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Tillie Cole - Hades Hangmen 06 - Crux Untamed (SCB)
Tillie Cole - Hades Hangmen 06 - Crux Untamed (SCB)
Romance Dark contemporâneo M/F/M. Contém cenas de violência e situações sexuais explícitas. Para
maiores de 18 anos.
Glossário
Terminologia da Ordem
Neve: Cocaína.
Gelo: Metanfetamina.
Traço: Heroína
Sia
Sete anos atrás
México
Mas ele não era perfeito... o homem que eu amava... por quem me
apaixonei tão rapidamente e profundamente... não era o homem que eu
achei que ele era.
“Não quero feri-la,” diz ele, sua cabeça se move, então seu nariz
pode correr ao lado do meu pescoço. Sua mão segura minha cintura. Ele
ainda cheira tão perfeito como sempre. Ele ainda parece tão bonito como
era no primeiro dia que o conheci. Tudo nele me atraiu. E agora eu estava
presa. A garota estúpida enganada pelo sorriso bonito do diabo.
Sia
High Ranch, Austin, Texas
Dias de hoje
“Firme... firme...”
“Bem,” ele diz, mas minha atenção volta para Ky quando meu
irmão diz: “Vá para dentro, irmã. Nós precisamos conversar.”
“Pela primeira vez em sua vida, porra, você vai apenas fazer o
que eu digo, Sia?” Ky diz, exasperado. Seu rosto está vermelho... na
verdade, assim como seus olhos.
Cruzo os braços sobre o peito. “O que está errado? Por que seus
olhos estão vermelhos? Por que você parece uma merda?” Eu balanço
minha cabeça. “E vamos direto ao ponto, por que você me arrastaria
como uma maldita criança?”
“Entre.”
“Mi rosa negra.” O eco da sua voz sussurra em minha mente. Seu
pesado sotaque mexicano corre em torno das palavras como um lenço
de seda delicado envolvido em torno de uma videira cravejada de
espinhos.
Pior ainda, quanto mais olho para essa foto, mais alguém vem à
minha mente, um rosto que eu reflexivamente lembro várias vezes ao
dia. Imagens breves do que poderia ter acontecido com ela. Mas sempre
apenas o suficiente para me insultar; não sei como desbloquear
mentalmente o resto. Onde ela foi—
Então, eu escapei...
E um homem...
“Não dou a mínima se você quer vir ou não, Sia. Você virá, e é
isso.”
Meu coração bate mais rápido. “Eu. Não. Vou. Clara não
consegue lidar com tudo sozinha. Temos duas éguas e um potro, dois
broncos selados1 que necessitam de formação. Sou necessária aqui.”
Styx pigarreia. “Vocês dois são muito parecidos. Ambos são uma
dor na minha bunda.” Ele faz uma pausa, em seguida, continua, “mais
coisas estão acontecendo no clube do que você sabe. Então, que tal você
se acalmar e parar com todos os seus dramas. Eu tenho o suficiente
diariamente com os meus irmãos, porra, sem adicionar você na mistura.”
Seus lábios estão apertados, e sei que não conseguiria as coisas do meu
jeito. “Você virá com a gente. Não estou lhe dando uma opção. Você é da
família Hangmen. E aquele filho da puta está farejando em volta. Arrume
sua mala para que a gente possa ir embora, porra.”
1
N.T: Bronco selado - Cavalo que está sendo treinado para atuar nos circuitos de rodeio.
Sentindo-me como uma adolescente de mau humor, passo por
Styx em direção ao meu quarto, e esbarro nele enquanto caminho. Ele
nem sequer se move. “Às vezes eu odeio a família em que nasci. Porcos
chauvinistas. Todos vocês têm um complexo de Deus, porra.”
Engulo em seco, mas concordo. Lilah sorri, e seu cabelo cai sobre
os olhos. Lilah conheceu homens como Garcia. Ela viveu com o pior
quando criança. No entanto, ela conseguiu ultrapassar para o outro
lado.
“Espero que você esteja bem com café descafeinado. É tudo o que
temos.”
“Sim, está tudo pronto para você,” diz Lilah. “Boa noite, Sia. Nós
vamos nos ver ainda mais amanhã.”
Hush
Uma risada falsa, porra, vem de Viking quando ele olha para o
seu telefone. AK olha na direção do irmão. Vike levanta os olhos e ergue
as sobrancelhas. “Sangue novo, filhos da puta. Tem uma buceta fresca
hospedada no complexo.”
2 Chopper - são motocicletas customizadas de forma a deixar o sistema dianteiro das motos modificados, principalmente com
guidões alongados.
3 Stetson – Chapéu emblemático usado por cowboys e homens ligados a fazendas e áreas rurais.
Viking joga a perna por cima do banco de sua Harley. “Apenas
um ovo de ouro, porra.”
“Isso significa, Hush baby, temos uma inatingível.” Ele pensa por
um segundo e depois sorri. “Assim, se você tocá-la as suas bolas serão
cortadas somente pelo prazer.”
Espero que ele continue. Vike ama o drama. Mesmo Flame olha
para ele quando se inclina para frente e anuncia: “Certa irmã se mudou
para o complexo. Certa irmã com longos cabelos loiros, olhos azuis e
mmm...” ele geme e toca o seu pau sobre o jeans. “Aquele corpo, os
seios... aquela bunda redonda, suculenta.” Ele abre os olhos. “Sim, a
cadela está apenas implorando para um passeio na anaconda. Pelo
menos ela estará, quando eu trabalhar o charme da cobra Viking nela.”
Sia... Vike começa a falar de beijos, sobre como ela o fodeu com
os olhos no casamento de Styx. Mas estou congelado, pensando na
irmã de Ky. Sinto os olhos de alguém em mim. Olho para cima. Cowboy
levantou o Stetson e está me olhando. Uma única sobrancelha
levantada lentamente. Um segundo depois, afasto-me do estupor e
deslizo sobre a minha moto. Sintonizo-me novamente na conversa, e
ignoro Cowboy, que ainda está me observando. Sei por que, mas não
ficarei com a sua besteira agora.
“Isso deixa apenas eu,” diz ele alegremente e volta à sua moto.
“É hora de Viking bater e pilhar uma buceta.”
*****
“Vocês estão de volta,” Tank anuncia assim que entramos no bar
do clube. Tanner está sentado ao lado dele. Olho para os dois como
sempre.
Tank não parece tão ruim. Ele conseguiu cobrir a maior parte da
tinta Nazi com a merda de Hades. Mas Tanner, a porra do príncipe
Branco da Klan, fez-me sentir nada além de raiva. O irmão pode dizer
que mudou seus caminhos, e caiu nas boas graças de Styx. Mas eu
nunca confiarei em qualquer membro da Klan. Minha mão esquerda se
contrai para retirar minha Glock e empurrar a porra do barril contra
seu crânio, o que ele raspou a maior parte de sua vida para que cada
filho da puta soubesse a que ‘pessoas’ ele pertencia. E que ‘pessoas’,
pessoas como eu, ele vivia para destruir.
5Cajuns são os descendentes dos acadianos expulsos do Canadá e que se fixaram na Luisiana (EUA). Esta população tem uma
cultura própria, em especial uma variedade de música popular e de culinária, e utilizam o francês como segunda língua.
Tomo meu assento na igreja. Styx e Ky tomam os principais
assentos. Quando a porta se fecha e os prospects — Lil' Ash, Zane e
Slash — trazem o licor, Ky começa a falar.
“Por que diabos você a trouxe se ele vai procurar aqui primeiro?
Parece muito contraditório para mim, não?” Pergunto, os olhos
metálicos de Ky batem nos meus.
Quando abro os olhos, olho para Cowboy, acenando para que ele
soubesse que estou calmo. Viking estava nos observando do outro lado
da mesa. Ele ergue as sobrancelhas, fazendo um estúpido movimento
de beijo com a boca, mas como de costume com o irmão, sua atenção
está sobre nós por um total de três segundos antes de qualquer outra
coisa entrar em sua cabeça. “Prez?” Ele pergunta, os olhos castanhos
de Styx bloqueando no secretário do clube. “Mentes inquisidoras
querem saber-”
Sinto Cowboy ficar tão tenso quanto eu. E como se soubesse que
a temperatura do meu sangue havia chegado a mais de cem graus de
merda com o pensamento de Sia sendo buceta livre, sua mão está de
volta na minha perna, agarrando-me com mais força desta vez. Abro a
boca para dizer algo, mas Styx rompe com seu silêncio estranho e se
inclina para frente.
Todos saem.
Cowboy segura a minha perna até a sala ficar vazia. “Você está
bem, mon ami6?” Ele pergunta, procurando o meu rosto.
“Fique. Não quero montar ainda.” Olho para minha mão. Ela
ainda está tremendo.
“Sobre Garcia?”
Sia.
“Sim, senhora.”
“Bem.” Ela olha para o conteúdo do seu copo. O seu sorriso cai,
e ela calmamente acrescenta: “Não tenho certeza quando voltarei para
o meu rancho embora.” Ela termina o resto do seu uísque e faz um
gesto para Lil' Ash dar-lhe outro.
A tristeza em sua voz me faz olhar para ela e parar de olhar para
o topo da mesa. “Sim. É uma droga você ter que estar aqui, Cher,”
Cowboy concorda. Ele estende a mão sobre a mesa e aperta a dela...
então apenas a deixa lá. Os olhos dela encontram os dele. Suas
bochechas ficam rosadas. Cowboy lhe dá um de seus sorrisos imã de
buceta.
Cowboy exala, mas ele segura meus olhos por uma fração de
tempo muito longo. Balançando a cabeça, ele diz, “Está bem.”
“Ela gosta de você. E você a fez se sentir como merda. Era visível
em seu rosto. Na verdade, você estava sendo rude pra caralho.” Cowboy
suspira. “Voltamos a isso? Você quer pressionar o botão de
autodestruição de novo?”
Sia
Duas semanas depois…
“Meu marido não é uma fera!” Maddie estala. Eu fico tensa com
as palavras dela. Foi a declaração mais agressiva que já tinha ouvido
de sua boca.
Passo a mão pelo meu rosto, sabendo que meus olhos tinham
olheiras, como se fossem a mais nova moda de Paris. Preciso de meus
cavalos. Preciso do conforto que me dão. Eu preciso da familiaridade
da minha casinha da fazenda com rangidos e gemidos. Preciso das
dores em meus músculos e o cheiro de sabão e de couro que permeia
o ar.
Ele estava sentado perto do fogo com Styx. Como eu disse antes,
não sou uma de suas mulheres. Não aceitaria nenhuma merda deles,
mesmo que estivessem no topo da sala como reis escuros em seus
tronos fodidos.
“Sai fora, Sia,” Ky diz, sacudindo sua mão com desdém. Isso me
fez ver vermelho, o resíduo da ansiedade que tinha saltou sobre mim
como um fantasma na noite, fez eu me perder.
Vou até meu irmão, que tinha começado a tomar um gole de sua
cerveja, e bato no filho da puta direto na cabeça.
9
Originário das Ilhas Samoa.
peludas chutadas. De preferência por alguma mulher-montanha que
entregaria suas bundas sexistas vestidas de couro a eles em um prato.
“Eu vou, Ky. E você não pode me parar. Eu faço meu próprio
dinheiro. Tenho a minha própria vida, e este lugar não tem qualquer
parte nela.” Aproximo-me, e desta vez eu incluo o rosto furioso de Styx
na minha audiência. “Os velhos irmãos gostavam desse tipo de coisa,
mas eu cresci. Eu não era bem-vinda aqui. Quando queria vir para dias
da família e churrascos, para fazer parte do clube, me disseram para
calar a boca e ficar escondida como o 'erro' que eu era. Então, com
certeza pra caralho não pertenço a esse lugar agora. Estou indo para
casa.”
“É perigoso,” Ky adverte.
“Eu tenho que ir, Ky,” insisto, implorando-lhe com os olhos por
entendimento.
“Não eu.” Ele olha ao redor do bar. Para os olhos que estão nos
olhando, e sei que todos tinham ouvido a última parte da conversa.
“Ele tem uma senhora em casa, Ky. Você não pode fazer isso.”
“Eu podia ir com eles. Ajudo a proteger todos,” diz uma voz do
bar. O irmão mais novo de Flame, Ash. AK estreita os olhos na criança,
mas balanço a cabeça. Não era certo arrancá-los de suas vidas. E não
quero todas essas pessoas que eu mal conheço comigo.
“Bon.”
“Não.”
“Combinado.”
Não entendo por que essa pergunta fez Ash segurar o volante
como se fosse a única coisa que mantinha os seus pés no chão. Mas
acrescento: “Não foda as vagabundas. Espere por uma garota que você
ama. Um garoto como você vale muito mais do que as prostitutas que
infestam este lugar.” Eu não espero para ouvir a resposta. Nem mesmo
acho que ele me daria uma. Em vez disso, saio da caminhonete e entro
na cabana vazia para arrumar minha mala antes de Lilah voltar com
Grace.
*****
Michelle ...
“Si, bella. Você é minha. Eu nunca tive uma mulher como minha
antes. Mas estou quebrando todas as minhas regras por você.” Então ele
me beijou, seus lábios macios deixando uma mancha invisível na minha
boca seca. “E você será feliz ao meu lado. Uma imperatriz para um
Imperador.” Ele me levantou do chão e me guiou para fora do quarto.
Muito fraca para lutar, eu andei para o sol, o tempo todo me perguntando
em que merda eu me meti. E como diabos sairia disso...
Eu sei que o quarto está vazio, mas minha mente gosta de pregar
peças em mim. Ele estava na cadeira no canto da sala, fumando seu
charuto cubano, uma tequila na mão. Ele se levanta, seu terno preto e
prateado tão intocado como eu nunca vi, e se move para mim na cama.
Estou congelada quando ele se senta ao meu lado e sorriu. “Mi rosa
negra,” ele ronrona e me beija. Meus olhos se fecham. Quando ouso
abri-los novamente, estou sozinha no quarto.
O nascer do sol.
Ele não reage à minha pergunta. Quando me viro para olhar seu
rosto, eu não tenho certeza que há qualquer luta deixada nele. Isso me
assustou mais do que qualquer coisa. Porque meu irmão era uma
sirene no nevoeiro; ele era forte e rude. Mas agora, ele parecia
quebrado.
Mamãe.
“Ky,” sussurro, agora entendendo por que ele estava tão ruim
ultimamente.
Ky assente, mas ele não fala. Sei que ele não pode. “Você não é
ele, Ky,” eu o asseguro. “Você ama Lilah mais do que qualquer um que
eu já vi. Você assumiu Grace de uma situação que ninguém pode
compreender, e essa menina é tão feliz. Ela adora você e você a adora.”
Eu coloco minha mão no rosto de Ky e o obrigo a me encarar. “Lilah vai
ficar bem. Você, sem dúvida, tem os melhores médicos cuidando dela.”
Ky exala, como se precisasse ouvir essas palavras. “E eu ficarei bem.”
Sorrio e balanço a cabeça para tranquilizá-lo. “Hush e Cowboy vão me
proteger. E se houver qualquer indício de perigo, eu chamarei. Vá me
checar quando quiser.” Abraço-o com força. “Ficarei bem. Nós todos
vamos. Tenha fé, irmão mais velho.”
Cowboy
É Sia.
Hush golpeia minha mão. “De que porra você está rindo?”
Hush se vira para olhar pela janela novamente. “Ela é, Aub. Isso
é o que você parece não conseguir colocar no seu cérebro do caralho.”
Ele balança a cabeça. “Você só não vai deixar isso passar, porra. Todas
as piscadelas e o levantar de sobrancelhas, o cumprimento com o seu
maldito chapéu Stetson filho da puta a qualquer momento que ela
mencionar ou falar com a gente. Eu te disse antes e vou dizer de novo,
não estou interessado. Apenas pare com os joguinhos, porra.” Seus
ombros tensionam, “Você a quer tanto assim? Foda ela. Você quer
minha permissão por escrito ou algo assim?”
“Calma, não bati em você desde que éramos crianças, mas vou
te dizer agora, seu bastardo miserável, se você não parar de me
empurrar, eu posso simplesmente explodir e ser forçado a torcer seu
braço... e dizem que minhas torções são realmente dolorosas.” Espero,
com um sorriso de merda espalhado em meus lábios. E chamo isso de
uma grande e fodida vitória quando vejo seu rosto se contorcer e seu
lábio curvar ligeiramente do lado.
“Lugar legal que você tem aqui, Cher,” digo. Sia sorri para mim,
seus olhos azuis capturando os meus.
Sia vira-se e estende a mão sobre o console para pegar sua bolsa.
Eu sei que não deveria olhar para baixo — código dos irmãos fora da
lei e tal — mas não tenho escolha. Eu seguro forte a porta e luto contra
um gemido quando ela leva seus braços mais para frente, a forma da
sua bunda apertada totalmente em exibição. Olho para a minha
caminhonete, pegando os olhos de Hush. Seus braços estão cruzados
sobre o peito. Eu pisco e sorrio — exatamente o que ele tinha acabado
de me dar merda dentro da caminhonete.
“Vou levar isso para você, Cher,” ofereço quando Sia traz a bolsa
para fora da cabine.
“Está tudo bem,” ele diz. Balanço a cabeça para Sia e lhe dou
uma piscadela.
“Nesse caso, é por aqui.” Sia nos leva para cima e mostra duas
portas. Ela abre uma. “Meu quarto está ali, em frente,” ela diz e nos
deixa entrar. A cama grande fica no centro.
Ela mal deu dois passos quando eu digo: “Espere. Vou com você.”
Sia recua, aturdida. “É por aqui.” Caminho ao lado dela até que
estamos fora da casa. Ouço passos atrás de nós. Quando me viro, Hush
está descendo os degraus da varanda.
“Vou pegar a chave para você.” Sia sai para entrar na casa. Movo-
me ao lado de Hush.
Sua cabeça vira para mim. “Assim como minha mãe. Só que ela
não pediu por qualquer parte disso. O clube era a vida dele. Por causa
do seu precioso clube, nunca cheguei a conhecer minha mãe. Minha
tia me disse tanto quanto ela pode. Essa mãe que sempre se rasgava,
porra, pelo fato de que meu pai colocava seu pau em qualquer buceta
vagabunda que ele podia encontrar, tanto que ela o deixou quando
estava grávida de mim. Ela tentou levar Ky também, mas o Grande Pai
Willis nunca a deixaria ter seu filho. Seu herdeiro Hangmen. Meu pai
manteve minha mãe enjaulada por seu amor por ele. Manteve-a
pateticamente pendurada por qualquer pedaço de amor que ele jogava
em sua direção, apenas para ela morrer porque ele não podia nem
mesmo abrir uma porra de portão sem fazê-la implorar por isso
também —” ela para por um momento, com o rosto vermelho brilhante
com raiva.
“Você sabe que nós somos,” diz ele e, então, monta na moto. O
motor ruge a vida. Ele rasga para fora da garagem, deixando-me vê-lo
ir.
Parecia que outra pessoa tinha vivido aquela vida. Foi a vida que
meus pais traçaram para mim. Uma que eu nunca sonhei em me
afastar.
Dou um tapinha no pescoço da égua em uma baia que estou
olhando. Ela esfrega o nariz no meu ombro.
“Recém-domado?”
“E Hush?”
“Também.”
“Pergunte, Cher. ”
Ela suspira, vendo que eu não lhe darei mais informações. “Sim,
eu os crio.” Sia se move ao meu lado e passa a mão sobre o nariz do
garanhão. “Mas eu os treino mais. Corrida de tambor principalmente.”
Ela cutuca meu ombro. “Sela americana também. Basicamente, tudo o
que um cavalo pode fazer em um rodeio.” Ela encolhe os ombros. “Sou
muito boa no que faço.” Sia deixa cair sua mão. “Teria um grande
negócio se eu não fosse...” os olhos dela caem. “Se eu não vivesse na
clandestinidade. Não podemos arriscar com exposição.”
“Se ele te deixa de fora, é porque ele gosta de você. Ele te deixa
de fora porque é como ele se protege.”
“Você já se viu?”
Isso a faz sorrir. Antes de o sorriso sumir, ela diz, “E... você?”
Estendo a mão e pego a mão dela. Sia está tremendo. A raiva que
não estou acostumado a sentir se constrói em mim pela forma como
ela estava assustada pra caralho. E quando seguro sua mão, ela não
me afasta; a cadela segura firme.
“Mmm?”
“Que rumores?”
“Tudo?”
Agora isso chama a porra da sua atenção. “Bem, Hush não anda
a cavalo, de modo que não é tudo, tudo.”
Sorrio. “Mas ele está lá, comigo, quando nós fodemos as putas,
então eu diria que somos bem próximos.”
“Não.”
“Sempre?”
“Não posso imaginar Hush fazendo isso com ninguém,” diz ela.
“Você, no entanto, depois desta conversa, eu não tenho nenhuma
fodida dúvida.”
Sorrio, em seguida, tomo sua mão na minha outra vez, digo, “Não
se preocupe, Cher, vamos convencer o Hush juntos. Faremos ele ver as
coisas do nosso jeito. Suas paredes são altas, mas eu acho que
podemos passar por elas, se nos esforçarmos o bastante. ”
“No fundo, eu sabia que você não nos odeia,” digo. Ela olha para
mim. “Meio difícil pensar que você odeia motociclistas e o mundo em
que vivemos quando você nomeia seu garanhão de Triumph.”
Mas então, pelo que ouvi falar do velho VP, porra, quem não
odiaria?
*****
Hush entra na casa quando Sia está fazendo a comida. Ele olha
para mim, que estou confortavelmente no sofá, com as mãos atrás da
minha cabeça e minhas pernas jogadas por cima do braço do sofá.
“Hush.” Baixo um braço para tocar o meu Stetson. “Tudo bem?”
Hush assente. Seus olhos encontram Sia. Ela está olhando para
ele do seu lugar no fogão. “Hey, Hush.” Ela aponta para a comida. “A
comida está quase pronta.”
Aponto para a mesa e Hush se senta. Ele passa a mão pelo rosto
mal barbeado. Sia coloca um copo de água na frente dele. “Obrigado,”
ele murmura antes de drenar o copo.
11 N.R: Slippery Nipple uma bebida comumente composta por Bailey Irish Cream e Licor de anis Simbuca.
“Beleza, uísque. De qualquer forma, ele viu uma fileira de motos
na frente do bar. Pensando, em seu estado embriagado, que uma velha
Harley pela qual ele estava obcecado seria legal de andar, ele foi direto
até ela. As chaves ainda estavam na ignição.” Dou um sorriso para
Hush. “Deveria ter sido o nosso primeiro sinal para não tocar nela. A
moto tinha as chaves na ignição, mas ela estava intocada.”
Dou de ombros. “Não podia deixar meu irmão ser morto. Ser
morto por um motociclista seria uma fodida forma legal de morrer.”
Hush sorri. “Mas então Ox olhou para nós, sujos e cheio de arrogância
pra caralho, e riu. Hush socou, rachando o maxilar do velho... e duas
horas depois éramos os mais recentes prospects da sede de Nova
Orleans. Ox nos deu uma casa. Um propósito. Uma fodida vida.” Sorrio,
o peito apertando com a lembrança daqueles dias. “Devo tudo a ele.”
Sia está sorrindo grandemente pela história. “Eu amo isso,” diz
Sia. Hush baixa os olhos e fica de pé.
Pela luz que passa por uma divisão nas cortinas, posso ver meu
irmão deitado de bruços na cama. Sua camisa e calça jeans
desapareceram. Meus olhos caem para a porra da tatuagem em suas
costas, a que tenta cobrir a queimadura que sempre estaria lá. A tinta
fez o seu melhor para fundir a cicatriz no desenho. Mas tudo que eu
sempre via, porra, era essa maldita cicatriz.
“Foda-se, Val. Não vou te deixar vir para cima de mim só porque
você está chateado porque não estava com a gente.”
“A tarde toda?”
Hush fica tenso ao meu lado. Rolo de costas e olho para ele pelo
canto do meu olho.
Hush olha de volta. Eu sei que ele quer saber o que eu quis dizer,
mas levou um longo tempo de merda até meu irmão cerrar os dentes e
ceder. “Como assim?”
Eu sei a dor que causou ao teimoso filho da puta dizer isso para
mim. Então, só arranco o Band-Aid. “Nós podíamos ser esse alguém
para ela.” Ele prende a respiração. “Ela sabe sobre nós de qualquer
forma.” Seus olhos se prendem nos meus, exalando rápido. “Sobre a
forma como nós gostamos.”
Hush cobre o rosto com as mãos. “Sim, mas isso é com putas e
vagabundas do clube.”
“E?”
“E ela não é uma! Ela está longe de ser uma puta. Ela é...
apenas... mais.”
“Ela merece você,” argumento, mas sei que não terei resposta.
“Ela nos merece.” Viro-me, socando o travesseiro com meu punho.
Mas posso ver ele com Sia. Posso vê-la conosco. Ambos estão tão
quebrados e danificados, mas eu quero estar lá para eles. Com eles.
Suspiro.
Eu gosto dela.
Sia
“Sério?” Ela diz, mão no quadril. “Então por que seu rosto está
todo corado agora?”
“Está quente.”
“Você gosta!” Ela exclama, sua voz muito mais alta do que antes.
“Inferno, amiga, vejo o por que, mas gostar deles só tornará as coisas
muito mais complicadas...”
“Gostar de quem?”
“Eu tenho que ir.” Ouço Clara dizer atrás de mim. Não afasto o
olhar de Cowboy. Nem sequer me movo quando ele abre a porta do
estábulo e entra, parando apenas a centímetros de mim.
Ou ficar preocupada.
“Dê ele aqui.” Cowboy pega Pepper, verifica sua sela e amarra a
rédea do bronco no cabresto.
*****
“Cowboy!”
“Ao redor do outro lado!” Grito para Clara. Clara faz como
mandei, balançando para frente e para trás em seus pés para tentar
agarrar a rédea solta de Pepper. Ela se lança para frente, envolve a
rédea ao redor do pescoço dele, controla sua cabeça, e consegue pará-
lo. Mas os cascos de Pepper ainda pisam freneticamente na sujeira.
Ele esboça um sorriso tenso. “É... não é nada, Cher.” Ele não foi
exatamente convincente. Sua voz rouca me mostra claramente que ele
estava dilacerado pela dor.
“Não é nada.” Abro o portão para ele sair. Ajudo Hush levá-lo até
o quintal e sentá-lo em um banco nas proximidades.
“Porra, eu posso montar Val. Fiz isso por todo o maldito dia.
Estive fazendo isso desde que eu saí das fraldas.”
“Claro que sim, querido.” Eu me movo para onde ele ainda está
sentado, largado no banco. Olho para Hush. “Você está bem? Você não
parece tão bem.”
Cowboy inclina a cabeça para o lado. “Não sei. Isso vai levá-la
desistir do que quer que você tinha planejado esta noite e bancar a
enfermeira comigo aqui neste sofá?”
Algo tão simples como uma cabeça em meu colo parecia como o
maior salto que eu já dei.
Agindo por instinto, pego seus dedos com os meus quando ele
passa. Hush para e fecha os olhos. Seu peito sobe e desce, sua
respiração lenta. Seus dedos estão tão malditamente frios.
“Eu dormi?”
“Ainda aqui.”
Cowboy, por uma vez, não está sorrindo quando segue meu
olhar. Naquele momento, enquanto ele olha para Hush, ele também
parece... quebrado. Assim como Hush parece quando ficou mais e mais
perdido nas chamas dançando na lareira.
Hush me olha, mas não diz nada. Ele olha para seus pés, e, então
abruptamente se levanta da cadeira. “Vou para a cama.” Observo-o ir
para o corredor que leva para as escadas, assim como Cowboy.
Cowboy fica tenso. “Ele não está mais entre nós, Cher.”
13
Hush significa silêncio, quietude.
14
O Gumbo (pronuncia-se gambo) é o prato mais marcante da culinária Cajun da Louisiana (sul dos Estados Unidos). É
um guisado ou uma sopa grossa, geralmente com vários tipos de carne ou mariscos, que se come com arroz branco,
podendo constituir uma refeição completa.
O sorriso desaparece do meu rosto. Não me atrevo a perguntar
mais nada. A expressão devastadora no rosto de Cowboy me diz que
não. Cowboy passa por mim e pega o uísque. Ele toma vários goles
antes de entregá-lo de volta para mim. Faço o mesmo.
“Sim.”
Eu me vejo.
Eu vejo Cowboy.
Eu vejo Hush.
Não sei porque, mas meu estômago afunda com isso. Eu não sei
se ele percebe minha decepção, mas Cowboy coloca o dedo embaixo do
meu queixo e levanta minha cabeça. Ele fica parado até que ergo os
olhos e encontro os dele. “Mas nenhuma daquelas putas importava
para nós.” Pisco, então tento parar o meu coração de explodir, conforme
ele acrescenta, “estive procurando por alguém que faça isso real por
um fodido longo tempo.”
“Oui.”
“E Hush?”
Eu choro.
Eu choro, permitindo que a dor que eu mantive tão
profundamente escondida saia. Cowboy me acalma e acaricia minhas
costas. Meus olhos ficam doloridos pelas lágrimas, mas eu apenas me
agarro à ele. Cowboy está me oferecendo algo que nunca aceitei desde
que voltei: um lugar para me sentir segura. Um lugar sem nenhum
julgamento, onde eu posso apenas chorar pra caralho sem precisar
explicar o que aconteceu lá, por que eu fugi, o que descobri, quem eu
perdi.
Olho para o relógio acima do fogo e vejo que uma hora tinha
passado. Cowboy continua acariciando minhas costas. Pisco, meus
olhos secos e arenosos pelas lágrimas. “Melhor?” Ele pergunta
suavemente.
Cowboy levanta meu queixo com o dedo até que encontro seus
olhos. “Nunca, Cher. Nunca se desculpe porra.” Tristeza lampeja em
seu rosto bonito. “Sei que você teve uma vida difícil. Eu nunca
adivinharia o quão mal aquele fodido te machucou.” Ele segura a minha
mão. Não consigo desviar meu olhar do quão perfeito pareciam juntas.
“Mas nós nunca faríamos isso com você.”
Cowboy olha direto nos meus olhos. Não sei o que ele estava
procurando, talvez permissão, mas o que quer que fosse, ele deve tê-lo
encontrado, porque se inclina para frente, desliza a mão no meu rosto
e me beija. Medo esfaqueia meu peito conforme os lábios de Cowboy
ficam nos meus. A escuridão com a qual eu vivi tenta forçar-se em
minha mente, entre nossas bocas. Mas pela primeira vez, a primeira
fodida vez em todos os anos em que a deixei me controlar, afastei-a e
abri meus lábios.
Abro meus olhos para ver uma costa tatuada recuar em direção
ao corredor. Tatuagens decorando uma rica e bonita pele marrom...
Hush
Corro a mão pelo meu rosto e olho para o céu iluminado. “Eu
deixaria se pudesse, Cher,” digo em voz alta, para ninguém e todos ao
mesmo tempo. Chegando ao meu colete, removo as pílulas e as tomo
como faço todos os dias. Então me concentro em minhas mãos. A pele
marrom olha para mim. Não preta, e nem branca. Mas uma mistura.
O meu fodido peito aperta, um maldito pulso de ferro,
impossibilitando-me de respirar, quando também ouço as palavras de
Cowboy... vocês dois estão tão quebrados... desde o momento em que
nos conhecemos, pude ver em você o que vejo nele todos os dias...
solidão... duas pessoas que estão perdidas, duas pessoas que não
sabem como escapar da escuridão em que vivem.
Paro esse pensamento sórdido... porque agora sei que ele não é
o único.
Eles não sabiam que eu estava ouvindo. Nenhum dos dois soube
que não fui para o quarto; em vez disso, afundei contra a parede no
corredor e ouvi todas as malditas palavras. Não consegui deixá-los
sozinhos. Algumas malditas amarras internas me seguraram.
Não tenho nenhuma porra de ideia de por que Cowboy ficou por
perto também. É apenas uma questão de tempo antes de eu arruiná-lo
também. Mais do que já fiz, isso é. Fucker é um comilão por maus
tratos.
Vi isso.
Vivi isso.
Seus lábios são tão suaves quanto eu sabia que seriam. Ela
também tem o sabor doce pra caralho. Quero envolvê-la em meus
braços e dizer que esse maldito Garcia nunca mais a tocará. Mas fui
forte. Levantei e me afastei antes que a pequena voz na minha cabeça
me dissesse para deixá-la entrar.
“Foda!” Grito para o céu rosado, com a cabeça jogada para trás
e os punhos apertados. Corro minha mão sobre meus braços e vejo
todas as provas que preciso para saber que não posso ir lá com ela. E
merda, outro pensamento nubla minha mente. Algo que sabia que um
dia viria. Mas que temi com todas as fibras do meu ser.
Vejo o jeito que ele olha para Sia. É diferente. Ele nunca olhou
para nenhuma cadela assim. Claro, ele mostrou interesse por outras,
mas nunca assim. Soube desde o momento em que a conhecemos, no
casamento de Ky, que ela era uma reviravolta. Há uma faísca entre eles.
Respiro fundo. “Acho que você deve tentar fazer isso com ela.”
“Você.” Olho de volta para as colinas. “Você deve tentar fazer isso
com ela." Abaixo meus dedos, apenas para ter algo que fazer com
minhas mãos. “Ela gosta de você. Merda, qualquer um pode ver isso.”
Abaixo minha cabeça. “Vejo a maneira como você olha para ela
também. Ela é diferente para você.”
“Não importa.”
“Não muda como me sinto. Não vejo outra pessoa ser arrastada
por mim.” Desta vez encontro seus olhos. Seu rosto está vermelho. Ele
está chateado, o que para Cowboy é uma ocorrência rara. “Eu também
o arrastei comigo. Sei que você não vê. Pensa que é só porque você é
meu irmão. Mas você não vive bem desde aquela noite há anos. Você
dá tudo a todos. Seu futuro. Sua vida pessoal. Seus cavalos. Rodeios.
Você fode as putas comigo porque nunca gostei de fazer isso sozinho.”
Bufo uma risada autodepreciativa. “Inferno, você se mudou do Estado
que você adorava para ser nômade, depois se mudou para o Texas por
minha causa.” Viro-me no banco, olhando para o patch da seção de
Austin em seu colete. “Você mesmo disse ao clube — Styx e Ky — que
somos nômades por causa de uma merda que aconteceu com você, o
que nós dois sabemos que não é verdade.”
“Porque sei que você não quer falar sobre isso. Depois de tudo o
que você passou, não poderia deixar você explicar toda essa merda para
seção de Nova Orleans — mesmo que devêssemos, e ainda devemos.
Quero dizer, quanto pode um irmão ter acumulado em uma vida de
merda, não importa em quantos anos?”
“Você poderia viver comigo e Sia? Não sei... talvez você seria feliz
por uma vez em sua vida, caralho?”
“Eu quero a cadela, Aub. Por assim dizer, não posso suportar
isso. Mas depois de tudo o que ela passou, como diabos posso colocá-
la através de mais problemas? Vou protegê-la com minha vida, mas ela
não sabe sobre minha condição. Meu passado. Minha longa lista de
razões. Eu simplesmente não vou chegar com isso, ponto final.” Ligo o
motor da moto. Termino com essa conversa.
“Posso apenas contar a ela sobre você. Então você não terá mais
desculpas.”
Sua ameaça corre pelas minhas costas, quando digo a ele: “Não,
você não contará. Você não é este tipo,” sei que é verdade. “Fique com
ela, Cowboy. E quando toda essa merda com Garcia acabar…” respiro
e apenas deixo as fodidas próximas palavras derramarem. “Irei embora.
É Tempo de você ter uma vida de merda, livre da minha bagagem.”
*****
“Você se parece com seu antigo eu, vestido assim,” digo e assisto
um sorriso curvar em sua boca.
“Pensei isso esta manhã, enquanto me vestia. É estranho estar
sem um colete, hein? Já faz tanto tempo que você quase pode fingir que
os anos antes do clube não são reais.”
“Sim.” Abro minha boca para dizer outra coisa, qualquer coisa,
mas Sia vem até nós com os papéis na mão.
“Em uma hora. Sou uma das últimas.” Ela olha para o trailer do
seu cavalo. “Clara vai aquecer Sandy para mim.”
Nós assistimos Sia treinar sua égua por um tempo antes que seu
nome seja chamado. Cowboy coloca a mão no meu ombro enquanto
nos movemos para o lado do círculo principal para esperar que Sia
monte. Olho para o meu melhor amigo e vejo seus olhos brilhando com
emoção.
“Não deixe que Ky veja você segurando sua irmã assim, cara.”
Viro minha cabeça para ver AK e Viking caminhar em nossa direção.
Flame segue atrás, olhos negros caindo sobre o lugar. Todos os três
estão vestidos com jeans e camisas. Nenhum rastro de Hangmen foi
permitido — ordens de Styx.
“Eu sei,” Sia diz, fazendo minha cabeça virar em sua direção.
Seus braços estão cruzados sobre seu peito enquanto olha para baixo
para o Viking. Ou para cima, considerando a enorme diferença de
altura. “Mas nunca montei em nada que me derrubou da sela.” Seus
olhos correm sobre o corpo dele. “Nunca tive nada forte ou grande o
suficiente para superar o aperto das minhas coxas de aço.”
Penso em como ela agia no clube; Sia, aquela que tem Viking
perseguindo Cowboy por detalhes sobre nossas aparentes orgias
diárias, é o que ela quer que os irmãos vejam. Uma mulher não
danificada por seu pai ausente e a vida longe do clube. Ou a mulher,
tão arruinada por um homem chamado Garcia, que não deixou
ninguém se aproximar nos anos. Ninguém foi autorizado a tocá-la.
Inferno, pelo que posso dizer, ela não tem amigos senão a garota que
era paga para trabalhar no rancho.
Sia pisca para mim, e então seu olhar segue um caminho pelo
meu braço até a mão que ainda segura seu cotovelo. Ela engole em
seco, e assisto como suas bochechas ficam vermelhas. “Muito obrigada,
Hush.” Ela me olha com aqueles grandes olhos azul bebê.
Mas neste momento, estou tão orgulhoso por essa cadela que
chegou em nossas vidas como uma águia montando um furacão que
não posso deixar de sorrir.
Um segundo depois, a mão de Sia segura o meu pulso, e a boca
dela fica aberta em estado de choque. “Hush!” Ela diz de forma
dramática. Fixo meu olhar nela. “Você pode sorrir!”
Sia me cutuca com seu ombro. “Isso combina com você, querido.”
Seus olhos caem, e ela chuta a sujeira com bico de sua bota. “Não me
importo de ver isso mais vezes.” Ela me lança uma piscadela. Então sei
que ela pegou isso do Cowboy. “E, você sabe, você é quente pra
caralho, ainda mais quando você mostra os dentes perolados na
direção desta garota…” meus olhos brilham, e meu interior aperta.
“Hush?” Sia diz, colocando a mão no meu braço. Mas não consigo
responder. Meu coração bate muito rápido em meu peito quando
assisto Cowboy reconhecer o homem diante dele. O rosto do Cowboy
flameja como se o próprio diabo possuísse seu corpo.
“Foda-se cara, onde diabos você esteve?” Pierre diz, falando como
se toda essa merda não tivesse acabado anos atrás. Digo a mim mesmo
para me mexer. Digo as minhas pernas para correr e esmagar o nariz
do idiota em seu rosto, mas nada está funcionando. A raiva pura
impede qualquer coisa em meu corpo de funcionar, porra. “Você está
no Texas? É aqui que você está escondido? Sei que muita merda
aconteceu há um tempo atrás, mas nunca pensamos que você deixaria
a cidade” Pierre franze a testa.
Meu rosto é como pedra, meus olhos frios trancados sobre ele
com tanta força que posso ver um pedaço de tabaco de mascar escapar
de sua boca na minha presença. Ele cospe no chão novamente... o
líquido marrom atingindo o bico da minha bota. “Você deve estar
brincando comigo!”
Ele puxa o braço do Cowboy. Mas antes que possa lançar outro
insulto racial no meu caminho, Cowboy ergue o punho, e assim como
na Louisiana quando éramos adolescentes, ele bate na cara do filho da
puta. Jase cai no chão, saltando de volta quando um monte de amigos
apareceram correndo. Tirando a mão de Sia do meu braço, eu corro, a
minha respiração ecoa em meus ouvidos, e paro onde ele está. Jase
passa por mim no momento em que chego. “Seu maldito mestiço
fodido!” Ele sibila, então se move para mim. Jogo meu punho no rosto
dele. Uma e outra vez, fazendo o osso quebrar e a carne dos meus dedos
rasgarem. Eu armo um inferno do caralho, as tatuagens do filho da
puta aumentam a minha fúria. A marca em minhas costas é o meu
maldito combustível.
“Estou dizendo! Leve ela para casa agora! A última coisa que
precisamos é chamar atenção, caralho.” AK nos afasta em direção a
Sia. Cowboy continua olhando os garotos com quem ele cresceu, seus
‘amigos de rodeio’.
Clara parece confusa, mas faz o que dizemos. Cowboy parte para
fora do estacionamento dos competidores. Dirige para a estrada e segue
para o rancho. Minha perna treme, subindo e descendo. Meu sangue
está correndo por minhas veias à velocidade da fodida luz. Não consigo
me acalmar. Apenas continuo vendo aqueles desgraçados na minha
cabeça. Toda a merda que eles fizeram... suas fodidas tatuagens.
Mas não posso parar. Sei o que ele fez por mim. Sei que ele se
afastou daquela merda lá e me escolheu. Foda-se, ele deixou seus pais
depois que tudo aconteceu... quando os perdi... quando fiquei
despedaçado... mas não consigo me acalmar. Tudo que posso ver são
suas tatuagens racistas; tudo o que posso ouvir são os fodidos insultos
racistas que saem das suas bocas tão facilmente quanto respirar. Eles,
vivendo em suas mansões ricas, cavalgando seus cavalos, andando
pela cidade como se fossem deuses santos. Enquanto lutamos e
economizamos até... até —
Cowboy tenta vir para mim, mas afasto minha mão. A tontura
desta vez me faz buscar algo para me impedir de cair. Experimento
aquele gosto metálico familiar na minha boca. Viro-me para ver Cowboy
se movimentar para mim, Sia chorando... mas meus olhos voltam para
trás, então tudo fica preto.
*****
Sia.
“Ele está bem, Cher,” Cowboy diz. Os olhos de Sia fecham. Sua
respiração engata, perfurando um buraco no meu maldito coração. A
mão de Cowboy desce sobre o ombro dela. “Ele terá sede. Sempre tem
depois.”
“Ele não está ferido, querida. Só cansado. Você não vai machucá-
lo levantando sua cabeça.” Ouço Cowboy instruir Sia como se estivesse
observando a distância. Não presente o suficiente para falar ou me
ajudar, ou diabos fazer qualquer coisa, exceto deixar suas mãos suaves
tocarem minha pele, o calor da palma da mão tira a frieza que cobre
meu corpo.
“Vamos levá-lo para o sofá," Cowboy diz. Meu melhor amigo vem
e me tira do chão. Isso não é estranho. Perdi a conta de quantas vezes
Cowboy teve que fazer isso ao longo dos anos. É por isso que não posso
nunca deixá-lo ir.
Ele me move para o sofá ao lado da lareira. Ele sabe que fico com
frio depois. Cowboy puxa um cobertor sobre mim e se vira para acender
o fogo. Sia bate nele por isso. Assisto-a, entorpecido, enquanto empilha
os troncos na lareira aberta. Eu me encolho quando o fogo começa a
subir, as chamas alaranjadas e vermelhas lambendo os troncos,
estalando enquanto atacam a casca. Cowboy desliza para sentar-se ao
meu lado. Sua mão vem ao meu ombro e o aperta. Não o olho. Muito
ocupado ainda lutando com o nó em minha garganta e as lembranças
que não tenho energia para lutar.
É por isso que ele nunca deixará você ir, uma voz em minha
cabeça me diz. E sei, não importa o quanto o afaste, ele nunca irá
embora. Nós passamos por muito.
Felizmente entorpecido.
Capítulo sete
Sia
Cowboy fica calado atrás de mim. Não me diz para largar seu
amigo sozinho ou deixá-lo dormir. Ele me deixa ter esse momento.
Tocar o outro homem, que como ele capturou completamente meu
coração despedaçado. Um homem que me afasta, mantém-me longe
... e agora sei o porquê.
"Epilepsia?" Pergunto.
"É por isso que não se mudou para a terra do clube. Por que não
vive lá como o resto deles."
"Sim."
"Não é minha história para contar," ele diz com firmeza. Cowboy
senta no sofá. "Ele vai dormir por um tempo, Cher. Precisa recuperar
a energia. Recuperar seu corpo." Sei que devo me afastar. Deixá-lo
dormir. Mas não consigo me mover. Vê-lo no chão, Cowboy saltando e
ficando ao lado dele até que a convulsão parasse, é tudo que enche
minha cabeça.
*****
Olho Cowboy. Mas antes que possa encontrar meus olhos, ele
levanta do sofá e sai da sala. A porta que leva a varanda fecha. Não
consegui ouvir a conversa que tinham quando acordei, mas posso
adivinhar o assunto.
Não tenho ideia do que inferno tenho que fazer para passar por
ele.
O diabo que agora me procura por todo o país para levar de volta
ao inferno.
Estendo uma das minhas mãos e corro o dedo pelo rosto bonito
de Cowboy. Ele é dolorosamente lindo. Seus olhos são acolhedores e
gentis. Não tenho certeza de ter visto olhos tão amáveis antes. Minha
mão cai. "Eu tinha uma amiga, Michelle." Suspiro. Balanço a cabeça,
como se pudesse apagar seu rosto da minha mente. Livrar-me da
culpa que sinto quando penso em como ela foi abandonada. Mas dou
um sorriso enquanto penso em seus modos selvagens. "Ela odiava
onde vivíamos. Sempre estava me incentivando a fazer coisas
loucas..."
Pensei em meu pai e como ele não conseguia dar uma merda sobre
o que acontece comigo. Ky quase nunca me via, e minha tia estava longe
com o trabalho mais do que estava aqui. Eu tinha meu cavalo... mas
quando pensei em fugir... pensei nas praias arenosas e no fato de que
não era o maldito Texas, minha decisão foi tomada.
Minha mão treme enquanto luto para segurar a toalha. "É óbvio
que ele ficou tão obcecado comigo quanto eu por ele. Nunca ficávamos
separados. Ele me levou a jantares em restaurantes que só podia
sonhar em comer. Os habitantes locais adoravam o chão que ele
pisava... e em algum momento, eu também. Eu o amei
completamente... até..." Balanço a cabeça. Somente lembrar daquele
dia me deixa enjoada. "Apenas uma semana depois de conhecer Juan,
Michelle me deixou uma nota dizendo que ela se mudou para onde
deveríamos viajar em seguida. Ela entendeu que achei Juan e queria
que eu ficasse com ele. Ela disse que me veria novamente em algumas
semanas." Pisco, vendo a carta tão claramente na minha cabeça. Era
sua letra. Reconheci isso. "Era como ela. Deixando-me enquanto ia
para a próxima coisa que queria. Típico de Michelle, então nunca
duvidei disso." Um soluço rápido sobe por minha garganta, me
pegando desprevenida. "Somente que ela nunca voltou. Pedi ajuda a
Juan. Ele era um homem de negócios, um homem rico com contatos.
Mas não havia nada que pudéssemos encontrar sobre onde ela foi."
Dou uma inspiração profunda. "Até que um dia fui procurá-lo em seu
trabalho." Sorrio sem humor por minha estupidez. "E encontrei...
encontrei..."
"Eu cometi esse erro uma vez". Respiro fundo. "Só precisou um
castigo para me fazer entender que nunca mais poderia traí-lo." Fecho
os olhos e quero fazer isso. Por Hush, digo a mim mesma. Penso nele
no chão, a crise tomando o controle de seu corpo. Do seu rosto depois,
seus olhos me olhando com tanta necessidade, tanto desespero por
conforto. Meu conforto.
Pisco voltando para o aqui e agora. Minha garganta está seca por
contar o que ele fez. A sala está em silêncio. Todos olhando minha pele
arruinada. Minhas pernas tremem e, quando temo que elas não
suportem meu peso, braços me rodeiam e tiram do chão. Encaro os
olhos de Cowboy. Ele me embala contra o peito e me leva para o sofá.
Ele me mantém perto, passando os lábios por minha testa. "Nós vamos
cuidar de você, querida," ele sussurra. Quase choro quando envolvo
os braços em seu pescoço, segurando-me firmemente... e seus dedos
ásperos encontram as cicatrizes do ácido. Congelo. Ninguém, exceto o
médico, Juan e eu, tocou o que mantenho bem escondido.
Sua mão vem segurar meu pescoço. Inclino-me para seu toque,
meus olhos fecham por um momento, enquanto uma respiração suave
deixa minha garganta. Quando os abro novamente, é para ver Cowboy
analisando meu rosto. Então, vendo claramente o que quer que seja,
ele roça os lábios contra os meus. No instante em que o provo, a
tensão, a agonia e os anos de dor que sufocam meu peito irrompem
por minha pele e desaparecem como fumaça. Minhas mãos ficam
penduradas em Cowboy enquanto ele acaricia meus lábios com os
seus antes de puxar para trás e pressionar sua testa contra a minha.
Sua mão guia minha cabeça para deitar em seu peito. Suspiro e
depois olho pela sala. Hush ainda está no sofá. As mãos ainda
apertando o cobertor... mas em seus olhos azuis vejo outra coisa.
"Eu tenho." Pego sua mão e beijo sua palma. "Tenho certeza."
Aceno com a cabeça e sorrio, e sinto a verdade por trás da minha
confissão. Quero isso. Olho para baixo o corpo forte e bonito de Hush,
então vejo Cowboy, ajoelhado entre minhas pernas. Em sua mão há
um par de preservativos. Ele joga um em Hush.
Assisto, borboletas nervosas voando no meu interior quando
Cowboy abre o preservativo, então fica entre minhas pernas. Hush
deita ao meu lado. Viro a cabeça para ele. "Hush, você não quer?"
Não estou segura de poder aceitar algo mais. Ambos são grandes,
mas Hush é um pouco mais longo que Cowboy. Engasgo quando ele
empurra. Cowboy move a boca para meu ouvido e diz: "Veja." Sigo as
instruções e olho Hush.
"Como isso é?" Fico tensa quando Hush fala depois de vários
momentos de reflexão. Sua voz profunda cheia de dor, o timbre rouco
fazendo minha alma gritar pela agonia em que ele está.
Mas ficar sozinha pela terceira vez este mês me fez estourar.
Pablo deixou o Jeep. Esperei até não haver vozes próximas e sai
da traseira. Olhei em volta. Esperava encontrar escritórios. O que me
cumprimentou foi uma grande quantidade de terras agrícolas que
abrigavam vários edifícios. Um prédio maior estava no final da longa
via. Onde os outros edifícios eram semelhantes a celeiros, o último era
duplo. Sorri, sabia ser exatamente onde Juan estaria.
Juan.
Nem percebi ter atingido o chão até que Juan segurou meu braço
e me puxou para meus pés. "Michelle..." sussurrei, minha voz se
quebrando quando vi seus cabelos castanhos, agora sem vida e
grudado nas costas suadas ... e seu corpo, nu e morrendo de fome.
"Michelle!" Gritei enquanto tentava correr em sua direção.
Fui parada por uma mão acertando meu rosto. Minhas palmas
golpearam contra os azulejos. Juan arrastou-me para ele e puxou-me
do prédio para dentro do carro, esperando na frente.
Aos olhos de Juan, serei dele para sempre. Não importa quanto
tempo passe. Ou que me apaixonei por esses dois homens. Ele ainda
virá.
Cowboy
Embora Hush esteja com ela, o irmão ainda não contou sobre
seu passado. Não disse por que somos nômades. Nada. Nem mesmo
sobre as cicatrizes. Por que seus olhos são azuis.
Volto minha cabeça para o jogo. “Clara me disse que este idiota
está sempre farejando você como a porra de um cão no cio.”
“Helen”, ele salta, sorrindo pra caralho. Olho meu irmão e vejo
seus olhos estreitos. Bom. Estamos na mesma página do caralho.
“Chegou bem?”
Antes que meu irmão possa falar, Sia vira e aponta para nós.
“Tito, este são Liam e Michael; são investidores recentes do meu lugar.
Trouxe-os para ver como fazemos as coisas.”
"Não tenho certeza. Envie seu nome para Tanner e veja o que
descobre.” Balanço a cabeça, concordando em fazê-lo quando
chegarmos em casa. Claro, serei o único a chamar Tanner. Se Hush
tiver que interagir com o irmão por muito tempo, ele porra perderá a
mente. E não tem uma crise faz duas semanas. Este é um bom tempo
para Val. E sei que é devido a uma loira mal-humorada.
Sinto a mão de Sia na minha coxa. Olho em volta e vejo que ela
fez o mesmo com Hush. “Nós vamos foder”, digo.
*****
Hush empurra meu peito até que bato na parede. “Só porra faça
como eu digo, Aub! Pelo amor de Deus. Pela primeira vez na sua vida
de merda, apenas ouça!”
“Hush”, digo, querendo afirmar que está tudo bem, mas ele
apenas passa por mim para a caminhonete. Corro para a porta, vendo
Ky jogar Sia no lado do passageiro da sua caminhonete, em seguida,
queimar os pneus para fora do rancho. Saltamos em nossa
caminhonete, e acelero atrás deles.
Hush sacode a cabeça. “Ky e Styx são a porra do clube. Eles são
o prez e VP de todo o clube, porra, o capítulo mãe. Eles são as fodidas
regras!” Hush acerta o painel novamente, os dedos sangrando pela
força. Aperto o volante, mantendo os olhos na caminhonete à frente.
Vejo Sia movendo os braços. Sei que a cadela está brigando com Ky.
Mesmo neste inferno fodido, não posso impedir, mas sorrio. A cadela
tem atitude. Então olho meu irmão e a expressão que tem. Meu maldito
peito aperta. Porque sei que ele irá tomar toda a culpa. Como sempre
faz. Sei o que se passa em sua cabeça. Ele está pensando em seus pais.
Não importa o que fazemos. Não importa onde vamos. Sempre volta a
eles. O irmão não lida com essa merda. Ele a engole. Agora, deve estar
se dilacerando.
Inclino meu queixo para cima. Não deixarei esse filho da puta me
intimidar. Quando olho para Sia, ela tem lágrimas escorrendo pelo
rosto que está vermelho beterraba. “Está bem, Cher? Ele te
machucou?”
Sia começa a negar com a cabeça, mas Ky rosna. “Não fale com
a porra da minha irmã, imbecil!” Desta vez, quando Ky vem para mim,
eu estou preparado. Meu punho acerta sua mandíbula. A cabeça de Ky
voa para o lado. Então o filho da puta sorri. Sorri com sangue
escorrendo pelo queixo.
“Eu avisei para ficar bem longe. Você sabe o que ela passou, mas
mesmo assim a fode? Os dois!” Ele ri e olha para Styx. “Você nunca
soube os detalhes sobre por que esses filhos da puta se tornaram
nômades?” Cada parte de mim congela quando as palavras saem de
sua boca. Styx balança a cabeça; o prez é como gelo, porra de
inabalável, mas nos observa com os olhos estreitos.
Ky ri, mas não há porra de humor. “Sim, vamos ver isso. Dois
irmãos, Sia? Pensei que odiava a porra do clube. No entanto, no
momento em que tem dois motociclistas em sua casa, abre as pernas
e os deixa te usar como brinquedinho pessoal.” Ele se inclina para
perto. “Não aprendeu a sua lição de foder com bandidos, maninha?”
Sia tropeça como se Ky tivesse lhe batido. “Ky!”, diz Lilah. “Retire
o que disse!”
*****
Sei que esse dia chegaria, penso ao observar Hush andando pela
sala de estar. Sempre soube que chegaria o dia em que algo quebraria
dentro dele. Quando algo acontecesse em nossas vidas que faria toda a
merda do seu passado voltar com força.
Meu peito quebra. Porque sei que ele quer dizer a ela, mas por
onde diabos começar? Por que Ky chamar Sia de puta fere meu melhor
amigo tanto assim? Por que o fato de nós três estarmos juntos e Hush
precisa ser aceito de todo seu coração?
Vejo como Hush tenta se controlar para contar a ela. Sua perna
está saltando, e sei que se continuar neste caminho, ele irá ter uma
convulsão.
“Aub, você tem que conseguir isso, homem”, disse Jase, depois de
termos competido em outro rodeio. Ele me dá um tapa nas costas. “Serei
profissional aos dezoito anos, sei disso. Todos nós vamos. Essa é a
nossa fodida vida!”
“Não posso acreditar que eles estão nesta cidade”, diz o tatuador,
sem mover os olhos de minha pele. “Os fodidos em breve saberão que
não aceitamos sua espécie, ou a puta traidora que se casou com aquele
bastardo preto e teve essa abominação de criança.”
“Seu avô.” Sia aperta a mão de Hush. Hush olha a mão dela, e
sei que ele vê. Pele morena na branca. O mesmo crime que destruiu
seu mundo. Hush corre o dedo sobre o dorso da mão de Sia, então, com
a respiração instável, ele a traz para sua boca, e diz: “O amor não vê
cores. Somente os corações são puros.”
Hush
“E seu papai?” Sia se inclina para beijar minha mão, que ainda
está na dela. Não consigo afastar os olhos delas. Dois tons, dois tons
que aos olhos de muitas pessoas nunca deveriam se tocar. Nunca
deveriam se misturar, porque levam a alguma noção preconcebida de
que uma cor de pele é melhor. Mais importante. Melhor para este
mundo já fodido.
Agarro o braço dele e digo: “Por favor, só mais uma. Então prometo
que vou dormir.”
Como faz todas as noites quando sabe que a vi, ela coloca o dedo
nos lábios para eu ficar quieto. Balanço a cabeça, então me aconchego
no travesseiro e ouço Papai.
"Exceto eu."
Posso ver o jeito que ela olha Cowboy agora. Como ele não é a
pessoa que ela acreditava ser. E é besteira. Ele é a melhor pessoa que
já conheci. Mas na verdade começou muito mal.
Subo na cama. Sia vem deitar ao meu lado. Olho pelo quarto e
Cowboy nos observa. Mas ele não se mexe. “Aub,” digo asperamente.
“Venha aqui também.” Eu o vejo em guerra com o que fazer quando
olha Sia.
Sia pega minha mão, a cabeça no meu ombro. Olho para o teto
e, em seguida, fecho os olhos, falando: “Meu avô conheceu minha avó
na Suécia. Ele estava lá a negócios. Para encurtar a história, ele usou
seu charme Cajun e ela se apaixonou loucamente.” Balanço a cabeça.
“Ela não sabia disso na época, é claro, mas ela foi seu maior sonho
acontecendo. Um verdadeiro ariano. Meu avô a trouxe para a
Louisiana...” outro rosto surge na minha cabeça. “Com sua filha a
reboque. Aia... minha mãe. Seu verdadeiro pai morreu de câncer
quando ela tinha apenas um ano.”
“Aia... um nome tão bonito.” Sia corre a mão por meu peito.
“Ok”, ela diz suavemente. Preciso sentir seus lábios. Preciso que
ela saiba que quis dizer o que eu disse. Então pressiono os lábios contra
os dela e a beijo. Ela suspira contra minha boca. Quando recuo, falo
novamente.
“Quando minha mãe tinha dezoito, ela fez uma viagem a New
Orleans. Entrou num bar de jazz...” meu peito aperta. “E lá ela
conheceu Dominic Durand.”
“Seu pai.”
Balanço a cabeça. Então sorrio. “Meu pai, teimoso como é,” limpo
a garganta, “era, foi encontrá-la depois de um telefonema desesperado.
Ele deixou tudo e veio buscá-la. Chegou a essa cidade caipira e
caminhou até sua porta e pediu para vê-la.” Sorrio, imaginando este
dia. “Meu avô quase teve um ataque cardíaco. Mas quando minha mãe
o viu...” sorrio, lembrando-me de todas as noites onde me contaram
esta história. Quando estava doente, isso me fazia sentir melhor.
Quando estava triste, isto me animava. Agora? É só uma merda que
me destrói, saber que foi o começo do fim para eles. Tudo porque se
amavam.
“Temos que voltar”, meu pai disse enquanto minha mãe chorava
em seus braços.
Então o fizemos.
Com o canto do olho, vejo Cowboy apertar Sia. Ele encontra meus
olhos, e posso ver uma dor do caralho e arrependimento me encarando.
Sia respira rápido, e sei que ela pode dizer que isso é onde Cowboy
aparece.
Eles estão todos lá. Todos, menos Aubin Breaux. Meu coração
acelera no peito, minhas pernas tremem, mas não os deixo verem. Nunca
darei aos idiotas esse prazer.
Davide e Stan vem para mim, agarrando meus braços. Luto para
fugir, chuto, mas eles me seguram firme. Jase vem até mim, seu Stetson
na cabeça como sempre. Então, sorrindo, ele levanta o punho e atinge
meu rosto. Minha cabeça cai para o lado, e sangue se acumula na minha
boca. Rolo a cabeça de volta para Jase, que me encara. Ele cruza os
braços. “Huh.” Ele se inclina para estudar meu rosto. “Eles sangram
vermelho. Quem porra diria isso?”
Davide e Stan riem e esperam que seu líder decida o que fazer. O
rosto de Jase se transforma com ódio, e ele diz, “Amarrem-no.”
Sinto o sangue escorrer do meu rosto. Sei que o filho da puta deve
ter visto meu medo, porque ele se aproxima. E sorri. Ele joga a corda de
volta para Pierre. “Amarre-o a árvore.”
Eu sei o porquê. E por mais que não queira que ela veja, quero
que ela entenda...
Olho pela janela como Sia levanta minha camisa. Seus dedos se
movem por minha pele, e sei que quando ela encontra a cicatriz que
nunca sumirá, sob a tatuagem dos Hangmen. Ela traça o lugar perfeito
“N” nas minhas costas. Não há necessidade de explicar o que
representa. Ela sabe. E não quero dar-lhe o poder, dizendo essa merda
em voz alta.
“Mas já passou.”
"É lindo."
“Então se encaixa.”
Espero meu melhor amigo falar. Quando não o faz, nem sequer
se vira, eu digo: “Acordei em sua caminhonete.” Olho para Cowboy. “Eu
estava deitado apoiado em meu peito. Não tinha ideia de onde estava
em primeiro lugar. Estava numa caminhonete, viajando para algum
lugar. Eu não conseguia juntar nomes ou rostos, por causa da
convulsão. Mas vi um cara dirigindo e usando um Stetson. Pouco a
pouco as minhas memórias voltaram...”
Pego os olhos de Aubin Breaux quando passo por ele. Seu chapéu
está na mão, e os dedos correndo através do cabelo. Minha mãe corre
para mim e beija minha cabeça. Lágrimas escorrem por seu rosto. Sua
mão está sobre a boca. “Eles o amarraram a uma árvore”, explica Aubin.
Minha mãe o olha enquanto meu pai me leva para a casa. “Quando
cheguei lá... depois... quando o encontrei.” Aubin para de falar. Ele
encontra meus olhos quando meu pai me leva. “Algo estava errado com
ele. Ele desmaiou, e seu corpo começou a tremer.”
Ele não é, quero discutir. Ele é um deles. Mas meu pai me leva
para dentro antes que eu possa ...
“Eu não sou.” A porra do meu coração cai ao ouvir sua voz. “Eu
deveria ter colocado um fim a essa merda antes de chegar a esse ponto.
Nunca deveria tê-los deixado fazer absolutamente nada com ele.”
"Então o que?"
“Minha mãe entrou no meu quarto, me dizendo que tinha uma
visita.” Balanço a cabeça. “Eu não tinha amigos, então não tinha ideia
de quem diabos era.” Aponto para Cowboy. “Então ele entrou,
cheirando a cavalos, com um olhar fodido no rosto para eu me atrever
a expulsá-lo.” Bufo uma risada. “Deveria saber que ele ficaria me
rodeando para sempre.”
“Que porra você quer?” Meu pulso está acelerado, coração voando
quando Aubin Breaux entra na minha casa, olhando para o que seus
amigos fizeram.
“Isso explica muita coisa,” rosno. Mas o filho da puta sorri, e meus
olhos se estreitam. Não sei o que fazer com isso.
Viro para olhar pela janela. Mamãe teve que mantê-la fechada
pelos últimos dias. A brisa parece lâminas de barbear, uma vez que
atingem minha carne crua. Meu quarto parece muito abafado agora. Mas
estou preso aqui.
“Valan?”
"Por quê se importa? Então pode voltar para seus amigos e dizer-
lhes? Assim, pode usá-lo contra mim?”
“Não sei.” Ele dá de ombros. “Só não parece bem para mim. Não
sabia que iria me incomodar tanto assim até que o fizeram.”
Minha mãe abre a porta e traz algumas bebidas. “Aubin”, diz ela
e entrega-lhe um copo.
“Obrigado, senhora.”
O rosto de Mamãe perde a cor. “Eu conheço seus pais.” Ela força
um sorriso. “Eles são melhores amigos do meu.”
“Os Moreaus.”
"Sim."
“Será que ele sabe que está aqui? Que você existe? Ele nunca te
mencionou.”
“Sim”, digo, mais firme. Mais irritado. “Mas não ficaremos.” Aubin
pareceu surpreso. “Estamos nos mudando. Assim que minhas costas
cicatrizarem e meu pai encontrar trabalho em outro lugar.”
“Ele te bateu.”
O nó na garganta é sufocante.
Aubin esfrega minha cabeça com os nós dos dedos. “Sabia que ia
fazê-lo gostar de cavalos, eventualmente.”
“Você levará meu filho para assistir pessoas em bois?” Ele coloca
a mão na minha cabeça. “Está se sentindo bem, Val?” Minha mãe ri
quando dou de ombros. “Bem, apenas certifique-se de estar de volta esta
noite. Sua Mãe irá ver sua avó, o que significa que vai ficar comigo. Filme,
comida de merda. Soa ideal.” Ele olha Aubin. “Você fica esta noite,
Aubin?”
"Sim senhor."
“Olha Lucious”, diz Aubin. Ele aponta para um cara que está ao
lado. “Treinei com ele. Vamos dizer um oi depois.” Lucious foi bem o
suficiente para passar para o segundo dia, mas não está no topo da
classificação.
Jase aponta diretamente para meu rosto. “Você quase nos levou a
merda.” Ele gesticula para os outros que estão ao seu redor. “Tentou nos
entregar para a polícia.” Ele balança a cabeça. “Some daqui mestiço.”
“Hey!”, uma voz diz das barracas. Jase e os outros saem correndo.
Olho em volta. Estou numa Kombi. “Tenho que ir para casa.” Tento
levantar. Aubin me ajuda, e caminhamos para sua caminhonete. “Meu
celular?”, pergunto.
“Quebrado na luta.”
“Sua mãe saiu para a mãe dela. Seu pai deve ter saído também,”
Aubin me assegura. Mas ouço a dúvida em suas palavras.
“Mãe!” Grito, rezando para que ela não esteja aqui, procurando
um caminho através do fogo furioso. “Papai!” Avanço, tentando chegar
até as escadas para a porta da frente. Fogo atinge meus braços,
escaldando a pele em meus braços.
Ele está ao meu lado num instante, com as mãos na cabeça. Mas
não consigo tirar os olhos dos meus pais. Minha mãe está chorando, seus
olhos azuis em mim. Meu pai está atrás dela, mas há um olhar triste de
aceitação em seu rosto. “Não!” Grito novamente, então paro quando meu
pai vira minha mãe e passa os braços nela, segurando-a contra o peito.
O calor das chamas queima meu rosto; o cheiro de cabelo queimado
atinge meu nariz. Mas não consigo afastar os olhos. As lágrimas
escorrem pelo meu rosto e vejo meus pais morrerem.
Minha mãe vira o rosto para mim mais uma vez e murmura, “Eu
te amo.” Não consigo sentir minhas pernas. Ouço um estalo alto, e o
sótão, onde meus pais estão cede e cai nas chamas abaixo.
“NÃO!” Pulo para a frente e corro para a casa. “NÃO!” Grito, mais
e mais até que minha voz some. Corro, tentando de alguma maneira
entrar na casa. Eles ainda podem estar vivos. Eles podem só estar
feridos.
“Não foi, baby.” Sia passa a mão por meu rosto molhado.
“Mas foi.” Fecho meus olhos. “Ficamos num motel até tudo ser
resolvido.” Faço um gesto para Cowboy. “As autoridades disseram que
foi um acidente. Uma besteira sobre o forno.”
“Eu ...” digo com voz rouca. “Eles morreram porque eu nasci.”
“Não”, Sia puxa minha mão. “Não faça isso consigo mesmo.”
“Eles a chamaram de prostituta branca. Uma traidora da raça
ariana.” Lambo meus lábios secos. “Eles a chamaram de puta amante
de pretos.”
Hush
Aubin.
Sia.
Porra!
Zane e Lil' Ash estão sentados no portão. Paro em um impasse.
Vejo-os olharem um para o outro, obviamente preocupados. “Abra a
porra do portão!” Grito, acelerando o motor.
A cor some do rosto de Ky. O irmão não se move. Styx passa por
ele e chega ao meu rosto. Suas mãos voam em sinal, mas as poucas
palavras que eu consigo entender são um borrão enquanto luto para
me concentrar, ainda sentindo os efeitos da apreensão.
“Vou para o México. Não vou ficar para trás. É a minha cadela e
o meu melhor amigo que eles levaram. Não vou ficar parado. E se eu
não for com você, irei sozinho. Eu tive uma porra de crise, e eles me
moveram. Esconderam-me, por isso não fui levado. Não sei por que eles
não se esconderam também.” Engulo o caroço na minha garganta.
“Acordei na porra de uma carnificina, e eles desaparecidos.”
Styx faz uma pausa, e Ky, desta vez, fala para si mesmo. “Garcia
faz parte do cartel Quintana. Quando fomos antes, ele tinha uma
pequena operação; agora é enorme. Alfonso Quintana, o chefe do cartel,
investiu pesado nos negócios de Garcia.” Ky fecha a mão em punho
sobre a mesa. “Ele não apenas trafica cadelas agora. Ele mexe com
armas e pó.”
Ky olha para Styx. “Sia é minha irmã. Então vou entrar nessa.
Styx também.” Ele olha para mim. “Hush estará. Cowboy está lá
também. Não sei o que vão fazer com ele... se ele sequer chegará ao
México. É minha irmã que ele quer.”
*****
“Bem, agora você tem que lidar conosco,” cuspo, não sentindo
nenhuma simpatia pelo fodido covarde. Segurando firme o cabo, eu
levanto a faca, prestes a atacar quando Gomez diz, “Foi... sua culpa.”
Ele tosse, espalhando sangue em seu peito. “Você e o cowboy a
entregaram.” Ele sorri. “Se eles morrerem... é culpa sua.”
*****
15
Laredo, Texas – Cidade onde o Diablos mantém o seu MC.
16
Tejano – Texano – é um termo usado para identificar um texano de ascendência hispânica e/ou latino-americano.
nascimento, Chavez. As questões do pai escorriam pelos poros do filho
da puta. É tudo tão fodido neste mundo fora da lei.
“Vocês têm a nós também,” diz Chavez. Styx avalia o prez Diablo
com os olhos apertados. Ele passa a mão pelo rosto mal barbeado. O
olhar de Chavez vai para Tanner e Tank, seu lábio ondulando em
desgosto. Ele se dirige a Styx novamente. “No minuto em que Quintana
e Garcia juntaram forças com a Klan, eles entraram no nosso radar. E
quando eles os apoiaram na tomada do nosso território aqui no Texas,
nós os cortamos. Você precisa do nosso apoio e terá isso. É egoísmo.
Não é um favor a vocês, putos.”
“Se você quer chegar a algum lugar sem ser visto, ele é o seu
homem,” diz Chavez.
Shadow olha para um relógio invisível em seu pulso nu. “Eu diria
que muito rápido. Amanhã é dia de descarregamento. A carga vai a
leilão. Ocupados. Os homens estão ocupados. É nossa melhor chance,
ou teremos de esperar mais uma semana.”
Carga. Putas. Contanto que uma delas não seja Sia, eu não dou
a mínima.
Sia
“Sia,” uma voz familiar diz em saudação. Viro a cabeça para ver
Pablo, o braço direito de Juan, saindo de uma van com vidros
escurecidos.
Um tiro soa atrás de mim. Eu vacilo, e depois viro para ver Cowboy
disparar contra os homens vindo do estábulo. Cowboy me alcança e me
agarra pelo braço. Homens nos rodeiam. Aperto os olhos, olhando para
o estábulo. Um soluço escapa da minha garganta quando vejo poças de
sangue formando pequenos cursos no chão de concreto.
“Ela não vai a lugar nenhum.” Ele aponta a arma para os homens
que se aproximam.
“É verdade.”
*****
Abro os olhos, sol brilhante me faz olhar para o lado. Minha cabeça
dói, meu queixo lateja como se tivesse sido atingido. Tento afastar a
névoa do meu cérebro. Visões e imagens começam a surgir na minha
mente como um rolo de filme solto em um cinema. Hush... Clara...
cavalos... Pablo... Garcia... Garcia... Garcia...
Juan...
Desço da cama, estremecendo com uma dor no meu braço. Olho
para ele e vejo um sinal de agulha no meu bíceps. Drogas. Eu fui
drogada. Então meus olhos seguem para o resto do meu corpo.
Ele me arruinou.
Sua mão se move para o meu ombro. Sua boca vem até minha
orelha. “Você tentou apagar?”
A rosa negra. A marca que ele usa em todas as suas garotas. Sua
marca, como um fazendeiro marca seu gado. Em suas ‘garotas’ a
tatuagem é feita no quadril. Em mim, ele fez grande o suficiente e visível
o suficiente para que todos soubessem a quem eu pertencia.
“Eu não quero nada do que você deixou em mim. Não quero
nenhum vestígio deste lugar... do inferno na terra que você criou. Seu
império construído sobre a dor.”
Ele para e olha para mim por cima do ombro. “Por perto.” Uma
onda de alívio atravessa meu corpo.
Puxo meu rosto para trás e cuspo em seu olho. “Tão fodidos como
eles são, como minha família é, eles não negociam mulheres para o
tráfico. Eles não vendem escravos por lucro.”
*****
Ele bate na porta. Outro homem sem rosto, sem nome, abre. Eu
sou entregue sem cerimônia. O novo homem me leva para dentro do
quarto, uma única lâmpada pendurada no teto. Estreito os olhos,
Meu coração começa a bater tão rápido que eu tenho certeza que
ele explodiria para fora do meu peito. “Não,” eu sussurro, observando
o estado da pessoa caída na cadeira. A familiar camisa xadrez rasgada
em tiras, revelando partes de sua pele. Sem chapéu, e seu cabelo loiro
está tingido de vermelho pelo sangue que eu imagino ser do seu rosto.
Suas mãos estão amarradas atrás das costas, e os tornozelos foram
amarrados às pernas da cadeira.
Eu preciso segurá-lo.
Eu sou o rato.
E eu fui pega.
“Só queria dizer olá,” ele responde e depois volta para a porta.
Ela abre, e o Nazi arrasta mais alguém para dentro. Eu posso ver um
vestido vermelho, semelhante ao meu. Mas então, eu respiro com
dificuldade quando o rosto e o corpo da garota surge por completo. Um
ruído de simpatia pura vem do fundo da minha garganta quando vejo
sua pele. Seus olhos estão baixos, mas não tenho certeza se poderia
realmente ver. O Nazi abandona a garota no meio do chão, sob a única
lâmpada, e sai da sala.
“Sia,” ela repete sem fôlego, como se tivesse tomado toda a sua
energia se deitar perto dos meus pés.
Michelle olha para mim. “Você pode confiar nele,” eu digo. “Ele
está comigo.” Michelle se arrasta através da sala e até os pés de
Cowboy.
Meu coração rasga ao meio com o tom final dessa única palavra.
Eu abro minha boca para dizer algo, qualquer coisa para tentar tirá-la
de sua desesperança, mas sou interrompida por dois cortes rápidos da
faca afiada em seus pulsos.
Olho para o Nazi. “Se você marcá-lo com qualquer merda que
esse número significa, então é melhor fazer o mesmo comigo.” Eu
sorrio.
O Nazi vem em minha direção. “Eu tenho ordens para fazer a
marca de Garcia em você.” A rosa negra. O Nazi encolhe os ombros.
“Posso fazer as duas coisas.”
Penso em Hush e como ele não é nenhum monstro. Como ele não
é uma abominação ou um vira-lata ou um mestiço. Em vez disso, ele é
perfeito. Um dos homens mais honrados que já conheci, mas atacado
por idiotas como esse nazista. Danificado, com tão pouca autoestima
que a minha alma chora por tudo o que ele passou... o ódio diário que
ele suportou por apenas existir.
Que diabos?
“Hush.” Pego sua mão. Hush vira-se e, em seguida, para. Ele olha
para o corpo de Michelle. Cowboy coloca a mão no ombro de Hush. O
Diablo vai até o Nazi para se certificar de que ele está morto. Eu oscilo
onde estou de pé, meu corpo começando a entrar em estado de choque.
“Oi, mana.”
“Temos que ir,” Angelo diz. “Temos cerca de trinta minutos antes
dos carros voltarem e estaremos tão fodidos como as cadelas que eles
roubam para vender.”
“Sia.” Ele passa a mão pelo meu braço. A dor agonizante que
atravessa seu rosto quase me faz chorar. Mas então Hush me carrega
rapidamente pelos corredores vazios. Angelo nos guia para fora por
uma porta dos fundos e entramos em outro edifício. Mantemo-nos nas
sombras. A cada passo que Hush dá, eu cerro os dentes contra a dor
dos movimentos espasmódicos enviados para minhas costas. Olho
atrás de mim. Styx está sustentando Cowboy de pé, com o rosto
inchado e já roxo.
“Quinze,” AK responde.
22 Campos Elísios - é o paraíso na mitologia grega, um lugar do mundo dos mortos governado por Hades, oposto ao Tártaro
Capítulo doze
Hush
A mão de Sia pousa nas minhas costas. Ela está melhor ― ainda
pálida e com dor, mas a injeção e as pílulas que o médico dos Diablos
lhe deu ajudou. Cowboy também. Olho para ele e o encontro me
olhando. Estudo os hematomas e cortes no seu corpo. Ele levou uma
surra porque achavam que estava comigo também. Algo que ele nunca
nega, é claro, apenas para foder as pessoas.
Nada.
“Não é culpa sua,” murmuro. Sia chora mais. Imagino sua amiga
na minha cabeça. Um vislumbre do que teria acontecido se Sia não
tivesse saído. Minha mão se move debaixo da camisola para pressionar
contra sua cicatriz, os restos da queimadura de ácido que foi seu
castigo original. Eu a seguro tão forte que me preocupo que ela não
possa respirar. Minha mão move-se para o norte, perto da ferida mais
nova. Mas eu paro de tocá-la. Minha mão se acalma. A mão de Cowboy
vem em cima da minha. Fucker está tentando nos impedir de
desmoronar. Ou talvez ele realmente precise de conforto também. Ele
é tão bom em cuidar de mim, e não tenho certeza se eu realmente já
estive lá pra ele.
O choro de Sia se acalma até que penso que ela está dormindo.
Fecho os olhos, e ouço Cowboy respirar ao meu lado. Sia se move até
que fica entre nós. Uma mão no meu peito, uma em Aubin. No meio de
nós dois. O Sol e Lua para nossa fodida Terra. Então, sua mão se move,
e no completo silêncio do quarto, ela sussurra, “Faça amor comigo.”
Seguro minha respiração. Sia não move o olhar para nenhum de nós.
“Vocês dois. Juntos. Apenas... façam-me sentir outra coisa, apenas...
isso...” sua voz quebra na última palavra e leva meu maldito coração
junto.
Cowboy foi o primeiro a se mover. Pela primeira vez, ele não fala.
Eu assisto meu melhor amigo rolar em seus cotovelos, olhar para Sia
com uma expressão que não vi em seu rosto antes. Esse olhar maldito...
é o que sei que uso quando olho para ela também.
Beijo seu pescoço, ao longo do seu ombro e abaixo até que minha
língua alcança o seu mamilo. Eu brinco e o toco, ouço enquanto sua
respiração falha. Circulo seu mamilo e movo minha mão entre suas
pernas até encontrar seu clitóris. Ela está quente e molhada pela língua
de Cowboy. Circulo seu clitóris, cubro sua boca enquanto Sia grita,
caindo para trás. Eu a beijo quando ela goza, até que treme em meus
braços.
Sento-me de volta, meu pau está tão duro que preciso estar nela.
Cowboy me dá um preservativo, e eu coloco. Subo sobre Sia, seus
braços me aguardam. Ela passa a mão pelo meu rosto e olha para
Cowboy para sussurrar, “os dois.”
Bato minha boca na dela. Pego sua língua. Repito suas palavras
uma e outra vez... mas uma guerra estoura em mim sobre como elas
me fazem sentir. Desespero e arrependimento lutam por dominância.
Antes que eu possa lutar com os dois, Cowboy levanta Sia em cima
dele. Eu me ajoelho atrás dela, levando seu corpo magro em meus
braços. Beijo seu pescoço, sua bochecha e sua boca, até que seus lábios
estão inchados. Com a mão suavemente colocada em suas costas,
abaixo-a até que a boca de Cowboy está sobre ela. Acaricio sua coluna
e coloco meu dedo entre suas pernas. Movo-me através de sua buceta
molhada, e então movo meu dedo para sua bunda. Sia fica tensa.
“Vamos cuidar de você, Cher,” Cowboy sussurra.
Cowboy geme tão alto quanto eu, quando nossos nomes reais
saem de seus lábios. Trabalho meu quadril mais e mais rápido, sinto
que a pressão começa a se construir em minhas pernas. Afasto-me das
costas de Sia, preciso ir ainda mais rápido. Cowboy guia Sia para cima,
com as costas arqueadas até cair contra meu peito. Coloco um braço
em volta da sua cintura, o outro em volta do seu peito. A cabeça de Sia
cai no meu ombro. As mãos de Cowboy estão em seus quadris. Seus
olhos estão vidrados, e sei que não demorará muito para ele gozar.
Giro o meu quadril mais rápido, a boca da Sia se abre. Uma mão
agarra a minha, a outra segura Cowboy enquanto sua respiração se
torna irregular. “Eu vou gozar,” ela sussurra, seu rosto se contorce
quando ela fica tensa, então grita o seu orgasmo.
“Eu amo tanto vocês dois,” Sia murmura, sua voz pingando com
o sono. Minhas narinas abrem, e tenho que trabalhar duro para não
me desfazer. Não posso dizer isso de volta. Sei o que está por vir. Se eu
disser essas palavras, nunca farei o que tenho que fazer.
Fui fraco. Deixei meu coração dominar minha cabeça. Não fui
inteligente. Estava apenas sendo egoísta. E agora os machuquei.
Monto no banco, passo a mão pelo lugar onde está minha foto.
Quando saio para a estrada aberta, deixo minha motocicleta me levar
para um lugar que não tenho ido há muito tempo. Com os olhos vítreos
e as mãos tremendo, eu monto forte.
23 Adeus (Francês).
Capítulo treze
Hush
A foto dos meus pais queima no meu bolso. Cada fodida memória
que eu tenho da pequena cidade caipira veio correndo para a superfície.
De marica após marica me baterem, me xingarem, jogando besteiras
em meus pais enquanto eles mantinham a cabeça erguida e
desafiadoramente atravessavam aquela cidade intolerante de mãos
dadas.
Parece bom pra caralho deixar ir. Permitir que os meus vinte e
seis anos de raiva controlem cada movimento meu. Movimento-me sem
pensar, sem caminho direto, apenas farei qualquer porra que a minha
alma me disser para fazer.
Agora ela está gritando para eu fazer isso. Para sentir isso.
Paro na mesa de Titus, e não espero por ele me ver. Jogo meu
punho em seu fodido rosto presunçoso, sentindo meus dedos se
rasgarem conforme eles batem em seu queixo. Sua cabeça estala para
trás e ele se põe de pé.
Estou aqui para ser quebrado. Estou aqui para ser dilacerado.
Estou aqui para esquecer quem diabos eu sou.
Quero levar isso. Quero acolher tudo o que este idiota pode dar.
Eu quero seus punhos, seus socos, seus chutes... e até mesmo daria
boas vindas a sua lâmina.
Outro punho de ferro bate em meu rosto. Punho após punho bate
em mim, até que eu já não posso sentir meu rosto. Até meus olhos
borrarem de suor, ou sangue, ou ambos. E todo o tempo eu continuo
sorrindo. Não falo merda nenhuma, conforme o rosto de Titus se torna
mais e mais vermelho. Conforme o imbecil tem uma ereção por bater
no vira-lata que ele jogou fora de seu antro com mentiras e besteiras
racistas.
*****
“Texas.”
Ele franze a testa. “Ele ficou para trás, enquanto você decidiu
voltar e ter uma reunião estilo Manson24?” Ele balança a cabeça. “Não
acredito nisso por um segundo. Ele não sabe que você está aqui, não
é?”
24 Charles Manson - Foi o fundador e líder de um grupo que cometeu vários assassinatos nos Estados Unidos no fim dos anos
1960.
Aperto minha mandíbula, coloco o copo vazio sobre a mesa antes
de esmagar o filho da puta em minhas mãos. “Ele está melhor sem
mim.” Olho ao redor do lugar de Crow. Eu não reconheço essa merda.
“Você se mudou?”
“Titus.” Digo.
Sua voz fica mais baixa. Grossa... simpática. “Eu não sabia sobre
seus pais.” Cada célula do meu corpo congela. Crow cruza os braços
sobre o peito. Ele aponta para os meus olhos. “Eu assumi pelos seus
olhos que você tinha algo branco em você. Você é claro demais para ser
totalmente negro.” Ele passa a mão pelo rosto. “Eu quis conseguir isso
para você. Mas eu não sabia onde você estava até recentemente. Você
está aqui agora, então penso que você deve querer saber.” Minha boca
fica realmente seca enquanto a pasta olha de volta para mim da mesa.
“Se isso ajuda.” Crow diz, “Eu não tenho o melhor passado
também.” Olho para ele fixamente. Ele encolhe os ombros. “A meu ver,
nenhum de nós nesta vida tem. Você está no Hangmen por uma de três
razões: Um, você é um pirralho motociclista, nascido na vida do colete.
Dois, como nós, algo realmente fodido te trouxe aqui. E três...” ele ri e
contorna a mão sobre sua tatuagem de corvo. “Você é apenas um fodido
psicopata que absolutamente ama matar, e foder uma puta diferente a
cada noite.” Ele sorri. “Ou como eu, eu suponho que você pode ser uma
mistura confusa do dois e três.”
Minha mãe era para estar fora de casa... o fogo foi feito para mim
e meu pai, ‘o negro e seu vira-lata’. Eles estavam lá para ‘salvar a irmã
branca do laço de seu marido negro e a abominação que é seu filho’.
Ela deveria ter ido. Saído da casa... mas eu tive um fodido ataque
epilético. Um fodido som dolorido, borbulhante, corta a minha garganta
enquanto eu atravesso a sala e recolho a pasta. Saio correndo do
apartamento e vou para fora, para o que deve ser a caminhonete de
Crow.
Não sei para onde eu caminho, ou onde vou parar, mas essa
escolha foi tirada de mim quando escorrego e caio de joelhos no chão.
Meu corpo cai para frente. Minhas mãos afundam na terra, meus
dedos afundam na lama misturada com cinzas. Fecho meus olhos, e
respiro. Apenas, porra, respiro conforme memória após memória se
repete em minha cabeça. De tempos mais felizes. De tempos tristes, e
da noite que este lugar queimou como um inferno na terra. Um inferno
cheio de ódio do desconhecido, o diferente e o mal compreendido.
“Mamãe.” Sussurro para o vento impetuoso. “Papai.” Minha voz
é abafada por um trovão. “Eu sinto muito.” Digo asperamente, minhas
lágrimas caem fundidas com as gotas do céu.
Descansarem juntos.
“Eu sinto muito.” Baixo minha cabeça para o chão, uma fodida
oração silenciosa. Uma oração para que onde quer que estivessem, eles
pudessem me ouvir. Ouvir quão arrependido seu filho estava por sua
doença fazer com que eles morressem, tudo porque ele estava atrasado
para chegar em casa. “Estou tão arrependido, porra.” Grito mais alto,
levantando os olhos, para ver nada além de madeira queimada e pregos
carbonizados. Arrastando-me, vou para frente e procuro através dos
escombros. Pego todos os pedaços de madeira que ainda estão intactos
e os empilho aos meus pés. Reúno tantos pregos quanto posso. Eu não
penso; apenas deixo minhas mãos começarem a construir. Usando
uma dura tábua pequena como meu martelo, eu coloco um grande
pedaço no chão. Então coloco outro na horizontal, uso a tábua para
martelar os pregos em uma cruz improvisada. Eu faço o mesmo com o
segundo, e ignoro meus cortes se abrindo e vertendo sangue.
Cowboy
Visto minha calça jeans e vou para cozinha. Nada está ligado.
Verifico a cafeteira onde fizemos o chá de chicória. Está fria. Franzindo
a testa, vou para o quarto de Hush. Vazio, a roupa de cama ainda
intocada. Começo a me virar, mas noto que sua mesa de cabeceira
estava um pouco aberta. Verifico se não há alguém atrás de mim, só
pra ter certeza que Hush não está por perto. Tudo está silencioso, há
só os barulhos suaves de Sia dormindo na minha cama.
“Ele foi embora.” Passo por ela até o banheiro e visto minha
camisa. Sia me segue.
“Eu vou,” Sia diz, tirando-me dos meus pensamentos. Foco nela.
Abro a boca pra falar, mas ela acrescenta, “Se ele foi embora. Se ele
estiver machucado,” ela estremece, como se apenas o pensamento
disso a matasse. “Então, eu vou.” Sia pega minha mão. “Nós somos um
time. Você, eu e Hush. Não ficarei de fora só porque tenho uma vagina.”
Meu lábio contrai. Sia beija minha bochecha. “Eu o amo. E amo você.
Preciso estar lá… para onde quer que precisamos ir.”
Ela puxa minha mão, fazendo-me parar. “Eu sou uma cadela
motoqueira, Breaux. Estive na traseira de motos antes de aprender a
andar.” Pisco, e sorrio da sua insolência que esteve perdida há muito
tempo, e a arrasto do apartamento. Tranco a porta e vou para a estrada.
Sia segura firme.
*****
E Sia os amaria.
Ele tenta se levantar, mas tem que segurar suas costelas. Sia me
olha, seu rosto deslumbrante cheio de tristeza pelo meu irmão
quebrado. Vou para frente. Abaixo-me na lama em que ele está deitado.
Seus olhos azuis me encontram, então ele quebra. Sia o segura mais
apertado. O irmão nem se queixa se ela está machucando-o. Em vez
disso, ele se agarra à ela como se fosse a única coisa que o mantém
vivo. Sia chora enquanto o segura. Ela o segura no lugar que é o seu
maldito inferno na terra.
Sua fotografia.
Hush encontra seus olhos, mas ele está em branco. Morto... isso
me aterroriza pra caramba.
Eu me agacho ao lado de Sia. “Val.” Seus olhos azuis caem em
mim. De perto posso ver o estado do seu rosto. Seu corpo inteiro está
maltratado e ferido. “Precisamos movê-lo.”
Lágrimas começam a vir dos olhos de Hush. Ele olha para trás,
para as cruzes. “Não tenho pra onde ir.”
Sia se acalma, agarrando seus braços. Ela olha para mim, seus
olhos arregalados em alarme óbvio. Eu me arrasto mais perto. Hush
estava apenas olhando as cruzes. “Val-”
Sia se arrasta para frente e o abraça por trás. Hush olha para
cima. “Não tenho ninguém. Nenhuma família.” Meu fodido peito dói
quando ele fala essas palavras. Porque ele nos têm.
Olho de volta para Hush. Ele está sentado. Mas seus olhos ainda
estão perdidos. Completamente desprovido de qualquer tipo de vida.
Isso me assusta mais do que qualquer coisa. “Foi seu avô,” disse Crow.
Volto para o meu antigo VP. “Ele é quem conseguiu que a Klan
começasse o fogo.” Ele se aproxima, voz ainda baixa. “Queria que ele e
seu pai morressem.” Crow hesita, olhando-me estranhamente, e diz:
“Seus amigos também sabiam, cara. Não estavam intimamente
envolvidos... mas eles sabiam que algo estava acontecendo. Pensei que
você devia saber.”
“Hush tem uma lista dos que estavam aqui. Quem queimou o
lugar.” As palavras de Crow estão penduradas entre nós. Entendo o
que ele está dizendo alto e claro. Eles não andariam nessa terra por
muito mais tempo. Código de irmãos Hangmen. Crow aponta o polegar
para o sul. “Há um motel na próxima cidade. Pegue seu garoto e...” ele
olha para Sia.
“Longa história.”
“Ele sabe que você pegou a irmã dele como sua cadela?”
Quando ele volta para a sua moto, eu digo, “Por que está nos
ajudando? Se Titus descobrir, ele vai matar você.”
“Vou deixar seu irmão te dizer.” Crow vai embora. Eu vou para
Hush. Pego-o do chão e empurro seu braço em volta do meu pescoço.
Sia vai para o outro lado, refletindo minha ação. Sei que ele não quer
ir, mas é uma merda difícil. Ele tem uma família. Ele tem pessoas que
o amam.
E era hora dele deixar essa poça. Porque não iremos a lugar
algum.
*****
Olho para eles por um tempo. Duas pessoas que não tinham
nada além de merda em suas vidas. Sia, que desejava que alguém – ou
algumas pessoas – a amasse. E Hush, que afugentava todos, porque
tudo o que ele já viu foi duas pessoas apaixonadas serem destruídas
porque algumas pessoas achavam que eles escolheram errado.
“Na caminhonete.” Ele aponta para fora. Não sei o que ele quer
dizer, mas coloco a comida para baixo e vou para a caminhonete de
qualquer forma. Procuro na cabine até encontrar a pasta cheia no
porta-luvas. Volto para dentro. Hush não se moveu.
Idiotas.
Sia acorda e sorri para Hush, e depois para mim. Hush acaricia
seu cabelo novamente antes de beijar seus lábios. Sia come a comida
em silêncio. Todos nós o fazemos. Quando tudo foi comido, deito-me
na cama atrás dela. Sua mão está no peito de Hush, a ponta dos dedos
sobre suas tatuagens.
Hush coloca a mão na dela para detê-la. “Eu não quero uma vida
para você, onde você é julgada por estar comigo. Pode não acontecer
hoje ou amanhã, mas alguém em algum lugar vai dizer algo, um dia.
Pode até ser mais do que palavras. Eu...” ele balança a cabeça. “Não
posso fazer isso com vocês dois.”
“Em nossa casa. Será o nosso mundo. Não teremos que dar uma
merda sobre os que estão lá fora. Eu amo tanto vocês dois.” Ela segura
o olhar de Hush. “Você sabe disso?”
“Há anos que aguento acordar dia após dia para ver se você foi
embora.” Falo. Hush não olha para mim. Seus olhos se perdem
enquanto ele encara os lençóis. “Eu sempre soube que havia uma parte
fechada de você. Uma que você nunca lidou.”
Hush fica em silêncio por tanto tempo, que penso que ele ainda
discutiria. Mas então ele me olha. “Eu tenho que resolver isso,” ele
reconhece, e vejo seu rosto desmoronar. Ele abaixa a cabeça. “É
sufocante. Eu não posso... não consigo respirar com isso pesando tanto
sobre mim.” Quando ele olha novamente, sei o que ele quer.
“Tudo o que você precisar,” digo a Crow. “Seja o que for, para
levar justiça a esse idiota.”
Crow fica de pé. “Vou aguardar sua ligação.” Ele sai do quarto do
motel e Sia sai do banheiro. A preocupação está escrita em seu rosto.
Eu sei que ela estava ouvindo.
“Ela cresceu aqui.” Hush aponta para a casa. Ele balança sua
cabeça. “Como ela pode ter sido feliz em nosso barraco?”
Nós dois viramos para ver uma mulher mais velha com cabelo
loiro grisalho e olhos azuis... olhos exatamente iguais aos de Hush. E,
como Hush, um deles estava rodeado por hematomas.
Hush estava tão imóvel quanto uma estátua, até que ele ergue a
mão e suavemente segura seu pulso. “Prazer em conhecê-la...
Mormor26.”
26 Avó (Sueco).
quando ele atirou nele. Eu estava escondida, então desci para
encontrá-lo aqui, morto.”
Ele finalmente olha para mim e assente. Ao passar por sua avó,
ela diz, “Quando tudo isso acabar... gostaria muito de vê-lo.”
“E você deve voltar e ver sua mãe,” ela diz. Hush se acalma. Mais
lágrimas derramam dos olhos da Sra. Moreau. “Ela está no nosso
jardim.” Hush assente, mas eu sabia que ele não seria capaz de falar,
sabendo que ele está andando no mesmo terreno que sua mãe. Como
se isso não bastasse para o irmão ouvir, ela diz, “E eu também o levarei
para ver seu pai.”
Ela baixa a cabeça, sem dúvida com vergonha, mas Hush estava
do outro lado da sala em um segundo, abraçando a mulher mais velha
em seu peito. “Obrigado,” ele sussurra, então diz algo pra ela em sueco
que eu não entendi.
A Sra. Moreau ouve e segura seu neto mais próximo. “Sinto
muito, Valan,” ela chora. “Sinto muito que ele fez o que fez. Sinto falta
da minha menina… sinto muita falta dela. Como se uma parte do meu
coração foi tirado de mim.” Ela se afasta e dá um fraco sorriso. “Mas
ver você… o quanto se parece com ela… hoje, deu vida para minha
alma.” A Sra. Moreau ri. “Você é tão bonito, querido.”
Ódio, grosso e puro, corre pelo meu sangue. “Estão mortos para
mim,” digo e vejo Hush fechar os olhos por um breve momento. Quando
eles se abrem novamente, dou uma piscadela e meu sorriso de marca
registrada, toco a ponta do meu Stetson e digo, “Vamos para casa, mon
ami... vamos para a nossa maldita casa.”
Capítulo quinze
Sia
Não tenho certeza se ele ainda está chateado comigo. Mas preciso
falar com ele. Depois da Louisiana, depois de ver Hush tão quebrado
sobre sua família, e depois tão diferente... feliz. Quando ele me contou
sobre sua avó, tudo que consegui pensar era em Ky.
Ele sempre será quieto; essa é apenas sua natureza. Mas ele fala
comigo. Eles sempre estão me beijando, fazendo amor comigo...
amando-me. Eu nunca estive tão feliz na minha vida inteira. Só quero
que o clube os receba de volta. Não há nada além de silêncio desde o
México.
Então me levanto. “Ei.” Abaixo meus olhos. Não sabia mais o que
dizer. É tão estranho.
Saio pela porta. Ky está subindo em sua moto. Ele bate na banco.
“Suba, irmã.” Eu subo atrás da moto, inalando o cheiro de couro.
Sempre me lembra de Ky. Quando eu era mais jovem, ele me levava
para passear na moto. Às vezes por horas, apenas na estrada aberta.
“Ky, eu amo muito você. Mas nunca mais fale coisas assim pra
mim ou vou cortar a sua língua quando você dormir.”
"Você não pode fazer isso, irmã.” Ele dá de ombros. “Li não pode
viver sem essa língua.” Reviro os olhos e faço um som de engasgo. Ky
coloca a mão no meu pulso. “Sério. Nunca mais mencionarei a dança
conga se você nunca fizer esse som. Agora eu consigo uma fodida trilha
sonora de como você soa ao chupar um pau.”
“Sim.” Ele assente. "E com uma tia fodendo dois homens, ele vai
achar que tem direito a todas as bucetas que ele pode conseguir.”
“Eu preciso contar algumas coisas. E estou aqui meio que por
trás das costas de Hush e Cowboy para te contar. Mas quero que você
saiba. Quero que você entenda por que Hush é do jeito que ele é. Por
que ele está tão quebrado.” Ky lambe o lábio inferior, virando-se para
olhar para o rio. Mas sei que ele está ouvindo todas as minhas palavras.
“E há algumas coisas sobre o Prez de Nova Orleans, que acho que você
deve saber.”
Hush lentamente levanta a mão para mim. “Vá até ele,” Cowboy
sussurra. Meus pés obedecem, cruzando a cozinha até eu envolver
minha mão na de Hush. Como sempre, ele olha para nossos dedos
unidos. Mas antes, eu via medo em seu rosto, ansiedade sobre as
diferentes cores e o que isso poderia significar para nós. Como se seu
passado entrasse em erupção espontaneamente no presente. Agora,
quando olho os nossos dedos - branco e marrom - eu vejo apenas amor
e carinho em seu olhar. Sei que sempre haveria uma parte dele que se
preocuparia. Mas eu espero que os anos felizes à frente derrubem
lentamente seus medos.
Chego mais perto de Hush, minha mão livre corre pelo seu
peitoral e abdômen. Outra gota de água corre pelo seu peito.
Inclinando-me, lambo a gota. Hush sibila e segura a parte de trás da
minha cabeça com a mão. Eu olho para cima, nossos olhos colidem, e
ele bate sua boca na minha. Eu gemo, sem fôlego, quando sua língua
escorrega para encontrar a minha. Ele pega minha boca, forte e rápido,
mas tão incrivelmente doce ao mesmo tempo.
27 Eu te amo (Francês).
arqueio as costas, me entregando a ele. Tiro uma mão de Cowboy e a
movo para trás, até que as costas dos meus dedos correm o
comprimento do seu pau. Cowboy geme em meu ouvido, empurrando-
se contra minha palma. Pego-o suavemente, acariciando o
comprimento subindo e descendo.
Sobre ambos.
Eu quase não tive tempo para abrir meus olhos quando Cowboy
abre minhas pernas, e ligeiramente me senta. Hush vem entre nós,
mantendo seus olhos em mim e coloca-se na minha entrada. Não há
nenhum preservativo agora. Não há necessidade. Eu sou deles, e eles
são meus. Engasgo com um grito quando Hush começa a me encher.
A mão de Cowboy corre pela minha espinha, deixando uma linha de
fogo em seu rastro.
Eu sou adorada.
Eu gemo enquanto sinto que não aguento mais. Minha pele está
tão lisa de suor, escorregadia como manteiga entre dois corpos pesados
e musculosos. Enjaulada pelos dois homens que amo. Dois homens
que foram até os confins da Terra para me salvar. Arriscaram suas
vidas para que pudessem me ter.
“Nunca mais consegui fazer isso depois. Era minha cruz para
suportar. Mas, novamente, Cowboy sabia disso, e nunca me deixou
voar sozinho.”
Hush
“Continue, querida.”
28 Na bandeira do Texas há apenas uma estrela, e o Estado passou a ser conhecido por essa expressão.
Cowboy pisca. “Sempre.”
Ele não diz muito em tudo, mas eu entendo o subtexto, ele está
agradecendo a nós.
Cowboy estende os braços. “Merda, VP. Será que isso nos faz
irmãos de verdade?”
“Eu entendo, você não teve a melhor vida também.” Ele faz uma
pausa, e sinto meu coração bater mais rápido. Penso em Sia. O que ela
disse? “Se você entrar em problemas, tiver merda para lidar com o
passado ou mesmo com o presente, então venha para nós.” Ele aponta
o polegar para Styx, que está silenciosamente observando tudo isso
sendo jogado. Ele está olhando para minhas contusões e cortes. “Temos
um velho rancho que pertencia a um dos irmãos que morreu há alguns
anos atrás. É perto daqui.” Ele sorri. Entendi. Ele nos quer por perto,
para manter um olho em nós com sua irmã. “Darei a Sia. Vou vender
seu antigo lugar — há muitas memórias ruins lá. Não está nas terras
do complexo, mas está tão perto quanto pode estar. Ela é parte deste
clube agora também. Tarde pra caralho, eu sei. Mas agora ela está aqui.
E quero que ela fique perto de mim.” Ele passa a mão pelo cabelo. “Sem
dúvidas, vocês fodidos viverão lá também.”
“Sim,” digo.
Ky vira, então, olha para nós, e diz, “Se eu ouvir uma palavra
sobres vocês fodendo a minha irmã. Você ou qualquer irmão—” ele para
no meio da frase e se corrige. “Se vocês ousarem dizer a Vike porra,
então eu começarei a reorganizar suas caras de verdade. Combinado?”
“Combinado,” respondo.
Styx sai pela porta dos fundos, a porra da luz do sol me cega. Eu
faço uma sombra nos meus olhos com a mão, e congelo quando vejo o
que está na minha frente.
Os meus irmãos.
Eu faço parte.
*****
Um mês depois…
Igreja tinha sido transferida para o bar. A sala está cheia com
cada Prez e VP de todos os estados do sul. Styx senta-se à frente da
sala, Ky ao lado dele. Trouxeram uma grande mesa, grande o suficiente
para acomodar o mar de homens. Estou na parte de trás com o resto dos
membros de Austin. Apenas o Prez e VP tem um lugar à mesa. Fomos os
únicos não líderes permitidos aqui hoje.
Cowboy está ao meu lado, mas seus olhos não estão em Styx,
eles estão olhando para o cara do outro lado da mesa. Titus sentou-se
ao lado de Crow. Crow encontrou os nossos olhos quando ele chegou
aqui. Ele balançou sua cabeça. Ainda é completamente um babaca.
“Se nós cairmos pelo clube, será a merda de uma honra,” Suede,
o Prez da seção do Arkansas, diz com orgulho. Irmãos concordam. Styx
assente com aprovação.
“Temos que ser fortes,” Styx acena, Ky como seu porta-voz.
“Somente os irmãos mais dedicados lutarão.” Styx olha para Tanner.
Franzo minha testa. Que porra está acontecendo? Tanner sai da sala.
Então Styx olha para Titus. Eu me acalmo. Cowboy estende a mão e
agarra meu braço.
29 Clube um por cento – Clube que atua com negócios ilegais. Estima-se que 99% dos clubes MC nos EUA atuam dentro da
lei.
“Faz tempo que não nos vemos, seu bando de babacas ianques!” Seu
sotaque britânico viaja como um relâmpago pela sala.
“Você sabe disso!” Vike bate nas costas de Rudge com sua mão
gigante.
Sia.
“Bem,” Crow olha para o patch em sua mão. “Parece que eu tenho
a porra de um clube para comandar.”
“Você é bem-vindo para voltar,” Crow diz. “De volta para casa.
Há sempre um lugar para você na minha mesa.”
Ele se vira para me olhar. “Eu entendo por que você teve
problema comigo.” Ele ri, mas não tem nenhum humor porra. “Quero
dizer, eu sei que você provavelmente olhou para mim com as minhas
tatuagens do poder branco e, como você é...”
Tanner acende outro cigarro, mas ele nem sequer o leva aos
lábios. Apenas deixa aquele cigarro filho da puta queimar em suas
mãos. “Lutar,” ele fala, com sua voz grossa. Ele olha para mim. “Eu não
estava mentindo quando me juntei aos Hangmen. Esta é a minha casa
agora. Meu lugar. E vou ficar contra meu pai, tio, e até mesmo o meu
irmão se eu tiver que fazer isso.” Ele balança a cabeça. “O que eles
estão fazendo é errado. Entendo isso agora. Então vou lutar.”
Levanto minha mão, e hesito. Tanner deve ter visto o gesto, ele
fica tenso. Então, respiro através das memórias daquela noite, das
imagens, dos capuzes e as tochas, deixo essa merda ir... e coloco minha
mão em seu ombro. E aperto. “Você tem um caminho difícil pela frente,
irmão.”
Naquele momento, não sinto pena por Tanner Ayers. Porque ele
está prestes a passar pelo inferno durante esta guerra. Deixo-o sozinho
e entro no bar.
Como irmãos.
Hush
E eu amo isso.
Minha avó olha para o táxi. “Estou indo para casa.” Sinto tristeza
imediatamente, porque sei que ela não está falando da Louisiana.
Engulo em seco, tentando mover o nó em minha garganta. Eu ainda
não tive a oportunidade de conhecê-la. Tenho feito como ela disse.
Fiquei longe da Louisiana até o caso de meu avô ser encerrado. A polícia
acreditou em minha avó, pelo menos, não tinham nenhuma evidência
para provar qualquer outra coisa.
“Suécia,” sussurro.
Sua mão acaricia meu rosto. Ela usa luvas brancas. Tento me
afastar, sabendo que ela as sujaria de óleo. Ela não me deixa. Não se
importa. “Eu tenho uma casa em Estocolmo. Você deveria vir e visitar
com os seus amigos.” Balanço a cabeça, sentindo como se tivesse
levado um soco no estômago. “E vou ligar para você, tudo bem?”
Sia sorri. “Eu nunca fui para a Europa.” Então seu sorriso
desaparece, e uma expressão nervosa domina seu belo rosto. Ela
estende sua mão. Cowboy a solta.
Sia me puxa para mais perto dela e fica na ponta dos pés para
me dar um beijo. Seus lábios tremem. Eu seguro seu rosto em minhas
mãos.
“Você falou?”
“Venha com a gente.” Sia me puxa com ela. O sol está brilhando
e o tempo está quente. Sigo-os ao redor do pequeno aglomerado de
árvores. Então... eu paro de andar, vendo o que está me encarando
debaixo da sombra de uma figueira.
Minhas mãos tremem, e eu sei que lágrimas estão caindo dos
meus olhos enquanto olho para o chão... em duas lápides de mármore
branco. Uma escrita, ‘Aia Durand, esposa amorosa e mãe’. A outra está
escrito, ‘Dominic Durand, pai amoroso e marido’. Um som de dor
sufocado escapa da minha garganta quando eu aproximo e vejo a
imagem... minha foto deles, a que eu mantive na minha gaveta por
tantos anos; foi gravada em cada uma das lápides.
Então eu juro que viverei para os meus pais que não tiveram a
oportunidade de envelhecerem juntos.
E eu amaria.
Eu seria feliz.
Crow
Louisiana
“Bem vindo!”
“Que porra é essa que você fez com eles?” Ele pergunta, sua voz
rompendo com medo.
“O quê?”
É hora de jogar.
Meus dados rolam cada vez mais rápido pelas minhas mãos. Eu
posso ouvir a respiração difícil do filho da puta daqui.
Eu sorrio e prendo meu olhar no seu. “Hades diz que você perde.”
Abandono o banco em segundos, os dados de Hades de volta no
meu bolso. Du Pont começa a gritar atrás de mim. Eu pego a lata de
gasolina que trouxe. Agito, ouvindo o quanto tem dentro. “Chega,” eu
digo e me viro para Du Pont.