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Capítulo

Construção do
Conhecimento e Pesquisa

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Construção do Conhecimento e Pesquisa

16 • Capítulo 1
Construção do Conhecimento e Pesquisa

Construção do Conhe-
cimento e Pesquisa
1 1
Capítulo

“Os estreitos de espírito não veem difi-


culdade em coisa alguma”.
Neste capítulo veremos;
H. Newmann
• Construção do Conhecimento e
Pesquisa
Vivemos na sociedade do conheci- • Aproveitando melhor as aulas
mento. Lentamente adentramos na era • O que é Ler ?
pós-industrial, onde predomina o capital
financeiro sobre o produtivo. A razão se
desloca para gerar e gestar conhecimento
em todos os ramos que se registram em
forma de software. Entramos na era dos
sinais (signos). Cada vez mais exige-se a
capacidade criativa nos programas de bus-
ca, de armazenamento de conhecimentos
especializados, dos DVDs, dos sistemas
de processamento de dados etc. Instala-
O ícone abaixo indica:
se uma devoradora concorrência a exigir
ainda mais a inventividade rápida.
No campo do conhecimento estão sen- • Atenção e Foco
do produzidos efeitos paradoxais. De um
lado temos a exigência enorme de capa-
cidade de criação de programas, mas, de
outro, inibe-se na maioria das pessoas o exercício de pensar. A agi-
lidade da nova geração para manusear os programas lógicos espanta
desenvolvendo um tipo de inteligência intuitiva, pragmática. Contudo,
a reflexão de caráter metafísico, teológico, entre em recesso. Em outras
palavras, o pensar sobre as perguntas e realidades fundamentais da
existência declina em prol do acesso a montanhas de conhecimento.

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Construção do Conhecimento e Pesquisa

É preciso estimular a produção de conhecimento, mas desde que


seja um conhecimento refletido, sistematizado. Isto será possível
somente através mesmo da sistematização do estudo.
Antes de pensarmos em sistematização do estudo devemos com-

1 preender a questão da construção do conhecimento. Mas o que


significa produzir conhecimento? O que queremos dizer é que co-
nhecimento se dá através da construção do objeto que se conhece,
isto significa dizer:

[...] mediante a nossa própria capacidade de re-


constituição simbólica dos dados de nossa experiência,
apreendemos os nexos pelos quais os objetos manifes-
tam sentido para nós, sujeitos cognoscentes.

Portanto, a construção do conhecimento trata-se de um redimen-


sionamento do próprio processo cognitivo, mesmo porque, tendo
em vista nossa tradição cultural estamos condicionados a entender
o conhecimento como mera representação mental.
Devemos concluir, portanto, que o conhecimento é uma represen-
tação mental, mas esta não é o ponto de partida do conhecimento,
é o ponto de chegada, ou seja, o término de um complexo processo
de constituição e reconstituição do sentido do objeto que foi dado à
nossa experiência externa e interna.
Disso depreendemos que a atividade de ensinar e aprender está
intimamente vinculada a esse processo de produção de conhecimento;
este processo é a implementação de uma equação de acordo com a
qual educar (ensinar e aprender) significa conhecer; e conhecer, sig-
nifica construir o objeto; mas construir o objeto significa pesquisar.
Dessa forma, o processo de ensino-aprendizagem deve se dar cada
vez mais, não como um produto, mas sim, através de seus processos.
O conhecimento deve se dar através da construção dos objetos a se
conhecer e não mais pela representação desses objetos.
É assim que, o professor precisa da prática da pesquisa para en-
sinar eficazmente e o aluno, por sua vez, precisa da pesquisa para
aprender eficaz e significativamente.
Portanto, ensino e aprendizagem só serão motivadores se seu pro-
cesso se der como processo de pesquisa. Só se conhece construindo
o saber, ou seja, praticando a significação dos objetos.

18 • Capítulo 1
Construção do Conhecimento e Pesquisa

A Pesquisa na Sistematização do Estudo

A pesquisa é primordial para uma boa sistematização do estudo e


construção do conhecimento. Impõe-se, portanto, que esta pesquisa
seja integrada em um sistema devidamente articulado.
A prática da pesquisa no âmbito da sistematização do estudo
1
contribui significativamente para tirar maior proveito de cada etapa
no processo de produção do conhecimento.
Claro que a Igreja não deve ser resumida a um Instituto de Pes-
quisa. Todavia, tendo em vista a distância geográfica e cultural que
nos separa de nosso material básico de estudo, ensino e pregação
da palavra da Palavra de Deus, somos cada vez mais conscientes da
necessidade da sistematização do estudo e, como consequência, da
prática da pesquisa.
Com absoluta certeza a pesquisa é fundamental, uma vez que é
justamente por intermédio dela que podemos gerar o conhecimento,
a ser necessariamente entendido como construção dos objetos de
que se precisa apropriar humanamente.
O conhecimento produzido, a seu turno, para se tornar ferramenta
apropriada de intencionalização das práticas mediadoras da existência
humana, precisa ser disseminado e repassado, colocado em condi-
ções de universalização. Não pesquisamos para deixar arquivado,
nossas pesquisas precisam transformar-se em conteúdos de ensino.

Orientações Gerais para a Sistematização do Estudo

Ao iniciarmos esta nova etapa de sua vida de estudos, você deve


se dar conta de que se encontra diante de exigências para a continui-
dade de sua vida de estudos. Novas posturas diante de novas tarefas
são solicitadas.
É preciso dizer, em primeiro lugar, que o estudioso precisa se
conscientizar de que doravante o resultado do processo depende
fundamentalmente dele mesmo. O aprofundamento da vida de estu-
dos passa a exigir uma postura de autoatividade didática que precisa
ser crítica e rigorosa.

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Construção do Conhecimento e Pesquisa

Também precisamos compreender que há uma necessidade de


empenhar-se em um projeto altamente individualizado, apoiado no
domínio e no manejo de uma série de instrumentos que devem estar
continuamente ao alcance de suas mãos. Através desses instrumentos
é que o estudante se organiza na sua vida de estudo e disciplina na
1 sistematização do estudo. O material didático deve servir de base
para o estudo pessoal e para a complementação dos elementos ad-
quiridos no decurso do processo coletivo de aprendizagem em sala
de aula. Lembre-se de que não basta a presença física às aulas e o
cumprimento forçado de tarefas mecânicas: precisamos dispor de
um vasto material de trabalho específico de nossa área e também
sabermos explorá-lo adequadamente.

Os instrumentos de trabalho
Precisamos aqui reforçar aquilo que o estudante já está acostumado
a observar em todo nosso material didático no item 5 que fazemos
questão de reproduzir aqui:

• Estudo extraclasse:

Materiais que poderão ajudá-lo:


• Mais que uma versão ou tradução da Bíblia Sagrada;
• Atlas Bíblico;
• Dicionário Bíblico;
• Enciclopédia Bíblica;
• Livros de Histórias Gerais e Bíblicas;
• Um bom dicionário de Português;
• Livros e apostilas que tratem do mesmo assunto.

Agora podemos acrescentar ainda, dentre outros:


• Dicionário Teológico;
• Introdução ao Antigo Testamento;
• Introdução ao Novo Testamento;

20 • Capítulo 1
Construção do Conhecimento e Pesquisa

• Gramática das línguas originais;


• Léxicos das línguas originais;
• Manuais de Teologia Sistemática;
• Bons comentários bíblicos (dê preferência aos comentários
de cunho exegético).
1
Observe que em toda e qualquer pesquisa ou sistematização do
estudo, faz-se necessário um embasamento teórico pelo qual responde,
fundamentalmente, o estudo bíblico e teológico. E é por isso que o
estudante precisa dispor dos devidos instrumentos de trabalho que,
em nosso meio, são fundamentalmente bibliográficos.
Na verdade, ao dar início ao estudo teológico o estudante já pre-
cisa começar a formar a sua biblioteca pessoal, adquirindo paulati-
namente, mas de maneira sistemática, as obras fundamentais para
o bom desenvolvimento do seu estudo. Essa biblioteca deve ser es-
pecializada e qualificada. Não se trata de ter uma biblioteca, mas de
ter uma “boa biblioteca”. Ela precisa ser formada a partir das obras
dos melhores especialistas em cada uma de suas áreas específicas.
As obras de referência geral e os textos clássicos devem, sempre que
possível figurar entre elas.
Uma volta aos materiais indicados acima nos faz lembrar que o
estudante precisa munir-se de textos básicos para o estudo de sua
área específica.
Os textos básicos têm a finalidade de criar um contex-
to, um quadro geral a partir do qual se pode desenvolver
a sistematização do estudo, assim como a maturação do
próprio pensamento. Não são textos para serem lidos de
uma única vez, propriamente dita, mas sim para serem
consultados na medida em que se avança no estudo de
cada disciplina particular. Claro que, de fato, alguns
desses textos básicos devem sim, serem lidos de ma-
neira sistemática e contínua, do início ao fim (veremos
adiante como proceder a uma boa leitura).
Podemos dizer que esses textos desempenham o papel de fontes de
consultas das primeiras categorias a partir das quais se desenvolverá
a sistematização do estudo. Ressaltamos, no entanto, que à medida
do avanço e do aprofundamento do estudo, serão progressivamente
acrescentadas novas bibliografias, resultantes de pesquisas elabora-

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Construção do Conhecimento e Pesquisa

das pelos vários especialistas com os quais o estudante se deparará


no decorrer de seus estudos. Numa fase mais avançada esses textos
deverão tomar parte em sua biblioteca particular.
A sistematização do estudo deve poder passar por um encami-

1 nhamento lógico que inicie o estudante ao pensar.


Graças às informações trazidas pelo curso, às indicações encon-
tradas nos diversos materiais e aos programas de busca na Internet,
os estudantes podem conhecer materiais nacionais e estrangeiros,
representativos de sua área de estudo.
Dentre os instrumentos para a pesquisa disponíveis atualmente,
cabe destacar os recursos eletrônicos gerados pela tecnologia da in-
formação. De modo especial, cabe lembrar da rede mundial de com-
putadores, a Internet, já mencionada acima, e aos muitos recursos
comunicacionais da multimídia, como os CD’s e DVD’s. Também a
respeito desses recursos trataremos mais adiante.

22 • Capítulo 1
Construção do Conhecimento e Pesquisa

Questionário
Assinale com “X” as alternativas corretas
1
1. Quais são os efeitos paradoxais produzidos no campo do conhe-
cimento?
a) De um lado temos a exigência enorme de capacidade de cria-
ção de programas, de outro, inibe-se na maioria das pessoas
o exercício de pensar.
b) De um lado temos a exigência enorme do exercício de pensar,
de outro, a capacidade de criação de programas.
c) De um lado temos pouca exigência de criação de programas,
de outro, destaca-se o exercício de pensar.
d) De um lado temos a exigência enorme de capacidade da críti-
ca reflexiva, de outro, inibe-se na maioria das pessoas o exer-
cício de pensar.

2. De que se trata a construção do conhecimento?


a) A construção do conhecimento se de um transmitir de expe-
riências do professor para o aluno.
b) A construção do conhecimento trata-se de um remodela-
mento do processo cognitivo.
c) Trata-se de um dar e receber informações através de aulas
expositivas.
d) A construção do conhecimento trata-se de um redimensiona-
mento do próprio processo cognitivo.

3. De quem depende o resultado do processo de aprendizagem?


a) Depende somente do professor.
b) O resultado do processo de aprendizagem depende funda-
mentalmente do estudante.
c) O resultado do processo de aprendizagem depende exclusiva-
mente do material didático.
d) Depende dos horários de estudo.

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Construção do Conhecimento e Pesquisa

Marque “C” para Certo e “E” para Errado

4.( ) Os textos básicos servem para serem lidos de uma única


1 vez.
5.( ) Graças às informações trazidas pelo curso, às indicações
encontradas nos diversos materiais e aos programas de
busca na Internet, os estudantes podem conhecer mate-
riais nacionais e estrangeiros, representativos de sua área
de estudo.

24 • Capítulo 1
Anotações

Anotações

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Anotações

Anotações

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Construção do Conhecimento e Pesquisa

Aproveitando melhor as aulas


Uma vez documentada a matéria abordada em sala de aula, de-
vemos igualmente documentar os elementos complementares a essa 1
matéria e que são levantados mediante a pesquisa realizada sobre este
material de base. As técnicas, bem como a prática da documentação
serão expostas mais adiante.1
A documentação como prática da sistematização do estudo é a
maneira mais adequada e sistemática de “tomar apontamentos”. As
informações são recolhidas nas aulas, de maneira precária e provi-
sória, nos cadernos de anotações. Ao retomar, em casa, as anotações,
é necessário que o estudante submeta-as a um processo de correção,
de complementação e de triagem após o qual serão transcritas nas
fichas de documentação. Realmente, ao tomar notas durante uma
aula, muitas ideias acabam ficando truncadas; precisamos recons-
truí-las. O contexto ajudará tanto mais que o que importa reter não
é o texto da exposição, mas sim as ideias principais.
Ressaltamos que para tomar notas de uma aula, de uma palestra,
de uma pregação, de um debate, não precisamos gravar a exposição
nem, tampouco, transcrevê-la palavra por palavra. Não existe a
necessidade de registrarmos o texto integral da fala, pois tal tarefa,
além de difícil tecnicamente, atrapalha a concentração do ouvinte
para pensar no que está sendo dito.
O melhor a fazer é ir registrando palavras ou expressões que tra-
duzam conteúdos conceituais, geralmente categorias substantivas ou
verbais. O estudante não precisa se preocupar com a falta do texto
completo nem com a ausência de muitos dos detalhes da exposição
do professor ou do palestrante. É mais adequado e mais eficiente
concentrar-se nas ideias fundamentais, procurando expressá-las
mediante algumas categorias básicas e investir na compreensão, na
apreensão das ideias do orador.
Enquanto registra essas categorias, o estudante deve separá-las
por barra transversal /. Em um momento posterior, quando da reto-
mada dos apontamentos, o estudante que esteve atendo conseguirá
recompor a síntese relevante do discurso, bem em cima do eixo
essencial da reflexão.

1   SEVERINO, A. J. Metodologia do trabalho científico. 23 ed. rev. e atual. São Paulo: Cortez, 2007. pp. 43 – 46.

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Construção do Conhecimento e Pesquisa

Quando se trata de dados objetivos ou de conceitos precisos de fica-


ram incompletos, é chegado o momento de recorrer aos instrumentos
pessoais de pesquisa, às obras básicas de referência. O estudante deve
procurar recompor o texto, complementando-o com esclarecimentos
pertinentes que vão ajudar a compreender melhor as informações
1 prestadas. Recuperadas as informações, os elementos fundamentais,
aqueles que merecem ser assimilados, são passados para as fichas de
documentação, sintetizados pessoalmente pelo estudante.
Veja que, ao proceder assim, o estudante estará trabalhando de
maneira inteligente e racional, realizando simultaneamente todas as
dimensões da aprendizagem. Em momento algum o estudante deve
estar preocupado com o decorar, com o memorizar. Está pensando
à medida que se esforça para construir o sentido dos conceitos ou
das ideias em jogo. Está pesquisando, comparando, informando-se.
É justamente através desse conjunto de atividades que o estudante
envolve com o pensamento, facilitando as tarefas físicas e psíquicas
do estudo. É assim que o estudante adquire maior familiaridade com
o assunto por mais difícil que possa parecer à primeira vista. Cabe
destacar que não é necessário esperar que domine já de início todo
o conteúdo e seus desdobramentos. O próprio desenvolvimento dos
estudos e esse sistema de documentação irão lhe proporcionar ou-
tras oportunidades para a retomada desses temas que, nas sucessivas
apresentações, já estarão cada vez mais familiares.
Cabe destacar ainda que a orientação para a revisão da matéria
vista em aula pode ser adaptada às outras situações criadas para o
estudante no caso de participação do trabalho em grupo, da prepara-
ção de seminários, na escuta de pregações, palestras, e outras formas
de aquisição de informações. Nessas diversas situações, o procedi-
mento básico de estudo é o mesmo, mesmo que haja diferenças de
objetivo. O estudante analisa o material proposto fazendo as devidas
anotações sob a forma de documentação.

A disciplina do estudo:

No começo, pode parecer que esta proposta de metodologia


de estudo seja muito rígida. Contudo, é a mais eficiente. Quando
falamos de sistematização de estudo pressupomos um mínimo de
organização da vida de estudos, mas em compensação, torna-se

28 • Capítulo 1
Construção do Conhecimento e Pesquisa

sempre mais produtiva. Em virtude de o estudante dispor de pouco


tempo para seus estudos, exige-se dele organização sistemática do
pouco tempo disponível para o estudo em casa, indispensável para
um aproveitamento mais inteligente de seus estudos, com um míni-
mo de capacitação qualitativa para as etapas posteriores tanto numa
eventual sequencia de seus estudos, como na continuidade de sua
atividade ministerial.
1
Não se trata de se estabelecer uma minuciosa divisão do horário
de estudo: o essencial é aproveitar sistematicamente o tempo dispo-
nível, com uma ordenação de prioridades.

AULA ESTUDO EM CASA AULA

Participação Revisão Preparação Participação


Exposição de Reorganização Releitura e rees-Retomada e
segmentos Da matéria tudo da docu- esclarecimen-
da matéria. exposta ou de- mentação da tos de pontos
batida em clas- aula anterior. da unidade
se mediante anterior.
Discussão ou Contato prévio Exploração

Adaptado de Severino (2007, p. 47).


debate de temas com nova unida- de segmentos
a partir de textos de programada: programados.
com sínteses. roteiro, textos,
questionário.

Determinação Aprofundamen- Discussão e


de novas tarefas. to de estu- debates.
do mediante
DOCUMEN- exploração de Determinação
TAÇÃO instrumentos de novas tarefas.
complementares.

Elaboração de tarefas específicas: fi-


chamentos, exercícios, relatórios, etc.

Recursos aos instrumentos


complementares.

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Construção do Conhecimento e Pesquisa

É certo que cada um de nós sabe do tempo disponível, precisamos


predeterminar um horário para o estudo. Uma vez estabelecido o
horário, é preciso começar sem rodeios a cumpri-lo rigorosamen-
te, mantendo um ritmo de estudo. Vencida a fase de aquecimento
e seguindo as diretrizes que apresentaremos para a exploração do
1 material, a sistematização do estudo acaba se tornando eficiente,
fluente e até mesmo agradável.
Sempre que seu período de estuo ultrapassar duas horas, é neces-
sário, como regra geral, um intervalo de meia hora para alteração do
ritmo de trabalho. Este intervalo também precisa ser seguido à risca.
Recomendamos, por fim, distribuir o tempo de estudo para os
vários dias da semana, com o objetivo de revisar cada matéria ou
preparar-se para as aulas nos períodos imediatamente mais próximos
às elas. Caso haja necessidade de um período maior de concentração,
a distribuição do tempo para as várias disciplinas levará em conta
a carga de trabalho de cada uma, bem como o grau de dificuldade
das mesmas.

Resumindo
Para acompanhar o desenvolvimento de seus estudos o estudan-
te deve preparar e rever as aulas e palestras de que vai participar.
Tratando-se da forma expositiva, até a tomada de apontamentos
torna-se mais fácil, tendo em vista a familiaridade com a matéria
que está sendo exposta; consequentemente, há melhores condições
de selecionar o que é essencial e que deve ser anotado, evitando-se a
sensação de “estar perdido” no meio de informações aparentemente
dispersas. Tratando-se de seminários ou debates, mais necessária se
faz ainda a preparação prévia do que se falará posteriormente.
A revisão de conteúdo situa-se como a primeira etapa de perso-
nalização da matéria estudada. É o momento em que se retomam os
apontamentos feitos apressadamente durante a aula e se dá acabamento
aos informes, recorrendo-se aos instrumentos complementares de pes-
quisa, após uma triagem dos elementos que passarão definitivamente
para as fichas de documentação. Não há necessidade de decorar os
apontamentos: basta transcrevê-los, pensando detidamente sobre as
ideias em causa e buscando uma compreensão exata dos conteúdos
anotados. Rever as fichas como preparação da aula seguinte é medida
inteligente para o paulatino domínio de seu conteúdo.

30 • Capítulo 1
Construção do Conhecimento e Pesquisa

Leitura

• Diretrizes para leitura e análise de textos: 1


Temos observado ao longo dos tempos que os maiores obstácu-
los do estudo e da aprendizagem, em ciências humanas em geral,
estão diretamente relacionados com a correspondente dificuldade
que o estudante encontra na exata compreensão dos textos teóricos.
As pessoas, em geral, estão muito habituadas a textos literários; ao
se defrontarem com textos didáticos ou teológicos, encontram difi-
culdades logo julgadas insuperáveis e que reforçam uma atitude de
desânimo e de desencanto, geralmente acompanhada de um juízo
de valor depreciativo em relação ao pensamento teórico, desvalori-
zando-o sobremaneira.
Realmente temos de admitir que os textos teóricos e teológicos
apresentam obstáculos específicos, mas nem por isso insuperáveis. É
claro que não podemos contar com os mesmos recursos disponíveis
no estudo de textos literários, cuja leitura revela uma sequência de
raciocínios e o enredo, ou seja, o desenrolar da história, é apresentado
dentro de quadros referenciais fornecidos pela imaginação, onde se
compreende o desenvolvimento da ação descrita e percebe-se logo
o encadeamento da história.
No caso de textos de pesquisa, teoria, exegese, teologia, dentre
outros, acompanha-se o raciocínio já mais rigoroso seguindo a apre-
sentação dos dados objetivos sobre os quais tais textos estão fundados.
Os dados e fatos levantados pela pesquisa e organizados conforme
técnicas específicas às várias ciências permitem ao leitor, devidamente
iniciado, acompanhar o encadeamento lógico destes fatos.
Diante de exposições teóricas, como em geral são encontradas em
textos teológicos e em formulações doutrinárias, em que o raciocínio
é quase sempre dedutivo, a imaginação e a experiência objetiva não
são de muita valia. Nestes casos, contamos somente com as possi-
bilidades da razão reflexiva, o que exige muita disciplina intelectual
para que a mensagem possa ser compreendida com o devido proveito
e para que a leitura se torne menos insossa.

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Construção do Conhecimento e Pesquisa

Na verdade, é preciso admitir que, mesmo tratando-se de assun-


tos abstratos, para o leitor em condições de “seguir o fio da meada”
a leitura torna-se fácil, agradável e, sobretudo, proveitosa. Por isso,
precisamos criar condições de abordagem e de inteligibilidade do
texto, aplicando alguns recursos que, apesar de não substituírem a
1 capacidade de intuição do leitor na apreensão da forma lógica dos
raciocínios em jogo, ajudam muito na análise e intepretação dos textos.
Antes, contudo, precisamos compreender de fato o que é um texto.

Texto e comunicação
Todo texto é um conjunto de sig-
nos linguísticos que codificam uma
mensagem. É, portanto, um meio co-
dificado, utilizando signos linguísticos,
pelos qual se viabiliza a comunicação
Texto: é um conjunto de entre as pessoas, entre duas ou mais
signos linguísticos que co- consciências capazes de decodificar
dificam uma mensagem. esses signos. Portanto, é um meio de
comunicação entre subjetividades.

Quando alguém escreve um texto, está se colocando como um


emissor que pretende transmitir uma mensagem para um receptor.
A mensagem deve primeiramente ser pensada pelo autor, em
seguida ela é codificada mediante signos (palavras) e transmitida
ao leitor. Dessa forma, ao redigir, o autor-emissor sempre procede à
codificação da mensagem que pretende transmitir; o leitor-receptor,
ao se deparar com o texto, a leitura, procede então à decodificação
da mensagem do autor, para então apropriar-se dela em seu pensa-
mento, assimilando-a, personalizando-a e compreendendo-a. Esse
é, em síntese, o ciclo completo do processo da comunicação entre
os sujeitos humanos.
Na prática da comunicação, contudo, os sujeitos humanos sofrem,
em todas as fases desse processo, uma série de interferências subjeti-
vas e culturais que põem em risco a “objetividade” da comunicação,
impedindo que tanto a codificação como a decodificação da men-
sagem possam ser realizadas. Disso resultam necessárias algumas
precauções, certos cuidados para minimizar esses riscos e garantir
que a mensagem seja adequadamente codificada e decodificada.

32 • Capítulo 1
Construção do Conhecimento e Pesquisa

Do que foi dito deve ficar claro que, para realizar a comunicação,
o autor-emissor não pode se valer de quaisquer palavras. Para que
o leitor-receptor compreenda o que se quer comunicar é necessário
ao menos que:

1
• As palavras (signos) tenham um significado; ou seja, as palavras
precisam formar os signos (S); os signos se compõem de: um
significante e um significado;
• O leitor-receptor conheça o significado correto das palavras
em uso; para que se desenvolva um processo de comunicação,
é preciso que previamente tenha sido combinado, ou que esteja
estabelecido por convenção e costume, quais palavras ou sinais
gráficos têm um determinado significado.

Portanto, signo = significante + significado. Veja o exemplo de


manga. Pode ser uma fruta, como também pode ser parte de uma
camisa ou camiseta. Tudo depende de quem está comunicando.
Disso resulta que entre o autor-emissor e o leitor-receptor deve
haver um repertório comum de signos.

A fim de que ocorra uma comunicação, é preciso que exista um


repertório de signos que seja comum ao emissor e ao receptor (SE e
SR). A comunicação só poderá ocorrer através dos signos que forem
comuns aos dois. Para que ocorra comunicação é preciso que ambos
falem a mesma linguagem. No mínimo, é necessário que o leitor-re-
ceptor saiba compreender o significado das palavras e expressões
utilizadas pelo autor-emissor.

33
Construção do Conhecimento e Pesquisa

Vejamos abaixo a importância do repertório comum de signos:

1 “a comunicação não se realizou;


a mensagem é recebida, mas não
E R compreendida: o emissor e o re-
ceptor não possuem nenhum sig-
no comum”;

“a comunicação é restrita; são


E R poucos os signos em comum”;

“a comunicação é mais ampla;


entretanto, a inteligibilidade dos
E R signos não é total: certos elemen-
tos da mensagem (palavras ou ex-
pressões) proveniente de E não
serão compreendidos por R”;

“a comunicação é perfeita; todos


os signos emitidos por E são com-
ER preendidos por R (o inverso não
é verdadeiro, mas estamos con-
siderando o caso de uma comu-
nicação unidirecional (leitura)”;

34 • Capítulo 1
Construção do Conhecimento e Pesquisa

O que é ler?
1
A leitura de um texto é a decodificação da mensagem de que se é
portador. Trata-se, portanto, de uma etapa do processo de comuni-
cação, uma mediação da comunicação. Enquanto a escrita é o pro-
cesso de codificação da mensagem, pelo autor-emissor, a leitura é o
processo inverso e simétrico de decodificação da mensagem, pelo
leitor-receptor. Mas, para realizar a leitura, o leitor-receptor precisa
preencher algumas condições.
A primeira é, obviamente, o domí-
nio do código usado para a produção
do texto. Aqui estamos tratando do
código linguístico, mas um documento
pode ser produzido também mediante
outros tipos de signos, como imagens,
gestos, sons, etc. Dessa forma, o leitor Leitura de texto: a leitura
-receptor precisa conhecer a língua de um texto é a decodi-
em que o texto foi escrito e esse co- ficação da mensagem de
nhecimento dos signos implica dois que se é portador.
níveis: primeiro, o conhecimento dos
significantes e dos significados. É que
quando falamos dos signos da lingua-
gem, é preciso levar em conta duas dimensões. Cada signo (linguís-
tico) carrega em si um significante, que é o lado material (o grafema,
no signo escrito, ou o fonema, no signo oral, ou seja, as letras ou os
sons), e o significado, que é o lado conceitual, isto é, o sentido que
aquele significante vai suscitar na mente do leitor.
Dessa forma, ao realizarmos uma leitura estamos lidando com
as palavras ou termos, e com os conceitos ou ideias. As palavras ou
termos são a parte visível e material da linguagem; elas estão estrutu-
radas de acordo com as regras gramaticais de cada língua. Por outro
lado, os conceitos ou ideias são os conteúdos mentais que correspon-
dem a cada palavra, por meio das quais representamos um objeto,
pensamos uma coisa ou uma relação entre palavras.

35
Construção do Conhecimento e Pesquisa

Podemos assumir, portanto, que um texto nada mais é que uma


mensagem codificada sob forma linguística de um raciocínio. A reda-
ção é uma argumentação correspondente a um raciocínio, construído
sobre a base do encadeamento lógico de conceitos, ideias e juízos.
Por fim, a leitura é o processo de decodificação da mensagem, pela
1 captação e acompanhamento do raciocínio do autor.
A partir das páginas seguintes vamos tratar de como iniciar o
processo de leitura propriamente dito.

Anotações

36 • Capítulo 1
Construção do Conhecimento e Pesquisa

Questionário
Assinale com “X” as alternativas corretas
6. Qual é a maneira mais adequada de “tomar apontamentos”? 1
a) Gravando as aulas em um celular.
b) Em cadernos de brochura.
c) A documentação como prática da sistematização do estudo.
d) A documentação como prática das anotações em sala de aula.

7. A documentação visa decorar e memorizar?


a) Em momento algum o estudante deve estar preocupado com
o decorar e com o memorizar.
b) Sim, o estudante deve estar sempre preocupado com o deco-
rar e com o memorizar.
c) Não, mas será de inestimável importância que o aluno faça isso.
d) Sim, sem decorar e memorizar não existe aprendizado ver-
dadeiro.

8. O que é preciso pressupor para uma boa sistematização de


estudo?
a) Nada.
b) Quando falamos de sistematização de estudo pressupomos
uma extrema atenção auditiva em tudo o que for falado.
c) A sistematização do estudo pressupõe um prévio conheci-
mento do assunto que estará sendo tratado.
d) Quando falamos de sistematização de estudo pressupomos
um mínimo de organização da vida de estudos, mas em com-
pensação, torna-se sempre mais produtiva.

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Construção do Conhecimento e Pesquisa

Marque “C” para Certo e “E” para Errado

9.( ) Cabe destacar que não é necessário esperar que domine


já de início todo o conteúdo e seus desdobramentos.

1 10.( ) Na leitura de um texto não é necessária a decodificação


da mensagem de que se é portador.

Anotações

38 • Capítulo 1
Construção do Conhecimento e Pesquisa

O Conhecimento e seus Níveis


O homem não age diretamente sobre as coisas. Sempre há um
intermediário, um instrumento entre ele e seus atos. Isto também
acontece quando faz ciência, quando investiga cientificamente. Ora,
não é possível fazer trabalho científico, sem conhecer os instrumen-
1
tos. E estes se constituem de uma série de termos e conceitos que
devem ser claramente distinguidos, de conhecimentos a respeito das
atividades cognoscitivas que nem sempre entram na constituição da
ciência, de processos metodológicos que devem ser seguidos, a fim
de chegar a resultados de cunho científico e, finalmente, é preciso
imbuir-se de espírito científico.
Se a apropriação é física, sensível, por exemplo, a representação de
uma onda luminosa, de um som, o que acarreta uma modificação de
um órgão corporal do sujeito cognoscente, tem-se um conhecimento
sensível. Tal tipo de conhecimento é encontrado tanto em animais
como no homem.
Se a representação não é sensível, o que ocorre com realidades
tais como conceitos, verdades, princípios e leis, tem-se então um
conhecimento intelectual.
Pelo conhecimento o homem penetra as diversas áreas da reali-
dade para dela tomar posse. Ora, a própria realidade apresenta níveis
e estruturas diferentes em sua própria constituição. Assim, a partir
de um ente, fato ou fenômeno isolado, pode-se subir até situá-lo
dentro de um contexto mais complexo, ver seu significado e função,
sua natureza aparente e profunda, sua origem, sua finalidade, sua
subordinação a outros entes, enfim, sua estrutura fundamental com
todas as implicações daí resultantes.
Esta complexidade do real, objeto de conhecimento, ditará, ne-
cessariamente, formas diferentes de apropriação por parte do sujeito
cognoscente. Estas formas darão os diversos níveis de conhecimento
segundo o grau de penetração do conhecimento e conseqüente posse,
mais ou menos eficaz, da realidade, levando ainda em conta a área
ou estrutura considerada.
Ao tratar, por exemplo, do homem, pode-se considerá-lo em seu
aspecto externo e aparente e dizer uma série de coisas que o bom
senso dita ou que a experiência cotidiana ensinou; pode-se, também,
estudá-lo com espírito mais sério, investigando experimentalmente
as relações existentes entre certos órgãos e suas funções; pode-se,

39
Construção do Conhecimento e Pesquisa

ainda, questioná-lo quanto a sua origem, sua liberdade e destino; e,


finalmente, pode-se investigar o que dele foi dito por Deus através
dos profetas e de seu enviado, Jesus Cristo.
Têm-se, assim, quatro espécies de considerações sobre a mesma

1 realidade, o homem, e consequentemente o pesquisador está se


movendo dentro de quatro níveis diferentes de conhecimento. O
mesmo pode ser feito com outros objetos de investigação. Tem-se,
então, conforme o caso:
• conhecimento empírico,
• conhecimento científico,
• conhecimento filosófico,
• conhecimento teológico.

Conhecimento Empírico

Conhecimento empírico, também chamado vulgar, é o conheci-


mento do povo, obtido ao acaso, após inúmeras tentativas. É ame-
tódico e assistemático.
O homem comum, sem formação, tem conhecimento do mundo
material exterior, onde se acha inserido, e de certo número de ho-
mens, seus semelhantes, com os quais convive. Vê-os no momento
presente, lembra-se deles, prevê o que poderão fazer e ser no futuro.
Tem consciência de si mesmo, de suas idéias, tendências e sentimen-
tos. Cada qual se aproveita da experiência alheia. Pela linguagem
os conhecimentos se transmitem de uma pessoa à outra, de uma
geração à outra.
Pelo conhecimento empírico, o homem simples conhece o fato e
sua ordem aparente, tem explicações concernentes às razões de ser
das coisas e dos homens e tudo isso obtido pelas experiências feitas
ao acaso, sem método, e por investigações pessoais feitas ao sabor
das circunstâncias da vida; ou então haurido no saber dos outros e
nas tradições da coletividade; ou, ainda, tirado da doutrina de uma
religião positiva.

40 • Capítulo 1
Construção do Conhecimento e Pesquisa

O Conhecimento Científico

O conhecimento científico vai além do empírico: por meio dele,


além do fenômeno, conhecem-se suas causas e leis que o regem. É
metódico.
“Conhecer verdadeiramente, é conhecer pelas causas”, diz Bacon.
1
Assim, saber que um corpo abandonado a si cai, que a água sobe
num tubo em que se fez vácuo, etc., não constitui conhecimento
científico; só o será se explicar estes fenômenos, relacionando-os
com a sua causa e com sua lei.
Conhecemos uma coisa de maneira absoluta, diz Aristóteles,
quando sabemos qual é a causa que a produz e o motivo porque não
pode ser de outro modo; isto é saber por demonstração; por isso a
ciência reduz-se à demonstração. Daí as características do conheci-
mento científico:
1. É certo, porque sabe explicar os motivos de sua certeza, o que
não ocorre com o empírico;
2. É geral, isto é, conhece no real o que há de mais universal,
válido para todos os casos da mesma espécie. A ciência, par-
tido do indivíduo procura o que nele há de comum com os
demais da mesma espécie;
3. É metódico, sistemático. O sábio não ignora que os seres e os
fatos estão ligados entre si por certas relações. O seu objetivo
é encontrar e reproduzir este encadeamento. Alcança-o por
meio do conhecimento das leis e princípios. Por isso, toda a
ciência constitui um sistema.

Além disso, são ainda propriedades da ciência a objetividade, o


desinteresse e o espírito crítico.
Pode-se dizer que a ciência é um sistema de proposições rigorosa-
mente demonstradas, constantes, gerais, ligadas entre si pelas relações
de subordinação relativas a seres, fatos e fenômenos da experiência.
É um conhecimento apoiado na demonstração e na experimentação.
A ciência só aceita o que foi provado. Segue o método experimental
com seus diversos processos, desenvolvidos mais adiante.

41
Construção do Conhecimento e Pesquisa

Conhecimento Filosófico

O conhecimento filosófico distingue-se do científico pelo objeto


de investigação e pelo método. O objeto das ciências são os dados

1 próximos, imediatos, perceptíveis pelos sentidos ou por instrumen-


tos, pois, sendo de ordem material e física, são por isso suscetíveis
de experimentação (método científico = experimentação). O objeto
da filosofia é constituído de realidades imediatas, não perceptíveis
pelos sentidos e por serem de ordem supra-sensível ultrapassam a
experiência (método racional).
Na acepção clássica, a filosofia era considerada como a ciência
das coisas por suas causas supremas. Modernamente, prefere-se falar
em filosofar. O filosofar é um interrogar, é um contínuo questionar
a si e à realidade. A filosofia não é algo feito, acabado. A filosofia é
uma busca constante do sentido, de justificação, de possibilidades,
de interpretação a respeito de tudo aquilo que envolve o homem e
sobre o próprio homem em sua existência concreta.
Filosofar é interrogar. A interrogação parte da curiosidade. Esta
é inata. Ela é constantemente renovada, pois surge quando um fe-
nômeno nos revela alguma coisa dum objeto e ao mesmo tempo
nos sugere o oculto, o mistério. Este impulsiona o homem a buscar
o desvelamento do mistério.
A filosofia procura compreender a realidade em seu contexto
mais universal. Não dá soluções definitivas para grande número de
questões. Habilita, porém, o homem a fazer uso de suas faculdades
para ver melhor o sentido da vida concreta.

O Conhecimento Teológico

Duas são as atitudes que se podem tomar diante do mistério.


A primeira é tentar penetrar nele com o esforço pessoal da inteli-
gência. Mediante a reflexão e o auxílio de instrumentos, procura-se
obter o conhecimento que será científico ou filosófico.
A segunda atitude consistirá em aceitar explicações de alguém
que já tenha desvendado o mistério. Implicará sempre numa atitude
de fé diante de um conhecimento revelado.

42 • Capítulo 1
Construção do Conhecimento e Pesquisa

Este conhecimento revelado ocorre quando houver algo oculto


ou um mistério, alguém que o manifesta e alguém que pretende
conhecê-lo.
O conhecimento revelado – relativo a Deus – aceito pela fé teológi-
ca, constitui o conhecimento teológico. É aquele conjunto de verdades
a que os homens chegaram, não com o auxílio de sua inteligência, 1
mas mediante a aceitação dos dados da revelação divina. Vale-se, de
modo especial, do argumento de autoridade. São os conhecimentos
adquiridos nos Livros Sagrados e aceitos racionalmente pelos ho-
mens, depois de ter passado pela crítica histórica mais exigente. O
conteúdo da revelação, feita a crítica dos fatos aí narrados e com-
provados pelos sinais que a acompanham, reveste-se de autentici-
dade e de verdade. Passam tais verdades a ser consideradas como
fidedignas, e por isso aceitas. Isto é feito com base na lei suprema da
inteligência: aceitar a verdade, venha donde vier, contanto que seja
legitimamente adquirida. 1

1   LAKATOS, Eva Maria. MARCONI, Maria de Andrade. Fundamentos de metodologia científica. São Paulo:
Atlas, 2003, pp. 77-80.

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Construção do Conhecimento e Pesquisa

44 • Capítulo 1

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