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2022 Universidade Autónoma

as intervenções do poder público nestas


Direito Constitucional dimensões

- Direito Constitucional Organizatório:


disciplina o poder público, no que toca à sua
Conceito : organização e funcionamento, bem como gere
as relações que nascem das suas estruturas

: - Direito Constitucional Garantístico:


Direito Constitucional, é o conjunto de normas que mecanismos de proteção da Constituição e
regulam a organização, funcionamento e limites do defesa da sua superioridade na Ordem Jurídica,
poder do Estado, garantindo um equilíbrio entre a garantindo que prevalece sobre os atos jurídicos
força coerciva deste e a autonomia e liberdade da que lhe sejam contrários
comunidade em nome da qual aquele poder é
exercido Existem outros ramos, mais especí cos, do Direito
Constitucional, entre outros
Estabelece também os direitos das pessoas que
pertencem à respetiva comunidade política. - Direito Constitucional Internacional: traça
Equilíbrio entre as relações internacionais do Estado, incorporando
- O poder público estadual, que monopoliza os o Direit
meios públicos de coerção; Internacional Público no Direito Interno; relação
- A comunidade de pessoas em nome da qual esse entre os estados membros da EU
poder é exercido. Carecendo estas de autonomia e
liberdade frente ao poder do estado - Direito Constitucional dos Direitos
O conceito decorre da palavra Constituição, sendo Fundamentais: Regulação dos direitos
esta a identidade de um Estado fundamentais das pessoas frente ao poder
público, relativamente à sua positivação, regime
O Direito Constitucional é considerado ramo do de exercício e mecanismos de defesa
Direito, pois tem por base três elementos que
permite - Direito Constitucional Económico: orienta a
essa caracterização organização da economia, tanto no foro privado
como n
- elemento subjectivo: de ne-se pelo intervenção estatal
destinatário do DC, podendo este ser o Estado -
Poder (organização do poder público) ou Estado - - Direito Constitucional Ambiental: impõe
Comunidade (as pessoas que integram a deveres e esquemas de atuação ao poder
comunidade política) público, aumentando os direitos dos cidadãos
- elemento material: de ne-se pelas matérias - Direito Constitucional Eleitoral:
que são objeto de regulação do Direito funcionalmente - procedimento eleitoral;
Constitucional , consistindo num conjunto de estaticamente - direito d
regras e princípios jurídicos aplicáveis como sufrágio e princípio da soberania democrática
opções fundamentais do Estado

- elemento formal: - Direito Constitucional dos Partidos


de ne-se pela
superioridade hierárquica do DC na Ordem
Políticos: de ne o estatuto jurídico dos partidos
políticos e o seu papel a desempenhar numa
Jurídica;
sociedade democrática

Divisões do Direito Constitucional - Direito Constitucional Parlamentar:


regulação das fases pelas quais se desenrola o
processo legislativo, sobretudo dos atos
- Direito Constitucional Social: regulação legislativos.
dos direitos fundamentais das pessoas face ao
poder público - Direito Constitucional Regional: incide no
estatuto constitucional das regiões autónomas
- Direito Constitucional Económico,
Financeiro e Fiscal: organização económica da - Direito Constitucional Processual:
sociedade, controland estabelece mecanismos processuais de

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Características do Direito Constitucional 3. Politicidade: Resulta do objeto do Direito


Constitucional ser o estatuto do poder político. Não
scalização da constitucionalidade das leis é só a natureza do seu objeto mas também as
(justiça constitucional) implicações que este irá projetar na de nição do
regime jurídico que irá estabelecer. Pode haver por
- Direito Constitucional de Segurança: isso uma di culdade de perceber os casos que
devem ser deixados simplesmente ao livre jogo da
regula a atividade das forças armadas e policiais,
atividade política
constitucionalmente relevantes para a proteção do
Estado, como para os devere
fundamentais dos cidadãos de proteção do Estado 4. Estadualidade: o Direito Constitucional é
sujeito e objeto do Estado. Ainda que o Direito não
- Direito Constitucional de Exceção: engloba tenha necessariamente de ser estadual, é
indiscutível que o Direito Constitucional o é, sendo
os princípios e normas a aplicar em caso de crise
também o mais estadual dos ramos de Direito, ao
que perturb
representar a radicalidade da soberania estadual
a estabilidade constitucional, permitindo um reforço
do poder público contra os direitos dos cidadãos
(temporariamente) 5. Legalismo: o Direito Constitucional tem uma
visão legalista, tanto que a relevância atribuída às
- Direito Constitucional Penal: Múltiplas de possíveis fontes normativas recai sobre a lei.
Assim é dado que o Direito Constitucional evoluiu
critério e limite do ius puniendi (direito de punir) do
paralelamente à sua codi cação, estabelecendo-se
Estado
contra um Direito consuetudinário. Tendo em conta
partir dos princípios e valores constitucionais
a função de regular o poder público, que deve ser
realizada com a maior precisão, de forma a limitá-
O Direito Constitucional integra-se no Direito
lo, é muito difícil fazê-lo recorrendo ao costume ou
Público, dado que posiciona o poder público na
à jurisprudência. Por outro lado, a necessidade
sua dimensão de suprema autoridade soberana,
legalista prende-se com a expressão democrática
regulando os seus poderes, bem como as relações
de soberania, que é apenas viável pela
com as pessoas e outros poderes e ainda as
representação das maiorias nas deliberações
máximas de orientação da vida coletiva. Além do
apropriadas à confeção das leis
mais, tem em vista o interesse público, na medida
em que nele se estabelecem as orientações da
vida coletiva 6. Fragmentação: nem sempre lhe compete
proceder a uma regulação exclusivista das
1. Supremacia: não se pode equacionar o matérias constitucionais, o que signi ca que deixa
Direito Positivo sem se ter em conta a estrutura
hierarquicamente organizada que dispõe. No topo Relações do Direito Constitucional Com os Ramos do Direito
da pirâmide da Ordem Jurídica, encontra -se o
Direito Constitucional, o que signi ca que nenhuma
outra fonte poderá contrariar o seu sentido para outros níveis de regulamentação a dita tarefa.
ordenador, sob pena d Assim, o Direito Constitucional apresenta-se como
ser considerada inconstitucional. Para se garantir a
supremacia, são adoptados mecanismos que fundamento dos diversos institutos jurídicos
garantam a sua vigência, prevendo-se sanções
para aqueles que a violarem. No entanto, a 7. Juventude: Esta característica deve-se ao
supremacia não pode ser confundida com uma facto de ter decorrido relativamente pouco tempo
suposta ilimitação material das opções de Direito entre a sua criação moderna e a atualidade em
Constitucional que vivemos. Ele não contempla, portanto,
2. Transversalidade: o Direito Constitucional conceitos e soluções decorrentes de há muitos
ocupa-se de traçar as grandes opções de séculos porque se assim não fosse, corria o risco
determinada comunidade, o que resulta na sua de se apresentar com debilidade dogmática
relação com múltiplos temas que, inevitavelmente,
são relevantes para a convivência coletiva. 8. Abertura: O Direito Constitucional não é um
Pelegrino Rossi considera que a transversalidade sistema normativo fechado, sendo in uenciado
do Direito Constitucional é observável na medida tanto pelos outros ramos de Direito, como pelos
em que este é composto pelas têtes de chapitre da outros ordenamentos internacionais, mantendo
Ordem Jurídica. A transversalidade traz problemas com todos eles relações intersistemáticas
à harmonização com as zonas fronteiriças de O conhecimento de Direito Constitucional torna-se
outros Direitos. mais marcante pela demarcação das suas linhas
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de fronteira no confronto com outros ramos de
Direito, contendo estes matérias com a Direito Constitucional na ciência do Direit
particularidade de não ser fruto de uma divisão de
tarefas, mas sim surgir com zonas sobrepostas,
presentes tanto do Direito Constitucional como no
- Direito Penal: amplamente limitado pelos
direitos invioláveis que o Direito Constitucional
ramo jurídico que com ele se relacionam
reconhece aos cidadãos
Ao Direito Constitucional concede-se a essência de
uma regulamentação jurídico - normativa, à qual se - Direito Contraordenacional: o Direito
acrescenta uma força hierárquica suprema Constitucional de ne as sanções pecuniárias ou
outras de cariz acessório
- a essencialidade material regulativa
determina que cabe ao Direito Constitucional - Direito Judiciário: o Direito Constitucional
estabelecer as grandes opções da Ordem estabelece as linhas mestre do seu
Jurídica, podendo apresentar-se conexos com ordenamento e da relação dos órgãos judiciários
múltiplos ramos do Direito com os restantes

- a supremacia hierárquico-formal subordina - Direito Processual: o Direito Constitucional


todos os ramos de Direito às orientações dadas impõe certos direitos fundamentais de cunho
pelo Direito Constitucional, acarretando a processual, tais como o Habeas Corpus
necessidade de os regulamentos normativos lhe
serem conformes, ainda que não sejam uma parte - Direito Financeiro: o Direito Constitucional
integrante deste, dada a impossibilidad estabelece as prioridades fundamentais na
de se transpor tudo para a Constituição elaboração do Orçamento de Estado, bem como
das receitas e das despesas de diverso
Assim não pode estranhar-se que as relações do organismos públicos em geral, para além dos
Direito Constitucional com outros ramos sejam mecanismos de controlo, político e jurídico,
mais intensas do que o que acontece com daquela mesma atividade
qualquer outro sector jurídico. Este facto permite
até o desenvolvimento de ramos jurídicos mistos - Direito Fiscal: o Direito Constitucional
(como o Direito Constitucional Internacional ou o fundamenta a tributação e institui os direitos e
Direito Constitucional Penal) deveres dos contribuintes

- Direito Administrativo: o Direito - Direito da Religião: o Direito Constitucional


Constitucional xa as grandes linhas orientadoras protege a liberdade religiosa, numa perspetiva
dos principais temas, como a organização individual e comunitária e no domínio da relação
administrativa (Estado-administração), os direito do poder público com o fenómeno religioso, nas
fundamentais dos administrados, as diversas suas diversas manifestações
manifestações do poder administrativo ou os
termos da intervenção jurisdicional na averiguação - Direito da Economia: não sendo em Estado
da juridicidade administrativa Social a atividade económica desregulamentada,
o Direito Constitucional ocupa-se da disciplina
- Direito Internacional Público: de nição da fundamental do regime económico a
relevância do Direito Internacional Público na estabelecer
ordem jurídica interna, de nição dos poderes
das pessoas coletivas internas no que respeita à - Direito da Segurança: o Direito
participação nas relações internacionais, com a Constitucional xa as orientações fundamentais
natural relevância que é dada ao Estado para cada uma das suas vertentes, como a
segurança externa, interna, internacional ou a
- Direito da União Europeia (EU): o Direito segurança do Estado
Constitucional autoriza essa pertença
comunitária e de de nir as relações entre as
duas ordens jurídicas, sem nunca perder de Embora menos fortes, o Direito Constitucional
vista o carácter primário do poder estadual que apresenta-se igualmente como um sector jurídico
se simboliza na própria ideia de Constituição com muitas opções para o Direito Privado. Isso é
como lei unicamente estadual evidente nos sectores constitucionais do Direito
Constitucional dos Direitos Fundamentais e do
Direito Constitucional da Economia

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- autonomia cientí ca ou dogmática:
Os desa os ao pensamento atestada pela existência de conceitos e
cientí co no Direito Constitucional; princípios privativos, tão importantes como as
peculiaridades regulativas do Direito
Constitucional

- autonomia pedagógica ou didática:


a rma-se pelo facto de, nas escolas de Direito,
ter para si reservado um momento pedagógico
peculiar, separado das restantes disciplinas

A Ciência do Direito Constitucional: Do


Direito Constitucional devem extrair-se orientações
para o dever-ser concreto no plano estadual, daí
que exista a Ciência do Direito Constitucional, cujo
objeto de estudo é o Ordenamento Jurídico-
Constitucional, procurando soluções com base
num dado ordenamento constitucional concreto,
repousando numa dada juridicidade positivada A Ciência do Direito Constitucional foi evoluindo na
sua orientação metodológica, re etindo o debate
O pluralismo metodológico possibilita este geral sobre o pensamento cientí co acerca do
exercício cientí co numa perspetiva Direito. Ao Direito Constitucional colocam-se dois
multidimensional, destacando-se quatro que prementes desa os
orientam o trabalho do constitucionalista
- a operacionalidade dos princípios
1. perspetiva Histórico - comparatística: constitucionais como expressão da força
permite o conhecimento do tratamento de um normativ
mesmo assunto tanto por normas anteriores da Constituição: implica que as soluções
como estrangeiras, no sentido de se práticas que ditam a determinação da Constituição
encontrarem princípios gerais comuns, a m como critério de decisão de juridicidade da Ordem
de se encontrar um fundo explicativo das Jurídica se consubstanciem em orientações
soluções adoptadas

2. perspetiva exegética: encontrar soluções


através da interpretação das normas e integração Elementos de Estudo
de lacunas, tendo as fontes constitucionais como
ponto de partida de nidas a partir de princípios constitucionais, e
não tanto de normas constitucionais. Estes
3. perspetiva dogmática: visa avaliar melhor princípios revelam-se sobretudo importantes na
os dados obtidos a partir das fontes constitucionais integração de eventuais lacunas constitucionais e
através da sua inserção numa lógica sistemática pela sua natural exibilidade
global
- a irradiação do Direito Constitucional
4. perspetiva teorética: é possível a elevação para todos os lugares de Direito: A
acima do Direito Constitucional Positivo e formular Constituição já não é somente um assunto dos
orientações e conceito gerais, com utilidade em políticos ou dos bastidores do poder, mas antes
vários espaços constitucionais. uma ordenação fundamental da vida dos
cidadãos e da comunidade política.
A autonomia da Ciência do Direito Constitucional
não é absoluta, mas antes relativa, dado que é Tal sucede, pelo menos, em três níveis
derivada da Ciência do Direito. Todavia, podem - no Direito Público estadual;
especi car-se traços da sua autonomia - no Direito Privado nacional;
- no Direito daComunidade Internacional e das
- autonomia regulativa (ou normativa): Relações Internacionais.
rma-se na existência de textos normativos
próprios, altamente codi cados no diploma Este é um desa o especialmente árduo no DIP,
Constituição mas que a Globalização trouxe, propiciando que os
princípios e os valores associados ao
Constitucionalismo Contemporâneo, nascido na
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contenção do poder do Estado, possam moldar Os princípios constitucionais traduzem indicações
muitos dos modos de organizar e de agir das de dever-se, que se impõem aos destinatários do
instituições da Comunidade Internacional Direito Constitucional, mas que são muito mais
gerais do que as normas constitucionais, apenas
Quer isto dizer que o Constitucionalismo Total será indicam caminhos a seguir, admitindo diferentes
também um Constitucionalismo Global, mercê das intensidades na respetiva operacionalidade;
transferências dos mecanismos de limitação do
poder público para os sujeito Para além disto, coexistem com princípios
internacionais, assim reorganizando as suas contrários, ao passo que as normas são
relações jurídicas, ainda que a diversa origem do antinómicas, por isso se excluindo mutuamente, e
Direito Internacional Público coloque obstáculos aplicam-se sob diferentes velocidades, ao passo
espinhosos, desde logo a maior proximidade que que as normas assentam numa "lógica de tudo ou
aqui se vive entre a Política e o Direito; nada". Finalmente, os princípios relacionam-se
intimamente com as normas, sendo a aplicação
delas a sua forma de realização
As Ciências A ns e Auxiliares da
Ciência do Direito Constitucional Existem várias classi cações que
permitem o enquadramento dos princípios
A Ciência do Direito Constitucional não está isenta constitucionais
de ciências a ns, que tratam do mesmo objeto
regulado pelo Direito Constitucional, e ciências - princípios constitucionais jurídicos
auxiliares, que fornece (sistema jurídico) e princípios
informações importantes para a compreensão do constitucionais políticos (conformação do
Direito Constitucional poder público do Estado)
Torna-se necessário conhecer o modo como estas
ciências se interrelacionam, para demarcar as
zonas de vizinhança, de forma a evitar
- princípios constitucionais materiais ou
sincretismos metodológicos ilegítimos e porque é princípios constitucionais organizatórios:
fulcral admitir que as ciências, sejam elas quais os primeiros dizem respeito a questões de
forem, já não se desenvolvem no seu isolamento, fundo, os outros prendem-se com a distribuição
mas antes na interdependência de competências dentro do sistema político.
Estado)
As ciências a ns
- Ciência Política - princípios constitucionais sociais,
- Teoria Geral do Estado económicos e garantísticos: orientações
- Sociologia Política relevantes, como princípio da universalidade, do
- História das Ideias Políticas e História Política planeamento da economia, da
- Filoso a Política constitucionalidade, da separação e
- Política Constitucional interdependência de poderes
- Constitucionalismo Económico
- princípios constitucionais supra-positivos
As Ciências Auxiliares: e princípios constitucionais positivos: os
- Ciência da Linguagem primeiros decorrem do Direito Natural, os outros
- Estatística e Matemática representam opções livres da comunidade
- História estadua
- Sociologia
- Economia - princípios constitucionais lógicos e
- Antropologia;Geogra a e Astrofísica princípios constitucionais valorativos: os
- Geogra a e Astrofísica primeiros integram uma ideia de racionalidade,
os outros incarnam a defesa de valores
É diversa a natureza dos elementos de estudo com fundamentais dos cidadãos
que se deve partir, salientando-se quatro tipos
Os princípios constitucionais têm várias
1. Elementos doutrinais
2. Elementos legislativos
funções
3. Elementos jurisprudenciais
4. Elementos documentais função legitimadora: de nem a aceitação da
OC, permitindo-se fazer um juízo da sua validade
O sentido dos princípios constitucionais em geral material

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Princípios Constitucionais

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função normogenética: são aptos à produção - parte substantivo-doutrinal, em que se
direta de uma orientação de dever-ser que é apresentam as ideias que vão enformar o novo
acatada pelos órgãos aplicadores de Direito texto constitucional

função interpretativa: possibilitam a calibração


de entendimentos hermenêuticos relativamente Normas Constitucionais
aos preceitos constitucionais. Direito;

função integradora: orientam o preenchimento - parte protocolar-formal


de lacunas
Este preâmbulo mantém-se inalterado desde a
Na Constituição da República Portuguesa, os Assembleia Constituinte, mas há a necessidade de
princípios constitucionais são considerados proceder à sua alteração na próxima revisão
componentes ativos da Ordem Constitucional, constitucional
servindo até, a par das normas constitucionais,
para controlo da constitucionalidade de atos O sentido das normas constitucionais em geral
jurídico-públicos;
Apresentam uma estrutura dualista: a previsão e a
estatuição. Estabelecem critérios materiais de
Relevância dos Preâmbulos Constitucionais decisão, com a preocupação de serem aplicadas
na totalidade. As normas de Direito Constitucional
deixaram de ser normas meramente internas
Logicamente, os preâmbulos estão antes do (aplicáveis ao Estado-Poder), para passarem
articulado constitucional e, por isso, não fazem também a dizer respeito ao Estado-Sociedade
parte do enredo que se vai relatar
Classi cação das Normas
Assim, existem três modalidades de preâmbulos

1. preâmbulo formal-protocolar: consiste na


- normas primárias e secundárias: as
adoção de uma pequena fórmula que primeiras estabelecem critérios de decisão, as
antecede o primeiro artigo do texto outras xam consequências para a violação das
constitucional, referindo-se ao órgão, ao local primeiras
e à data da sua aprovação
- normas prescritivas, proibitivas e
2. preâmbulo histórico-narrativo: consiste permissivas: as primeiras obrigam a um
na descrição das circunstâncias histórico- comportamento, as segundas proíbem um
políticas que rodearam o nascimento da comportamento, as últimas permitem um
Constituição comportamento

3. preâmbulo normativo-ordenador: - normas materiais e remissivas: as


consiste na atribuição ao preâmbulo da primeiras estipulam um critério material de
mesma força dispositiva do texto decisão, as outras estabelecem uma ordenação
constitucional de dever-ser, por referência a normas materiais;

Os preâmbulos são bons indicadores da evolução


histórico-constitucional do Estado, tanto que
aqueles Estados com o constitucionalismo Segundo Jorge-Exequíveis e hereto-
implantado há mais tempo têm preâmbulos curtos
e sóbrios, e aqueles que recentemente alcançaram - normas comuns e particulares: as
a independência ou passaram por mudanças
primeiras aplicam-se aos destinatários em
constitucionais, ostentam preâmbulos maiores e
geral, as outras dirigem-se a certas categorias
mais explicativos das alterações ocorridas
de pessoas
É o caso da CRP, com um preâmbulo que - normas gerais, especiais e excecionais:
se divide em três partes as primeiras aplicam-se à globalidade das
situações, as segundas estabelecem desvios
- parte histórico-narrativa em face de um regime para fazer face a um
certo grupo de casos, as últimas xam um
regime oposto ao xado nas normas gerais
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- normas nacionais, regionais e locais; outro ato jurídico-público para serem
executadas (p.e. liberdade de expressão)

2. Normas constitucionais precetivas


Classi cação Própria do Direito Constitucional hetero-exequíveis: têm e cácia imediata
mas indireta, precisando de um ato jurídico-
público complementar para serem executadas
- normas substantivas e normas (p.e. efetividade da nova entidade reguladora
adjectivas: as primeiras consagram regimes da comunicação social)
jurídicos, com soluções para os problemas que
pretendem resolver; as segundas dispõem os 3. Normas constitucionais programáticas,
mecanismos de defesa desses mesmos
por de nição sempre hetero-
regimes
exequíveis: estipulam objetivos a atingir,
- normas materiais, normas mas sem que a respetiva força jurídica se
imponha imediatamente, para o efeito
organizatórias e normas carecendo de atos jurídico-públicos de
procedimentais: as materiais dizem respeito execução (p.e. o direito à segurança social, à
ao objeto e ao conteúdo dos atos, xando-se a cultura…)
respetiva disciplina; as organizatórias às
atribuições e competências de pessoas
coletivas; as procedimentais regulam os
trâmites dos atos jurídico-públicos Poder Político
Algumas modalidades de normas
constitucionais
A atividade humana carece de regulação
Normas preceptivas e programáticas (estruturação, organizações e procedimentos) para
que se atinjam os altos padrões da boa
convivência social. Assim, nasce o poder político,
1. Normas preceptivas: de aplicação
cujo objetivo é harmonizar os diferentes objetivos
imediata, pode exigir-se a estatuição assim
dos indivíduos e grupos
que se observe a situação (a previsão).
Contudo, podem ser suspensas (por exemplo:
no Estado de Sítio) As distorções da tarefa do poder político
comportam dois possíveis resultados
2. Normas programáticas: de aplicação
mediata/diferida, a estatuição ca adiada até - Anomia ou Anarquia: ausência de poder
que se reúnam condições para ser aplicada. político, com muitos casos de irracionalidade
São vinculativas em relação aos ns, mas não
com a mesma força que a normas - Ditadura ou Totalitarismo: poder políticos
preceptivas arbitrário, não respeitando as liberdades da
comunidade que gere
Normas auto-exequíveis e hereto-
exequíveis - Poder político: capacidade de criar normas
que regulam comportamentos e de as impor,
1.Normas auto-exequíveis: apresentam a através de um aparelho coativo, se necessário
capacidade inata de se executarem por si mesmas

2. Normas hereto-exequíveis: de
aplicabilidade indireta, necessitam de outra norma
de valor inferior para ser concretizada (age em
conjunto com esta, p.e. normas de direitos sociais) Tem, portanto, duas dimensões:
- Dimensão Subjesctiva: através da qual o
1. Normas constitucionais precetivas poder político exprime orientações jurídicas
auto-exequíveis: dotam-se destinadas à regulação da vida em
simultaneamente de e cácia imediata e direta, comunidade;
pois ganham sentido logo na realidade - Dimensão Adjectiva: em que o poder
constitucional e não carecem de qualquer político se “defende a si próprio", organizando a

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obediência que os outros lhe devem. Ainda que - a teoria do pacto de sujeição
a existência de estruturas de desempenho de revogável opõe-se à teoria anterior na
poder político não seja contestável, o mesmo medida em que admite a destituição ou
não sucede com a sua origem, a causa que tiranicídio dos governantes pelo povo
explica a atribuição e a limitação intrínseca do
próprio poder
- as teorias contratualistas
democráticas, como a de Locke, defende a
limitação do poder político, sendo este radicado
na vontade da comunidade e responsável pela
Ainda que a existência de estruturas de proteção dos direitos fundamentais dos
desempenho de poder político não seja indivíduos
contestável, o mesmo não sucede com a sua
origem, a causa que explica a atribuição e a
- a teoria do contrato social em favor de
limitação intrínseca do próprio poder um poder parlamentar, defendendo o poder
político ilimitado (Rousseau)
Origem Naturalista: nascida no pensamento de
Aristóteles, que advoga que o Homem é um animal
político, esta teoria a rma que o poder político se Com a Idade Contemporânea e o
apresenta como necessário à organização social, Constitucionalismo, a origem do poder político,
para a qual os seres humanos tendem, ainda que sendo popular, oscilou entre a soberania nacional
contra a sua vontade individual, mas de acordo (que reconhece o poder político na comunidade
com a sua sociabilidade inata. Aristóteles sociológica e histórica) e a soberania popular (que
argumenta que o Homem só o é quando vive numa aceita que o poder político resida na comunidade
comunidade organizada, tendo a socialidade como através de cada um dos seus membros; os
m a atingir (que só é realizável no Estado). Mais, cidadãos têm direitos de participação política). Nos
o m do Estado é apenas a realização do bem tempos mais recentes é consensual que o poder
pleno político reside na vontade dos cidadãos, que
livremente estruturam a comunidade política
Origem Teológica:  defende que todo o poder é
através da aprovação da Constituição
derivado de Deus, sendo este a causa nal de tudo
e de todos, bem como a criação em geral|
- As teorias teocráticas As teorias da origem voluntária e minoritária
divinizam os reis
coincidem ao considerar que a atribuição da
(são, normalmente monárquicas), sendo-lhe até
possibilidade de escolha do poder político deve
prestado culto
recair sobre um grupo restrito, não sendo
- As teorias do direito divino verdadeiramente democráticas
sobrenatural implicam que os governantes
sejam diretamente escolhidos por Deus, - Despotismo Esclarecido: funda o poder
exercendo um poder que é um dom divino, político na iluminação do rei, estando este
observável pela ajuda na realização de feitos acompanhado pela sua elite bem-pensante,
históricos repudiando a origem divina
- as teorias do direito divino - Doutrina marxista-leninista: preconiza a
providencial consagram que os governantes ditadura do proletariado, tendo sido aplicada nos
não são diretamente designados por Deus, Estados soviéticos, entregando o poder político
antes pelo povo, sendo este o primeiro detentor e o sistema económico apenas à classe
do poder político e responsável por atribuí-lo a operária
quem achar mais conveniente (destaque para - Totalitarismos de direita: regimes
São Tomás de Aquino) fascistas e fascizantes, negaram a democracia,
- Origem Voluntarista: argumenta que os exercendo um poder político autoritário
Homens decidem sair do Estado Natureza para argumentado pelo interesse da nação e assente
construir a Sociedade, sacri cando parcelas das na organização corporativa da sociedade, tendo
suas liberdades individuais para criar, através em conta as conceções belicistas e organicistas
de um pacto ou contrato social, um poder
político que proteja a todos de igual forma. O Poder Político e outros podere
- a teoria do pacto de sujeição Para além do poder político, que pode impor-se
irrevogável e absoluto, como a de fazendo uso da força, se necessário, existem
outros poderes que movem os indivíduos e grupos
Hobbes, confere aos governantes o poder de
sociais, podendo até ser mais efetivos que o poder
vida e morte sobre os súbditos, fazendo com
político, ainda que não se caracterizem pela
que os homens saíssem da guerra de todos
coercibilidade, fazendo-se impor através de uma
contra todos para criar a sociedade
lógica de persuasão

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entidades, numa tentativa de manutenção da
- Poder Social: resume-se à circunstância da segurança e convivência coletiva, limitado ao
vida em sociedade estar submetida a tradições espaço territorial e de comunidades tradicionais
comuns e a normas de comportamento, em - Com a organização estadual, estas entidades
conformidade com certos padrões de etiqueta foram extintas ou então existem
social, de onde se extrai um dever-ser (sem clandestinamente, sendo que o poder político é
proteção coativa), à qual se dá o nome de exercido à revelia do poder estadual, estando
O r d e m d e T r a t o S o c i a l . To d a v i a , o con nado a determinadas parcelas do território
incumprimento desta ordem não acarreta
sanções, mas antes juízos subjetivos de censura Entidades Infraestaduais
ou reprovação social - Inserem-se no âmbito territorial do Estado,
- Poder Religioso: expressão da vontade das apresentando-se com autonomia organizatória e
organizações religiosas ao estabelecer normas funcional por ele entregue, oriundas de um
disciplinadoras da atitude dos respetivos processo de descentralização do poder político.
crentes. Trata-se da Ordem Religiosa, A qualidade das suas competências exercidas é
disciplinadora de um dever-ser vertical (entre os menos intensa, tal como é menor a extensão
crentes e Deus) e horizontal (entre crentes). espacial da atividade dos respetivos órgãos
Aqueles que incorrem no incumprimento dos - Estas entidades que corporizam espaços
imperativos religiosos são pecadores, sofrendo territoriais com autonomia jurídico-pública e têm
sanções espirituais em terra, ou no mundo pós- poderes (ainda que limitados), correspondem ao
terreno contexto geral das entidades que se situam
Poder da Comunicação Social: assenta abaixo do Estado a que se vinculam. São
exemplos as Regiões Autónomas, no caso de
na função de intermediação que os meios de
Portugal, ou as Regiões Administrativas
comunicação social facultam entre as notícias e os
Especiais de Hong Kong e Macau, na China
cidadãos. Usados de certo modo, os instrumentos
de comunicação e informação podem ser
desvirtuados e in uenciar os cidadãos para além Entidades Interestaduais
dos factos que querem relatar. A força deste poder - Representam a possibilidade de duas ou mais
afere-se pelo seu contributo na formação da realidades estaduais se associarem, criando os
opinião pública, que resume o conjunto das Estados compostos, em que essas realidades
opiniões publicadas que limitam os decisores estaduais não desaparecem, mas cam com
políticos e a opinião dos cidadãos em geral poderes limitados

Podemos ainda enumerar


- Poder Económico
- Poder Militar
- Poder cultura Desses Estados compostos podem
- Poder Desportiv criar-se duas subespécies
- Poder Cientí c
-. Estados Federais: a nova realidade
estadual, não fazendo desaparecer os Estados
O Poder Político e as Diversas entidades Membros, adquire a natureza estadual com base
Jurídico-política na criação de uma nova estrutura de sobreposição
em relação àquela que permanece nos Estados
O poder político ganha um real sentido quando Federados;
associado às estruturas que exprimem a sua
concretização. Havendo poder político, a principal
- Uniões Reais: a nova realidade estadual
surge numa estrutura de fusão com algum(ns)
entidade detentora deste é o Estado
Estado(s) membros dessa União, pertencendo
tanto à União, como ao Estado membro dessa
No entanto, este não é o único, dado que delega
União, sendo fundada num tratado
funções a outras entidades, passando também
internacional
estas a deter uma parcela do poder e existindo
outras não derivadas daquele - Associações confederativas, em que a
transferência de poderes estaduais não é total,
mas parcial, criando as confederações, muito
Entidades Pré-estaduais mais limitadas do que os Estados compostos.
- Anteriores à conceção e desenvolvimento do As confederações são associações de Estados,
Estado, as mais representativas confundem-se fundadas num tratado internacional, que
com os primeiros indícios de organização da consagra as atribuições transmitidas, bem como
coletividade, em que o poder era entregue a os órgãos responsáveis pela sua prossecução
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- Organizações internacionais, permitem
o aparecimento de una nova entidade jurídico- É o Direito Constitucional o sector jurídico que
primacialmente traça o estatuto do Estado, como
principal entidade jurídico-política, em nenhuma
O Estado como principal entidade Jurídico-política outra estrutura de poder político o Direito
Constitucional se apresenta com tanta intensidade
regulativa.;
internacional, regulada pelo Direito Internacional - O Estado em geral: conceito, características,
Público, sem caráter estadual ns, aceções e nomenclatura
Sendo compostas por dois elementos
- o elemento organizacional - atende à Nos dias de hoje, o Estado, herdado da Idade
formação de uma nova pessoa coletiva, dotada Contemporânea, é o principal modo de
de órgãos próprios, que lhe imputam uma organização política e social, que satisfaz os
vontade funcional em nome de interesses interesses dos cidadãos, tendo-se mantido estável
privativos na sua essência ao longo da História
- o elemento internacional - refere-se à É a estrutura que, num dado território, exerce o
regulação pelo Direito Internacional, não sendo poder político soberano, em nome de uma
primeiramente criada pelo Direito Interno comunidade de cidadãos que ao mesmo se
vincula

Entidades Para-estaduais
São estruturas sem teor estadual, ainda que se Características do Estado
aproximem desta realidade, havendo vários - complexidade organizatória e funcional:
motivos para tal se suceder, havendo dois um mínimo para atingir os seus objetivos,
grupos possíveis acarretando uma pluralidade de tarefas,
- os beligerantes e insurretos: marcados organismos, atividades e competências
pela brevidade da sua existência, sob a - institucionalização dos objetivos e das
promessa de virem a exercer poder político
atividades: separação dos interesses pessoais
dentro do Estado onde atuam
e particulares dos interesses do Estado, criando-
- Os beligerantes são grupos que se a ideia de personalidade coletiva
procuram a luta armada em prol da mudança
do sistema político do Estado em que se
- autonomia dos ns: o Estado dissocia os
inserem, não extravasando, portanto, para seus ns daqueles pretendidos pelos seus
outros Estados, nem tendo uma implicação membros individualmente considerados,
internacional. Devem ocupar uma parte do realçando a ideia comum
território, levando a cabo uma atividade bem- - originariedade do poder: o Estado é
sucedida detentor do poder político e expressa-se em
- Os insurretos são também grupos função deste. O poder político é constitutivo dele
armados que buscam o derrube do sistema mesmo, de tal forma que é o Estado que se
político, contudo, não se estabelecem numa autodetermina e auto-organiza; realçando a ideia
zona de nida do território, espalhando as de bem comum
suas guerrilhas em diversas zonas, não se - sedentariedade do exercício de poder:
encontrando uma que seja a "sede" do não havendo Estados virtuais ou Estados
controlo político-administrativo nómadas, para o ser, o Estado carece de uma
- Minorias nacionais ou os localização espacial
movimentos de libertação nacional: - coercibilidade dos meios: o Estado é o
entidades que não são Estados, mas agem depositário supremo das estruturas de coerção,
na promessa da sua criação futura. Querem que permitem a aplicação do Direito
transformar o território onde habitam (bem
como a comunidade que o habita) numa
realidade estadual, dando origem a uma
unidade jurídico-política onde já existe uma
unidade histórico-geográ ca. A atividade
que desenvolve não é necessariamente
bélica, podendo ser puramente diplomática,
Fins do Estad
chamando a atenção para a justeza da Segurança
criação daquela nova realidade. Os seus
objetivos são conseguidos através da
proclamação de independência política.
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2022 Universidade Autónoma


- segurança externa: proteção contra
agressões externas no plano territorial, das
pessoas e do poder
- segurança interna: manutenção da ordem
pública, da segurança das pessoas e dos bens,
bem como aplicação geral do Direito

Justiça
- justiça comutativa: impõe o estabelecimento
de relações de igualdade, abolindo as situações
de privilégios
- justiça distributiva: atribuir a cada um aquilo que
merece de acordo com o seu mérito ou pela sua
situação real

Bem-estar
- bem-estar económico: provisão de bens
que o mercado não fornece ou fornece
insatisfatoriamente
- bem-estar social: prestação de serviços
sociais e culturais a cargo do Estado

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