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Apelação (com pedido de reforma)

Prof. Marcelo F. Machado


Instagram @marcelo.fmachado

*CPC, arts. 1009 a 1014.


Caso hipotético
Marcelo F. Machado

Em janeiro de 2018, Ricardo Antunes, com idade de 7 anos, voltava caminhando para a sua casa, na região rural
de Santa Cruz, quando sofreu um forte coice do animal que se postava à margem de um terreno na estrada por
onde passava o menino.
O menino não morreu, mas sofreu diversos danos na face, que teve que ser reconstruída por cirurgias ortopédicas
e plásticas diversas, tendo realizado um longo e custoso tratamento, inclusive fisioterápico dos músculos do rosto
e pescoço. Por sorte, não perdeu a visão.
Em ação de reparação de danos patrimoniais e morais, movida por seus responsáveis legais, em 14 de fevereiro
de 2022, contra o proprietário do animal, que foi à época localizado, o juiz da 49ª Vara Cível do Foro Regional de
Santa Cruz (RJ), após regular instrução probatória, proferiu sentença de improcedência, ao argumento que José
Carlos, dono do cavalo, ora réu, “empregou o devido cuidado, pois mantinha o animal amarrado em uma
árvore no terreno, sendo inexistente a culpa, especialmente em uma região de zona rural, onde é comum a
existência de cavalos”. Além disso, a sentença reconheceu ter ocorrido a prescrição trienal para ação de
reparação de danos, tanto materiais, quanto morais, uma vez que a demanda só foi ajuizada cerca de quatro
anos após o alegado fato ilícito.
Como advogado(a) contratado(a) pela mãe, Margareth, elabore a pela processual cabível, sabendo-se que a
publicação da sentença se deu há menos de 10 dias corridos.
Solução do caso hipotético: apelação
(interposição)
Marcelo F. Machado

À 49ª VARA CÍVEL DO FORO REGIONAL DE SANTA CRUZ

Processo nº xxxx
GRERJ nºxxxxxxx*
(*pode-se eventualmente tratar da gratuidade, sendo o apelante menor, mas como a questão não dá indicativo disso,
sobre condição econômica, melhor que não se atenha a isso)

RICARDO ANTUNES, menor já qualificado nos autos eletrônicos acima referidos, representado por
sua mãe MARGARETH, já qualificada por igual, vem por seu/sua advogado(a) devidamente constituído(a)
nos autos da ação de reparação por danos patrimoniais e morais que move em face de JOSÉ CARLOS, já
qualificado nos autos, ora recorrido, inconformado com a sentença de fls. ...., vem, com fundamento nos
arts. 1009 e seguintes do CPC, interpor, tempestivamente, a presente APELAÇÃO, pelos motivos de fato e
de direito que ficam fazendo parte integrante dessa peça.
Considerando a matéria debatida, o presente recurso é dotado de duplo efeito, devolutivo e
suspensivo, na esteira do art. 1012 do CPC.
Estrutura de uma apelação (interposição)
Marcelo F. Machado

Requer, ainda, que após atendidos os trâmites legais, sejam os autos remetidos ao Egrégio Tribunal de
Justiça do Estado do Rio de Janeiro, para que o recurso, uma vez conhecido e processado na forma da lei, seja
integralmente provido.

Informa, ainda, que nos termos do art. 1007 do CPC, o preparo foi realizado (GRERJ informado acima),
o que se comprova pela guia devidamente quitado que se junta aos autos. (*veja considerações sobre gratuidade
no slide anterior*)

Pede deferimento,

Rio de Janeiro, ...., de ..... de 20...


NOME , OAB(UF)nº....
Solução do caso hipotético: apelação
(razões)
Marcelo F. Machado

AO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

RAZÕES DO RECURSO DE APELAÇÃO

Apelante: RICARDO ANTUNES, representado por sua mãe, MARGARETH


Apelado: JOSÉ CARLOS

Autos nº XXXX

Vara de Origem: 49ª Vara Cível do Foro Regional de Santa Cruz - RJ.

Égregio Tribunal,
Colenda Câmara,
Nobres Julgadores.
Solução do caso hipotético: apelação
(razões)
Marcelo F. Machado

I – BREVE SÍNTESE DOS FATOS

O então autor, representado por seus representantes legais, ajuizou em fevereiro de 2022, ação de reparação de
danos patrimoniais e morais (*inclusive estéticos, caso a questão houvesse mencionado esse pedido; não foi o
caso*), em face do réu, ora proprietário de um cavalo, que lhe desferiu forte coice na face quando caminhava,
em janeiro de 2018, de volta para sua casa à margem de um terreno na estrada em que passava, na região rural
de Santa Cruz.
À época, o recorrente possuía 7 anos.
Os danos foram descritos na inicial, acarretando graves prejuízos à saúde e integridade do autor, cujo
tratamento foi longo e custoso.
Apesar desses fatos, o juízo a quo julgou improcedentes os pedidos feitos, basicamente entendendo que o então
réu, ora recorrido “empregou o devido cuidado, pois mantinha o animal amarrado em uma árvore no terreno,
sendo inexistente a culpa, especialmente em uma região de zona rural, onde é comum a existência de cavalos”,
e que já teria ocorrido a prescrição trienal para ação de reparação de danos, tanto materiais, quanto morais,
uma vez que a demanda só foi ajuizada cerca de quatro anos após o alegado fato ilícito.
Diante disso, o apelante não pode concordar com os fundamentos esposados na sentença, tendo em vista a
má aplicação do direito.
Solução do caso hipotético: apelação
(razões)
Marcelo F. Machado

II – DAS RAZÕES DO INCONFORMISMO

A. DA INOCORRÊNCIA DE PRESCRIÇÃO

Conforme exposto, o apelante, menor, contava no ano de 2018 com 7 anos, quando foi atingido
fortemente por um coice de um cavalo, vindo a sofrer uma série de danos materiais, morais (*e estéticos,
caso a questão houvesse falado que tal indenização foi pleiteada).
A ação foi julgada com a declaração da prescrição, baseada no art. 206, §3º, inc. V, Código Civil.
Ocorre que não há que se falar em prescrição, uma vez que ela não ocorre contra os absolutamente
incapazes, na esteira do inc. I do art. 198 do CC.
Sendo assim, deveria o juízo ter apreciado os pedidos feitos, motivo pelo qual se pleiteia a reforma do
julgado, uma vez ser possível o enfrentamento dos pedidos em sua integralidade, e subsidiariamente, a
anulação* do julgado (*esse pedido poderia ser feito na apelação, caso se compreendesse pelo error in
procedendo, que é a violação a uma norma processual, como seria se entendesse que haveria necessidade de
aprofundamento da produção probatória*), uma vez que seja necessária a produção de provas necessárias ao
conhecimento da causa.
Solução do caso hipotético: apelação
(razões)
Marcelo F. Machado

B. DA RESPONSABILiDADE CIVIL OBJETIVA*

No que tange à suposta ausência de culpa caracterizadora de responsabilidade do réu, ora apelado, não
há que prosperar a sentença.
A responsabilidade por fato do animal é objetiva, conforme prevê o art. 936 do CC: “O dono, ou detentor,
do animal ressarcirá o dano por este causado, se não provar culpa da vítima ou força maior.”
Não existe nos autos qualquer prova de culpa da vítima, ou mesmo de ocorrência de evento de força
maior a isentar ou reduzir a responsabilidade do apelado, e, portanto, a alegação de ausência de culpa é
irrelevante para a caracterização da responsabilidade do réu, no caso presente.
Assim, sendo inaplicável a excludente de responsabilidade do ora réu, caberia ao juízo da 49ª Vara Cível
do Foro Regional de Santa Cruz acolher os pedidos formulados, integralmente, na forma do art. 487, inc. I
do CPC, razão pela qual se pleiteia a reforma do julgado.

(*Não custa lembrar, que os danos materiais são distintos dos danos morais, bem como dos danos estéticos, esse último
conforme a Súmula 387 do STJ: É lícita a cumulação das indenizações de dano estético e dano moral.* Portanto, caso
fossem pedidos deveria ser mencionada a Súmula em questão)
Solução do caso hipotético: apelação
(razões)
Marcelo F. Machado

(*Honorários Sucumbenciais: Como é possível o acolhimento dos pedidos formulados, que os honorários sucumbenciais
sejam acolhidos na forma do art. 85 do CPC e eventualmente majorados na forma do §11 do mesmo dispositivo* - prevê
o CPC, art. 322, §1º, que os honorários sucumbenciais compreendem-se nos pedidos principais. A questão não informa
sobre eles, mas entendo possível, e não está errado, mencioná-los na sua Apelação, inclusive sobre sua eventual
majoração.)

Sendo assim, estão evidenciados os equívocos contidos na decisão do juízo a quo.

III – DOS PEDIDOS E DOS REQUERIMENTOS FINAIS

Diante de todo o exposto, requer seja o presente recurso recebido, conhecido e provido para o fim de
reformar a sentença, afastando-se a declaração de prescrição, e julgando-se integralmente procedentes os
pedidos formulados, (*incluindo-se a condenação dos honorários sucumbenciais e sua eventual majoração – leia a
explicação acima*), subsidiariamente anulando-a, na forma das razões constantes nessa peça recursal.

Pede deferimento,
Rio de Janeiro, ___ de _____ de 20__
OAB/(UF) n. _____
Solução do caso hipotético: apelação
(razões)
Marcelo F. Machado

Súmula 326 do STJ permanece válida na vigência do CPC/2015, define Quarta Turma
A Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) confirmou que a orientação contida na Súmula 326 (“Na ação de
indenização por dano moral, a condenação em montante inferior ao postulado na inicial não implica sucumbência
recíproca”) permanece vigente mesmo após a entrada em vigor do Código de Processo Civil de 2015 (CPC/2015). De
acordo com o artigo 292, inciso V, do código, o valor da causa na petição inicial da ação indenizatória – inclusive por
dano moral – deve ser igual à reparação pretendida.
Após o CPC/2015, estabeleceu-se uma divergência doutrinária: o valor apontado pelo autor para a reparação do dano
moral ainda poderia ser considerado meramente estimativo ou, sendo certo o montante pedido a título de indenização,
a eventual fixação de valor menor pela Justiça deveria ser entendida como sucumbência parcial do requerente?
Ao resolver a divergência, o colegiado compreendeu que o valor sugerido pela parte autora continua servindo, nos
termos da Súmula 326, apenas para que o juiz pondere a informação como mais um elemento na tarefa de arbitrar o
valor da condenação. Ainda segundo a turma julgadora, o acolhimento do pedido inicial – entendido como a
indenização em si, e não como o valor da reparação indicado pelo autor – é suficiente para impor ao réu a
responsabilidade pelo pagamento integral das custas processuais e dos honorários advocatícios.
"Esses pressupostos subsistem e não foram superados tão só pelo fato de que o artigo 292, inciso V, do CPC/2015 passou
a exigir que o autor da demanda indique – exclusivamente para o fim de se estipular o valor da causa, com possível
repercussão nas custas processuais e, eventualmente, na competência do órgão julgador –, em caráter meramente
estimativo, o valor pretendido a título de reparação pelos danos morais que diz haver suportado", afirmou o relator do
Solução do caso hipotético: apelação
(razões)
Marcelo F. Machado

recurso especial, ministro Antonio Carlos Ferreira.

Autores pediram indenização de R$ 2 milhões, mas juiz arbitrou R$ 50 mil


Na origem do caso julgado, duas pessoas ajuizaram ação contra uma empresa jornalística devido à publicação de suas
fotos em notícia desabonadora sobre os seus irmãos, pedindo indenização de R$ 2 milhões.
Em primeiro grau, o juízo condenou a empresa a pagar R$ 25 mil para cada autor e reconheceu a sucumbência
recíproca em relação às custas e despesas processuais. Os autores e a ré foram condenados a pagar honorários de 10%
sobre o valor da condenação (R$ 50 mil) ao advogado da parte contrária. A sentença foi mantida pelo Tribunal de
Justiça de São Paulo.
Relator do recurso da empresa jornalística, o ministro Antonio Carlos afirmou que a questão da responsabilidade civil não
poderia ser rediscutida, por conta da Súmula 7.
Quanto aos encargos de sucumbência, o relator destacou a substancial discrepância entre o montante indenizatório
buscado pelos autores (R$ 2 milhões) e o valor arbitrado pela Justiça de São Paulo (R$ 50 mil), o que poderia sugerir a
prevalência da sucumbência dos autores da demanda.
No entanto, o ministro apontou que, no REsp 432.177 – um dos precedentes que levaram à edição da Súmula 326 –, ficou
definido que a pretensão inicial da indenização por danos morais, pela natural dificuldade de ser aferida a lesão
extrapatrimonial, deve ser entendida como uma simples estimativa do autor, de modo que, se o juiz fixar valor menor,
esse fato não transforma o requerente em parcialmente vencido. Esse panorama, para Antonio Carlos Ferreira, não foi
alterado pelo CPC/2015.
Solução do caso hipotético: apelação
(razões)
Marcelo F. Machado

Arbitramento do valor dos danos morais é de competência exclusiva da Justiça

"Efetivamente, contraria a lógica reparatória, direito elevado ao status constitucional pela Carta de 1988 – artigo 5º,
incisos V e X –, o provimento jurisdicional que, declarando a ilicitude do ato e o direito da vítima à indenização, com a
condenação do ofensor ao pagamento de prestação pecuniária, impõe àquela a obrigação de custear os encargos
processuais sucumbenciais em montante que supera o valor arbitrado para fins de ressarcimento", esclareceu.
O relator ressaltou, ainda, que tem pouca influência a estimativa de dano moral apresentada pelo autor em sua petição
inicial, pois o arbitramento do valor é de competência exclusiva do Judiciário.
No caso dos autos, o ministro observou que foram acolhidos os pedidos de indenização por danos morais e à imagem,
de modo que a empresa jornalística foi integralmente sucumbente na ação. Por isso, negou o pedido da empresa para
que a distribuição da sucumbência fosse ajustada ao fato de que os autores só conseguiram 2,5% do valor pleiteado.
Mesmo entendendo que a empresa nem sequer deveria ter sido favorecida com a repartição dos encargos
sucumbenciais, o ministro manteve a decisão das instâncias ordinárias, pois não houve recurso dos autores da ação.

Esta notícia refere-se ao(s) processo(s): REsp 1.837.386/SP

Fonte: https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/2022/20092022-Sumula-326-do-STJ-permanece-
valida-na-vigencia-do-CPC2015--define-Quarta-Turma.aspx. Acesso em 20 set. 2022.
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(razões)
Marcelo F. Machado

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. REVISÃO. REEXAME DE FATOS E PROVAS. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA
N. 7/STJ. VALOR DA INDENIZAÇÃO. PEDIDO. CONDENAÇÃO. QUANTUM DEBEATUR INFERIOR AO PEDIDO. SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA. NÃO
OCORRÊNCIA. SÚMULA N. 326/STJ. SUBSISTÊNCIA NO CPC/2015. RECURSO DESPROVIDO.
1. Não se conhece do recurso especial quando o exame das teses jurídicas nele deduzidas exige o revolvimento do acervo fático-
probatório dos autos. Incidência da Súmula n. 7/STJ.
1.1. No caso concreto, para alterar a conclusão das instâncias ordinárias sobre o preenchimento dos pressupostos para se atribuir
responsabilidade civil à recorrente é necessária incursão sobre elementos de fato e de provas, o que é vedado na instância excepcional.
2. Segundo o enunciado n. 326 da Súmula de Jurisprudência do STJ, "[n]a ação de indenização por dano moral, a condenação em
montante inferior ao postulado na inicial não implica sucumbência recíproca", orientação que não conflita com o art. 292, V, do
CPC/2015, subsistindo na vigência da atual lei processual civil.
2.1. Na espécie, os recorridos ajuizaram demanda reparatória contra a recorrente, pleiteando indenização por danos morais e à imagem
no importe de R$ 2 milhões, com julgamento de procedência dos pedidos, arbitrando-se indenização no valor total equivalente a R$ 50
mil.
2.2. Em que pese a discrepância entre o valor indicado no pedido e o quantum arbitrado na condenação, não há falar em sucumbência
dos autores da demanda, vencedores em seu pedido indenizatório. Incide a orientação que emana da Súmula n. 326/STJ.
3. O valor sugerido pela parte autora para a indenização por danos morais traduz mero indicativo referencial, apenas servindo para que
o julgador pondere a informação como mais um elemento para a árdua tarefa de arbitrar o valor da condenação.
4. Na perspectiva da sucumbência, o acolhimento do pedido inicial – este entendido como sendo a pretensão reparatória stricto sensu, e
não o valor indicado como referência –, com o reconhecimento do dever de indenizar, é o bastante para que ao réu seja atribuída a
responsabilidade pelo pagamento das despesas processuais e honorários advocatícios, decerto que vencido na demanda, portanto
sucumbente.
5. Recurso especial a que se nega provimento.
Caso hipotético para a aula do dia 30/09
Marcelo F. Machado

Eduardo Spengler, tendo sido vítima de furto, teve os cheques usados de forma indevida por um fraudador que
adulterou os títulos de crédito e se utilizou deles para mais de uma compra no Supermercado Olho Vivo, cujo
montante chegou a R$ 8.000,00 (oito mil reais). Os cheques retornaram por não provisão de fundos, além disso, o
banco informou que os números dos cheques usados foram objeto de furto e falsificação, mas mesmo assim o
estabelecimento enviou o nome do autor ao Serasa.
O autor, assim, ajuizou demanda de inexistência de relação jurídica em face do réu pleiteando a antecipação
de tutela na peça inicial para impedir que o Serasa negative seu nome; porém, o pedido foi negado na primeira
análise do juízo.
Elabore a medida processual adequada para a salvaguarda dos interesses de Eduardo Spengler.

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