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1 GLICONEOGÊNESE
Embora a gliconeogênese não seja uma via idêntica à glicólise correndo em direção
oposta, sete das dez reações da glicólise são compartilhadas pelas duas vias, uma vez que são
reversíveis. Porém, visto que três reações da via glicolítica são irreversíveis, por serem muito
exergônicas (ou seja, a reação inversa é muito endergônica e, por isso, impossível de ocorrer em
condições celulares), a gliconeogênese é obrigada a tomar outra estratégia para a síntese de
glicose. É o que retrata a figura abaixo. As reações reversíveis, portanto, serão as mesmas para
ambas as vias, mas aquelas catalisadas pela hexocinase, PFK-1 e piruvato cinase são diferentes,
pois são irrerversíveis na via glicolítica.
Gliconeogênese a partir de piruvato
Repare que ambas as reações são irreversíveis. Não seria possível converter o piruvato
diretamente em fosfoenolpiruvato, devido à grande necessidade de energia requisitada para
uma única reação, impossível de se adquirir em condições celulares. Assim, a célula produz
primeiro o oxaloacetato, que guarda maior energia que o piruvato, e a partir dele aproveita a
energia de sua descarboxilação e do GTP para formar o fosfoenolpiruvato, que guarda ainda
mais energia que o oxaloacetato.
A glicose não pode ser sintetizada a partir de triglicérides nos mamíferos. Entretanto, a
molécula de triglicerídeo é composta por um glicerol ligado a três ácidos graxos. No catabolismo
de lipídeos, esses ácidos graxos são desligados do glicerol para produzirem acetil-CoA, que
iniciará o ciclo do ácido cítrico para produção de energia. O esqueleto de glicerol poderá ser
fosforilado no carbono 3 por ação da glicerol cinase, que retira um grupamento fosforil de um
ATP, formando glicerol 3-fosfato, cuja oxidação por ação do NAD+ originará a di-hidroxiacetona
fosfato, um intermediário da gliconeogênese e da via glicolítica. Se for necessário produzir
energia, a di-hidroxiacetona fosfato segue na glicólise, mas se for imperiosa a formação de
glicose, a di-hidroxiacetona fosfato seguirá na gliconeogênese.
Alguns aminoácidos podem ser convertidos em glicose, e, por isso, são chamados de
aminoácidos glicogênicos. Os principais aminoácidos convertidos em glicose são alanina e
glutamina, a partir de reações de transaminação, que darão origem ao piruvato ou
intermediários do ciclo do ácido cítrico. No caso do oxaloacetato, este poderá entrar
diretamente na gliconeogênese convertendo-se em piruvato. Os outros intermediários do ciclo
do ácido cítrico, eventualmente, serão convertidos em oxaloacetato (o ciclo de Krebs é um
ciclo!).
A alanina por ação da enzima alanina amino transferase doa seu grupamento amino pra
o α-cetoglutarato. O resultado da reação é piruvato e glutamato. O piruvato poderá seguir
normalmente na gliconeogênese.
Outros aminoácidos que podem dar origem ao piruvato são: cisteína, glicina, serina,
treonina e triptofano. O quadro abaixo relaciona ainda os aminoácidos com os respectivos
intermediários do ciclo do ácido cítrico aos quais dão origem.
2 REGULAÇÃO HORMONAL DA GLICONEOGÊNESE
Como visto anteriormente, além da PFK-1, existe a PFK-2, que produz frutose 2,6-
bifosfato ao invés de frutose 1,6-bifosfato a partir da frutose 6-fosfato. O excesso da produção
de frutose 2,6-bifosfato indica que a frutose 6-fosfato está sendo direcionada a favor dessa
produção. Por isso, a frutose 2,6-bifosfato estimula a PFK-1 a desviar a frutose 6-fosfato para
produção de frutose 1,6-bifosfato. Nessa situação, em virtude da necessidade do acúmulo de
frutose 1,6-bifosfato para seguir a via glicolítica, a frutose 2,6-bifosfato atua inibindo
alostericamente a FBPase-1, como mostra o esquema abaixo:
A FBPase-2 é uma enzima que converte a frutose 2,6-bifosfato em frutose 6-fosfato, que
poderá seguir na via glicolítica ou na gliconeogênese. Na verdade, PFK-2 e FBPase-2 são duas
atividades opostas de uma mesma enzima. Isto é, essa enzima é bifuncional: ela apresenta
função de PFK-2 e função de FBPase-2. A enzima PFK-2/FBPase-2 quando está fosforilada, isto
é, ligada a um grupo fosforil, a atividade PFK-2 está inibida, e a atividade FBPase-2 está funcional.
Quando a enzima PFK-2/FBPase-2 está desfosforilada, isto é, quando foi retirado um grupo
fosforil, a atividade de PFK-2 está funcional, e a atividade FBPase-2 está inibida.
Essa ação dual da PFK-2/FBPase-2 é regulada por dois hormônios: a insulina e o
glucagon. Quando o nível de glicose sanguínea aumenta, a insulina é secretada pelo pâncreas e
estimula a ação da fosfoproteína fosfatase, enzima que desfosforila a PFK-2/FBPase-2. Por outro
lado, quando o nível de glicose sanguínea diminui, o pâncreas secreta glucagon que, via cascata
bioquímica dependente de AMPc ativa a enzima proteína cinase dependente de AMPc, que
fosforila via ATP a PFK-2/FBPase-2. Assim, a insulina estimula a atividade de PFK-2, e o glucagon
estimula a atividade de FBPase-2. Em outras palavras, a insulina estimula a glicólise e inibe a
gliconeogênese, enquanto o glucagon inibe a glicólise e estimula a gliconeogênese.
Se a glicose disponível não é utilizada como fonte de energia, ela pode ser armazenada
para, oportunamente, produzir-se ATP. Nos vegetais, glicose é armazenada na forma de amido,
enquanto nos animais ela é armazenada na forma de glicogênio.
Glicogenólise
O processo vai ocorrendo até que restem quatro monômeros de glicose na cadeia. Três
deles, ressaltados em amarelo, formam apenas ligações α1→4, enquanto um deles está ligado
à ramificação, por ligação α1→6, visualizado em rosa. Nesse momento, a enzima
desramificadora, conhecida formalmente como oligo (α1→6) a (α 1→4) glican-transferase,
retira os três primeiros monômeros de glicose para uma extremidade não redutora que esteja
próxima e, a seguir, exerce uma segunda atividade: a de quebrar a ligação α1→6 entre o
monômero restante e a ramificação, liberando mais uma glicose 1-fosfato livre.
Repare que a glicose 1-fosfato não possui a capacidade nem de romper membranas para
chegar à corrente sanguínea com o intuito de fornecer energia para outros tecidos, e nem a
propriedade de ser oxidada na via glicolítica para fornecer energia para o próprio fígado ou para
o músculo.
Glicogênese
Repare que a enzima glicogênio sintase é capaz apenas de acrescentar novas moléculas
de glicose a um polímero pré-formado. Essa enzima não consegue iniciar a formação de uma
cadeia de glicogênio. Por isso, entra em cena uma proteína chamada glicogenina, que funciona
como um primer (iniciador da síntese de glicogênio). A primeira molécula de glicose do polímero
é ligada a um resíduo de tirosina da glicogenina. A própria glicogenina catalisa essa reação, por
meio de sua atividade glicosiltransferase. A próxima molécula de glicose é retirada da UDP-
glicose e inserida na cadeia. Essa cadeia é estendida até o oitavo resíduo de glicose. Somente a
partir desse ponto que a glicogênio sintase inicia sua ação de alongar o polímero de glicogênio.
Regulação da Glicogênese e Glicogenólise
Quando a glicemia retorna a níveis normais ou está alta, a própria glicose penetra nos
hepatócitos e se liga alostericamente à enzima fosforilase a fosfatase (PP1), que, por sua vez,
torna-se ativada e desfosforila a glicogênio fosforilase a, formando a glicogênio fosforilase b,
que é menos ativa. Assim, o aumento da glicemia, inteligentemente, inibe a glicogenólise.
• Tipo III: ocasionada pela deficiência da enzima desramificadora. Com isso, há acúmulo
de glicogênio no citosol, prejudicando o funcionamento do fígado dos músculos. De
acordo com os sintomas pode ser do tipo IIIa e IIIc, que afetam fígado e causam
miopatias; ou do tipo IIIb e IIId, que afetam somente o fígado. Em todos os tipos
observa-se hepatomegalia logo na infância e hipoglicemia.
• Tipo VI: causada por uma mutação no cromossomo 14, traduzindo deficientemente a
enzima glicogênio fosforilase hepática. Essa enzima está presente também em células
musculares e nervosas, porém a sua tradução nesses locais é decorrente de mutações
nos cromossomos 11 e 20, respectivamente. A degradação do glicogênio, portanto, é
deficiente, e ocorre acúmulo no fígado. Ocorre hepatomegalia, hipoglicemia leve,
fraqueza muscular, hemorragia nasal e retardo no crescimento.
• Tipo VII: ocorre por defeito da enzima PFK-1 no fígado e nos eritrócitos. Com isso, há
bloqueio da via glicolítica, ocasionando o acúmulo de glicose e, consequentemente, o
excesso da formação de glicogênio. Os sintomas são heterogêneos, como hemólise,
morte durante a infância e intolerância ao exercício. Os sintomas são muito semelhantes
a do Tipo V, e o diagnóstico diferencial entre elas é feito pela histoquímica da biópsia do
músculo.
• Tipo IX: doença recessiva ligada ao cromossomo X e, por isso, mais comum em homens.
Caracterizada pela deficiência da enzima fosforilase-cinase hepática ou muscular, que
participam da glicogenólise. Em relação à enzima hepática, mais comum, os sintomas
são aparecimento precoce de hepatomegalia, atraso de crescimento e,
frequentemente, cetose e hipoglicemia em jejum. Por outro lado, as manifestações
clínicas relacionadas a enzima muscular são intolerância ao exercício, mialgia, cãibras
musculares, mioglobinúria e fraqueza muscular progressiva. Análises da atividade da
enzima possibilitam o diagnóstico laboratorial.