Você está na página 1de 37

História Contemporânea (Economia e Sociedade)

Professor: Teresa Maria e Sousa Nunes


Métodos de avaliação: constituída por duas fases: a primeira fase é uma prova escrita (17/12), e a
segunda um trabalho, baseada numa análise de fontes, inserida no domínio da economia ou da sociedade.
A entrega do trabalho é também efetuada no dia da prova, e este deverá ser exposto oralmente no dia 4 de
janeiro.

13/9/2021- Aula de introdução e principais conceitos e ideias


A História Contemporânea corresponde a uma categorização, respeitante às dinâmicas na
Europa, um tempo considerado como “irreversível” e “irrepetível”, dando uma ideia de que o tempo
mudou, levando à questão da contemporaneidade em História. O tempo avança devido às inovações,
alterando-se a relação do indivíduo com o conceito de tempo. Não existe uma fórmula única para o
desenvolvimento económico: existem economias que se inscrevem num conjunto de características
respeitantes às condições físicas e recursos naturais. Os casos da Inglaterra e da França são irrepetíveis e
diferentes entre si. Tratar-se-á sobre o processo de industrialização. Normalmente, por questão geral,
tende a haver uma coexistência entre o processo de industrialização, aquele através do qual o produto
líquido da indústria corresponde a mais de 50% do PIB do país, ou seja, mais de 50% dos efetivos estão
associados à indústria. A Revolução Industrial é um termo cunhado em determinada historiografia
durante os séculos XIX e XX. Ao falar-se de Revolução Industrial, fala-se da coabitação difícil de dois
termos: se a revolução é abrupta e rápida, que estabelece um corte irreversível com o passado, numa
espécie de “reset”- com a revolução industrial isto não acontece: com esta, inicia-se um processo
imprecisamente definível: existem autores que consideram que começa a partir de 1700, outros que a
partir de 1760, e 1780, alterando-se as referências. Em Inglaterra, no início do século XVIII, a indústria
algodoeira era algo residual, devido às condições climatéricas da região, o que pode dizer que o algodão é
produzido, fiado e tecido fora da Inglaterra, sendo comercializado no mercado inglês, para ser consumido
pelos estratos médios e baixos. A indústria algodoeira inglesa ganha capacidade de trabalhar o algodão
durante o século XVIII- iniciando-se uma 1.º Fase desta Revolução Industrial, mantendo a hegemonia até
I Guerra Mundial. O processo de industrialização e a criação das indústrias ocorrem em Inglaterra e
possuem impacto na Índia, que era o grande produtor. O conjunto de transformações na Europa a partir do
século XVIII, ao contrário das alterações políticas. O tempo não é igual para todas as nações: ou seja, a
tendência dominante em Inglaterra não será a mesma para a França ou para Portugal, por exemplo, apesar
da existência de contactos desenvolvidos, levando-nos a supor que as economias também não são iguais.
Ao falar-se de uma economia. A riqueza, numa sociedade de Antigo Regime assenta na terra, quer na

1
posse quer nos frutos da mesma. O conceito de “propriedade perfeita” é algo contemporâneo, surgindo
com o conceito de Enfiteuse, que se liga intimamente com a exploração da terra. Se os nobres possuem a
terra, mas não a podem explorar, transferem o domínio útil para quem o possa fazer, através de um
contrato “por mais de uma vida”, mantendo-se até ao momento em que os termos contratuais se
contemplem cumpridos. Porém, esta Enfiteuse origina problemas: quem toma as decisões? O dono da
terra, ou o indivíduo que possui o domínio útil. A sociedade de Antigo Regime assenta numa inibição do
investimento. Outra das características de uma sociedade de Antigo Regime é a facilidade de sucumbir a
crises que o homem não consegue evitar. O primeiro sinal de uma crise (nomeadamente de géneros
alimentares) é o aumento dos preços.

17/9/2021- Informações sobre os métodos de avaliação e conceitos económicos


Vários autores defendem a existência de “dois séculos XX”: um mais breve, que dura desde a I
Guerra Mundial até 1945, e um período pouco mais longo, que dura desde 1945. O século XX é
caracterizado por uma fase depressionária, relacionada com as análises dos ciclos históricos (Ciclos de
Kondratiev, que demarcam ciclos em “prósperos” e “depressionários”), o que leva à emergência de uma
fundamental característica deste período, relacionada com a industrialização das sociedades, bem como é
que os sistemas económicos podem influenciar as relações entre diferentes espaços, como por exemplo e
analisado na última aula, as difíceis relações entre a Grã-Bretanha e a Índia. As economias monetizam-se
(adoção da moeda), sendo esta uma das principais características, também adotada no período do
Mercantilismo (metalismo), o sistema económico fundado na principal ideia de que a riqueza de um
Estado assenta na exportação (a primeira maneira e principal de gerar riqueza) e na acumulação do metal
precioso. Em França, o Mercantilismo assentou no incremento e desenvolvimento das mais diversas
manufaturas, devido à figura de Colbert (ou Colbertismo), primeiro-ministro de Luís XIV- um nicho de
mercado de luxo (atualmente falando), virado para um determinado público-alvo. Em Inglaterra,
pretende-se desenvolver um comércio triangular, focado também no domínio dos mares: este comércio
assenta no Atlântico, sem desprezando outras rotas, caracterizando-se na interação entre as necessidades
da Europa com a mão de obra que África fornece (escravatura), indivíduos levados para o espaço das
Américas, usufruindo da sua força de trabalho e braçal. As indústrias começam a ser deslocalizadas, que
implica menos poluição, uma libertação de um espaço, significando que é mais barato, por exemplo (e
atualmente falando), utilizar um trabalhador do Bangladesh, do que um europeu. Retomando o comércio
triangular, trata-se de uma época em que a produção que a Europa pretendia não poderia ser efetuada no
continente, nomeadamente pela falta de matérias-primas como metais preciosos, tabaco, algodão e açúcar.
O comércio triangular é uma interação entre três lógicas continentais específicas: o que vem de fora da
Europa não é apenas o luxo, mas também produtos essenciais, como o arroz, os cereais e a lã, matérias

2
para construção como madeiras, couros e peles. Assim, havendo maior quantidade de bens, os preços
baixam e tornam-se mais acessíveis a um maior número de pessoas, o que de certa forma quebra com um
paradigma do Mercantilismo, relacionado com a acumulação do metal precioso. Com isto, a Praça de
Londres (primeira praça financeira do mundo no século XIX, caracterizada pela concessão de créditos a
longo prazo) não está a perder capitais, mas está a fixá-los, que acabam por se rentabilizar. O fundamento
teórico do juro assenta no tempo, e na Europa desenvolvida sobre a prática do Cristianismo, a
mobilização do tempo é vista como uma usurpação, visto que o “tempo é de Deus”. Logo, ao cobrar-se o
tempo, apropriam-se de algo que não lhes pertence, visto que o tempo supera a categoria humana, a
categoria humana não se pode apropriar de algo “divino”. No entanto, pode fazer a cobrança baseada nos
inconvenientes de não ter esse dinheiro, e daí surge o conceito do juro aceitável, que “recompensa” o
credor pelos prejuízos de o ter cedido, visto que durante o período do empréstimo, o 100% do dinheiro
não esteve disponível, sendo este reposto em fases. Seguramente, o Mercantilismo foi uma forma de
desenvolvimento capitalista assente no comércio, numa dinâmica de integração intercontinental.

20/9/2021- As alterações nos sistemas produtivos


Em determinados países, os custos de produção são demasiado baixos, o que leva a que alguns
países deslocalizem as suas indústrias para países onde as regras laborais não sejam tão respeitadas. A
afirmação económica do Império Alemão vai suscitar conflitos com a Inglaterra, nomeadamente no Velho
Mundo. O primeiro sinal de uma crise é a redução drástica dos preços dos produtos industriais,
consideradas crises inerentes ao próprio sistema. Numa economia de mercado, existe um estímulo ao
consumo, com o objetivo de se superiorizar a qualquer outra economia mercantil. A economia de
mercado é um processo lento, que se define totalmente no século XX, num processo persuasivo e
orientado em determinado perfil. A partir do século XIX, a tecnologia torna-se algo importante e a ter em
conta, que conduz aos aumentos de eficácia e produtividade. Estas guerras possuem consequências
qualitativas e quantitativas na vida quotidiana: por exemplo, as economias que entram na 1.º Guerra
Mundial são economias que após o conflito, mesmo devastadas, verificam aumentos, devido a uma
pressão sobre as indústrias produtivas, existindo assim um acréscimo no desenvolvimento das novas
formas de produção, algo também encontrado no pós 2.º Guerra Mundial. Numa questão de consumo, as
pessoas passam a consumir aquilo que “acham que lhes faz falta”. A queda dos preços no setor industrial
traduz uma crise inerente ao sistema, que se traduz numa redução da produção que aumenta o
desemprego, levando à pobreza- quanto mais gente no desemprego, menos consumidores. Em termos
sociais, alguns líderes estabeleciam níveis mínimos de consumo para as populações que por vezes se
revelavam como um amortecedor dos efeitos devastadores das crises e das carestias. Dá-se a designação
depressão quando existe um crescimento negativo durante um período de 3 semestres negativos. Cada

3
crise vai induzir uma mudança na sociedade, e muitas crises podem originar extremismos políticos. No
decorrer da crise de 1929, houve alguém que decidiu vender milhares de ações no mesmo dia, suscitando
o pânico. O Mercado Industrial cria uma interdependência entre países e economias. A bolsa de Nova
Iorque afunda por consequência deste comportamento irracional que instalou o pânico generalizado dos
outros investidores. Em suma, as crises, a sua expressão e os raios de atuação foram se alterando com o
decorrer do tempo e com as alterações das sociedades. O mercado impõe uma ideia de lógica intrínseca,
que conjugue a eficácia do mercado com a capacidade consumidora. Os mercados vão-se adaptando,
devido ao desenvolvimento das indústrias, que vai acabar por gerar concorrências. O conceito de
progresso pode abarcar visões dispares: Thomas Maltuss tem uma visão catastrofista, estabelecendo
limites ao desenvolvimento atendendo à limitação dos recursos naturais. Num contexto de Darwinismo
social, a maior capacidade de adaptação do indivíduo fazia com que este fosse uma “espécie” superior.
O Imperialismo é um fenómeno compósito, com várias camadas, estabelecendo uma espécie de
hierarquia baseada na capacidade tecnológica de cada uma das várias camadas. Na diplomacia, existia o
termo “homem doente”, que “exalava os seus últimos suspiros” que era usado para alguns impérios: o
Império Otomano, o Império Chinês e o Império Português em África. Um país apresentava-se superior
quando tem uma capacidade de suplantar as suas ideias a um maior público. Numa ideia de antecipação
de uma crise, surge um ânimo de apontar com maior eficácia as fases de desenvolvimento e de retração.
Os regimes liberais aplicam a igualdade social apesar de existirem diferenças nas funções e no estatuto de
cada indivíduo. Um servo, ao contrário de um escravo, é livre de tomar as suas decisões e ter as suas
opiniões, porém o escravo é tido como uma propriedade. A escravatura é decide que o escravo perde a
sua capacidade de decisão, mesmo em decisões que o envolvam apenas e só a si. O vínculo adapta-se com
as sociedades, existindo no século XIX a ideia de que a escravatura e o trabalho em fábricas é
incompatível. Tendencialmente, nas estruturas fabris, estes indivíduos não são bem aceites, ficando “na
retaguarda” no que toca à produção. Os textos do século XIX tendem a valorizar a expressão individual, e
consequentemente, da sua atividade. Assim, surge a ideia de que as pessoas podem superar o estado em
que se encontram, independentemente dos vínculos. O grupo social do proletariado torna-se no mais
importante e expressivo do século XIX.

24/9/2021- Transposição de um sistema assente na agricultura para um assente na indústria


A natureza de uma crise capitalista resulta numa perda de valor resultante da abundância. Falam-
se de dois sistemas económicas com forte prevalência no contexto europeu, presente em metade da
população europeia. A população da Europa Ocidental é distintamente diferente da população da Europa
Oriental. No século XVIII há uma diferença na longevidade da Europa, quer na dimensão Ocidental, quer
na dimensão oriental, falando-se numa unidade que não é efetiva. Quem são as grandes potências? São as

4
com maior poder marítimo, algo verificável no período da afirmação do Mercantilismo. A Inglaterra
torna-se numa potência naval, aliando a si a lógica de prestação de serviços de navegação, isto é, trazendo
as mercadorias de fora da Europa para a Europa, existindo uma complementaridade entre estas duas
realidades; um dos produtos que a Inglaterra trazia era o sal, importante para a conserva e purificação. Os
transportes começam a tornar-se cada vez mais fundamentais, especialmente o transporte marítimo e
fluvial (porque faziam transitar uma grande quantidade de mercadorias, ao contrário dos veículos
terrestres de tração animal), até ao aparecimento dos caminhos de ferro. Antes do surgimento da via-
férrea, a via era mais insegura, existindo incertezas da chegada da mercadoria, bem como atos de
vandalismo. Em suma, o terrestre não oferece uma segurança 100% eficaz. As economias europeias e
extraeuropeias crescem em muito ajudadas pelo tráfego marítimo. A primeira questão fundamental é a
inexistência de um mercado interno (mercado que faz interagir as partes de uma única parte económica-
incapacidade do Norte interagir com o sul, ou o litoral com o interior, e no caso português, a incapacidade
de relações entre as zonas insulares e as continentais). Quanto maior a exposição às áreas marítimas,
maior a diversidade das economias. O Estado torna-se conhecedor daquilo que necessita, em função das
fontes de riqueza palpáveis, num sistema “de cima para baixo”. Outra forma de coletar os impostos foca-
se no conhecimento das atividades nos espaços nacionais, ou seja, estes eram coletados nas alfândegas;
em determinadas vias, o tráfego de mercadorias poderia ser cobrado recorrendo às portagens ou peagens.
Nos séculos XVIII e XIX, o poder local não depende do poder central, sendo que a recolha dos impostos
a nível local transita para um nível mais central, numa definição do IVA (Imposto de Valor
Acrescentado). Estes impostos são cegos e impopulares, porque vão incidir sobre toda a população,
independentemente dos rendimentos. Nas vésperas da Revolução Industrial, um dos principais debates é o
quão odioso um imposto consegue ser, quando aplicado em determinados produtos, quando o povo passa
fome, nomeadamente quando a França atravessava um período de maus anos agrícolas. Em suma, existem
impostos sobre a propriedade, sobre a circulação e impostos indiretos. No decorrer do século XVIII, as
melhorias climáticas permitem à população melhorar as suas condições de vida, gerando saldos
demográficos positivos. Ainda no século XVIII, encontram-se fórmulas associadas ao capitalismo
agrário, sendo associadas ao que comummente se denomina Revolução Agrícola, sendo a mais importante
a que decorre em alguns países a partir de 1660, decorrente da ideia da existência de um dono das
propriedades, que age sobre ela respeitante aos seus interesses. O período de 1660 é importante no caso
inglês, porque está associado à expansão do comércio externo inglês, bem como a criação de produtos
para vender no exterior, nomeadamente os panos de lã. Assim, as grandes preocupações das manufaturas
de lã são o aumento da produção, recorrendo ao incremento dos rebanhos produtores de lã,
disponibilizando uma “panóplia” de produtos, não apenas em produtos têxteis, mas também em leites,
queijos, manteigas e também proteínas animais para consumo. Geram-se novas formas de exploração

5
agrícola, como as lógicas comunitárias, ou seja, quer os benefícios quer os impactos prejudiciais. Nesta
lógica, um proprietário rural não pode negar que o gado de outro proprietário seja apascentado no seu
território, existindo assim uma transversalidade nas lógicas de produção. A propriedade pertence apenas a
uma pessoa, condicionada juridicamente pela sua tipologia. Tudo isto se explica pela incompatibilidade
em ter criação de animais e produção de culturas em simultâneo, apesar da importância destes para a
fertilização das culturas- estabelecimento do direito de pastagem.
O aumento do preço da lã traz algumas dúvidas aos proprietários: o que é que seria mais
proveitoso? Um sistema de afolhamento e culturas tradicionais, que pode levar à concorrência entre os
“vizinhos”, ou em compensação, investir em novas formas de cultura, impondo uma lógica produtiva
diferente- princípio da enclosure, que necessita de aprovação parlamentar, porque implica a vedação. Este
processo, numa primeira fase, envolve a vedação da propriedade estritamente privada, que irá guiar a uma
especialização da produção; a utilidade sobre os solos passa a ser outra: para a criação do gado, não é
necessária uma terra fértil, porque escolher-se-á uma terra pouco fértil, que após a criação de animais,
adquire fertilidade. Esta medida irá levar a uma valorização dos terrenos que anteriormente eram
considerados baldios1 ou comunais, importantes como complemento à atividade agrícola das populações
mais pobres, e induzem a uma complementaridade da atividade dos agricultores, ou seja, a partir do
aproveitamento das espécies, liga-se também à produção industrial, como também de energia. Assim, os
baldios possuem uma atividade fundamental no seio agrícola num contexto de Antigo Regime. Por outro
lado, hierarquizando, fala-se de um espaço sobretudo reservado aos que possuem menos, por ser um
espaço aberto, funcionando como um espaço de manobra mais amplo, para aqueles com reduzidas
propriedades. Assim, os baldios são muito procurados pelos candidatos a futuros produtores de gado.
Assim, qual é a ideia? A ideia é alargar as propriedades rurais, se o Parlamento Inglês o permitir. Numa
expressão liberal, uma propriedade é mais rentável, quanto maior for a relação entre o proprietário e a
terra, o que considera os terrenos baldios como um arcaísmo, ligado às sociedades primárias e formas
rudimentares de organização socioeconómica, sendo profundamente contestada na Europa, sobretudo a
partir do século XVIII. Uma das consequências da vedação das propriedades impede de uma evolução
dos pequenos proprietários, mas levará a uma evolução nas dinâmicas agrícolas e no “edifício” agrário
inglês, estabelecendo numa lógica de gradual concentração: as já grandes propriedades tendem a tornar-se
ainda maiores. Qual é a consequência? A tendencial concentração é feita pela produção de gado, de lã e
de novos produtos para os mercados, tornando a agricultura numa atividade meramente lucrativa. As
transformações que ocorrem na agricultura inglesa originam uma diversificação do setor primário
agrícola, uma melhoria nos preços da produção cerealífera, uma melhoria nas vias de comunicação, como
1
Terrenos maioritariamente florestados, comummente utilizados para a pastagem do gado, obtenção de matéria-prima
(lenha), para caçadas, como via de trânsito, recolha de plantas, frutos silvestres, apicultura, porque era o mel o acesso mais
comum ao açúcar por parte das populações mais carenciadas

6
a criação de mais canais fluviais, sendo uma das primeiras etapas na criação das empresas de caminhos de
ferro- com autorização do governo, recorre-se a capitais privados que irão aproveitar-se das bacias
hidrográficas do Reino Unido para juntar as áreas produtoras às áreas de consumo, mas no entanto, os
canais fluviais adquirem um carácter privado, que irá também fornecer rendimentos, ao estabelecerem-se
portagens para atravessar o mesmo. Porque é que a Câmara dos Comuns foi tão aberta a esta alteração?
Ao realizar-se um estudo prosopográfico dos elementos, verifica-se um interesse destes no aumento dos
seus capitais, que facilitará a cimentação desta alteração na estrutura agrária.

27/9- Questões sobre os trabalhos.


O conjunto das mudanças estudadas na última aula deu origem à grande vaga de criação de
canais durante o século XVIII, com intuito de alargar a capacidade de transporte, com a intenção de
reduzir os custos do transporte, aumentar a capacidade de carga e diminuir os tempos de viagem. Da
Inglaterra, os produtos de exportação são os lanifícios. A ideia da mudança substantiva vem acompanhada
de outras alterações: os aumentos da eficácia na produção cerealífera, através da substituição dos
afolhamentos regulares, tripartidos, através da implementação do prado artificial, com o propósito de
azotar os solos, ou seja, alargar a capacidade de fertilidade dos solos. Novas culturas como a batata, que
tem uma curta ocupação dos solos, ou a beterraba, na produção da sacarina irão revolucionar. Os porcos
começam a ser mortos em maior quantidade; começam a ser uma extensão do “orçamento familiar”, ou
seja, eram alimentados consoante o que a família consumia. O animal é criado em função do orçamento e
das necessidades, sendo como um “aforro” de proteína animal. A beterraba começa por ser tratada como
forragem nos terrenos. O desenvolvimento deste vegetal, que se observa a partir do seculo XVIII vai por
um lado a induzir a novas formas de ferragem, o que significa que algumas nações se autonomizam na
produção açucareira. O açúcar democratiza-se, e em vez de ser um produto de luxo apenas, passa a ser
acessível a todos os outros estratos sociais. Assim, existem novas culturas. O trevo é usado também para
azotar as terras e servia como folhagem. As culturas da batata e da beterraba começam a ter uma nova
função na alimentação humana, criando o primeiro conceito de excedente agrícola. A partir do século
XVIII, existem formas que permitem diversificar e ganhar eficácia, mesmo quando as colheitas de cereais
não correm bem, ou alargar o espetro da alimentação humana. Se encontramos em Inglaterra a tendência
para a concentração da propriedade, encontramos no Norte da Europa, na França e nos Países Baixos uma
espécie de fórmula de habitação ligada a hábitos urbanos, numa agricultura intensiva, acompanhando as
tendências do mercado, e é por isso que estas propriedades assentam em áreas arrendadas, não existindo
uma ligação à grande propriedade, nem com uma ligação assente à propriedade privada, porém fala-se de
duas realidades que coexistem. Ao falar-se em Revolução Agrícola, fala-se de realidades completas. Estas
sociedades podem estar ligadas à especialização de um produto especifico ou ao abastecimento de um

7
mercado, e ir-se-ão encontrar dinâmicas de entendimento da terra como uma forma de obter os melhores
meios de subsistência possíveis.

1/10- Consequências da Revolução Agrícola- quebras de Paradigma


O regime de propriedade perfeita que surge associada ao Liberalismo será amplamente debatida
no século XIX devido à implementação da Lei da Charrua. O economista Quesnay vai estudar algumas
ideias relacionadas com o produto líquido, ou seja, para se produzir terá de se efetuar algum gasto, e
acabará por definir preços, que tentam garantir ao máximo que o produtor não tenha prejuízos. Assim, o
lucro é o valor que excede relativamente às despesas que se verificaram. A riqueza fundiária continuará a
ser o primeiro item, mas as capacidades de inovação na exploração da terra, visíveis em Inglaterra ou no
Norte de França, mostram uma rutura entre o “ser grande” e o “ser rico”, ou seja, a dimensão não
interessa tanto, mas sim o que se faz com ela. No caso inglês dos séculos XVIII e XIX, as rendas
fundiárias crescem, e a terra valoriza; outra das tendências é a transversalidade desta variante a toda a
Europa, sendo um estímulo à emigração, estimando-se que no século XIX tenham saído da Europa 60
milhões de europeus. Uma das causas de emigração está relacionada com a pressão sobre a terra, havendo
o que alguns autores chamaram “Fome de Terra”, devido ao difícil acesso à mesma, sendo numa 2.º fase
uma emigração pobre.
As inovações agrícolas foram quebrar o paradigma na produção agrícola e nos sistemas
económicos. Fala-se de uma lógica que associa a propriedade à concentração de capital, e esta viragem dá
um ímpeto à primeira fase da revolução dos transportes em Inglaterra, correspondente à criação dos
canais. O investimento seguro nos séculos XVIII e XIX será a agricultura, pois será a garantia de um
produto final, neste caso a propriedade, a longo prazo. Em termos de dimensão, as taxas podem ser curtas,
mas o negócio é algo seguro. A segunda lógica de desenvolvimento em termos agrícolas resulta do
modelo encontrado no Norte da França: propriedades de pequena/média dimensão, empresas familiares e
a tentativa de obter o máximo de produtos para abastecimento urbano, desprezando as propriedades, em
detrimento da flexibilidade. A agricultura é intensiva, ligada ao regadio e à preservação da produção
agrícola. Estas duas formas da atividade agrícola são geradoras de fluxo de capital que são dinâmicos,
impactando nas sociedades, permitindo o alargamento da subsistência das populações, estabelecendo um
padrão de segurança alimentar- o impacto da revolução agrícola irá ter impacto na consolidação das
dinâmicas demográficas, estabelecendo um saldo positivo: nascem mais pessoas comparadas aos óbitos, a
esperança média de vida também aumenta, e uma das consequências da revolução agrícola é de facto a
melhoria das condições de vida. Uma das características desta revolução é o aumento do poder de
compra, que gera o aumento do consumo dos produtos internos. O aumento do consumo, reflexo do
aumento do poder de compra tem como consequência o aumento do produto interno, ligados aos estratos

8
mais baixos da população, ligados ao consumo do produto manufaturado pelo Reino Unido no território
colonial. Os panos de algodão ingleses serão uma cópia dos panos de algodão feitos na Índia, feitos com
mão de obra abundante, matéria-prima abundante e vendidos a preços mais baixos. O algodão é de várias
finalidades: é usado em roupas interiores, como revestimento, e a sua multifinalidade e preços mais
acessíveis vão contribuir na melhoria da qualidade de vida dos estratos médio baixos da população. O
impacto do algodão no mercado inglês não significa apenas a melhoria da qualidade de vida das pessoas,
mas permite um pequeno “luxo”.

4/10-
O grande impasse da economia inglesa é a procura por novos produtos. Ora, nesta região
encontra-se a concorrência entre produtos novos e antigos. A interação entre mercados coloniais
(nomeadamente o indiano) e a capacidade de consumo interno no Reino Unido, traz uma produção
crescente, e a rivalidade é posta em causa. O algodão é então visto como um sucessor dos panos de
algodão. Na Câmara dos Pares, a venda de panos de algodão indianos é proibida no Reino Unido, bem
como a proibição da produção de panos de algodão no Reino Unido. Até esta altura, os mercados indianos
encontram-se integrados no perímetro do mercado britânico, colocando-se a questão se o tráfego
comercial entre colónias ou o estabelecimento de laços estreitos com outros pares do Velho Continente. A
Câmara baixa do Parlamento irá optar por uma solução que é simultaneamente incómoda aos produtores
de lanifícios, bem como à Companhia Inglesa das Índias Orientais: os panos eram conhecidos,
consumidos e faziam falta, e a partir de 1760, encontra-se a resposta do aparelho industrial a este “vazio”:
a subtração dos panos indianos terá como resposta a criação de indústrias de pessoas ligadas à produção
de tecidos e artesãos, que estavam familiarizados com todas as etapas, desde a fiação à tecelagem. Estas
primeiras fábricas são pequenas e tem baixa incorporação tecnológica, desenvolvidas por artesãos, que
resultam da adaptação possível dos teares à fiação do algodão. O processo produtivo mecaniza-se, e o
algodão é o primeiro produto com uma mecanização completa, porém não antes dos anos 40 do século
XIX. O algodão, no entanto, não se pode produzir em qualquer lugar do mundo. As fábricas que se irão
constituir não irão suscitar a confiança dos investidores, que são a reconversão das antigas oficinas de
lanifícios, através da melhoria da maquinaria existente, e a aquisição de matéria-prima, vinda da Índia, da
América do Norte ou do Brasil será sempre uma despesa, ou seja, a indústria irá debater-se com um
“prejuízo fixo”. Os métodos de produção alteram-se, o que altera as dinâmicas comerciais. Estes novos
industriais da industria algodoeira permitem que a Inglaterra se torne no final do século XVIII no maior
produtor de panos de algodão, sendo a maior contribuinte para o PIB inglês. A indústria algodoeira afirma
assim um ramo industrial, baseado nas transformações e necessidades de consumo dos seus mercados
coloniais. As lógicas de produção vão-se alterando, e aquilo que se produz, acabará por ser aquilo que se

9
consome. As indústrias algodoeiras tendem a assumir uma lógica e novas fórmulas industriais,
acompanhado daquilo que fica concebido como capitalismo comercial. Qualquer das instituições
bancárias encontrava-se segmentada, não encontrando confiança suficiente nas indústrias para efetuar
empréstimos. Assim, a sobrevivência destas estruturas através do autofinanciamento, de forma a
alargarem as margens de lucro que lhes permite a aquisição de mais matéria-prima. A indústria cresce em
função de formas complementares, com o objetivo de garantir uma lógica de crescimento no mercado
interno, e subconsequentemente no mercado colonial. Em suma, eram indústrias frágeis, aglomerando
poucas pessoas, apesar da sua capacidade produtiva e de exponenciar e alargar o espetro produtivo. As
alterações são encetadas por quem tem grande conhecimento sobre a matéria, que se mantém
fundamental. Assim, a indústria algodoeira torna-se algo variada e diversificada, comparada com a
indústria mineira e a do ferro. A indústria algodoeira tem um efeito multiplicador quantitativo, porém, em
termos de qualidade dos géneros, este efeito não se verifica. Ao falar-se da organização das indústrias,
encontram-se formas variadas, sendo que apesar de autónomas, podem interdepender entre si. Várias
pequenas empresas pequenas fundem-se, originando uma grande empresa, com vários objetivos, como a
subtração de concorrência no mercado. Os exponentes máximos destas integrações são desenvolvidos no
contexto belga e maioritariamente alemão, que dividirão entre si o mercado, sobretudo o caso alemão.

11/10- As dinâmicas sociais da Revolução Industrial inglesa


Nas grandes manufaturas trabalhava gente com elevada qualificação. As fábricas revestem-se de
características inerentes ao rigor e à qualidade. Os salários organizam-se, e são criadas novas lógicas de
pagamento que obrigam à monetização dos estratos médios e baixos da população inglesa, numa ideia à
indução à poupança. A criança que pudesse trabalhar nas fábricas era bem recebida, porém, se até à idade
em que pode começar a trabalhar a criança não começar a trabalhar, esta é um encargo, quer em espaço
urbano, quer em espaço rural, dependendo das atividades desempenhadas pelo agregado familiar, exceto
se for nascida num estrato mais elevado da sociedade, que é uma minoria. As mulheres, no entanto,
desempenham das mais variadas funções laborais, estando incluídas nas mesmas desde o princípio. A
questão é saber como a mulher conjuga o trabalho com os cuidados com a criança: as crianças começam a
ser vistas como preocupação, por serem um indicador de pobreza infantil, devido à orfandade, mesmo na
Época Vitoriana, onde “era proibido ser pobre”, o que justifica a existência de estruturas de reeducação,
como as working houses, relatado por Charles Dickens no romance Oliver Twist. As crianças desvalidas
nas áreas rurais, tendencialmente não geram focos de instabilidade, porque nunca se desenraízam do seu
espaço. Já no espaço urbano, as crianças desvalidas são enviadas para os orfanatos, para evitar que estas
se dediquem à criminalidade. Já as casas de trabalho (working houses) eram dedicadas àqueles que eram
relutantes à atividade profissional, que muito sumariamente, pretendia reduzir gente inativa à sociedade,

10
que poderiam apropriar-se daquilo que seria doutrem. Utilitarismo consagra a criminalidade da pobreza:
ou não pode trabalhar, ou se pode, porque não trabalha?
Em 1871, é fundado o Império Alemão, que no dia seguinte já possuía uma moeda única,
adotando o modelo inglês do Gold Standard de 1821.

15/10-
A formação de um grupo social é caracterizado pela sua condição social atendendo às
características sociais. E o que tem em comum? A condição de ser operário. Ser operário é como uma
redefinição social importante, porque existe em locais onde a indústria se encontra desenvolvida. As
economias têm de dar resposta, portanto a criação do operariado em Inglaterra é uma das condições
fundamentais para a adesão ao livre-câmbio, a partir de 1846, pois até esta altura a Inglaterra era
protecionista, incidindo sobre a liberalização do mercado de cereais em Inglaterra. Em 1839 terminam os
Atos de Navegação, em 1843 é o fim da proibição da exportação de máquinas, e finalmente em 1846 é o
fim da Lei dos Cereais, o que significa que em meados do século XIX a Inglaterra observa uma nova
dimensão qualitativa. A política alfandegária protecionista tende a beneficiar os agentes nacionais nas
suas exportações e ao mesmo tempo nas suas atividades internas: todos os produtos que entram ou saem
do espaço nacional pagam taxas alfandegárias, existindo uma tendencial conflitualidade entre os dois
fatores. O protecionismo assenta por isso em princípios essenciais da defesa da comunidade, sendo as
atividades económicas desenvolvidas em território nacional. Entre as colónias e outros estados, a
metrópole surgia como se fosse um intermediário, sendo transversal a todos os sistemas imperiais e
coloniais do século XIX. As exceções eram determinadas pela metrópole. Segundo o Ato Colonial, as
metrópoles e as colónias estabeleciam relações de interdependência. Na prática, a capacidade de produzir
matéria prima é alta, mas o investimento é fraco, o que torna esta atividade pouco rentável. Os mercados
coloniais começam a ganhar importância. O protecionismo enquanto política alfandegária corresponde à
proteção do mercado nacional, ou seja, mercados afectos a uma determinada soberania. Em 1846, o fim
da Lei dos Cereais é uma alteração substantiva nas orientações económicas da Inglaterra. A Inglaterra
tinha concebido uma capacidade financeira e exportado o Padrão Ouro, que se torna no sistema monetário
internacional da época, porque se torna na primeira potência industrial. O livre cambismo significa a
redução destes direitos alfandegários, sendo estes direitos uma das principais fontes de liquidez dos
Estados. Ou seja, o estado tem dificuldade em saber o que possuem as pessoas. Para o Estado inglês, a
perda das receitas não é efetiva porque ao aplicar-se uma lógica livre-cambista dá origem a um

11
crescimento do comércio. Ou seja, se reduzir as tarifas alfandegárias e a adoção de um livre cambismo e a
adoção de um comércio externo significam um aumento das receitas. A proibição da saída das máquinas
significou uma perda de rendimentos para a economia inglesa, e a partir de 1843 a Inglaterra assume o
papel da “fábrica do mundo”, ou seja, se é impossível deter a saída de tecnologia, tentam fornecer a
maquinaria para outras nações. Em 1870, parte do parque industrial inglês estava desatualizado, mas não
significa a capacidade da Inglaterra de produzir máquinas mais eficazes e modernas. A Inglaterra observa
dificuldades em acompanhar as novas tendências de uma nova vaga de industrialização no contexto
europeu. De que maneira é feito o processo de industrialização? Durante um longo período, acreditava-se
num período de fases que cria uma lógica transversal entre potências. Se o modelo inglês é a forma de
alcançar a industrialização, a questão é definir se se devem considerar formas alternativas. Na essência, a
discussão tende a querer procurar se houve uma revolução industrial noutros locais. A indústria contribuía
para mais de 50% do PIB, afetando grande parte da população ativa. A fisiocracia (produção de bens e de
excedentes) é a lógica que acompanha a política francesa a partir de 1789.
A França tende a passar por um grande período de carências alimentares, que será a causa da
instabilidade e violência. Serão as necessidades económicas um dos pilares para a Revolução Francesa?
São encontradas fontes que enunciam a adoção de ideias relacionadas com o liberalismo económico.
Entre 1789 e 1799, a tendência da atividade industrial francesa é a de se deslocar as áreas atlânticas para o
interior, que eram o hinterland dos grandes rios. As indústrias, os portos e os entrepostos perdem
expressão e em compensação a economia francesa torna-se mais continental, adquirindo um teor
gradualmente continental. Uma das características da Revolução Francesa é a redução no investimento.
Ou seja, a França estava em défice económico, e uma das consequências é o aumento do desemprego
urbano, em função das alterações nas opções de consumo, e o primeiro impacto da redução dos
rendimentos é a atividade das corporações de ofício dentro das cidades. O desemprego e o surgimento das
carências geram as primeiras ondas de violência.

18/10- A industrialização na França


A França tem um difícil acesso a carvão de coque, nomeadamente no sul; por outro lado, a
orografia territorial não induz a uma integração da estrutura económica- encontra-se a manutenção de
mercados regionais que são muito fortes. O mercado nacional será um dos desígnios da França, bem
como a interligação dos mesmos, sendo um dos ímpetos na constituição de uma rede ferroviária nacional.
No caso francês, destaca-se a força do setor primário, nomeadamente agrícola: a França apresenta
autossubsistência, sendo a maior produtora de vinhos da época (tendências do século XIX, mas já
observadas no XVIII); a França reivindica uma tendência para o fortalecimento da expressão externa da
agricultura, através da excelência dos produtos, sendo que os vinhos são considerados de uma qualidade

12
inigualável, que irá perpetuar a importância da França do ponto de vista agrícola. O processo de
industrialização irá decorrer de forma a não colocar em causa a importância da agricultura, que fica
definida como importante- sendo que o que é francês é que é bom. A indústria alimentar é forte, e a
França antecipa uma das tendências, sendo que um dos propósitos do regime é a estabilização por via do
acesso à propriedade, recorrendo à lógica da desamortização (venda dos bens das ordens religiosas 2 em
hastas públicas, amplamente divulgada), significando uma perda substantiva de rendimento, na perspetiva
de que o investimento fundiário é o mais seguro. Quem comprava terras e antigas propriedades das ordens
religiosas eram mercadores, comerciantes e produtores, ou mesmo agrupamentos de individuais,
caracterizando um processo heterogéneo, ao contrário do que ocorria, por exemplo, em Portugal e
Espanha, onde a transferência de propriedade era feita por grandes capitais apenas. A França assume uma
posição de apogeu no século XIX, já iniciada no século XVIII. O Império Napoleónico começa a efetuar
reformas administrativas com base no modelo francês, da uniformização detalhada- Paris é o centro e
todos os cidadãos da cidade de Paris estão sujeitos aos mesmos direitos e deveres, se bem que o mesmo
ocorreria noutras cidades, sendo governadas pelos perfeitos. Napoleão estabelece sucessivos
enquadramentos para as fórmulas comerciais, com uma visão geopolítica simples: as guerras são ganhas,
mas para a manutenção da Paz é necessário encontrar negócios em comum: os comércios terrestre, fluvial
e marítimos são reformados, são criadas Sociedades Anónimas (empresa com a divisão das ações). Numa
primeira fase pretende-se abolir a estrutura senhorial e promoção a transferência da propriedade; a partir
de 1792 é feita uma nacionalização das exportações, ou seja, só exporta quem está autorizado, em função
dos interesses estatais, indústrias ligadas ao esforço da guerra, originando um período de concentração e
um esforço que leva ao crescimento industrial da França, centrado em determinadas áreas e assente em
formas tradicionais. A Convenção não pretende colaborar com privados, mas sim submetê-los, e para
salvaguardar o abastecimento das tropas e das cidades, irá estabelecer formas de requisição obrigatória do
género agrícola, assegurando que não falta alimento, atendendo à submissão dos agricultores, sendo uma
tarefa violenta. Os privados são imediatamente submetidos às necessidades da França, sendo referentes às
medidas protecionistas da França no período pré-revolucionário. O crescimento do aparelho
administrativo do Estado era a primeira ferramenta para o desenvolvimento da França. Entre 1795-1799,
encontra-se um breve regresso da atividade privada, em medida dos interesses dos grandes comerciantes,
no período do Diretório e posteriormente do Consulado, com a ideia de quebrar a rigidez do Estado e o
monopólio exclusivo em determinados domínios. A inflação aumenta, e abate-se uma crise de fome no
contexto urbano, o que leva o Consulado a implementar medidas para “desafogar” as cidades, tentando
funcionalizar ao máximo outras regiões do país, que leva a um novo entendimento da Europa, que será
mais bem sucedida quanto mais desenvolvida for, tentando assim criar uma Europa independente da
2
Que já se encontravam extintas

13
Inglaterra, enquanto se derrota a Inglaterra através de uma guerra económica. O Bloqueio Continental irá
ter efeitos e consequências variadas:
- desenvolvimento das áreas interiores da França, acelerando a partir dessa altura, revitalizando a
importância dos principais rios e das feiras francas. Napoleão cria uma autoridade que fiscaliza a
navegação no rio Reno.
A Prússia, à semelhança do que acontece na França, irá abolir com a propriedade adquirida
através de “mão morta”, devido ao Luteranismo no contexto prussiano. As medidas irão ser também
uniformizadas, refletindo-se no ponto de vista monetário. O Bloqueio Continental não permite apenas a
modernização da França e dos seus aliados, mas transpõe-se a outros países que não seguiam este modelo.
Diversas regiões preconizam a transferência da indústria para uma área que não a sua, devido ao Bloqueio
Continental, como a Valónia, região belga associada ao espaço francês, devido às suas características,
bem como a sua proximidade à França. O impacto da revolução e do Império Napoleónico irá medir-se na
preparação dos quadros técnicos superiores, sendo uma preocupação do imperador, que na sua crença
seriam importantes para a indústria, originando escolas de engenharia militar civil- promoção das
Academias Politécnicas, bem como o crescimento nos domínios da física, química e mecânica, aspetos
importantes na segunda revolução industrial. Mais, este modelo expande-se para o contexto alemão,
austríaco, suíço e belga- a ideia de que o Estado é indutor, indireta e diretamente pelo desenvolvimento
industrial, através do investimento na formação.

22/10- As dinâmicas da França


A partir de 1815, a França torna-se numa monarquia constitucional, e normaliza-se a vida
política que se estende até aos anos 40. A Norte desenvolvem-se as grandes indústrias com base no
carvão. Nas áreas em que o acesso ao carvão é difícil em França, encontra-se o acesso à turbina
hidráulica, que mostra uma diversificação que se mantém, existindo uma “concorrência” entre a máquina
a vapor e a turbina hidráulica. A primeira revolução industrial é associada ao carvão de coque, e a
segunda associada à exploração da energia hídrica. A indústria francesa é multifacetada, sendo centrada
nas necessidades dos mercados locais. O padrão francês continua a ser a reprodução do setor agrícola.
Tendencialmente, a França produz excedentes e neste contexto as indústrias que utilizam a turbina fazem-
nos perceber que a indústria acompanha as lógicas industriais, havendo uma lógica congénere entre a
indústria e a agricultura, diversificando os vários mercados regionais. Entre 1820-30, a França tem um
projeto político assente no seu desenvolvimento económico, como os primeiros projetos para o
desenvolvimento dos primeiros caminhos de ferro, numa lógica que não é inicialmente bem sucedida. A
visão francesa induz a um Estado que intervém na economia, mantendo os contingentes da população
rural, e mais do que isso o acesso à propriedade. O final das guerras Napoleónicas traz consequências,

14
sendo que uma das principais é o crescimento da indústria francesa; França perde territórios, tendo que
pagar indemnizações de guerra, sendo que estas valências constituem fatores para a hegemonia da França
no século XIX. Em 1830, a França debatia-se com o problema das perdas territoriais e de como as
compensar, sendo esta a ideia da expansão territorial, que poderia colmatar com as perdas, levando à
expedição a Argel por Carlos X. O modelo da monarquia de Orleães pressupõe a estabilidade económica,
a obtenção de rendimentos e a inserção da classe média. A nova modalidade passa pela inclusão da
França nos sistemas comerciais e pelo desenvolvimento da praça francesa. A expansão além-mar tem a
ver com a visão de uma França tinha sobre as colónias: por exemplo, Argel não é vista como colónia, mas
como um território francês: não era administrado pelo “ministério das colónias”, mas sim pelo “ministério
do interior”. Uma das tendências é a aproximação ao Reino Unido, sendo uma das tendências que trará
problemas à economia francesa graves problemas com o final da monarquia absoluta, sendo estabelecida
uma entente cordial entre as monarquias francesa e britânica, que irá originar uma forte oposição interna.
Se o tratado seria favorável para a agricultura francesa, não o seria para a indústria francesa.
No espaço urbano, começou a existir uma ideia de tentar reduzir a criminalidade, sendo que no
campo esta não seria tão “importante”, ou até mesmo “punível”. Assim, temos crianças abandonadas que
crescendo num ambiente pobre, podem dedicar-se a uma vida indigna, sendo assim necessário combater o
pauperismo, e rejeição da pobreza, porque o pobre é o “ser” mais básico que alguém poderia ser. O pobre,
desesperado, pode ir além daquilo que o enquadramento jurídico e as leis lhe impõem. Em 1846/47 e
inícios de 1848, o desemprego urbano aumenta, que irá aumentar a pressão dos setores oposicionistas da
monarquia francesa. Um dos princípios da segunda república francesa é a ideia de que a dignidade do
homem está diretamente associada ao trabalho, sendo a reação mais imediata ao pauperismo. Ou seja, a
dignidade do homem depende do seu desempenho em face à sociedade, cabendo ao Estado que aos
indivíduos não faltará trabalho, o que confere à industrialização da França numa prioridade.
Tendencialmente, induz-se as pessoas a abandonarem o espaço urbano para se deslocarem para o espaço
rural, de forma a aliviar a pressão sobre as cidades. A oposição à monarquia de Luís Filipe de Orleães
originará um surto que percorre o Norte e Sul italiano, o Império Austríaco, a Confederação Germânica,
sendo assim definida a Primavera dos Povos3.

25/10- Ponto de situação dos trabalhos. A Ascensão da Bélgica no século XIX


A Flandres e a Valónia projetam-se para uma zona que ultrapassará os seus limites. A ideia desta
projeção económica além do espaço imediato significa o interesse da Flandres e da Valónia de estarem
inseridos na República Batava e reforçando a ideia da integração destes dois territórios. Querem ser
3
Dá-se o nome de Primavera dos Povos ao conjunto de revoluções que ocorreram na Europa Central e Oriental, em
reação a regimes autocráticos, crises económicas e a falta de representação política das classes operárias, bem como a ascensão
de ideais nacionalistas

15
inseridos no espaço francês devido ao perfil (flamengos e valões) industrial dos indivíduos e perfil
agrícola da região. Existe uma revolta contra a fiscalização, e a França rejeita qualquer ligação e inclusão
política da Bélgica, bem como de uma monarquia dual a prazo. Em 1830, abre-se um contexto beligerante
entre os Países Baixos e rebeldes flamengos e valões. Devido à neutralidade dos Países Baixos em 1815,
faz com que a Bélgica recém formada seja um reino neutro a partir do ano de 1830. Entre 1830 e 1839 o
rei dos Países Baixos aceita a independência de duas províncias que lhe erma importantes
economicamente, mantendo uma ambiente de guerra, que só termina com o Tratado de Londres que
reconhece a independência. A Bélgica não pode ser uma potência militar, mas o que se lhe coloca é como
reagir num contexto político adverso, colocando-se a questão de como é possível que o território
mantenha a sua independência, numa tendência uniformizante. A Bélgica tem o desafio de como se
manter no enquadramento europeu da época, tornando-se numa potência industrial, acontecendo por via
dass necessidades e expetativas do estado: o estado intervém diretamente no crescimento, mediante
instituições financeiras, sendo a primeira a Société Génerale, sendo o instrumento de intervenção mais
frequente do Estado, através da concessão de crédito a todas as atividades lucrativas, e por via da banca,
não sendo uma lógica seletiva, investindo-se em todas as indústrias (Valónia Católica, Flandres
Calvinista). A Bélgica otimizará a sua economia numa lógica de conglomerado. Os recursos naturais são
também desenvolvidos, de forma a transformar a Bélgica na “primeira porta de entrada” do Atlântico
através do seu Hinterland. Instala-se uma cintura industrial que se especializa na transformação primária
dos géneros agrícolas que venham do espaço europeu. Em ultima análise, tornam-se numa etapa
fundamental para as outras indústrias. Assim, a nova Bélgica chamará a si o novo papel e uma primeira
etapa de transformação das matérias, especializando-se na produção de metais não ferrosos, como o
cobre, sendo a potência com capacidade operativa da primeira para a segunda revolução industrial, e irá
inovar com o desenvolvimento de carris com a bitola estreita, ou seja, favorecendo a mobilidade urbana.

29/10-
No caso belga, o estado irá ter um papel atuante, ao contrário do caso da Inglaterra, no qual o papel
do estado é mais passivo. A Bélgica não poderia tornar-se numa potência militar, porque ao abrigo do
Tratado de 1839, a Bélgica ter-se-á que manter neutra (e sê-lo-á), caracterizando-se como um espaço
tampão para o possível expansionismo francês para os Países Baixos. As necessidades geoestratégicas da
Bélgica fazem com que o país canalize os rendimentos e receitas para os seus próprios interesses. Surgirá
algo como a banca mista, encontrado na Bélgica e no espaço alemão. A banca mista angaria recursos
financeiros e concede também empréstimos. A banca mista consagra a junção de funções que se
encontravam separadas, numa tentativa de agir em face do investimento necessário. Respeitante aos
mercados belga e alemão é a criação de uma banca com um maior raio de alcance. A banca que recolhe

16
depósitos e não concede empréstimos está salvaguardada. A Bélgica estimula uma perspetiva compósita
que se destacará em duas atividades: o desenvolvimento de carris de bitola estreita para circulação urbana
e na metalurgia de metais não ferrosos, sendo protagonista de uma das maiores revoluções agrícolas do
século XIX, focadas na produção de açúcar de beterraba. A Bélgica autonomiza-se no que toca à
produção açucareira.
O caso da Prússia é diferente. Esta economia é de cariz agrário, de mão de obra barata e eslava,
sendo que uma das características do reino prussiano é evitar a nacionalização da terra, devido à
preferência pela mão de obra eslava.

5/11- O Império Russo


O império russo é quem estabelece a ordem, que resulta na configuração. Mantém a designação de
confederação germânica, porém há a prevalência do estado mais forte (Prússia) sob os mais fracos. A
Prussificação da Alemanha. Em 1867 cria-se o Império. A partir daí há uma nova realidade. Uma das
dinâmicas do século 19 é o contexto de afiguração prussiana, com o objetivo de visar o Império
Austríaco. Quando se fala do tratado de Paz entre a Áustria e a Prússia, em 1863, ou os termos da paz
entre a Prússia e a França, chega-se à conclusão que a Prússia não tem pruridos em atribuir grandes penas
aos países vencidos, exceto à Áustria. O único objetivo é derrotar a Áustria para fazer prevalecer a
Prússia. O que se forma no século XIX é uma pequena Alemanha. O nacionalismo francês distingue-se do
alemão, uma vez que tem de se partilhar alguns valores da revolução. Uma lógica adotada na Europa do
Sul. Esta lógica é distinta da visão de Reder, a nação antecede o estado, não é o individuo que escolhe a
nação. tem a ver com a força linguística e cultural. Até 1870, e mesmo depois, vai estar repartido entre
unidades de natureza diversas, que se vão simplificando. Altera-se a partir de 1919, há a redução da
Áustria a Viena e arredores, visto que esta era considerada a pequena Alemanha. Há a restrição e
contração drástica de uma das maiores potencias europeias para uma das mais pequenas. Ficou tão
pequena que evoca o princípio nacionalista e diz que são alemães, querendo fazer parte da Alemanha. Os
Fazedores da Paz dirão que não. Os curdos também não têm direito ao princípio da autodeterminação, tal
como a Irlanda. No entanto a Inglaterra perdeu a guerra e foi obrigada a conceder esse princípio. Em
1919/20, a grande Alemanha foi negada. Em 1925 há uma união aduaneira que incluía a Alemanha e a
Austria, Gustav teve que abdicar da ideia. O que aconteceu em 1919 e em 1924/1926 são elementos
contrastantes, uma vez que o que se queria na primeira data, não se ambicionava na segunda. Quando se
chega a 1949 há a decisão da Áustria ficar do lado ocidental, pagando com neutralidade.
A ideia é fazer os eslavos recuar para lá dos montes Urais, criando um espaço vital. A política de
Guilherme II é constituir um local de interesse que não tenha fronteiras. Há sucessivas tentativas para

17
germanizar as terras eslavas, sem efeito, o que induz que o tratamento que vem a ser dado não
corresponde a uma motivação imediata, mas violenta.
A caracterização de potência irá mudar. Na prussia há um dilema como manter as necessidades da
população ou adequar o aparelho económico às outras potências. Não ter indústria significa estar
dependente de outros, correspondendo à subordinação da indústria.
O brasil, para ser independente, assumiu um tratado de comércio com a Inglaterra. A ligação é
mantida com Portugal por causa do rei. As novas potências passam a focar-se no Brasil. A américa para
os americanos é o controlo pela potência mais forte, neste caso os estados unidos. Ao longo do século
XIX, Portugal consegue ramificar as suas relações, com casamentos régios. Age também como potência
neutral. A Alemanha avança nos territórios portugueses em África, sendo que a Inglaterra pede a Portugal
para que não diga uma palavra sobre o assunto. Não compensa ir à guerra na Europa, com o risco de
correr os territórios além mar. Os ingleses retirariam os seus apoios nas colónias. Quando há uma grande
guerra, Portugal fica sempre na corda bamba sobre o que a Espanha vai fazer.
A Prússia desenvolve-se em salvaguardar os seus interesses e em manter o seu espaço. Não há uma
primeira fase ligada à indústria têxtil, a tradicional da Europa: lanifícios. Não tem o acesso barato e
facilitado ao algodão, mantendo as lógicas de desenvolvimento da indústria com ganhos relativos, não
havendo grandes desenvolvimentos. A Prússia tem materiais importantes, como o carvão e ferro. Estas
duas dimensões transforma a estrutura industrial prussiana. Falamos de duas valências exigentes no que
toca a investimento e serão muito bem-sucedidas se interagirem. A ideia de verticalidade na Prússia. As
indústrias comunicam entre si de forma a produzir os bens. São estruturas que agregam capitais, núcleo e
estrutura humana associada. É fundamental na Prússia e depois na Alemanha. Não se pode ter indústria
sem operariado, e este grupo é um fator de instabilidade interna no que toca à Prússia. Há um avanço do
estado com a reforma da propriedade rústica, mais a sul, a ideia de ênfase de injeção de capital, sendo que
uns foram bem-sucedidos, outros nem por isso. Há uma lógica de seleção no espaço a desenvolver e a
afirmação da indústria de extração mineira e metalúrgica, indústria pesada. Tem de haver procura de
mercados para relação privilegiada. Em 1818, alguns estados alemães decidiram criar uma união
aduaneira, estados do sul da Alemanha com níveis razoáveis de industrialização, sendo que a Prússia é
convidada. Esta não via com bons olhos, uma vez que haveria controlo de soberania. O grande problema
da Prússia é a eventual exclusão política. À semelhança do que encontramos no processo de
industrialização (relutância na modernidade, mas que a implementa), o mesmo vai acontecer com essa
situação do espaço aduaneiro. (pesquisar por List e as suas medidas) Pretende-se fazer crescer o Estado
com o mínimo de custos associados, querendo crescer no mercado e posteriormente no lucro. Zollvenein
tem a ideia de uma criação aduaneira estrita, onde se vê a abolição das tarifas aduaneiras entre os
elementos desta união, existe uma tarifa externa comum para o comércio com países extraunião. É

18
acordada em face da percentagem média da união. Existe um problema de fundo, que consiste no fim da
fronteira externa face ao exterior, que deixam de ter taxas alfandegárias, que era a maior receita. Aquilo
que se estabelece é que esses estados com fornteira externa, são obrigados a dividir com os outros as
receitas que foram angariadas no comércio externo. O critério adotado será a expressão demográfica. O
Zoll vai impor a moeda única, o sistema de peso e medida e obriga lógicas de … económica para
dinamizar as relações comerciais. Significa a capacidade de criar vias terrestres de forma a juntar os
centros produtores, havendo uma unificação de transporte ferroviário que se pretende estreito. Um
problema é a dinâmica de capital. Umas das características do mercado alemão corresponde à afirmação
de um modelo de consumidor único, que se encontra no mercado norte-americano, que tem a ver com o
caráter pouco exigente do consumo. Os frequentadores do espaço de Zoll terão variedade de produto, uma
sociedade que importa o acabamento, sendo esta propensa ao pronto a vestir, não havendo problema que
alguém tenha o mesmo tipo de roupa que o indivíduo. Há grandes comunidades operárias que crescem,
mas também a população rural tende a manter-se, um povoamento relativamente equilibrado. A estrutura
do povoamento tem uma lógica tendencialmente fragmentada. A afirmação do operariado tende na
criação de um fator social nos consumos que são semelhantes. Uma das características é a não especial
preocupação com os costumes domésticos, por exemplo as opções no que toca ao vestuário. Na Alemanha
não se encontra uma grande indústria algodoeira, mas encontramos uma grande industrio de pronto a
vestir. Isto corresponde a uma sociedade que está adaptada a poucos consumos, isto no século XIX. A
tendência dos Zoll é a exportação, induzindo uma elevação das taxas dos produtos importados e adotará o
Dumping: os produtos que entram no espaço alemão são muito caros, vendendo os seus produtos abaixo
do preço normal. É propositado para não induzir ao consumo de determinados produtos. Continua a
importar, mas exporta muito barato, preparado para o impacto do aumento dos preços das taxas. Ou seja,
como os Zoll possuem uma taxa alfandegária elevada, os outros farão o mesmo com os produtos
provenientes deste espaço.
O preço que a Alemanha paga para se tornar uma potência é através da valorização de produtos. Os
carteis são identidades que detêm o poder económico, que controlam a concorrência. Através das
concentrações, sejam elas horizontais ou verticais, com o objetivo de criar grandes empresas, que
associadas aos cartéis, permite-se fazer (?) preços. A ideia é escorar o espaço interno e propiciar o espaço
externo. Significa o protecionismo alfandegário. O Zoll cresce a partir de 1864 (?), em 1871 aplica uma
tarifa alfandegária protecionista, em vigor a partir de 1873. A Alemanha irá tornar-se uma grande
potência, principalmente no que toca ao aço.

8/11-

19
Devido à existência das grandes empresas. Não existe rivalidade no espaço alemão. No século XIX,
após a Segunda Revolução Industrial, a capacidade de produção aumenta, que também irá reduzir os
preços, como é o exemplo do aço.
Os processos em curso da transformação do espaço alemão tornam evidentes algo que se anunciava
na Bélgica: o advento de uma forma nova de capitalismo. O capitalismo é uma interação entre o banco e a
indústria. Entre 1780, o início da revolução industrial e a segunda metade do século 19, a banca altera os
seus procedimentos (a banca do velho mundo e outros bancos) o capitalismo financeiro estará associado
às indústrias com grandes necessidades de capitais, como a siderúrgica, dando a uma nova revolução. O
aço revoluciona a indústria naval, das máquinas e por aí. A segunda parte do século 19 vai ter efeitos
multiplicadores, desde o espaço agrícola até a o extraeuropeu (aço). A indústria química também tem uma
grande influência. O aço é uma liga, não é inventado no século 19, mas sim a sua forma de trabalho. Com
a aparição deste material, há uma redução do preço e uma maior utilização do aço. Com a indústria
química há a produção de novos produtos fertilizantes para a agricultura, para a produção de frio. (O gado
nacional era mais valorizado que o gado importado que vinha congelado). A tuberculose é a principal
doença do século XIX, sendo o consumo de carne bastante importante. O frio revoluciona a capacidade
armazenadora, tanto a nível industrial como caseiro, sendo este último o responsável pela criação de
eletrodomésticos que consigam conservar alimentos no frio. A indústria química tem um efeito
multiplicador na indústria têxtil, na borracha (mais indicada para as rodas da bicicleta), óleos industriais.
A segunda revolução industrial significa novas indústrias, novas fontes de energia, otimização das
indústrias antigas. Os estados unidos são os pioneiros da exploração de petróleo no século XIX, embora a
Roménia seja a principal. Há uma autonomização de combustível (?), não há falta de carvão em
determinados pontos da Europa, em que o desenvolvimento acelera, porém o aceleramento da segunda
revolução permite a utilização de turbinas para produção de energia (energia hidráulica), emergindo como
potências a Suíça e a Suécia. Nestas duas potências, o acesso ao carvão era particularmente difícil. A
Suécia era rica em mineral de ferro, mas exportava por falta de carvão, não permitindo a sua
transformação. Estas industrializações têm presentes o capitalismo financeiro. A partir de 1843, a
Inglaterra permitiu a venda de máquinas. Nestes novos países industrializados vemos uma aplicação de
indústria de engenharia, por meio de energia alternativa, aproveitando a nova tecnologia para produção de
eletricidade ou mesmo para se industrializar (difundiam energia para outros países para que estes também
se pudessem industrializar, uma vez que não tinham carvão). A Suíça adere ao protecionismo, enquanto a
Suécia é livre cambista. Não se altera a natureza das exportações, mas o grau de valor acrescentado da
mesma, por exemplo, a Suécia exportava madeira, só que a partir de agora vendia o material já
transformado, acrescendo o seu valor devido ao custo da produção. Também aparece nesta altura o

20
crescimento da indústria alimentar infantil (Nestlé). As indústrias do capitalismo financeiro estão também
dependentes das universidades, exigindo também um elevado financiamento.
Encontramos modelos híbridos, como o caso da Itália devido à sua unificação, sendo esta
economicamente forçada. O avanço do Piemonte atende ao crescimento industrial, em contraste com o
centro e sul italiano, mais ligado à indústria. A criação de uma grande unidade política como a Itália, não
cria uma economia estável, tendo como consequência a centralização dos capitais centro e sul a norte, o
desinvestimento da atividade agrícola, tendo na prática uma situação irregular, onde mais uma vez o
Norte enriquece, enquanto o centro e sul vai paulatinamente empobrecendo. A constituição de um grande
mercado não significa uma mudança imediata agrícola nem alastra o seu terreno. O fim da confederação
alemã obriga os austríacos a uma complementaridade, não existindo a implementação de um mercado
único. O império austríaco domina uma parte da Itália. O império russo é uma exceção: ao contrário do
que se diz em relação à Alemanha ou Inglaterra, a Rússia tem tudo para que aconteça as duas revoluções
industriais, mas não tem capital primitivo. Não há uma burguesia capaz de estabelecer lógicas de
consumo interno e os operários possuem pouco rendimento. Há determinados países que investem na
Rússia. Estes capitais são aplicados na criação de infraestruturas de indústria pesada. Há por um lado a
grande indústria em capitais privados, enquanto as indústrias de consumo têxtil e alimentar está assente
em capital russo. O fim da servidão induz à criação de mecanismos para fixação de trabalhadores nos
campos, criando a NIR (?), em que a terra é pública e dividida em parcelas, distribuídas pelas pessoas de
acordo com o seu agregado familiar (comunidades rurais), para promover a fixação e a autossubsistência,
e passam pela rotação de terrenos, para evitar que alguém assuma a terra como sua. Há a propriedade
rural privada (onde estavam os servos que tinham de pagar pela sua liberdade) e a propriedade rural
publica. A climatologia da Rússia impedia os movimentos, uma vez que as temperaturas no Inverno eram
muito rigorosas, não valendo a pena ser uma potência que em determinadas fases era adormecida. O
Império Russo é considerado a forma mais rápida e segura de aplicar capital, por países como a
Alemanha, França e Bélgica. A construção de caminhos de ferro é a forma preferencial para ascender
economicamente. O capital e tecnologia tem uma taxa de juro crescente, uma vez que quanto maior o
custo, maior a dependência externa. O Império Russo é diferente pelos custos da modernização, entre
outros. O Movimento Terra e Paz assenta sobre a estrutura dos públicos e privados, procedendo ao
aniquilamento da estrutura instituída. A propriedade privada irá estribar-se no movimento, cujo objetivo é
a destruição do que existe. É preciso arrasar para criar novas estruturas, e é necessário que esta destruição
seja completa, evitando continuações do modelo anterior. A violência como forma de propiciar a
modernidade política.

21
12/11- A industrialização americana
No século XIX, encontram-se potências extraeuropeias industrializadas. A industrialização não é
transversal à totalidade da Europeia, ocorrendo a diferentes ritmos, face aos mercados externos. A
industrialização não é um fenómeno em exclusivo do velho mundo, podendo ser apontadas duas potências
importantes: uma das características das 13 Colónias é que a sua estrutura económica estava moldada às
necessidades da metrópole (nomeadamente Pacto Colonial). O algodão é importante para esta moldagem
da economia, no entanto surge a questão de que forma se pode transportar o algodão em rama, e nas
colónias africanas se chega à melhor forma de acomodar o algodão nas embarcações, para que resistisse
ao transporte marítimo. Em 1784 encontra-se uma fase “antecipatória” que irá induzir a um
desenvolvimento industrial que decorre da formação de um mercado nos Estados Unidos da América. Nas
colónias do Norte, a indústria foca-se nos consumos internos das comunidades, com uma expressão
demográfica crescente, uma tendência nos Estados Unidos da América, que evidenciam a situação inversa
da Europa: a Europa tem muita gente para pouco espaço, enquanto que os E.U.A possuem pouca gente
para o espaço disponível. Assim, adota-se uma política emigratória para atribuir mão de obra, prometendo
aos europeus aquilo que a Europa não lhes concede. Nos EUA ocorre tudo ao mesmo tempo, sendo que
esta realidade não é comparável com outras. Na primeira metade do século XIX, emigram pessoas com
capacidade de investimento da Inglaterra, dos Estados Alemães e dos Países Baixos, cujo objetivo é
alcançar no contexto norte-americano aquilo que é difícil de obter. Os Estados Unidos tornam-se
pioneiros na mecanização intensiva da agricultura, também contribuído pelo tamanho da propriedade nos
Estados Unidos ser, em média, maior que na Europa. A mecanização era feita à distância, ou seja, as
máquinas eram compradas a outros territórios, sendo que nos Estados Unidos origina formas
diferenciadas de produção em série, que se aplica ao mercado norte-americano por ele ser algo vasto. O
pressuposto de uma produção em larga escala é uma lógica que vai de alguma forma animar as indústrias
norte-americanas, para os mercados norte americanos. Se os mercados se desenvolvem desde o início da
sua industrialização, os Estados Unidos industrializam-se sem que as outras economias se apercebam do
que se está a passar, porque não há alterações na política das exportações norte-americanas. Existe, no
entanto um aspeto fundamental, correspondendo à exportação dos cereais norte-americanos. Fundados no
final do século XVIII, rapidamente os EUA se transformam num grande exportador de cereais, duelando
com o Império Russo. Em qualquer dos casos, encontram-se duas potências importantes produtoras de
trigo, e uma das características do trigo americano é o seu preço reduzido perante os preços adotados
pelos outros produtores europeus, o que simboliza a ameaça que os EUA eram para a produção agrícola
de outros territórios europeus. A fundação do mercado vai colidir com a capacidade de concorrência das
potências europeias. As indústrias desenvolvem-se assumindo a falta de mão de obra, e são indústrias
com escassa ambição em termos externos, sendo o principal objetivo alcançar a cota no mercado interno,

22
em oposição a uma lógica assente no mercado interno. As colónias a norte possuem aptidão industrial, e
as do sul mantém o seu clima maioritariamente agrícola. A política alfandegária americana assenta num
perfil de protecionismo moderado que se pode confundir ao livre-câmbio inaugurando um dilema: a
perspetiva do livre câmbio põe em causa o crescimento interno dos estados com industrias pouco
desenvolvidas. Primeiro, os setores ligados à exportação agrícola não podem deixar de o fazer,
inaugurando uma lógica de compromisso, ainda que se encontrem momentos de tensão até aos anos 60. A
esperança média de vida aumenta neste território, em muito contribuída pela emigração europeia mas
também asiática, que aumenta o cosmopolitismo do território. Nos anos 60, a natureza do Estado é
também remodelada, ou seja, novas opções estaduais face às orientações federais, estando em debate se
os Estados Unidos são uma confederação ou uma estrutura federal, existindo um confronto em torno da
política alfandegária, para a proteção da estrutura económica. Na Guerra da Secessão (1861-1865), uma
das questões fundamentais é quem dita a política alfandegária, e de que modos é que a dita. Reduzir a
Guerra para um confronto a favor/contra a escravatura é algo simplicista que não estuda efetivamente o
confronto. A evolução da guerra e a abolição da escravatura terá como consequência uma diversificação
do fenómeno da discriminação racial: os movimentos abolicionistas situam-se mais no Norte.

15/11- As dinâmicas norte-americanas


O mercado japonês não se encontra fechado ao Ocidente, o que também não quer dizer que esteja
100% aberto. Assim, a sua política comercial é seletiva, que não permite uma concentração elevada de
trocas comerciais, sendo conhecedor da realidade geopolítica e económica do mundo em que se insere.
Em 1854, o ultimato dos Estados Unidos faz com que o Japão adote uma abertura transversal. Os E.U.A.
pretendem o controlo comercial. Em meados da década de 50, os problemas estruturais da economia são o
princípio do free banking: os governos têm a certeza de que é impossível o controlo da atividade
económica ao abrigo dos princípios liberais. A rapidez e a facilidade com que se empresta dinheiro sem
que haja rácios previamente definidos induz ao espetro frequente da falência, sendo que do ponto de vista
cultural a falência não tem o impacto que tem no novo Mundo, sendo algo normal; as instituições de
crédito americanas, de diversas dimensões, que não excedem um determinado patamar, induz à prestação
de crédito a curto prazo, e a tendência é para uma imobilização que obriga os credores a um esforço
considerável. Na prática, os E.U.A serão objeto da atenção da banca inglesa, banca que presta créditos de
longo prazo. Se as instituições possuem uma relativa fragilidade significa que ao longo do século XIX
encontra-se uma lógica de avanço e recuo, observando-se avanços e recuos da atividade económica ligada
à estrutura do crédito, sendo uma questão apenas resolvida em 1913, após a criação do FED (Reserva
Federal dos Estados Unidos da América). Está assim lançado o plano de fundo para a Guerra de Secessão
Norte Americana, sendo uma guerra de cariz industrial, com o desenvolvimento da estrutura viária. Esta

23
guerra irá ter efeitos transversais: os E.U.A. são o principal produtor de algodão em rama, sendo que esta
ficará bloqueada, causando a “Segunda fome do algodão”- a “primeira” foi causada com a Guerra da
Independência. No Egipto, são criadas grandes plantações de algodão, disputadas pela Inglaterra e França.
Tudo o que os E.U.A. deixaram de abastecer, por estarem “ocupados” com a Guerra Civil, outras nações
produzem aquilo que começou a faltar. Em 1865, termina a guerra, e até 1870, os capitais do norte são
transferidos para o sul, sendo o período durante o qual há uma alteração dos pressupostos: as grandes
unidades produtivas deixam de poder produzir, por assentarem em mão de obra que deixou de existir.
Neste período, dá-se uma transferência massiva de propriedade, vendida a um preço inferior àquele que
verdadeiramente valia, encontrando-se uma uniformização dos capitais e dos agentes associados às
unidades produtivas- manter-se-ão como estavam, mas são desenvolvidas pela lógica de arrendamento,
sendo divididas em parcelas, em condições prévias: fixação do preço da matéria prima produzida e a
venda da matéria ao proprietário da terra. Uma das consequências de 1865 é a aproximação dos pontos de
transformação face às áreas produtivas: não se fala de uma tecnologia que se renove ou a abertura de
fábricas que abrem, mas sim a ideia de que fábricas que abriram no Sul com lógicas iguais às primeiras
fábricas de têxteis fundadas em Inglaterra, sendo abundantes em mão de obra e que permitem ao pouco
investimento tecnológico, uma vez que agora existe mão de obra abundante: antigos escravos e antigos
proprietários. É um período excecionalmente traumático, com uma forte retransformaçao da economia
respeitando correntes que emanam do Norte. Assim, os E.U.A assumem na sua plenitude o que os setores
do Norte pretendiam, ou seja, o protecionismo alfandegário. É entre 1870-1914 que a tendência dos
Estados Unidos se revela nas tarifas alfandegárias na importação de bens. Encontra-se uma espécie de
reconversão das tarifas um por pouco por toda a Europa como forma de replicar ao avanço protecionista
dos Estados Unidos: se o período do livre câmbio se inicia e 1860 com o tratado de comércio de
navegação entre Inglaterra e França, a revisão alfandegária dos E.U.A irá originar outras revisões em
nações como a Espanha e França, encontrando-se uma tendência protecionista generalizada. A partir de
1880, tem-se a transformação da atividade comercial com novas lógicas comerciais de bilateralidade. Nos
anos 80 surgem as guerras comerciais entre potências industrializadas, sendo uma ideia conforme às
expectativas europeias, também em muito ajudadas pela alteração do comércio mundial; segundo,
existem propósitos para salvaguardar as economias, significando que não se pode perder para os outros
(recursos financeiros, minerais, humanos…)- o Imperialismo significa o advento da multiplicação das
metrópoles, transformando o espaço extra-europeu numa “réplica” da Europa. Este fenómeno é o que
marca o início da Paz Armada, existindo características da economia norte-americana que se irão
distanciar das demais, gerando novas lógicas de organização das empresas, que não obstante serem
proibidas pelas lógicas, as empresas permanecem porque o estado norte-americano não possui
capacidades para as controlar, e as empresas crescem atendendo à dimensão de escala do mercado,

24
atendendo a ideia de que os mercados podem ser controladas por empresas de escala. A capacidade de
investimento e as lógicas de liberdade no mercado interno irão propiciar ganhos de escala muito grandes,
o que faz com que os E.U.A sejam os maiores produtores mundiais de aço e da indústria química, não
sendo um fenómeno tardio, mas iniciado na esteira da independência norte-americana. No final do século
XIX, são a primeira potência industrial do mundo, não sendo a única em território extra-europeu, sendo a
outra o Japão, já verdadeiramente industrializada. A lógica de desenvolvimento do Japão decorre da
necessidade de sobreviver à adversidade, por via dupla: as potências apenas são úteis se forem
industrializadas, e segundo as potências asiáticas têm pouca hipótese de sobrevivência face à ostensiva
industrialização do Ocidente. No caso japonês, a lógica da alfabetização estrutural é importante,
sobretudo das faixas média e nova, com o objetivo de habilitar ma força de trabalho confinada a
indústrias que não da primeira revolução, visto que o Japão é pobre em carvão e minérios, possuindo
também dificuldades de aceder a matérias-primas, que ao juntar-se à situação de défice alimentar, agrava
ainda mais a situação. A soberania do Japão implicava a revolução da demografia, sendo que ao Estado
importava detalhar as orientações fundamentais na indústria. Na prática, o Estado foi o promotor direto da
industrialização sendo que as fundadas são de capital público. Nos anos 80, o Japão depara-se com uma
crise interna, resultante da reorientação, afetando nomeadamente agricultores devido à fixação das rendas;
segundo, a persistência de uma ideia de uma regressão da capacidade expansionista dos E.U.A. Nos anos
90 estabelece-se que os setores que sejam estratégicos não podem ficar dominados por capitais
estrangeiros: o Japão abre ao mundo, porém existem setores da sua economia impedidos à atividade
estrangeira, sendo uma espécie de revitalização cultural na sua essência. O impacto é que não se faz
guerra nem se conquistam territórios. As Zaibatsu são empresas que a economia japonesa encontra para
amenizar o peso da dívida pública, impedindo que estas se dirijam para capitais estrangeiros, visto que o
Japão precisa destas empresas.

22/11- AULA ZOOM ESTA QUARTA-FEIRA, DIA 24/11/2021 ÀS 20H.


O estado torna-se o agente impulsionador da industrialização. Nos anos 80 dá-se uma perda rápida
na liquidez, e o Estado enfrenta insolvência. A maneira que o Estado encontra é amenizar a dívida. A
manutenção numa questão de insolvência ameaça levar o Estado à falência. Assim, o estado privatizava
algumas empresas, as Zaibatsu. O objetivo é não perder as empresas, mas simultaneamente não permitir a
ascendência estrangeira na economia japonesa: o dilema do Japão é como crescer, livre das potências
industrializadas, ou seja, tornar-se numa potência. Na prática, o seu objetivo é canalizar para a estrutura
industrial. No entanto, se o estado vendesse as empresas a preços altos, os capitais japoneses não seriam
suficientes. Ou então, prefere “vender barato”. As Zaibatsu são um sustentáculo da economia japonesa e
da sua política financeira. Em compensação, estas empresas agem dentro do espaço das prioridades do

25
estado japonês, ou seja, as Zaibatsu não estão subordinadas ao Império, agindo até aos anos 90 do século
XX ao abrigo da expressão da vontade dos agentes públicos e económicos japoneses.
Uma das características da economia norte-americana. São criados mercados alternativos em que
seja possível a duplicação do contexto metropolitano, estando em face daquilo que fica conhecido como a
corrida a África, que em certos casos adquire uma feição económica. Nem todos os sistemas coloniais
foram iguais, e em alguns casos encontra-se uma expressão económica em face da conceção que os
Estados europeus/E.U.A. possuem da visão da sua económica face ao exterior. Neste contexto, ocorre a
Conferência de Berlim entre 1884/85, 14 anos depois de uma viragem da política externa americana. Os
anos 70 marcarão a Grande Depressão do século XIX, definida como um conjunto de crises cíclicas que
afeta tanto os mercados europeus como o mercado americano, dando a ideia de uma lógica de
crescimento sucessivamente cortado por momentos de crise, sendo a primeira a de 1783. Nos anos 80,
encontra-se uma nova tendência de crise, quando em face da falência da Argentina, verifica-se uma crise
generalizada na banca Britânica (1889/90). Os credores impõem um bloqueio naval à Argentina,
desenvolvido pela Inglaterra e pelo Império Alemão, que não satisfaz os respetivos interesses. Os anos de
1890 são marcantes nas praças europeia, sendo exemplo a falência do Barings and Brothers, o principal
credor português no séc. XIX. No entanto, acabará por falir no ano de 2004, após ter recuperado. As
crises são cíclicas, resultante dos termos alfandegários vigentes. Assim, a evolução do ponto de vista
económico induz a mecanismos que salvaguardem as economias, em espaços que se podem canalizar a
população europeia em espaço europeu. Neste sentido, a partir dos anos 80, em face da crise europeia, a
tendência é a emergência de espaços coloniais que pretendem ser espaços defensivos para as economias
dos mercados industrializados da Europa, sendo que nos E.U.A. se forma um império imperial,
consolidado através de bases navais. Esta é a última etapa associada à modernização tecnológica, ou seja,
a adoção de caminhos de ferro, a conceção de indústrias que garantam a viabilidade em determinados
contextos. Neste sentido, uma das características da afirmação imperialista é o exercício de controlo sobre
os estados mais carenciados de tecnologia e/ou capitais. O dilema do século XIX é: sem fazer caminhos
de ferro não há crescimento, caminhos de ferro são caros, e não pagar estes créditos levará à falência. O
que encontramos a partir da 2.ª metade do século é uma rede complexa na qual o imperialismo assenta na
partilha, que permite a influência dos estados mais industrializados/preponderância sobre os estados
devedores, acontecendo na Europa mas também fora dela. A principal consequência é uma alteração
geopolítica. No contexto da Europa Central e nas Balcãs é o choque de impérios que pretendem o
controlo económico e político das diversas áreas, sendo o Império Russo, o Império Austríaco e o Império
Alemão que disputam este controlo. Do ponto de vista político, embora exista uma aliança, não quer dizer
que se verifique uma ausência de colisões relativamente à expansão para Península Balcânica. A Rússia
pretende expandir-se (política e economicamente), e a partir de 1907, a Rússia torna-se num atuante

26
permanente. A Rússia pretende, desde o século XIX, o acesso às águas quentes, o controlo dos estreitos.
O Império Alemão não possui interesses imediatos no Mediterrâneo: a partir de 1871, a sua principal
prioridade é afastar a França no contexto mundial. Ou seja, Bismarck tem por certo de que após a guerra
franco-prussiana, a França poderá afirmar-se- então, Bismarck pretende fragilizar e neutralizar a França a
longo prazo, servindo-se de mecanismos económicos. Primeiro, pretende-se não permitir a consolidação
da França numa potência. No entanto, a França começa a expandir-se no Norte de África, mais
propriamente na bacia do sul do Mediterrâneo. A prioridade francesa é a assunção da França neste
espaço. Salvaguardar a incapacidade de uma reação francesa significa ao enfraquecimento da França. A
potência da Tríplice Aliança, face à Entente, está assente perante a Alemanha. Até 1917, a estratégia da
Rússia, da França e da Inglaterra é encontrar o que necessita no espaço extraeuropeu. A guerra torna-se
industrial, mas manter esta estrutura causa o desgaste dos dois blocos: a Alemanha recua pois tenta
converter as estruturas económicas dos conquistados em função dos seus interesses.

24/11 (Aula Zoom)-


Uma das características do período da Paz Armada tem a ver com o perímetro, ou melhor, o
momento conjuntural a partir dos anos 80 do século XIX, e na sequência de constituição de alianças,
encontram-se afirmações defensivas respeitante aos mercados nacionais, bem como a procura de matérias
primas, bem como na procura de espaços para a colocação dos excedentes demográficos. O
desenvolvimento dos caminhos de ferro e das rodovias são caros, e neste contexto emerge o conceito da
Paz Armada, encontrada associada à liga dos imperadores. Assim, encontra-se a ideia de que a paz local
se garante se o Império Alemão se assumir como potência diplomática. Interessa saber qual a centralidade
do Império Alemão, numa lógica de aproximação ao Império Russo. A partir dos anos 80, a ideia de uma
nova Tríplice Aliança (Império Alemão, Reino de Itália e Império Austro-Húngaro). E o que as agrega?
Primeiramente, a vontade de neutralizar a França; segundo, o Reino de Itália, segundo uma lógica de
entendimento de longa duração, pretende suportar uma aliança com os Austro-Húngaros. Mas estas
potências precisam de estabilidade no contexto europeu, mas também de algum refrear no que respeita ao
contexto mediterrânico, e neste sentido, surge uma aliança contranatura: em rigor, o Reino de Itália
reclama territórios do Império Austro-Húngaro, o que torna estranho a aliança de ambas as nações, mas
devido à aliança com o Império Alemão, esta surge como consequência. Assim, os italianos são forçados
a agir em prol a uma aproximação do Império Austro-Húngaro.
Existe uma premissa alemã que exige que se a Alemanha quer ser grande fora da Europa, terá que o
ser também dentro da Europa, aluindo a uma lógica imperialista. No contexto, Guilherme II pretende
conhecer quem é o adversário sobre quem é a potência que este considera que tem de ser ajustada na
perspetiva do imperador. A expansão económica e territorial da Alemanha teria o propósito de, a curto

27
prazo, se duelar com os E.U.A., a primeira potência industrializada do mundo. E como se obtém esta
dimensão? A primeira forma tem a ver com a necessidade de tornar a Rússia numa potência 100%
asiática, estendendo os limites do Império Alemão aos Montes Urais, não parecendo estranho que a
integração da Itália na Aliança resulte da autorização para que a Itália se expanda e neutralize cada vez
mais a França. A ausência de beligerância entre as três potências define também o período da Paz
Armada. No entanto, o arsenais crescem devido a: interesses geoestratégicos fora da Europa, as
necessidades da defesa interna das grandes potências (no caso do Império Austro-Húngaro). Existe
também a ideia de que as potências são mais importantes quanto maior a capacidade bélica das mesmas,
para salvaguarda dos interesses dos aliados. Assim, verifica-se um período de tensões em que cada uma
das potências tende a consolidar a sua condição militar. No Império Alemão, esta dinâmica assume um
relevo importante. No caso da França, encontra-se um comportamento similar. Uma das características da
Paz Armada corresponde à lógica militarista, encontrada nos casos francês, alemão e russo. A
conflitualidade territorial e as expectativas de expansão cruzam os interesses económicos e
expansionistas, algo encontrado pelo controlo económico do Império Otomano.
A Entente Cordial assenta em pontos fulcrais, que não correspondem em momento algum à
obrigatoriedade expressa de algum dos membros agir em prol dos interesses do outro, falando-se de
realidades diversas: a Entente é celebrada em 1905, entre Inglaterra e França, correspondendo a um
momento de calmaria entre as potências. Guilherme II está convencido de que se não for o império
alemão aliar-se ao russo, nenhuma outra potência o fará: assim, a premissa de que o império alemão é um
império central torna-se válida; se não for o Império Alemão a aliar-se ao Império Russo, nenhuma outra
nação o faria. É fundamental para Guilherme II manter os equilíbrios internos do Império Alemão. Neste
sentido, pretende-se alargar o espaço rural para que desta forma a importância do operariado alemão seja
reduzida com base no alargamento da população rural. É na interação destas premissas que Guilherme II
se permite de um afastamento diplomático de Nicolau II, transpondo a ideia de obrigar o Império Russo a
baixar as expectativas de uma aliança entre as duas. Em 1892, há uma lógica de mudança estrutural feita
através da natureza do próprio tratado, o Tratado Franco-Russo, ofensivo e defensivo, mas ao contrário do
da Tríplice Aliança, este não obriga as partes ao cumprimento de cláusulas anteriores, ou seja, a ideia da
agressão transforma o seu aliado no atual beliferante atuante. No Tratado da Tríplice Aliança, uma das
partes tem de consultar as outras antes de declarar guerras, sendo a lógica. O afastamento de Guilherme II
de Nicolau II traz uma aproximação em termos militares e um panorama alterado. A aproximação entre a
República Francesa e a Rússia correspondem à possibilidade de chegar ao Mar Mediterrâneo. Porque é
que a República Francesa se permite a auxiliar a sua aliança com o Império Russo. Um dos motivos mais
importantes é que a França é um dos principais investidores na Rússia. Se a França e o Império Russo
eram aliados, e se a França e o Império inglês se mostram plenos em colaborar, só em 1907 é que se

28
consolida o Tratado da Triplice Entente, tratado que pressupõe a capacidade de integrar o Império Russo
em algo existente desde 1904. Uma das características é o culto ao militarismo, como manutenção dos
interesses nacionais, encontrando a ideia da efervescência da cultura militar. A França e o Império Rusos
sabem que a Inglaterra não irá à guerra sem ser numa última instância.

26/11- Contextos para a Primeira Guerra


Existe um cenário de disparidade de conflitos nas pautas alfandegárias em 1914, e
cumulativamente, existe influência crescente dos contextos imperiais, existindo um conflito entre as
potências que pretendem dominar e territórios extra europeus. Os três “homens doentes” são o Império
Português, Otomano e Chinês. Existem conflitos entre o Império Russo e o Império Austríaco, suportado
a partir de 1890 pela visão germânica. Em 1914, os Balcãs estavam em guerra. Em 1914, Francisco
Fernando é assassinado em Sarajevo, sendo a “gota de água” para o início da I Guerra Mundial. No
entanto, em 1908, é instigada uma nova onda nacionalista nos Balcãs ligada ao movimento pã-eslavista.
Na prática, a atitude austríaca muda a sua atitude devido à sua relação com a Sérvia, e a lógica defensiva
passa a ser reacionista. Francisco Fernando tinha uma visão assente no estabelecimento de uma lógica
tripla, ou seja, transformar o Império Austro-Húngaro numa entidade com 3 composições, concedendo ao
checos um estatuto mais elevado. Em suma, elevar as diferentes componentes étnicas do império,
satisfazendo as necessidades dos mesmos no próprio império: se o Império Austro-Húngaro passar a ser
outra coisa em que os checos e os eslavos se sintam bem, não haverá a necessidade de criar uma unidade
eslava específica no Império, sendo uma ideia que não era aceite pelas elites austríacas, que receavam
uma redução da capacidade atuante de Viena, nem pelos húngaros que se consideravam subalternizados.
Francisco Fernando é relativamente impopular, tanto para austríacos e húngaros. A sua viagem a Sarajevo
é fortemente desaconselhada, porque correria riscos caso a viagem se realizasse, colocando-se a ação dos
Mãos Negras em causa. A declaração de guerra do Império Austro-Húngaro à Sérvia não agradou a
Francisco José. Os termos do ultimato que a Áustria apresenta à Sérvia foram negociados entre Viena,
Berlim e Spach, e este é feito para que não fosse aceite. As autoridades de Viena e Berlim fizeram
questão de quando o ultimato chegasse a Belgrado, o presidente francês estivesse incontactável. A Sérvia
recebe o ultimato e reage com a consulta dos seus aliados, Reino Unido e Império Russo, com
posicionamentos diferentes: o Czar Nicolau II condena o assassinato do arquiduque, assassinado na
Bósnia, num contexto de elevada efervescência revolucionária contra o Império. A posição do Reino
Unido é mais conciliadora, porque tenta a todo o custo evitar a guerra, pensando que a Sérvia deveria ter
algum espaço de manobra para negociar. A ligação entre o Reino Unido e a Sérvia é distanciada, apesar
da aliança diplomática. O objetivo da Inglaterra é que o Império Otomano mantenha a sua importância,
porque caso acontecesse, a presença inglesa no Egito era afetada, garantindo maior preponderância russa

29
no Mediterrâneo Ocidental, e a todo o custo, o Império Otomano deve manter-se. A situação torna-se
grave depois de o presidente francês saber: em Belgrado, a posição que prevalece é a de aceitar o
ultimato, que tinha sido assolada por 2 guerras. A Sérvia aceitará tudo o que conseguir, existindo uma
divisão na historiografia, aceitando até aquilo que ninguém esperava, existindo cláusulas que implicavam
mudanças constitucionais. Belgrado aceita uma lógica negocial. A reação do Império Austro-Húngaro é
de uma lógica negocial. O paradigma da resposta sérvia assume uma temporalidade, justificada com a
alteração constitucional. Viena irá reagir fazendo uso de um entendimento estrito: a ideia de que a Sérvia
não aceita o que é proposto, e com base nisto, declara guerra à Sérvia, no final de julho. O império e as
fronteiras significam, antes de mais, uma grande fragilidade no que corresponde à fronteira húngara. A
Hungria passa por rejeitar qualquer forma de ultimato, passando de relutância para a aceitação em
contrapartidas, com base na necessidade de proteger o espaço Austro-Húngaro: a iminência na guerra e a
participação está mediante a aceitação do parlamento húngaro, e a Hungria aceitará a participação na
guerra com a aceitação das medidas que desejaria. A Hungria vai também à guerra com o propósito de se
tornar independente do Império. A argumentação húngara assenta na evocação de 1848, quando a
insurreição húngara foi esmagada pelo czar russo. A consagração da solução bélica pode significar uma
capacidade económica e operativa do Império. A reação do Czar é a de rejeição, e este anuncia a
mobilização parcial. A questão importante é saber se a Áustria tem segurança suficiente se as fronteiras
estiverem ligadas ao Império Otomano.

29/11- A Primeira Guerra Mundial


No final de fevereiro de 1916, Portugal aprisiona navios das potências, sendo que em março do
mesmo ano, é feita a declaração da guerra a Portugal, por parte da Alemanha. A guerra é de carácter
industrial, e naturalmente tem efeitos imediatos, quer seja beligerante, quer seja neutral. A guerra, sendo
anunciada por poucos meses, pretendendo que esta termine antes do inverno, devido às condições
climatéricas. O primeiro cenário da guerra é a Europa, com intensificação das linhas de combate. As
potências da Entente percebem que a sua relação não é tão cordial; a Inglaterra não cede os apoios que a
França pretendia, a Bélgica é invadida e com esta medida, a Inglaterra entra no conflito. As primeiras
batalhas da I Grande Guerra causam um número de baixas humanas quase que incalculável, justificando a
denominação utilizada. O Japão, por ter avançado para a guerra antes dos Estados Unidos da América é
considerado um problema para os americanos, que gera uma rivalidade no Oceano Pacífico, sendo que os
EUA se mantém neutrais no início da I Guerra. Enquanto estados autónomos, os países americanos
começam a questionar se a sua independência seria afetada por fatores endógenos, sendo que as
identidades nacionais americanas são de facto consolidadas como uma consequência da guerra. Os setores
industriais pressionam os Estados Unidos da América a entrar em guerra, sendo que este país tem mais a

30
perder do que a ganhar. Em 1914, França e Inglaterra estabelecem uma vistoria a todos os barcos neutrais
que circulem no mar do Norte, sendo a questão fundamental o impedimento que as potências neutrais
sejam utilizadas como plataforma para o transporte de mercadorias para as potências beligerantes. A
navegação mercante era analisada, sendo que as cargas tinham que obedecer a um quantitativo
previamente definido: os países neutrais não poderiam aumentar livremente as suas exportações, e de
acordo com a Convenção de Londres de 1908, os países neutrais não podiam ultrapassar o dobro da
média dos últimos 5 anos, o que traz problemas grandes para os Estados Unidos que manterão uma tensão
com as potências europeias. No limite, o presidente Wilson dá voz aos setores industriais que explicam ao
presidente que a entrada na guerra seria importante para que se obtivessem alguns proveitos. Ao declarar
guerra ao Império Alemão, os E.U.A. entram na guerra nas duas frentes, sendo o principal problema
perceber onde é que o Japão chegaria. A China está, desde 1914 a “ir para a guerra”. O cenário lusitano
na guerra inicia-se em África, visto que a Alemanha forçou Portugal a defender as possessões em África.
Os portugueses são auxiliados pela Inglaterra. A China também vai à guerra, para poder participar
ativamente nas negociações de Paz. A preocupação é a manutenção da soberania no espaço asiático, no
momento em que as necessidades beligerantes da Europa se intensificam, e responder a estas se torna
difícil. A guerra torna-se cosmopolita e multiétnica, incluindo africanos a combater na Europa, e asiáticos
a combater em África. A guerra obriga a uma reconfiguração das estruturas económicas, significando
uma alteração das orientações dos estados beligerantes, que chamarão a si a necessidade de coordenar a
política económica: o início da guerra significa uma alteração das funções do estado, porque se torna
fundamental salvar a expressão beligerante, significando que a manutenção das tropas se deve manter
independentemente de todo o resto. Pressupõe-se assim uma guerra total, com ampla participação dos
setores, significando a mobilização de recursos financeiros, porque não existindo dinheiro, não há
manutenção de uma guerra, visto estas serem grandes canalizadoras de capital. Para o Império Russo, ir à
guerra corresponde à assunção de uma responsabilidade financeira que estes não teriam capacidade de
cumprir, sendo exigidos pela Inglaterra a honrar o compromisso, o que leva o czar Nicolau II a ameaçar o
abandono da guerra, levando ingleses e franceses a criar um mecanismo de financiamento, acabando por
manter a frente leste. A mobilização da economia faz-se acompanhar de uma mobilização financeira: os
bancos centrais estabelecem planos de contingência, que acompanham as previsões, sendo que os
concebidos em 1913 vêm as verbas para a guerra suplantadas em 1914, colocando-se a questão de como
financiar uma guerra, que impõe o aumento da dívida pública interna e dívida pública externa. O aumento
da dívida pública interna é feito através da criação de contributos que são impostos aos cidadãos. Estes
contributos acompanham-se de um aumento dos impostos, falando-se de mecanismos que permitirão,
quando possível, a preservação das reservas de ouro, sendo a consequência o final do padrão de ouro (que
salvaguarda as divisas internas, porque as compras exteriores faziam-se em ouro), em 1914; no entanto, o

31
padrão regressa no pós-guerra mas de modo a impedir o acesso ao ouro: a conversibilidade das moedas
terminas, porque esta medida era possível ser usada como uma guerra. Salvaguardam-se assim as reservas
do ouro. As moedas desvalorizam a partir deste ano, e encontra-se a circulação fiduciária, emitidos por
entidades públicas, pelo Estado, pelas Autarquias, autoridades assistenciais, agências comerciais
autorizadas, estruturas industriais que permitem substituir o dinheiro num período curto. Estas cédulas
tinham um valor facial, sendo o objetivo de estas diminuir as dificuldades das circulações fiduciárias. A
natureza das necessidades altera-se, apesar do Universo de pessoas se manter semelhante. Os preços dos
cereais sobem, a carne também, as matérias-primas todas também sobem, ou seja, a adaptação económica
associada à guerra terá como consequência o aumento da procura externa.

3/12- ENTREGA DOS TRABALHOS NO DIA 26/12


O padrão ouro é acompanhado da desvalorização da moeda, sendo que antes o ouro era
imprescindível. No caso inglês, a África do Sul funciona como uma “caixa-forte”. O Império Alemão era
a sede imediata para os recursos. Morgan é contactado pela Praça Financeira de Londres para angariar
capitais para a manutenção nos EUA, algo que o presidente Wilson recusa, fazendo com que Inglaterra e
França procurem recursos noutras praças financeiras. Uma das características do pós-guerra. Os EUA não
são sensíveis ao perdão de todas as dividas. O esforço militar é sustentado pela indústria, sendo que
grandes controlam o mercado interno. Uma das características da economia de guerra são os princípios
que se baseavam no liberalismo, que perdiam o seu sentido. As potências centrais fundem-se
economicamente em 1917, significando uma agilidade económica que as outras potências não adquirem.
Com este projeto, constitui-se um bloco económico que se centra na Europa e no Médio Oriente. As
potências ocidentais têm muito receio deste fator. A manutenção da Rússia na guerra surge como uma
estratégia importante. Em 1917, os bolcheviques chegam ao poder na Rússia, sendo o armistício uma das
medidas mais prioritárias. Submete-se um aparelho económico russo e romeno à Tríplice Entente,
tornando-se numa potência atuante no esforço de guerra alemão. É criada uma ideia a partir de 1917, de
uma Alemanha traída cuja derrota na guerra é inexistente, resultando da traição pelos seus aliados, e
posteriormente, esta traição é associada às elites, que supostamente não queriam combater, sendo o mote
do Partido Trabalhador dos Alemães, mais tarde o Partido Nacional Socialista da Alemanha. À sociedade
alemã, é dada a justificação de que é o estado maior não quer combater, sendo que em 1918 as
orientações a este Estado Maior é a para se proceder às negociações. Em 1919, a ideia é de que Guilherme
II não controla os aliados, porque o imperador Carlos irá negociar, e o Império Austríaco, a Hungria e o
Império Otomano sairão da guerra, deixando a Alemanha praticamente sozinha, sendo a intenção chegar a

32
uma paz sem vencidos nem vencedores, proposto por Wilson (presidente dos Estados Unidos da América)
e pelo Papa, no entanto, a partir do momento em que os E.U.A. entram na guerra, esta premissa deixa de
se encontrar válida. A Alemanha de Guilherme II é tratada como a Alemanha da República de Weimar,
com o imperador no exílio, sendo que a estrutura alemã se encontrava intocada. Entre 1919/1920, os
parceiros europeus encontram-se em dificuldades económicas, contrastando com o crescimento verificado
na Alemanha, dando ideia às compensações pós-guerra. A partir de 1918, o Tratado de Versalhes é
negociado, sendo celebrado na primeira metade de 1919. O paradoxo da I Guerra é que os perdedores até
vencem face aos que vencem a guerra, visto que a Alemanha do pós-guerra surge de uma estrutura
económica intocada, enquanto que os vencedores recomeçam tendo como por base um sistema
económico fragmentado.

6/12- Armistício e as estruturas económica dos Estados Unidos da América


Os E.U.A não se revém nas medidas do conselho dos Aliados: aceitam, mas não as subscrevem,
porque iria colocar em causa os seus propósitos imediatos, prejudicando a indústria de guerra. A
assinatura do Armistício suspende as hostilidades, obrigando desde logo a considerar um conjunto de
obrigações à Alemanha: a Alemanha de Weimar está obrigada a retirar todos os soldados das áreas que
não eram alemãs, à reposição dos bens de que apropriaram, à compensação aos estados em face dos
ocupados. Antes, em março de 1918, é assinado o Tratado de Brest-Litovski, no qual a Rússia assina a
paz com as potências centrais.
O Armistício é a demonstração cabal dos interesses norte-americanos, que irão pesar na constituição
de um Armistício económico e financeiro exigente. Entre novembro de 1918 e junho do ano seguinte,
Paris torna-se o centro e palco destas negociações, sendo inaugurado um padrão não antes observado; as
questões tratadas são complexas, significando que no perímetro das negociações emergem necessidades
técnicas e industriais, de transportes, e fala-se de negociações que mobilizam um exército de técnicos, que
exigem conhecimentos em topografia e geografia, bem como de conhecimento do território e das suas
potencialidades, implicando a concertação de posições entre os negociadores, levando-nos a um problema
de fundo: se é verdade que foi negociado pelos E.U.A., é um facto de que possui um propósito de efeito
imediato: a administração de Wilson pretende diminuir a representação alemã, como reparador dos efeitos
de guerra. Os E.U.A. não possuíram uma grande exposição ao conflito, em termos de mortalidade e de
feridos, não possuindo um contingente de baixas comparado aos países europeus. Segundo, o objetivo dos
Estados Unidos é o restabelecimento das economias europeias, ou seja, em termos metodológicos
obedece a uma lógica imediatista, e o peso das punições de guerra não se deveriam alargar além do
estritamente necessário, para que as potências europeias “renasçam”. No entanto, apesar de a Itália e

33
França terem vencido, estas nações encontram-se em graves problemas económicos, sociais e financeiros.
A economia americana acelera a partir de 1917, sendo que a beligerância favorece isto. Em 1918, os
E.U.A. possuem mais de metade das reservas de ouro mundiais. Além disso, a economia nacionaliza-se
entre 1914 e 1918, sendo que até 1919 os destinos favoritos dos capitais ingleses destinam-se ao novo
mundo. A Inglaterra irá abdicar das posições que tem em empresas norte-americanas, liquida os juros de
longa duração, de forma a poder importar o que necessita. Em 1918, os E.U.A. começam a ter menor
expressão de capitais ingleses, de forma a minorar os impactos de transações transatlânticas. Primeiro,
maior controlo das estruturas económicas; segundo, maior disponibilidade do ouro.
O presidente Wilson vê uma nova ordem mundial que seja contra a opressão, ou seja: na prática
significaria o fim dos impérios coloniais. Wilson refere a ideia de atribuir às populações sob-mandato o
mesmo peso em termos institucionais que os mandatados possuem. Wilson pretende por isso a unificação
de uma Europa pacificada, para permitir a dinamização das atividades económicas, aproveitando a
fragilidade das economias europeias. Esta visão significa Wilson não está disponível para subscrever as
orientações do supremo conselho dos Aliados, em 1916, visto que os E.U.A. não estariam disponíveis
para ir mais além nas indemnizações do Armistício, bem como não perdoam as dívidas anteriores a 1917:
italianos e franceses solicitam o perdão destas dívidas, no entanto, este pedido é-lhes recusado. Perante a
fragilidade económica dos outros, os E.U.A. possuem meios para comprar e vender em grandes
quantidades. No sentido da recuperação possível, nos casos francês e belga, irá impor um investimento de
médio/longo prazo, enquanto no caso inglês, a destruição física é inferior, o que suscita os interesses
comuns entre ingleses e americanos, de uma revitalização económica da Europa. Na Itália, a crise dá-se
também a níveis demográficos, com a perda de uma grande parte da população ativa. As economias que
se especializaram na venda de alimentos/matérias-primas, crescem durante 1914-1918, e afundam a partir
de 1920, de maneira profunda. A crise, que se inicia nos E.U.A. no ano de 1920 provoca quedas abruptas,
que se centrará na economia de maior capacidade na época. Em 1920, verificam-se aumentos nas tarifas
alfandegárias bem como algumas limitações à emigração (como a cobrança de taxas (?) ), algo que se
replica em 1929. A guerra causou órfãos e deficientes, e ao descurar a sua condição, a segurança das
pessoas e dos seus haveres, cria-se uma lógica contrária à de recuperação, sendo que estavam a cumprir
ordens dos seus governos. Estas situações serão focos de instabilidade interna, sendo a consequência
imediata o aumento continuado das guerras do estado: os estados do pós-guerra tem despesas sociais
elevadas, e neste contexto é criada a instituição do Exército da Salvação, para tentar dar alguma
salvaguarda a estas vítimas da guerra. No entanto, os homens que regressam (bem ou mal de saúde)
constituem um desafio à restruturação económica e à integração da empregabilidade. Muitos daqueles que
regressavam voltava com problemas de insanidade mental, sendo que o stress pós-traumático apenas é
tipificado medicamente apenas após a II Guerra Mundial (visto que era não reconhecido por alguns

34
países). Os vencedores possuem expetativas diferentes perante os vencidos, devido às necessidades e à
exposição que tiveram durante a guerra: os franceses e belgas precisam de liquidez, porque se não a
tiverem devido à sua industrialização e destruição, não conseguem custear a sua reconstrução.

10/12- As consequências para a Alemanha


Conforme foi estudado, as negociações serão difíceis: o Presidente Wilson tem a perspetiva de
expandir a economia norte-americana ao contexto europeu, e o seu posicionamento relativamente à
economia alemã é distinta. Para ele, este seria o momento da afirmação da economia, através da entrada
em mercados com características particulares, como o alemão. A estrutura alemã está intocável. Neste
contexto, as negociações irão incidir naquilo que os EUA consideram ser virtuoso, sendo que depois do
armistício se propõe a integração breve da Alemanha. As potências europeias tem de obrigar ao perdão da
dívida dos Aliados europeus, contraída durante o conflito: França, Inglaterra, Itália e Bélgica irão
apresentar aos EUA a ideia de que a integração significa o perdão da divida contraída entre 1914-1917,
algo que o presidente Wilson irá negar: não há perdão de dívida. Uma coisa são alianças políticas, outras
negócios, então a Europa pagará. A questão importante é saber como é que os aliados europeus (uns +
que outros), destruídos, irão pagar e manter o contributo de guerra aos EUA e fazer a reconstrução,
mantendo-se atentos ao que se passa na Alemanha. Em novembro, quando termina a guerra, os EUA
iniciam uma rápida desmobilização, sendo a ação imediata. O contexto europeu torna-se precário, sendo
que a Rússia bolchevique segue um trajeto paralelo, mas não tanto conflitual. As potências têm
expetativas diferentes, ou seja, concordam na reposição plena das fronteiras alemãs ao período antes de
1871; a Polónia, considerada ilegitimamente ocupada. A Alemanha reduz o seu território, bem como
demograficamente. Em larga medida, a reformulação das fronteiras também implica grandes migrações
na Europa, de natureza “bíblica”, devido à migração em massa. O rearranjo de fronteiras no contexto
europeu significa o regresso da Alemanha a uma direção iminentemente europeia, através da perda do
território extra-europeu, que apesar de tudo não foi muito importante durante a I Guerra. A reconstituição
territorial assenta que a Alemanha é a “prussificação” da Confederação Alemã. O Império Alemão irá
impedir as negociações da paz que o império Austro-Húngaro queria começar, prolongando assim a
guerra, guerra que declarou a todas as nações. Outra das responsabilizações da Alemanha são os crimes
de guerra, violando as neutralidades, nomeadamente do Luxemburgo e da Bélgica. A ideia de
“desprussificar” a Alemanha é concebida através da reemergência de uma confederação germânica,
permitindo que a Alemanha recuperasse a sua dimensão, rebatido pelos EUA e Inglaterra. O objetivo era
reduzir a dimensão desta unidade em termos políticos. A Alemanha vê-se também desprovida do seu
espaço aéreo, bem como a internacionalização dos cursos hídricos alemães, não permitindo que a
Alemanha se encerre sobre si mesma, algo associado a outras cláusulas. A Alemanha será forçada a

35
encerrar as academias militares, e a entregar a sua frota naval de guerra, mas também da sua frota
mercante. A Alemanha é por isso reduzida na sua capacidade naval, sendo que a segunda parte do Tratado
de Versalhes é concebida à luz do Tratado de Brest-Litovsk e do Tratado de Bucareste, existindo uma
reversão de todos os tratados assinados pela Alemanha durante a guerra, e a aplicação de critérios que a
Alemanha usou com os outros, não se verificando inovações. O problema é que os negociadores da paz
são do ponto de vista económico mais frágeis que o vencido, sendo que deste contexto resulta a perda das
patentes registadas pela Alemanha, quer registadas por firmas alemãs, quer no âmbito do Império Alemã,
bem como dos capitais investidos no exterior, sejam públicos ou privados, a perda de todos os bens do
Estado alemão. A perdas de capitais e de património alemão no exterior, a aplicação de interdição da
produção de certos produtos, a aplicação de contingentes para a produção industrial, significaram que o
objetivo disto era a recomposição da estrutura económica alemã de forma perdurável, acrescendo-lhe a
indemnizações de guerra, sendo mais uma etapa cumulativa neste processo. Até 1919, estas ainda não
tinham sido calculadas a 100%. O que consta no Tratado é a nomeação de uma comissão para averiguar
as comissões que a Alemanha terá de pagar, sendo o comum. O clima de guerra, apesar do Armistício,
não cessa. A dívida alemã é anunciada em 1920, sendo apenas paga anualmente. A Alemanha diz não
possuir dinheiro para saldar a dívida. Os aliados irão ocupar a região do Ruhr, que é o coração da
produção siderúrgica. A Alemanha reage, e em 1922 a Europa está à beira de um conflito, resolvido com
a convocação da Conferência de Génova, que decorre num contexto diplomático difícil, participando as
potências associadas ao Tratado de Paz, e não só, estando lá também a Rússia, tendo como fundamento a
normalização das moedas, ou seja, achar um sistema monetário capaz de travar a vaga inflacionista,
restruturando o Padrão-barra ouro, que equivale moedas fortes à dimensão do ouro, se cumprirem os
requisitos. A terceira questão importante é a redefinição das dívidas, porque a Alemanha não terá
capacidade financeira para pagar, sendo que as potências também não tem capacidade para pagar, e
assim, os E.U.A. vão propor uma revisão, com base na redução das dividas europeias à banca norte-
americana. A dívida alemã baixa simultaneamente à redução da dívida europeia. Desta conferência, surge
o Plano Dawes (adotado em 1923), sendo que os E.U.A. ficam autorizados de fazer empréstimos de
baixos custos à Alemanha, para que pudesse pagar as dívidas aos vencedores, concedendo-lhes liquidez
para pagar a dívida à banca americana, sendo a fórmula de normalizar a estrutura monetária do pós-
guerra, assentando na redução substantiva da dívida alemã, que de acordo com este plano, seria paga até
1989. Em 1929, a dívida alemã é mais uma vez revista. De acordo com o Plano Young, de 1929, existe
uma anexação da anuidade da dívida ao desempenho da economia alemã: se a Alemanha estivesse em
expansão, alargava-se a anuidade, mas em períodos de retração, seria ajustado. Esta modalidade é criada
como forma de estimular a atividade económica da Europa, e como forma e diminuir as ligações entre a
França e os E.U.A., sendo negociado quando se dá a Queda da Bolsa, e no perímetro do impacto, a dívida

36
é afetada em 1930, e neste ano, o presidente dos E.U.A. aplica uma moratória às dívidas. Entre junho de
1930 e julho de 1931, a Alemanha não paga dívidas. Em 1933, na sequência da vitória do Partido
Nacional Socialista, o novo Chanceler decreta a nulidade do Tratado de Versalhes, e por esse motivo,
considera que está isento de dívidas, acompanhado das demais potências, que consideram que também
não terão de pagar as suas dívidas.

13/12-

37

Você também pode gostar