, na dimensão em que seus conceitos se evoluem,
levando-se em consideração o texto e o contexto.

“investigar a constituição, o funcionamento, a produção e a compreensão dos textos em uso…


[adquirindo] particular importância… [o] seu contexto pragmático [ou seja,] o conjunto de condições
externas da produção, recepção e interpretação dos textos.” (BENTES, op.cit., p.251).

Vemos assim que, nessa perspectiva, a Teoria do Texto torna-se uma disciplina de caráter
interdisciplinar, relacionando seus interesses com os de outras áreas do conhecimento que
envolvem questões de linguagem e sociedade. Conforme Marcuschi (1998), a LT pode ser bem
compreendida como “uma disciplina de caráter multidisciplinar, dinâmica, funcional e processual,
considerando a língua como não-autônoma nem sob seu aspecto formal”. (MARCUSCHI,1998).

Assim como a Teoria do Texto ampliou-se ao decorrer das três fases, o conceito de Texto também
evoluiu.

Postado por Letras – Sexto Online às 16:45

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6 comentários:

Fátima5 de abril de 2020 03:39

Muito bom, ajudou bastante a compreender sobre a Linguística Textual. Mas gostaria de obter as
referências. Obrigada!

Responder

Respostas

Unknown29 de abril de 2020 22:06

BOA NOITE, FÁTIMA. VC CONSEGUIU AS REFERÊNCIAS ?


Responder

Unknown29 de abril de 2020 21:55

GOSTEI TAMBÉM! MAS CONCORDO COM A FÁTIMA. POR FAVOR POSTEM AS REFERÊNCIAS.

Responder

Unknown28 de outubro de 2020 10:01

Ótima explicação, clara e objetiva. Fez toda a diferença.

Responder

JESSICA25 de março de 2021 13:51

Também concordo que precise da referência, somente isso!

Responder

Unknown9 de agosto de 2021 15:56

BENTES. A.C. Linguística textual. IN: Mussalim, F.; Bentes, A.C. (Orgs) Introdução à linguística.
Domínios e fronteiras. Volume 1. 7ª edição. São Paulo: Cortez, 2007.

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