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Sistemas e Políticas

em Saúde

Prestadores de Serviços
e Fornecedores
Índice
Índice............................................................................................................................. 1

Apresentação da Unidade.............................................................................................2

Prestadores de Serviços................................................................................................2
1. Hospitais Particulares e Filantrópicos............................................................. 2

Medicina Diagnóstica.................................................................................................... 7
1. Principais Grupos de Medicina Diagnóstica................................................... 9

Empresas Farmacêuticas, Produtores e Distribuidores de Equipamentos e


outros Insumos............................................................................................................. 14
1. Empresas Farmacêuticas................................................................................. 14
2. Produtores de Equipamentos e Materiais....................................................... 18

Conectando os Pontos.................................................................................................. 19

Referências Bibliográficas.............................................................................................20

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Apresentação da Unidade
Bem vindos à Unidade 3 - FPrestadores de Serviços e Fornecedores.
Nesta unidade você irá conhecer os estabelecimentos de saúde, prestadores de serviços e fornecedores,
e entender as principais funções destes atores no sistema de saúde.
Ao final desta unidade você estará apto a:

1 Identificar os tipos de estabelecimentos de saúde;

2 Identificar as empresas farmacêuticas, produtores e distribuidores de equipamentos e outros


insumos;

3 Definir medicina diagnóstica;

4 Discutir as movimentações do mercado: competição, fusões & aquisições e capital estrangeiro.

Bons estudos!

Prestadores de Serviços
Segundo o Cadastro Nacional de Estabelecimento de Saúde (CNES), do Ministério da Saúde, no Brasil
existem hoje cerca de 362 mil estabelecimentos de saúde, entre estabelecimentos públicos e privados.
Destes, 7,1 mil são hospitais, sendo sua grande maioria hospitais de até 100 leitos, que trabalham em
regimes ambulatoriais e/ou de internação em diversas especialidades e complexidades.
Os outros estabelecimentos, a grande maioria, são formados por clínicas, consultórios médicos e
odontológicos, postos de saúde, enfermarias, laboratórios, entre outros que possuem autorização da
Anvisa e do Ministério da Saúde para operarem e realizarem procedimentos gerais e específicos.
Esse mercado é um importante ator econômico, responsável por uma movimentação de cerca de R$ 692,9
bilhões por ano (conforme vimos na Unidade 01 deste módulo), e faz parte do Sistema Único de Saúde
(SUS) e da rede suplementar. Os grandes hospitais filantrópicos e particulares e as redes de medicina
diagnóstica – que veremos nesta Unidade – são responsáveis por relevante parcela dessa movimentação.

Hospitais Particulares e Filantrópicos


Com base no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), os hospitais no Brasil podem ser
assim classificados:

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Pequeno Porte Médio Porte
Até 30 leitos (em alguns Até 150 leitos
casos, consideram até 50
leitos)

Grande Porte Porte Especial


Até 500 leitos Acima de 500 leitos

Em 2004, o Ministério da Saúde publicou uma portaria para tratar de financiamento de hospitais
de pequeno porte e, neste documento, foi citado que os hospitais de pequeno porte são aqueles
até 30 leitos. No entanto, em diversos outros materiais e relatórios, você verá geralmente que são
citados 50 leitos para pequeno porte.

Além da divisão dos hospitais em porte, há outras segmentações que são importantes serem conhecidas
e, muito provavelmente, você já as conhece, veja a seguir.

Particular (Privado)
Capital privado e com fins lucrativos. Geralmente não possui isenção de impostos e remunera seus
gestores através de salários e pró-labores, e seus sócios, por dividendos.

Filantrópico
Os hospitais filantrópicos são instituições privadas, porém sem finalidade de lucro, que possuem contrato
com o sistema público para prestar atendimento aos pacientes do Sistema Único de Saúde. Pelo menos
60% dos atendimentos oferecidos pelos hospitais filantrópicos são destinados, obrigatoriamente, ao SUS,
ou seja, destinam parte de seus atendimentos para assistência à saúde de forma gratuita, geralmente à
pacientes em vulnerabilidade socioeconômica. Os demais atendimentos podem ser direcionados a planos
de saúde e a pacientes particulares

Beneficente
É uma associação sem fins lucrativos e privada com o propósito de atender a um grupo específico,
financiada por doações e contribuições permanentes de seus membros, sócios ou mesmo pelo recebimento
de receita de seus pacientes.
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Para manter o caráter de entidades beneficentes e, então, a isenção e imunidade tributária, os hospitais
filantrópicos precisam se enquadrar em alguns pré-requisitos, que garantem a eles o Certificado de
Entidade Beneficente Assistencial (CEBAS).

“Certificado de Entidade Beneficente de Assistência Social na Área de Saúde – CEBAS é concedido pelo
Ministério da Saúde à pessoa jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, reconhecida como Entidade
Beneficente de Assistência Social com a finalidade de prestação de serviços na Área de Saúde, cumpridas
as condições definidas pela legislação”.

A obtenção do CEBAS possibilita às entidades a isenção das contribuições sociais, em conformidade com
a Lei nº 8.212 de 24/07/1991, a celebração de convênios com o Poder Público, entre outras benesses.
As mudanças decorrentes da legislação em vigor trazem um novo olhar para a certificação na área de saúde,
com foco no fortalecimento da gestão do SUS e na melhoria do acesso aos serviços, com a potencialização
das ações para a estruturação das Redes de Atenção à Saúde (RAS).
Outro importante aspecto a ser observado é a inserção de ações prioritárias de saúde no conjunto de
critérios para a comprovação da prestação de serviços ao SUS para fins de certificação. A pactuação
dessas ações ocorre no âmbito dos Estados e Municípios e abrange áreas de atenção obstétrica e neonatal,
oncológica, urgências e emergências, usuários de álcool, crack e outras drogas e hospitais de ensino.
Segundo essa legislação, as entidades que desejam manter o CEBAS precisam dedicar 60% de seus leitos
e atendimentos à rede pública de saúde, o SUS. Outras legislações posteriores também regulam outros
aspectos do CEBAS, conforme você pode conferir a seguir:

Portaria Nº 3.024/GM/2011
Institui incentivo financeiro destinado aos estabelecimentos hospitalares que se caracterizem
como entidades beneficentes de assistência social na área da saúde e que prestem 100% dos
seus serviços de saúde exclusivamente ao Sistema Único de Saúde.

Portaria Nº 1.034/GM/2010
Dispõe sobre a participação complementar das instituições privadas com ou sem fins lucrativos
de assistência à saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde.

Lei Nº 12.101/2009
Cria, também, o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de
Saúde (PROADI-SUS), que exige desse grupo de excelência, no lugar de disponibilização de leitos,
a inversão de parte de sua isenção em financiamento para operações de projetos assistenciais e
de transmissão de conhecimento para manutenção de seus CEBAS.

Outros dois pontos foram mencionados referente ao CEBAS e que é muito importante a sua compreensão:
imunidade de impostos e PROADI-SUS.

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Imunidade de Impostos
Imunidade é a impossibilidade jurídica da tributação, em razão da ausência de competência tributária dos
entes federativos. Sob o aspecto material, compreende-se que a imunidade é o direito público de não ser
tributado, segundo o especificado expressamente ou implicitamente nas normas constitucionais.
De acordo com dados do Fórum Nacional das Entidades Filantrópicas (FONIF), o retorno médio das
instituições de saúde é de R$ 8,26 para cada R$ 1,00 de contrapartida à imunidade do pagamento do PIS,
COFINS e da cota patronal (dispêndio com INSS).

PROADI-SUS

O PROADI-SUS é uma forma alternativa


para determinados hospitais fazerem jus
ao Certificado de Entidade Beneficente
de Assistência Social em Saúde (CEBAS)
através da transferência de sua expertise
para realização de projetos de capacitação,
pesquisa, avaliação de tecnologias, gestão
e assistência especializada voltados ao
fortalecimento e à qualificação do SUS em
todo o Brasil.

Fonte: Sobre o PROADI-SUS - https://hospitais.


proadi-sus.org.br/sobre-o-programa

1 Capacitação de recursos humanos: projeto que visa a capacitação da mão de obra do SUS
através de cursos à distância e/ou presenciais. Principais cursos ministrados: atenção básica,
atenção especializada, urgência e emergências, agravos urgentes como epidemias, atenção
farmacêutica, gestão, entre outros temas;

2 Pesquisas de interesse público: diversos projetos são desenvolvidos através do apoio do


PROADI-SUS e dezenas deles são publicados em revistas internacionais de alto impacto. Vale
ressaltar que o programa também possibilita aumentar a competitividade das pesquisas e
inovação do Brasil no âmbito internacional;

3 Desenvolvimento de técnicas e operação de gestão em serviços de saúde: através da


experiência dos hospitais, estes desenvolvem projetos e ferramentas de otimização de recursos
e compartilham estas novas metodologias e formas de operação com outros hospitais. Um
exemplo muito comum foi o uso da telemedicina durante a pandemia da COVID-19. Como você
deve ter conhecimento, esta ferramenta foi muito utilizada, ora pela crise sanitária, ora pela
necessidade de expansão e maior alcance da população;

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4 Projetos assistenciais: como você deve ter conhecimento, o SUS não consegue absorver toda a
demanda da população e para alguns casos, a oferta é realizada pelos hospitais do PROADI-SUS,
como por exemplo: transplantes e procedimentos de alta complexidade. Importante ressaltar
que para este caso, o uso do recurso está limitado a 30% do total da verba.

E qual é a origem dos recursos?


Diferente do modelo tradicional de filantropia, os hospitais que integram o programa desembolsam os
valores correspondentes a determinados tributos para investir em projetos de desenvolvimento do SUS
e de promoção da saúde da população. Assim, o PROADI-SUS é mantido com os recursos gerados pelos
próprios hospitais participantes.
No modelo tradicional de atendimento SUS, os hospitais não recolhem determinados tributos por
serem imunes em sua natureza e, em contrapartida, realizam atendimento SUS, recebendo recursos
públicos pelos serviços prestados. Um ponto importante é que todos os projetos lidam apenas com
custos de desenvolvimento e estrutura, ou seja, os hospitais participantes não podem aplicar nenhuma
margem sobre as iniciativas. Além disso, buscam otimizar a aplicação de recursos visando critérios de
economicidade e processos estruturados.
Os hospitais realizam a prestação de contas e são auditados por empresas de auditoria – KPMG, PwC e E&Y –
e por fim, pelo Ministério da Saúde. Não necessariamente a auditoria é feita ao final do período, em alguns
casos, o Ministério da Saúde seleciona alguns projetos e realiza a auditoria, requisitando comprovações
detalhadas, por exemplo: lançamentos contábeis e comprovação dos custos dos procedimentos, uma vez
que nenhum serviço prestado através do PROADI-SUS deverá ter margem.

Figura 1. Modalidade de atuação na saúde das Entidades Beneficentes de Assistência Social


Há isenção das contribuições para
Instituição oferta ao Atuação voltada para
Modalidade seguridade social (tributos como
SUS a prestação de
Instituições de atendimento INSS patronal,PIS e COFINS). ASSISTÊNCIA
no mínimo 60% de
interesse da sociedade 60% SUS Instituição ainda recebe valores dos localmente
seus serviços
atendimentos pela tabela do SUS.
AUDITADO
Para serem
legalmente
reconhecidas
devem Instituição oferta
cumprir atividades/programas de
alguns pré- promoção da saúde em áreas
requisitos. Modalidade como prevenção da violência, Há isenção das contribuições para Atuação voltada para
Promoção redução de acidentes de seguridade social (tributos como PREVENÇÃO
Instituições Beneficentes da Saúde trânsito, controle do
Na ÁREA DA INSS patronal,PIS e COFINS). localmente
de Assistência Social tabagismo, etc...
são instituições privadas, SAÚDE,
existem três AUDITADO
sem fins lucrativos, que
contribuem de maneira opções
significativa para a principais.
sociedade nas áreas de: Instituições realizam projetos As entidades de excelência, assim
nacionais nas áreas de declaradas pelo Ministério da Atuação voltada para
capacitação de recursos Saúde, aplicam no mínimo o valor
Assistência Social, humanos, pesquisas, das contribuições sociais que são
PROJETOS DE
Educação e Saúde. Modalidade QUALIFICAÇÃO
avaliação de tecnologias e imunes em projetos de Programa
PROADI-SUS do SUS
desenvolvimento de técnicas de Apoio ao Desenvolvimento
de gestão. Institucional do SUS (PROADI-SUS)
AUDITADO

Universidades, Escolas,
Creches e Hospitais são Todos os modelos são importantes para garantirmos os princípios do SUS:
algumas das instituições Universalidade, Equidade e Integralidade
que estão nesta categoria.

Fonte: Adaptado de https://hospitais.proadi-sus.org.br/sobre-o-programa#o-que-e-o-proadi-sus, acessado


em 06/02/2022

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Caso tenha interesse em conhecer mais sobre a legislação
SAIBA MAIS
referente ao PROADI-SUS.

Associação Nacional de Hospitais Privados - ANAHP


Criada em 2001, a ANAHP representa um grupo de hospitais privados – filantrópicos e particulares –
que visam ao desenvolvimento em conjunto do setor de saúde a fim de promover a troca de melhores
práticas e operacionalização de projetos, além de ser um fórum para discussões e proposições conjuntas
e alinhadas de políticas e visões em relação à saúde com maior representatividade junto aos legisladores
e ao governo. Representa, também, uma forma do setor privado colaborar de forma organizada com
melhorias ao setor público.
De acordo com os dados de 2020, a ANAHP possui cerca de 131 hospitais (entre membros, associados e
filiados) que possuem programas e grupos de trabalho que, juntos, discutem questões estratégicas de
inovação e gestão, além de relações corporativas.
Essa associação também realiza eventos, fóruns, oficinas e congressos para debater o setor e matérias
correlacionadas. Periodicamente, publica revistas e seu relatório anual, o Observatório da ANAHP, que
serve de base de comparação entre seus membros, sendo uma importante fonte de informação do setor
de saúde sobre medidas operacionais, financeiras e de qualidade e segurança do paciente.

O que são acreditações?


A acreditação hospitalar é um método de avaliação dos serviços de saúde que visa assegurar a qualidade
e a segurança assistencial. Ela ocorre por meio de padrões e requisitos previamente definidos pelas
entidades de acreditação, sendo exemplos de acreditações: Organização Nacional de Acrecitação (ONA),
Joint Commission International (JCI), Acreditação Integrada Nacional para Organizações de Saúde (NIAHO)
e outros.

Medicina Diagnóstica
O mercado de medicina diagnóstica e laboratorial no Brasil é bastante semelhante a outros mercados,
como dos EUA e Espanha. A maioria é formada por empresas privadas que prestam serviços às redes
privadas e públicas mediante contratos de serviços específicos. A medicina diagnóstica entrou no Brasil
em meados do século XX com a aquisição de equipamentos para pesquisa e logo ganhou espaço em
hospitais pioneiros. Hoje, as maiores marcas produtoras de equipamentos de imagem, aceleradores,
sensores, entre outros são empresas de alta tecnologia, que investem grande parte dos seus recursos em

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pesquisa e desenvolvimento e se concentram principalmente na Europa, Estados Unidos e Japão.
Em 2021, o mercado de medicina diagnóstica e laboratorial movimentou cerca de R$ 35,1 bilhões no
Brasil, sendo que 65% desse valor é pulverizado em pequenos prestadores (clínicas de imagem, medicina
do trabalho, pequenos laboratórios e postos de coletas, centros universitários, postos de saúde, médicos
autônomos, entre outros).
A medicina diagnóstica é responsável, em média, por 12% dos empregos na área de saúde, gerando mais
de 275 mil postos de trabalho. Em 2020, foram realizados 783 milhões de exames na saúde suplementar e
785,6 milhões na saúde pública. Considerando a origem da receita, 54,3% são financiados pelos planos de
saúde, 24,3% lab to lab (quando um grupo diagnóstico realiza os exames para outro player do mercado),
15,2% particulares e 5,3% público.

Um ponto interessante que vale a pena discutir, principalmente quando tratamos da sustentabilidade do
sistema de saúde, é a quantidade de resultados de exames que não são acessados. No Brasil, de Janeiro
a Junho de 2021, 4,1% dos exames não foram acessados, ou seja, se considerarmos a mesma média
de exames de 2020 e mantivermos o percentual teríamos os seguintes dados: 64 milhões de exames
sem verificação do resultado na saúde suplementar mais a saúde pública. O ponto de discussão: estes
exames eram realmente necessários? Quais os principais motivos que as pessoas deixaram de buscar
e/ou acessar o resultado?

Algumas características diferem a prestação de serviço de medicina diagnóstica e laboratorial das


atividades hospitalares e ambulatoriais tradicionais, veja a seguir.

1 Previsibilidade do processo: a previsibilidade do processo refere-se ao fato de a maior parte


dos serviços de medicina diagnóstica ser realizada de forma eletiva, ou seja, o paciente agenda
com certa antecedência o exame a ser realizado, exceto em casos de serviços que estejam sendo
prestados para atendimentos emergenciais ou em serviços ligados a centros cirúrgicos. Apenas
essa característica já permite que a medicina diagnóstica se organize de forma bastante distinta
em relação a controle de custos e de processos, desenvolvendo processos por vezes mais
semelhantes à linhas de produção industriais que a de hospitais.

2 Uso da tecnologia: outra diferença importante sobre a medicina diagnóstica refere-se ao uso
da tecnologia como fator central do segmento e pelo fato de sua velocidade de obsolescência
necessitar de grandes investimentos, ou seja, é preciso manter um parque tecnológico
atualizado a cada 2 ou 3 anos, o que faz com que muitos hospitais e clínicas optem por terceirizar
seus serviços de medicina diagnóstica a grupos ou prestadores externos que possuem focos e
expertises distintos. Isso permite que o caixa liberado seja investido em atividades hospitalares;
por isso, não há grandes redes hospitalares gerenciando serviços de medicina diagnóstica
relevantes.

3 Prestação de serviço ao paciente: a medicina diagnóstica é, ainda hoje, uma parte da medicina
em que o médico está distante da prestação direta de serviço ao paciente. À parte encontram-se
os casos de uso do método de ultrassom, que, no Brasil, ainda é obrigatória a sua realização por
um médico, da radiologia intervencionista e da medicina de precisão. Todos os outros métodos
permitem que sejam realizados/coletados por técnicos ou biomédicos, e o médico participa
apenas da análise e do laudo, que, por sua vez, pode mesmo ser feito à distância, o que permite
uma pulverização e maior capilaridade.

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Discussão do Fee-for-Value
Como vimos na Unidade 1, o sistema de saúde vem passando pela discussão de mudança dos modelos
de remuneração. Uma vez que os novos modelos sejam adotados, há uma discussão grande do que será o
futuro da medicina diagnóstica. Sendo apontada como uma das vilãs do aumento de sinistralidade e foco
de desperdícios de recursos na saúde, devido a repetição de exames desnecessários e má práticas de
alguns prestadores, os laboratórios e empresas medicina diagnóstica estão tendo que se reinventar para
poder sobreviver em um mundo de pacotes e contas fechadas. As alternativas são a busca de parcerias
com hospitais e clínicas para poder fazer parte de novos modelos remuneratórios, além de incorporação
tecnológica para aumento da produtividade médica (inteligência artificial e reconhecimento de imagens)
e melhoria de processos.

Principais Grupos de Medicina Diagnóstica


Os principais grupos de medicina diagnóstica no Brasil tiveram sua fase de consolidação durante a primeira
década deste século e se solidificaram como redes nacionais ou regionais. Nesse período, houve intensa
atividade de aquisições, na qual as maiores redes adquiriram players locais ou estaduais que haviam
construído boa reputação em suas cidades ou estados.
Hoje, entre os grandes atores do cenário brasileiro de medicina diagnóstica, podemos destacar: DASA,
Fleury, Alliar, Hermes Pardini, Einstein, além de CURA, Sabin e Femme.
A seguir, confira a história de alguns desses grupos.

DASA
Criado na década de 80, em São Paulo, pelos médicos Humberto Delboni Filho e Caio Auriemo, o
laboratório Delboni Auriemo logo cresceu e adquiriu outras marcas. Em 1999, houve a incorporação do
laboratório Lavoisier e a entrada do Fundo de Investimentos Patria. Com recursos e novos modelos de
gestão, ocorreu a expansão para outros estados, como Rio de Janeiro e Distrito Federal, principalmente
através de aquisições. Em 2004, o laboratório passa a se chamar Diagnósticos da América S.A. e realiza
abertura de capital, passando a ter ações negociadas na Bolsa de Valores. Em 2009, já com mais de 300
unidades/pontos espalhados no país, assume o nome de DASA e, na reestruturação, o Pátria vende o que
restava de sua participação.
Hoje, o DASA é o maior líder em medicina diagnóstica na América Latina e é o 5ª maior do mundo, sendo
seus controladores Pedro Bueno, filho do empresário Edson Bueno, ex-controlador da Amil falecido em
2017.
Em 2020, apresentou receita bruta de R$ 4,7 bilhões e margem EBITDA de 15,4%, processando mais de
247,6 milhões de exames, presente em 14 estados e em mais de 100 cidades através de mais de 1.000
unidades e 29 núcleos laboratoriais de análises, oferecendo mais de 5.000 tipos de exames para áreas
públicas, em serviços ambulatoriais e hospitalares.

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Principais movimentações recentes no mercado:
• Uma importante fusão ocorreu em 2019 entre Dasa e Ímpar, criando uma holding com faturamento
acima de R$ 7 bilhões (valores da época);
• A partir de 2020 passaram a concentrar esforços na aquisição de ativos hospitalares e entrou em
mercados como Rio de Janeiro, Maranhão e Bahia. Em São Paulo, fizeram a aquisição do Grupo
Leforte;
• No primeiro trimestre de 2021 realizaram a aquisição do Grupo São Domingos, com atuação no
estado do Amazonas, incluindo as participações societárias do Hospital São Domingos Ltda., da
Neuro Imagens Ltda. e da Clínica Solução Médica Ltda;
• Em Janeiro de 2021, realizaram aquisição de 100% das quotas representativas do capital social total
da Innova Hospitais Associados Ltda, com atuação em Diadema, no estado de São Paulo;
• Em Junho de 2021 adquiriu o Hospital da Bahia, em Salvador, por R$ 850 milhões, seu primeiro em
Salvador (R$ 2,4 milhões por leito);
• No mesmo mês, realizou aquisição de 100% do capital da Paquetá Participações S.A. e 100% do
capital social da AMO Participações S.A., detentoras, com conjunto, da GEM Assistência Médica
Especializada S.A, por R$ 750 milhões, com o objetivo de atuar na prestação de serviços de oncologia
nos Estados da Bahia, Sergipe e Rio Grande do Norte;
• Em novembro de 2021, realizaram aquisição de 100% do capital social da MO Holding e das quotas
da Mantris, com atuação em São Paulo, nas áreas de medicina ocupacional e gestão integrada de
saúde;
• Em novembro de 2021, adquiriu 100% do capital da Laboratorio de Medicina, localizada em Buenos
Aires, Argentina, uma rede de análises clínicas.

Fleury
Em 1926, o Fleury inicia suas atividades em São Paulo focado em análises clínicas e cresce por meio de
parcerias com universidades e cooperações técnico-científicas. Na década de 80, torna-se um centro
integrado de diagnóstico e expande no estado de São Paulo com a gestão de processos. Durante a década
de 90 e a primeira década do novo século, o Fleury torna- se um consolidador, adquirindo marcas em
outros seis estados, entre elas: a Labs D’Or (Rio de Janeiro - Desmembrada da Rede D'Or, como vimos
anteriormente nesta mesma Unidade) e a Diagnoson (Bahia).
Em 2020, apresentou receita bruta de R$ 3,2 bilhões, R$ 837,5 milhões de EBITDA e R$ 257 milhões de
lucro líquido. Possui atualmente mais de 242 filiais entre unidades ambulatoriais, hospitalares, centros de
check-up e diagnóstico dental.
Nos últimos anos, houve rumores de que o Fleury seria vendido para outros fundos ou outra rede de
medicina diagnóstica, o que não se concretizou. Em 2015, após novos rumores, recebeu investimento do
fundo internacional de Private Equity Advent, que aportou cerca de R$ 400 milhões por 13% das ações
da empresa. O fundo Advent vendeu sua participação no Fleury em meados de 2017 e a saída se deu de
maneira surpreendente, após grande valorização da ação do Fleury uma vez implementadas pelo fundo
controlador ações de melhoria e eficiência.
Sua estratégia atual consiste em ampliar seu portfólio de serviços oferecidos, consolidar a marca A+ com
enfoque nos serviços de imagem, expandir organicamente a rede de unidades de atendimento, fechar

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unidades pouco rentáveis, ampliar as operações de diagnósticos em hospitais e, descontinuar a gestão de
doenças crônicas e promoção da saúde, por ser um projeto malsucedido.

Principais movimentações recentes no mercado:


• Em 2021 concluiu a compra de ações da Clínica dos Olhos Dr. Moacir Cunha S.A., Instituto de
Oftalmologia 9 de Julho – Serviços Médicos S.A. e Centro Avançado de Oftalmologia. E também,
adquiriu 100% das ações do Laboratório Marcelo Magalhães em Pernambuco, segunda maior
aquisição do grupo, com 31 unidades de atendimento na região metropolitana de Recife;
• No mesmo ano, realizou o fechamento da operação de compra de 100% das quotas da CIP – Centro
de Infusões Pacaembu Ltda. e o fechamento da operação de investimento primário e secundário
de 66,7% da Vita Ortopedia Serviços Médicos Especializados Ltda. e na Vita Clínicas Médicas
Especializada Ltda.;
• Foi celebrado o contrato de compra e venda de 100% das quotas do Laboratório Bioclínica Ltda. e
do Laboratório Pretti Ltda.;
• Em Junho de 2021, o Fleury sofreu um ataque cibernético em seu ambiente de tecnologia da
informação, que resultou em indisponibilidade parcial de seus sistemas e operação. As despesas
com consultoria para a retomada do sistema da rede de medicina diagnóstica e a redução da receita
nos quatro dias em que não foi possível realizar os exames médicos impactaram o lucro líquido em
cerca de 8,5% e em 19% o EBITDA).

Além disso, investiu em outros serviços, tais como:


• Pupilla: plataforma que centraliza publicações médicas, podcasts e aulas sobre medicina. O próximo
passo é trazer cursos de atualização com conteúdo prático;
• Sommos DNA: testes genéticos;
• Saúde ID: ambiente digital em formato de aplicativo que armazena “histórico” da saúde para
negócios business-to-business. A versão business-to-consumer, foi lançada em fevereiro de 2021 e
está em fase piloto;
• Telemedicina: no primeiro trimestre de 2021 atingiu 177,7 mil consultas, sendo 40% fora de São
Paulo;
• Fertilidade: centro especializado em tratamentos de medicina reprodutiva;
• Kortex Ventures: fundo criado em conjunto com o Grupo Sabin para investimentos em startups de
saúde.

Alliar
A Alliar foi criada em 2010 com a fusão entre clínicas de Minas Gerais (Belo Horizonte e Juiz de Fora), Mato
Grosso do Sul e São Paulo (Vale do Paraíba), que, junto com o Patria (em um segundo projeto, após a
experiência com o DASA), fundaram a empresa, que tem como foco sua rápida expansão, principalmente
no segmento de imagem.
Logo iniciou processos de aquisições, principalmente em regiões onde DASA e Fleury não estavam,
adquirindo clínicas no Norte, Paraná e Nordeste e expandindo organicamente de forma arrojada. Em
quatro anos, já passou de uma base de 30 unidades para cerca de 120 e, em 2014, dobrou de tamanho ao se

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fundir com o Centro de Diagnósticos Brasil (CDB), de São Paulo. Além de experimentar novos segmentos,
em 2015 a empresa foi vencedora de uma licitação para a constituição de uma parceria público-privada
(PPP) com o governo da Bahia. Ainda na Bahia, no início de 2016 a Alliar anunciou a fusão com o grupo
Delfin, aumentando de forma significativa sua magnitude de abrangência nacional e de valor de mercado.
Atualmente, a Alliar é a segunda maior empresa de diagnósticos por imagem do Brasil com um parque
tecnológico composto por mais de 120 equipamentos de ressonância magnética, mais de 50 tomógrafos
e mais de 350 ultrassons, entre outros, distribuídos em 105 unidades de atendimento que estão
estrategicamente posicionadas em 43 cidades de 10 Estados.
De acordo com os relatórios divulgados pela companhia, a Alliar teve uma receita líquida de cerca R$ 1,1
bilhão em 2020. Sua estratégia consiste em dar continuidade às aquisições, principalmente de empresas
de imagem, em lugares onde exista demanda reprimida e baixa competitividade de redes, ao mesmo
tempo em que entra nos grandes mercados buscando rentabilidade e geração de caixa para cumprir seu
objetivo inicial, que tomou corpo a partir de meados de 2016, quando, finalmente após 6 anos de projeto,
a empresa anunciou a abertura capital na Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa).

Principais movimentações recentes no mercado:


• No primeiro trimestre de 2021, em linha com sua visão de ser uma plataforma integrada de medicina
diagnóstica, comunicou a sua decisão de verticalizar a operação de Análises Clínicas, com a
construção de um Projeto do Núcleo Técnico Operacional (NTO) próprio;
• No terceiro trimestre do mesmo ano, foi concluído o escopo técnico-operacional do NTO, com
definição de site, e projetos executivos em andamento, para início de operação em Julho de 2022,
em linha com o cronograma inicial;
• Lançamento do Cartão Aliança+ com projeção de cobertura nacional já em 2021: permite que os
clientes tenham direito a até 24 consultas médicas por ano via telemedicina, além de seguros,
assistências e os demais benefícios da plataforma;
• Parceria estratégica com a Philips Healthcare, através do iDr (Inteligência Diagnóstica Remota),
fortalecendo o pioneirismo da healthtech e reforçando a oferta e distribuição de soluções tecnológicas
para diagnósticos por imagem em todo Brasil;
• Parceria estratégica com a NeuralMed através do iDr com objetivo de avançar em sua estratégia
de Jornada Digital, que permitiu a adição de diversas novas funcionalidades à healthtech como
inteligência artificial na triagem e tomada de decisão em atendimento de pronto socorro, iniciado
pelos exames de raio x;
• Expansão do iDr para o Amazonas, totalizando 32 cidades em 13 Estados;
• Lançamento do Alliar Modelo de Atendimento – AMA: novo modelo de gestão, que objetiva unificar
o modo de trabalho e de atendimento ao cliente em todas as marcas da Companhia, buscando
resultados mais precisos e foco na venda dos produtos;
• Parceria com a IPEMED Afya Educacional, visando ampliação e acesso à formação médica em
imaginologia, lançou os cursos de especialização em mamografia, ultrassonografia, punção mamária
e pós-graduação em radiologia e diagnóstico por imagem.

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Hermes Pardini
Fundado em 1959 na cidade de Belo Horizonte (MG), o instituto da família Pardini cresceu tendo como
foco os exames de análises clínicas e laboratoriais. Cresceu no país prestando serviços de análises a outros
laboratórios e clínicas que realizam a coleta e processam nas centrais do Hermes Pardini, atuando com
148 unidades espalhadas pelo Brasil.
Na primeira década deste século, o Hermes Pardini iniciou sua expansão para fora de Minas Gerais e, após
a aquisição de 30% de seu controle (por R$ 300 milhões) pelo fundo de investimento Gávea em 2010, os
novos recursos trouxeram a primeira aquisição na área de imagem, com a Digimagem, de São Paulo.

Principais movimentações recentes no mercado:


• Como parte do planejamento de expansão em toxicologia através do aumento de market share , a
companhia anunciou no primeiro trimestre de 2021 que duplicaria a capacidade de processamento
do exame para dar conta da grande procura, possibilidade essa que foi possível porque a Toxicologia
Pardini conta com uma planta produtiva própria, localizada no Parque Tecnológico de Belo Horizonte
(BHTEC) e uma tecnologia que permite o escalonamento mais rápido desse exame;
• Em junho de 2021 comunicou a aquisição do Laboratório Paulo C. Azevedo, que é líder de Medicina
Diagnóstica no estado do Pará por R$ 127 milhões;
• Em agosto de 2021 divulgou a aquisição do APC Laboratório de Anatomia Patológica, pretendendo
ampliar a oferta dos serviços especializados em oncologia para todo o país;
• Em colaboração com o Laboratório de Biologia Integrativa do ICB/UFMG, a equipe de Pesquisa
e Desenvolvimento (P&D) desenvolveu um sistema inédito de vigilância epidemiológica com o
objetivo de identificar a ocorrência das principais variantes presentes no Brasil;
• Colaboração com o Ministério da Saúde e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) no desenvolvimento
da PrevCOV, a Pesquisa de Prevalência de Infecção por COVID-10 no Brasil;
• Se uniu à companhia aérea TAP Air Portugal para possibilitar que os passageiros com partidas do
Brasil para destinos europeus realizem gratuitamente o teste RT PCR antes da viagem, podendo
fazê-lo em casa ou em unidades selecionadas do Hermes Pardini;
• Iniciou o processo de expansão da capacidade produtiva do Núcleo Técnico Avançado (NTA),
localizado em Itajaí (SC), que possui foco no processamento dos exames dos clientes lab to lab;
• Foi escolhido pela UNIMED Fortaleza para atender o maior hospital privado do Ceará, Hospital
Regional da UNIMED, que possui 338 leitos;
• Aquisição de 60% de participação do IACS Medicina Diagnóstica com 13 unidades de atendimento
no litoral de São Paulo. Fonte: Adaptado de Judicialização e a Sociedade, 2021

Sabin
Há 37 anos atuando no Brasil, o Grupo Sabin foi fundado pelas bioquímicas Janete Vaz e Sandra Soares
Costa. Atualmente atendem mais de 5,7 milhões de clientes com um amplo portfólio de serviços de análises
clínicas, diagnósticos por imagem, vacinação e check-up executivo em 318 unidades de atendimento no
Distrito Federal e nos estados de Amazonas, Bahia, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais,
Pará, Paraná, Roraima, São Paulo, Tocantins e Santa Catarina. O Grupo também investe em empresas com
atuação na área de atenção primária à saúde e gestão de saúde.
13
Principais movimentações recentes no mercado:
• Durante a COVID-19 o Sabin ofertou exames de PCR de forma ininterrupta para 53 cidades, depois de
desenvolver o padrão ouro para a detecção do vírus, através do teste de PCR. Lançaram o sistema de
drive-thru de exames para o COVID-19 em 10 cidades, entre elas, Brasília, Manaus e Salvador;
• Assumiu a operação de análises clínicas do grupo São Lucas em 2 hospitais em Ribeirão Preto e uma
em Campinas;
• Inauguração de uma nova unidade em Taguatinga, Distrito Federal, com especialidade em
diagnóstico por imagem;
• Grande foco no mercado digital de saúde com o lançamento da healthtech Rita, que já possui 60 mil
clientes, com capacidade sistêmica para chegar a 1 milhão, e tem como objetivo fornecer exames
com preços mais baixos e desconto para pessoas que não possuem planos de saúde. A empresa tem
a estimativa de geração de receita adicional de R$ 100 milhões entre os próximos dois à cinco anos;
• Em 2 de dezembro de 2021, realizou aquisição de 100% das Clínicas Amparo Saúde, adicionando 11
clínicas de atendimento primário em são Paulo e no Distrito Federal ao seu portfólio.

Empresas Farmacêuticas, Produtores e


Distribuidores de Equipamentos e outros
Insumos
O setor de fornecedores de insumos de saúde mereceria uma disciplina inteira à parte, visto que a
quantidade de empresas que orbitam em torno dos prestadores de saúde e mesmo do “consumidor
final de saúde” representa um mercado global de US$ 2,5 trilhões, segundo relatórios das consultorias
PriceWaterhouseCooper e IMSHealth.
Ainda com as inovações tecnológicas, novas empresas entram, e, uma gama inteira de insumos é adicionada.
De vestíveis (wearables), como relógios que medem passos e batimentos cardíacos e aplicativos de
promoção da saúde, a equipamentos de imagem ou medicamentos ultra eficazes, os fornecedores da
cadeia de saúde se diversificam e se multiplicam.

Empresas Farmacêuticas
Segundo o Guia 2020 da Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa, em análise global, o mercado
farmacêutico brasileiro alcançou R$ 102,8 bilhões em 2019, um crescimento de 11,4% em relação ao ano
anterior.
No gráfico 1 podemos ver a segmentação entre varejo farmacêutico e mercado institucional. O que isso
quer dizer?

14
O varejo farmacêutico é aquele em que o público final realiza a compra do medicamento através de
farmácias/drogaria, já o mercado institucional é formado por governos, clínicas e hospitais que realizam
a compra de medicamentos diretamente da indústria farmacêutica.
Ao analisar o gráfico, você pode perceber que o varejo farmacêutico representa 75% das compras realizadas
e tiveram aumento de 10,7% em relação ao ano anterior, boa parte explicada pelo envelhecimento da
população brasileira e a oferta de novos medicamentos. Já o mercado institucional teve um crescimento
de 12,9%, impulsionado principalmente por medicamentos inovadores, que são indicados para o
tratamento de doenças complexas, como câncer, problemas degenerativos e doenças raras, conforme
informado no Guia.

Gráfico 1. Faturamento da Indústria Farmacêutica em R$ bilhões

57,5%
11,4% 2019
11,8%
13,5%
9,3% 2015
102,8
92,2 53,0%
82,5 2019
33,7
72,7 29,9
66,6 +12,9%
2015
25,7 +16,4%
+2,2% 21,9 +17,2%
21,4
Mercado
+10,7% 69,0 Institucional
+11,8% 56,8 +9,7% 62,3
45,1 +12,6% 50,8
Varejo
Farmacêutico

2015 2016 2017 2018 2019 Valores em bilhões de R$


Preco com descontos o
varejo (PPP)

Fonte: Adaptado do Guia 2020 Interfarma

Um ponto importante que você deve notar como gestor é que apesar do crescimento do mercado
da indústria farmacêutica, isso não representa um aumento de acesso da população. Estima-se
que exista uma demanda reprimida por medicamentos que pode chegar a 50%, impossibilitando
tratamentos ou mesmo evitando doenças, caso o acesso a medicamentos no Brasil fosse maior.

Mercado farmacêutico nos sistemas de saúde


suplementar e público
De acordo com os dados do Guia 2020, o acesso a tratamentos por meio de planos de saúde aumentou
12,9% em relação ao ano anterior, chegando a R$ 13 bilhões no último ano.
No entanto apesar deste aumento de dois dígitos, muitos dos tratamentos inovadores e modernos, com
comprovado impacto positivo no desfecho ao paciente, ainda não foram incorporados, já que a atualização
dos procedimentos mínimos que todo plano de saúde deve oferecer ao segurado acontece a cada dois

15
anos.
Já as compras públicas de medicamentos registraram crescimento de 7% no mesmo período, índice bem
abaixo ao segmento privado, embora 75% da população brasileira dependa totalmente do SUS para ter
acesso a tratamentos.

Gráfico 2. Mercado Farmacêutico | Vendas para Planos de Saúde

96,9%
12,9% 2019
16,4%
17,2%
2,2%
33,7 2015
29,9 4,5 31,4%
25,7 3,8 2019

21,4 21,9 3,5 13,0 2015


2,5 2,4 10,8
8,9
6,6 7,4 Outros

13,3 15,3 16,3 Privado


12,4 12,0
Público

Valores em bilhões de R$
Preco com descontos o
varejo (PPP)

Fonte: Adaptado do Guia 2020 Interfarma

Outro dado importante de analisar é a média de gastos com medicamentos. Na média, o gasto per capita
do brasileiro é de US$ 123,98, enquanto que os EUA é de US$ 1.228,66, ou seja, estamos falando de quase
10x a mais.

Gráfico 3. Gastos com Medicamentos por País

US$ Per Capita


0,00 200,00 400,00 600,00 800,00 1.000,00 1.200,00 1.400,00

Estados Unidos 1.228,66


Suiça 893,88
Alemanha 883,64
Canadá 879,28
Bélgica 744,26
Coreia do Sul 677,60
França 671,40
Áustria 664,89
Itália 623,94
Irlanda 609,83
Grécia 594,52
Luxenburgo 588,23
Hungria 577,53
Eslováquia 546,50
Eslovênia 546,34
Finlândia 536,78
Suécia 534,31
Reino Unido 526,21
Lituânia 525,92
525,24
16
Espanha
Hungria 577,53
Eslováquia 546,50
Eslovênia 546,34
Finlândia 536,78
Suécia 534,31
Reino Unido 526,21
Lituânia 525,92
Espanha 525,24
República Tcheca 508,35
Letônia 491,72
Isândia 475,79
Noruega 473,14
Protugal 455,00
Rússia 443,32
Polônia 439,52
Holanda 430.15
Estônia 389,15
Dinamarca 339,02
México 253,52
Brasil 123,97

Fonte: Adaptado do Guia 2020 Interfarma

Desafios da Indústria Farmacêutica


A pressão por vendas e a significativa queda nas margens têm feito com que as empresas farmacêuticas
busquem outros nichos de atuação. Através de joint ventures ou de projetos em comum com outras
empresas, as empresas farmacêuticas têm migrado para os segmentos laboratoriais de diagnóstico e de
medicina personalizada, buscando cada vez mais a individualização dos medicamentos.
Outro ponto importante na discussão da indústria farmacêutica é o potencial conflito de interesse que
surge da tendência das quedas de margens, que acontecem quando o percentual dos custos em relação
ao faturamento se eleva, ou seja, os custos passam a ser mais representativos, e da pressão por vendas,
uma vez que há divergências entre os objetivos de negócios dos fabricantes e as necessidades sociais e
clínicas do público e dos provedores.
Algumas relações com os médicos e o fato de a geração de informação sobre eficiência de medicamentos
se concentrar nas mãos de fabricantes fazem com que uma área cinzenta de dilemas éticos se constitua.

Medicamentos de Referência, Similares e Genéricos


Segundo a Política Nacional de Medicamentos do Ministério da Saúde – lei de criação da Agência Nacional
de Vigilância Sanitária (Anvisa), no ano de 2003 a Agência redefiniu regras para o registro de medicamentos
e renovação de registros, como, por exemplo, o reconhecimento de três categorias principais para o
registro de medicamentos:

1 Homeopáticos: medicamentos que têm como princípio tratar o doente com composições que,
em pequenas doses, provocam os mesmos sintomas da doença e estimulam o corpo a reagir
e se recuperar. A homeopatia afirma que os medicamentos têm propriedades terapêuticas
produzidas por uma energia vital proveniente do processo de dinamização de extratos vegetais,
animais ou minerais;

17
2 Fitoterápicos: medicamentos que são produzidos a partir de plantas (raízes, folhas, sementes,
caules, etc.). A fitoterapia entende que os extratos vegetais, compostos de substâncias produzidas
pela natureza, são tão ou mais seguros e eficazes que os produzidos sinteticamente;

3 Substâncias quimicamente definidas ou alopáticos: remédios mais comuns, cujos compostos


interagem com o organismo, combatendo a doença ou o sintoma. Faz uso da tecnologia de
produção oriunda de sínteses químicas ou biológicas ou do isolamento de substâncias da
natureza.

Participação no mercado
Em 2020, o Brasil possuía 93 fabricantes de genéricos, responsáveis por mais de 3.325 mil registros
de medicamentos que derivam mais de 4.610 mil apresentações comerciais. Entre as 10 maiores
farmacêuticas instaladas no país, 9 possuem linha de fabricação de medicamentos genéricos, ou seja,
muitas empresas que desenvolvem e respondem pela comercialização de produtos de marca conhecidas
internacionalmente, atualmente também se dedicam à fabricação de genéricos.
Com mais de 90 fabricantes de genéricos no Brasil, os genéricos respondem por 35% das vendas em
unidades no conjunto do mercado farmacêutico. Apesar da participação expressiva, em países como
Espanha, França, Alemanha e Reino Unido, o mercado encontra mais maduro e a participação desses
medicamentos é de 51%, 62%, 57% e 74%, respectivamente.
De acordo com os dados da Progenéricos (2020), o mercado mundial de genéricos cresce aproximadamente
10,8% ao ano, movimentando entre US$ 135 e US$ 150 bilhões. No mercado mundial, os Estados
Unidos têm especial destaque, com vendas de genéricos da ordem de US$ 42,5 bilhões. Os genéricos
correspondem a 60% das prescrições nos EUA e custam de 30% a 80% menos que os medicamentos
de referência, possibilitando uma economia em mais de US$ 200 bilhões por ano. Na última década a
economia acumulada atingiu US$ 1,46 trilhão de dólares.

Produtores de Equipamentos e Materiais


Igualmente ao setor farmacêutico, o mercado de equipamentos médico-hospitalares é dominado por
grandes empresas multinacionais e teve um faturamento de US$ 442,5 bilhões em 2020 versus US$ US$
456,9 bilhões em 2019, uma queda de 3,2%, queda esperada dada à pandemia da COVID-19.
Já o Brasil, em 2020, o consumo aparente (produção nacional + importações – exportações) foi de US$ 11,1
bilhões versus US$ 11,3 bilhões em 2019. Esta queda de 1,5% deve-se principalmente ao cancelamento
de procedimentos e cirurgias eletivas, que vocês provavelmente devem ter presenciado nas organizações
que trabalham.

Como podemos dividir este mercado?


O mercado de equipamentos e materiais pode ser dividido em três categorias:

1 Empresas puramente de tecnologia médica (exemplo: Medtronic);

2 Grandes conglomerados que atuam em outros setores (exemplo: Siemens);

18
3 Empresas que atuam em outros segmentos da saúde, como medicamentos (exemplo: Johnson
& Johnson).

O mercado é concentrado em aproximadamente 12 empresas, que são responsáveis por 45% do


faturamento global, produzindo desde simples gaze, esparadrapos e seringas a próteses ultramodernas
e outros OPMEs (órteses, próteses e materiais especiais), além de equipamentos de imagem de última
geração, como PET-RM(Ressonância Magnética PET), e mesas operatórias acopladas a equipamentos de
imagem que permitem procedimentos de radiologia intervencionista e cirurgias mais eficazes.
Dado o alto grau de investimento em pesquisa e a complexidade de sistemas, digitalizações e automações
requeridas pelas inovações tecnológicas, as grandes novidades vêm surgindo nos campos de sistemas e
equipamentos integrados, que realizam múltiplas funções ou mesmo auxiliam os profissionais de saúde
a tomar decisões ou executar tarefas.
Um bom exemplo dessas tecnologias é o robô cirúrgico, que permite a realização de alguns procedimentos,
como a prostatectomia.
A grande discussão em torno dos equipamentos está no balanceamento dos benefícios trazidos pela
incorporação tecnológica e nos elevados custos decorrentes do desenvolvimento tecnológico.
A super utilização de métodos ou procedimentos inadequados tem se mostrado como um dos grandes
ofensores às economias dos sistemas de saúde no mundo. No Brasil, particularmente, os números mostram
que essa super utilização acontece com mais frequência na saúde privada. Vimos este problema e desafio
quando tratamos dos novos modelos de remuneração.
Para ilustrar a discussão, a ANS publica anualmente um mapa assistencial com dados e informações sobre
a utilização, despesas e recursos utilizados/despendidos na saúde suplementar, ou seja, no setor de saúde
privado brasileiro.
Na edição de 2020, o número médio de exames de ressonância magnética, por exemplo, foi bem superior
a diversos países, uma tendência observada desde 2016: foram 179 exames de ressonância/1.000
habitantes no Brasil versus 128 nos EUA e 54,5 no Canadá no mesmo período.
E quais são os possíveis principais motivos para esta discrepância?
• Existência (oferta) de equipamentos de ressonância magnética acima da média de outros países, o
que mostra a força de empresas de tecnologia médica;
• Cultura médica, que pratica uma medicina baseada na sobrevalorização de métodos diagnósticos
para tomada de decisão, muitas vezes sobre condições simples, visto que métodos menos sofisticados
poderiam obter o mesmo resultado.

Conectando os pontos
Nesta Unidade, focamos no elo de provedores de saúde, mostrando um panorama geral do tamanho e
distribuição do setor e como está a estruturação dos hospitais com e sem fins lucrativos. Vimos como os
hospitais sem fins lucrativos podem fazer parte do SUS e manterem suas isenções de impostos.
Então, apresentamos como os serviços de apoio de diagnóstico e terapia (a medicina diagnóstica) estão

19
estruturados, como seu funcionamento mais “industrial” se diferencia dos atores assistenciais tradicionais
e como o setor vem crescendo em termos de número e tamanho. Os quatro grandes atores nacionais
de medicina diagnóstica possuem origens diferentes e estão enfrentando os desafios dos modelos de
remuneração e arrocho de novos credenciamentos por parte das Operadoras buscando diversificar suas
operações.
Na última seção identificamos que o fornecimento dos principais medicamentos e materiais são
controlados por multinacionais que disputam o mercado de forma acirrada e investem grandes somas
de dinheiro em pesquisa e inovação. Vimos também que, no mercado de medicamentos, especificamente
o Brasil possui uma classificação e um abrandamento que permitem que empresas nacionais concorram
produzindo o princípio ativo de medicamentos cujas patentes já expiraram, os conhecidos genéricos.
Por fim, discutimos um pouco sobre como a super utilização de recursos pode afetar economicamente o
setor de saúde se as práticas não forem racionalizadas.

Referências Bibliográficas
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6. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria n. 3.362, de 08 de Dezembro de 2017. Altera a Portaria de
Consolidação nº 5/GM/MS, de 28 de setembro de 2017, para dispor sobre o Programa de Apoio ao
Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (PROADI-SUS) [Internet]. [acesso em 03
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7. Faturamento de dispositivos médicos cai 1,5% no Brasil. Estadão [Internet]. [publicado em 22 Abr
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dispositivos-medicos-cai-15-no-brasil/
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proadi-sus.org.br/

20
11. PróGenéricos - Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos e Biossimilares
[Internet]. [acesso em 03 Mar 2022]. Disponível em: https://www.progenericos.org.br/
12. Stussi de Vasconcellos Advogados. Mercado Farmacêutico no Brasil – Perfil da Indústria 2021 [Internet].
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farmaceutico-no-brasil-perfil-da-industria-2021/#:~:text=Em%20an%C3%A1lise%20global%2C%20
o%20mercado,o%20levantamento%20da%20consultoria%20IQVIA.

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