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OS PRINCÍPIOS LÓGICOS∗
questão eram as coisas simples e universais tais como extensão, número, duração, etc. Em
tal ocasião, jamais foram mencionadas as noções comuns ou máximas (os princípios
lado do cogito e, novamente, não houve qualquer menção a respeito das noções comuns.
Agora, em meio à Meditação Terceira, quando se trata de achar uma maneira de alcançar
alguma realidade exterior para além do horizonte de nossas idéias, Descartes declara:
“Agora, é coisa manifesta pela luz natural que deve haver ao menos tanta realidade na causa eficiente e
total quanto no seu efeito: pois de onde é que o efeito pode tirar sua realidade senão de sua causa? E
como poderia esta causa lha comunicar se não a tivesse em si mesma ?”1
Ora, todo esse quadro comporta a clara indicação de que o programa da dúvida
Isso será confirmado por Descartes nas respostas aos seus objetores. A Gassendi, Descartes
irá declarar que recusou apenas os prejuízos que existem em nosso espírito, mas não
∗
O presente texto consiste na reformulação e aprofundamento de algumas reflexões já presentes em nossa
dissertação de mestrado (Dúvida Metafísica e o Processo de Constituição do Cogito na Obra de
Descartes, op. cit., cap. I).
1
Méditations—Troisième, A.T., IX, p.32; Meditationes—Tertia, A.T., VII, p. 40.
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aquelas noções que se conhecem sem afirmação ou negação2, e, na Exposição Geométrica
que acompanha Segundas Respostas, ele afirma que tais noções não precisam de prova para
serem conhecidas3.
nossas opiniões ou juízos sobre a realidade. É esse o edifício que a dúvida metódica
pretendeu derrubar, e é um tal edifício que, sobre novas bases, Descartes pretende
reconstruir. É por isso que, tal como vimos, ele afirma que o erro está propriamente nos
juízos que fazemos acerca de nossas idéias. Ora, os princípios lógicos não são juízos que
fazemos acerca de nossas idéias, mas são, por assim dizer, juízos inatos; ou melhor, visto
que não consistem em atos da vontade, isto é, ações de afirmar ou negar algo, tais
princípios não são, propriamente falando, juízos, mas sim noções inatas ao intelecto, “que
se conhecem sem afirmação ou negação”. É natural, pois, que não sejam afetados pela
dúvida.
Entretanto, como entender, então, o caso das coisas simples e universais, bem como
de todo conhecimento matemático? Não são também elas noções gerais inatas ao
entendimento? E, no entanto, não são elas atingidas por uma dúvida metafísica? Se eu
posso duvidar da verdade <2 + 3 = 5>, não posso, do mesmo modo, duvidar da verdade <é
impossível que uma mesma coisa, ao mesmo tempo, seja e não seja>? Uma tal isenção mão
2
“... o autor [Gassendi] desse livro [Disquisito Methaphysica] não considerou que a palavra prejuízo não se
estende a todas as noções que existem em nosso espírito, das quais confesso ser impossível nos
desfazermos, mas somente a todas as opiniões deixadas em nossa crença pelos juízos que fizemos
outrora”. (Sur les Cinquièmes Objections, A.T., IX, p. 205. [T. M.]). “Mas apenas neguei os prejuízos e
nunca as noções, como estas, que se conhecem sem qualquer afirmação ou negação” (Ibid. p. 206).
3
No terceiro postulado da exposição geométrica, Descartes declara que as “noções que cada qual encontra
em si mesmo” não precisam de provas para serem conhecidas. (Secondes Réponses, A.T., IX, p. 126;
Secundae Responsiones, A.T., VII, pp. 162-163).
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De fato, as noções comuns são, elas próprias, coisas simples e universais. Na Regra
XII, quando trata das noções das coisas simples, Descartes as classifica em puramente
movimento, etc); comuns a ambas (existência, unidade, duração, etc); e as noções comuns.
Todavia, as noções comuns se distinguem das demais coisas ou naturezas simples por não
serem elas próprias coisas ou propriedades de coisas, mas tão somente laços que ligam as
outras naturezas simples entre si “e sobre cuja evidência se apóiam todas as conclusões dos
a uma só vez, realidades e verdades: as <noções comuns> são então espécies de naturezas
simples que servem de laços entre coisas consideradas, elas também, naturezas simples” 5.
número, etc.) e aquelas que se referem a verdades, que ele chama de <noção comum ou
máxima>6. Quer dizer, dentre as nossas noções de naturezas simples, algumas são noções
de coisas ou propriedades de coisas, enquanto que outras são noções de meras noções (as
noções comuns ou máximas). Quando, portanto, Descartes fala de noções gerais, primitivas
ou, de modo geral, de noções inatas ao entendimento, ele está se referindo genericamente às
noções que temos de naturezas simples; quando, porém, fala especificamente de <noções
comuns>, está se referindo a uma espécie de naturezas simples, que, enquanto tal, é ela
própria objeto de noções primitivas ou gerais. Dentre essas noções primitivas ou gerais,
4
Regulae Ad Directionem Ingenii—Regula XII, A.T., X, , p. 419.
5
La Pensée Métaphysique de Descartes, Paris, Vrin, 1962, pp. 274.
6
Principes, A.T., IX Première Partie, § 48 e 49, pp. 45-46.
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Quer dizer, por um lado, uma noção comum não é, propriamente falando, um juízo,
porque ela não é uma ação da vontade que se aplica a um objeto do entendimento, mas é ela
própria um objeto do entendimento: não julgamos, por exemplo, que <é impossível que
uma mesma coisa, ao mesmo tempo, seja e não seja> a partir da percepção de uma
determinada coisa que assim se comporta, mas percebemos (intuímos) essa proposição
mesma; por outro lado, enquanto objeto do entendimento, a noção comum não é,
propriamente falando, uma idéia, porque idéia, como vimos, é aquele pensamento que é
como imagem de uma coisa. Ora, nos diz Descartes, “quando pensamos que nunca se
poderá fazer alguma coisa do nada, n ão cremos que tal proposição seja coisa que exista ou
propriedade de alguma coisa, mas tomamo-la por uma certa verdade eterna que tem seu
Temos, pois, que as noções comuns não são, rigorosamente falando, nem idéias e
nem juízos. O que são então? Ora, apenas noções ou conceitos. Mas um conceito não
expressa sempre uma idéia? Descartes mesmo não afirma que nada saberíamos exprimir
por nossas palavras, quando entendemos o que dizemos, sem termos a idéia da coisa que é
significada por nossas palavras8? Mais que isso: conceito e idéia não são termos
equivalentes em Descartes? Nas Regras para a Direção do Espírito, Descartes não define
Conceitos, é claro, expressam sempre “idéias” e, neste sentido, poderemos dizer que
são termos equivalentes, mesmo para Descartes. Deste modo, a noção comum é também
7
Principes—Première Partie, A.T., IX, § 49, p. 46.
8
“... não saberíamos nada exprimir com nossas palavras, quando entendemos o que dizemos, se por isso
mesmo não fosse certo que nós temos em nós a idéia da coisa que é significada por nossas palavras”.
(Correspondance, A.T., III, carta CCXLV, Descartes a Mersenne, juillet 164l, p. 393).
9
“Por intuição entendo, não a convicção flutuante fornecida pelos sentidos ou o juízo enganador de uma
imaginação de composições inadequadas, mas o conceito da mente pura e atenta tão fácil e distinto que
nenhuma dúvida nos fica acerca do que compreendemos”. (Regulae ad Directionem Ingenii—Regula
III, A.T., X, p. 368).
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uma idéia. Não, porém, idéia em sentido próprio, isto é, entendida como uma percepção
que o pensamento tem de determinada coisa, embora a própria noção comum possa ser o
objeto de uma percepção, ou seja, objeto de uma idéia. “Temos ainda outras idéias no
tocante às noções comuns”, nos diz Descartes na Entrevista com Burman, “e essas não são
idéias de coisas, propriamente falando; mas então a idéia é tomada em um sentido mais
largo”.10
Isto faz ver que, mesmo para Descartes, idéia, em sentido estrito, não é um termo
verdade, entretanto, que todo conceito seja uma idéia. Ocorre que conceito é, de um modo
geral, uma noção da mente. Quando, pois, se trata da noção de uma determinada coisa, isto
é, de uma noção que resulta da percepção que o pensamento tem de alguma coisa,
chamamos esta noção de ‘idéia’; quando, porém, se trata de uma noção pura, ou seja, de
uma noção que não introduz nenhuma coisa no pensamento, mas que, no entanto, pode ser
aplicada a qualquer coisa, chamamos esta noção de ‘noção comum’. Assim, idéia é o
conceito de uma determinada coisa, enquanto noção comum (ou princípio lógico) é um
medida em que, tanto quanto as idéias, eles são noções ou conceitos; mas, estritamente
falando, idéias são noções de coisas, enquanto os princípios lógicos são noções comuns.
Isto significa que um princípio lógico não introduz nenhuma coisa no pensamento, mas já
é, ele mesmo, um conceito introduzido no pensamento11. Mas se esse conceito não introduz
10
Entretien avec Burman, Paris, Vrin, 1975, p. 29.
11
“... pode-se dizer que impossibile est idem simul esse & non esse é um princípio, e que ele pode
geralmente servir, não propriamente para fazer conhecer a existência de alguma coisa, mas somente para
fazer que, quando se a conhece, confirme-se a sua verdade por um tal raciocínio: é impossível que o que é
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nenhuma coisa ou propriedade das coisas, então o que ele introduz ou traduz? Ora, ele
expressa uma relação. Mas essa relação não deve ser entendida, ela mesma, como sendo
uma coisa, ou tampouco como expressando propriedades essenciais que existem nas coisas.
Trata-se de uma relação meramente conceitual expressa numa proposição. Mas se a noção
comum é uma proposição que expressa uma relação entre conceitos, ela não é, então, um
juízo? Naturalmente, se tomarmos juízo apenas no sentido lógico; mas não é juízo no
sentido específico de uma ação da vontade que se acrescenta a uma idéia. O juízo aqui é ele
mesmo uma “idéia” (noção) no entendimento. Contudo se o juízo não se acrescenta a uma
idéia, na medida que ele já é uma “idéia”, em que consiste, pois, um tal juízo? Ora, num
juízo tautológico ou analítico. Trata-se de uma proposição cujo predicado apenas explicita
aquilo que já está contido no sujeito. Dado, por exemplo, o conceito de Ser, temos, por
mera explicitação de seu conteúdo, que <o Ser é>; disso decorre que <o Ser não pode, ao
mesmo tempo, não ser>; e, do mesmo modo, temos que <uma mesma coisa não pode, ao
Não há aqui um juízo que a vontade faz sobre um objeto percebido pelo
portanto, introduzir a dúvida nos princípios lógicos, porque não é possível — a exemplo do
que se fazia até mesmo com as idéias matemáticas — reduzir o juízo à idéia, já que o
próprio juízo é aqui a “idéia”. Não existe aqui uma relação externa, onde a idéia de uma
coisa é ligada à coisa de que ela é idéia por uma ação da vontade, isto é, não ocorre aqui um
não seja; ora, conheço que tal coisa é; logo, conheço que é impossível que ela não seja. O que é de bem
pouca importância, e não nos torna em nada mais sábios”. (Correspondance, A.T., IV, carta CDXL
Descartes à Clerselier, [juin ou juillet 1646], p. 444).
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juízo que acrescenta à idéia um valor objetivo. O que temos aqui é apenas uma relação
mesmo tempo, ser e não ser>, estaríamos então suspeitando que <Ser é não ser> e que,
portanto, <pensar é não pensar> e, do mesmo modo, que <eu não penso quando penso>, e,
por fim, que [eu não suspeito que <uma mesma coisa não pode, ao mesmo tempo, ser e não
ser> quando eu suspeito <que uma mesma coisa não pode, ao mesmo tempo, ser e não
passíveis de dúvida é que, enquanto posso suspeitar que <2 + 3> seja igual a <5>, não
posso suspeitar que <2 + 3> seja e não seja, ao mesmo tempo, igual a <5>, ou que <5>
seja e não seja, ao mesmo tempo, <5>. Ser e não-ser são conceitos incompatíveis,
excludentes entre si: um corpo ou um número é ou não é, mas não pode ser e não ser ao
mesmo tempo.
12
“Podemos, sem embargo, demonstrar negativamente que essa opinião é impossível, contanto que o nosso
adversário afirme alguma coisa (...). O ponto de partida de todos os argumentos dessa espécie não é
pretender que o nosso adversário diga que uma coisa é ou não é (o que poderia ser petição de princípio),
mas que diga algo que tenha significação tanto para ele próprio como para um outro; pois isso é
realmente necessário se realmente ele quer dizer algo. Se nada dizer, um tal homem não será capaz de
raciocínio, quer consigo mesmo, quer com um outro. Mas uma vez admitido isto, a demonstração se torna
possível, pois neste caso teremos uma asserção definida. O responsável pela petição de princípio,
contudo, não é o que demonstra, mas o que escuta a demonstração; porquanto, ao mesmo tempo que
refuta o raciocínio, submete-se a ele. E, por outro lado, quem admite isso já admitiu que há algo de
verdadeiro fora de qualquer demonstração [de modo que nem tudo será “assim e não assim”].
(Aristóteles, Metafísica, Livro IV, 1006a 10-30, Porto Alegre, Editora Globo, 1969, pp. 93- 94).
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uma maneira puramente lógica? Dado os conceitos de número e de ordem ou série, as
relações aritméticas também não são deduzíveis de forma puramente lógica, tanto quanto o
que para Descartes o que está em jogo é a própria validade das noções de extensão,
duração, número, etc. Se, portanto, tais naturezas simples não forem essências reais, mas
tão somente ficções do espírito, então todo conhecimento matemático apoiado nelas se
Como garantir que a minha concepção de Ser corresponde ao Ser real? Não se trata, porém,
de dizer tão somente que o pensamento não pode conceber o Ser como contraditório em si
mesmo, mas dizer que o próprio pensamento que não pode ser em si mesmo contraditório:
o ato de pensar não pode, ao mesmo tempo, ser e não ser ato de pensar. Portanto, não se
trata de uma verdade meramente lógica ou epistemológica, mas sobretudo de uma verdade
ontológica. E não ocorre aqui uma imposição do pensamento sobre o ser, mas é a própria
determinação do ser que se expressa no ato mesmo de pensar. Inclusive, essa associação
entre ser e pensar, que dá um alcance ontológico aos princípios lógicos, vai ser fortalecida
quando da formulação do cogito: a partir de então, não é mais um mero ato (de pensar) mas
é uma coisa (pensante) que não pode, ao mesmo tempo, ser e não ser. Assim, não é mais o
lei universal para todos os seres a partir da observação de uma determinação específica do
293
A própria formulação do cogito é uma confirmação do princípio da não-contradição:
penso, logo existo significa que existo à medida que penso e não poderia, ao mesmo tempo
(à medida que penso), não existir. Isto é, o pensamento constata a sua existência e a
pensamento não pode conceber o ser como autocontraditório que ele se constata sem
autocontradição; ao contrário, ele constata a sua existência como uma exclusão necessária
Agora, o fato do cogito confirmar os princípios lógicos não implica em afirmar que
antes do cogito eles podem ser postos em dúvida. Pelo contrário, o único modo de
questioná-lo seria questionando o próprio cogito. Para entender isso devemos traçar um
depois, como elas poderiam ser verdadeiras mesmo que não existisse a realidade exterior,
verdadeiras (verdades necessárias para qualquer mundo material possível), foi preciso
questioná-las em si mesmas, suspeitando que a sua necessidade fosse uma ilusão criada por
independentes da dúvida sobre a existência do mundo, de modo que foi necessário um novo
argumento para atacá-las, elas não teriam conquistado essa independência se o mundo
exterior não pudesse ter sido questionado: elas podem ser verdadeiras sem que o mundo
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exterior exista, mas o mundo exterior não pode existir sem que elas, que são suas
Do mesmo modo, com relação aos princípios lógicos, o único modo de questionar o
seu alcance ontológico é começar por questionar a realidade da existência e, apenas depois,
essências matemáticas. Entretanto, isso não esgota todo o ser: a existência não-extensional
ou inteligível, isto é, o pensamento, não foi afetada. Na verdade, ele mesmo, o pensamento,
que foi quem colocou em suspeição toda a realidade material, sequer foi constatado (ou
ele não somente não cairá sob suspeição como será automaticamente confirmado. Neste
sentido, os princípios lógicos nunca chegaram a perder integralmente o seu solo ontológico
Os princípios lógicos, portanto, não são suscetíveis a nenhum gênero de dúvida: não
são passíveis de uma dúvida natural porque a experiência não sugere e nunca sugeriu a
impossibilidade de fato; por outro lado, não são passíveis de uma dúvida metafísica, tal
como as idéias matemáticas, porque assim como não é possível pensar que as coisas não
sejam na medida em que são, tampouco é possível pensar que eu não existo na medida em
que penso, ou melhor, tampouco é possível que eu de fato não exista na medida em que
efetivamente penso, e mesmo que eu não pense na medida em que penso — há uma
impossibilidade de direito.
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Assim como o cogito, portanto, nem as mais extravagantes suposições dos céticos
poderiam colocar em questão os princípios lógicos. Ocorre que, nos diz Descartes, “uma
vez que eles estão presentes em nós de nascença e com muita clareza, e uma vez que os
modo confuso, e nunca em abstrato, ou dissociando-os das coisas materiais e das instâncias
devidamente, isto é, em abstrato. “E se o Cético tivesse feito isso”, afirma Descartes, “ele
apenas na medida em que coloca em questão as naturezas simples sobre as quais ele se
funda. Descartes afirma explicitamente que pode haver um Deus que me engane quando
faço a adição de dois mais três, ou quando enumero os lados de um quadrado. Neste sentido
afirmação de que um quadrado tem quatro lados não é meramente deduzível do conceito de
entre si? <2 + 3> não está implícito no conceito de número cinco?
que lhes confere estatutos diferentes, como que prefigura a famosa distinção que Kant fará
Leibniz que, entre as “verdades de razão”, opostas às “verdades de fato”, incluía tanto os
do mesmo modo, entre as suas “relações de idéias”, que opunha às “questões de fato”,
13
Entretien avec Burman op. cit., p. 5.
14
Ibid.
296
incluía igualmente os princípios lógicos e as idéias matemáticas - Kant, assim como
princípios lógicos eram “juízos analíticos”, ou seja, juízos em que o predicado pertence ao
sujeito “como algo contido (ocultamente) nesse conceito”. Ele denominava também esses
“embora em conexão com o mesmo”. A diferença era que, enquanto que os juízos de
eram universais e necessários, deviam ser “juízos sintéticos a priori”16. Entretanto, como
que embora não fosse a posteriori (por indução a partir da experiência) também não era
analítico (derivado das leis lógicas do entendimento): era a priori, mas sintético. E é por
causa desta concepção que as idéias matemáticas, diferentemente dos princípios lógicos,
tornam-se passíveis de dúvida. Se o conhecimento matemático não deriva das leis lógicas
da própria intuição. E se, por exemplo, o espaço tiver necessariamente quatro dimensões,
15
Crítica da Razão Pura, Introdução, op. cit., p. 27.
16
Ibid., p. 27 e 28.
17
Ibid., “Estética Transcendental”, p. 51 e 52.
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mas a malícia de um gênio maligno fizer com que eu sistematicamente o intua como tendo
três dimensões?
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