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INTRODUÇÃO
Assim como as vitaminas, os minerais não podem ser sintetizados pelo corpo, de
maneira que precisam ser adquiridos via dieta. Embora não sejam capazes de fornecer
calorias, exercem diversas funções importantes, atuando, por exemplo, como cofatores
enzimáticos, na manutenção do equilíbrio ácido-básico, do equilíbrio hidrossalino, na pressão
sanguínea, na neurotransmissão, na contração muscular, etc. Encontram-se solubilizados na
água, seja no líquido extracelular (LEC), seja no líquido intracelular (LIC), geralmente na forma
carregada. Por isso, são constituintes de uma série de secreções, como, por exemplo, a urina, o
suco gástrico, suco pancreático, o suco entérico e o suor. Alguns líquidos corporais são mais ou
menos dotados de determinados mineiras e íons. O sódio, por exemplo, é o principal eletrólito
encontrado no LEC, enquanto o potássio é o principal eletrólito do LIC. A composição iônica do
LEC é diferente da do LIC, conforme pode ser observado na figura abaixo, que compara o
plasma com o líquido intracelular. Foi escolhido o plasma para aqui representar o LEC por ser
um líquido acessível às investigações clínicas.
Repare que os principais íons no plasma são sódio (140 mEq/L) e cloreto (100 mEq/L).
Há uma significante concentração de bicarbonato (25 mEq/L), enquanto fosfato, sulfato,
ácidos orgânicos, potássio (4-5 mEq/L), cálcio, magnésio estão em menores proporções.
Perceba ainda que a concentração de proteínas (proteinatos) no plasma é menor que no LIC. O
fluido intersticial (ou líquido intersticial) difere do plasmático praticamente pela presença de
concentração relativamente elevada de proteínas no plasma (cerca de 70 g/L ou 16 mEq/L),
além de pequenas diferenças de concentrações iônicas. Há concentrações cerca de 5% mais
elevadas de ânions no lado intersticial, com nível baixo de proteínas, enquanto os cátions
possuem concentração mais elevada, na mesma proporção, no lado plasmático. A tabela
abaixo demonstra alguns valores de referência e observações de alguns dos íons em estudo.
Sódio e cloreto
O sódio é o cátion mais abundante do LEC. É o eletrólito que mais exerce pressão
oncótica sobre a água, ou seja, o que mais exerce pressão osmótica sobre a água, mantendo-a
no interior dos vasos sanguíneos, impedindo que ela se extravase. A albumina, uma proteína
plasmática, é o principal constituinte orgânico que exerce pressão oncótica. A movimentação
da água no corpo tende a seguir a movimentação do sódio, de maneira que o sódio é
fundamental na manutenção do equilíbrio hídrico. Além de trocar com o potássio, conforme
mencionado, o sódio também pode ser trocado com íons H+, principalmente pelas células
tubulares renais, sendo, por isso importante na manutenção do equilíbrio acido-básico. O
sódio é ainda necessário para transmitir os impulsos nervosos e estimular a ação muscular. É
também necessário ao transporte ativo de substâncias por meio das membranas celulares,
pois é trocado como co-transportado com tais substâncias. Por exemplo, é bem conhecida sua
participação na absorção da glicose no intestino delgado e em sua reabsorção renal por
mecanismo de co-transporte.
O cloreto é o ânion que se pode combinar com o sódio no LEC (exemplo, sangue e
urina), e com o potássio, no LIC. O cloreto pode passar entre LEC e LIC por meio do
transportador CFTR (cystic fibrosis transmembrane conductance regulator – alterações no gene
que codifica essa transportador modifica a viscosidade de líquidos epiteliais no pulmão,
pâncreas e outros órgãos, resultado nos sintomas da fibrose cística) das membranas celulares.
Durante a digestão, parte do cloreto sanguíneo é utilizado para a formação de ácido clorídrico
ao ser secretado pelas células parietais gástricas na luz do estômago, onde atua facilitando a
clivagem do pepsinogênio e digestão de proteínas, e depois é reabsorvido na corrente
sanguínea com outros nutrientes. O cloreto é importante também na inibição da transmissão
nervosa, reduzindo o potencial de ação para modular a neurotransmissão.
O cátion sódio e o ânion cloro são geralmente encontrados nos alimentos como
cloreto de sódio – o sal de cozinha. Os seres humanos têm demonstrado a capacidade de
sobreviver aos extremos de ingestão de cloreto de sódio, com dados mostrando populações
que consomem desde menos de 0,2 g/dia (10 mmol/dia), como os índios Yanomami do Brasil,
a mais de 10,3 g/dia (450 mmol/dia) em algumas regiões do Japão. Um dos efeitos adversos
mais comuns da ingestão aumentada de cloreto de sódio é a elevação da pressão sanguínea,
reconhecidamente um fator de risco para doenças cardiovasculares e renais, já que o sódio é o
principal eletrólito a realizar a pressão oncótica, como já mencionamos. Estudos
epidemiológicos têm mostrado que a frequência com que a hipertensão é encontrada em uma
população aumenta em relação à quantidade habitual do sódio consumido por ela. Para
muitos indivíduos, a pressão arterial eleva-se progressivamente com o aumento da ingestão de
sal.
Potássio
O sódio é mantido fora da célula via bomba de Na+/K+ ATPase. Há vários sistemas e
hormônios que influenciam no balanço de sódio e cloreto, incluindo o sistema renina-
angiotensina-aldosterona, o sistema nervoso simpático, o peptídeo atrial natriurético, o
sistema calicreína-cinina, vários mecanismos intrarrenais e outros fatores que regulam o
fluxo sanguíneo renal e medular e a excreção e reabsorção de sódio. É importante lembrar
também que o cloreto, por diferença de gradiente eletroquímico, tende a seguir o movimento
de sódio entre os fluidos corporais.
Mas na urina não deixa de haver potássio, resultante de sua secreção pelas células
ductais renais, a qual é regulada por alguns fatores, como a própria aldosterona. Isso porque a
aldosterona estimula a reabsorção de sódio, mas esta só ocorre com uma troca com o
potássio: a aldosterona estimula a síntese de uma bomba Na+/K+ ATPase, que transporta o
sódio da célula tubular para o sangue, mas joga o potássio do sangue para a célula tubular.
Uma concentração plasmática elevada de potássio estimula o córtex da adrenal a liberar a
aldosterona, de maneira que os efeitos acima descritos passam a ocorrer.
Fontes alimentares e formas de ingestão de sódio, potássio e cloreto
O sódio é consumido como cloreto de sódio (sal), bicarbonato de sódio e sob várias
formas contidas em alimentos processados, por exemplo, o glutamato monossódico e outros
aditivos alimentares, na forma de fosfato, carbonato e benzoato de sódio. Porém, a forma
mais consumida é o sal de cozinha (aproximadamente 90% do total do sódio ingerido). Outras
fontes de sódio são leite, carnes, frutos do mar, ovos e vegetais mais ricos em sódio (como
cenouras e beterrabas). O cloreto também tem como principal fonte dietética o sal de cozinha.
A tabela abaixo exemplifica teores de sódio em alguns alimentos que são ricas fontes:
Nos vegetais e nas frutas o potássio é normalmente encontrado na forma livre (K+),
enquanto produtos animais contêm sais de potássio, como fosfato de potássio, citrato de
potássio e lactato de potássio. Nos alimentos processados e nos suplementos em que há
adição de potássio, o ânion conjugado é o cloreto (KCl).
Cálcio
Perceba que o esqueleto, além de seu papel estrutural, também serve como
reservatório de cálcio. Este também é utilizado na ativação de enzimas hidrolíticas, na qual
ele se encontra associado com resíduos de aspartato ou de glutamato. Essas enzimas
hidrolisam polissacarídeos, proteínas e fosfolipídios. Várias metaloenzimas, como alfa-amilase
e fosfolipases, contêm cálcio como parte essencial do seu sítio catalítico. O cálcio também se
encontra associado com proteínas ligantes de cálcio e, nesse caso, mantém interações entre
macromoléculas, isto é, ligações de uma proteína a outra e de uma proteína a uma membrana
fosfolipídica, participando assim da sinalização celular. O cálcio é também importante na
hemostasia, pois é fundamental para a ativação dos fatores de coagulação. Muitos dos
anticoagulantes utilizados para prevenir a coagulação de amostras de sangue in vitro agem
quelando o cálcio (p. ex., EDTA, citrato).
Diagrama esquemático do fluxo de cálcio pelo organismo. O pool de cálcio inclui o cálcio em solução no LEC e/ou
associado com o osso, descrito em unidades de massa, por exemplo, mmol. Vi: cálcio ingerido no alimento; Va:
cálcio absorvido do alimento; Ve: cálcio endógeno perdido nas fezes; Vu: cálcio excretado na urina; Vf: cálcio
excretado nas fezes; Vv: cálcio perdido pelo suor, sêmen, fluido menstrual, leite; Vo +: cálcio depositado no osso; Vo–
: cálcio liberado do osso (ressorvido); V: velocidade descrita em unidades de massa por unidade de tempo, assim Va
+ Vo– = Vu + Ve + Vo+ + Vv. Em pessoas não lactantes, Vv é geralmente muito pequeno. O balanço de cálcio no
organismo = balanço de cálcio no osso = Vo+ - Vo–.8
A excreção de cálcio se dá pela urina, pelas fezes e por outros fluidos, como suor,
sêmen e menstruação. O cálcio ionizado e o cálcio complexado com pequenos ânions são
filtrados no glomérulo renal. Em seguida, a maior parte do cálcio filtrado (98 a 99%) é
reabsorvida pelo néfron, ou seja, a pequena fração que não foi reabsorvida representa a
fração excretada. Durante a reabsorção do cálcio, ocorre transporte ativo (contra um
gradiente de concentração) pela CaATPase (que bombeia apenas cálcio) e pelo trocador
Na+/Ca2+ (NCX1), presente na membrana basolateral das células renais. O cálcio também pode
ser excretado pelas fezes, que carreiam o cálcio da dieta que não é absorvido mais o cálcio
endógeno que é secretado por células da mucosa do TGI, na saliva, no suco gástrico, suco
pancreático e bile. As perdas fecais endógenas são de aproximadamente 2,5 a 3 mmol (100 a
120 mg) por dia. Observou-se, em estudos controlados realizados em humanos consumindo
níveis moderados de cálcio (700 mg/dia), que cerca de 26% da ingestão era excretada na urina
e 74% nas fezes.
O leite e os vegetais de folhas verdes são ricos em cálcio. Geralmente, produtos lácteos
contribuem com cerca de 2/3 do cálcio alimentar, com vegetais, frutas e grãos suprindo
praticamente o restante. Carnes, aves e peixes suprem apenas pequena parte do cálcio da
dieta. No entanto, a eficiência da absorção do cálcio é praticamente similar na maioria dos
alimentos, incluindo o leite e seus derivados. Deve-se ressaltar que o cálcio pode ter baixa
absorção em alimentos ricos em ácido oxálico, como espinafre, batata-doce e feijão. O ácido
oxálico é o inibidor mais potente da absorção do cálcio. A absorção de cálcio do espinafre é de
apenas 5%, comparada com 27% do leite em doses similares. Alimentos ricos em ácido fítico
(forma de armazenamento de fósforo nos vegetais, principalmente em sementes), como feijão
cru, sementes, castanhas, cereais e isolados de soja, também podem proporcionar baixa
absorção de cálcio. A lactose parece aumentar a absorção em crianças. No entanto, em
adultos, a absorção de cálcio de vários produtos perecíveis parece ser equivalente. Em
produtos como o iogurte, que apresenta lactose parcialmente hidrolisada, ou mesmo em
alguns queijos que não contêm lactose, a absorção de cálcio é tão eficiente quanto no leite.
No Brasil, a ingestão de cálcio está muito abaixo dos valores considerados ideais: varia,
em média, de 300 a 500 mg, e a ingestão dietética recomendada em crianças varia de 500 a
800 mg e 800 a 1000 mg adultos. Portanto, a recomendação de fortificação de alimentos ou
mesmo a suplementação com cálcio deve ser implementada nos grupos de maior risco como
medida de saúde preventiva. São grupos de risco:
Fósforo
O fósforo presente nos alimentos é uma mistura de fósforo nas formas inorgânica e
orgânica. Fosfatases intestinais hidrolisam a forma orgânica e, assim, a maior parte da
absorção ocorre como fósforo inorgânico. A porcentagem de absorção total do fósforo varia
de 55 a 70% em adultos21 e de 65 a 90% em bebês e crianças.
• Componente dos ossos e dentes. Os ossos são compostos por uma matriz orgânica e
uma inorgânica. A matriz orgânica consiste em 90 a 95% de fibras colágenas e o
restante, de um material amorfo denominado substância fundamental. Já a matriz
inorgânica é constituída por sais cristalinos de cálcio e fosfato, os quais são
componentes importantes da estrutura química da hidroxiapatita. A hidroxiapatita é o
principal sal cristalino e corresponde a aproximadamente 60 a 65% do peso total dos
ossos.
• Faz parte da estrutura química dos fosfolipídios, fosfoglicídeos, fosfoproteínas,
ácidos nucleicos e nucleotídeos. Esses compostos, por sua vez, conferem às
membranas celulares suas características típicas.
• Agregação plaquetária. O fósforo, sob a forma de fosfato, é importante também para
a agregação de plaquetas e para a ativação dos fatores X e V na cascata de coagulação.
• Manutenção do equilíbrio ácido-básico. o tampão fosfato é responsável por uma
parte relativamente pequena do tamponamento do sangue. O tampão fosfato atua,
sobretudo, em nível intracelular, e é constituído por dois sais, mono-hidrogeno fosfato
de sódio (fosfato de sódio dibásico HPO4-2) e di-hidrogeno fosfato de sódio (fosfato de
sódio monobásico H2PO4-) – este último funciona como ácido e tampona as bases.
Bicarbonato, fosfato e proteínas celulares constituem, além da hemoglobina, os mais
importantes tampões intracelulares.
• É imprescindível na transdução de sinal entre as células e os tecidos por meio da
atividade das cinases e fosforilases, cuja ação conjunta é responsável pela regulação
do metabolismo e pela manutenção da homeostase corporal.
• O fósforo desempenha um papel importante no metabolismo energético (como
constituinte do ATP, GTP, ADP, GDP) e na sinalização celular intracelular, fazendo parte
da estrutura química de coenzimas essenciais ao metabolismo corporal, além de ser
componente-chave para o ATP e o 2,3-difosfoglicerato. O ATP, descoberto por Karl
Lohman em 1929, funciona como uma molécula de armazenamento temporário de
energia, sendo essencial para todos os processos fisiológicos e metabólicos. O 2,3-
difosfoglicerato atua possibilitando a liberação do oxigênio da hemoglobina e sua
posterior distribuição aos tecidos. Essas funções são relevantes a todos os seres vivos,
mas especialmente importantes a pacientes cujas necessidades de oxigênio
encontram-se elevadas em função de um estado catabólico.
• Regula o metabolismo de macronutrientes por ativação de enzimas-chave (como a
fosfofrutocinase na fase da glicólise); metabolismo do glicogênio, por meio do balanço
da atividade das enzimas glicogênio sintase e glicogênio fosforilase; ação do fósforo no
ciclo de Krebs, por fazer parte do ATP, NAD, FAD e por atuar na regulação da atividade
de enzimas como a piruvato desidrogenase, isocitrato desidrogenase e alfa-
cetoglutarato desidrogenase. Regula a cadeia de transporte de elétrons por meio da
NAD, FAD e da relação ADP/ATP.
• Outras funções. Concentrações adequadas de fósforo são essenciais para o
metabolismo da glicose como forma de obtenção de energia, bem como para a síntese
proteica, função neurológica e muscular (principalmente do diafragma e miocárdio).
Além de todas essas funções, o fósforo, sob a forma de fosfato, é componente dos
ácidos desoxirribonucleico (DNA) e ribonucleico (RNA). Essas moléculas estão
presentes no núcleo celular, apresentando funções de transmissão das informações
hereditárias e síntese proteica.
O fósforo presente nos alimentos é uma mistura de fósforo nas formas inorgânica e
orgânica. Fosfatases intestinais hidrolisam a forma orgânica e, assim, a maior parte da
absorção ocorre como fósforo inorgânico. A porcentagem de absorção total do fósforo varia
de 55 a 70% em adultos e de 65 a 90% em bebês e crianças. O fosfato pode ser excretado pelas
fezes, mas maior parte é excretado na urina, embora a maior parte que alcança a luz urinária é
reabsorvida. O PTH estimula a absorção intestinal e inibe a reabsorção renal de fosfato, porém
diversos hormônios e fatores parecem influenciar a homeostase do fósforo.
Existem dois tipos de fósforo nos alimentos: o naturalmente encontrado (orgânico) e
o intencionalmente adicionado (inorgânico), os quais diferem quanto à eficiência de absorção.
O fósforo orgânico apresenta um menor percentual de absorção, é menos biodisponível e
necessita da ação de enzimas digestivas para ser degradado e absorvido. Já o fósforo
inorgânico, constituinte dos aditivos alimentares, é a fonte de fósforo mais rapidamente
absorvida, chegando a atingir de 90 a 100% de biodisponibilidade. O fósforo orgânico
proveniente de alimentos de origem animal apresenta maior biodisponibilidade (40 a 60%)
quando comparado ao de origem vegetal. Tem sido estimada uma taxa de ingestão de fósforo
de aproximadamente 20 mg/kg de peso ao dia em países do ocidente, sendo de 20 a 30% do
fósforo dietético proveniente de alimentos industrializados e refrigerantes. A ingestão
dietética recomenda de fósforo para adultos é de 700 mg/dia.
Por outro lado, o excesso de fosfato pode ocasionar injúrias teciduais e celulares,
assim como calcificação vascular, disfunção renal, alteração nas vias de sinalização celular;
diminuição da fertilidade, além de predispor ao envelhecimento precoce e aumento do risco
de desenvolvimento de câncer. A toxicidade aguda pode favorecer a ocorrência de
hipocalcemia e sintomas associados a ela, tais como tetania, hipotensão e taquicardia. A
toxicidade moderada provoca a deposição de cristais de fosfato de cálcio em tecidos moles,
sendo encontrada com frequência calcificação vascular e renal. Pacientes com insuficiência
renal são os mais predispostos à hiperfosfatemia, pois seus mecanismos de excreção de
fosfato estão prejudicados. No campo da Nutrição, maior atenção tem sido dispensada quanto
à alta ingestão de fósforo por meio de bebidas carbonatadas e de aditivos de fosfato
adicionados a alimentos. Uma dieta rica em aditivos pode aumentar o conteúdo de fósforo em
até 1 g/dia, aparentemente configurando um fator de risco para o desenvolvimento futuro de
doenças cardiovasculares.
Magnésio
Ferro
Metabolismo do ferro
Após a ingestão, o ferro inorgânico no estado férrico (Fe3+) é reduzido à sua forma
ferrosa (Fe2+) por uma ferrirredutase ligada à membrana da borda em escova, o citocromo b
duodenal (Dcytb). A vitamina C, o ácido gástrico e vários outros agentes redutores presentes
nos alimentos também podem favorecer a redução do ferro férrico ao ferro ferroso.
Essa conversão do ferro férrico inorgânico para o estado ferroso é importante para sua
absorção, pois o transportador de metais divalentes-1 (DMT1) só consegue atuar sobre o
estado ferroso (Fe+2), permitindo sua passagem pela membrana apical dos enterócitos. O
DMT1 é relativamente inespecífico e também pode estar envolvido no transporte de outros
cátions divalentes, como Mn2+, Co2+, Zn2+, Cu2+ e Pb2+. O ferro na forma heme está conjugado
na forma ferrosa, e é diretamente transportando para o interior dos enterócitos por ação da
proteína transportadora do heme-1 (HCP-1). O complexo enzimático heme-oxigenase separa
o ferro na forma Fe+2 do grupo heme e da globina. O resultado é a produção de biliverdina e
monóxido de carbono. O CO retorna para o lúmen intestinal para ser eliminado, enquanto a
biliverdina é convertida em bilirrubina pela biliverdina-redutase. A bilirrubina cai no sangue e
segue ligada à albumina para o fígado. A facilidade de absorção do ferro heme, sem a
necessidade da atividade do citocromo b duodenal, o torna mais biodisponível. O índice de
absorção do ferro de alimentos de origem vegetal é de 1 a 7%. Enquanto que o ferro de origem
animal tem uma biodisponibilidade da ordem de 10 a 30%. A biodisponibilidade do ferro é
também influenciada negativamente por alguns componentes da dieta, tais como: ácido fítico,
taninos e fibra alimentar. A dieta vegetariana, embora mais indicadas para reduzir doenças
crônicas, têm menor biodisponibilidade de ferro não somente por este ser encontrado na
forma de Fe+2, mas também pelo alto teor de fitatos.
Uma vez no interior dos enterócitos, o ferro Fe+2 pode ser armazenado no próprio
enterócito ligado a uma proteína de armazenamento do ferro (apoferritina), formando a
ferritina, ou pode ser transferido pela membrana basolateral para a circulação por meio do
transportador ferroportina. Uma ferroxidase, a hefaestina, oxida o Fe2+ em Fe3+ antes da
exportação, pois é na forma férrica que o ferro poderá se ligar à apotransferrina, formando a
transferrina, que realiza o transporte de ferro pelo sangue.
A ferritina é uma proteína capaz de armazenar de 3000 a 4500 átomos de ferro, e está
presente em todas as células, especialmente em células envolvidas na síntese e reserva de
ferro, como é o caso das células hepáticas. Em condições normais, existe pequena quantidade
de ferritina no plasma humano (50 a 200 µg/dL) proporcional às reservas totais de ferro do
organismo. Portanto, os níveis plasmáticos de ferritina são considerados um indicador das
reservas corporais de ferro. A tabela abaixo mostra as proporções da distribuição de ferro pelo
organismo.
Anemia ferropriva
• Papel catalítico: é cofator de mais de 300 enzimas do nosso organismo que controlam
diferentes funções celulares e teciduais, como duplicação de DNA, desenvolvimento
cerebral, resposta comportamental, reprodução e desenvolvimento fetal, estabilidade
de membrana, formação óssea, cicatrização de feridas, entre outros.
• Papel estrutural: desempenha um papel estrutural e funcional em diversas proteínas
envolvidas na replicação do DNA, na cromatina e em membranas biológicas.
• Papel regulatório: o zinco pode atuar como modulador de enzimas ou proteínas,
ativando-as ou inativando-as. Além disso, pode modular processos de transdução de
sinais e atuar como modulador da neurotransmissão simpática em neurônios zinco-
dependentes localizados na região anterior do cérebro, onde estão localizados o
tálamo e o hipotálamo.
• Papel no transporte e ativação da vitamina A: O zinco é essencial para a síntese da
proteína ligadora de retinol (RBP), responsável pela mobilização e transporte da
vitamina A do fígado para a circulação. O zinco pode ainda influenciar a conversão do
β-caroteno em vitamina A por meio da retinol redutase, enzima dependente do
mineral. Em humanos, alguns estudos observaram que a suplementação com zinco
aumenta as concentrações séricas de retinol. Estudos têm demonstrado, ainda, que a
ingestão de vitamina A aumenta a biodisponibilidade de zinco.
Para a maioria dos grupos etários e fisiológicos, um método fatorial tem sido utilizado
para estimar as necessidades de zinco. A necessidade fisiológica média é a quantidade de zinco
que tem de ser absorvida para compensar as perdas endógenas intestinais e não intestinais.
No entanto, o fitato é um fator dietético, conforme mencionado, que interfere muito na
absorção do zinco, de maneira que as dietas baseadas em cereais integrais ou tubérculos e
quantidades insignificantes de alimentos de origem animal aumentam as necessidades
dietéticas de zinco e, portanto, aumentam o risco de deficiência. Pensando nisso, o Institute of
Medicine (IOM - EUA) e o International Zinc Nutrition Consultative Group (IZiNCG) propõem a
avaliação qualitativa da biodisponibilidade do zinco na dieta baseada na razão molar
fitato/zinco da mesma (1 mmol de zinco = 65,4 mg e 1 mmol de fitato = 660 mg de fitato), de
acordo com os parâmetros do quadro abaixo:
Avaliação qualitativa da biodisponibilidade de zinco na dieta de acordo com as suas características e a razão molar
fitato/zinco. O IZiNCG não considera dietas com média biodisponibilidade de zinco.
Embora o termo bócio tenha sido utilizado durante muitos anos como sinônimo da
deficiência em iodo, atualmente, por causa da expansão dos conhecimentos sobre outros
efeitos e consequências da deficiência desse elemento, tem sido recomendado o emprego
mais apropriado do termo IDD (desordem associada à deficiência de iodo). Entre as mais
prevalentes encontram-se: retardo mental irreversível, bócio, distúrbios associados ao sistema
reprodutor, aumento da mortalidade infantil e comprometimento socioeconômico das
populações atingidas cronicamente pela deficiência. Em virtude da alta prevalência de IDD em
diversos países no século passado, o sal de cozinha passou a ser fortificado com sais de iodo,
inclusive no Brasil (a partir de 1953), de maneira que a deficiência de iodo na dieta em nosso
país é algo que passou a ser raro e, portanto, o hipotireoidismo por deficiência de iodo é algo
que, atualmente, é muito incomum no Brasil. Todavia, deficiência dietética de iodo ainda
persiste em 25 países, o que representa cerca de 12,9% da população mundial, segundo o
Conselho Internacional para o Controle das Desordens Acarretadas pela Deficiência de Iodo
(ICCIDD) publicado em 2019.
A maioria das ações do iodo são atribuídas aos hormônios da glândula tireoide: T3 e
T4. As ações fisiológicas dos hormônios tireoidianos incluem crescimento e desenvolvimento
físico e neurológico e funcionamento de diversos sistemas do organismo, como
cardiovascular, respiratório, muscular, nervoso central, digestório e outros. Outras funções
fisiológicas dos hormônios da tireoide estão relacionadas com o controle de vários processos
metabólicos, sendo possível citar aumento da produção de energia, aumento da lipólise e
controle da neoglicogênese e da glicólise.
AI: ingestão adequada; EAR: necessidade média estimada; RDA: ingestão dietética recomendada; UL: limite máximo
tolerado de ingestão diária; ND: não determinado. Valores expressos em µg/dia.
Cobre
As fontes dietéticas que mais contribuem para a ingestão de cobre incluem os grãos
integrais, nozes, açaí, mexilhões, fígado e chocolate. Quantidades significativas de cobre
também podem ser obtidas da água de beber, dependendo de ambientes com instalações
hidráulicas constituídas por tubulações à base desse metal. Frutas e vegetais, como frutas
secas, cogumelos, tomate, banana, uva, batatas e a maioria das carnes apresentam
quantidades intermediárias de cobre, entre 100 e 300 µg/100 g. Observam-se elevadas
concentrações de cobre (2,11 ± 0,91 mg/100 g matéria seca) em açaí cultivado no
Brasil. Outras frutas e vegetais, frango, peixes e laticínios são menos abundantes em cobre,
com teor menor que 100 µg/100 g.
A tabela abaixo mostra as recomendações de cobre. Mais adiante, outra tabela exemplifica
alguns dos alimentos mais ricos em cobre.
AI: ingestão adequada; EAR: necessidade média estimada; RDA: ingestão dietética recomendada
Cromo
Manganês
Ainda não existem biomarcadores padrão para avaliar o estado nutricional relativo ao
manganês, entretanto, utiliza-se a concentração sanguínea do mineral e as atividades das
enzimas dependentes. As melhores fontes de manganês nas dietas são cereais integrais, nozes,
folhas verdes, chá, carnes e derivados de leite, que contêm pequenas quantidades desse
mineral. Não há um consenso sobre a quantidade de manganês que deve ser adquirida na
dieta diariamente para manutenção da homeostasia. Na comunidade europeia, o Comitê
Científico Europeu de Alimentos recomenda uma ampla faixa de ingestão para adultos que
varia de 1 a 10 mg/dia. No Reino Unido, a recomendação de ingestão para adultos é acima de
1,4 mg/dia. Diversos estudos citam que o conteúdo de manganês em 1 L de chá-preto era
cerca de 1,8 a 5,2 mg de manganês. Sendo assim, uma xícara de chá (aproximadamente 200
mL) conteria de 0,36 a 1,04 mg de manganês – valores que, quando combinados com outras
potenciais fontes, poderiam chegar muito próximos da recomendação de ingestão nessa
região. No Brasil, aproximadamente de 1 a 2 mg de manganês parecem ser consumidos, em
média, ao dia.
Selênio
O selênio pode ser encontrado nos alimentos e em alguns suplementos alimentares nas
formas orgânicas (selenometionina, selenocisteína e selênio-metilselenocisteína) e inorgânicas
(selenito e selenato). A absorção desses compostos ocorre principalmente na parte inferior do
intestino delgado por meio de diferentes rotas e mecanismos, com uma eficiência de
aproximadamente 70 a 90% em condições fisiológicas e de ingestão consideradas normais. O
tipo de transporte do TGI para o sangue depende da forma de selênio ingerida: por exemplo, a
absorção de selenometionina e selenocisteína ocorre por meio de vias transcelulares mediadas
por um co-transporte duplo ativo de sódio; já a forma inorgânica de selenato por um processo
de difusão passiva ou ativa. Os compostos orgânicos contendo selênio são mais bem
absorvidos que o selênio inorgânico, e chegam até o fígado, onde o selênio será utilizado para
a síntese de selenoproteínas, como a selenoproteína P (SELENOP), que atua como
transportador primário de selênio para os tecidos periféricos. O selênio pode ser armazenado
em diferentes órgãos como fígado, rins, pâncreas e nos músculos esquelético e cardíaco. A
excreção de selênio em humanos ocorre na forma de produtos metilados, principalmente pela
urina e fezes. Na urina, os principais metabólitos excretados são o íon trimetilselenônio e o
selenoaçúcar, enquanto nas fezes predomina o selenoaçúcar.