Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Callie Rhodes 15 - Jax - The Boundarylands Omegaverse
Callie Rhodes 15 - Jax - The Boundarylands Omegaverse
Callie Rhodes 15 - Jax - The Boundarylands Omegaverse
Todo aquele que tiver acesso à presente tradução fica ciente de que o
download se destina exclusivamente ao uso pessoal e privado, abstendo-se
de o divulgar nas redes sociais bem como tornar público o trabalho de
tradução dos grupos, sem que exista uma prévia autorização expressa dos
mesmos.
Disponibilização e TM
Revisão Inicial –
Revisão Final –
Leitura Final –
Formatação –
Abril 2022
SINOPSE
Dez anos em uma cela mudariam qualquer homem, mas para um Alfa
como Jax, uma década de correntes foi suficiente para transformá-lo em
uma fera.
Tudo o que Victoria Hyde sempre quis foi ajudar a erradicar as piores
doenças que assolam a espécie Beta. Ainda assim, ela não pode acreditar
em sua sorte, quando logo após obter seu doutorado em engenharia
genética, ela consegue seu emprego dos sonhos em um laboratório de
ponta.
Parecia que ela estava acordada há pelo menos trinta e seis horas
seguidas. Na realidade, ela acordou esta manhã às quinze para as cinco,
dando-lhe tempo de sobra para chegar ao Aeroporto Internacional Logan
de Boston para pegar seu voo das seis.
Viajar não era algo que Victoria gostava em seu melhor dia, e o
transporte do aeroporto lotado, duas escalas, um voo quase perdido e
uma recepcionista irritadiça de aluguel de carro não ajudaram. Não foi até
que Victoria chegou ao Goldenrod Motel e se jogou na cama que sentiu
que finalmente poderia respirar novamente.
Victoria imaginou que era por isso que o CIDRF estava envolto em
tanto segredo. A maioria das pessoas, mesmo aquelas que viviam nas
áreas rurais de Nebraska, pouco povoadas, não tinham ideia do que
realmente acontecia lá.
Victoria aprendera mais durante o longo processo de entrevista, é
claro, mas ainda tinha muitas perguntas sem resposta.
Seu irmão tinha apenas oito anos quando começou a exibir uma
variedade de sintomas, tornando-se tão desajeitado que tropeçava nos
próprios pés e tropeçava nas paredes, cada vez mais confuso e
esquecido. Quando seus pais frenéticos levaram Connor a meia dúzia de
especialistas, ele não os reconhecia mais.
1
A doença de Creutzfeldt–Jakob (DCJ), também denominada encefalopatia espongiforme subaguda , é
uma doença neurodegenerativa fatal. Os sintomas iniciais mais comuns são perda de memória,
alterações no comportamento, falta de coordenação e perturbações visuais. Entre os sintomas mais
tardios estão demência, movimentos involuntários, perda de visão, fadiga e coma. Em cerca de 70% dos
casos a pessoa morre no prazo de um ano após o diagnóstico.
Mas agora, Victoria estava finalmente em posição de ajudar
famílias como a dela, e dar-lhes não apenas respostas, mas esperança
real.
Ela tinha doze anos quando Connor morreu. Apenas doze anos
quando ela viu seus pais tentarem se controlar no quarto de hospital dele
dia após dia, quando ela ouviu os sussurros de desculpas dos médicos de
que não havia mais nada que eles pudessem fazer, quando ela sentiu o
pulso de Connor ficar cada vez mais fraco enquanto segurava sua mão até
que ele finalmente escapuliu.
— Estou bem aqui, — ela chamou, desejando que quem quer que
estivesse longe. — Eu não preciso de nada de arrumação.
***
Tanto para a segurança. Merda, ela ia ter que pagar por isso. —
Diretor Fulmer, — Victoria gaguejou, seu coração apertado na impressão
deplorável que ela deve estar causando em seu novo chefe. — Que
surpresa.
Fulmer deu-lhe um sorriso suave. Ou ele não tinha notado sua gafe
ou, mais provavelmente, estava apenas escondendo sua reação. Afinal, ele
era o tipo de homem que guardava suas cartas para si mesmo — Victoria
não conseguira ler nada em seu rosto durante suas muitas entrevistas.
O que ela realmente queria perguntar era por que diabos Fulmer
estava fazendo uma visita inesperada, mas não se atreveu. Não só ele era
seu novo chefe, mas havia algo estranhamente intrusivo nele. Mesmo ao
submetê-la aos aspectos mais invasivos da verificação de antecedentes,
ele a estudou como se ela estivesse sob um microscópio.
Um fio de medo serpenteou por sua espinha. Ela quase podia ouvir
a voz ansiosa de sua mãe lembrando-a de nunca deixar um estranho
entrar em casa. Mas o Dr. Fulmer não era um estranho.
— Isso é, er, doce. — Victoria foi pega de surpresa por essa versão
jocosa de Fulmer, que havia sido concisa e rapidamente eficiente durante
todo o processo de entrevista. Mas sua simpatia não atingiu a nota certa,
seu sorriso não alcançou seus olhos. Seu rosto fez todos os movimentos
certos, mas de alguma forma não traiu nenhuma emoção.
— Oh, tudo bem. — O que mais ela poderia dizer? Ela estava a
milhares de quilômetros de casa, no meio do nada, com o homem
encarregado de seu futuro. Não havia outra opção a não ser seguir o
plano. — Deixe-me apenas me refrescar e...
Ela não obteve resposta. Em vez disso, Fulmer agarrou-a pelo pulso
e puxou-a para a porta. Começando a entrar em pânico, ela tentou se
libertar de seu aperto e acabou quase tropeçando quando ele a arrastou
para fora do quarto.
— Mas...
— Dra. Hyde. — Fulmer parou tão abruptamente que Victoria
quase o atropelou. Ele lançou-lhe um olhar tão gelado que arrepios
surgiram ao longo de seu braço. — Eu não vou me repetir novamente,
então tome cuidado. É do seu interesse entrar no meu carro agora.
Fulmer esperou para falar até chegar à rota rural que trouxe
Victoria para Arrowhead menos de uma hora antes. Sua voz voltou a ser
estranhamente calma após o caos dos últimos momentos.
— Eu certamente espero que não, Dra Hyde, — disse ele, seu tom
ainda mais assustador por sua completa falta de emoção. — Seu trabalho
preliminar em Harvard é inovador. Tenho grandes expectativas para o seu
trabalho nas instalações.
Fulmer deu uma gargalhada sem humor. — Até agora, você passou
sua vida em uma torre de marfim. Mas este é o mundo real, e as
instalações abrigam alguns dos ativos mais valiosos - para não mencionar
mortais - do governo Beta. Então, apelo à sua inteligência altamente
desenvolvida para entender a necessidade de garantir que novos
funcionários não venham aqui com qualquer... segundas intenções.
— Desde que você não tenha nada a esconder, você não terá nada
com que se preocupar, Dra Hyde. Não se preocupe. Você vai se acostumar
com a forma como fazemos as coisas em pouco tempo. Lembre-se de que
o bem-estar e a segurança de todos os cidadãos do país estão em jogo.
Não posso correr o menor risco desnecessário.
A tensão no corpo de Victoria começou a diminuir. Mesmo que
suas táticas parecessem extremas, era difícil discordar da lógica de
Fulmer. Se alguma das doenças do CIDRF caísse em mãos erradas, os
resultados seriam catastróficos.
— Fico feliz em ouvir isso. Eu quis dizer o que disse antes, Dra
Hyde. Tenho grandes esperanças em seu trabalho conosco. Acho que você
tem potencial para alcançar grandes avanços.
Terrivelmente errado.
Victoria não estava prestes a lhe dizer a verdade, não até que ela
tivesse entendido a situação. Suas dúvidas se transformaram em certeza
de que ela havia cometido um erro. Ela não podia ficar aqui. Ela inventaria
alguma desculpa na primeira oportunidade e iria o mais longe possível
deste lugar e Arrowhead e Nebraska.
O que ele esperava que ela fizesse? Isso era algum teste
novo? Agora que Victoria sabia que falhar estava fora de questão... qual
era a resposta que ele estava procurando?
Quando ela não se moveu, Fulmer alcançou seu pulso, seu toque
pegajoso o suficiente para romper seu horror mudo.
Victoria tentou puxar o braço para trás, mas Fulmer segurou. Ele
estava mentindo. Ela estava longe de estar segura. Não apenas o Alfa
parecia capaz de matar todos eles sem suar a camisa, mas o próprio
Fulmer representava outra ameaça muito real à vida dela.
Espere.
Desde então, a única vez que Victoria pensou em Alfas foi quando
eles chegaram ao noticiário – como o incidente do senador Baird ou os
problemas de passagem de fronteira não autorizada que resultaram no
atual embargo.
— E é por isso que você está exatamente no lugar certo, Dra Hyde.
O que você sabe sobre as habilidades especiais de um Alfa?
Alfas não eram imortais, é claro. Tinha que haver limites para suas
habilidades naturais. Caso em questão — o pobre sujeito 456, que não
sobreviveu ao último experimento de Fulmer.
Mas ele faria isso, ou ele a mataria primeiro? Essa era a pergunta.
Algo ligou os dois, uma faísca de energia desconhecida que não era
nem confusão nem medo, mas conseguiu confundi-la e aterrorizá-la do
mesmo jeito.
CAPÍTULO 4
Victoria
Como se isso fosse acontecer. Esta não era uma casa. Era um
bunker subterrâneo impenetrável e inescapável – basicamente, um
buraco cheio de Alfas selvagens e assassinos ainda mais brutais. Não era
nada menos que um milagre que Victoria conseguiu passar as próximas
horas sem experimentar um ataque de pânico total.
Não havia como uma fêmea Beta de tamanho médio como ela
pudesse deslocar a massa de uma porta de elevador de aço reforçada
trancada. Até mesmo tentar tirar Fulmer de trás da janela escura e opaca
de seu escritório para repreendê-la.
Mas aceitar sua situação não era o mesmo que gostar. E com
certeza não era a mesma coisa que aprová-la. Porque não havia nenhuma
maneira no inferno de que Victoria pudesse endossar o que estava sendo
feito com espécimes humanos neste lugar.
Quanto mais fundo Victoria entrava nos dados que Medina lhe
dera acesso no servidor seguro, mais doente ela ficava. Todo o horror do
que - ou mais especificamente de quem - havia sido sacrificado para
produzi-lo entrou em foco.
Mas isso não significava que todos eles eram maus. Primitivos,
talvez, e propensos ao comportamento predatório e à violência, mas
ainda eram pessoas – criaturas vivas e respirantes com direitos. Dezenas
de países ao redor do mundo proibiram a experimentação de macacos
não humanos. No entanto, aqui nas entranhas da terra, crimes incontáveis
contra a humanidade estavam sendo cometidos todos os dias.
Claro, Victoria sabia que a energia potencial não podia ser avaliada
visualmente. Ainda assim, se simplesmente olhar para ela por trás de três
polegadas de vidro protetor a deixasse com os joelhos fracos, ela não
podia nem começar a imaginar quão poderosa a presença do Alfa deve ser
de perto.
Não havia como Victoria fazer parte disso. Mas também não havia
possibilidade dela ir embora.
Esperança.
Victoria não queria segui-la até à cela, muito menos correr o risco
de entrar em contato com o Alfa. À medida que o dia passava, porém,
estava ficando cada vez mais difícil manter os olhos longe dele. As
emoções agitadas que resultaram só se tornavam cada vez mais confusas.
Atração física.
Mesmo forçando seu olhar para o rosto dele saiu pela culatra. Sua
boca se curvou em um sorriso malicioso, como se ele soubesse muito bem
que ela queria olhar para ele...
— Enquanto outros...
Quem quer que fosse esse homem, ele não fez nenhum esforço
para esconder o fato de que estava olhando diretamente para os seios de
Victoria enquanto lhe lançava um sorriso arrogante. — Você deve ser a
nova geneticista. Victoria, certo?
Que era uma mulher não era tão incomum. Ela nem era a primeira
mulher atraente a ser amarrada no Porão dos Horrores de Fulmer,
embora nenhuma chegasse perto de sua beleza de rosto fresco.
Jax não podia ouvir nada através do vidro grosso e à prova de som
que o cercava, mas isso não significava que não sabia o que estava
acontecendo. A audição era apenas um dos sentidos que eram
intensificados nos Alfas. Ele tinha muito mais em que poderia se apoiar.
Por exemplo, Jax podia dizer quando Fulmer tinha entrado em seu
discurso de merda habitual, uma combinação de auto-congratulação
descarada e ameaças veladas que usava para manter os cativos na linha,
quando a pequena veia perto de sua mandíbula se destacava. Aprender a
ler lábios também não doeu, é claro.
Mas pela primeira vez, Jax se viu encarando uma Beta que tinha
mais medo de Fulmer do que dele.
Ele se perguntou por que ela tinha sido trazida aqui. A chegada de
uma nova funcionária não era uma ocorrência rara. Na maioria das vezes,
acontecia porque Fulmer precisava de um especialista ou simplesmente
um substituto para um funcionário cujo — contrato foi encerrado, —
como aquela cadela da Medina gostava de dizer.
Não era apenas o que ela estava vestindo; na verdade, a saia azul
escura e a blusa branca lisa, embora feitas sob medida para suas curvas,
davam poucas pistas de quem ela poderia ser. Tinha mais a ver com a
inteligência e curiosidade que fervia por trás daqueles olhos
deslumbrantes.
Se ao menos ela não estivesse evitando olhar para ele, Jax poderia
ter sido capaz de lhe enviar um sinal de advertência. Mas ela manteve o
olhar resolutamente longe da cela.
Mas escondida por baixo estava a única emoção que explicava por
que ela se recusava a levantar o olhar: desejo.
Claro que ele sabia o que significava estar com tesão, mas ele foi
capturado tão cedo em sua transição Alfa que ele mal teve a chance de
respirar o desejo de outra pessoa. E ele nunca teve a chance de
experimentar o desejo de outro correndo em suas próprias veias.
Não, espere. Não a humilhação dela, mas a dele. Ela estava com
raiva em seu nome, mas por quê?
Jax tinha que fazer algo rápido, só para poder manter a esperança
de que teria outra oportunidade de beber em seu doce desejo por ele.
Ele atacou, batendo os punhos contra o vidro.
Victoria congelou, percebendo seu erro. Jax viu sua consciência dar
lugar ao medo enquanto olhava desesperadamente ao redor da sala, seu
olhar finalmente caindo sobre ele. Aproveitando sua chance, Jax deu um
aceno quase imperceptível na direção dos outros, desejando que ela
entendesse a mensagem.
Jax sabia que não poderia parecer ceder muito facilmente. Ele
também não podia deixar transparecer que entendia cada palavra maldita
que foi dita. Sem outras opções, ele se contentou em ficar quieto,
desejando que Victoria entendesse que ele obedeceria.
Cavendish aguçou seu foco na Dra. Hyde, não que ela estivesse
fazendo algo digno de um estudo tão intenso. A mulher estava
simplesmente sentada em frente ao computador em sua estação de
trabalho, digitando nas teclas, exatamente como vinha fazendo na última
hora.
Era uma tarefa mundana, mas havia algo na maneira como ela
fazia isso, seus olhos cravados na tela como se estivesse assistindo a um
pornô.
Agora isso era algo que ele gostaria de ver. Aquelas aldravas
grandes dela quicando em câmera lenta enquanto ela o montava no estilo
vaqueira. O som de sua bela bunda redonda batendo contra suas coxas. A
visão dela de joelhos, boca aberta, implorando para que ele descesse por
sua garganta.
— E isso te preocupa?
Fulmer fez uma careta. — Você sabe que existem pessoas que não
gostam desse tipo de coisa.
Victoria
Medina deu uma gargalhada que deveria mostrar que tinha senso
de humor, mas Victoria podia ouvir a satisfação em sua voz quando ela
abriu a porta de um quartinho espartano.
Victoria já sabia que nunca mais voltaria para seu quarto de motel,
mas a visão daquele espaço apertado a fez querer chorar. Não havia
janelas, obviamente. Os únicos móveis eram uma cama de solteiro com
um cobertor cinza e uma prateleira aparafusada na parede para servir de
criado-mudo.
Não havia mais como se esconder da verdade. Aquilo era uma cela,
e isso fazia de Victoria uma prisioneira — embora tivesse que fazer as
próprias malas.
— Não.
Foi chocante perceber que ela tinha mais em comum com esta
matilha? Esse era o substantivo coletivo correto para Alfas? — do que
para qualquer Beta em um raio de oitenta quilômetros. E era muito
tentador imaginar se o Sujeito 23 sentia o mesmo.
Victoria quase juraria que ele fez isso de propósito, que houve um
momento de conexão entre eles.
Não: assim como seu terapeuta muitas vezes sugerira, ela estava
apenas projetando.
Alfas não eram conhecidos por seu comportamento altruísta. Era
muito mais provável que ele tivesse feito as contas simples — ela era a
cenoura; Cavendish era o pau. O Alfa tinha simplesmente percebido que
era de seu interesse ir junto com a pessoa que parou sua dor ao invés de
quem começou.
Mas era exatamente por isso que tinha que fazer isso. A situação
dela era ruim, sem dúvida, mas a deles era pior. E isso significava que ela
tinha a responsabilidade de pelo menos tentar ajudar.
Mas, por mais surpreendentes que fossem essas ações, elas não
assustaram Victoria. Na verdade, sua reação mais forte foi para os pobres
Alfas que haviam sido tão maltratados que não tinham mais energia para
a raiva. Os que mal conseguiam levantar a cabeça enquanto ela passava.
O que ele fez em vez disso foi levantar os braços para o lado,
palmas para cima, dedos abertos. Instantaneamente, todos os Alfas
dentro de sua linha de visão pararam suas demonstrações de agressão.
Jax
No momento em que Jax viu seu rosto, ele soube que deveria
mandá-la embora. Ele a assustou antes, e ele poderia fazer isso de
novo. Não seria difícil. Tudo o que tinha que fazer era agir de forma
ameaçadora, pisar, vociferar, qualquer coisa - e ela correria como o
inferno.
— Eu queria vir e ver se você estava bem. — Ela deve ter notado a
confusão dele porque acrescentou: — Depois de ser eletrocutado.
— Você me deixaria ver a sola dos seus pés? — Por que ela
quereria isso?
— Por favor.
Não havia como ele recusar sua preocupação sincera. Ele flexionou
o tornozelo direito para que a sola do pé aparecesse.
Victoria.
Quando ele foi capturado e trazido para este inferno, Jax queimou
com raiva. Ele se tornou ferozmente determinado que Fulmer não teria
um pingo de satisfação em torturá-lo.
Ele havia feito a única coisa que tinha o poder de fazer: recusar-se
a falar e depois fazer qualquer som. Não importa quão dura a tortura, não
importa quão insuportável a dor, ele engoliu sua voz profundamente. Até
que em algum lugar ao longo da linha, o silêncio se tornou parte dele.
Agora, a única coisa que saía de sua boca era o grunhido ou
vociferar ocasional.
dedo e tomando o cuidado de formar as letras para trás, ele traçou JAX.
Ouvi-la dizer seu nome, um que ele não era chamado em dez
malditos anos, era quase demais para aguentar. Ele apoiou a cabeça
contra o vidro enquanto olhava para baixo, incapaz de tirar os olhos dela,
seu sangue esquentando.
Humor. Fazia tanto tempo que Jax quase tinha esquecido como
era.
Jax bateu com tanta força no vidro que a cela inteira chacoalhou.
Victoria pulou, seu olhar caindo onde deveria estar – nele. Ele
balançou a cabeça violentamente.
— Isso foi o que eu pensei. — Ela tentou outro sorriso leve, mas
desta vez o brilho desapareceu de seus olhos, seu doce perfume
misturado com resignação. — De qualquer forma, eu não posso fazer
nenhuma promessa, mas eu só queria que você saiba que tem uma amiga
deste lado do vidro. Boa noite, Jax.
Uma amiga?
Embora isso fosse mais fácil dizer do que fazer. O Porão tinha que
ser um dos locais mais seguros do planeta. Mas havia uma diferença entre
seguro e invulnerável.
Mas só porque o Alfa na cela não era alguém que ela conhecia pelo
nome não significava que ele não fosse importante. Ele ainda era humano,
afinal, e Victoria falou com ele da mesma forma que falou com Jax antes
de tirar seu sangue. Felizmente, produziu os mesmos resultados.
Victoria não sabia o que Fulmer estava fazendo aqui, mas não
estava salvando o mundo.
Jax
Quando Victoria apareceu, Jax pôde ver que a verdade era mais
complexa. As linhas fracas ao redor de seus olhos estavam tão
pronunciadas como sempre, mas agora havia um brilho determinado em
seus olhos que não estava lá antes.
Mas Jax não podia fingir que não estava feliz por ela estar
aqui. Apenas a visão de seu rosto era suficiente para fazer seu corpo
formigar com consciência.
Deus, tinha sido apenas três dias, mas ele tinha perdido isso. Ele
odiava pensar no que faria quando acabasse para sempre.
A visão dela, o cheiro, o som de sua voz – ela era a coisa mais
brilhante que havia entrado em seu mundo desde antes de se tornar um
Alfa. Mesmo que seu tempo juntos fosse fugaz, permitiu-lhe imaginar o
que poderia ser.
O peito de Jax roncou. Como ela poderia dizer isso, agora que ela
sabia quão alto o risco realmente era?
Isso foi uma piada? Ela achou isso engraçado? Ela tinha alguma
ideia dos horrores pelos quais aquele homem era responsável?
Jax bateu o punho contra o vidro. Ela não pulou dessa vez, mas
apesar de toda sua coragem recém-descoberta, ela ainda desviou o olhar.
Como eles se sentiriam contra sua pele? Será que ele seria capaz
de aguentar a pressa?
E quando esse foco alcançou seus olhos, quando ele segurou seu
olhar como se fosse uma carícia, Victoria sentiu como se fosse explodir em
uma fogueira.
Victoria sabia que essa atração não era natural. Ela era muito
menor que Jax, muito mais fraca. Uma Beta como ela seria
completamente vulnerável com um Alfa como ele. Ele poderia fazer o que
quisesse com ela.
Jax esteve aqui desde sua transição. Ele nunca se juntou a uma
fraternidade ou trabalhou em um campo dominado por homens ou ouviu
os apelos do atual governo para apagar os ganhos que as mulheres
fizeram durante o século passado.
Era muito mais provável que houvesse uma razão pragmática por
trás da hesitação de Jax.
Afinal, ele realmente não sabia nada sobre ela. Claro, ela o tratou
com um mínimo de decência, mas pelo que ele sabia, isso poderia ser
apenas um ato. Ele poderia pensar que ela era uma espiã, fornecendo
informações para Fulmer. Ou ele poderia – sabiamente – considerar o
plano dela tão sem esperança que suspeitasse que continuaria sendo
punido por seu fracasso muito depois que ela estivesse morta.
Mas a razão mais provável para sua retirada também era a que ela
menos gostava: que ele não queria mais falar com ela porque
simplesmente não gostava dela.
Afinal, o que poderia ser mais desanimador do que uma Beta com
tesão por um Alfa? Simplesmente não era... natural.
Seria uma coisa se seu único teste de Ômega tivesse sido aquele
administrado depois que ela aceitou a oferta de trabalho de Fulmer. O
homem não parava de provar que não pensava duas vezes em mentir para
conseguir o que queria. Mas Victoria teve acesso antecipado ao teste
quando chegou ao mercado, por meio da universidade. E como ela
conhecia o técnico de laboratório que administrou pessoalmente, ela
estava confiante de que o resultado estava correto e ela não tinha o gene
Ômega adormecido.
O que a deixou sem nenhuma resposta sobre por que ela estava
sendo mantida acordada à noite por fantasias de alguém que o próprio
Fulmer havia apelidado de — Alfa dos Alfas. — Fantasias que, na noite
passada, ela finalmente cedeu.
Felizmente, ninguém, a não ser ela mesma, jamais saberia que ela
se masturbou pensando em um Alfa... e não apenas uma transa rápida no
travesseiro, também.
Ela tirou o pijama e foi para ele com um fervor para igualar o poder
de sua necessidade, uma mão esfregando círculos furiosos contra seu
clitóris enquanto ela vibrava contra seu ponto G com a outra. No final, ela
teve três orgasmos empolgantes, e suas coxas estavam úmidas de suor.
Jax
Até que ela o explodiu com toda a força dos jatos de água.
— Você vai se juntar a nós esta manhã, então seu chuveiro foi
adiantado, — ela anunciou antes de dar meia-volta e sair.
Com certeza, segundos depois que a água parou, a cela começou a
se mover. Todas as células eram controladas digitalmente, movendo-se
independentemente em rodas que caíam do fundo. Nos dez anos em que
Jax esteve alojado neste corredor, ele só seguiu uma rota: pelo centro do
corredor, ao virar da esquina, e no laboratório de Fulmer.
O medo que crescia dentro de Jax não tinha nada a ver com seu
próprio destino. Cavendish tinha feito o pior com Jax uma centena de
vezes, e ele ainda estava de pé.
Mas o mesmo não poderia ser dito de Victoria, que não possuía
resistência ou resistência aumentadas. Mais importante, ela não tinha
como saber todas as coisas horríveis que Cavendish estava pensando
sobre ela.
Ela não olhou para cima quando ele foi empurrado para a sala. Em
vez disso, sua atenção se concentrou no que quer que estivesse
rabiscando em sua prancheta. O que significava que ela era uma atriz
muito boa ou completamente inconsciente da tempestade que se
formava.
Ele veio para esta prisão ainda virgem. Com idade suficiente para
reconhecer o desejo em uma mulher, mas não experiente o suficiente
para identificar com certeza o cheiro de sua umidade.
— Não sei. Acho que porque ele foi o primeiro que conheci, —
disse ela. — Ou talvez seja porque ele não vocifera para mim tanto quanto
alguns dos outros.
Victoria deu uma risada incrédula. — Você sabe que ele não pode.
Assim como no passado, ela não teve outra opção hoje. Evitar as
perguntas cada vez mais incisivas de Cavendish seria o mesmo que admitir
a culpa. Ela sabia que seria apenas uma questão de tempo até que a
equipe suspeitasse de suas atividades noturnas. Ela só esperava que isso
não acontecesse tão cedo.
Victoria sabia que não havia ajudado ao perguntar a Medina sobre
o funcionamento da cela, mas precisava dessa informação. A abertura da
porta de alimentação foi a oportunidade perfeita. Fazer perguntas em
qualquer outro momento teria despertado ainda mais alarmes.
Mas não, essa não era exatamente a palavra certa. Medina, com
sua crueldade e desprezo casuais, não gostava dela. A médica deixou claro
que ela não se importaria se Victoria desaparecesse no ar.
Talvez fosse porque desta vez, ela não estava lutando apenas por
si mesma. Havia muito mais em jogo do que seu ego — ou mesmo sua
vida. Cento e doze outras vidas estavam na balança, uma delas a de Jax. E
esse fato fez Victoria se sentir mais corajosa do que nunca.
Mas seria preciso muito mais do que coragem imprudente para ser
de alguma ajuda real para Jax e os outros Alfas. Isso ficou claro algumas
horas depois, quando Fulmer apareceu e prontamente chamou Cavendish
em seu escritório. Meia hora depois, a porta se abriu novamente e Fulmer
a chamou para se juntar a eles.
Ele gesticulou para uma das duas cadeiras na frente de sua enorme
mesa de mogno. Cavendish estava recostado na outra cadeira com as
mãos atrás da cabeça, sorrindo.
— Faz quase uma semana desde que você veio para ficar conosco,
— disse Fulmer em tom de conversa enquanto brincava com um abridor
de cartas de aparência perversa. — Como você está se adaptando?
— Então você está tentando nos dizer que isso não pode ser feito?
— Cavendish deixou as pernas da cadeira caírem com força, carrancudo.
Mas Victoria não estava contando tudo a ele. O fato era que ela
sozinha havia aperfeiçoado essa delicada técnica de emenda genética... o
que, por sua vez, significava que ninguém, nem mesmo Fulmer, saberia
quando ela a sabotou.
Oh, as coisas que ele poderia fazer com aquela boca mentirosa se
Fulmer simplesmente o deixasse colocar as mãos nela. Ele podia pensar
em todos os tipos de maneiras agradáveis de calá-la. Especialmente agora
que sabia quão esquisita a putinha realmente era.
Por enquanto, ele teria que se contentar em insistir — com
cuidado, no entanto. Porque se Fulmer se convencesse de que ela
representava um risco muito grande, ele poderia ter uma de suas raivas. E
se as coisas ficassem muito confusas, Cavendish não teria a chance de
conduzir a — entrevista de saída— da médica antes de seu término.
Então mostraria a ela que ela não precisava ficar farejando algum
Alfa crescido demais para dar a ela o que precisava. Ele provaria que era
mais do que homem o suficiente para deixá-la ofegante... então ele a
puniria por duvidar disso em primeiro lugar.
Então, uma vez que ela voltasse a si, ele faria isso de novo... e de
novo.
— E é por isso que não estou ordenando que você pare, — disse
Fulmer. — Espie a mulher tudo o que você quer. Assista seu
banho. Observe-a dormir. Mas quando eu voltar de Washington, não me
incomode a menos que você tenha reunido algumas provas concretas de
que ela está mentindo.
Mas ela não foi a única que notou como sua presença constante
era estranha. Até Medina parou para lhe dar um olhar perplexo antes de
dar de ombros e voltar ao seu trabalho.
Já era ruim o suficiente que ele suspeitasse dela, mas esse era
outro nível de ameaça. Ela poderia ter lidado com seu escrutínio. Era
desconfortável, claro, mas nada que não tivesse lidado antes. Mas isso era
algo mais – algo profundamente pessoal.
Cinco minutos antes das sete horas, Medina foi até ao painel que
controlava o sistema de mobilidade guiada e começou a digitar a
sequência para devolver a cela de Jax ao corredor.
— Parece que a Dra Hyde está com vontade de trabalhar até tarde
esta noite, — disse Cavendish presunçosamente. — E à luz de nossa
conversa anterior, decidi que um pouco de supervisão está em ordem.
Enquanto isso, ela estava tentando engolir seu medo antes que ele
a sufocasse. Foi preciso muita contenção para não perguntar do que
diabos ele estava falando.
Supervisão?
Ela não era uma criança. O próprio Fulmer havia declarado que ela
estava fazendo um trabalho maravilhoso. Victoria presumira que isso
acabaria com todas as dúvidas de Cavendish.
Aparentemente não.
— Não há nada aqui que não possa esperar até de manhã, — disse
Victoria, amaldiçoando o tremor em sua voz. — Eu odiaria que você
desistisse de sua noite.
Cavendish mal conseguia esconder sua alegria por finalmente
quebrar sua compostura. Ele deixou seu olhar oleoso vagar por seu
corpo. — Meus únicos planos para a noite estão bem aqui.
Ah, Deus.
Não: não inteiramente sozinha. Jax ainda estava aqui com ela.
A respiração dele estava suja, e Victoria podia sentir seu pau ereto
pressionando contra sua bunda. A bile quente escaldante subiu,
queimando sua garganta.
— Vinte e três pode ser o Alfa mais resistente que já tivemos aqui,
— continuou ele, — Mas isso é só porque ele é o mais durão. Um dia eu o
choquei por uma hora seguida - lembra disso, amigo? - e ele ainda
aguentou. Bons tempos.
Victoria empalideceu. Ela não tinha motivos para não acreditar que
Cavendish estava mentindo. E mesmo que não pudesse culpar Jax pela
forma como ele reagiu ao ser torturado, ainda assim ela parou.
Ele era um Alfa muito grande e muito poderoso. Ela não tinha
dúvidas de que ele poderia quebrar seu pescoço sem sequer pensar nisso.
Não que Victoria pensasse que Jax iria machucá-la... pelo menos
não de propósito. Mas e se ela estivesse no caminho quando ficasse
furioso? E se ele simplesmente mudasse de ideia e decidisse que ela era
um dos bandidos afinal?
Mas ela não podia – não iria – forçar-se a falar mal de Jax. Ele
podia ser aterrorizante, mas não era um monstro.
— Não finja que está surpresa. Aposto que isso ainda te excita,
dada a vadia que você é. — Cavendish deslizou a mão entre seu corpo e o
vidro, apertando seu seio. — Eu posso ver tudo que você faz. Tudo.
Jax esmagou suas mãos contra o vidro uma e outra vez, cada vez
mais forte, enquanto Cavendish esfregava sua ereção contra sua saia. A
força dos golpes do Jax viajou através do vidro e em seu corpo.
Victoria já não se confortava com o fato de que Jax estava aqui,
sendo forçado a assistir a isso. Ela suportaria alegremente toda essa dor e
humilhação sozinha se isso significasse que ele não tivesse que sofrer a
raiva impotente queimando em seus olhos.
Jax ficou louco, se debatendo e chutando, mas ela sabia que se ele
continuasse com isso, a única coisa que ele iria machucar era a si mesmo.
— Fico feliz em ouvir isso... pelo seu bem. — Sem relaxar a pressão
que a mantinha apertada contra o vidro, ele procurou algo no bolso. —
Porque depois que você saiu da reunião esta manhã, Fulmer e eu
decidimos que seria melhor fazer um pequeno seguro.
O sangue de Victoria gelou com o prazer vicioso que Cavendish
tirou dessas palavras, e até Jax ficou imóvel como se estivesse imobilizado
com medo do que faria em seguida.
Lentamente, quase com amor, ele apertou o êmbolo até que uma
gota de soro apareceu na ponta da agulha.
Então era assim que sua natureza mudava à força, Victoria pensou
enquanto a dor recomeçava, explosões localizadas que pareciam como ser
esfaqueada repetidamente.
E ainda…
Victoria se deixou ser atraída por seu olhar firme até que todo o
resto se desvaneceu, desde a superfície dura e fria em que estava deitada
até aos hematomas que sofreu durante a convulsão até ao horror de sua
situação.
Isso não era como na noite passada, quando ela foi impulsionada
pela fome sexual reprimida. Não havia razão lógica para Jax fabricar essa
demonstração de compaixão. Esta exibição foi contra o que ela pensava
ser os únicos instintos primitivos de um Alfa – lutar, foder e se alimentar.
Jax
Durante toda a noite, Jax ficou tão perto dela quanto a cela
permitia, observando atentamente a subida e descida quase imperceptível
de seu peito como se pudesse de alguma forma mantê-la respirando
apenas por pura vontade. Jax tinha visto dezenas de mulheres
sobreviverem à provação de uma mudança de natureza induzida... mas ele
também testemunhou aquelas que não sobreviveram.
Um homem.
Não é minha culpa. Era ele. Ele me fez fazer isso. Ele me fez sentir
assim. Ele é o maligno, não eu.
Jax tinha ouvido palavras como essa ditas por homens e mulheres,
muitas vezes para contar, contra ele, contra seus irmãos. Cobaias de teste
e cientistas, eles culpavam os brutos nas células por tudo o que já havia
dado errado neste lugar esquecido por Deus.
— Levante-se.
Jax.
Jax desviou o olhar, ignorando-a, porque ele tinha que... pelo bem
de ambos.
Victoria se virou para ver do que Medina estava falando. Por pura
vontade, ela se levantou de joelhos e se viu olhando para uma poça de
vômito.
Um toque suave no vidro atrás dela a fez pular. Ela se arrastou até
à borda da cela, onde Jax estava agachado. Mesmo nessa posição, ele
ainda se elevava sobre ela.
A equipe aqui se importava tão pouco com seu bem-estar que ela
poderia muito bem ser qualquer outra mercadoria descartável, como as
pipetas estéreis nas prateleiras ou as resmas de papel no armário sob a
impressora. Eles seriam tão indiferentes à sua morte quanto à sua
presença. Tudo o que importava era a qualidade de seu trabalho.
Não.
Sem falar, sem sussurrar, sem olhar para ele, sem correr
riscos. Victoria entendeu a mensagem, e ela sabia que ele estava certo,
mas ainda doía em seu coração se afastar dele. Se ela tivesse alguma
chance de ajudar ele e os outros Alfas, ela não podia deixar sua vigilância
escapar nem por um momento. Ela tinha que tratá-lo como um animal,
fingir se importar tão pouco com ele quanto o resto da equipe.
Com o coração pesado, Victoria começou a fazer o que lhe foi dito
e apagando a evidência de seu tormento. Se ela não estivesse em sua
mesa trabalhando logo, ela não tinha dúvidas de que haveria mais inferno
para pagar.
Ela não podia arriscar agora que sabia que os outros estavam
sempre observando.
Mas ela não ia deixar isso acontecer. Victoria resolveu não lhes dar
uma única razão para questionar o envolvimento de Jax com ela
novamente.
Victoria não disse nada, imaginando que era melhor fingir que não
o ouviu do que arriscar uma resposta impensada. Ela manteve a cabeça
erguida e se forçou a não se apressar enquanto saía do laboratório e
descia o corredor até seu quarto.
Ela empurrou a mala na frente da porta, não que isso fosse impedi-
lo, e ficou debaixo do chuveiro de sutiã e calcinha. Ela não tornaria fácil
para aqueles idiotas roubarem sua privacidade, mesmo que isso
significasse esfregar desajeitadamente a camada de tecido. Ela gostaria de
ficar no chuveiro até se sentir realmente limpa, mas tinha a sensação de
que mesmo horas com uma bucha não conseguiriam isso.
Além disso, ela não podia ter certeza de que o bastardo não estava
em seu escritório observando-a agora, gozando com sua indignidade e
dor. Ela escolheu a roupa menos reveladora que trouxe, calças largas que
escondiam suas curvas e uma blusa de gola alta, depois pegou café e se
obrigou a comer duas torradas secas na cozinha comunitária.
Mas esse senso de propósito era ainda mais forte. Ela não estava
tentando ganhar um diploma ou impressionar um professor ou garantir
um emprego cobiçado, todos objetivos que foram alimentados por sua
ambição. A ambição não tinha nada a ver com sua necessidade urgente de
ajudar Jax. Ninguém jamais elogiaria a conquista ou lamentaria seu
fracasso. Ninguém jamais saberia.
Então... por que ajudar Jax parecia a coisa mais importante que ela
já tinha sido chamada a fazer?
Mais uma vez, ele veio por trás dela tão silenciosamente que ela
não percebeu, e sua voz - desconfortavelmente perto - fez os cabelos de
sua nuca se arrepiarem. Ele não tinha o direito de chamá-la pelo nome,
especialmente naquele tom untuoso e oleoso que parecia dedos frios em
seu pescoço.
Merda.
Assim como ela faria, em breve. E Jax... e todo o resto dos Alfas
aqui embaixo.
A menos que…
Ela ignorou as dores nas pernas e mancou o mais rápido que pôde
para o corredor, rezando para que não fosse tarde demais. Quando virou a
esquina, ela encontrou Medina soltando os freios de uma maca de rodas
enquanto Cavendish observava.
E sim, bater fora disso não era um plano muito específico, mas Jax
não se importava. Salvar Victoria... isso era tudo que importava. O que
aconteceria com ele depois não valia a pena pensar.
Victoria voltou depois de alguns momentos, mas ela não disse uma
palavra, passando por ele com os olhos baixos. Não importava; com a
janela de acesso agora aberta, Jax podia sentir o que estava acontecendo
dentro dela.
Quando Victoria estava perto, cada respiração que ele dava era
como puxar uma parte dela para dentro de si, tecendo sua essência na
dele, experimentando-a em um nível íntimo que ele nunca conheceu com
outro humano.
Não só isso, seu desejo por ela se tornou uma dor que ameaçava
arrastá-lo para baixo, uma necessidade não satisfeita mais poderosa que
fome ou sede.
Mas se esse fosse o caso, então Jax estava com certeza levando
Cavendish com ele.
Victoria
Mas antes que pudesse chegar lá, ela foi surpreendida por um
vociferar tão poderoso que sacudiu o chão do laboratório.
Jax.
Ela sabia que a raiva dele não era dirigida a ela. Ela olhou de
soslaio para ele enquanto Medina e Cavendish passavam, e embora Jax
estivesse imóvel e estóico como um carvalho antigo, ela viu a fúria em
seus olhos. Aquele grito de guerra era para eles – os dois monstros
subumanos empurrando seu irmão como um monte de lixo.
Não: era ainda mais fundo do que isso. Apesar de possuir uma
base científica que deixava pouco espaço para a arte imprecisa da
empatia, Victoria estava absolutamente certa de que a emoção que
transformava os olhos de Jax na cor da noite mais profunda era terror.
Isso fazia dois deles, ela pensou enquanto se voltava para o painel.
A verdade era que ela não tinha certeza — ela era uma cientista,
não uma especialista técnica — mas que escolha eles tinham? Além disso,
apesar de toda a jactância de Fulmer sobre o Porão, as medidas de
segurança no interior pareciam notavelmente escassas.
Mas Jax ainda não estava satisfeito. Houve mais batidas... mais
carrancudos. Ele balançou a cabeça violentamente e apontou para o pulso
– onde estaria um relógio. Fazendo um punho, ele varreu o braço em um
arco sobre a cabeça, traçando um caminho como o sol no céu.
— Vai ficar tudo bem, Jax, — ela disse, sua voz falhando com a
mentira.
E agora, tudo o que podia fazer era rezar para que a porta da cela
se abrisse a tempo de chegar a Cavendish antes que o bastardo tivesse a
chance de colocar a mão em Victoria.
Mas Cavendish foi mais rápido do que Jax lhe deu crédito. Ele se
esquivou ao redor de Victoria e bateu a mão no painel de controle. A
porta parou de se mover imediatamente, deixando uma brecha muito
pequena para Jax abrir caminho.
Deus, por que ela não o ouviu? Não apenas hoje, mas todas as
vezes antes? Ele sabia do que Cavendish era capaz. Ele tentou avisá-la...
mas ela se recusou a ouvir.
Jax vociferou novamente, não apenas com raiva desta vez, mas em
pura agonia. O vociferar contorcido no rosto de Cavendish deixou claro
todas as coisas miseráveis que ele pretendia fazer com ela. Todos os
impulsos depravados que ansiava pela oportunidade de liberar em
Victoria.
Jax não teria acreditado que fosse possível odiar outro homem
tanto quanto odiava Cavendish. Quando ele viu a excitação misturada com
o desejo de vingança nos olhos de seu inimigo, cada célula de Jax ficou
incandescente com um único instinto:
Destruir.
Não foi que sua humanidade o deixou, mas o oposto. Ele inchou
dentro dele, brilhando ainda mais com cada traço Alfa surgindo que tinha
sido reprimido e atrofiado, mas nunca derrotado, por sua prisão neste
inferno.
Resiliência.
Força.
Honra.
…E seu poder dado por Deus para defender o que era dele.
— Sua puta de merda, — ele vociferou . — Você vai pagar por isso.
Eu farei você pagar por cada maldita traição.
Cavendish puxou seu braço mais alto, e suas palavras deram lugar
a um grito de dor.
— Sua vida acabou, — ele sussurrou contra seu ouvido, sua saliva
se misturando com o sangue dela no vidro. — Mas primeiro, você vai
descobrir a única coisa para a qual você é boa... sua boceta imunda.
Victoria gritou de agonia enquanto Cavendish se atrapalhava com
o zíper de suas calças. A visão dele se preparando para profanar sua
Ômega cegou Jax para tudo, menos para as exigências de sua natureza.
E Deus sabia, ela estava dando o seu melhor. Ela lutou o máximo
que pôde, se debatendo, chutando e mordendo, mas Cavendish era muito
maior e mais forte, e ele facilmente a manteve esmagada contra o vidro
enquanto empurrava as calças para baixo.
— Não finja que você não quer, sua vadia, — ele ofegou, puxando
seu pau vermelho meio ereto.
Ele veio para o vidro com a força de dez anos de resistência brutal
geminada com a descoberta do propósito de sua vida. Ele não parou até
mesmo sentir o impacto quando o vidro explodiu em um caleidoscópio de
fragmentos brilhantes.
Oh Deus.
Neste momento, ela ainda estava viva - e ela faria valer cada
minuto que restava.
Fazia muito tempo desde que Jax sentiu isso - uma década inteira
de falta e solidão fria, até que ele se sentiu como um vazio. Uma casca, um
morto andando, uma coisa de sangue e ossos cuja alma há muito havia
desaparecido.
A última mulher a tocá-lo foi sua mãe, um abraço final antes de ser
levado aos dezesseis anos. Ele tinha esquecido a sensação de conforto que
só poderia vir do toque de outra pessoa.
Jax não era mais que uma criança quando sua verdadeira natureza
Alfa se mostrou, mal tinha sido um homem. Um garoto brilhante, ele
rapidamente descobriu o que estava acontecendo com ele, mas saber e
realmente entender eram duas coisas diferentes.
Humilhado por sua própria gratidão, ele sabia que o mesmo feitiço
que o prendia havia tomado conta dela também. Seu cheiro mudou,
tornando-se mais profundo... mais doce... ainda mais inebriante. Seu
desespero e medo foram substituídos por uma profunda sensação de paz
e pertencimento.
E necessidade.
Mas Jax não sentiu nem um pingo de remorso quando passou por
cima do cadáver frouxo de Cavendish. Ele tinha feito o que tinha que
fazer. Ele protegeu sua mulher, sua Ômega.
Victoria deu um passo para trás e estudou Jax como ela nunca se
permitiu antes. Quando seu olhar pousou em seu pênis rígido, ela
gemeu. Ainda mais umidade derramou dela e espirrou no chão.
Meu Deus, era demais. Jax não podia mais se controlar. Ele a
levantou em seus braços para que ela pudesse envolver suas coxas ao
redor de seus quadris. Imediatamente, ela começou a se mover contra
ele, deslizando sua boceta quente e molhada ao longo de seu eixo,
implorando para ser tomada.
Antes que Jax pudesse inspirar outra vez, Victoria resistiu contra
ele. Seu pênis violou sua abertura, o comprimento total dirigindo dentro
dela em um golpe poderoso.
Victoria
O sexo nunca tinha sido assim antes. Sexo com os poucos homens
Beta que precederam Jax nem parecia relacionado, como comparar
atravessar uma rua movimentada a voar alto acima da cidade em um
planador.
Então todos os pensamentos de seu passado desapareceram –
cada primeiro encontro e cada rompimento, cada esperança e decepção
frustradas até que o último pensamento lúcido de Victoria foi que sua vida
real tinha apenas começado.
Apenas momentos depois, ela sentiu seu pênis inchar ainda mais,
esticando-a além da razão.
Uma Ômega.
Jax abriu a porta e fez sinal para Victoria ficar onde estava, e então
ele se foi.
Mas ele matou Cavendish porque não tinha escolha. Não era o
mesmo com Medina, que Victoria não podia acreditar que seria capaz de
cumprir sua ameaça. Mesmo que ela fosse uma cadela fria sem uma
bússola moral, no fundo, Medina era uma cientista, não uma assassina.
Mas sua assistente outrora leal foi levada longe demais e havia
visto demais. Fulmer não estava mais no comando... pelo menos não dela.
Pela primeira vez em anos, Jax desejou ter um bolso. Ele estendeu
o polegar ensanguentado para Victoria com um olhar questionador, mas
quando ela olhou para cima do painel onde estava tentando desligar os
sistemas de segurança do Porão, sua expressão de desgosto o deixou
saber que não estava interessada em segurá-lo por mais tempo que ele.
Seria preciso mais do que alguns guardas com rifles de assalto para
derrubar cinco Alfas furiosos. Mesmo assim, Jax – e todos os outros Alfas
presentes – sabiam que a segurança provavelmente ia muito além
disso. Eles só podiam esperar que o caos estivesse do lado deles à medida
que mais e mais Alfas chegassem para tomar o lugar de quaisquer baixas.
ao lado de Jax.
Jax estava bem ciente de que cada irmão na sala sabia pelo cheiro
dela que ela era sua Ômega. E ele adivinhou que todos estavam tentando
descobrir exatamente como – e quando – ele conseguiu isso.
Pela primeira vez em anos, Jax descobriu que estava feliz por não
poder falar.
O elevador voltou vazio e o segundo grupo subiu. Desta vez,
quando o elevador abriu novamente, Ransom saiu, sua camisa manchada
de sangue. — Derrubei quatro, — disse ele concisamente. — O resto
correu. Claro, por enquanto.
— Ninguém está por perto para isso, — disse Diesel. — Boa sorte
para todos vocês.
Victoria
Victoria olhou para Jax, que estava segurando sua mão quase com
ternura, um contraste notável com a eficiência mortal que ele mostrou na
última hora. Sem ele, ela sabia que estaria muito apavorada para se salvar,
mas era difícil ter medo quando Jax estava ao seu lado.
Jax deu uma longa olhada no console com seus muitos controles
digitais e então relutantemente se espremeu na parte de trás. Victoria
subiu no banco do motorista e jogou para ele a jaqueta de Medina, que
estava pendurada no banco da frente.
Ela sabia que fazia pouco sentido, já que ele estava a apenas
alguns centímetros de distância no banco de trás. Ainda assim, ela não
pôde resistir ao desejo de voltar a tocar a mão dele repetidamente
enquanto dirigia, apenas para se assegurar de sua presença.
Mas um único toque não satisfez. Seu corpo não se contentava
com a proximidade; exigia muito mais, uma necessidade que só ficava
mais forte a cada quilômetro.
— Faz muito tempo desde que você esteve lá fora, não é? — ela
disse gentilmente.
Jax se virou para ela, e Victoria desejou que ele pudesse dizer a ela
o que estava pensando, o que estava sentindo... e ainda de alguma forma,
através de alguma estranha peculiaridade de suas naturezas, ela sentiu
como se já soubesse.
Mas seu contentamento fez pouco para aplacar sua fome carnal
subjacente, a necessidade que floresceu e aumentou desde que deixaram
o Porão. Não só estava exigindo ser satisfeita, mas ela viu refletida de
volta nos olhos de Jax, também.
Então, antes que ela se perdesse naqueles olhos cor de carvão, ela
puxou a mão dele e o levou para a cabana.
Mas isso não era verdade, não se Victoria fosse honesta consigo
mesma. No caos e urgência em torno de sua fuga, ela foi capaz de
empurrar seu desejo crescente para o lado, mas agora que eles tiveram
uma pausa, ele retornou com uma vingança, clamando acima do resto de
seus sentidos, exigindo o que lhe era devido.
E Jax sabia. Ele parecia saber tudo o que ela estava sentindo
enquanto a guiava até ao chão sobre a grossa pilha de colchas e começou
a despi-la lentamente, tomando seu tempo agora em contraste com a
pressa febril de seu primeiro acasalamento. Ela podia sentir a dureza de
ferro de seu pênis através de seu jeans, mas de alguma forma ele
controlou sua própria luxúria o suficiente para se concentrar nela.
Cada toque atiçou o fogo de sua necessidade até que ela se perdeu
nas chamas. Ela começou a arranhar Jax, então em suas próprias roupas
quando ela decidiu que ele estava demorando muito para tirar suas
calças. Eventualmente, ela deu um grito frustrado e os arrancou de si
mesma. Seu corpo parecia ser tomado por alguma força maior.
Desta vez quando ela moveu seus quadris, Jax a deixou. Ela
posicionou a cabeça de seu pênis em sua abertura e gritou de prazer
quando uma torrente de suor jorrou dela para facilitar seu caminho. Ela
balançou os quadris com avidez, tomando-o um pouco de cada vez
enquanto sua boceta inchava ao redor dele, lentamente se esticando para
acomodá-lo, ofegante de frustração.
Ela se apoiou contra ele, sua cabeça jogada para trás, onda após
onda estremecendo através dela enquanto ela o agarrava com força com
seus quadris. Quando o orgasmo finalmente começou a retroceder, foi
substituído por um desejo ainda mais forte, uma fome maior, como se
aquele clímax não tivesse sequer arranhado a superfície das necessidades
de seu corpo.
Victoria montou Jax pelo que pareceram horas, seu pênis nunca
enfraquecendo. Eles existiam em uma névoa de prazer sensual,
contorcendo-se e acariciando e de alguma forma, cada vez mais forte do
que a anterior.
Victoria mal sabia onde estava, mas ela sempre sabia exatamente
onde Jax estava, mesmo quando ele parava de foder para trazer comida
ou água.
Victoria.
Os quatro dias de seu calor destruíram tudo que Jax pensava que
sabia sobre a vida, sobre si mesmo. Eles trouxeram quase mais prazer do
que seus sentidos há muito negligenciados podiam suportar. Apesar das
terríveis circunstâncias que levaram à fuga, de alguma forma ele e Victoria
conseguiram.
Mas ele ainda podia senti-la, mesmo aqui na beira da água. Não
era apenas que ele podia pegar o cheiro dela flutuando na brisa, também
— ele podia realmente senti -la. A batida lenta e constante de seu
coração, cada respiração longa e profunda, a vibração de suas pálpebras
quando ela começou a despertar, tudo isso estava acontecendo dentro
dele também. Se ele fechasse os olhos e acalmasse sua mente, Jax poderia
realmente sentir o lugar perto de seu coração onde sua alma se tornou
amarrada à dele.
Porque Jax sabia agora que nada poderia separá-los... nem mesmo
a morte. Mesmo que Fulmer viesse voando sobre aquelas colinas agora
com todo o exército Beta chovendo balas e granadas, seu vínculo iria
durar.
Jax deu de ombros. Ele era tão novo nisso quanto ela.
— Uau... isso é... uau. Não é à toa que meu corpo inteiro dói. — Ela
estendeu as pernas e mexeu os dedos dos pés com um sorriso. — Pelo
menos minhas mãos e pés ainda funcionam, então mesmo que eu não
esteja totalmente recuperado até esta tarde, ainda posso dirigir.
— Mas não podemos perder mais tempo aqui, — disse ela, seu
sorriso desaparecendo. — Temos que continuar andando.
— Você quer viver nisso? Jax, está caindo aos pedaços. Foi bom
por algumas noites, mas não é um lar.
Jax se acalmou, então a puxou com mais força contra seu peito. Ele
colocou a mão bem contra o coração dela, certificando-se de que ela sabia
que ele estava falando sobre ela. E então ele se inclinou perto de seu
ouvido e conseguiu forçar uma única palavra de sua garganta.
Uma palavra abrangendo tudo o que Victoria significava para ele,
tudo o que ela lhe dera, tudo o que eles seriam um para o outro, não
importando onde estivessem ou quem tentasse separá-los.
— Lar.
CAPÍTULO 21
Fulmer
— Você não vai a lugar nenhum. Fulmer. Não até que você me diga
exatamente do que essas aberrações que você criou são capazes.
FIM
Há mais Alfas a viver em Boundarylands
Mas agora será a vez de contar a história dos Alfas que conseguiram
sobreviver ao torturante Porão.