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Apelação (com pedido de reforma)

Prof. Marcelo F. Machado


Instagram @marcelo.fmachado

*CPC, arts. 1009 a 1014.


Caso hipotético
Marcelo F. Machado

Locado por Graci a Feio, mediante contrato a prazo, o apartamento nº 48, situado no 10º andar do
Condomínio do Edifício Sol Poente, com frente à Rua Lopes Moura, Niterói, caiu um vaso de metal com
flores naturais sobre Rubens, estudante do ensino médio, com 15 anos, que transitava pela via pública
causando-lhe a morte por perda de massa encefálica.
A mãe do rapaz, Edith, viúva, demandou em face da locadora e do locatário (processo nº 0001),
pleiteando perdas e danos morais e materiais pelo fato da morte. Após regular tramitação do feito, com
produção de provas, a sobrevinda sentença do 38º Juízo Cível de Niterói acolheu os pedidos realizados e
condenou os corréus, em solidariedade, ao pagamento das despesas do funeral, danos morais em 80
salários mínimos e danos materiais correspondentes à prestação alimentar mensal equivalente a 10 salários
mínimos pelo tempo de duração provável de vida do menor, estimado em 65 anos, além de honorários
sucumbenciais em percentual de 20% sobre o valor total da condenação (art. 85, §2º, CPC), tudo
conforme os arts. 186, 948, incisos I e II e 942, parte final, todos do Código Civil. Impôs, ainda, a sentença a
obrigação de compor um patrimônio hábil a garantir o êxito da condenação, conforme o art. 533 do CPC.
Contratado(a) por Graci, tome as medidas processuais cabíveis, diante da sentença publicada e intimada
às partes há 3 dias.
Solução do caso hipotético: apelação
(interposição)
Marcelo F. Machado

À 38ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE NITERÓI

Processo nº 0001
GRERJ nºxxxxxxx

GRACI, já qualificada nos autos eletrônicos acima referidos, por seu/sua advogado(a) devidamente
constituído(a) nos autos da ação de perdas e danos morais e materiais que lhe move EDITH, ora recorrida,
inconformada com a sentença de fls. ...., vem, com fundamento nos arts. 1009 e seguintes do CPC, interpor,
tempestivamente, a presente APELAÇÃO, pelos motivos de fato e de direito que ficam fazendo parte integrante
dessa peça.

Considerando a matéria debatida, o presente recurso é dotado de duplo efeito, devolutivo e suspensivo,
na esteira do art. 1012 do CPC.

Requer, ainda, que após atendidos os trâmites legais, sejam os autos remetidos ao Egrégio Tribunal de
Justiça do Estado do Rio de Janeiro, para que o recurso, uma vez conhecido e processado na forma da lei, seja
integralmente provido.
Estrutura de uma apelação (interposição)
Marcelo F. Machado

Informa, ainda, que nos termos do art. 1007 do CPC, o preparo foi realizado (GRERJ informado acima), o
que se comprova pela guia devidamente quitada que se junta aos autos.

Pede deferimento,

Rio de Janeiro, ...., de ..... de 20...


NOME , OAB(UF)nº....
Solução do caso hipotético: apelação
(razões)
Marcelo F. Machado

AO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

RAZÕES DO RECURSO DE APELAÇÃO

Apelante: GRACI
Apelada: EDITH

Autos nº 0001

Vara de Origem: 38ª Vara Cível da Comarca de Niterói - RJ.

Égregio Tribunal,
Colenda Câmara/Turma,
Nobres Julgadores.
Solução do caso hipotético: apelação
(razões)
Marcelo F. Machado

I – BREVE SÍNTESE DOS FATOS

Do apartamento n. 48 localizado no 10º andar do Condomínio do Edifício Sol Poente, com frente à Rua Lopes
Moura, Niterói, tombou um vaso de metal com flores naturais sobre Rubens, estudante do ensino médio, com 15
anos, que transitava pela via pública causando-lhe a infeliz morte por perda de massa encefálica.
A genitora, Edith, ora recorrida, demandou em face da ora apelante e do locatário, FEIO, pleiteando perdas e
danos morais e materiais pelo fato da morte, o que após regular tramitação do feito no juízo de 1º grau, com a
devida produção de provas, acolheu os pedidos formulados e condenou os corréus, em caráter solidário, ao
pagamento das despesas do funeral, danos morais em 80 salários mínimos e danos materiais correspondentes à
prestação alimentar mensal equivalente a 10 salários mínimos pelo tempo de duração provável de vida do
menor, estimado em 65 anos, além de honorários sucumbenciais em percentual de 20% sobre o valor total da
condenação (art. 85, §2º, CPC), tudo conforme os arts. 186, 948, incisos I e II e 942, parte final, todos do Código
Civil.
Impôs, ainda, a sentença a obrigação de compor um patrimônio hábil a garantir o êxito da condenação,
conforme o art. 533 do CPC.
Entretanto, não pode a apelante concordar com os termos da sentença, tendo em vista a errônea aplicação do
direito.
Solução do caso hipotético: apelação
(razões)
Marcelo F. Machado

II – DAS RAZÕES DO INCONFORMISMO

A. EM PRELIMINAR: DA ILEGITIMIDADE PASSIVA DA ORA APELANTE, ENTÃO RÉ

Conforme exposto, o imóvel estava locado a FEIO, que também foi demandado na ação
indenizatória. Da janela do imóvel locado, o vaso de metal caiu sobre o filho da ora apelada, e,
portanto, a relação jurídica de responsabilidade civil surgente se dá entre o dito locatário e a
infeliz vítima fatal do dano.
A apelante, proprietária do imóvel que estava locado, mediante regular contrato, não tem
legitimidade passiva para figurar na demanda, uma vez que a posse direta do bem imóvel
cabia ao então outro corréu, que é quem deve efetivamente responder por eventuais danos
causados a terceiros.
Portanto, não podendo ser a apelante inclusa legitimamente no polo passivo, não resta outra
solução que extinguir o feito sem resolução do mérito, na forma do inc. VI do art. 485 do CPC.
Solução do caso hipotético: apelação
(razões)
Marcelo F. Machado

B. DO MÉRITO: DA NECESSÁRIA REFORMA DA SENTENÇA CONDENATÓRIA

Ainda que se entenda pela legitimidade passiva da ora apelante, o que se admite apenas para
argumentar, não há como configurar a responsabilidade civil na hipótese tratada nos autos.
Segundo o art. 938 do Código Civil, aquele que habitar prédio, ou parte dele, responde pelos danos
provenientes das coisas que dele caírem ou forem lançadas em lugar indevido.
Sendo assim, ao reverso das conclusões da sentença do juízo a quo, a responsabilidade civil é do
ocupante, e não da proprietária. Não há conduta sequer por parte da ora apelante, muito menos nexo
causal a ligar com o fato danoso.
Forçosa é a reforma da sentença, julgando-se improcedentes os pedidos da então autora, ora apelada.
Em razão do princípio da eventualidade, passa-se a impugnar outros pontos da condenação.
No que tange à solidariedade, não há fundamento que a justifique, uma vez que a solidariedade decorre
da lei ou do contrato, não se presumindo, na esteira do art. 265 do CC.
Não se aplica, sequer, o art. 942, parte final, do CC, segundo o qual havendo pluralidade de autores na
ofensa todos responderão solidariamente pela reparação. Ora, a apelante nunca foi autora da ofensa,
não havendo, como dito anteriormente, conduta comissiva atribuível a si.
Solução do caso hipotético: apelação
(razões)
Marcelo F. Machado

No que tange ao quantum indenizatório, este se revela excessivo e desproporcional. O valor de


10 salários mínimos, a título de danos materiais, é por demais elevado devendo-se reduzi-los para
2 salários mínimos, além da redução dos danos morais para 30 salários mínimos, na esteira da
jurisprudência colacionada abaixo, da lavra do Tribunal de Justiça desse Estado e do Superior
Tribunal de Justiça:
(...) *

Também não merece acolhida a decisão que determinou a condenação ao pagamento de


honorários sucumbenciais no percentual de 20% sobre o valor da condenação, pois não foram
preenchidos os requisitos do §2º do art. 85 do CPC, quais sejam:
“I - o grau de zelo do profissional; II - o lugar de prestação do serviço; III - a natureza e a
importância da causa; IV - o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu
serviço.”
Solução do caso hipotético: apelação
(razões)
Marcelo F. Machado

Impugna, ainda, a apelante a obrigação contida na sentença de compor patrimônio hábil a garantir o
êxito da condenação. Nesse ponto, a sentença destoa da razoabilidade, uma vez que impõe excessiva
onerosidade à ora apelante, que não tem, como mais de uma vez afirmado, qualquer relação jurídica
com os fatos narrados nos autos.
Além disso, de acordo com o §2º do art. 533 do CPC, é possível ao juízo substituir a constituição do capital
pela inclusão do exequente em folha de pagamento de pessoa jurídica de notória capacidade
econômica ou, a requerimento do executado, por fiança bancária ou, ainda, garantia real, em valor a ser
arbitrado de imediato pelo juiz. Ora, sequer há execução.
Sendo assim, estão evidenciados os equívocos contida na decisão do juízo a quo.

III – DOS PEDIDOS E DOS REQUERIMENTOS FINAIS


Diante de todo o exposto, requer seja o presente recurso recebido, conhecido e provido para o
fim de reformar a sentença, julgando-se extinto o processo sem resolução de mérito em relação à
apelante, e caso assim não entenda esse Tribunal, requer seja o pedido julgado improcedente, ou
alternativamente, que seja reduzido o valor em condenação na forma das razões constantes nessa peça
recursal.
Solução do caso hipotético: apelação
(razões)
Marcelo F. Machado

Pede deferimento,

Rio de Janeiro, data, mês e ano.

NOME, OAB(UF) n............


Solução do caso hipotético: apelação
(razões)
Marcelo F. Machado

*A questão da transcrição de ementas de jurisprudência

1. Não omita parcelas da ementa com colchetes ou parênteses, seja um tópico inteiro da ementa, seja no meio
do tópico da ementa, dessa forma [...] / (...);

PROCESSUAL CIVIL E CONSUMIDOR. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.
CONSUMIDOR POR EQUIPARAÇÃO. BYSTANDER. FATO DO PRODUTO OU DO SERVIÇO. ACIDENTE DE CONSUMO.
AUSÊNCIA. MERO VÍCIO DE QUALIDADE. ARTS. 17 E 29 DO CDC. INAPLICABILIDADE.
1. Ação indenizatória por danos morais ajuizada em 23/04/2019, da qual foi extraído o presente recurso especial,
interposto em 15/07/2020 e concluso ao gabinete em 13/09/2021.
2. [...]. (não faça isso)
3. O art. 17 do CDC prevê a figura do consumidor por equiparação (bystander), sujeitando à proteção do CDC
aquele que, embora não tenha participado diretamente da relação de consumo, sofre as consequências do
evento danoso (acidente de consumo) decorrente de defeito exterior que ultrapassa o objeto do produto ou
serviço e provoca lesões, gerando risco à sua segurança física ou psíquica. Precedentes.

V. inc. XIV, art. 34, Lei 8906/94.


Solução do caso hipotético: apelação
(razões)
Marcelo F. Machado

2. Quanto à referência ao julgado:

Ao final da ementa, faça assim, por exemplo:

(REsp nº 1.967.728–SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em 6/7/2022 ou 6 jul. 2022
(dia)/(mês)/(ano), DJe (dia)/(mês)/(ano). Grifos nossos)
Caso hipotético
Marcelo F. Machado

Em janeiro de 2018, Ricardo Antunes, com idade de 7 anos, voltava caminhando para a sua casa, na região rural
de Santa Cruz, quando sofreu um forte coice do animal que se postava à margem de um terreno na estrada por
onde passava o menino.
O menino não morreu, mas sofreu diversos danos na face, que teve que ser reconstruída por cirurgias ortopédicas
e plásticas diversas, tendo realizado um longo e custoso tratamento, inclusive fisioterápico dos músculos do rosto
e pescoço. Por sorte, não perdeu a visão.
Em ação de reparação de danos patrimoniais e morais, movida por seus responsáveis legais, em 14 de fevereiro
de 2022, contra o proprietário do animal, que foi à época localizado, o juiz da 49ª Vara Cível do Foro Regional de
Santa Cruz (RJ), após regular instrução probatória, proferiu sentença de improcedência, ao argumento que José
Carlos, dono do cavalo, ora réu, “empregou o devido cuidado, pois mantinha o animal amarrado em uma
árvore no terreno, sendo inexistente a culpa, especialmente em uma região de zona rural, onde é comum a
existência de cavalos”. Além disso, a sentença reconheceu ter ocorrido a prescrição trienal para ação de
reparação de danos, tanto materiais, quanto morais, uma vez que a demanda só foi ajuizada cerca de quatro
anos após o alegado fato ilícito.
Como advogado(a) contratado(a) pela mãe, Margareth, elabore a pela processual cabível, sabendo-se que a
publicação da sentença se deu há menos de 10 dias corridos.

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