Como jogar Aventuras

Prontas de modo solo

Tarcisio Lucas

Método 1
Dragon Farheim
Como jogar Aventuras
Prontas de modo solo

Tarcisio Lucas

Método 1
Dragon Farheim

TLHP GAMES
2021
 Introdução

O RPG solo tem crescido muito, tanto em quantidade quanto E concluindo, cumpre lembrar que esse material não tem
em possibilidades. pretensão nenhuma de substituir um jogo em grupo, da
Existem literalmente dezenas de métodos diferentes de se mesma forma que a intenção do RPG solo nunca foi substituir
jogar RPG solo, alguns muito diferentes entre si. Existem o RPG em grupo. São modalidades diferentes, com propostas
técnicas realmente criativas de se lidar com o fato de se estar diferentes, e experiências completamente diferentes.
cumprindo ao mesmo tempo as funções de mestre e jogador. Comparar o RPg solo com o RPG em grupo seria o mesmo que
Mas ainda há muito mais para ser feito, criado, “descoberto”. comparar RPG com vídeo games; propostas distintas,
Acredito que um dos maiores desafios do RPG solo atualmente experiências distintas.
seja como abordar Aventuras Prontas.
As aventuras prontas para sistemas “tradicionais” de RPG são
milimétricamente escritas para um grupo claramente dividido
em dois grupos: O mestre, e os jogadores. Ao longo da
aventura, existe uma série de informações que são privilégio
do Mestre. Um jogador, de posse de tal informação de forma
antecipada, estaria claramente em vantagem, prejudicando
não apenas a própria diversão, mas também a de todos os
outros envolvidos.
Fato é: ainda não existe um “método definitivo” de como
abordar esse tipo de material de forma solo. Por incrível que
pareça, até onde sabemos, a comunidade brasileira de RPG
solo é a que mais tem avançado as possibilidades nesse
sentido.
E acima de tudo: ainda não é possível abordar aventuras
prontas com a MESMA dinâmica com que se joga as mesmas
em um grupo. Talvez ao longo dos anos futuros, isso se torne
uma possibilidade; nunca sabemos quais ideias sensacionais
ainda estão por vir, e não descarto a possibilidade de alguém
aparecer com algo totalmente novo e cheio de possibilidades.
Portanto, se você quer jogar “The Rise of Tiamat” ou “Ravenloft”
sozinho da MESMA forma como você jogou em grupo,
esqueça. Se essa é sua ideia, é melhor fechar esse material e
procurar outra coisa. São dinâmicas muito diferentes, e
independentemente do método que você escolher,
adaptações necessariamente serão feitas. Às vezes, MUITAS
adaptações.
Eu particularmente acredito que esta é a graça. Ter OUTRAS
possibilidades. A forma de se jogar em grupo é de um jeito,
não vejo porque ter a mesma experiência se nós podemos ter
uma outra.
 3 Métodos
Essa é uma série onde eu apresentarei 3 métodos distintos de
se jogar uma aventura pronta:
Método DRAGON FARHEIM – Um método que trabalha
inserindo novos eventos e possibilidades, ao mesmo tempo
em que segue o rumo da aventura inicial. No entanto, se o
jogador assim preferir, a aventura pode tomar rumos bem
diferentes daquele proposto.
Método VIDEO GAME – um método que encara cada aventura
como um jogo dividido em fases, onde saber o que se
enfrentará é bem menos importante do que vencer o que está
a frente.
Método da CHECAGEM– um método que procura ser fiel ao
“script” original da aventura, com um mínimo de mudanças e
acréscimos.
Os diferentes métodos
O primeiro método mais estruturado de se jogar aventuras
solo que eu posso afirmar foi com um artigo do blog Lone
Crusader. Infelizmente o blog foi desativado e ainda que seja
possível, é um pouco difícil encontrar esse material.
O que o Lone Crusader propunha era abordar a aventura de
forma extremamente semelhante a como é feito em grupo: o
jogador deve pegar uma aventura que NÃO tenha jogado e da
qual não saiba nada, e vá lendo trecho por trecho evitando ler
o que vem logo em seguida. Por mais que seja válido, eu
particularmente acredito que essa abordagem, além de
fisicamente desconfortável (é muito difícil não ver o que vem
nas linhas seguintes, ainda mais para quem assim como eu
tem leitura dinâmica ou um bom campo de leitura visual), deixa
muito engessado. Na verdade, você converte a aventura pronta
quase que em uma aventura estilo livro-jogo, só que sem as
opções que essas possuem. Acho válido, mas muito limitado.
O blog Dieheart, onde a Sophia Brandt manteve por anos o
maior acervo de RPG solo do mundo, possui uma pagina sobre
isso, mas a grande maioria dos links que o blog oferece ou são
de fóruns, com muito mais duvidas partilhadas do que técnicas
propriamente ditas, ou estão desabilitados, uma vez que o blog
se apoiava grandemente no Google +, que não existe mais.
Basicamente, essas propostas seguiam uma das seguintes
diretrizes, segundo o site Stack Exchange:
- Usando um Oráculo/Simulador para “reescrever” a aventura,
ou ao menos partes dela. Como essa é precisamente o foco do
Método 2, irei falar mais sobre isso futuramente.
- Usando a aventura pronta apenas como inspiração. Nesse
método, o jogador pega apenas alguns elementos presentes
na aventura, e acaba na verdade jogando uma aventura
diferente. Não há nenhuma abordagem como essa aqui, ainda
que os resultados possam ser bem interessantes. Nessa série
aqui vamos focar em quem quer REALMENTE jogar aquela
determinada aventura pronta.
- Separar o conhecimento do jogador do Conhecimento do
Mestre. Esse é o método proposto pelo Lone Crusader, onde o
jogador tenta a todo custo evitar ler spoilers e informações
privilegiadas.
- Jogar como mestre, e usar um Simulador ou Oráculo para
simular a ação dos personagens. Dentre todos os métodos,
esse provavelmente é aquele que mais se aproxima da
dinâmica de como a aventura é jogada em grupo. Na verdade,
acredito que dê para ter uma experiência extremamente
próxima. O único porém acaba sendo uma questão de gosto
pessoal; como eu não gosto de mestrar (e ainda por cima estar
cansado disso, pois mesmo não sendo minha praia tenho
mestrado minha vida inteira), esse método acaba tendo bem
pouco atrativo. Mas pretendo desenvolver essa abordagem em
um material futuro.
 No Brasil

Sem falsa modéstia, somos de longe o país que mais avançou

nesse tipo de proposta. O meu canal do youtube possui,
espalhado em 3 vídeos diferentes, mais de 10 métodos de
abordar aventuras prontos no RPG solo. Também existem
vários outros canais que trazem inclusive gameplays completos
(as vezes divididos em muitas partes) de aventuras prontas.
Assim temos de longe a maior quantidade de material
explicativo sobre isso.
Mesmo assim, ainda está longe de ser um assunto fechado.
Até onde sei, tanto aqui quanto lá fora, esse é um dos
primeiros materiais oficialmente lançados no intuito de
oferecer auxilio, dicas e métodos nesse sentido.
 O início

Parto do pressuposto que quem adquiriu esse material

conhece o mínimo sobre o RPG solo, bem como o vocabulário
“básico” da modalidade, como “oráculo”, “simulador de mestre”,
“tabelas geradoras”, “Cenas”...é importante que esses conceitos
estejam claros.
Antes de começar, logicamente, algumas coisas básicas
precisam ser feitas:
Crie um ou mais personagens dentro do seu sistema favorito.
De preferência, crie dentro do mesmo sistema para o qual a
aventura foi originalmente escrita. Isso vai facilitar muito o
trabalho de conversão e adaptação. No entanto, nada impede
que você jogue aventuras escritas para um determinado
sistema utilizando OUTRO sistema.

Dragon Farheim

O método Dragon Farheim foi criado por Tarcisio Lucas (eu)

com o intuito de permitir jogar aventuras prontas de forma
solo sem no entanto manter o andar da mesma
engessado,mas que ao mesmo tempo não se afastasse do
"enredo" proposto pelo material. Eu também queria criar um
método em que o jogador não precisasse ficar evitando
spoilers, pois minha intenção era criar um método que
permitisse que se jogasse inclusive aventuras que já tenham
sido jogadas em grupo, ou que o jogador solo tenha lido. Como
eu tenho leitura dinâmica, é impossível olhar um parágrafo
sem ter ao menos uma ideia do conteúdo dos parágrafos
seguintes, e eu queria criar um método que permitisse isso.
Na verdade, no método Dragon Farheim você PRECISA ler
antecipadamente toda a aventura. Fique tranquilo, isso faz
parte da proposta
 Passo 1
Depois de montar seu grupo ou personagem solo, você deve
escolher uma aventura pronta. Atualmente, existem centenas
de sites que disponibilizam aventuras de forma gratuita. E não
falo de sites de material ilegal, pirata, e sim sites que
disponibilizam materiais criados para serem compartilhados.
Muita coisa boa, ao alcance de uma pesquisa no google de
distância.

Passo 2
O passo 2 é escolher um simulador de mestre ou oráculo de
sua preferência. Pode ser mais complexos ou mais simples.
Pode ser desde muitas tabelas de mil coisas diferentes até
uma simples moeda onde “cara” é sim e “coroa” é não. Quando
eu uso o Dragon Farheim, particularmente, eu gosto de usar o
Mythic e mais um bando de tabelas geradoras, que eu separo
de acordo com o tema da aventura. Por exemplo, se é uma
aventura em cidades, eu separo muitas tabelas com esse tema.
 Passo 3
O terceiro passo é ler a aventura inteira.
Isso mesmo, você não leu errado. Leia
descompromissadamente, como se estivesse lendo um livro.
Confie em mim, isso não vai diminuir a graça do negócio.
Esse método se aplica para qualquer tipo de aventura,
independente da forma como ela foi escrita ou do tamanho
dela. Se essa é sua primeira tentativa, contudo, eu recomendo
fortemente pegar aventuras curtas. De 1 a 10 páginas no
máximo. Deixe as grandes sagas para depois. Praticar esse
método com uma aventura de 180 páginas pode ser bem
frustrante e enfadonho se você não tiver certa desenvoltura
com ele.
Mas não se prendam a isso. Eu joguei a aventura “Rise of
TIamat” com ele, e foi muito bom. E a aventura é imensa.
Passo 4
Divida a aventura em trechos, ou cenas. Em pequenas partes.
Faça anotações no texto da aventura dividindo essas cenas, de
forma a ficar ckaro. Isso fica totalmente a seu critério, mas
darei algumas dicas:
Pense em cenas como em um filme. Se pensarmos bem, toda a
aventura de RPG tem um pouco disso. Tem o começo na casa
do Príncipe da cidade. Depois tem a reunião dos Anciões.
Depois tem a parte da Caçada de Sangue. Cada um desses
momentos é uma parte, ou cena distinta. Se quiser, você pode
subdividir ainda mais cada uma dessas partes. Quanto mais
você dividir, mas completa e imersiva será a aventura. E mais
longa. Se você dividir menos, conseguirá jogar de forma mais
rápida, terminando a aventura em menos tempo. As duas
abordagens tem suas vantagens e desvantagens, quem vai
dizer isso é você. E logicamente, nem tudo precisa virar uma
cena dentro desse método.
Por exemplo, vamos supor que a aventura pronta apresente o
seguinte texto:
“Os personagens chegam até a cidade portuária de Shangal.
Deixe-os interagir com o ambiente, se quiserem. Há uma feira
bem no porto, com algumas barracas sujas vendendo comida
e objetos básicos. Nenhum encontro aqui, nem nada que
chame a atenção.
Em certo momento, diga a eles que a noite começa a se
aproximar, e o horário da reunião com o Barão Von Doom se
aproxima”
Você pode muito bem ler e seguir a partir disso. OU você pode
sim transformar esse pequeno trecho em uma cena. Quem
disse que não houve encontros? Que falou que não pode ter
coisas interessantes ali? Pode sim!
 Passo 5
Agora sim vamos começar de fato. O que faremos aqui tem a
primeira cena como foco, mas assuma que é isso que você
deve fazer em TODAS as cenas.
Você vai reler a cena. Mas só reler, ainda não está
“acontecendo”. Feito isso, você irá criar a TABELA DE
ACONTECIMENTOS DE CENA.
O que é isso e como isso é feito?
Trata-se de uma tabela onde você sorteará o que de fato
acontecerá na cena. É uma tabela D6, ou seja, com 6
elementos.
3 desses elementos devem ser acontecimentos ou fatos
tirados DIRETAMENTE da aventura.
E 3 devem ser novos elementos criados por você.
Vamos montar ao exemplo de cena acima, onde os
personagens chegam no porto.
A TABELA DE ACONTECIMENTOS DE CENA poderia ser
1d6
1- Nada acontece
2- Nada acontece
3- Nada acontece
4- Gatunos tentam abordar os personagens
5- Uma grande briga começa em uma das barracas da feira
6- Um marujo velho se aproxima querendo conversar
Vamos analisar:
Os 3 primeiros elementos da Tabela são “Nada acontece”, pois
é exatamente isso que o texto me diz. Se ele sugerisse algo, eu
colocaria ali. É possível repetir o mesmo elemento em mais de
um resultado, se você achar que aquilo é bem possível de
acontecer.
Os resultados 4, 5 e 6, por sua vez, são todos de minha autoria.
Você pode colocar aqui qualquer coisa que quiser. Não se
preocupe em “sair da aventura”, pois entre uma cena e outra
será aplicada a a TÉCNICA DO AJUSTE, onde independente do
que aconteceu, a aventura retornará aos trilhos em que foi
escrita (e ainda sim considerando tudo que aconteceu!).
EU coloquei coisas pequenas, que me vieram naturalmente a
cabeça. Poderiam ser outras coisas. Talvez o porto fosse
atacado por uma lula gigante. Talvez um bando de orcs
aparecesse tacando o terror. As possibilidades são infinitas.
Pense em coisas que ficariam legais naquele momento da
aventura.
Daí a importância das tabelas geradoras. Se você nessa hora
ficar sem ideias, role 3 vezes em uma tabela geradora (ou
tabelas diferentes) para ter ideia do que poderia acontecer.
Como falei, não importa se a aventura parece que vai sair dos
trilhos e virar OUTRA história; não vai acontecer isso, a
TÉCNICA DO AJUSTE irá garantir que tudo volte aos eixos entre
uma cena e outra.
 Algumas dicas

Evite colocar em cena personagens que só devem aparecer

futuramente na aventura. Mas se sentir que isso deve ser feito,
manda brasa. A TECNICA DO AJUSTE é consistente o suficiente
para contornar isso. Mesmo se você introduzir um
personagem importante e ele morrer antes do que deveria,
isso será contornado de forma consistente pela técnica citada.
Cuidado para não fazer a aventura ficar com uma duração
infinita. Se para absolutamente tudo você criar uma TABELA DE
ACONTECIMENTO DE CENA, a sua aventura de 5 páginas vai
durar uns 7 meses. É isso que você quer? Se a resposta for
sim, siga com isso! Agora se isso parecer muito longo, cansativo
ou mesmo enfadonho para você, faça isso apenas com as
cenas mais importantes, legais e significativas da aventura.
Imagine alguém fazendo isso a cada 2 parágrafos da aventura
“Ravenloft”. Os netos dessa pessoa talvez terminem a aventura,
mas ela com certeza não irá.
Resolvendo a Cena
Sorteie 1 Acontecimento na tabela que você criou, rolando
1d6. É isso o que de fato acontece. Agora é hora da ação.
Nesse momento, siga como qualquer aventura feita com o uso
de simuladores e oráculos. Caso isso não seja tão claro para
você, pare agora de ler e vá no youtube ou no grupo SOLO
RPG criar bases sólidas sobre esses conceitos, principalmente
sobre como conduzir aventuras com Simuladores de Mestre.
Ainda que eles sejam muito citados aqui, o foco do material
não é entrar nesses termos.
Faça perguntas ao Oráculo, e tome as ações dos personagens.
Isso as vezes vai ser resolvido apenas com uma única rolagem,
outras vezes serão muitas ações por parte dos pjs. Quando o
Acontecimento tiver sido resolvido, para o bem ou para o mal,
é hora de seguir para a próxima cena, onde você irá proceder
exatamente da mesma forma. Mas antes de iniciar uma cena
nova, é hora de aplicar a TÉCNICA DO AJUSTE.
 A Técnica do Ajuste
Agora, antes de iniciar a próxima cena, é necessário fazer
alguns ajustes. Isso porque pode ser que elementos que não
fazem parte da aventura inicial tenham sido acrescentados, ou
que elementos importantes da aventura tenham sofrido
alterações.
Esse ajuste não quer dizer eliminar, ignorar ou excluir os
elementos que destoam! JAMAIS! O que aconteceu, aconteceu!
Não é isso.
Uma vez que você já leu previamente a aventura inteira, você
sabe muito bem como COMEÇA a cena seguinte.
A TÉCNICA do AJUSTE consiste em criar explicações que
justifiquem tudo que mudou na cena anterior de forma que a
cena 2 possa começar EXATAMENTE como ela está escrita (ou
algo extremamente próximo disso).
Vamos continuar com nosso exemplo.
Imagine que a Cena seguinte diz o seguinte:
“Os Personagens chegam enfim até a casa do Barão Von
Doom, um lugar luxuoso e imenso. Há muitos guardas
espalhados pelos jardins e entradas. Dentro da casa, os
personagens são recebidos por uma moça de beleza
estonteante que se apresenta como Lady Ravena, esposa do
Barão. (Ao mestre) Faça com que esse encontro seja
intimidante para os pjs, descrevendo o tempo todo toda a
opulência e riqueza do local. Lady Ravena os conduz até um
amplo salão, onde em uma cadeira enorme cravejada de joias
se senta o Barão. Ele saúda os pjs, e pede que cada um se
apresente.
Feita as devidas apresentações ele finalmente revela por que
convocou os heróis até ali...”
Vamos analisar. É uma continuação natural do que foi
apresentado originalmente na cena 1.
Mas vamos supor que ao jogar a cena anterior, tendo caído o
resultado “5”, que diz que uma grande briga tenha acontecido
em uma barraca próxima, os personagens tenham se
envolvido na briga e meio que sem querer mataram um
comerciante. Os guardas da cidade são chamados e a cena
termina com os personagens algemados pelos guardas na
praça pública.
Como resolver isso?
Sim, para a aventura continuar, é preciso justificar que a cena
seguinte comece exatamente como ela está escrita. Mas nada
do que aconteceu pode ser desconsiderado. Se os pjs
mataram um comerciante, isso de fato aconteceu.
Aí entra a TÉCNICA DO AJUSTE.
Apesar do nome pomposo, é algo bem simples.
Quando uma cena terminar, crie JUSTIFICATIVAS que
conduzam a aventura até o inicio da cena seguinte. Não
precisa fazer o roleplay dessas justificativas, nem testes.
Apenas crie explicações coerentes e aceitáveis que sirvam de
ponte para que o fim de uma cena se conecte ao começo de
outra.
No exemplo acima, seria fácil.
AJUSTES: O Barão ficou sabendo da confusão, e como ele
mesmo havia convocado os aventureiros, manda
imediatamente um mensageiro exigir que os guardas soltem
os personagens. Aliás, os guardas TRABALHAM para o barão.
E quanto ao comerciante morto? Talvez seja um antigo
desafeto do Barão e não fará falta. Ou talvez o Barão exija que
parte do pagamento dos heróis ao fim da aventura seja
destinado a família do comerciante, como forma de reparo.
E voilá! Tudo pronto para a cena começar EXATAMENTE como
foi descrita na aventura original.
Existem infinitas possibilidades. Tudo vai depender do tom que
você quer conferir à aventura. Se é um tom mais bem
humorado e fantasioso, esses Ajustes podem ser mais
“forçados” ou até mesmo cômicos. Se a aventura tem um tom
mais sério e sóbrio, os Ajustes devem ter um tom mais realista
e coerente.
Mas e se a cena REALMENTE saiu dos trilhos, e mudou muita
coisa importante para o futuro da cena?
A TÉCNICA DO AJUSTE será utilizada da mesma forma. A única
coisa é que certos “malabarismos narrativos” deverão ser
feitos.
Um exemplo.
Vamos supor que na cena 1 eu colocasse como um dos
elementos da TABELA DE ACONTECIMENTOS DE CENA que o
próprio Barão Von Doom aparece na cena, no meio da feira, e
um personagem, por acidente, assassinasse o Barão.
Vejam só o enrosco; toda a ventura futura se apoia no
personagem do Barão Von Doom.
O que fazer se um personagem acabou de matar o Barão
antes dele realmente ser decisivo?
O primeiro passo é olhar no espelho com um olhar de
reprovação.
Mentira, esse é o tipo de coisa que dá umas mexidas legais na
história.
E aplicar OS AJUSTES.
Nesse caso: Sério mesmo que o Barão Sairia na rua apartando
brigas de feira? Um cara com uma cadeira cravejada de jóias
faria isso? Não é muito mais lógico que o Barão contrata-se
“sósias” que fingiam se passar por ele, afinal, alguém com a
riqueza dele deve ter muitos inimigos.
Ou você poderia manter realmente o Barão morto. Os
personagens seriam conduzidos até a mansão do Barão e lá
tudo se passaria exatamente como a cena mostra. O Barão
está lá, sentado e sorridente. Mas vocês acabaram de matar o
Barão lá na feira! Que mistério seria esse? Por que as pessoas
da cidade parecem não ligar? Você pode então deixar o
mistério no ar, ou criar algumas explicações. Por exemplo, o a
cadeira cravejada de joias pode ser um item mágico, para o
qual ele volta vivo toda vez que morre, não importa aonde isso
aconteça. Ou talvez na verdade seja uma família de muitos
irmãos, todos muito parecidos entre si, e quando um morre
outro IMEDIATAMENTE assume o posto e o nome.
A TÉCNICA DO AJUSTE é justamente isso.
Você adequa tudo que aconteceu, puxando qualquer coisa que
tenha saído fora do plano da aventura de volta para onde a
aventura naturalmente caminha.
O método Dragon Farheim dessa forma é feito para manter
todo o espirito e proposta da aventura original, sem contudo
tirar o frescor e a novidade.
Experiência com o método
Como sugeri anteriormente, esse método deve ser testado
inicialmente com aventuras curtas.
Mas depois que se pega as manhas e se entende
perfeitamente como funciona a TÉCNICA DO AJUSTE, fica fácil
pegar qualquer tipo de aventura.
Eu já joguei muitas aventuras seguindo esses princípios. “Rise
of Tiamat”por exemplo tinha mais de 90 páginas, e foi
divertidissma. Mas eu particularmente prefiro aventuras mais
curtas, de 5, 8 páginas, pois eu tenho a tendência de alongar
MUITO cada cena.
Existem muitas aventuras realmente curtas, de 1 ou 2 páginas.
Nesses casos, eu recomendo a cada cena rolar 2 vezes na
TABELA DE ACONTECIMENTO DE CENA.
Finalizando Segue na próxima página tabelas em branco para você criar as
suas TABELAS DE ACONTECIMENTOS DE CENA.
Como já falei várias vezes ao longo desse texto, esse método Essas tabelas em branco foram criadas pelo grande Tiago
não substitui a experiência de jogar uma aventura pronta em Junges. Não sei o que eu faria sem o Tiago!
grupo.
Eu joguei “Rise of Tiamat” em grupo também, e foi uma
experiência totalmente diferente, dificial até de comparar (mas
se tivesse que comparar, eu gostei mais de jogar ela de forma
solo!).
Um dos maiores erros das pessoas ao abordarem o RPG solo é
acharem que ele tenta substituir a forma tradicional de jogo.
Essa é uma visão muito, muito errada, e deve ficar claro aqui
que não é isso.
Mas mesmo que você realmente prefira jogar em grupo, tenho
certeza que existem aventuras prontas que você adora e ao
mesmo tempo sabe que NUNCA vai conseguir jogar; ou
porque fogem do que seu grupo gosta, ou porque é algo que
só você curte, ou porque você trabalha 15 horas por dia, é
casado e tem dois filhos, e sabe que vai ter tempo de jogar isso
em grupo só depois dos 80 anos de idade.
A vida é curta demais pra deixar essa aventura parada na
estante ou empoeirando naquela pasta de arquivos.
Acima de tudo, aproveite!
Um super abraço!

Arte: FreePik