Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
INTRODUÇÃO (resumo)
O presente trabalho apresenta dois casos de alunos da educação especial.
No presente trabalho são descritos dois casos bem complexos de alunos
público alvo da educação especial, um de um aluno de anos iniciais, cerca de 9 a 10
anos, e outro dos anos finais, cerca de 16 a 17 anos. Além de estarem em etapas
diferentes da educação básica, ambos os casos podem proporcionar reflexões
acerca das possibilidades e dificuldades enfrentadas pela educação especial. Para
contemplar esta tarefa, será aproveitado o conceito de senso comum pedagógico
desenvolvido por Elli Benincá em sua tese O Senso Comum Pedagógico, Práxis e
Resistência, visando sua importância para se pensar também os problemas
envolvendo a educação especial.
e culpar o aluno por isso, recaindo em antigos estereótipos sofridos por alunos do
público alvo da educação especial.
Mas sabemos que é uma situação complexa e que envolve diversos fatores,
não cabe buscar culpados, mas sim compreender esses fatores para buscar
alternativas e soluções de melhor manejo com o aluno. O primeiro passo deve ser
conhecer esse aluno, mas conhecer além do laudo, conhecê-lo como sujeito, seus
confuso gostos, preferências, desgostos, dificuldades, facilidades etc. A partir desse
processo, que é lento, deve ser construído aos poucos através do cotidiano da sala o que deve
ser
de aula, que não só será possível elaborar atividades pedagógicas que chamem a construído?
atenção desse aluno, como também será criado um vínculo, de grande importância
tanto para quebrar resistências ao aprender quanto no comportamento
indisciplinado.
Esse conhecimento do aluno e seus gostos também pode auxiliar na escolha
da melhor abordagem pedagógica, pois nenhum aluno é igual, seja típico ou atípico,
eles aprendem de modos diferentes. Quanto ao comportamento agressivo e
desafiador, podemos nos questionar se o ambiente em que ele está inserido, a
turma, colegas, professores, e certas atitudes, são gatilhos para impulsionar esses
comportamentos, mesmo que inconscientemente. Identificados esses gatilhos se
torna possível evitá-los ou minimizá-los, criando um ambiente mais acolhedor e
favorecendo o aparecimento de comportamentos positivos.
Fundamental também deve ser o acolhimento por parte dos colegas e do
professor, compreendendo os motivos do comportamento do aluno para que assim
se torne possível um ambiente de respeito, motivação e reforço positivo,
promovendo a inclusão também dentro da sala de aula como convívio, não apenas
em atividades pedagógicas. A parte mais complexa e de difícil manejo é a que foge
do controle da escola, como a vida familiar do aluno e a inflexibilidade no diálogo
por parte dos responsáveis. Uma alternativa pode ser também a mudança na
abordagem, talvez uma convocação para uma reunião de pais geral da turma, não
apenas individualmente, pedir sugestões para os responsáveis de que maneira a
situação com o aluno pode ser melhor conduzida, dentro do possível e alcançável
para a escola. Também é essencial que a criança tenha acompanhamento
psicológico e com a medicação adequada em dia, embora isso também não possa
ser controlado pela escola.
SITUAÇÃO 2: ANOS FINAIS
Nessa mesma escola, porém nos anos finais, se encontra um aluno com um
caso muito complexo e de difícil manejo, porém em perspectivas diferentes. Aqui o
aluno sofre de paralisia cerebral, necessitando de andador para a locomoção, não
consegue reter informações, encontrando extrema dificuldade para memorizar
conceitos introdutórios como letras e números de um a dez, e era frequente a
situação de contar diversas vezes o mesmo acontecimento, além de relatos com
contradições e sem ordem causal bem definida.
Pelo aspecto cognitivo, a dificuldade para adaptar atividades pedagógicas se
mostrou significativa por parte dos professores, devido a não retenção e os
conhecimentos de “conteúdo” muito limitados, embora os professores buscassem
dedicar atenção para, pelo menos, ouvir o aluno em aula, já que ele demonstrava
grande interesse em externalizar sentimentos, gostos e acontecimentos de sua vida.
Pelo lado familiar, os responsáveis se mostravam presentes e também investindo no
anos finais? desenvolvimento do filho, seja por terapias, consultas, remédios e demais
atividades, todavia, os responsáveis tinham a grande expectativa do aluno sair
alfabetizado da escola, algo improvável devido às condições já citadas e o fato do
aluno se encontrar na última etapa dos anos iniciais. Tentativas foram feitas para a
alfabetização, das mais diversas formas, porém infrutíferas.
O quadro do aluno parecia, de certo modo, desesperador, devido às grandes
limitações, a situação mudou de cenário quando se procurou outra abordagem para
trabalhar com o aluno. O aluno demonstrava muita ansiedade, perceptível pela fala
acelerada, dificuldade em se expressar com clareza devido a essa rapidez, e
constantes preocupações com coisas externas à escola. Percebendo isso, o monitor
desse aluno começou a escutar o aluno sobre seus problemas, sentimentos,
acontecimentos, e geralmente acompanhado de outra atividade, como sentar ao ar
livre, colocar os pés na grama, realizar pinturas com tinta, jogos pedagógicos
diversos. Além da mera escuta, o monitor também auxiliou o aluno a organizar os
fatos que ocorriam durante a fala, elaborando uma sequência lógica.
Com o passar do tempo se percebeu a tranquilidade no aluno, se
comunicando com mais clareza, devagar e com uma carga menor na fala sobre
seus sentimentos. Embora seus problemas não tenham ido embora, foi perceptível
a maior facilidade do aluno para falar sobre eles. Essas atividades também
ajudaram o aluno a aproveitar mais a escola, sem estar apenas sentado pintando
algo e escanteado pelos colegas, embora é preciso ressaltar que essas atividades
não excluíram o aluno de sua turma, ele continuou frequentando as aulas e
interagindo com eles, apenas tinha um tempo para realizar essas atividades
paralelas, ao final do processo, o aluno se mostrou muito grato por esses pequenos
momentos, porém muito significativos. Talvez seja possível criticar a abordagem por
não dar muita ênfase nos conteúdos ditos “formais” da educação, e pode ter sua
razão. Entretanto, o trabalho desenvolvido com o aluno não pode ser considerado
perda de tempo ou sem nenhum valor.
Elli Benincá, em sua tese, trata das várias reflexões acerca do senso comum na
História da Filosofia indo de Aristóteles a Boaventura de Souza Santos. Neste sentido,
de elucidar o conceito de senso comum, Benincá nos mostra o quanto este conceito tem
despertado interesse durante a história da Filosofia ocidental. E que serve como divisor
de águas a partir da modernidade pois é visto por muitos dos pensadores como
ingenuidade, sem a acuidade do conhecimento científico tão propalado e destacada a
partir da Modernidade e da Revolução Industrial.
Tanto é que, para o Positivismo de Comte, foi colocado como um estágio inferior
de conhecimento. Já, Kant avalia como sendo um senso de comunidade:
Portanto, pode ser um senso de julgamento que parte da realidade, por outro, o
autor alemão trata isso também como um senso vulgar por estar presente em toda
parte. Outro autor que também trata do conceito de Senso Comum é Boaventura de
Souza Santos, este, por outro viés de análise, entende que o Senso Comum é um
núcleo de conhecimento, por um lado ingênuo, por outro lado, emancipatório.
É munido com o senso comum que encontramos o aluno na educação básica,
dependendo do local onde esse aluno vive, ele carrega consigo as opiniões, conceitos e
postura dessa região. Como educador, é recorrente a visão de, através da educação
formal, se está introduzindo o aluno ao conhecimento científico por meio das disciplinas
com seus saberes organizados sistematicamente (língua portuguesa, matemática,
ciências etc), sendo esse conhecimento científico valorizado em detrimento do senso
comum portado pelos alunos.
Essa perspectiva acaba por desvalorizar o senso comum como conhecimento, e
não se indaga as suas raízes e justificações. Benincá, ao refletir sobre o senso comum,
o reconhece como uma forma de conhecimento com profundo valor por ser um saber
empírico e que auxilia o indivíduo em sua sobrevivência e manutenção da identidade: