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CAPÍTULO 2

Equação Teórica Fundamental das


Máquinas de Fluxo

2.1 Triângulo de Velocidade


O estudo teórico do escoamento de fluido através do rotor é feito por meio de vetores de velocidade. A
forma do diagrama destes vetores é triangular, daí serem denominados TRIÂNGULOS DE VELOCIDADES.

2.1.1 Conceitos Iniciais


Velocidade absoluta, c é a velocidade do fluido tomada em relação a carcaça da máquina, que é um
orgão fixo.
Velocidade relativa, w é a velocidade do fluido tomada em relação ao rotor da máquina, que é um orgão
móvel.
Velocidade periférica, u é a velocidade tangencial definida por: u = ωr . Onde ω é a velocidade angular e
r é o raio do círculo descrito pelo ponto em estudo.

2.1.2 Características dos Triângulos de Velocidades


Considera-se inicialmente que o número de pás do rotor (impelidor) é infinito e que estas são extre-
mamente finas. Neste caso podemos considerar as linhas de correntes congruentes com as pás e o
escoamento do fluido unidimensional. O triângulo de velocidades é então válido para todos os pontos
localizados no mesmo raio. Apenas os triângulos de entrada e de saída das pás são necessários para
definir o comportamento da linha de corrente. Entre essas duas seções o fluxo deverá produzir o mínimo
de perdas com a adoção de perfis de pás adequados.
Na entrada da pá, para escoamento ”sem choque” a velocidade relativa w é tangente à pá, formando
o ângulo β com a direção tangencial. Da mesma maneira, a velocidade relativa na saída w é tangente à pá,
formando o ângulo β com a direção tangencial. Os ângulos β na entrada e saída das pás são denomidos
de ÂNGULOS CONSTRUTIVOS DAS PÁS.
É importante frisar que a velocidade relativa determina o ângulo de entrada ou de saída da pá, ou
seja, o ângulo construtivo do perfil da pá.
Além das velocidades do triângulo, as projeções da velocidade absoluta sobre o plano meridiano e na
direção tangencial permitem, respectivamente, o cálculo da vazão volumétrica que passa pelo rotor e a
energia obtida ou cedida pelo rotor.
Assim, no projeto de Máquinas de Fluxo é importante o conhecimento dos seguintes elementos do
triângulo de velocidades:
16 Capítulo 2. Equação Teórica Fundamental das Máquinas de Fluxo

c: Velocidade absoluta;
w: Velocidade relativa;
u: Velocidade tangencial;
c m : Velocidade meridiana, projeção da velocidade absoluta c sobre o plano meridiano;
c u : Componente da velocidade absoluta c segundo a direção tangencial;
α: Ângulo formado pelo sentido positivo da velocidade absoluta c e do sentido positivo da velocidade
tangencial u;
β: Ângulo formado pelo sentido positivo da velocidade relativa w e do sentido negativo velocidade
tangencial u.

Os triângulos de velocidade devem, nos casos de dimensionamento, serem traçados com velocidades
adimensionais, ou melhor, com os coeficientes de velocidades.
Atribuindo a esses vetores e suas componentes os índices: (4) para o ponto situado imediatamente
após a entrada do rotor, portanto, já no espaço entre as pás giratórias, e (5) um ponto situado imedia-
tamente antes da saída do rotor, portanto, ainda no espaço entre as pás giratórias, tem-se as seguintes
representações respectivamente para máquina geradora e motora centrífuga.

2.1.3 Vazão
Z

− →

Q= V •d A (2.1)
A
Z
c d Asen 90◦ − α5
¡ ¢
Q= (2.2)
A

como: sen (90◦ − α5 ) = −sen (α5 )


Z
Q =− c d Asen (α5 ) (2.3)
A

e c sen (α5 ) = c m

Q = cm A (2.4)

Para máquinas radiais: A = πDb

Onde D é o diametro do rotor e b é a largura do rotor.

π¡ 2
D e − D i2
¢
Para máquinas axiais: A =
4
Onde D e é o diâmetro externo e D i é o diâmetro interno.

De + Di
µ ¶
Para máquinas diagonais: A = π b
2

2.1.4 Recomendações
Máquinas geradoras: ⇒ α4 = 90◦ Maior rendimento, condição ideal para projeto
Bombas: 15◦ ≤ β4 ≤ 20◦ e 14◦ ≤ β5 ≤ 50◦ Diminui o risco de cavitação na entrada
Ventiladores: 15◦ ≤ β4 ≤ 20◦ Baixo nível de ruído em ventiladores de baixa e média pressão
40◦ ≤ β5 ≤ 60◦ Pás curvadas para trás
150◦ ≤ β5 ≤ 170◦ Pás curvadas para frente (SIROCCO)
OBS: ↑ Ruído, ∆P ↓ e Q ↑
Motrizes: α5 = 90◦ Maior rendimento, condição ideal para projeto.
Turbinas radiais: 15◦ ≤ α4 ≤ 55◦ ⇒ Macintyre.
45◦ ≤ β4 ≤ 135◦ ⇒ Rápidas
β4 ≤ 90◦ ⇒ Lentas
2.2. Equação Teórica Fundamental das Máquinas de Fluxo 17

15◦ ≤ β5 ≤ 45◦ ⇒ Turbinas em geral


OBS: cavitação ↑⇒ β5 ↑

2.2 Equação Teórica Fundamental das Máquinas de Fluxo


A equação geral de Euler desempenha um papel fundamental no estudo de Máquinas de Fluxo, pois
constitui a equação básica para o desenvolvimento de bombas, ventiladores e turbinas. Ela expressa o
intercâmbrio de energia entre o rotor da máquina e o fluido.
Condição ideal: Escoamento sem atrito, número infinito de pás com espessura infinitesimal.

2.2.1 1a Forma da Equação de Euler


Aplicando o princípio da conservação da quantidade de movimento angular para um sistema, tem-se:

Z

− −
→ ¡→
− →
−¢ →−
r × Fs + r × g ρd ∀ + T ei xo =
VC

Z Z ³
³
→− →
−´ →
− →
−´ →− →

r × V ρd ∀ + r × V ρV • d A (2.5)
∂t VC SC

onde:

1. as parcelas à esquerda do sinal de igualdade representam o somatório dos torques que atuam
sobre o volume de controle;

2. a segunda parcela à direita do sinal de igualdade representa a taxa de variação de momento da


quantidade de movimento dentro do volume de controle;

3. a segunda parcela à direita do sinal de igualdade representa a taxa líquida de fluxo de momento de
quantidade de movimento que atravessa as fronteiras do volume de controle.

Considerando:

1. um rotor de uma máquina centrífuga, constituído de infinitas pás de espessura infinitesimal, no


qual escoa um fluido incompressível em regime permanente, sem atrito, e de forma isenta de
choque na entrada;

2. desprezível o torque decorrente de foças superfíciais;

3. desprezível a contribuição da forças de massa em virtude da simetria do rotor

A equação da conservação do momento da quantidade de movimento resume-se à:


Z

− ³

− →
−´ →
− →

T ei xo = r × V ρV • d A (2.6)
SC

Esta equação mostra que para uma máquina geradora, o torque requerido causa uma variação na
quantidade de movimento angular do fluido, ao passo que, para uma máquina motora, o torque produ-
zido deve-se a uma variação na quantidade de movimento angular do fluido.
Aplicando a equação anterior à Figura 4.1 obtém-se:


− →
− →

r = r cos θ i + r sen θ j (2.7)


−c = →
− →

(−c u sin θ + c m cos θ) i + (c u cos θ + c m sen θ) j (2.8)
18 Capítulo 2. Equação Teórica Fundamental das Máquinas de Fluxo

¯ →
− →
− →
− ¯
¯ i j k ¯
³
→− →
− ´ ¯ ¯
r ×V =¯ r cos θ r sen θ 0 (2.9)
¯ ¯
¯
¯ (−c u sen θ + c m cos θ) (c u cos θ + c m sen θ)
¯ ¯
0 ¯

³

− →
−´ →
− →

r × V = r cos θ (c u cos θ + c m sen θ) k − r sen θ (−c u sen θ + c m cos θ) k (2.10)

³

− →
−´
r × V = r c u sen2 θ + cos2 θ + c m (sen θ cos θ − senθ cos θ)
£ ¡ ¢ ¤
(2.11)

³
→− →
−´ →

r × V = r cu k (2.12)


− →
− →

Z Z
Tei xo k = r 4 c u,4 k ρ c m d A cos 180◦ + r 5 c u,5 k ρ c m d A cos 0◦ (2.13)
A4 A5

Tei xo = ρQ r 5 c u,5 − r 4 c u,4


¡ ¢
(2.14)

Sendo ω a velocidade angular do rotor então a potência pode ser calculada por:

P pa,∞ = Tei xo ω (2.15)

que pode também ser calculada por:

P pa,∞ = ρQY pa,∞ (2.16)

Igualando as duas equações anteriores:

Tei xo ω = ρQY pa,∞ (2.17)

ρQ r 5 c u,5 − r 4 c u,4 ω
¡ ¢
Y pa,∞ = (2.18)
ρQ

Para máquina geradora

Y pa,∞ = u 5 c u,5 − u 4 c u,4 (2.19)

Enfim, a altura teórica, H t ,∞ , também denominada de altura de Euler ou altura de carga da turbomá-
quina é destrica pela equação geral de Euler:

Y pa,∞ u 5 c u,5 − u 4 c u,4


H t ,∞ = = (2.20)
g g

Nota-se que a definição de carga como energia por unidade de peso permite fazer analogia com as
máquinas motoras

Y pa,∞ = u 4 c u,4 − u 5 c u,5 (2.21)

Y pa,∞ u 4 c u,4 − u 5 c u,5


H t ,∞ = = (2.22)
g g
2.2. Equação Teórica Fundamental das Máquinas de Fluxo 19

w
c
cm

α β

cu wu

Figura 2 – Triângulo de Velocidades.

2.2.2 Segunda forma da equação de Euler


2.2.2.1 Dedução
Dados os triângulos de entrada e saída de uma máquina:
De um triângulo genérico tem-se:

w 2 = cm
2
+ w u2 (2.23)

w 2 = cm
2
+ (u − c u )2 (2.24)

w 2 = cm
2
+ u 2 + c u2 − 2uc u (2.25)

c 2 + u2 − w 2
uc u = (2.26)
2
Sendo a equação geral de Euler dada por:

u 5 c u,5 − u 4 c u,4
H t ,∞ = ± (2.27)
g
pode-se escrever:

c 52 + u 52 − w 52 c 42 + u 42 − w 42
"Ã ! Ã !#
1
H t ,∞ = ± − (2.28)
g 2 2
ou seja,

c 52 − c 42 u 52 − u 42 w 52 − w 42
à !
H t ,∞ = ± + + (2.29)
2g 2g 2g
Essa equação é conhecida como as segunda forma da equação de Euler
Aplicando-se a equação de Bernoulli entre a entrada e saída do rotor para o caso sem atrito, obtém-se:

P 5 − P 4 c 52 − c 42
H t ,∞ = ± + + (Z5 − Z4 ) (2.30)
ρg 2g
Considerando Z4 = Z5 , observa-se que parte da energia fornecida pelo rotor ao fluido (máquinas ge-
P5 − P4
µ ¶
radoras) ou pelo fluido ao rotor (máquinas motoras) é feita sob a forma de energia de pressão ±
ρg
c5 − c4
µ ¶
e parte é feita sob forma de energia cinética ± .
2g
20 Capítulo 2. Equação Teórica Fundamental das Máquinas de Fluxo

Comparando a expressão anterior com a segunda forma da equação de Euler, observa-se ainda que:
Para máquina geradora

P 5 − P 4 c 52 − c 42
Y pa,∞ = + (2.31)
ρ 2
Para máquina motora

P 4 − P 5 c 42 − c 52
Y pa,∞ = + (2.32)
ρ 2

2.2.2.2 Grau de reação teórico

Y pa,∞ = Yest + Yd i n (2.33)

Para máquina de ação: Yest = 0


Definindo grau de reação teórico

Yest
ρt = (2.34)
Y pa,∞
Igualando as equações:

P 5 − P 4 c 52 − c 42
u 5 c u,5 − u 4 c u,4 = + (2.35)
ρ 2

P5 − P4 c 2 − c 42
= u 5 c u,5 − u 4 c u,4 − 5 (2.36)
ρ 2

c 42 + u 42 − w 42
c u,4 u 4 = (2.37)
2
Para máquina geradora

P 5 − P 4 u 52 − u 42 w 42 − w 52
Yest = = + (2.38)
ρ 2 2
Para máquina motora

P 4 − P 5 u 42 − u 52 w 52 − w 42
Yest = = + (2.39)
ρ 2 2
Portanto as equações podem ser reescritas:
Para máquina geradora:

u 52 − u 42 w 42 − w 52 c 42 − c 52
Y pa,∞ = + + (2.40)
2 2 2
Para máquina motora:

u 42 − u 52 w 52 − w 42 c 52 − c 42
Y pa,∞ = + + (2.41)
2 2 2

c 42 − c 52
1. o termo ± refere-se à altura dinâmica ou cinética proporcionada pelo rotor ao fluido (má-
2
quina geradora) ou pelo fluido ao rotor (máquinas motoras),

u 42 − u 52 w 42 − w 52
2. e os termos ± e±
referem-se à altura de pressão proporcionada pelo rotor ao
2 2
fluido (máquinas geradoras) ou pelo fluido ao rotor (máquinas motoras).
2.2. Equação Teórica Fundamental das Máquinas de Fluxo 21

O grau de reação (ρ t ) de uma turbomáquina refere-se ao modo como o rotor trabalha, isto é, ele
indica a razão entre a energia de pressão e a energia total cedida ou recebida pelo rotor da máquina:

H p,∞
ρt = (2.42)
H t ,∞
Onde,

1. H p é a altura de pressão que fornece (gerador) ou recebe (motor) o rotor da máquina;

2. H t ,∞ é a altura total que fornece ou absorve o rotor da máquina (altura de Euler).

De acordo com a sua definição, o grau de reação (ρ) é tanto maior quanto maior a parcela de energia de
pressão fornecida pelo rotor ao fluido (máquinas geradoras) ou pelo fluido ao rotor (máquina motoras).
Se H p,∞ = 0 a máquina é de ação. Neste caso, toda a energia do fluido é transformada em energia
cinética, antes da transformação em trabalho mecânico processado pela máquina.
Se 0 ≤ H p,∞ ≤ H t ,∞ caso mais comum, a máquina é de reação. Neste caso, tanto a energia cinética
como a energia de pressão são transformadas em trabalho mecânico e vice-versa.

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