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Tribunal de Justiça de São Paulo TJ-SP -

Apelação Criminal: Apr 0003609-


31.2018.8.26.0302 SP 0003609-
31.2018.8.26.0302 | Jurisprudência
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31.2018.8.26.0302 SP 0003609-31.2018.8.26.0302 | Jurisprudência

Tribunal de Justiça de São Paulo TJ-SP -


Apelação Criminal: APR 0003609-
31.2018.8.26.0302 SP 0003609-
31.2018.8.26.0302 - Inteiro Teor
Publicado por Tribunal de Justiça de São Paulo

há 2 anos

Inteiro Teor
PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2020.0000808104

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal nº 0003609-


31.2018.8.26.0302, da Comarca de Jaú, em que é apelante DENISE CRISTINA PINHEIRO, é
apelado MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO.
ACORDAM , em sessão permanente e virtual da 6ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal
de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Negaram provimento ao recurso. V.
U. , de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores ZORZI ROCHA (Presidente sem


voto), FARTO SALLES E EDUARDO ABDALLA.

São Paulo, 1º de outubro de 2020.

MARCOS CORREA

Relator

Assinatura Eletrônica

PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Apelação Criminal nº 0003609-31.2018.8.26.0302

Apelante: Denise Cristina Pinheiro

Apelado: Ministério Público

Comarca: Jaú

Voto nº 13.744

FURTO QUALIFICADO Autoria e materialidade comprovadas Depoimentos das


testemunhas que evidenciam a subtração do numerário mediante fraude Absolvição
por insuficiência de provas Impossibilidade

“Apropriação ou desvio” do bem não caracterizado

Inviabilidade do pedido de desclassificação do crime de furto para aquele previsto no


artigo 102 do Estatuto do Idoso Pena dosada de acordo com os parâmetros legais
Regime fundamentadamente imposto. Apelo desprovido.

Ao relatório da r. sentença de fls. 206/213, acrescenta-se que a MMª. Juíza de Direito da 1ª


Vara Criminal da Comarca de Jaú julgou procedente a ação penal e condenou DENISE
CRISTINA PINHEIRO a 03 anos, 10 meses e 20 dias de reclusão, em regime inicial
semiaberto, mais pagamento de 88 dias-multa, no valor mínimo, por infração ao artigo
155, § 4º, inciso II, por oito vezes, na forma do artigo 71, ambos do Código Penal,
substituída a pena privativa de liberdade por duas restritivas de direitos, consistentes em
prestação de serviços à comunidade e prestação pecuniária, no importe de cinco salários
mínimos, em favor da vítima.

Inconformada, recorre a Defensoria Pública pleiteando a absolvição, com fulcro no artigo


386, inciso VII, do Código de Processo Penal, ou a desclassificação do crime de furto
qualificado para aquele previsto no artigo 102 da Lei nº 10.741/03 ( Estatuto do Idoso).
Alega, nesse passo, que não se comprovou a subtração do numerário, quando

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muito, a sua apropriação ou desvio. Pleiteia, ainda, a fixação do regime aberto (fls.
237/240).

Contrariado o recurso (fls. 245), manifestou-se a douta Procuradoria Geral de Justiça pelo
desprovimento do apelo (fls. 261/266).

É o relatório .

Consta que, no dia 24 de janeiro de 2017, em horário incerto, na cidade de Jaú, a ré


subtraiu, para si, mediante fraude, por meio de oito condutas seguidas e continuadas, a
importância total de R$ 5.279,00, pertencente a Denivaldo Franca dos Santos.

A materialidade do crime foi comprovada pelos documentos juntados às fls. 08/14 e 41/61
e pela prova oral.

A autoria também é inconteste.


Na fase administrativa, a ré não foi ouvida, porquanto não localizada (fls. 75). Na fase
judicial, deixou de apresentar a autodefesa, pois, mudou de residência sem fazer a devida
comunicação ao Juízo, motivando, desse modo, o seguimento do processo sem a sua
presença, nos termos do artigo 367 do Código de Processo Penal (fls. 166 e 204).

Por outro lado, a testemunha Lucia Helena Bilancieri dos Santos relatou, na fase
inquisitiva, que era procuradora da vítima Denivaldo, seu cunhado, que estava
aposentado por invalidez havia mais

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de vinte anos, em decorrência de um acidente vascular cerebral que o impediu de falar.


Informou, ainda, que a ré era casada com o seu sobrinho Adriano e se apresentou como
advogada, dizendo que necessitava do cartão magnético do Banco Bradesco, por meio do
qual o ofendido retirava os benefícios previdenciários, a fim de regularizar a situação de
um terreno pertencente à família. De posse do referido cartão, a ré cancelou a conta no
Bradesco e abriu outra no Banco do Brasil, onde fez empréstimos consignados, em nome
de Denivaldo, causando-lhe prejuízo aproximado de R$ 7.000,00 (fls. 15). Em Juízo,
afirmou que a ré era conhecida por aplicar golpes e, quando os fatos foram descobertos,
ela desapareceu, separando-se de seu sobrinho (termo de audiência de fls. 204/213).

O policial civil Fernando Rodrigo Machado afirmou não se recordar muito bem dos fatos,
mas confirmou o teor do relatório policial, segundo o qual a ré foi investigada por ter
cometido inúmeros estelionatos, relativos a compra e venda de imóveis, conforme fatos
apurados em processo diverso (carta precatória de fls. 181/193).

Nesse contexto, impossível se cogitar de absolvição por falta de provas.

No caso, os documentos juntados aos autos evidenciam que a apelante solicitou o cartão
bancário da vítima, que estava em poder de sua procuradora (a testemunha Lucia),
cancelou o recebimento do respectivo benefício previdenciário no Banco Bradesco e, por
fim, solicitou um cartão no Banco do Brasil, em nome do ofendido, onde,

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então, cadastrou nova senha de acesso, que utilizou para transferir dinheiro para a sua
própria conta bancária, em oito oportunidades, não remanescendo, assim, nenhuma
dúvida acerca da autoria do delito.

A qualificadora relativa à fraude também foi plenamente confirmada pela prova oral,
notadamente, pelos depoimentos da testemunha Lucia, procuradora da vítima, que
afirmou ter entregado o cartão magnético de Denivaldo para a apelante, acreditando que
ela pretendia utilizá-lo para a regularização de um terreno de propriedade da família.

Outrossim, não há se cogitar de desclassificação do crime de furto para aquele previsto


no artigo 102 do Estatuto do Idoso, que possui a seguinte redação: “Apropriar-se de ou
desviar bens, proventos, pensão ou qualquer outro rendimento do idoso, dando-lhes
aplicação diversa da de sua finalidade”.

No caso, ficou bem delineado o furto mediante fraude, eis que houve o emprego de meio
ardiloso para que houvesse a entrega do cartão magnético da vítima posteriormente
utilizado para a solicitação da transferência do benefício previdenciário para outra
instituição bancária e, a partir daí, para a obtenção de novo cartão, que foi utilizado para
fazer as transferências bancárias.

Vale dizer, a ré não tinha a posse legítima do numerário pertencente à vítima, a fim de
caracterizar a apropriação, tal como exige o artigo 102 da Lei nº 10.741/03. Ao reverso,
subtraiu tais valores mediante fraude, como foi bem explanado na sentença combatida.

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Consoante bem observou o d. Procurador de Justiça, “saliente-se que não há que se falar
em desclassificação dos furtos qualificados pela fraude para crimes de apropriação de
rendimentos de pessoa idosa, como pretende a D. Defesa, uma vez que houve efetiva
subtração de valores existentes na conta bancária da vítima, sem o consentimento desta
ou de sua procuradora. Ademais, em momento algum a apelante teve disponibilidade das
referidas quantias, portanto, impossível fossem aplicadas de forma diversa de sua
finalidade, como estipulado no artigo 102 do Estatuto do Idoso, por isso inaplicável tal
dispositivo à espécie em exame” (fls. 265).
Assim, a condenação era de rigor.

A pena também não comporta modificação, máxime porque não houve questionamento
das partes nesse particular.

Apenas para fins de registro, anoto que a pena-base foi fixada no mínimo legal, sendo, a
seguir, majorada de 1/6 por se tratar de crime cometido contra idoso (artigo 61, inciso II,
alínea h, do Código Penal) e, por fim, de 2/3 em face da continuidade delitiva, porquanto
oito foram as infrações penais cometidas.

No mais, a juíza sentenciante justificou a necessidade do regime semiaberto, observando


o desfavorável “histórico da ré noticiado nos autos (FA às fls. 173/176 e 179) e sua
insensibilidade e/ou audácia neste caso (agindo contra idoso e em situação de maior
vulnerabilidade), tudo ainda potencializado pela revelia e consequente descaso para com
a seriedade da lei e da Justiça” (fls. 211).

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com a substituição da pena privativa de liberdade por duas restritivas de direitos,


consistentes em prestação de serviços à comunidade e prestação pecuniária, nada mais
podendo requerer.

Pelo exposto, nego provimento ao apelo, mantendo a r. sentença por seus próprios e
jurídicos fundamentos.

MARCOS CORREA

RELATOR

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