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07/09/2022 13:47 Sinais Franciscanos « Ordem dos Frades Menores Conventuais

O Hábito Franciscano

A primeira coisa que chama a atenção de quem se aproxima dos franciscanos é o hábito. Porque suscita
curiosidade e perplexidade, dado que a forma e a cor variam segundo as diversas famílias franciscanas, seja
masculina que feminina. Por isso, uma das perguntas mais frequentes dos peregrinos e turistas que vão à
Basílica de São Francisco, onde é fácil confrontar-se, é está: porque negro ou cinza? Mas o hábito franciscano
não é marrom? Neste artigo daremos uma resposta ao argumento do ponto de vista da forma e cor, sem
mencionar o significado teológico-espiritual do hábito franciscano, que merece ser estudado à parte.

Hoje nenhuma das ordens ou congregações franciscanas, nem pela forma, nem pela cor, veste o hábito de São
Francisco que era em forma de cruz e de cor acinzentada ou de terra, resultado da mistura, em partes iguais, de
fios de lã branca e negra ou castanha escuro. Existe quem afirma que o Santo de Assis e os seus companheiros
não se vestiam de forma diferente dos pobres e camponeses de seu tempo, mas em seus escritos e biografias se
diz alguma coisa diferente.  O certo é que o modo de se vestir dos frades menores (túnica longa, capuz, corda
e calças) era muito mais pobre do que dos outros religiosos de então, e isto lhes permitia estar mais próximos
aos indigentes e mendicantes, mas não se pode negar que foi um verdadeiro distintivo religioso, que os
distinguia dos seculares. As duas regras de São Francisco e as biografias se referem em particular mais a
humildade do hábito dos frades menores que da cor ou da forma da túnica e do capuz. Não negligenciando o
aspecto externo, a coisa mais importante nos inícios foi à modéstia e a pobreza no vestir. Mas, quando a Regra
bulada impõe aos frades de não julgar, nem desprezar “aqueles que vestem roupas suaves e coloridas”, se diz,
na prática, que a cor de seu hábito deveria ser natural.

As biografias e as relíquias do Santo nos permitem assegurar que as túnicas tinham a forma de cruz ou de
“tau”, de modo a recordar que, o irmão Menor deve exprimir em si mesmo os sofrimentos do mundo. O capuz
que encontramos nas primeiras representações dos frades e de São Francisco é, de costume, pontudo e
alongado, similar a estes dos Capuchinhos. Aquele conservado nas relíquias da Basílica tem exatamente o
aspecto de uma manga (de roupa), de modo que muitos não concordam que se trata de um capuz, que foi
posto no lugar da manga esquerda que está faltando.

Existem outros capuzes daquele período, mais curtos e com a extremidade arredondada, pelo qual não se pode
falar de um único modelo de capuz para toda a ordem. Outra característica é que o capuz primitivo era
costurado ao colo, mas bem cedo foi substituído por um capuz separado da túnica, que passava pela cabeça e
apoiava-se amplamente sobre o ombro e ao redor do pescoço em modo de prega. Esta prega foi-se alargando
ao longo dos séculos, até obter a forma do capuz atual dos Menores, Conventuais e Terciários Regulares.
Então, desta forma, fala-se de cor.

No Espelho de Perfeição se fala que, entre todos os outros pássaros, Francisco amava com predileção as
cotovias, chamadas “de capuz” porque “tem o capuz como os religiosos e é um humilde pássaro…a
vestimenta da cotovia, a sua pena, isto é, tem a cor da terra: assim oferece aos religiosos o exemplo de não ter
vestes elegantes e de belas tinturas, mas de modesto valor e cor semelhante a terra, que é o mais humilde dos
outros elementos” ( FF. 113).

A terra todavia, como todos sabem tem uma infinidade diversa de tonalidades. Tomás de Celano, no Tratado
dos Milagres, fala de um “pano cinzento” como aquele dos cistercienses de Oltremare, que Francisco
moribundo pede a Jacoba de Settesoli para o seu funeral. A referencia mais direta à cor do hábito minoritico é
aquele da Crônica de Roger de Wendover (falecido em 1236) e de Mateus de Paris, onde se diz que “os frades
chamados Menores…”  caminham descalços, com corda na cintura, túnicas cinza longas até as tornozelos e
remendadas, com um capuz vil e áspero.

Em um documento de 1223, o rei da Inglaterra ordenava ao vice conde de Londres a aquisição de certa
quantidade de panos, metade de “blaunchet” ou branco para os Pregadores ou Dominicanos, e outra metade
“russet” para os frades menores de Reading. O “russet” era o “rusetus pannus” o pano avermelhado, resultado
da mistura natural de lã branca e marrom castanha. As Constituições de Narbona de 1260 estabeleciam que
“as túnicas externas não sejam nem de tudo negras, nem de tudo brancas”, deixando então uma ampla margem
as tonalidades de cinza.

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Nos afrescos de Giotto da Basílica superior de Assis é comum encontrar em uma mesma imagem, hábitos
cinza e avermelhados, sempre, porém em tonalidades claras. As Constituições Farinerie de 1354 prescrevem,
no entanto, que os superiores não permitam o uso dos panos com “tinturas de diversas cores, nem muito
próximo ao branco, nem ao negro”.

A variedade de cores dos hábitos primitivos deu-se principalmente pela variedade das cores naturais da lã
negra, que por vezes tendia ao marrom, e também pelo fato de que o pano para as túnicas não era
confeccionado ainda expressamente para os frades. Estes, no mais eram adquiridos no mercado pelos
benfeitores dos frades. Eram estes selecionados pela cor e pela qualidade, também se o pano presenteado
superava o controle dos superiores, segundo os Decretos de João XXII (1317) e de Benedito XII (1336). Uma
maior rigidez quanto a cor, se observa a partir da divisão da Ordem entre Observantes e Conventuais
acontecida em 1517, sobretudo pelo valor simbólico do cinza, que recorda as cinzas da penitencia e o pó do
qual fomos criados. O cinza foi à cor oficial de todas as famílias franciscanas até a metade do século XVIII.
Tanto é verdade que, devido à dificuldade para ter um pano tal em quantidade suficiente, sucedeu que as
Constituições dos Observantes e Capuchinhos dispuseram que cada província fabricasse os próprios panos
para obter a máxima uniformidade.

Assim, por exemplo, o Capítulo Geral de 1694 da Regular Observância ordenava que fabricassem “panos de
tudo similar na cor e na qualidade, no entrançado e na espessura, tecidos com lã branca e negra mesclada em
uma proporção tal que em juízo dos peritos resulte um pano cinza como vemos nos hábitos e mantos de N. P.
S. Francisco, S. Bernardino de Sena e S. João de Capistrano, os quais, por conservando-se em diversas
províncias e países, são de uma mesma cor cinza, mais ou menos claro”.

Nos Menores Conventuais observa-se já na segunda metade de 1700, certa tendência pelo negro, não obstante
as Constituições Urbanas de 1803 que obrigava ainda o uso do hábito cinza. A prescrição veio a desaparecer
na edição de 1823, em parte porque a supressão napoleônica extinguiu as corporações religiosas, os seus
membros se viram obrigados a usar o hábito talar negro do clero secular. Restaurada a Ordem, os frades
preferiram continuar com o hábito negro. Hoje, porém, o cinza tradicional esta retornando, de modo que já o
vestem quase todos os frades conventuais da Ásia, África, Austrália e América, e algumas províncias da
Europa.

Os Frades da Observância mudaram do cinza para o marrom pouco mais de um século atrás. Iniciaram na
França e foi imposto para toda a Ordem no capítulo de Assis em 1895, quando o papa Leão XIII reunificou
em uma só as diversas famílias da Observância: Observantes, Alcantarinos, Recoletos e Reformados (“a cor
sintética das vestes externas assemelha-se a cor da lã natural escura com tendência ao vermelho, cor que em
italiano se chama marrone e em francês marron”).

Os Menores Capuchinhos seguiram da mesma forma a evolução dos Observantes, também para evitar
qualquer diferença local, em 1912 se estabeleceu que a cor do hábito devia ser castanho, como aquele dos
observantes, ainda que um pouco mais amarelado (“a cor deve ser castaneum, em italiano castagno, em
francês marron, na inglês chestnut, em alemão kastanienbraun, e espanhol castaño”). O hábito que mais se
assemelha ao de São Francisco e dos primeiros frades menores, é aquele dos Capuchinhos, sobretudo pelo
capuz alongado e costurado na gola da túnica. O hábito dos Observantes ou Menores caracteriza-se por ser
mais ajustado e pelo capuz ser destacado da túnica que cai sobre o ombro em forma de manta, cortada dos
lados, mais longa e pontuda atrás, até a cintura. O hábito dos Conventuais é similar ao dos Observantes, difere
somente no capuz que é mais redondo e o manto mais longo, sem igualar as curvas. O hábito dos Terciários
Regulares ou frades da TOR, pouco tempo faz era semelhante ao dos Conventuais pela forma e pela cor, mas
recentemente retornaram ao cinza tradicional, com manto longo e pontudo nas costas. Nos últimos tempos
estão surgindo outras congregações franciscanas com hábitos diversos, mais ou menos semelhantes àqueles já
citados, com túnica e capuz cinza ou marrom. Existem algumas também com tendência ao azul celeste, como
aquele dos Frades da Imaculada e outros de cor amarronzada clara ou creme e mesmo verde.

Além dessas diferenças de forma e cor, o que distingue os franciscanos e franciscanas dos membros de outras
Ordens ou Congregações religiosas da Igreja, é o uso exclusivo do cordão de lã branca, que Francisco escolhe
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para substituir o cinto de couro em cumprimento do mandamento evangélico de Cristo aos seus apóstolos:
“não levem nada pelo caminho…nem cinto…” (cf. Mt 10). Ao início não existia um número estabelecido de
nós que tivesse a função prática de encurtar a corda, de modo que, não tocasse a terra. Com o passar do tempo,
se impôs à tradição dos três nós, como se fosse para recordar os três votos da profissão religiosa: obediência,
castidade e pobreza.

Enfim, para aquele que trás os calçados, o Pobrezinho caminhou sempre descalço, sempre conforme o
mandamento de Jesus: “não usem sandálias…” Somente nos dois últimos anos de sua vida, para esconder as
faixas ensanguentadas dos estigmas dos pés, teve de usar calçado de pele ou de pano, como se veem ainda nas
relíquias da Basílica em Assis. A Regra não impõe nem de andar descalço, nem de utilizar sandálias.
Descreve, no entanto, que os frades possam utilizar calçados em caso de necessidade. As sandálias, de
qualquer modo, se impuseram bem de pressa na ordem, como se pode ver nos afrescos de Giotto, onde as
trazem todos os frades, também São Francisco. Mais tarde, por volta de 1400, os frades das reformas que
moravam nos eremitérios usavam uma espécie de sandálias com as solas altas de madeira chamadas “zoccoli”,
e eis porque, na Itália, os Observantes foram popularmente conhecidos com o nome de “zoccolanti”. Mais
recentemente, as diversas Constituições deixaram de impor as sandálias aos Menores e aos Capuchinhos, e os
sapatos aos Conventuais, mas tais disposições só foram tiradas depois do Concílio, sendo que não é estranho
encontrar Conventuais com sandálias e barba, Menores com sapatos, e Capuchinhos sem barba.

Enfim, passada a rigidez dos últimos séculos, fazemos votos então, de não perdermos o espírito dos inícios,
quando, daquela época pela forma e pela cor, se insistia no aspecto da pobreza e da aspereza dos tecidos e nas
cores naturais do cinza e da terra, sinal de humildade e penitência. Mesmo que a este propósito, São Francisco
escreveu na regra que os ministros poderiam proceder “diversamente segundo Deus” (RB 2).

Por Frei Tomás Gálvez, OFMConv. (in memoriam) Revista San Francesco – giugno 2004, p. 40-43. Trad. Frei
Marcelo Veronez, OFMConv.

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