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CARTA: Requerimento de solicitação de

reconsideração de reprovação

Prezados Srs.,

Fomos informados que o aluno Juliano Monteiro Trindade, foi reprovado, retido
no ano escolar de 2022, segundo colegial, desde já, informamos nossa insatisfação e
inconformismo com a medida adotada pela instituição. E através desta carta iremos
apresentar algumas de nossas razões e argumentos para que seja reconsiderada a
reprovação.

Primeiramente é oportuno lembrar que o aluno, nasceu no Estado de Santa


Catarina e morava em uma Cidade pequena, que possui menos de 25.000 (vinte e cinco
mil) habitantes, chamada São Lourenço do Oeste, e que sempre havia estudado em rede
pública de ensino. É pertinente ressaltar que nós, família do Juliano, também estamos em
adaptação, e verificamos que a forma de direção das escolas é variável, pois em Santa
Catarina, os pais sempre seriam chamados de forma individual na escola quando seus
filhos possuem quaisquer problemas, principalmente com adaptação ou notas, ato este
que não entendemos o motivo de nunca ocorrer no Colégio Mackenzie.

Os pais do aluno Juliano são separados, ato este que já acarretaria sequelas em
qualquer criança ou adolescente, e no ano de 2021, a mãe do aluno, que é detentora da
guarda do estudante que é menor de idade, por questões de trabalho teve que mudar para
o Estado de São Paulo. E devido a esta situação o aluno, teve de mudar de Escola e se
afastar de amigos e de alguns familiares, como pai, tios e primos. Isso ocorreu em plena
pandemia e início de um novo ciclo, que seria o colegial.

O aluno estudou o primeiro colegial, em uma escola da rede pública, localizada


na Cidade de Barueri, conforme consta em seu histórico acadêmico, tendo sido aprovado
no final do ano de 2021. A maior parte do estudo, neste ano, foi virtual, devido a
pandemia, mas no pouco tempo de contato presencial, que ocorreu nos últimos dias
letivos, Juliano se deparou com algo que nunca havia visto, em sua pequena Cidade do
Estado de Santa Catarina, uma vez que no Colégio da rede pública de ensino da Cidade
de Barueri alguns colegas de classe tinham: idade muito mais avançada que a dele, alguns
eram nítidos usuários de drogas e ainda tinha a violência diária. Atos estes que assustaram
o Juliano ao ponto de não conseguir se adaptar, não fazer amizades e sem possibilidade
de se desenvolver naquele ambiente.

O trauma do Juliano foi tão intenso que ele não desejava mais retornar aos estudos
naquela escola, e apesar das tentativas não foi possível a família (mãe e irmãos) retornar
à Cidade de origem, bem como, pelo fato de que ainda estávamos sofrendo os efeitos da
pandemia e o isolamento era necessário, sob risco de morte.

No entanto, por estarmos em pandemia e de forma não desejada a maior parte do


estudo do primeiro colegial ocorreu de forma virtual, e o mundo não estava preparado
para isso, ou seja, fomos obrigados por uma necessidade imposta pela pandemia a ter um
estudo virtual, sem qualquer treinamento. Não podemos aplicar reprovação aos alunos,
pois estas foram algumas das maiores vítimas do caos que a pandemia instaurou no
mundo.

Por maiores que tenham sido os esforços, nada neste mundo conseguiu compensar
a ausência da presença de um professor na sala de aula, do contato e aprendizado que o J
Juliano teria diretamente com um professor em sala de aula, em convívio com demais
alunos, e ainda as sequelas psicológicas de isolamento. Nunca poderemos reparar isso
para esta geração sobrevivente da pandemia de coronavírus!

Inclusive não iremos citar todos os textos legais, bem como, textos de grandes
educadores nesta carta, para que a apreciação e a leitura não se tornem exaustivas, mas
iremos destacar que devido a pandemia inúmeros psicólogos, educadores, professores e
demais entes públicos como o MEC (Ministério da Educação) defenderam a tese de
aprovação automática ou progressão continuada, porque sabem que não podemos colocar
o peso da reprovação nos alunos, vitimas dos efeitos da pandemia e das medidas de
restrição e isolamento.

Em dezembro do ano de 2021, o tio do Juliano, que tinha o apelido de “Nino”


faleceu. Foi vítima do vírus corona, ficamos extremamente abalados. Iniciamos o ano de
2022, com o uso máscaras e todas as medidas necessárias para proteger a saúde.
Estávamos aflitos para iniciar qualquer tipo de contato presencial e as aulas estavam
iniciando de forma presencial e sinceramente o pânico havia se agravado, pois uma pessoa
da nossa família, havia falecido pelo vírus corona.

Em maio de 2022, ainda com uma série de receios, quer seja pela mudança e
adaptação de Estado e colégio, quer seja pelo risco de morte que a pandemia ainda
instaurava no mundo, o Juliano conheceu alguém que havia estudado no Colégio
Mackenzie unidade, e nós o matriculamos nesta instituição, pois esta parecia ser uma
escola com boa reputação quanto ao ensino, ao acompanhamento de alunos e parecia
seguir as medidas mínimas quanto as restrições para proteção contra o vírus corona.

A direção do Colégio Mackenzie, foi devidamente informada que o aluno, era de


outro Estado, que sempre havia estudado em colégios da rede pública, que estava distante
de parte da família (pai, tios e primos), que os pais estavam separados, que não havia se
adaptado socialmente no último colégio em que havia estudado em São Paulo e ainda que
estava sem estudar até aquele período do ano letivo, por inúmeras questões
(principalmente pela pandemia), sem que tivesse ao menos notas em seu histórico
(documento este que foi devidamente apresentado na instituição).

Por seu turno, antes da matrícula, o Colégio Mackenzie aplicou uma prova, tendo
o Juliano tirado nota inferior a 4.0 (quatro) pontos, ficamos extremamente assustados,
mas ainda assim, o Colégio Mackenzie aceitou o aluno e nos tranquilizou informando
que teriam formas de recuperação, aula de reforço, atividades complementares e
trabalhos, prometendo estratégias pedagógicas diferenciadas. O Colégio Mackenzie
informou que teria plano de reposição das notas e conteúdo do primeiro trimestre, aulas
de reforços pós aulas comuns, bem como, que auxiliariam na adaptação social, e das
matérias para que o aluno não tivesse prejuízos e nós confiamos nisso, que iriam seguir
um regimento escolar individual, pela situação atípica deste aluno, mas até agora não
recebemos ao menos as provas e trabalhos que o aluno foi submetido a fazer, para vermos
os critérios de avaliação individuais, ato este que dificulta inclusive nossa analise e defesa.

A LDB (Lei de Diretrizes e Bases) determina que o ano escolar tenha pelo menos
200 (duzentos) dias letivos ou 800 (oitocentas) horas “destinados ao trabalho escolar de
docentes com discentes, na escola ou fora dela” . Logo os trabalhos para reposição de
notas e conteúdo do primeiro trimestre, que foram prometidos, iriam abater as horas para
que fosse cumprida a determinação legal pelo Colégio Mackenzie que aceitou o aluno.
Ocorre que, recentemente vimos no boletim do aluno, que não consta as notas do
primeiro trimestre, mas ressalto que a instituição havia prometido que teriam trabalhos
para reposição da nota e do conteúdo do primeiro trimestre (acreditávamos que iriam
fazer isso até dezembro de 2022), ou seja, a instituição somente poderia receber o aluno
se lhe garantisse o prometido e o determinado em Lei, e inclusive para que ele conseguisse
a média nos trabalhos para lograr com aprovação.

Outro fato que merece destaque é que a instituição não cumpriu o prometido, pois
nós, a família do Juliano, nunca fomos chamados na escola, de forma individual, para que
nos informassem sobre quaisquer dificuldades dele. Ressaltamos que na escola do Estado
de origem do Juliano é este o procedimento realizado de forma individual com os pais e
responsáveis.

O Colégio Mackenzie sabia que o aluno sempre havia estudado em rede pública,
que era de outro Estado, que teve uma nota baixa na prova de inclusão, que ocorreu antes
da matrícula, bem como, dos efeitos que a pandemia causou em seus estudos, dentre os
demais atos descritos nesta carta. Logo era nítido que o Juliano precisaria de ajuda e foi
prometido que ele teria, inclusive atividades de reforço, mas agora nos questionamos
quais foram as medidas de adaptação e de auxílio que o Colégio Mackenzie utilizou com
o Juliano? Acreditamos até que o Juliano iria estudar em dezembro de 2022 e talvez em
janeiro de 2023, por isso, estamos extremamente abalados com a reprovação do Juliano.

Cumpre lembrar que o aluno, tem origem de outro Estado, e recentemente ele nos
informou que sofreu muito, nos últimos meses, ato que a princípio pareceu ser até
“xenofobia” ou bullying (ainda estamos analisando ao que melhor se encaixe). Seguem
frases do aluno, em recente conversa conosco:

“- Quando eu fazia uma pergunta na sala todos riam de mim. Eu


abria a boca e todo mundo ria”.

“Eu sou de Santa Catarina e tenho um pouco de sotaque e quando


eu perguntava algo na sala todo mundo ria, um dia me levantei no
meio da sala e perguntei qual o motivo de todo mundo rir de
mim?”
“Era muito difícil para eu conseguir perguntar algo, pois já sabia
que eles iriam rir de mim.”

“Uma professora falou que eu falava com ar de deboche, mas eu


não sou debochado, é meu sotaque, eu não tenho culpa de falar
assim. Era horrível conseguir falar com algumas pessoas depois
que disso”.

Reflitam, o aluno enfrentou a separação dos pais, mudança de Estado que


acarretou no afastamento de alguns familiares próximos, pandemia (com estudo remoto
e isolamento), luto familiar, dificuldades de adaptação ao novo colégio, piadas e risos de
mal gosto, conforme narrado acima, e ainda uma reprovação sem ter tido o auxílio
prometido durante a matricula, conseguem imaginar as sequelas que tudo isso está
trazendo ao Juliano?

Gostaríamos de lembrar que o mundo ainda esta sobre efeitos de Pandemia. O


CNE (Conselho Nacional de Educação) recomendou que fossem evitadas reprovações
por causa da Pandemia do Coronavírus e devido a repetência de ano servir apenas para
evasão dos jovens aos estudos, sendo que em vários países, como a Itália e Estados
Unidos, foram flexibilizados exames e testes para impedir e minimizar a reprovação de
alunos, pois está medida apenas gera a consequência ao abandono escolar e futuro
aumento de desigualdade social.

Estão responsabilizando e punindo um aluno pelo baixo desempenho aos critérios


escolhidos unicamente pela escola, mesmo cientes que vivemos mais 2 (dois) anos em
estado de pandemia e por tudo que este aluno enfrentou? Não tem sentido pedagógico e
educacional, tal medida, pois não podemos punir um aluno, que foi obrigado e forçado ao
estudo remoto por anos, devido a pandemia. Inclusive o ECA (estatuto da criança e do
adolescente), permite o direito de contestar critérios avaliativos da escola.

A Constituição Federal determina que o ensino seja ministrado com igualdade e


liberdade (inclusive de pensamento) e que exista “acesso aos níveis mais elevados do
ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um”.

O ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), assegura o direito do aluno ser


respeitado por seus educadores e demais alunos, e o “direito de contestar critérios
avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores”, bem como a ciência
dos pais as propostas pedagógicas e também ao “acesso aos níveis mais elevados do
ensino, (...) segundo a capacidade de cada um”;

Consultamos a Pedagoga Sra. Zeny de Cassia Alves, que trabalhou na área da


educação desde a década de 90, tendo ela trabalhado como diretora em redes conveniadas
ao ente público e ainda possuído um colégio particular, que foi uma grande referência em
São Paulo, conhecido pela sigla CCF (Colégio Cássia Feitosa) que posteriormente foi
vendido a um grande grupo de rede de ensino privado. Esta pedagoga nos forneceu um
laudo, transcrevemos alguns trechos deste documento, nesta carta:

“ Não vejo nada de útil ao reprovar um aluno, isso apenas arruína


seu desenvolvimento, vejo como um grande retrocesso ao ensino,
muitos jovens inclusive desistem dos estudos após a reprovação.
O adolescente é um cidadão em formação e ao ser reprovado sofre
sequelas psicológicas e se sente ofendido, entristecido e
castigado.

Um adolescente reprovado passa a não mais se encontrar após ser


reprovado, porque, pela regra do que eu presenciei em minha
carreira, eles ficam olhando o relógio esperando o horário do
intervalo para socializar com os amigos do ano anterior, e são
julgados pelos colegas de sala atual, vi casos em que alguns
alunos reprovados costumavam receber apelidos e nomes
pejorativos, pelos novos colegas de classe que ao menos queriam
se sentar ao lado de alunos reprovados para fazer trabalhos e
atividades escolares.

Em todos estes anos de atuação na área da educação, eu nunca vi


nada de produtivo em uma reprovação, principalmente na fase do
colegial.

(...)

Cada ser humano é um ser único e deve ser tratado dentro de suas
limitações, por isso o corpo diretivo e educativo de cada escola
deve compreender a realidade de cada aluno de forma individual,
e o ensino também deve ser adaptado a cada aluno de forma
individual, para que se possa avaliar e auxiliar a cada caso,
contribuindo assim para qualidade de ensino, desenvolvimento e
aprendizado, fortalecendo a construção do conhecimento, mas se
não forem adotadas tais medidas o estudante pode se tornar
apenas um número de matrícula dentro de uma escola.

(...)

Vejo que não é correto aplicar uma reprovação, principalmente


em período de pandemia, o que inclui o ano de 2022, uma vez
que, o ensino foi comprometido em todo o planeta, devido termos
sido obrigados a implementar sem qualquer preparo o ensino
remoto, virtual, de forma imediata, o que ocorreu junto a um
isolamento forçado e ainda com a agravante de ver milhares de
pessoas falecendo, comércios e empregos finalizados um caos
total.

A pandemia gerou impactos irreversíveis a nossa educação, e não


podemos avaliar os alunos com as mesmas medidas tomadas
anteriormente. E sempre devemos avaliar cada aluno dentro dos
parâmetros de sua capacidade. Por isso, a partir do momento que
uma escola recebe um aluno deve ter um acompanhamento e um
regimento avaliativo individualizado.

As escolas têm que promover estratégias de aprovação,


progressão continuada e recuperação, para que não seja gerada
retenção, reprovação do estudante, principalmente nestes anos em
que vivemos a pandemia. Entendo que a reprovação, na maior
parte dos casos apenas acarreta em depressão, revolta, vergonha,
perda de interesses nos estudos e consequente desigualdade social
no futuro.
(...)

Por tudo que o Juliano passou nos últimos anos, como o


afastamento da família e amigos, com a mudança de Estado, pais
separados, isolamento durante a pandemia, luto entre os demais
atos sofridos na adaptação (como por exemplo: o bullying) é
nítido que o Juliano desenvolveu um quadro de ansiedade, que
influencia em sua capacidade de foco e aprendizado e é pertinente
inclusive prosseguir com tratamento psicológico.”

De acordo com todos os atos, descritos em toda esta carta, inclusive com as
agravantes da pandemia vocês acham que não trariam alterações na capacidade de um
aluno? E acham que a punição da reprovação irá corrigir isso?

Sabemos que a maior parte do tempo dos estudos no terceiro ano do colegial é
dedicada para preparar o aluno ao vestibular, tendo a revisão das atividades dos anos
anteriores, e havíamos escolhido o Colégio Mackenzie para auxiliar o Juliano a trilhar
este caminho. E ainda acreditamos que se corrigidas ou tomadas as medidas quanto aos
atos que o ofenderam, novos esforços para adaptá-lo, e se cumpridas as promessas dadas
durante a matrícula para que ele seja aprovado podendo ser matriculado no terceiro ano
do colegial, poderíamos tentar prosseguir com essa relação.

Fazemos um último apelo, para que reflitam quanto a reprovação neste momento
ao aluno Juliano, diante de tudo que foi narrado nesta carta, pois não haverá nenhum
benefício ao Colégio Mackenzie ou ao aluno ao manterem essa reprovação, apenas
acarretará em tantos transtornos, ao aluno, que talvez a suplência será o caminho para que
ele possa conclui os estudos no prazo correto, na mesma idade de seus semelhantes,
tentando minimizar os danos que uma reprovação pode trazer ao psicológico de um jovem
que sofreu todo o descrito nesta carta, mas ressalto que uma suplência poderá retirar do
aluno Juliano, o direito dele de ter um bom preparo para prestar vestibular em uma
faculdade renomada.

Concluímos que, o Colégio Mackenzie não terá qualquer prejuízo ao reconsiderar


sua decisão, mas caso não faça tal reconsideração a vida do aluno terá um prejuízo
irreversível, principalmente no aspecto psicológico, podendo beirar a desistência dos
estudos e de toda sua autoestima, o que consequentemente destruirá seu futuro.

Sendo assim, diante de todas as razões e argumentos, acima descritos, requeremos


que:

1) Seja reconsiderada a decisão de reprovar o aluno, sendo acolhida a


aprovação ou progressão continuada;
2) Não sendo este o entendimento, subsidiariamente, que seja
aplicada nova atividades de recuperação em janeiro de 2023 para que não haja
perda de qualquer conteúdo que os professores julguem relevantes, e o aluno seja
declarado aprovado ao terceiro colegial;
3) Não sendo este o entendimento, subsidiariamente, requer-se que
seja deferido ao aluno prazo para que este apresente os trabalhos, para que possa
completar suas notas escolares do primeiro trimestre e as 800 (oitocentas) horas
letivas, determinadas em lei;
4) Não sendo este o entendimento aguardamos, expressamente carta
informando os motivos da negativa, para que possamos tomar outras medidas, na
Diretoria e Conselho Regional de Educação, dentre outros órgãos competentes.

Por fim, fica mantido o apelo de toda nossa família para que seja
reconsiderada a decisão de reprovar o aluno, Juliano. Certos de Vossas
compreensões e sem mais para o momento encerramos a presente carta e
informamos que estamos aguardando a resposta. Muito obrigado.

São Paulo, 03 de janeiro de 2023.

Juliano Monteiro Trindade


(responsáveis e demais familiares).

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