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Universidade Católica de Moçambique

Instituto de Educação à Distância

Tema: O PENSAMENTO DA IGREJA CATÓLICA EM QUESTÕES DE BIOÉTICA.

Celso António Mucabele. Cod. 708216671

Curso: Licenciatura em Gestão Ambiental


Disciplina: Fundamentos de Teologia Católica
Ano de Frequência: 2° Ano
Tutor: Pe Rui Mulieca Migano

Maputo, Outubro, 2022


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Referências
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Bibliográficas
e bibliografia bibliográficas

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Índice
1. Introdução ...................................................................................................................................... 4
1.1. Objectivo geral ............................................................................................................................ 4
1.2. Objectivos específicos ................................................................................................................. 5
2. REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................................................ 5
2.1. Conceito de bioética .................................................................................................................... 5
2.2. O pensamento bioético católico .................................................................................................. 6
2.3. Bioética no contexto da fé ........................................................................................................... 7
3. Princípios bioéticos ......................................................................................................................... 8
3.1. O princípio de maleficência ......................................................................................................... 8
3.2. O princípio de beneficência ......................................................................................................... 9
3.3. O princípio da autonomia ...........................................................................................................10
3.4. O princípio da justiça ..................................................................................................................10
4. Conclusão ......................................................................................................................................12
Referências ............................................................................................................................................14

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1. Introdução
A experiência moral, sempre existiu nos seres humanos individuais e na colectividade. É o
fenômeno que historicamente antecede o discurso bioético e é, também, como a bioética, objeto da
razão positiva. Entretanto, ao mesmo tempo, é subordinada a aspectos considerados com menor
dependência da razão, tais como as emoções, os valores, as crenças e as tradições, o que a torna
ainda mais complexa em suas interpretações.

A bioética surgiu e desenvolveu-se mais precisamente devido a dois factores fundamentais que
foram marcantes, a saber: a protecção dos sujeitos vulneráveis nas pesquisas científicas e os
pacientes na clínica; e o controle da biotecnologia e suas relações com a sobrevivência do homem
(Ferrer & Álvarez, 2003).

O verdadeiro desafio para a bioética contemporânea está no respeito à autonomia individual aliado
à objectividade da ciência, inserindo-os em um sistema de valores que possam harmoniosos. Neste
sentido, a bioética possui um vínculo irrenunciável com a ética filosófica. Constitui uma das
maiores encarnações do espírito filosófico em toda a história, a ponto de caracterizar o ethos
(significando morada) atual em que vivemos, assim como foram o Iluminismo e o Renascimento
(Urban, 2003).

A contribuição dos teólogos, sobretudo os protestantes e católicos, assim como dos filósofos com
inspiração cristã, foram marcantes para o desenvolvimento da ética profissional nos Estados
Unidos da América e, posteriormente, da bioética.

Para Ferrer e Álvarez, reduzir a teologia e a religião à ética é empobrecê-las e reduzir a ética à
teologia e à religião constituiria um grave problema para a sociedade pluralista e secular em que
vivemos. Na tradição cristã, o núcleo da experiência religiosa encontra-se em Deus, no amor
absoluto e não na observância de determinadas normas morais.

1.1.Objectivo geral
Abordar sobre o pensamento da Igreja Católica em questões da bioética.

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1.2.Objectivos específicos
Falar da influência do desenvolvimento da ciência e da tecnologia para a bioética.

Falar da bioética no contexto da fé.

Falar sobre os princípios da bioética.

2. REVISÃO DA LITERATURA

2.1.Conceito de bioética
Derivado das palavras gregas "bios"(vida) e "ethike"(ética) segundo a Enciclopédia of bioethics, o
termo bioética foi utilizada em 1971 nos Estados Unidos pelo cancerologista Van Rensselaer Potter
e designa um projecto de utilização das ciências biológicas destinado a melhorar a qualidade de
vida ou, simplesmente, a ciência da sobrevivência, tendo sido multiplicado para significar a ética
das ciências da vida que dedicam-se ao “estudo sistemático das dimensões morais das ciências da
vida e do cuidado da saúde, utilizando uma variedade de metodologias éticas num contexto
multidisciplinar” (NALINI, 2009).

Ainda Penssini (2008), define bioética como a ciência da sobrevivência humana, sendo ainda para
este, uma sabedoria biologicamente fundada, um conhecimento de como usar o saber para o bem
da sociedade.

O desenvolvimento tecnológico da medicina e os progressos da ciência biológica, colocam novos


desafios que a tradicional ética médica não consegue responder por seu carácter de pura
deontologia profissional. É necessário um saber mais global e interdisciplinar e, principalmente,
uma argumentação ética mais consistente. Assim surgiu a Bioética como um estudo sistemático
das dimensões morais das ciências da vida e da saúde.

No sec. XX procurou-se conceber a ciência como autônoma, isolada das instituições religiosas, da
metafísica e também da filosofia, temendo-se que estas pudessem contaminá-la com ideias
supersticiosas que viessem em prejuízo da razão positiva. Entretanto, muitos acontecimentos
fizeram com que a opinião pública e o ambiente acadêmico começassem a se preocupar com o
desenvolvimento desordenado e sem controle do discurso científico.

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A bioética surgiu neste ambiente histórico conturbado e desenvolveu-se mais precisamente devido
a dois factores fundamentais que foram marcantes, a saber: a protecção dos sujeitos vulneráveis
nas pesquisas científicas e os pacientes na clínica; e o controle da biotecnologia e suas relações
com a sobrevivência do homem.

2.2.O pensamento bioético católico


Existe uma longa tradição na Igreja Católica de reflexão sobre temas que hoje são abordados pela
bioética. Essa reflexão estende-se desde os escritos da patrística sobre o suicídio e sobre as leis, até
os documentos recentes do Magistério da Igreja sobre eutanásia e reprodução assistida. A Bioética
Católica está fundamentada na fé e na razão. Para a visão católica existe o paradigma da sacralidade
da vida, que está articulado em três princípios fundamentais: a criação por Deus, a
indisponibilidade e a inviolabilidade da vida humana. Para Angelo Bompiani, sem renegar os
fundamentos deontológicos, a linha teológica de matriz católica considera na sua totalidade a
complexidade do agir humano: nas intenções do agente, nos valores em jogo, nas consequências
que derivam das decisões e no ambiente sócio-cultural em que está inserido o sujeito.

Apesar de admitir excepções em casos particulares, para o catequismo da Igreja Católica existem
actos que, por si mesmos, independente das circunstâncias em que se encontrem e das intenções
do sujeito, serão sempre ilícitos, tais como o homicídio e o adultério. Nesta visão, não é lícito
realizar um mal, mesmo que com ele se possa atingir um bem.

O conhecimento da bioética de inspiração católica é importante, pois pacientes e familiares que


professam essa religião esperam que seus valores sejam respeitados, independente da crença do
profissional de saúde responsável pelo seu cuidado. Além disso tal conhecimento, oferece uma
visão diversa daquela existente na antropologia pós-cartesiana, que fundamenta a bioética laica
secular, a qual insiste na primazia do agir sobre o ser, negando a existência de uma natureza humana
pré-constituída.

Potter, consagrou o termo Bioética formulando essa terminologia não só na preocupação com a
questão das pesquisas médicas, mas com as acções humanas que ferissem a dignidade humana e
também acções desastrosas que pusessem em perigo todo o ecossistema.

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Diniz (2011, p. 37) refere que embora os progressos científicos e tecnológicos ofereçam cada vez
mais oportunidades para melhorar as condições de vida dos povos e das nações, em certos casos
podem dar origem a problemas sociais, assim como ameaçar os direitos humanos e liberdades
fundamentais do indivíduo.

Para a Bioética, neste contexto, diante de seu caráter multidisciplinar, cabe o papel de se unir a
outras ciências e levantar questões, nortear debates, registrar dúvidas, observar os efeitos
decorrentes do desempenho dessas práticas biotecnológicas e biomédicas que possam afetar, de
qualquer forma a vida humana, ferindo a sua dignidade.

2.3.Bioética no contexto da fé
A autonomia da consciência moral não elimina a teonomia. A abertura à transcendência e sua
consequente fundamentação religiosa são inegociáveis, pois o mundo nasceu do propósito do amor
de Deus. . Quer-se, como isso, fundamentar a ética de inspiração cristã em raízes mais teológicas,
vinculada à espiritualidade. Teonomia não significa submissão passiva a uma lei divina imposta
por uma autoridade, ao contrário, significa a razão autônoma unida à sua própria profundidade e
origem.

A abertura da pessoa ao transcendente proporciona a autêntica autonomia e liberdade a seres


finitos. A fé é o contexto de referência para uma ética da racionalidade autônoma. Assume-se a
realidade humana com sua própria consistência, e Deus como doador de sentido e fundamento dela.

A determinação concreta de seu conteúdo está fundada nos muitos recursos da razão, mas
desenvolve-se no horizonte de sentido conferido pela experiência de Deus. A moralidade
propriamente dita, somente pode estar referida a pessoas, a atitudes e decisões livres tomadas no
santuário de sua consciência, pois aí ecoa a voz de Deus. Portanto, cabe a cada pessoa descobrir os
comportamentos moralmente vinculantes á sua consciência.

Em suma, há uma relação estreita entre espiritualidade e moralidade, entre a experiência de Deus
no encontro com Cristo e o compromisso de assumir seu ethos. O ethos cristão não está
condicionado por interditos morais, mas pela Graça que renova a criatura e faz novas todas as
coisas (Ap 21: 6). A espiritualidade não somente faz com que a fé manifeste suas implicações

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antropológicas, mas proporciona uma chave de leitura das questões éticas. As argumentações de
puro direito natural passam a segundo plano para transparecer a existência que brota da experiência
de Deus, origem e sentido da autonomia.

3. Princípios bioéticos
Com o surgimento da Bioética, na década de 1970, era necessário estabelecer uma metodologia
para analisar os casos concretos e os problemas éticos que surgiam da prática médica e os testes
realizados em seres humanos.

Junges (1995), refere que frente a diversos casos de manipulação, usando enfermos social e
mentalmente fragilizados como sujeitos de experimentação, saídos a público no início dos anos 70
nos Estados Unidos, o congresso americano criou, em 1974, a National Commission for the
Protection of Human Subjects of Biomedical and Behavioral Research, com o objectivo de realizar
uma pesquisa e um estudo completo que identificassem os princípios éticos básicos que deveriam
nortear a experimentação, em seres humanos, nas ciências do comportamento e na biomedicina.

Após a ênfase dedicada ao respeito pela dignidade da pessoa humana e da compreensão da


importância que esse princípio de facto tem, surge, em 1978, o Relatório Belmont, tendo como
objectivo principal o de identificar princípios éticos básicos que possam nortear pesquisas
envolvendo seres humanos e desenvolver procedimentos que reforçam que a pesquisa seja
realmente administrada e amparada tendo por base tais princípios. Estes princípios servem como
regras gerais para orientar os profissionais, diante dos casos e debates que envolvam problemas
bioéticos, necessitando da mediação de regras concretas para casos concretos para tomarem efeitos.

3.1.O princípio de maleficência


De acordo com este princípio, o profissional de saúde tem o dever de não causar danos a seu
paciente. Este princípio faz parte do juramento hipocrático e é considerado por muitos como o
princípio fundamental, inclusive tido por tradicional da ética médica, tem suas raízes em uma
máxima que enaltece a acção de socorrer ou, pelo menos, não causar danos. “Os profissionais da

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saúde devem realizar seus trabalhos dentro dos parâmetros legais e morais que os que recorrem a
eles esperam” (Junges, 1995, p.50).

É uma exigência moral da prática médica, cujo dever de não-maleficência inclui também o dever
não só de não infligir danos actuais, mas também riscos e agravos futuros (Junges, 1995, p.50).

É um princípio consagrado pelo pensamento primeiro em não prejudicar, mas também de diminuir
os efeitos prejudiciais das acções médicas e de tratamentos no ser humano. O dever de não-
maleficência requer que os profissionais da saúde actuem com consciência e cuidado, pois, nem
todos os riscos e danos são provocados intencionalmente, contudo o profissional pode ser
responsabilizado, apesar de que quase toda intervenção envolve algum risco de dano, que deve
tentar ser minorado, sendo este um facto muito controverso no exercício da medicina.

3.2.O princípio de beneficência


É o princípio que regula as instâncias éticas da profissão médica e estrutura a deontologia
profissional. Este tem sido associado à excelência profissional desde os tempos da medicina grega.
Nesse sentido, beneficência quer dizer fazer o bem, uma obrigação moral de agir para o bem do
próximo, pretendendo-se com isto proteger as pessoas e garantir a segurança de pacientes que
participam de pesquisas científicas (Westphal, 2006, p. 11).

Conforme Junges (2006), é o fim primário de toda profissão que está a serviço da vida e da saúde
do ser humano. O profissional da saúde age eticamente, quando visa, sempre, como princípio de
suas acções, ao bem da pessoa. Isto implica a promessa pública da atitude positiva de assistir os
enfermos.

É a atitude de avaliar as possibilidades diante de um caso concreto, e buscar o que beneficia mais
o paciente, equilibrando os possíveis bens com as prováveis perdas de uma acção. Não existe
apenas a obrigação de ser positivamente beneficente, mas o dever moral de ponderar possíveis
danos. É necessário que nenhum procedimento médico cause danos físicos, emocionais,
psicológicos, sociais ou espirituais.

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3.3.O princípio da autonomia
Este princípio define a capacidade de um indivíduo de decidir o que é melhor para ele mesmo, e
opinar sobre as questões relacionadas ao seu corpo e sua vida como todo. Para se chegar nesse
conceito, foi necessária a quebra dos paradigmas da tradição médica do paternalismo. Como ensina
Junges “esse paternalismo médico nunca foi questionado até que apareceram os abusos e
manipulações e cresceu a consciência de que todo ser humano é sujeito e não pode ser objecto nem
mesmo de beneficência (Junges, 1995, p. 41).

Esse princípio cuida para que os indivíduos capazes possam deliberar sobre suas escolhas pessoais,
devendo suas decisões ser devidamente respeitadas. Assim, “o enfermo, devido à sua dignidade
como sujeito tem o direito de decidir autonomamente a aceitação ou rejeição do que se quer fazer
com ele.

É também um dever moral de tratar as pessoas como um fim em si mesmas e nunca apenas como
um meio, conforme o imperativo categórico de Immanuel Kant, pois conforme este, na formulação
de Neves e Siqueira, a autonomia “é a capacidade da vontade humana de autodeterminar- se
segundo uma legislação moral por ela mesma estabelecida, livre de qualquer factor estranho à sua
vontade”, que condiciona o profissional de saúde a dar ao paciente o maior número de informações
possíveis, com o intuito de promover uma compreensão real problema condição essa que permite
ao paciente tomar uma decisão. “O princípio da autonomia tem a sua expressão no assim chamado
consentimento informado” (Neves & Sequeira, 2010, p.443).

3.4.O princípio da justiça


No tocante ao princípio da justiça, Junges (1995), retrata que “o princípio da justiça diz respeito ao
terceiro elemento do elo da saúde, a sociedade. Refere-se às exigências éticas das instituições
sanitárias e ao orçamento público da saúde”. Justiça, nesse sentido, está associada com as relações
entre grupos sociais, preocupando-se com a equidade na distribuição de bens e recursos
considerados comuns, numa tentativa de igualar as oportunidades de acesso a estes bens.

Existe uma preocupação maior acerca da socialização dos cuidados com a saúde, e, com isso, uma
tendência a expandir o acesso a todos, devido às dificuldades que se tem em conseguir tratamentos
médicos, além de muitos tratamentos serem altamente dispendiosos.
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Por consequência, as questões relativas à justiça social são cada dia mais urgentes, com a
necessidade da questão ser levada para os debates sobre a distribuição justa de assistência à saúde
das populações. “O princípio da justiça está encaixado na questão da cidadania e do direito à saúde
como um aspecto fundamental da dignidade humana” (Westphal, 2006, p. 12).

O conceito de justiça deve fundamentar-se na premissa que as pessoas têm direito a cuidados, de
forma digna, com sua saúde. Essa prerrogativa inclui igualdade de direitos, justiça na distribuição
de bens e de recursos, com o objectivo de alcançar o maior número de pessoas atendidas.

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4. Conclusão
A Bioética, surgiu como uma esperança capaz de harmonizar as conquistas científicas e
tecnológicas com o respeito à dignidade humana e à vida no planeta, querendo contribuir para a
construção de um mundo melhor. Com o desenvolvimento das biotecnologias, intensificaram-se
os debates em torno de temas como aborto, células-tronco, eutanásia, cuidados paliativos, etc tanto
na política como na religião.

O termo “bioética” (bioethics) é um neologismo criado por Rensselaer Van Potter e ficou
consagrado em seu livro Bioethics: bridge to the future (1971). O autor define bioética como o
estudo sistemático da conduta humana na área das ciências humanas e da atenção sanitária,
enquanto tal conduta é examinada à luz dos valores e princípios morais. As discussões realizadas
nas décadas de 1960 e 1970 sobre experimentos com seres humanos e as declarações da Associação
Médica Mundial de Genebra (1961), Helsinque (1964) e Tóquio (1975) contribuíram para a
configuração da ética biomédica, dos direitos do enfermo e da bioética. O desenvolvimento da
biologia molecular, a luta pelo fim das discriminações, a tecnologização dos cuidados paliativos, o
poder da indústria farmacêutica e novas técnicas terapêuticas, exigem uma revisão permanente e
dinâmica dos paradigmas.

A biotecnologia, a biomedicina e a indústria farmacêutica não cessam de incorporar novos


elementos. A bioética propõe-se a ajudar a refletir sobre a moralidade e o papel das ciências e da
técnica, e as religiões não tem como escapar desse desafio. Ao noticiar factos a respeito da
utilização de células-tronco, aborto e eutanásia, a mídia costuma contrastar opiniões opostas em
forma de choque entre a mentalidade científica, retratada como mais aberta, e a mentalidade
religiosa, caracterizada como conservadora, exigindo novas interpretações dos novos conceitos
sobre a ciência e a religião no campo dos valores éticos.

No início, Bioética contou com a participação de pessoas procedentes do âmbito religioso. André
Hellegers, obstetra católico da Universidade de Georgetown, dos jesuítas (nomeado por Paulo VI
para a comissão de estudos dos métodos contraceptivos), contribuiu na elaboração da encíclica
Humanae vitae (1968). Esse documento mobilizou muitos teólogos e inaugurou uma nova maneira
de analisar as questões éticas (Reich, 1994).

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Os teólogos não só participaram no surgimento da Bioética, como o próprio debate atingiu os
alicerces da teologia moral. Historicamente, o facto inscreve-se dentro de um movimento mais
geral que foi se desenvolvendo ao longo do século XX em torno de um novo estilo de gestão da
vida e da morte, do corpo e da sexualidade (Gracia, 2010).

Durante muito tempo pensou-se que esses espaços deveriam ser controlados por instâncias externas
ao sujeito, especialmente as religiões e as normas jurídicas. O corpo e a vida eram “propriedade”
das autoridades eclesiásticas, que definiam nos mínimos detalhes aquilo que se podia ou não podia
fazer.

Aos poucos, foi ganhando força a tese de que a gestão do corpo é de competência e
responsabilidade do indivíduo (“sou o dono do meu corpo e da minha vida”). A sexualidade e o
cuidado pela própria vida pertencem ao âmbito da autonomia e, portanto, seus problemas morais
restringem-se a questões da consciência. Fala-se de sexualidade responsável, paternidade
responsável etc. Essa orientação avança sobre as legislações civis.

Essa mudança supôs uma revolução no interior do desenvolvimento histórico da civilização


contemporânea. Muitos fiéis, principalmente as autoridades eclesiásticas, a entendem como uma
usurpação do controle do espaço do corpo e da vida por parte da secularização. Como disciplina
de racionalidade intramundana, a Bioética questiona o ideal moral das religiões.

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Referências
 Souza, A. (2014). A Bioética e o direito face ao princípio divino da dignidade da pessoa
humana. Tese de Mestrado. Escola Superior de Teologia, Programa de Pós-Graduação em
Teologia, São Leopoldo, Brasil.

 Bioética: interpelação à Igreja como comunidade de discernimento. Disponível em:


https://periodicos.pucpr.br/pistispraxis/article/download/8720/8387&ved

 Urban, C.A. (2007). Limites entre a Bioética Católica e a Bioética Laica. Revista Brasileira
de Bioética, 1, 86-91.

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