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Distinguir éticas deontológicas de éticas consequencialistas;

As éticas deontológicas pressupõem o caráter objetivo e absoluto das obrigações morais.

As éticas consequencialistas avaliam as ações em função dos seus resultados.

Éticas deontológicas ou absolutistas Éticas consequencialistas ou teleológicas


Este grupo reúne todas as teorias morais segundo as Este grupo inclui todas as teorias morais segundo as
quais certas ações devem ou não devem ser realizadas, quais as ações são corretas ou incorretas em virtude
independentemente das consequências que resultam da das suas consequências ou resultados. As éticas
sua realização ou não realização. consequencialistas opõem-se às éticas deontológicas
As éticas deontológicas opõem-se ao consequencialismo porque consideram que as ações só podem ser
porque definem que os atos são intrinsecamente corretos avaliadas a partir dos resultados observados.
ou incorretos.
Caráter absoluto ( incondicional ) das leis morais. Caráter relativo ( condicional ) das leis morais.
Ética racional de Kant. Utilitarismo de Stuart Mill.
O conceito unificador e fundamento da moralidade é o O conceito unificador e fundamento da moralidade é
dever. a utilidade.
Uma ação será moral se, e somente se, for de tipo tal que Uma ação será moral se, e somente se,
queiramos que todas as pessoas sigam em todas as previsivelmente maximizar imparcialmente a
circunstâncias. felicidade ou o bem-estar do conjunto dos afetados.
Obediência ao imperativo categórico Obediência ao princípio da utilidade ou da maior
- Distinção entre ação por dever ( ação moral porque felicidade.
obedece a imperativos categóricos ) e ação conforme ao - Distinção qualitativa dos prazeres: prazeres
dever ( ação legal porque se orienta por imperativos superiores ( do espírito ) e prazeres inferiores ( do
hipotéticos ). corpo ). Um prazer superior é sempre preferível a um
prazer inferior.
Autonomia da vontade Bem-estar ou felicidade
- Desprezo pelas consequências e o respeito absoluto - O princípio da utilidade e a procura da maior
pela lei moral podem revelar-se problemáticos. felicidade global podem pôr em caus os direitos
individuais.
Face a um bombardeamento que provoque a morte de Face a um bombardeamento que provoque a morte
civis, um deontologista dirá imediatamente: “Foi de civis, um consequencialista, antes de fazer
errado!”. qualquer juízo, perguntará: “Quais foram as
consequências da ação?”, “O que teria acontecido se
não existisse o bombardeamento?”.

ÉTICA KANTIANA

Caraterizar os princípios da ética A boa vontade é o mais elevado bem e é condição necessária de todos os
formal de Kant: a boa vontade e outros bens. Uma boa vontade é uma vontade que age por dever. Kant
a ação por dever; distingue agir por dever ( moralidade ) de agir conforme ao dever
( legalidade ).

Ação por dever ( moralidade ) Ação conforme ao dever ( legalidade )


Ajo por dever quando a minha atuação não persegue Ajo conforme ao dever quando a minha atuação
nenhum interesse particular nem é o resultado de uma cumpre a lei, mas, simultaneamente, persegue um
inclinação ou de um desejo. Ajo por dever quando a interesse particular ou é o resultado de uma inclinação
minha atuação é única e exclusivamente motivada pelo ou de um desejo.
puro respeito à lei, independentemente das
consequências ou dos resultados da ação, mesmo com
prejuízo de todas as minhas inclinações ou desejos.
Um homem completamente miserável que deseja Um merceeiro que escolhe a honestidade para não
morrer, mas que ainda preserva a vida apenas por perder os seus clientes faz o que é correto, mas a sua
respeito ao dever de fazê-lo, é o paradigma da ação não possui, diz Kant, qualquer valor moral.

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moralidade para Kant.

Distinguir imperativo hipotético de imperativo categórico;

Os imperativos são princípios, fórmulas ou leis que expressam a noção de dever ser. Os imperativos obrigam e
exercem pressão sobre a razão prática. Contudo, sendo a vontade livre, os imperativos não a determinam
necessariamente, apenas ordenam. Kant, ao investigar a natureza de tais princípios, concluiu que os imperativos são
dois tipos distintos: hipotéticos e categóricos.

Os imperativos hipotéticos são


princípios práticos que
Por oposição, os imperativos categóricos são obrigações ou princípios
preservem que uma ação é boa
práticos que prescrevem que uma ação é boa se, e somente se, for
porque é necessária ( ou seja, é
realizada por puro respeito à lei em si mesma. Representam a necessidade
um meio ) para conseguir algum
prática da ação como um fim em si mesma e não como meio para atingir
propósito ou fim. Os imperativos
um fim. Os imperativos categóricos têm geralmente a forma: “ Deves fazer
hipotéticos têm geralmente a
X, sem mais” ou “Não deves fazer X, sem mais”.
forma: “ Se queres X, então
deves fazer Y”.

Só estes princípios são, diz Kant, efetivamente leis de moralidade, dado o seu caráter exclusivamente formal. A
obediência a estes princípios deriva da autonomia da vontade: a lei imoral impõe-se por si mesma a partir da razão.

Imperativo Hipotético Imperativo Categórico ou da Moralidade


Uma ação é boa porque é meio para conseguir algum Uma ação é boa se, apenas se, for realizada por puro
fim ou propósito. respeito à representação da lei em si mesma.
Assume geralmente a forma “Se queres X, então deves Assume geralmente a forma “Deves fazer X, sem mais”.
fazer Y”.
É condicional, isto é, depende da existência de Ordena incondicionalmente, valendo
determinadas circunstâncias empíricas ( circunstâncias independentemente das circunstâncias. É uma lei a
que derivam da experiência). priori ( anterior e independente de toda e qualquer
experiência ).
É particular ( vale apenas em determinadas condições e É uma lei universal ( válida para todos os seres
para alguns indivíduos ) e contingente ( isto é, de um racionais, quaisquer que sejam as circunstâncias ) é
ponto de vista lógico pode ser verdadeiro ou falso ). necessária ( de um ponto de vista lógico, tem de ser
verdadeira ).
Rege as ações conforme ao dever ( legalidade ). Rege as ações por dever ( moralidade ).
É o enunciado típico das éticas materiais. Traduz uma É a lei da moralidade , dado o seu caráter
moral heterónoma ( imposta a partir do exterior ). exclusivamente formal. A obediência a este princípio
apodítico ( que vale por si mesmo ) deriva apenas da
autonomia da vontade.
As formulações possíveis do imperativo categórico;

O imperativo categórico, em que de maneiras diferentes. Kant apresenta 3 formulações possíveis para o
se expressa a lei moral, terá de imperativo categórico:
conter apenas uma forma, válida
para todas as pessoas e em todas
as circunstâncias. a) Primeira Formulação
Age apenas segundo uma máxima tal que passas ao mesmo tempo
Trata-se de uma única lei, a lei
querer que ela se torne lei universal,
suprema da moralidade,
b) Segunda Formulação
podendo, porém, ser formulada
Age como se a máxima da tua ação se devesse tornar, pela tua
vontade, em lei universal da natureza.
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c) Terceira Formulação tanto na tua pessoa como de qualquer outro, sempre e
Age de tal maneira que simultaneamente como um fim e nunca como um meio.
uses a humanidade,

Objeções à ética de Kant;

O problema da indeterminação Conflitos de deveres


-Um dos problemas que a ética kantiana enfrenta é o -Kant diz-nos que temos deveres absolutos.
facto de uma mesma ação poder estar associada a -Isto significa que nunca é permissível fazer o que
várias máximas diferentes. estes deveres proíbem (por exemplo, matar
-Algumas dessas máximas podem levar-nos a intencionalmente pessoas inocentes, roubar,
classificar essa ação como moralmente correta, enganar, etc.).
outras a classificá-la como moralmente errada. -No entanto, esses deveres podem entrar em conflito
-Contudo, na ausência de um procedimento preciso (por exemplo, posso ter de mentir para evitar ter de
que nos permita determinar em cada caso qual matar).
dessas máximas motivou efetivamente a ação, não - Mas, se esses deveres são absolutos, somos
estaremos nunca em condições de fazer uma conduzidos a um conflito irresolúvel, pois não temos
avaliação conclusiva da mesma. nenhuma forma de os hierarquizar e de estabelecer
uma prioridade entre eles.
Máximas imorais universalizáveis Além das pessoas
- Há máximas que o próprio Kant estaria disposto a - De acordo com a ética kantiana, uma pessoa é um
aceitar que são imorais, embora passem no teste da agente racional, dotado de autonomia e dignidade,
universalização. pelo que é nossa obrigação respeitar os seus direitos
-Por exemplo, a máxima: «Mata qualquer pessoa que em todas as nossas ações.
te estorve» é claramente imoral. - No entanto, os recém-nascidos, os deficientes
-No entanto, parece resistir ao teste do imperativo mentais profundos e alguns animais não-humanos
categórico, pois não é autocontraditória, nem implica não são pessoas no sentido kantiano.
que uma vontade que quisesse que esta se tornasse - Apesar disso, sentimos que temos obrigações
uma lei universal estaria forçosamente em morais para com eles e que não é permissível tratá-
contradição consigo mesma. los de qualquer forma.
O lugar das emoções
- Ao considerar que para agir moralmente temos de
nos abstrair de todas as nossas inclinações e seguir
um imperativo ditado pela razão, a ética kantiana
parece esvaziar a moralidade de algumas emoções
que lhe estão frequentemente associadas, como a
compaixão, a simpatia e o remorso.
- Parece inegável que os nossos sentimentos, desejos
e emoções também têm um papel a desempenhar no
domínio da moralidade.
Clarificar a necessidade de uma fundamentação da ação moral; Clarificar a necessidade de uma fundamentação da
ação moral;

Nem todas as ações corretas são morais. Uma ação será moralmente se, e somente se, for de tipo que queiramos
que todas as pessoas a sigam em todas as circunstâncias. A ação moral é a ação por dever. Não persegue nenhum
interesse particular nem é o resultado de inclinações ou desejos. É a única e exclusivamente motivada pelo puro
respeito à lei, independentemente das consequências da ação, mesmo com prejuízo das inclinações ou desejos do
agente.

ÉTICA CONSEQUENCIALISTA: O UTILITARISMO DE STUART MILL

Teoria moral segundo as quais certas ações devem ou não devem ser Uma ação será moral se, e
realizadas dependendo das consequências que resultem da sua realização somente se, previsivelmente
ou não realização. maximizar imparcialmente a
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felicidade e bem-estar do conjunto de afetados. A ação é correta quando que, previsivelmente, produza os
imparcialmente promove maximizar a felicidade ( o prazer ) e minimizar a maiores benefícios possíveis para
infelicidade ( a dor ), enquanto que é incorreta quando promove o tosos os que serão afetados pela
contrário. nossa ação.”. Este é o princípio
para avaliar se as ações são boas
A lei suprema da moralidade é o princípio da utilidade ou da maior
ou más.
felicidade que pode ser formular do seguinte modo: “Devemos fazer aquilo

O utilitarismo identifica o bom com o prazer e o mau com a dor. O princípio utilitarista da maior felicidade assenta
em três pressupostos como o consequencialismo, hedonismo e a imparcialidade.

Consequencialismo Hedonismo Imparcialidade


é a perspetiva é uma teoria que defende que é uma característica do utilitarismo em que a felicidade
segundo a qual se as nossas ações devem causar de cada individuo é contabilizada da mesma forma
destaca a avaliação a maximização da felicidade, o como de um outro individuo. Exemplificando, se eu
das nossas ações não prazer, e minimizar a tiver uma nota de 50 euros posso dar prazer a um
pela nossa intenção, infelicidade, a dor, sendo maior número de pessoas se der a uma instituição de
mas pelos resultados e assim ações corretas. ajuda dos mais pobres em vez de gastar em uma peça
consequências da de roupa.
mesma.
Hierarquização dos prazeres;

i. Stuart considera que os prazeres não se iii. As capacidades humanas são de nível
distinguem em apenas pela intensidade e superior e vão além do prazer físico;
duração ( quantidade, mas sobretudo pela iv. Mill pensava que as pessoas com
qualidade ); experiência com os dois tipos de prazer
ii. Os prazeres físicos ( como comer, dormir, podiam ser juízes imparciais e assim
jogar ) são qualitativamente diferente dos puder decidir qual deles o mais valioso;
prazeres intelectuais ( como o v. Para Stuart, os prazeres intelectuais são
conhecimento, a sabedoria, a imaginação superiores e devem ser preferidos aos
que está ligado às emoções e à prazeres físicos mesmo quando a sua
moralidade ); duração e intensidade é inferior.

Objeções ao utilitarismo de Mill;

Os oponentes sublinham com frequência as dificuldades em quantificar a felicidade e a impossibilidade de prever


todas as consequências possíveis da ação. Mas o principal motivo de condenação do utilitarismo é o facto de o
sistema utilitarista poder conduzir a consequências moralmente inaceitáveis. Os adversários da doutrina afirmam
que o utilitarismo permite graves injustiças em nome da felicidade do maior número de pessoas pondo em causa os
direitos individuais. Um embaraço frequentemente citado é a “objeção ao bode expiatório”.

JOHN RAWLS: A JUSTIÇA COMO EQUIDADE

John Rawls desenvolve uma teoria sistemática e global de justiça, em clara oposição às conceções utilitaristas.

Em que circunstâncias são definidos os princípios da justiça?

- A posição original é a situação imaginária ou hipotética de imparcialidade, as pessoas pensam no que é justo e não
simplesmente no que é vantajoso, em que as pessoas racionais, livres e iguais criam uma sociedade regida ( regulada
) por princípios de justiça. Para que tal imparcialidade se verifique, as pessoas devem estar cobertas pelo véu da
ignorância.

O que é o véu da ignorância? Que papel desempenha?

- Véu da ignorância é o desconhecimento por parte de cada indivíduo da sua condição social e económica no
momento do estabelecimento do contrato social, que dá origem a uma determinada forma de sociedade. O véu da
ignorância garante, assim, equidade e universalidade.
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Em que consiste a estratégia “maximin”?

- Rawls defende que devemos escolher, sob o véu da ignorância, de entre todas as situações possíveis, aquela em
que a pessoa menos favorecida fica melhor em termos de distribuição de bens primários. A regra Maximin é uma
estratégia de decisão que pessoas razoáveis seguem, numa situação de incerteza ( véu da ignorância ). É a estratégia
do menor mal. São preferíveis princípios de justiça que estejam na base de uma sociedade em que o pior não será
muito mau, do que uma sociedade, por exemplo, haja muita pobreza e muita riqueza.

Que princípios de justiça são definidos a partir da posição original?

- São dois os princípios definidos racionalmente a partir da posição original. O primeiro é o princípio da liberdade.
Este princípio exige que o direito às liberdades básicas seja igual para todos. O segundo é o princípio da igualdade
social e económica e consagra os limites da desigualdade justa. O segundo princípio subdivide-se nos princípios da
diferença e da oportunidade justa. O primeiro consagra que quaisquer desigualdades económicas e sociais devem
apenas se toleradas na condição de trazerem maior benefícios aos menos favorecidos. O segundo afirma que
quaisquer desigualdades socias e económicas associadas a cargos ou trabalhos podem apenas existir se esses cargos
ou trabalhos estiverem abertos a todos em igualdade de oportunidades.

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