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Aula 06 - Tributação do setor de Exploração

Mineral, Energia, Petróleo e Gás


2ª Parte – Paulo Honório de Castro Júnior
Taxas na Atividade Minerária: Taxa de Fiscalização de Recursos Minerais e Taxa
Anual por Hectare. ICMS sobre o Setor Minerário. Incidência sobre a extração,
benefícios fiscais e imunidade. Incidência de ITBI na Ocupação de Área
Destinada a Atividade Minerária: Servidão Civil, Servidão Minerária e o Código
de Mineração. IPTU e/ou ITR na Área Destinada a Atividade Minerária. PIS e
Cofins na atividade minerária: regime não-cumulativo e créditos na aquisição de
insumos.
CURRÍCULO RESUMIDO

Graduado em Direito e Presidente do Instituto Mineiro


Mestrando em Direito Tributário de Direito Tributário – IMDT.
pela Universidade Federal de
Minas Gerais – UFMG. Coordenador da Pós-Graduação
CEDIN/IBDM em Direito da
Mestrando em Direito Mineração e professor à frente
Financeiro pela Universidade de do módulo Direito Tributário
São Paulo – USP. Aplicado à Mineração.

Pós-Graduado pelo Instituto Sócio, líder da prática


Brasileiro de Estudos Tributários tributária, na William Freire
– IBET. Advogados em São Paulo.
Parte 1
Taxas na Mineração (TFRM)
TFRM

Lei 1.613/2011 Lei 19.976/2011 Lei 7.591/2011 Lei 4.301/2012

Amapá Minas Gerais Pará Mato G. do Sul

Lei 20.942/2020

Goiás
TFRM
TFRM Minas Gerais

Incide:
(i) Saída por venda de minério ou mineral extraído;
(ii) Saída por transferência interestadual do minério ou mineral,
entre estabelecimentos do mesmo titular;
(iii) Utilização do mineral ou minério em processo industrial.

Base de cálculo:
(i) 0,40 UFEMG vigente por tonelada de minério extraído.
(ii) R$ 1,58 (40%) em 2021.

Minério ou Mineral:
Descritos em rol taxativo na lei.
TFRM
Vício Fundamento
Competência exclusiva da União para
Incompetência legislar sobre mineração + royalty
estadual
Base de cálculo mensura atividade do
Natureza de imposto
contribuinte
Atividades gerais do Estado, que devem
Ausência de poder de polícia
ser custeadas por impostos
Taxas de Fiscalização Ambiental já
Bis in idem
instituídas pelos Estados
Desproporcionalidade entre
Desproporção Orçamentária o valor cobrado e o custo da atividade
estatal
TFRM
Recomposição histórica

▪ Pressão dos Municípios e Estados;

▪ 21/04/2011, evento em Ouro Preto/MG, em homenagem a Tiradentes. Dilma


Roussef: “Não é justo nem tampouco contribui para o desenvolvimento do Brasil
que os recursos minerais do país sejam daqui retirados e não haja a devida
compensação”.

▪ Nessa ocasião, em Ouro Preto, a Presidente da República afirmou que


encaminharia em poucos meses ao Congresso Nacional uma proposta de
alteração do marco regulatório da mineração, incluindo a alteração na legislação
da CFEM.
TFRM
▪ 01/09/2011, a Presidente da República afirmou em entrevista à Rádio
Itatiaia que o envio ao Congresso Nacional do projeto de lei criando o
novo marco regulatório da mineração demoraria mais do que o previsto
inicialmente, ficando provavelmente – como de fato ficou – para o ano
de 2012.

▪ 15/09/2011, o Executivo encaminhou à ALMG a Mensagem 112/2011,


contendo o projeto de lei de instituição da TFRM.
TFRM
▪ Março de 2012, a Lei 19.976/2011 entrou em vigor:
“Art. 1º Fica instituída a Taxa de Controle, Monitoramento e Fiscalização das
Atividades de Pesquisa, Lavra, Exploração e Aproveitamento de Recursos
Minerários - TFRM -, que tem como fato gerador o exercício do poder de polícia
conferido ao Estado sobre a atividade de pesquisa, lavra, exploração ou
aproveitamento, realizada no Estado, dos seguintes recursos minerários:
I - bauxita, metalúrgica ou refratária;
II - terras-raras;
III - minerais ou minérios que sejam fonte, primária ou secundária, direta ou
indireta, imediata ou mediata, isolada ou conjuntamente com outros elementos
químicos, de chumbo, cobre, estanho, ferro, lítio, manganês, níquel, tântalo, titânio,
zinco e zircônio.”

▪ 31/05/2012, ajuizada a ADI 4.785/MG, pela CNI.

▪ Início de junho de 2012, obtidos provimentos liminares pelas principais


Empresas Mineradoras no Estado de Minas Gerais (Vale, Samarco, CSN etc).
TFRM

ADI 6.211
Plenário do STF confirma o
entendimento anterior, ao
Instituição declarar a inconstitucionalidade
da TFRM da TFRH do Amapá

2012 2018 2019 2020


ADI 5.480 e 5.512
ADI 5.374 STF confirma a
Suspendeu a validade da lei desproporcionalidade orçamentária
paraense instituidora da TFRH, e declara a inconstitucionalidade da
por desproporcionalidade entre TFPG do Rio de Janeiro
o valor cobrado e o custo da
atividade estatal
TFRM
DIREITO CONSTITUCIONAL E TRIBUTÁRIO. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.
COMPETÊNCIA COMUM DE FISCALIZAÇÃO AMBIENTAL. TAXA DE POLÍCIA.
DESPROPORCIONALIDADE DA BASE DE CÁLCULO.
1. A questão central desta ação direta está em saber (i) se lei estadual pode instituir tributo na
modalidade taxa com fundamento no poder de polícia exercido sobre a atividade de geração,
transmissão e ou distribuição de energia no território do respectivo Estado; e, em sendo positiva
a resposta, (ii) se o tributo estabelecido pela Lei nº 7.184/2015 do Estado do Rio de Janeiro
extrapolou, de alguma forma, essa competência tributária.
2. A competência político-administrativa comum para a proteção do meio ambiente legitima a
criação de tributo na modalidade taxa para remunerar a atividade de fiscalização dos Estados.
3. É legítima a inserção da energia elétrica gerada como elemento de quantificação da
obrigação tributária. Razoável concluir que quanto maior a energia elétrica gerada por aquele
que explora recursos energéticos, maior pode ser o impacto social e ambiental do
empreendimento, e, portanto, maior também deve ser o grau de controle e fiscalização do Poder
Público.
4. No entanto, os valores de grandeza fixados pela lei estadual (1 megawatt-hora) em conjunto
com o critério da energia elétrica gerada fazem com que o tributo exceda desproporcionalmente
o custo da atividade estatal de fiscalização, violando o princípio da capacidade contributiva, na
dimensão do custo /benefício, que deve ser aplicado às taxas.
5. Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente. Fixação da seguinte tese: Viola o
princípio da capacidade contributiva, na dimensão do custo/benefício, a instituição de taxa de
polícia ambiental que exceda flagrante e desproporcionalmente os custos da atividade estatal
de fiscalização. (ADI 5.489/RJ – Rel. Roberto Barroso – fev/2021)
TFRM
TAXA DE POLÍCIA. DESPROPORCIONALIDADE DA BASE DE CÁLCULO.
1. A questão central desta ação direta está em saber (i) se lei estadual pode instituir tributo na
modalidade taxa com fundamento no poder de polícia exercido sobre a atividade de exploração
de recursos hídricos no território do respectivo Estado; e, em sendo positiva a resposta, (ii) se o
tributo estabelecido pela Lei nº 8.091/2014 do Estado do Pará extrapolou, de alguma forma, essa
competência tributária.
2. A competência político-administrativa comum para a proteção do meio ambiente legitima a
criação de tributo na modalidade taxa para remunerar a atividade de fiscalização dos Estados.
3. É legítima a inserção do volume hídrico como elemento de quantificação da obrigação
tributária. Razoável concluir que quanto maior o volume hídrico utilizado, maior pode ser o
impacto social e ambiental do empreendimento, e, portanto, maior também deve ser o grau de
controle e fiscalização do Poder Público.
4. No entanto, os valores de grandeza fixados pela lei estadual (1 m³ ou 1000 m³) em conjunto
com o critério do volume hídrico utilizado fazem com que o tributo exceda
desproporcionalmente o custo da atividade estatal de fiscalização, violando o princípio da
capacidade contributiva, na dimensão do custo /benefício, que deve ser aplicado às taxas.
5. Conflita com a Constituição Federal a instituição de taxa destituída de equivalência entre o valor
exigido do contribuinte e os custos alusivos ao exercício do poder de polícia (ADI 6211, Rel. Min. Marco
Aurélio).
6. Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente. Fixação da seguinte tese: Viola o princípio
da capacidade contributiva, na dimensão do custo/benefício, a instituição de taxa de polícia
ambiental que exceda flagrante e desproporcionalmente os custos da atividade estatal de fiscalização.
(ADI 5.374/PA – Rel. Roberto Barroso – fev/2021)
TFRM
▪ No acórdão da ADI nº 6.211/AP, publicado em 5 de maio de 2020,
verifica-se os seguintes dizeres do Ministro Fachin: “ao escolher [...] uma
dimensão de grandeza que afere o volume hídrico empregado, deixa de existir correspondência
entre o exercício do poder de polícia e os recursos ou receita que serão auferidos.”

▪ O entendimento do Ministro Fachin era no sentido da inadequação de


qualquer base de cálculo de taxa que afira volume de recurso
utilizado/empregado, porque essa base não dimensionaria o custo da
fiscalização, levando, portanto, à invalidade da taxa.

▪ Essa linha de raciocínio da TFRH é obviamente aplicável à TFRM: como a


lei escolheu a dimensão de grandeza volume de minério empregado,
deixa(ria) de existir correspondência entre base e custo do poder de
polícia.
TFRM
▪ ADI 4.785:
• Em 9 de outubro de 2020 o STF iniciou o julgamento da ADI n.º 4.785, com
expectativa de que ele seria finalizado no dia 19 de outubro. O julgamento foi
retirado do plenário virtual com o placar de 6 a 3 pela constitucionalidade da taxa,
em ruptura tácita aos precedentes anteriores da ADI 6.211, ADI 5.480 e 5.512.
• O Ministro Edson Fachin, ao inaugurar os votos pela improcedência da ADI 4.785:
(i) abandonou o seu entendimento anterior, verificado no recentíssimo acórdão
da ADI nº 6.211/AP, publicado em 5 de maio de 2020;
(ii) passou a entender que importa apenas a verificação orçamentária da
desproporcionalidade, sendo legítimo adotar uma dimensão de grandeza que
afira o volume (hídrico ou mineral) empregado;
(iii) como a desproporcionalidade orçamentária, verificada na TFRM a partir da
confrontação de meras estimativas de receita e custo, não seria tão vultosa
como aquela verificada na ADI nº 5.512/RJ, já que lá a arrecadação era mais
expressiva, a taxa mineira seria legítima;
(iv) Não haveria confisco, porque a taxa representa 1% da receita bruta das
mineradoras.
TFRM
Receita da TFRM frente às despesas proporcionais autorizadas e realizadas

Despesas (%) Arrecadação (%) sobre as Arrecadação (%) sobre


Ano
com mineração despesas autorizadas as despesas realizadas

2012 15,69% 344,18% 395,04%


2013 14,68% 509,78% 656,33%
2014 17,40% 417,35% 553,05%
2015 15,69% 637,75% 618,32%
2016 14,27% 583,44% 759,58%
2017 13,86% 643,86% 958,60%
2018 15,69% 566,91% 621,41%
2019 15,69% 478,02% 636,69%
2020 15,69% 592,03% 846,64%
Média 15,41% 530,37% 671,74%

▪ O Ministro Fachin também não se pronunciou sobre os dados apresentados pela CNI no
curso da ação, que demonstram a desproporção orçamentária nos últimos anos.

▪ ADI 4.785 e 4.787 retiradas de pauta em abril/2021.


Parte 2
Taxa Anual por Hectare (TAH)
TAH
Autorização de Pesquisa Noções Básicas: Taxa Anual por Hectare

DL nº 227/1967
DL nº 227/1967
Art. 15. A autorização de pesquisa será
outorgada pelo DNPM a brasileiros, Art. 20. A autorização de pesquisa importa
pessoa natural, firma individual ou nos seguintes pagamentos: (...)
empresas legalmente habilitadas,
mediante requerimento do interessado. II - pelo titular de autorização de pesquisa,
até a entrega do relatório final dos
Art. 16. A autorização de pesquisa será trabalhos ao DNPM, de taxa anual, por
pleiteada em requerimento dirigido ao hectare, admitida a fixação em valores
Diretor-Geral do DNPM, entregue progressivos em função da substância
mediante recibo no protocolo do DNPM, mineral objetivada, extensão e localização
onde será mecanicamente numerado e da área e de outras condições, respeitado o
registrado, devendo ser apresentado em valor máximo de duas vezes a expressão
duas vias e conter os seguintes elementos monetária UFIR, instituída pelo art. 1º da Lei
de instrução: nº 8.383, de 30 de dezembro de 1991.
TAH
DL nº 227/1967 “CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO: TAXA: CONCEITO.
CÓDIGO DE MINERAÇÃO. Lei 9.314, de 14.11.96:
Art. 20 (...) REMUNERAÇÃO PELA EXPLORAÇÃO DE RECURSOS
MINERAIS: PREÇO PÚBLICO.
I. - As taxas decorrem do poder de polícia do Estado,
§ 3º. O não pagamento dos emolumentos e da taxa ou são de serviço, resultantes da utilização efetiva
de que tratam, respectivamente, os incisos I e II do ou potencial, de serviços públicos específicos e
caput deste artigo, ensejará, nas condições que divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos a sua
vierem a ser estabelecidas em portaria do Ministro disposição (C.F., art. 145, II). O poder de polícia está
de Estado de Minas e Energia, a aplicação das conceituado no art. 78, CTN.
seguintes sanções: (...) II. - Lei 9.314, de 14.11.96, art. 20, II e § 1º, inciso II
do § 3º: não se tem, no caso, taxa, no seu exato
sentido jurídico, mas preço público decorrente da
II - tratando-se de taxa: exploração, pelo particular, de um bem da União
(C.F., art. 20, IX, art. 175 e §§).
a) multa, no valor máximo previsto no art. 64; III. - ADIn julgada improcedente.” (ADI 2586,
Relator(a): Min. CARLOS VELLOSO, Tribunal Pleno,
b) nulidade ex officio do alvará de autorização de julgado em 16/05/2002, DJ 01-08-2003) – (grifou-
pesquisa, após imposição de multa. se).
TAH
“No caso, não se tem taxa decorrente do poder de ▪ STF. ADI nº 2.586/DF. Preço público: “O
polícia do Estado, tampouco taxa resultante da regime de cobrança é, portanto, o do direito
utilização efetiva ou potencial, de serviços privado, imperando a autonomia da vontade.
públicos específicos e divisíveis, prestados ao Pesquisa-se, ou não, voluntariamente, e, por
contribuinte ou postos a sua disposição. isso, não vejo violado o princípio da
O que se tem, no caso, é a exploração, pelo legalidade para o estabelecimento desse
particular, de um bem da União (C.F., art. 20, IX; preço. É delegada ao Ministro das Minas e
art. 176 e §§), mediante o pagamento de um Energia a fixação do valor desse preço público
preço estabelecido pela lei. dentro dos parâmetros fixados em lei”.
Não se tem, no caso, portanto, um tributo, no seu (Ministra Ellen Gracie, 2002).
exato conceito jurídico, mas um preço público
▪ Voto vencido do Min. Ilmar Galvão: “Não vou
que o particular paga à União pela exploração
absolutamente entender que essa taxa é um
de um bem do domínio desta.” (ADI 2586,
preço pelo uso de um bem da União que
Relator(a): Min. CARLOS VELLOSO, Tribunal Pleno,
talvez nem exista. Como se pode pagar por
julgado em 16/05/2002, DJ 01-08-2003) – (grifou-
algo inexistente?”
se).
▪ Min. Sepúlveda Pertence: “O relevante
economicamente é que bloqueia a concessão
de pesquisa da mesma área a terceiros”.
TAH
TAH
Incide:
Pelo “uso” de recursos minerais. Posição mais acertada
do Min. Sepúlveda Pertence (bloqueio da área), no
aniversário. Renúncia produz efeitos imediatos.

Cálculo (RESOLUÇÃO Nº 23/2020):


(i) TAH: R$ 3,55/ha, no prazo original e R$ 5,33/ha, na
prorrogação.
(ii) Multa: R$ 3.554,82 (pode dobrar em reincidência).

Caso a multa seja mantida ou não seja


quitada/impugnada -> caducidade do Alvará de
Pesquisa.
TAH
Consequências da fixação da natureza “A constitucionalidade e natureza jurídica da
jurídica da TAH: "taxa anual por hectare" prevista no Código
de Mineração e na Lei 9.314/96 foram
- O que pode ser considerado exploração? firmadas pelo pronunciamento do pleno do
STF na ADIN 2586/DF. Se não chegou a ser
- E se não houve nenhuma pesquisa no exercida pesquisa mineral para a qual foi
prazo previsto em lei? Houve exploração? requerida autorização e expedido alvará mais
de três anos após, não se configura a
- O mero bloqueio da área pode ser hipótese de incidência e exigência da "taxa
considerado como exploração para fins de anual por hectare" por renúncia, prevista no
pagamento da TAH? art. 20, II do Código de Minas, nem de multa
pelo seu não recolhimento.
Prequestionamento quanto à legislação
invocada estabelecido pelas razões de decidir.
Remessa Oficial improvida.”
(TRF4, APELREEX 1999.70.00.028718-9,
TERCEIRA TURMA, Relator NICOLAU KONKEL
JÚNIOR, D.E. 26/08/2009)
TAH
“Penso, por outro lado, possa ser atendido o pedido subsidiário de que a TAH
seja cobrada de forma proporcional aos 5 (cinco) meses em que vigoraram os
Alvarás de Pesquisa em questão. [...] considerando que a impetrante apresentou
renúncia decorridos cinco meses da expedição dos alvarás, liberando as áreas
para pesquisas por outros interessados, não é devida a cobrança da TAH com
relação aos períodos em que a empresa não mais se encontrava de posse dos
alvarás de pesquisa mencionados.”

(JFPE - Mandado de Segurança nº 0802023-74.2016.4.05.8300, 01.04.2016)


Parte 3
ICMS na mineração: Incidência sobre a
extração, benefícios fiscais e imunidade
ICMS
• Leis 4.117/2003 e 7.183/2015, do Rio de Janeiro, determinavam a incidência
do ICMS sobre a extração de petróleo e sua movimentação física dos poços
para a empresa concessionária:

• Não há norma ou prática similar na mineração.


• Em energia, há o caso da autoprodução transferida, que esbarra agora na ADC
49 (ICMS em transferências).
ICMS
ICMS. Leis nºs 4.117/03 (Lei Noel) e 7.183/15 (nova Lei Noel) do Estado do Rio de
Janeiro. Extração de petróleo. Inconstitucionalidade. Ausência dos elementos
”operação” e ”circulação”, necessários para a incidência válida do imposto. [...]
2. As leis impugnadas incidiram em inconstitucionalidade, pois os fatos geradores
do ICMS por elas descritos não retratam a existência de ato ou de negócio
jurídico que transfira a titularidade de uma mercadoria.
3. Seja no regime de concessão (Lei nº 9.478/97), seja no regime de partilha (Lei
nº 12.351/10), a legislação estipula que o concessionário ou o contratado
adquire, de modo originário, a propriedade do petróleo extraído ou de parcela
dele.
4. Ainda que se considerasse que a União efetivamente transfere a propriedade
do petróleo para o concessionário ou para o contratado por meio de um
negócio ou de um ato de natureza mercantil, o tributo continuaria a ser
indevido, em razão da imunidade tributária recíproca. (STF - ADI: 5481 Relator:
DIAS TOFFOLI, Data de Julgamento: 29/03/2021, Tribunal Pleno, Data de
Publicação: 04/05/2021)
ICMS – “Benefícios”
▪ Imunidade ampla nas exportações e garantia constitucional de manutenção e
aproveitamento dos créditos.

▪ Autorização para utilização especial de créditos acumulados (aquisição de máquinas


e equipamentos, por exemplo).

▪ Isenção de ICMS (mercado livre) para mineradoras no mesmo Estado da geração.

Lei 6.763/75: Art. 8º-B Fica o Poder Executivo autorizado a conceder, na forma, no prazo e nas condições
previstos em regulamento, isenção do imposto na saída de energia elétrica promovida por:
I - estabelecimento gerador, localizado no território do Estado, destinada a estabelecimento minerador [...].

▪ Muitos Estados concedem diferimento na saída de produtos minerais.

▪ Créditos outorgados/presumidos, em substituição ao regime de crédito e débito.

▪ Drawback.
ICMS
❑ PEC 90 e 42 de 2019: revoga a imunidade sobre a exportação de “produtos
primários de minerais metálicos” ou sobre primários e semielaborados

❑ PLP 126/2019: altera a Lei Kandir para revogar a isenção de ICMS sobre a saída
com fim específico de exportação de “produtos primários oriundos de atividade
mineral”

▪ CFEM

❑ PL 2789/2019: aumenta a CFEM em 0,5% para ferro e 0,2% para demais


substâncias e cria fundo para ações emergenciais decorrentes de desastres
minerais

▪ Participação Especial

❑ PL 3914/2019: institui participação especial de até 40% sobre receita ajustada da


mineração, quando houver grande volume ou grande rentabilidade
ICMS
• PEC 42 (Senador Anastasia, atinge agronegócio e mineração)

1. Redação original: ICMS não incide sobre “operações que destinem ao exterior produtos
industrializados, excluídos os semielaborados, definidos em lei complementar, nem sobre
serviços prestados a destinatários no exterior, assegurada a manutenção e o aproveitamento do
montante do imposto cobrado nas operações e prestações anteriores”
2. Parecer do relator: “é preciso limitar o alcance da proposta original. Para tanto, é sugerido que
a exclusão da imunidade relativa ao ICMS abranja unicamente as exportações de produtos
primários de origem mineral.”

• PEC 90 (Câmara dos Deputados – Brumadinho – Atinge apenas metálicos)

Apenas produtos primários de minerais metálicos.


ICMS
❑ Projeto constitucional de desoneração ampla das exportações.

❑ Três etapas de um gradual avanço na solidificação da garantia constitucional


de não exportar tributos. O que se pretende é retroceder em relação aos
avanços conquistados.

❑ As regras constitucionais de desoneração da tributação nas exportações


encontram fundamento no princípio da neutralidade tributária que, por
sua vez, é implicitamente previsto nos arts. 146-A, 150, II e 170, IV e que
consubstanciam o princípio do país de destino.

❑ Não há favor algum nas regras de explicitação das imunidades na


exportação, e sim a concretização de garantias fundamentais, como a
livre concorrência e a igualdade de tratamento no comércio internacional.

❑ Suprimir tais garantias esbarraria na proibição de retrocesso contida no


art. art. 60, §4º, IV, da Constituição?
ICMS
❑ O art. 150, II, veda a instituição de “tratamento desigual entre contribuintes
que se encontrem em situação equivalente, proibida qualquer distinção em
razão de ocupação profissional ou função por eles exercida”.

❑ A PEC nº 42 e a nº 90/2019 pretendem exatamente instituir tratamento


desigual entre exportadores (contribuintes em situação equivalente).

❑ A diferenciação, além de arbitrária, incide justamente na proibição contida


na parte final do dispositivo, qual seja, “proibida qualquer distinção em
razão de ocupação profissional ou função por eles exercida”.

❑ Também afronta a garantia geral de proibição de excesso. Princípio da


proporcionalidade impede que a tributação acarrete ônus excessivos e
vulnere valores consagrados na Constituição, como a neutralidade fiscal, a
livre concorrência e a isonomia.
ICMS - Intermediários
ICMS. CREDITAMENTO. PRODUTOS PRODUTOS QUE NÃO INTEGRAM O
INTERMEDIÁRIOS UTILIZADOS NO PROCESSO PRODUTO FINAL NEM SÃO
PRODUTIVO. POSSIBILIDADE. ART. 20, § 1º, DA LC
87/96. IMEDIATAMENTE CONSUMIDOS NO
1. O Superior Tribunal de Justiça consolidou sua PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO.
jurisprudência no sentido de que, na vigência IMPOSSIBILIDADE DE CREDITAMENTO. [...]
do Convênio ICMS 66/88, o produto
intermediário para fins de creditamento exigia 4. O entendimento do STJ é de que, "no
prova de que ele foi consumido imediata e que tange ao direito de crédito de ICMS,
integralmente no processo produtivo ou oriundo dos denominados produtos
compusesse o produto novo. Precedentes: [...].
2. A Lei Complementar 87/96, entretanto, intermediários, isto é, aqueles utilizados
ampliou as hipóteses de creditamento, no processo industrial, far-se-ia
condicionando o aproveitamento dos créditos fundamental a sua integração ao produto
relativos à aquisição de produtos
intermediários apenas à comprovação de eles final, ou seja, consumidos no processo de
são utilizados para a consecução das forma imediata e integral" (REsp
atividades que constituem o objeto social do 1645827/MG, Rel. Ministro HERMAN
estabelecimento empresarial. Precedentes: [...].
3. Agravo regimental não provido. (AgRg no BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
AREsp 142.263/MG, Rel. Ministro BENEDITO 21/03/2017, DJe 27/04/2017)
GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, julgado em
19/02/2013, DJe 26/02/2013)
ICMS - Intermediários
STJ: decisão monocrática da 1ª Seção (EREsp nº 991.299/SP)

“A jurisprudência desta Corte firmou o entendimento no sentido de que, no


período anterior à LC 87/1996, as empresas somente podiam aproveitar créditos
de ICMS relativos a insumos imediatamente consumidos no processo industrial
que se incorporassem ao produto final. Contudo, com a edição da LC n. 87/1996,
ampliaram-se significativamente as hipóteses de creditamento de ICMS,
permitindo o aproveitamento dos créditos referentes à aquisição de quaisquer
produtos intermediários, ainda que consumidos ou desgastados gradativamente,
desde que comprovada a necessidade de sua utilização para a realização do objeto
social do estabelecimento empresarial.
ANTE O EXPOSTO, dou parcial provimento aos embargos de divergência para
reconhecer o direito ao creditamento do ICMS relativo a bens intermediários
adquiridos a partir da LC n. 87/1996 que tenham relação com o objeto social do
contribuinte, ainda que consumidos ou desgastados gradativamente.
Publique-se.
Brasília (DF), 03 de agosto de 2020.”
Parte 4
ITBI na Ocupação de Área Destinada a
Atividade Minerária: Servidão Civil,
Servidão Minerária e o Código de
Mineração
ITBI
Código de Mineração (Decreto-Lei 227/1967)
Art. 27. O titular de autorização de pesquisa poderá realizar os trabalhos respectivos, e também as
obras e serviços auxiliares necessários, em terrenos de domínio público ou particular, abrangidos pelas
áreas a pesquisar, desde que pague aos respectivos proprietários ou posseiros uma renda pela ocupação
dos terrenos e uma indenização pelos danos e prejuízos que possam ser causados pelos trabalhos de
pesquisa, observadas as seguintes regras: [...]
Art. 59. Ficam sujeitas a servidões de solo e subsolo, para os fins de Art. 60 Instituem-se as Servidões mediante
pesquisa ou lavra, não só a propriedade onde se localiza a jazida, indenização prévia do valor do terreno ocupado e dos
como as limítrofes. prejuízos resultantes dessa ocupação.
Parágrafo único. Instituem-se Servidões para: § 1º Não havendo acordo entre as partes, o pagamento
a) construção de oficinas, instalações, obras acessórias e moradias; será feito mediante depósito judicial da importância
b) abertura de vias de transporte e linhas de comunicações; fixada para indenização, através de vistoria ou perícia
c) captação e adução de água necessária aos serviços de mineração com arbitramento, inclusive da renda pela ocupação,
e ao pessoal; seguindo-se o competente mandado de imissão de
d) transmissão de energia elétrica;
posse na área, se necessário.
e) escoamento das águas da mina e do engenho de
§ 2º O cálculo da indenização e dos danos a serem
beneficiamento;
f) abertura de passagem de pessoal e material, de conduto de
pagos pelo titular da autorização de pesquisas ou
ventilação e de energia elétrica; concessão de lavra, ao proprietário do solo ou ao dono
g) utilização das aguadas sem prejuízo das atividades pre- das benfeitorias, obedecerá às prescrições contidas no
existentes; e, Artigo 27 deste Código, e seguirá o rito estabelecido em
h) bota-fora do material desmontado e dos refugos do engenho. Decreto do Governo Federal.
ITBI
Constituição
Art. 156. Compete aos Municípios instituir impostos sobre:
II - transmissão "inter vivos", a qualquer título, por ato oneroso, de bens imóveis, por
natureza ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis, exceto os de garantia, bem
como cessão de direitos a sua aquisição.
Servidão minerária é um Direito Real? Código Civil:
Art. 1.225. São direitos reais:
III - as servidões.

“5. A servidão administrativa para a passagem de energia elétrica não transmite o bem, apenas limita os
poderes do proprietário quanto ao uso e gozo do bem. Da mesma forma, a cessão não representa a perda de
terreno, mas a restrição de seu uso.
6. Tanto é assim que a jurisprudência desta Corte entende que o valor percebido pela limitação do uso da
propriedade por força da servidão administrativa tem caráter indenizatório, não configurando renda, pois não
há acréscimo patrimonial àquele que teve restrição no uso de sua propriedade.
(...)
7. Dessa forma, não há como entender que nos casos de servidão administrativa esteja configurado o fato
gerador do ITBI.” (RECURSO ESPECIAL Nº 1.598.564-MT (2016/0095563-2), Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA
FILHO MINISTRO, em 13.03.2020)
ITBI
“A servidão que ora se estuda difere da servidão administrativa. Isso porque esta constitui um ônus real de uso
imposto pela administração, a fim de realizar obras e serviços públicos. Não existem dois prédios envolvidos, ou
seja, um dominante e outro serviente, mas sim a restrição ao dono de um prédio ao exercício amplo do poder de
propriedade. Um exemplo da servidão administrativa é uma sentença expropriatória ou um acordo
administrativo, podendo ou não ser indenizada. Ressalte-se que o Decreto-lei 3.365/1941, que cuida da
desapropriação, expressamente prevê a possibilidade de sua criação, ao dispor que o expropriante poderá
constituir servidões, mediante indenização na forma da própria lei (art. 40).” TARTUCE, Flávio; SIMÃO, José
Fernando. Direito civil: volume 4 (direito das coisas). 4. ed., rev. e atual. São Paulo: Método, 2012.

“Não estando expressamente prevista em lei como direito real, nem tipificada como tal, concluímos que
a servidão minerária não pode ser classificada como direito real, o que, por si só, afastaria a incidência
do ITBI. Ao final, concluímos que diante da caracterização da servidão minerária como uma servidão
administrativa e da clara diferenciação entre a servidão administrativa e a servidão civil, direito real
constante do rol taxativo do art. 1.225 do Código Civil, não há que se falar em incidência de ITBI sobre a
constituição da servidão minerária.”
MELO, Daniela Victor. SIQUEIRA, Lyssandro Norton. ITBI sobre servidão minerária? In SIQUEIRA, Lyssandro
Norton. CASTRO JÚNIOR, Paulo Honório de. BATISTA JÚNIOR, Onofre Alves. (Coords.) Estudos Sobre a
Tributação da Mineração. Belo Horizonte: Letramento, 2021.
Parte 5
IPTU e/ou ITR na Área Destinada a
Atividade Minerária
ITR e Mineração
Área Tributável ∗
VTN tributável = VTN x
Área Total

Lei nº 9.393/1996
“Art. 11. O valor do imposto será apurado aplicando-se sobre o Valor da Terra Nua Tributável -
VTNt a alíquota correspondente, prevista no Anexo desta Lei, considerados a área total do
imóvel e o Grau de Utilização - GU.”
ITR e Mineração
Decreto Lei nº 57/1966
“Art 8º Para fins de cadastramento e do lançamento do ITR, a
área destinada a exploração mineral,
em um imóvel rural, será considerada como inaproveitável, desde que seja comprovado que a
mencionada destinação impede a exploração da mesma em atividades agrícolas, pecuária ou agro-industrial
e que sejam satisfeitas as exigências estabelecidas na regulamentação dêste Decreto-Lei.”

Recepcionado pela CR/1988 – RE nº 140.773/SP:


“Esse Decreto-Lei nº 57/66 também foi recebido, não só
como lei formal, atendido, assim, também nesse caso, o
princípio da legalidade, mas como de natureza complementar
[...]”

Instrução Normativa SRF nº 256/2002


Decisão RFB nº 195/1998 Art. 30. A área não utilizada pela atividade rural corresponde ao
somatório das parcelas da área aproveitável do imóvel que, no ano
“EMENTA: As áreas destinadas à exploração mineral (minas, lavras, anterior ao de ocorrência do fato gerador do ITR, não tenham sido
jazidas, lagoas de rejeitos, oficinas, etc) são consideradas pela objeto de qualquer exploração ou tenham sido utilizadas para fins
legislação do ITR como componentes da Área Tributável e da Área diversos da atividade rural, tais como:
Aproveitável do imóvel, mas não como componentes de sua Área II - áreas ocupadas por jazidas ou minas, exploradas ou não.
de Utilização Limitada”
ITR e Mineração

O contribuinte somente
pode declarar a área de
mineração na seção da
área não utilizada na
atividade rural
ITR e Mineração
Para a RFB
Latifúndio improdutivo

Áreas de mineração
ITR e Mineração “[...] “Assim, conjugando-se os citados dispositivos é de se constatar
que as áreas de jazidas, embora situadas em área rural, sendo
consideradas áreas não aproveitáveis, devem ser excluídas da
apreciação da área tributável para fim de imposto territorial rural
Elementos infraconstitucionais (ITR), não influenciando no grau de utilização. A imprestabilidade das
terras destinadas à mineração para exploração agrícola, pecuária,
O DL nº 57/1966 está em vigor e deve ser granjeira, aquícola ou florestal e o afastamento da cobrança do imposto
interpretado em conjunto com a Lei nº referenciado também encontra amparo na hipótese prevista no art. 10º,
9.393/1996; IV, da Lei 9.393/96. [...] 3. Diante do exposto, DEFIRO A ANTECIPAÇÃO
DA TUTELA postulada apenas para reconhecer à autora o direito de
As áreas de mineração (todas as áreas excluir as áreas destinadas à mineração, assim entendidas as
envolvidas na atividade) devem ser destinadas efetivamente à pesquisa e lavra mineral, bem como áreas
excluídas do cálculo do ITR, desde que ocupadas com benfeitorias e instalações necessárias ao exercício da
comprovada a realização da atividade; mineração, no cômputo das alíquotas e da base de cálculo do imposto
territorial rural, mediante a sua não inclusão na área aproveitável
Elementos Constitucionais (cálculo do grau de utilização) e na área tributável (que afeta a base de
cálculo), na declaração do imposto sobre a propriedade territorial
Deve ser observado o Princípio da rural de 2016, e respectivo pagamento que ocorrerá até 30/9/2016,
Isonomia; ficando ressalvada a fiscalização pela Receita Federal para verificação da
extensão da área efetivamente utilizada na atividade minerária e
Deve ser observado o Princípio da considerada inaproveitável.” (29.09.2016 - Processo N° 0057452-
Progressividade do ITR. 87.2016.4.01.3800 - 21ª VARA FEDERAL – JFMG)
IPTU e Mineração
CTN
Art. 32. O imposto, de competência dos Municípios, sobre a propriedade predial e territorial
urbana tem como fato gerador a propriedade, o domínio útil ou a posse de bem imóvel por
natureza ou por acessão física, como definido na lei civil, localizado na zona urbana do
Município.
§ 1º Para os efeitos deste imposto, entende-se como zona urbana a definida em lei
municipal; observado o requisito mínimo da existência de melhoramentos indicados em
pelo menos 2 (dois) dos incisos seguintes, construídos ou mantidos pelo Poder Público:
I - meio-fio ou calçamento, com canalização de águas pluviais;
II - abastecimento de água;
III - sistema de esgotos sanitários;
IV - rede de iluminação pública, com ou sem posteamento para distribuição domiciliar;
V - escola primária ou posto de saúde a uma distância máxima de 3 (três) quilômetros do
imóvel considerado.
§ 2º A lei municipal pode considerar urbanas as áreas urbanizáveis, ou de expansão urbana,
constantes de loteamentos aprovados pelos órgãos competentes, destinados à habitação,
à indústria ou ao comércio, mesmo que localizados fora das zonas definidas nos termos do
parágrafo anterior.
IPTU e Mineração
Comarca de Nova Lima/MG, Autos n. 0188.16.005322-2, 2016.
Parte 6
PIS e Cofins na atividade minerária:
regime não-cumulativo e créditos na
aquisição de insumos.
Créditos de PIS/Cofins
Constituição

Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma
direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos
orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das
seguintes contribuições sociais:
I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei,
incidentes sobre:
b) a receita ou o faturamento;
§ 12. A lei definirá os setores de atividade econômica para os quais as
contribuições incidentes na forma dos incisos I, b; e IV do caput, serão não-
cumulativas. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003)

PIS: MPv nº 66, de 2002 – Convertida na Lei nº 10.637/2002

Cofins: MPv nº 135, de outubro de 2003 – Convertida na Lei nº 10.833/2003


Créditos de PIS/Cofins
Contraprestações Bens recebidos
Bens adquiridos de operações de em devolução,
para revenda arrendamento cuja receita tenha
mercantil sido tributada

Bens e serviços, Máquinas,


utilizados como equipamentos e
Energia elétrica
bens do ativo
insumo imobilizado

Edificações e
Aluguéis de
benfeitorias em Bens incorporados
prédios, máquinas
imóveis de ao ativo intangível
e equipamentos
terceiros
Créditos de PIS/Cofins
▪ CARF: Evolução para o critério da essencialidade.

▪ STJ: REsp nº 1.246.317/MG – “Vilma Alimentos” – maio de 2015:


. Pertinência ao processo produtivo;
. Essencialidade ao processo produtivo;
. Possibilidade de emprego indireto no processo produtivo;
. Teste de subtração: impossibilidade de produção do bem ou prestação do
serviço ou substancial perda de qualidade do produto ou serviço.

▪ REsp nº 1.221.170 – “Caso Anhambi” – fevereiro de 2018:


. Esssencialidade ou relevância às atividades da empresa;
. Relevância como aspecto mais abrangente do que pertinência;
. Relevância por “singularidades da cadeia produtiva” ou por “imposição legal”;
. Confirmação do método do teste de subtração.
Créditos de PIS/Cofins
▪ STJ - REsp nº 1.221.170 – “Caso Anhambi”
ESSENCIALIDADE → IMPRESCINDIBILIDADE

“Demarcadas tais premissas, tem-se que o critério da essencialidade diz com o


item do qual dependa, intrínseca e fundamentalmente, o produto ou o serviço,
constituindo elemento estrutural e inseparável do processo produtivo ou da
execução do serviço, ou, quando menos, a sua falta lhes prive de qualidade,
quantidade e/ou suficiência”.
PERDA DE QUALIDADE

SUBTRAÇÃO DO ITEM

PERDA DE QUANTIDADE
Créditos de PIS/Cofins
▪ STJ - REsp nº 1.221.170 – “Caso Anhambi”
RELEVÂNCIA → IMPORTÂNCIA

“Por sua vez, a relevância, considerada como critério definidor de insumo, é identificável
no item cuja finalidade, embora não indispensável à elaboração do próprio produto ou à
prestação do serviço, integre o processo de produção, seja pelas singularidades de cada
cadeia produtiva (v.g., o papel da água na fabricação de fogos de artifício difere daquele
desempenhado na agroindústria), seja por imposição legal (v.g., equipamento de
proteção individual - EPI), distanciando-se, nessa medida, da acepção de pertinência,
caracterizada, nos termos propostos, pelo emprego da aquisição na produção ou na
execução do serviço”

Singularidades da
Imposição legal
cadeia produtiva
Créditos de PIS/Cofins
▪ Parecer Normativo Cosit nº 5
INSUMO DO INSUMO

“(...) insumos necessários à confecção do bem-insumo utilizado na produção de bem destinado à


venda ou na prestação de serviço a terceiros, beneficiando especialmente aquelas que produzem
os próprios insumos (verticalização econômica). Isso porque o insumo do insumo constitui
“elemento estrutural e inseparável do processo produtivo ou da execução do serviço”, cumprindo
o critério da essencialidade para enquadramento no conceito de insumo.”

Obtenção do insumo Produção do


Fase mineral para a
bem a ser
siderurgia/metalurgia
comercializado
Créditos de PIS/Cofins
▪ Parecer Normativo Cosit nº 5 – Imposição legal
Exemplos favoráveis:

. no caso de indústrias, os testes de qualidade de produtos produzidos exigidos


pela legislação;
. tratamento de efluentes do processo produtivo exigido pela legislação;
. no caso de produtores rurais, as vacinas aplicadas em seus rebanhos exigidas
pela legislação.

Exemplos desfavoráveis:

. itens exigidos pela legislação relativos à pessoa jurídica como um todo, como
alvarás de funcionamento;
. itens relativos a atividades diversas da produção de bens ou prestação de
serviços.
Créditos de PIS/Cofins
▪ Parecer Normativo Cosit nº 5 – Imposição legal
Possíveis gastos cujo enquadramento pode ser avaliado:

. Condicionantes ambientais (Resolução CONAMA nº 237/1997);

. Recuperação de áreas degradadas;

. Tratamento de efluentes (reconhecido expressamente pelo PN Cosit);

. Testes de qualidade exigidos pela legislação (reconhecido expressamente pelo PN Cosit).

Exigências regulatórias da mineração:

. Fechamento de mina.

. Gastos com manutenção e fiscalização de pilhas de estéril e barragens de rejeitos.


Créditos de PIS/Cofins
▪ Parecer Normativo Cosit nº 5 – Imposição legal
Exigências regulatórias da mineração:

. Dispêndios para subsidiar requerimento de lavra - art. 38 do CM:


Ex: denominação e descrição da localização do campo pretendido para a lavra,
topografia, confrontações, definição gráfica da área pretendida.

. Dispêndios para formulação de Plano de Aproveitamento Econômico – art. 39


do CM:
Ex: Memorial explicativo; projetos ou anteprojetos com detalhamento do
empreendimento.

. Argumento de corroboração do direito ao crédito sobre a fase de pesquisa:


Exigência para outorga da concessão de lavra; necessária para definição da
jazida.
Créditos de PIS/Cofins
▪ Parecer Normativo Cosit nº 5 – Gastos posteriores à produção

Exemplos favoráveis:

. exigência de testes de qualidade a serem realizados por terceiros (por exemplo


o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia – Inmetro), aposição
de selos, lacres, marcas, etc.,

Exemplos desfavoráveis:

. Transporte (frete) de produtos acabados (mercadorias) de produção própria


entre estabelecimentos da pessoa jurídica, para centros de distribuição.
(há jurisprudência no CARF favorável ao creditamento)

. Combustíveis utilizados em frota própria de veículos.


Créditos de PIS/Cofins
▪ Parecer Normativo Cosit nº 5 – Intangíveis/pesquisa
➢ Pesquisa e Desenvolvimento – Intangíveis gerados
internamente

. Vedação dos créditos sobre os gastos incorridos na fase de pesquisa


(jurisprudência atual do CARF, no caso de pesquisa mineral, é favorável ao
creditamento);

. Permissão dos créditos sobre os gastos incorridos na fase de desenvolvimento:


(reconhecimento formal e documental):
Alcança apenas os “esforços na construção de um ativo intangível cuja conclusão se
mostra viável técnica e financeiramente”.

➢ Alusão a “esforço bem-sucedido”


Créditos de PIS/Cofins
▪ Parecer Normativo Cosit nº 5 – Intangíveis/pesquisa
➢ Esforço bem-sucedido:

. necessário que “(...) haja ao final do processo um bem destinado à venda ou um serviço
disponibilizado a terceiros (esforço bem-sucedido) para que haja insumos geradores de
créditos da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins.”

“Diante disso, de plano conclui-se que não são considerados insumos para fins de apuração
de créditos das contribuições os dispêndios da pessoa jurídica com pesquisa e prospecção
de minas, jazidas, poços, etc., de recursos minerais ou energéticos que não chegam
efetivamente a produzir bens destinados à venda ou insumos para a produção de tais
bens.”

(orientação contrária à jurisprudência atual do CARF)


Créditos de PIS/Cofins
Instrução Normativa RFB nº 1.911/2019, com o objetivo de regulamentar “a
apuração, a cobrança, a fiscalização, a arrecadação e a administração da Contribuição
para o PIS/Pasep, da Cofins, da Contribuição para o PIS/Pasep-Importação e da Cofins-
Importação”.

“Art. 172. Para efeitos do disposto nesta Subseção, consideram-se insumos os bens ou
serviços considerados essenciais ou relevantes, que integram o processo de produção
ou fabricação de bens destinados à venda ou de prestação de serviços (Lei nº 10.637,
de 2002, art. 3º, caput, inciso II, com redação dada pela Lei nº 10.865, de 2004, art.
37; e Lei nº 10.833, de 2003, art. 3º, caput, inciso II, com redação dada pela Lei nº
10.865, de 2004, art. 21). (…)
§ 2º Não são considerados insumos, entre outros: (...)
III - bens e serviços utilizados na pesquisa e prospecção de minas, jazidas e poços de
recursos minerais e energéticos;
IV - bens e serviços aplicados na fase de desenvolvimento de ativo intangível que
não chegue a ser concluído ou que seja concluído e explorado em áreas diversas da
produção ou fabricação de bens e da prestação de serviços;” – (grifamos).
Créditos de PIS/Cofins
Normas Reguladoras de Mineração – NRM – DNPM:

Portaria DNPM nº 237 de 18/10/2001


1.2.1 Para efeito das NRM, entende-se por indústria de
produção mineral aquela que abrange a:

. Pesquisa mineral;
. Lavra;
. Beneficiamento de minérios;
. Distribuição e comercialização de bens minerais.
Créditos de PIS/Cofins
Pesquisa mineral

Os itens glosados se referem a: serviços de logística, estudos e pesquisas, prospecção e


sondagem, serviços de geologia, serviço de operação portuária, serviço de manutenção em
equipamento ferroviário, serviços prestados em equipamentos de telecomunicação, serviço
de dragagem, serviços de manutenção de embarcações.
Não há dúvida de que tratam de serviços decisivos às atividades de pesquisa, prospecção,
sondagem e serviços de geologia, e essa afirmação decorre do próprio negócio da Vale,
que é exploração de minério de ferro.
Não é difícil concluir que os dispêndios invalidariam todos os esforços de se produzir
minério, sem conhecer a capacidade da mina, qualidade, estabilidade do terreno a ser
explorado. Além do que, esses mesmos serviços continuam sendo necessários ao longo da
vida útil da mina.
De modo que, tenho que esses custos autorizam a empresa recorrente a tomar crédito
sobre os serviços de pesquisa, prospecção, sondagem e serviços de geologia.
(CARF. Acórdão 3403003.492, 27/01/2015)
Créditos de PIS/Cofins
USINA DE MINÉRIO DE FERRO. GASTOS COM INSUMOS NA FASE PRÉ BENEFICIAMENTO.
Diante da essencialidade dos gastos incorridos para pesquisa, preparação do terreno, escavação,
extração para obtenção do minério, matéria prima básica da atividade da recorrente, tais gastos
devem gerar créditos para a Contribuição do PIS/PASEP e COFINS no sistema da não
cumulatividade, por serem essenciais para a obtenção da receita da atividade desenvolvida.
Incluem-se nesta fase os gastos com manutenção da infra estrutura das minas.
MINÉRIO DE FERRO. GASTOS COM O BENEFICIAMENTO DO MINÉRIO .
Diante da essencialidade dos gastos incorridos para pesquisa, preparação do terreno, escavação,
extração para obtenção do minério, matéria prima básica da atividade da recorrente, tais gastos
devem gerar créditos para a Contribuição do PIS/PASEP e COFINS no sistema da não
cumulatividade, por serem essenciais para a obtenção da receita da atividade desenvolvida
GASTOS COM INSUMOS POR OBRIGAÇÃO LEGAL
Incluem-se nesse conceito os gastos com consultoria ambiental (com o objetivo de obtenção de
licenças ambientais, pesquisas e estudos técnicos são necessários), os gastos com prestação de
consultoria e monitoramento de vibração das cavidades naturais existentes no terreno de lavra
de minérios, gastos com prestação de serviços de execução e prospecção espeleológica. Não se
enquadram nesse conceito os gastos com prestação de serviços de medicina do trabalho e
segurança, por serem comuns a todas as empresas, portanto não essencial e relevante para
obtenção da receita vinculada a atividade da recorrente.
(CARF. Acórdão 3301-006.109, 25/04/2019)
Créditos de PIS/Cofins
Royalties

Solução de Consulta Cosit nº 163, de 25 de junho de 2014

“IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA - IRPJ IMÓVEL RURAL. GANHO DE


CAPITAL. LAVRA DE MINÉRIOS. REMUNERAÇÃO. ROYALTIES. O pagamento ao ex-
proprietário do imóvel onde localizada a jazida, de parcela da receita obtida com a
lavra de recursos minerais, em virtude de obrigação estabelecida no contrato de
compra e venda do imóvel, tem natureza de royalties.”

Solução de Consulta Cosit nº 195, de 28 de março de 2017

“ROYALTIES. ARRENDAMENTO DE JAZIDA MINERAL. CRÉDITO DA NÃO


CUMULATIVIDADE. IMPOSSIBILIDADE. É vedada a apuração de créditos da não
cumulatividade da Contribuição para o PIS/Pasep em relação a dispêndios com
contraprestação por arrendamento de jazida mineral, por falta de previsão legal.”
Créditos de PIS/Cofins
Royalties

“INDÚSTRIA FONOGRÁFICA. INSUMOS. DIREITOS AUTORAIS. Pela peculiaridade da


atividade econômica que exerce, são imprescindíveis à indústria fonográfica a
aquisição de direitos autorais para a produção de suas obras, razão pela qual
devem ser reconhecidos como insumos.”
(CSRF. Acórdão nº 9303-006.604. 11 de abril de 2018)

“No caso concreto, a produção dos bens pela Recorrente depende de autorização dos
detentores dos direitos autorais, jamais poderia ela fabricar “CD” e “DVDs musicais, utilizar
os encartes correlatos, sob licenciamento das detentoras dos direito autorais de tais obras.
(...) Também inexiste espaço para dizer que o direito autoral não é bem passível de
alienação, e, de cessão onerosa e gratuita. Constatada cessão contratual de direitos
autorais a título oneroso, fazem jus à contribuinte tomada de crédito gerado sobre
os pagamentos ocorridos, descontado os créditos da Contribuição devida para o
PIS/PASSEP e a COFINS.”
Créditos de PIS/Cofins
RE 599316 – Rel. Ministro Marco Aurélio – Julgamento finalizado em 26/06/2020 – 6x5
“O Constituinte, diferentemente do alegado pela recorrente, não deixou a critério do
legislador o delineamento do regime não cumulativo das contribuições. O artigo 195, § 12,
da Lei Maior autorizou, tão somente, a definição dos setores em relação aos quais as
contribuições podem ser não cumulativas. Estabelecidos os segmentos de atividade
econômica, cumpre ao legislador observar o princípio da não cumulatividade, viabilizando
a compensação sempre que gravada pelos tributos a operação precedente.
É meia verdade o argumento de, sendo a receita fenômeno individual, não poderem estar
a contribuição para o PIS e a COFINS sujeitas a regime de não cumulatividade semelhante
ao do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços — ICMS e ao do Imposto
sobre Produtos Industrializados — IPI. Tecnicamente, receita consiste na diminuição do
passivo ou no aumento de ativo, a resultar na ampliação do patrimônio líquido. Como o
auferimento de receita deriva de operação econômica, surge pertinente, sem limitações,
o princípio constitucional da não cumulatividade, compensando-se na saída o montante
devido e recolhido na entrada.
Ao simplesmente vedar o creditamento em relação aos encargos de depreciação e
amortização de bens do ativo imobilizado, afrontou o legislador a não cumulatividade,
incorrendo em vício de inconstitucionalidade material.”
paulo@williamfreire.com.br

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