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INTELECTUALISMO

INTELECTUALISMO - BUSCA MEDIAR OS


POSICIONAMENTOS OPOSTOS DO RACIONALISMO E DO
EMPIRISMO QUANTO À ORIGEM DO CONHECIMENTO
(HESSEN, 2000).
• Intelectualismo- se aproxima do apriorismo por tentar
mediar os dois pontos de vista antagônicos.
• Mais próximo do empirismo - o apriorismo está mais
próximo do racionalismo.
• O Intelectualismo deriva os conceitos da experiência,
enquanto o apriorismo rejeita essa derivação, atribuindo
o fator racional não à experiência, mas à razão (HESSEN,
200, p. 45).
Intelectualismo - pressupostos principais do
racionalismo e do empirismo:
1. O pensamento como fonte e fundamento da formação do conhecimento (como é
para o racionalismo).
2. A experiência como fonte e fundamento da formação do conhecimento (como é
para o empirismo) (HESSEN, 2000).

“Com uma posição de mediação entre o racionalismo e o empirismo,


surgiu uma orientação epistemológica denominada Intelectualismo,
afirmando que o conhecimento tem a participação de ambos, pois
enquanto o racionalismo participa com a existência de juízos
necessários ao pensamento e com validade universal, o empirismo
sustenta que retira os elementos desses juízos da experiência
(PATRÍCIO, 2009, p. 90).”
O intelectualismo como perspectiva filosófica entende que:
• o sujeito busca conhecer a origem do conhecimento, a partir da
compreensão – por meio dos sentidos e da razão – de que
todo o conhecimento é obtido, primeiramente, através de
sensações, impressões, percepções, insights ou experiências
causadas pelo impacto da realidade sobre os sentidos
humanos.
• Segundo, o conhecimento vem dos raciocínios, dos
julgamentos e das reflexões feitos pelo sujeito – por sua alma,
espírito, razão ou inteligência – sobre esse tema (BEDOLLA,
2017).
• Para o intelectualismo, isso significa que a consciência
lê na experiência, ou seja, que os conceitos que o
intelecto apreende são retirados da experiência
(HESSEN, 2000).
• Uma diferença é que, para o racionalismo, os
conceitos pertencem sempre à razão; enquanto para
o intelectualismo, os conceitos são derivados da
experiência (HESSEN, 2000).
• Para o Empirismo - tudo que está presente ali é proveniente dos dados adquiridos
por meio da experiência.

Para o intelectualismo, esse princípio quer dizer o oposto, pois compreende que há
tanto as representações intuitivas sensíveis quanto os conceitos.
• Sendo assim:

Como conteúdo não-intuitivos da consciência, os conceitos são essencialmente


distintos das representações sensíveis, embora mantenham com elas uma
relação genética, na medida em que são obtidos a partir dos conteúdos da
experiência. Assim, experiência e pensamento constituem conjuntamente o
fundamento do conhecimento humano (HESSEN, 2000, p. 44).
Aristóteles - criou o pressuposto metafísico de que as ideias se
constituem, na verdade, como a forma essencial de todas as coisas, de
tal maneira que se apresentam como o núcleo racional das coisas,
envolvido como por uma “membrana” pelas propriedades verificadas de
maneira empírica.

A partir dessa perspectiva, então, não se mantém a ideia


platônica de que o homem vem à vida com conhecimentos
prévios em sua alma, mas a experiência se torna importante
por ser o fundamento daquilo que gera as ideias (HESSEN,
2000).
• Tomás de Aquino foi responsável por, na Idade Média, reorganizar essas
ideias primeiramente trazidas por Aristóteles.

• Para ele, o sujeito recebe imagens sensíveis a partir de coisas concretas e,


então, o intelecto extrai delas imagens essenciais e universais que
permitem que outra parte do intelecto realize juízos sobre as coisas.

• Propõe que mesmo as operações mais altas do pensamento se


fundamentam na experiência, na medida em que compõem relações
conceituais que são provenientes dela (HESSEN, 2000)
Exemplo: em relação à percepção sensorial, a extração de imagens essenciais e universais, e como essas operações fundamentam
o pensamento com base na experiência - Tomás de Aquino

Imagine uma pessoa que está sentada em seu jardim. Ele observa uma maçã vermelha em uma árvore próxima. De acordo com a
visão de Tomás de Aquino:

Percepção sensorial: Pedro começa sua experiência com a percepção sensorial. Ele vê, sente o cheiro e talvez até mesmo ouça o
som das folhas ao vento. Esses dados sensoriais são informações concretas que chegam à sua mente através dos sentidos.

Extração de imagens sensíveis: Em seguida, o intelecto de Pedro extrai imagens sensíveis dessa experiência sensorial. Ele forma
uma imagem mental da maçã vermelha em sua mente, baseada nas informações que seus sentidos lhe proporcionaram. Essa
imagem sensível é particular e ligada à experiência específica de Pedro naquele momento.

Extração de imagens essenciais e universais: O intelecto de Pedro vai além das imagens sensíveis e extrai imagens essenciais e
universais. Ele não apenas vê a maçã em sua mente, mas também conceitua a ideia geral de "maçã" e "vermelho". Essas imagens
são essenciais e universais porque não se limitam apenas à experiência individual de João, mas representam conceitos abstratos
que podem ser aplicados a outras maçãs e objetos vermelhos.

Realização de juízos: Com as imagens essenciais e universais em mente, Pedro pode agora realizar juízos sobre as coisas. Por
exemplo, ele pode pensar: "Maçãs vermelhas são deliciosas" ou "Esta maçã vermelha em particular está madura para ser colhida".
Esses juízos são possíveis porque ele extraiu conceitos essenciais e universais das imagens sensíveis iniciais.

Tomás de Aquino - mesmo as operações mais elevadas do pensamento, como a formulação de juízos, têm suas raízes na
experiência sensorial e na extração de imagens essenciais e universais a partir dela. Esse processo de construção do pensamento
a partir da experiência é fundamental em sua filosofia epistemológica.
• René Descartes apresentou uma doutrina intelectualista, um intelectualismo epistemológico
que ainda representa uma forte influência na área da psicologia, em especial, no campo de
estudos da Psicologia Cognitiva (OLIVEIRA; OLIVEIRA-CASTRO, 2003; VALDIVIEZO, 1996).
• Descartes afirma que a verdade é uma junção entre nossos juízos e as ideias da razão, e a
correspondência entre as ideias e a substância real depende do seu Deus racional.
• Assim, a ciência física surge da visão que a razão faz das ideias claras e distintas sobre a
realidade material, ou seja, a ideia de extensão (dimensão física das coisas) (VALDIVIEZO,
1996).
Exemplo: Vamos usar a ideia de extensão para ilustrar como a ciência física utiliza o raciocínio
para compreender a realidade material. Considere um experimento simples de lançar uma bola
de basquete em direção a um cesto de basquete. A ciência física se envolve na análise desse
evento, considerando a extensão da bola (sua forma tridimensional), sua velocidade, trajetória, a
força da gravidade e outros fatores físicos. Através do uso da razão e do pensamento lógico, os
cientistas físicos podem descrever, prever e explicar como a bola se move no espaço e se ela vai
ou não entrar no cesto. Isso demonstra como a ciência física se baseia na compreensão lógica das
ideias claras e distintas sobre a extensão e outras propriedades materiais para explicar eventos do
mundo real.
René Descartes - tem influenciado a psicologia cognitiva, mas também apresenta críticas e desafios relacionados a essa perspectiva.

Exemplo:
Considere uma situação em que alguém está aprendendo a andar de bicicleta. De acordo com a perspectiva intelectualista de
Descartes, essa pessoa primeiro teria que formar juízos e ter conhecimento teórico sobre os princípios da física e da mecânica
envolvidos na estabilidade e no equilíbrio de uma bicicleta antes de tentar andar. Isso implicaria que, antes de montar na bicicleta, a
pessoa teria que compreender profundamente os conceitos de centro de gravidade, inércia, alavanca, entre outros, de forma a garantir
uma ação bem-sucedida.

Doutrina Intelectualista de Descartes: ele argumentava que a verdade e o conhecimento eram resultado da razão e do intelecto. Isso
significa que, para ele, ações inteligentes e comportamento humano seriam precedidos por um processo de pensamento e juízo
consciente, onde as pessoas considerariam princípios e ideias claras e distintas.

Críticas de Oliveira e Oliveira-Castro: No entanto, as críticas levantadas pelos autores apontam para problemas nessa abordagem. Um
problema é que muitas ações que consideramos inteligentes não são necessariamente precedidas por uma reflexão consciente sobre
princípios teóricos. No exemplo da bicicleta, uma pessoa pode aprender a andar praticando e ajustando sua postura, equilíbrio e
movimentos sem a necessidade de um conhecimento teórico prévio. Isso sugere que a inteligência prática pode operar de maneira
diferente da teórica.

Outra crítica relevante é que a doutrina intelectualista pode levar a uma regressão teórica infinita. Se cada ação inteligente exigisse um
conhecimento teórico prévio, então, para que esse conhecimento fosse considerado inteligente, ele também deveria ser precedido por
mais conhecimento teórico, criando um ciclo sem fim de aquisição de conhecimento prévio.

As críticas sugerem que a visão de Descartes, embora influente na psicologia cognitiva, pode não capturar completamente a
complexidade do comportamento humano e da inteligência prática, onde a experiência e a aprendizagem prática desempenham um
papel significativo, muitas vezes sem a necessidade de um processo consciente de raciocínio teórico.
• “Pode-se defini-lo como um ódio que
se dirige atualmente à inteligência, ao
conhecimento, à ciência, ao
ANTI-INTELECTUALISMO
esclarecimento, ao discernimento”
(TIBURI e CASARA, 2016 apud
CAMPOS, 2018, p. 7).

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